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Tratamento farmacológico das Dislipidemias | Victória Durand Dislipidemias CLASSIFICAÇÃO DAS DISLIPIDEMIAS – As dislipidemias primárias ou sem causa aparente podem ser classificadas genotipicamente ou fenotipicamente por meio de análises bioquímicas. – Na classificação GENOTÍPICA, as dislipidemias se dividem em monogênicas e poligênicas (isoladamente não seriam de grande repercussão). Essa é uma classificação pouco usada na prática devido ao seu custo elevado, sendo usada em casos de dislipidemias raras, pelo especialista. – Via de regra, na prática, utiliza-se a classificação FENOTÍPICA OU BIOQUÍMICA que considera os valores de CT, LDL, TG e HDL. – As dislipidemias compreendem quatro tipos principais bem definidos: 1. HIPERCOLESTEROLEMIA ISOLADA o Elevação isolada de LDL (≥ 160 mg/dl). 2. HIPERTRIGLICERIDEMIA ISOLADA o Elevação isolada dos TGs (≥ 150mg/dl) que reflete o aumento do número e/ou do volume de partículas ricas em TG, como VLDL, IDL e Quilomícrons; o A estimativa do volume das lipoproteínas aterogênicas pelo LDL torna-se menos precisa à medida que aumentam os níveis plasmáticos de lipoproteínas ricas em TG. Quando os níveis de triglicerídeos estão maiores que 500md/dl não devemos ter confiança nessa dosagem, pois perturba a quantificação segura do LDL; o Portanto, nestas situações, o valor do colesterol não-HDL pode ser usado como indicador de diagnóstico e meta terapêutica, até que se consiga diminuir os valores de LDL para abaixo de 500mg/dl. 3. HIPERLIPIDEMIA MISTA o Valores aumentados de LDL (≥ 160 mg/dl) e TG (≥ 150 mg/dl); o Nesta situação, o colesterol não-HDL também poderá ser usado como indicador e meta terapêutica; o Nos casos em que TGs ≥ 400 mg/dl, o cálculo do LDL pela fórmula de Friedewald é inadequado, devendo-se, então, considerar a hiperlipidemia mista quando CT ≥ 200 mg/dl. 4. HDL BAIXO o Homens < 40 mg/ dl e mulheres < 50 mg/dl isolada ou em associação a aumento de LDL ou de TG. – Os distúrbios primários ou genéticos das lipoproteínas podem, também, serem classificados em seis categorias: ▪ I (quilomícrons); ▪ IIa (LDL) - Hipercolesterolemia isolada; ▪ IIb (LDL + VLDL) – Hiperlipidemia mista; ▪ III (IDL); ▪ IV (VLDL) - Hiperlipidemia isolada; ▪ V (VLDL + quilomícrons). – Existem também formas secundárias de dislipidemia, e várias classes de fármacos podem afetar os níveis de lipídios (p. ex., progestinas, diuréticos tiazídicos, glicocorticoides, β-bloqueadores, isotretinoína, inibidores de protease, ciclosporina, mirtazapina e sirolimo). OBS.: LDL (colesterol) e HDL (alta densidade) são lipoproteínas plasmáticas. Além da VLDL, lipoproteína de muita baixa densidade, rica em triglicerídeos. OBS.: COLESTEROL NÃO-HDL • É usado como estimativa do número total de partículas aterogênicas no plasma (VLDL + IDL + LDL) e refere-se também a níveis de apo B. • Calculado facilmente pela subtração do HDL do CT: Colesterol não-HDL = CT – HDL. • Esse pode fornecer melhor estimativa do risco em comparação com o LDL, principalmente nos casos de hipertrigliceridemia associada ao diabetes, à síndrome metabólica ou à doença renal. Tratamento farmacológico das Dislipidemias | Victória Durand FATORES DE RISCO – Os fatores de risco, como LDL oxidada, lesão mecânica do endotélio e excesso de homocisteína podem levar à disfunção endotelial e a interações celulares que culminam na aterosclerose; OBS.: O processo se inicia quando há uma lesão no interior do vaso, causada por mudanças do fluxo sanguíneo, lesão essa que ativa a resposta imune e recruta os monócitos para o local. Quando o monócito entra na camada subendotelial se torna macrófago, o qual fagocita o LDL, e nos casos de LDL alto, o macrófago altera a sua morfologia, transformando-se em uma célula espumosa, rica em gordura, que se acumula formando a placa aterosclerótica. Essa placa diminui a luz do vaso, levando a uma região de estase sanguínea, com deposição de hemácias e outras células, o que pode resultar em consequências clínicas. – As consequências clínicas podem consistir em angina, infarto do miocárdio (IM), arritmias, acidente vascular cerebral, arteriopatia periférica, aneurisma da aorta abdominal e morte súbita. METAS TERAPÊUTICAS – Não são propostas metas para o HDL, embora se reconheça seu valor como fator de risco CV. OBS.: Nos casos de LDL normal e HDL baixo, a meta terapêutica deve-se concentrar em manter relação entre esses dois, e, uma vez que não existe tratamento significativo para aumentar o HDL, deve-se diminuir ainda mais o LDL, para que a proporção entre eles tenha efeito protetor de risco cardiovascular. – Com relação ao TG, a diretriz considera que pacientes com valores > 500 mg/dl devem receber terapia apropriada para redução do risco de pancreatite, e aqueles com valores entre 150 e 499 mg/dl recebam terapia individualizada, com base no risco CV e condições associadas. Para outras variáveis, como apolipoproteínas ou Lp(a), também não são especificadas metas terapêuticas na farmacologia, pois não existe medicação que haja a nível desses marcadores, portanto não constitui um mecanismo de ação. Embora, se reconheça que apo B e Lp(a) possam adicionar informação prognóstica em relação ao LDC em alguns subgrupos de pacientes. Tratamento farmacológico das Dislipidemias | Victória Durand EM RESUMO: Paciente com risco alto de DAC tem meta de LDL < 70mg/dl. Caso os valores de LDL estejam acima de 100md/dl, o paciente deve ser tratado com medida farmacológica exclusiva (que reduz até 100mg/dl); sendo necessário reduzir a valores < 100mg/dl para de manter na meta terapêutica, será necessária a medida farmacológica. O paciente com risco moderado, tem meta de LDL < 100mg/dl, as medidas não farmacológicas reduzem até 130mg/dl e, para atingir a meta indicada pela diretriz, é necessário o tratamento medicamentoso. Pacientes de risco baixo, possuem suas metas individualizadas. É importante dizer que, para atingir as metas terapêuticas, em nenhum caso se abandona a medida não farmacológica. TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO – Prática de exercícios físicos e bons hábitos alimentares. ▪ As fibras funcionam como esponjas que absorvem a gordura. O consumo aumentado de fibras solúveis pode, por meio do aumento de receptores LDL de membrana à medida que aumenta a demanda energética das células, reduzir o colesterol total e o LDL em 5 a 20%, todavia, exercem pouco efeito sobre o HDL e os triglicerídeos. OBS.: A absorção de colesterol e LDL, faz com que as fibras absorvam também HDL, reduzindo também concentração. OBS.: Os produtos contendo fibras também podem ser úteis no manejo da constipação intestinal associada a resinas de ácidos biliares (RAB). ▪ A suplementação de óleo de peixe diminui os níveis de triglicerídeos e VLDL, porém não tem nenhum efeito sobre o colesterol total e o LDL, podendo elevar essas frações. Outras ações do óleo de peixe podem responder por efeitos cardioprotetores. MTEV: Mudança Terapêutica no Estilo de Vida. Tratamento farmacológico das Dislipidemias | Victória Durand ▪ A ingestão de 2 a 3 g de esteróis vegetais por dia reduz a LDL em 6 a 15%. Mas não pode ser feita de forma isolada. ▪ Se todas as mudanças dietéticas recomendadas forem instituídas, a redução média estimada de LDL deve variar de 20 a 30%. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO ESTATINAS – Até o presente, a redução do LDL-C por Inibidores da HMG CoA redutase (estatinas) permanece sendo a terapia mais validada por estudos clínicos para reduzir a incidência de eventos CVs. MECANISMO DE AÇÃO – Inibidores da HMG CoA redutase (enzima que participa da produção do colesterol). A depleção intracelular de colesterol, diante de uma necessidade energética das células, estimula a liberação de fatores transcricionais e, consequentemente, a síntese e a expressão de receptores paracaptação do colesterol circulante (LDL). – Assim, a ação das Estatinas pode, potencialmente, influenciar todo o conjunto das lipoproteínas circulantes que interagem com o LDL-R, como a LDL, a VLDL e remanescentes de Quilomícrons. – As estatinas reduzem a formação de mevalonato e de radicais isoprenil, atenuando a ativação de proteínas fundamentais à resposta inflamatória e à biodisponibilidade de óxido nítrico. OBS.: Numa metanálise com 170 mil pacientes e 26 estudos clínicos, para cada 40 mg/dl de redução do LDL com estatinas ocorreu redução da mortalidade por todas as causas em 10%, refletindo em grande parte a redução no número de mortes por DAC (−20%). Com base nestas evidências, o uso de estatina está indicado para terapias de prevenção primária e secundária como primeira opção. – As estatinas reduzem os triglicerídeos, também mediante o aumento da expressão de LDL-R e, consequentemente, pela remoção de lipoproteínas ricas em triglicérides do plasma. Caso o paciente tenha hipercolesterolemia mista, o uso de estatinas depende do nível de triglicerídeos (se tiver baixo, a estatina reduz, caso esteja alto, é necessário a associação, evitando associar com fibratos) e, em pacientes com hipertrigliceridemia isolada não se deve usar estatina. – Elevam os níveis plasmáticos de HDL por um conjunto de efeitos que inclui estímulo à síntese de apo AI, ABCA1 e ABCG1, inibição da síntese de CETP e do substrato para a troca de triglicérides por colesterol éster via CETP, as lipoproteínas VLDL, IDL e LDL. No entanto, nos estudos de prevenção primária ou secundária com estatinas, a variação do HDL ou TG não influenciou a redução de eventos CVs. TRATAMENTO COM ESTATINAS – A redução de LDL varia muito entre as estatinas, sendo essa diferença fundamentalmente relacionada com a dose inicial. – A estatina é padrão outro quando o paciente apresenta hipercolesterolemia isolada ou mista. As estatinas não são necessariamente intercambiáveis pois apresentam diferentes “potencias” para a redução do LDL. Deve-se levar em consideração a redução e o caso de cada paciente, sendo fundamental, na dose inicial, dar preferência aos mais “simples”. É importante conhecer o potencial de cada uma. Tratamento farmacológico das Dislipidemias | Victória Durand EFEITOS COLATERAIS São raros no tratamento com estatinas. – Entre eles, a miopatia é o mais comum e pode surgir em semanas ou anos após o início do tratamento. o A miopatia possui um amplo espectro clínico, variando desde mialgia com ou sem elevação da CK até a rabdomiólise. o Nos estudos clínicos, a incidência de miopatia é muito baixa (0,1% a 0,2%) e não está relacionada com a dose. Na prática clínica, há elevação da CK em cerca de 3%. o De forma geral, queixas musculares ocorrem em cerca de 10% dos pacientes que tomam estatinas. o Essa diferença de incidência pode resultar da maior frequência de comorbidades e de terapias múltiplas na prática clínica quando em comparação com os ensaios terapêuticos. – Toxicidade hepática é muito rara. Cerca de 1% dos pacientes apresentam aumentos das transaminases (AST e ALT) superiores a 3x o limite superior ao normal. o Essa elevação frequentemente diminui, mesmo sem interrupção da terapia. Portanto a dosagem de transaminases só é aconselhada 6 a 12 semanas após introdução ou aumento de dose das estatinas. o A suspensão temporária é aconselhada com elevações superiores a 2x o valor de referência, e a suspensão definitiva, em casos com infecção hepática ativa ou disfunção hepática grave. OBS.: As elevações estáveis das transaminases ou da CK em pacientes sem evidência de doenças agudas e sem queixas, como frequentemente observado na esteatose hepática, não constituem contraindicação para o início de estatina. RESINAS MECANISMO DE AÇÃO – Sequestradores dos ácidos biliares: são grandes polímeros que se ligam aos ácidos biliares carregados negativamente e sais biliares no intestino delgado, reduzindo a absorção enteral de colesterol. E, nesse caso, o colesterol sai pelas fezes. – Como resultado ocorre depleção do colesterol celular hepático, estimulando a síntese de LDL-R (receptores de LDL) e colesterol endógeno. – Como consequência desse estímulo à síntese pode ocorrer aumento da produção de VLDL e, consequentemente, dos TGs plasmáticos. Sendo assim, o seu uso é indicado apenas nos casos de hipercolesterolemia isolada e/ou níveis de triglicerídeos baixos. TRATAMENTO COM RESINAS Três resinas foram desenvolvidas: a COLESTIRAMINA (Brasil), o COLESTIPOL e o COLESEVELAM. – Em adição às estatinas, não existe estudo clínico que tenha comprovado benefício adicional. – Assim, a adição de Colestiramina ao tratamento com estatinas é recomendada quando a meta de LDL-C não é obtida apesar do uso de estatinas potentes em doses efetivas. – A redução de LDL é dose-dependente e pode variar de 5% a 30% nas doses de 4-24 g/dia. – Os principais efeitos colaterais das resinas são constipação (até 25%) e aumento dos triglicerídeos em indivíduos com hipertrigliceridemia acentuada (> 400 mg/dl). EZETIMIBA MECANISMO DE AÇÃO – Inibe a absorção de colesterol na borda em escova do intestino delgado, atuando seletivamente nos receptores Niemann-Pick C1- like protein 1 e inibindo o transporte de colesterol. – A inibição da absorção de colesterol, em grande parte do colesterol biliar, leva à diminuição dos níveis de colesterol hepático e ao estímulo à síntese de LDL-R, com consequente redução do nível plasmático de LDL de 10% a 25%. CK: Marcador da função muscular. Tratamento farmacológico das Dislipidemias | Victória Durand TRATAMENTO COM EZETIMIBA – Adição da Ezetimiba tem sido recomendada quando a meta de LDL-C não é atingida com o tratamento com estatinas. Pode ser usada em associação com as estatinas ou após a suspensão do seu uso. – Efeitos colaterais são raros, relacionados com alteração do trânsito intestinal. NIACINA MECANISMO DE AÇÃO – É sempre uma boa opção. Atua no tecido adiposo periférico, leucócitos e células de Langerhans por meio de sua ligação com um receptor específico ligado à proteína G, o GPR109A, e o ativa. – A ativação da GPR109A inibe as lipases hormonossensitivas (bloqueia a ação do glucagon e de epinefrina no tecido adiposo) nos adipócitos e, por esse meio, diminui a liberação de AGs livres na circulação. – A Niacina inibe a atividade da enzima diacilglicerol aciltransferase-2 (DGAT-2) nos microssomos dos hepatócitos e, assim, a síntese hepática de triglicerídeos. – Resulta destas ações uma menor disponibilidade de triglicerídeo intra-hepático e, por consequência, o aumento no catabolismo de apo B e menor secreção de VLDL e LDL. – Indiretamente, ocorrem redução da Lp(a) (−26%) e aumento do HDL (até 30%). FIBRATOS MECANISMO DE AÇÃO – As ações dos Fibratos no metabolismo lipídico decorrem de sua capacidade de imitar a estrutura e as funções biológicas dos AGs livres, ligando-se a fatores de transcrição específicos, os receptores ativados pelo proliferador de peroxissomos (PPARs) expressos primariamente em fígado, rins, coração e músculo. – A ativação dos PPARs pelo fibrato ativam uma série de genes relacionados com hidrólise dos triglicerídeos (lipaselipoproteica e apolipoproteína CIII), degradação e síntese de AG e HDL. EM RESUMO: Os fibratos aumentam a quebra dos triglicerídeos. TRATAMENTO COM EZETIMIBA – Melhor opção para a redução dos triglicerídeos. Padrão ouro para hipertrigliceridemia isolada. – Em geral, as ações no perfil lipídico decorrem deste conjunto de mecanismos, mas variam em sua intensidade entre os fibratos. – Os estudos clínicos disponíveis demonstraram resultados inconsistentes com relação ao benefício da monoterapia com fibrato na redução dos eventos CVs. EFEITOS COLATERAIS – Efeitos colaterais são bastante raros com fibratos, no entanto existem interaçõesclinicamente relevantes de fibratos com estatinas, particularmente entre genfibrozila e sinvastatina. o Em geral, o risco de miopatia aumenta com a associação, mas esse aumento não contraindica o uso clínico, requerendo somente monitorização mais cuidadosa da CK. o Deve-se evitar a sinvastatina para a associação e não utilizar genfibrozila em alguma associação com estatinas pelo aumento acentuado do risco de rabdomiólise. – Os fibratos podem potencializar os efeitos de dicumarínicos, requerendo monitorização da anticoagulação após introdução deste fármaco. – Finalmente, o uso dos fibratos deve ser cuidadoso em pacientes renais crônicos. Tratamento farmacológico das Dislipidemias | Victória Durand ÔMEGA-3 – Em altas doses (4 a 10g ao dia) reduzem os triglicerídeos e aumentam discretamente o HDL, podendo, entretanto, aumentar o LDL, que pode ser significativo. – Em um estudo inicial, a suplementação com ω-3 foi relacionada com benefício clínico, mas recentes metanálises não confirmam o benefício dessa terapia na redução de eventos CVs, coronarianos, cerebrovasculares, arritmias ou mortalidade global. – Assim, sua indicação na terapia de prevenção CV não está recomendada. Mas pode ser benéfico e usado como profilaxia para o sistema nervoso, principalmente. Resumo: Tratamento farmacológico das Dislipidemias
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