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ADMINISTRAÇÃO DE MARKETING Anya Révillion Aplicação do marketing Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a abrangência e a aplicabilidade do marketing. Diferenciar os principais tipos de marketing. Descrever dilemas éticos ligados ao marketing. Introdução O conceito de marketing é amplo e abrange três dimensões: filosófica, funcional e gerencial. A partir dessas dimensões, podemos distinguir diferentes tipos, como marketing de serviços, de relacionamento, digital, de eventos e institucional. Além disso, existem cinco orientações que a gestão de marketing pode adotar em relação ao mercado: produção, produto, vendas, marketing e marketing societal. Assim, neste capítulo, você vai ver uma discussão sobre a ampla abran- gência e aplicabilidade do marketing, conhecendo as características de seus diferentes tipos e os dilemas éticos relacionados a essa área. Abrangência e aplicabilidade do marketing Na visão de Lamb Júnior, Hair Júnior e McDaniel (2004, p. 6), “[...] o marketing tem duas perspectivas: primeiro, é uma fi losofi a, uma atitude ou uma orientação de gerenciamento que busca a satisfação do cliente. Segundo, marketing é um composto de atividades utilizadas para implementar essa fi losofi a na empresa”. Isso signifi ca que uma empresa alinhada à fi losofi a de marketing tem como tarefa principal descobrir as necessidades e os desejos de um determinado mercado e trabalhar para promover a satisfação do consumidor de forma mais efi caz que seus concorrentes. Em seguida, a empresa deve estabelecer um composto de marketing, ou seja, uma combinação exclusiva de produto/ serviço, distribuição, preço e promoção. Por sua vez, Jorge, Veloso e Toledo(2017) propõem três dimensões para o conceito de marketing: dimensão filosófica (orientação empresarial como filosofia de suporte para a ação administrativa); dimensão funcional (objeto e objetivo do marketing) e dimensão gerencial (o processo administrativo e as atividades gerenciais de marketing, ou seja, a prática do marketing). A dimensão filosófica diz respeito à orientação adotada pela empresa, a qual servirá de base para a ação administrativa. O tipo de orientação será o direcionador do processo administrativo de marketing, ou seja, da sua prática. Kotler (2012) apresenta cinco orientações distintas sob as quais as empresas podem conduzir suas atividades de marketing: produção, produto, vendas, marketing e marketing societal, conforme demonstrado na Figura 1. Figura 1. Orientações das atividades de marketing nas organizações. Fonte: Adaptada de Kotler (2012). Segundo Kotler (2012), a orientação de produção é um dos conceitos mais antigos nas relações comerciais e assume que os consumidores dão preferência a produtos amplamente disponíveis e de baixo preço. Nessa orientação, os gerentes das empresas focam em alcançar alta eficiência de produção, baixos custos e distribuição ampla. É um conceito muito utilizado quando uma empresa deseja expandir o mercado. A orientação de produto sustenta que consumidores dão preferência a produtos que oferecem qualidade e desempenho superiores ou que tenham Aplicação do marketing2 características inovadoras. Por isso, o foco está em fabricar produtos supe- riores e em aperfeiçoá-los ao longo do tempo. Destaca-se, entretanto, que os gerentes podem cair no erro de se “apaixonar” pelo produto, esquecendo que os consumidores não compram necessariamente produtos em si, e, sim, soluções para seus problemas e necessidades. Assim, para ser bem-sucedido, não basta que o produto seja novo ou aperfeiçoado, deve, também, ter preço certo e ser distribuído, promovido e vendido de forma adequada. O foco excessivo no produto foi descrito por Theodore Levitt como um tipo de miopia em marketing. Levitt definiu a miopia em marketing como uma visão limitada da empresa, ou seja, quando a empresa define seu negócio a partir dos produtos que vende, e não das expectativas de seus clientes. Um caso de miopia que pode ser citado como exemplo são as produtoras de cinema de Hollywood, que, por pouco, não fecharam suas portas com a popularização da televisão nos anos 1970 e 1980. Hollywood julgava estar no setor de cinema, quando, na realidade, seu negócio era o entretenimento. A orientação de vendas parte do princípio de que os consumidores, por vontade própria, normalmente não irão comprar os produtos da empresa em quantidade suficiente. Assim, a empresa deve empreender um esforço agressivo de vendas e promoção, o que é feito de modo mais incisivo com produtos pouco procurados, que os compradores dificilmente pensam em comprar, como seguros e jazigos. Nesse caso, o objetivo é vender aquilo que se fabrica, e não fabricar aquilo que o mercado quer. A orientação de marketing surgiu em meados da década de 1950 e entende que a chave para atingir os objetivos organizacionais consiste em ser mais eficaz que os concorrentes na criação, entrega e comunicação aos consumi- dores de um valor superior, satisfazendo, assim, as necessidades e os desejos dos mercados-alvos. Finalmente, o conceito de marketing societal ou holístico afirma que a tarefa da organização é determinar as necessidades, os desejos e interesses dos consumidores e atendê-los de forma mais eficaz do que os concorrentes, preservando ou ampliando o bem-estar da sociedade. Esse conceito propõe que as empresas desenvolvam condições sociais e éticas em suas práticas de marketing. Nesse sentido, devem equilibrar critérios muitas vezes conflitantes 3Aplicação do marketing entre os lucros da empresa, a satisfação dos desejos dos consumidores e o interesse público. Em sua dimensão funcional, Kotler e Keller (2006) afirmam que o marke- ting tem por função estudar os relacionamentos de troca, ou seja, a presença de marketing supõe a existência de um processo de troca. Porém, para Churchill Junior e Peter (2000 apud PEREIRA; TOLEDO; TOLEDO, 2009, documento on-line), “[...] não basta que existam, de um lado, pessoas com necessidades e desejos a serem satisfeitos e, de outro lado, empresas ofertando produtos e serviços destinados à satisfação dessas necessidades”. As pessoas somente se dispõem ao envolvimento em um processo de troca se percebem que sua satisfação será atendida, o que significa que todos os processos relacionados à medição e geração da satisfação dos clientes são funções centrais do marketing. Na dimensão gerencial (prática), finalmente, a implantação da função de marketing é realizada mediante o planejamento, implantação e controle das variáveis que compreendem o composto de marketing (JORGE; VELOSO; TOLEDO, 2017). Nesse sentido, segundo Kotler e Keller (2006), o profissio- nal de marketing se envolve com atividades táticas de análise e de decisões relacionadas a produto, preço, distribuição e promoção. Urdan e Urdan (2006) destacam, além disso, o nível decisório estratégico de marketing e lembram que essa gestão está relacionada, também, com segmentação de mercado, determinação de mercados-alvo e posicionamento. Principais tipos de marketing O marketing é uma ciência que acompanha as mudanças de comportamento da sociedade e precisa estar sempre se adaptando. É também um conjunto de processos que buscam benefi ciar as empresas que os realizam e o seu público- -alvo a partir de diferentes estratégias de criação, comunicação, entre outras. É por isso que existem tantos tipos de marketing, que podem ser aplicados a diferentes contextos, demandas, canais, instituições e consumidores. Nesse sentido, o conceito de marketing pode ser aplicado a produtos físicos (roupas, eletrodomésticos, carros), serviços (saúde, educação, transporte), eventos (shows, campeonatos, festas), pessoas (celebridades, políticos), lugares (parques, cidades, países), organizações (empresas com ou sem fins lucrativos) ou mesmo ideias (diversidade, liberdade de escolha). A seguir, você vai ver de forma mais aprofundada algunsdos principais tipos de marketing. Aplicação do marketing4 Marketing de serviços O crescimento e a importância do setor de serviços na economia brasileira e mundial são cada vez mais signifi cativos. Assim, é preciso gerar constante- mente diferenciais competitivos que sejam percebidos como relevantes pelo consumidor, pois um ótimo produto com preço adequado já não é sufi ciente. Para Zeithaml, Bitner e Gremler (2003), serviço é qualquer ato que uma parte possa oferecer a outra que seja essencialmente intangível e que não resulte na propriedade de nada. Sua produção pode, ou não, estar atrelada a um produto físico. Por exemplo, a prestação de serviços em um restaurante depende, em parte, de aspectos intangíveis, como a rapidez e a cortesia e, em parte, de aspectos tangíveis, como a qualidade da comida. Marketing de serviços é uma abordagem que se destina a mostrar ao cliente o valor de uma empresa da área de prestação de serviços, posicionando-se como uma provedora de soluções às suas necessidades. É uma atividade ou um processo cujo valor principal é gerado nas interações entre comprador e vendedor. As principais características dos serviços, segundo Kotler (2012), são as seguintes. Intangibilidade: não podem ser vistos, sentidos ou provados antes de comprados. Inseparabilidade: produção, distribuição e consumo são processos simultâneos. Variabilidade: dependem de quem os executa e de onde são prestados. Perecibilidade: não podem ser estocados. O composto de marketing é um conjunto de ferramentas que a empresa utiliza para alcançar seus objetivos de marketing no mercado-alvo (KOTLER, 2012). O setor de serviços, por apresentar inúmeras diferenças comparado aos processos de produtos, constatou a necessidade de ampliar esse composto de marketing (já formando por produto, praça, promoção e preço), acrescentando mais três elementos (P’s): pessoas, physical evidences (evidências físicas) e processos (LOVELOCK; WIRTZ, 2006). Esse conjunto de P’s tem o propósito de auxiliar as empresas a alcançarem seus objetivos, assim como satisfazer e fidelizar seus clientes (SOUZA; SILVA, 2015). O Quadro 1 apresenta as variáveis do composto de serviços. 5Aplicação do marketing Fonte: Adaptado de Zeithaml, Bitner e Gremler (2003). Produto Praça (distribuição) Promoção Preço Características físicas, nível de qualidade, aces- sórios, embala- gens, garantias, linhas de produ- tos e marca Tipo de canal, exposição, intermediários, espaços em pon- tos, transporte, estocagem e administração de canais Composto de comunicação, pessoal de ven- das, propaganda, promoção de vendas e assesso- ria de imprensa Flexibilidade, faixa de preço, diferenciação, descontos, mar- gens e venda Pessoas Evidência física Processo Funcionários (recrutamento, treinamento, motivação, recompensas e trabalho em equipe) clientes (educação e treinamento) Projeto de instalações, equipamento, si- nalização, roupas dos funcionários. Outros tangíveis (cartões de visita, declarações e garantias) Roteiro de atividades (padronização e customização). Número de passos e envol- vimento dos clientes Quadro 1. Composto de marketing de serviços Imagine que, em um restaurante, os clientes buscam um lugar mais confortável para o almoço durante o período do trabalho. Nesse caso, é possível aplicar o composto de marketing de serviços oferecendo os seguintes benefícios: produto: ar condicionado, wi-fi gratuito e ambiente separado para reuniões de almoço; preço: pagamento pode ser feito com cartão de crédito e vale-refeição; praça: horário expandido (das 11h às 15h) e estacionamento gratuito; promoção: e-mail personalizado divulgando as promoções do dia; processos: mesas que podem ser reservadas pelo aplicativo; evidência física: site atualizado com informações do cardápio de cada dia; pessoas: atendimento com mais cortesia. Fonte: Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (2015, documento on-line). Aplicação do marketing6 Marketing de relacionamento É uma combinação de ações estratégicas que tem como objetivo a manutenção do bom relacionamento da empresa com seus clientes. Para McKenna (2005), marketing de relacionamento signifi ca construir e sustentar a infraestrutura dos relacionamentos com os clientes. É a integração dos clientes com a empresa, desde o projeto até o desenvolvimento de processos gerenciais e de vendas. O foco está nos clientes já existentes, e não na angariação de novos clientes. Para que uma empresa possa apostar no marketing de relacionamento e conseguir fidelizar os seus clientes, deverá atender aos seguintes pontos: co- nhecer bem o cliente, saber escutar as suas necessidades e desejos e reconhecer a sua fidelidade. As principais características de uma empresa que utiliza o marketing de relacionamento são as listadas a seguir. Interatividade: o cliente é receptor e emissor da comunicação e toma a iniciativa do contato quando quer. Personalização: todas as ações são direcionadas e personalizadas, de modo que as mensagens direcionadas aos clientes devem ser enviadas pelas empresas com adequação às suas circunstâncias. Memorização: as interações estabelecidas com os clientes precisam ser registradas em memória que contenha identidade, dados, características, preferências e detalhes. Receptividade: o cliente é quem decide se quer, ou não, manter relação; por isso, as empresas devem falar menos e escutar mais. Orientação para o cliente: o foco das empresas deve estar menos no produto e mais no consumidor. Nesse sentido, um programa de relacionamento é um projeto desenvolvido pela empresa que apresenta ações com o objetivo de envolver o público com sua marca, tornando o seu produto mais atrativo e aproximando a empresa de seus consumidores. A seguir, veja um exemplo de programa de relacionamento da Marvel. 7Aplicação do marketing Marvel Insider é um programa de relacionamento da Marvel, empresa americana editora de quadrinhos e mídia. Está disponível no site para os fãs dos personagens, que são incentivados a demonstrar engajamento com a marca em redes sociais, assistir trailers dos filmes, escutar podcasts, fazer check-in em eventos da Marvel, entre outros. À medida que o participante acumula pontos, ele vai desbloqueando benefícios, ou seja, tendo acesso a recompensas customizadas. Assim, as premiações vão de simples menções no Twitter pelos desenhistas da Marvel até ter um desenho próprio feito por um dos artistas da marca. Marketing digital Marketing digital é um conjunto de ações de divulgação e comunicação que uma empresa utiliza por meio da internet e dos meios digitais. Para Turchi (2012, p. 68), o marketing digital não é um substituto do marketing conven- cional, mas devemos ter em mente como planejar o marketing hoje “devido às alterações advindas do universo digital”. O marketing digital difere do marketing tradicional pela utilização de várias ações e métodos nos canais on-line, que permitem a análise de resultados em tempo real. Segundo Gabriel (2010, p. 107), “[...] no ambiente digital de marketing, podemos enumerar diversas tecnologias e plataformas digitais que podem originar estratégias digitais de marketing”. Muitas vezes, porém, verificamos que existe uma confusão entre plataformas e estratégias. Por exemplo, as redes sociais são apenas plataformas, ou seja, ferramentas que podem ser usadas no planejamento de marketing digital. O modo como essa rede social será usada é que configura uma estratégia. Da mesma forma, o celular é apenas um dispositivo de tecnologia mobile, e a maneira com que essa tecnologia será usada descreve a estratégia mobile. A autora nos apresenta as principais plataformas e tecnologias digitais disponíveis atualmente (GABRIEL, 2010, p. 107), listadas a seguir. páginas digitais (site, portal e blog); e-mail marketing; realidade aumentada e realidade virtual; mobile marketing (ações de marketingem dispositivos móveis); plataformas digitais de redes sociais (Facebook, Instagram, Youtube); plataformas digitais de busca (Google, Yahoo, Bing). Aplicação do marketing8 Como o ser humano vive no ambiente tradicional de marketing, além do digital, ele continua frequentando mercados físicos, comprando produtos em lojas tradicionais, passeando em shoppings, olhando outdoors espalhados pela cidade e ouvindo rádio. Por isso, um plano de marketing que envolva estratégias digitais associadas a estratégias tradicionais tende a funcionar melhor, pois engloba as dimensões material e digital em que vive o consumidor atualmente. Marketing de eventos Segundo Hall (2001, p. 136), o marketing para eventos pode ser considerado como: “a função da gestão de eventos que pode manter contato com os parti- cipantes do evento (consumidores), descobrir suas necessidades e motivações, desenvolver produtos que satisfaçam suas necessidades e construir um programa de comunicação adequado que expresse os objetivos propostos pelo evento”. Nesse sentido o marketing para eventos apresenta-se como uma ferramenta indispensável para a implementação de qualquer tipo de evento, seja ele de pequeno, médio ou grande porte. Para Allen et al. (2008), o sucesso do marketing de eventos é resultado da junção de fatores que não podem ser isolados, como a compreensão completa de quem são os consumidores, onde vivem e quais são as suas necessidades de entretenimento. Com base nessas respostas, é possível o planejamento de estratégias que constroem o produto chamado evento. Segundo Matias (2010), quanto à classificação, os eventos podem apresentar- -se de acordo com a área de interesse. Artístico/cultural: show musical, espetáculo de dança, teatro, expo- sição de arte. Científico/empresarial: convenções, congressos, seminários, palestras, workshops. 9Aplicação do marketing Esportivo: campeonatos, olimpíadas, torneios e gincanas esportivos, independentemente da modalidade. Lazer/social: proporciona entretenimento ao seu participante, como encontros, festas, recreação, acampamentos. Promocional: lançamento de produtos, feiras, demonstrações. Turístico: explora os recursos turísticos de uma região ou país por meio de eventos como o Natal Luz de Gramado, por exemplo. Marketing institucional Segundo Rabaça e Barbosa (2014), o marketing institucional é uma modalidade que engloba o marketing social, cultural e ecológico (ambiental ou verde). Seu objetivo é a criação de atitudes favoráveis nos diversos segmentos do público em relação à empresa e à fi xação da marca e da imagem corporativa. Marketing social: seu objetivo é “promover ideias, atitudes, comporta- mentos que provoquem mudanças positivas na realidade social” (CA- SAROTTO, 2019, documento on-line). Sua aplicação é mais comum em instituições públicas e ONGs, como, por exemplo, em campanhas de conscientização sobre temas violência no trânsito e preconceito racial, por exemplo. Para que essa estratégia seja aceita pelo consumidor, é importante que o compromisso social esteja claro na constituição e nos valores da empresa, e não apenas em ações específicas e isoladas. Marketing cultural: estratégia aplicada com o objetivo de difundir produtos e marcas a partir de projetos culturais como veículos de comunicação. Marketing ecológico: estratégia usada para projetar e sustentar a imagem da empresa destacando sua diferenciação ecologicamente correta junto a sociedade, fornecedores, funcionários e consumidores. Aplicação do marketing10 Uma das empresas brasileiras que mais se destaca como exemplo de utilização do marketing verde no Brasil é a Natura, empresa de cosméticos que é uma das cinco citadas como pioneiras do marketing verde no mundo. A Natura se destacou com a linha de produtos EKOS, que utiliza matérias-primas vegetais, extraídas sem prejudicar o meio ambiente. As fórmulas são totalmente biodegradáveis, decompondo-se em até 28 dias. Dilemas éticos de marketing De todas as atividades empresariais, o marketing é, possivelmente, a mais sujeita a debates e questionamentos de natureza ética e moral. Conforme D’Ângelo (2003, p. 56): [...] não por acaso inúmeros códigos de ética procuram fornecer diretrizes a quem atua na área; alguns dos mais conhecidos são os da Associação Ame- ricana de Marketing (AMA), instituição que congrega profissionais e aca- dêmicos de marketing de todo o mundo, e, no Brasil, o do Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária), que congrega anunciantes e profissionais de propaganda. Como característica principal, esses códigos apresentam diretrizes de comportamentos adequados às atividades de ma- rketing, normatizando tais atividades e conscientizando seus profissionais acerca de seu papel social. Segundo D’Ângelo (2003), existem basicamente duas categorias de questio- namentos éticos em relação ao marketing: a primeira, ligada às características do sistema capitalista, diz respeito aos estímulos materialistas despertados pelo marketing; a segunda, de caráter mais prático, enfoca atividades de marketing, como precificação, propaganda e vendas. Na primeira categoria, atribui-se às empresas e aos seus sistemas de marketing a capacidade de estimular que os consumidores vislumbrem na aquisição de produtos e serviços a principal forma de não só satisfazer suas necessidades práticas de posse e utilização, como também suas necessidades de fundo emocional e social. A satisfação dessas necessidades, ou a própria criação delas, seria estimulada pelo marketing e tomaria forma em produtos considerados supérfluos e dispensáveis. A segunda categoria de questionamentos éticos relaciona-se à prática de negócios. Trata-se dos padrões de conduta das empresas nas suas relações 11Aplicação do marketing com o consumidor final e outros agentes econômicos. Fazem parte dessa categoria as atividades relacionadas à promoção de produtos e serviços, à sua precificação, à prestação de informações aos consumidores, à concepção de produtos e ao seu lançamento, além de toda uma infinidade de atividades que caracterizam a rotina dos profissionais de marketing e do próprio consumidor no mercado. No Quadro 2, a seguir, são apresentados alguns questionamentos éticos a respeito das práticas de marketing. Produto O produto pode causar algum dano ou prejuízo a quem o utiliza? O consumo constante do produto, ao longo dos anos, pode causar algum efeito negativo ao consumidor? As informações prestadas aos consumidores a respeito do produto são suficientes e adequadas à decisão de compra? A empresa omite algum componente do produto que possa causar prejuízos no curto ou longo prazo para o consumidor? O produto lançado tem sua obsolescência planejada, de- vendo sair de linha dentro de alguns meses/anos e perder valor para quem o adquirir? O processo de fabricação do produto, em algum estágio, causa danos ao meioambiente? A embalagem, embora atraente aos olhos do consumidor, representa desperdício de algum material? Comunicação A comunicação promete vantagens que o produto não pode oferecer? A comunicação direcionada a crianças, incapazes de discer- nir qualidades e defeitos de um produto, é prejudicial a elas e suas famílias? Preço Os pacotes de preço manipulam as percepções de valor dos consumidores? Os preços de acessórios e peças de reposição são muito elevados em relação ao preço do produto, tornando cara sua manutenção? O preço de produtos essenciais (por exemplo, medicamen- tos) é excessivamente alto, dificultando o acesso de uma parcela do mercado consumidor? Promoção Os preços praticados na promoção estão realmente abaixo daqueles praticados normalmente? Quadro 2. Questionamentos éticos do marketing (Continua) Aplicação do marketing12 Fonte: Adaptado de D’Ângelo (2003). Distribuição Existe abuso de poder na relação entre os integrantes do sistema de distribuição? Vendas Os consumidores sentem-se pressionados e constrangidos com a posturado vendedor? O vendedor omite alguma informação relevante a respeito do produto, ou exagera suas virtudes? O vendedor tenta empurrar produtos que não são os mais adequados ao consumidor? O vendedor superestima as necessidades do consumidor, oferecendo produtos mais caros? Atendimento O processo para cancelamento da prestação de determina- dos serviços é complicado e demorado, tornando o cliente refém da empresa? O acesso aos serviços de atendimento para reclamações e consultas pós-venda é difícil? Marketing internacional É correto comercializar em países em desenvolvimento pro- dutos que são vetados por órgãos reguladores de nações desenvolvidas, valendo-se de menores restrições legais desses países? Quadro 2. Questionamentos éticos do marketing (Continuação) ALLEN, J. et al. Organização e gestão de eventos. Rio de Janeiro: Campus, 2008. CASAROTTO, C. Os 82 tipos de marketing principais, explicados e com exemplos visuais para você. In: Rock Content, 2019. Disponível em: https://rockcontent.com/blog/tipos- -de-marketing/. Acesso em: 16 jun. 2019. D´ÂNGELO, A. C. A ética no marketing. Revista de Administração Contemporânea, Curi- tiba, v. 7, n. 4, p. 55-75, out./dez. 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?pid=S1415-65552003000400004&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 13 jun. 2019. GABRIEL, M. Marketing na era digital: conceitos, plataformas e estratégias. São Paulo: Novatec, 2010. 13Aplicação do marketing HALL, C. M. A tomada de decisão política e o planejamento centralizado: Darling Harbour, Sydney. In: TYLER, D.; GUERRIER, Y.; ROBERTSON, M. (Org.). Gestão do turismo municipal: teoria e prática de planejamento turístico nos centros urbanos. São Paulo: Futura, 2001. 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