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Bruna Altvater Saturnino XLII 2021.2 - 1 05.08.21 Diarreia aguda DEFINIÇÃO Afecção caracterizada pela perda excessiva de água e eletrólitos através das fezes. Resultando em aumento do volume e frequência das evacuações e diminuição da consistência, ocorrendo em 3 ou mais episódios por dia • Potencialmente autolimitada • Duração inferior à 14 dias • Transmissão: via fecal-oral, mão, objetos contaminados • Soro 90 – UBS; soro 45 – um pouco mais efetivo Lactante quando possui alergia é em relação a proteína do leite, e quando tem intolerância a lactose é em relação ao açúcar. Geralmente é resolvido no 1 ano de vida. INTRODUÇÃO • Enfermidade de distribuição universal • É uma das principais causas de mortalidade no mundo, principalmente nos países em desenvolvimento • 1,5 bilhões de episódios agudos de diarreia no mundo por ano • 1,5 milhão de óbitos ETIOLOGIAS • Vírus: Rotavírus, Adenovírus, Astrovírus, Norovírus, Sapovírus • Bactérias: Escherichia coli, Shigella sp, Salmonela sp, Campylobacter jejuni, Yersinia enterocolítica, Staphylococcus aureus, Bacillus cereus, Vibrio cholerae, Clostridium difficile • Parasitas: GIardia lamblia, Entamoeba histolytuca, Cryptosporidium • Fungos • Mudança no perfil epidemiológico o ↓ Bacteriana → ↑Viral o Após a vacina do rotavírus → nova mudança o Revisão da literatura mostrou que o rotavírus diminui de 22,4% para 11,6% o Aumento da incidência de norovírus no primeiro ano de vida PATOGENIA Desequilíbrio entre processos de absorção e de secreção de água e eletrólitos Defesa: acidez gástrica (pH), muco, flora bacteriana, peristaltismo e sistema imune local • A defesa não consegue impedir a ação patogênica de microrganismos → inversão do fluxo normal de líquidos → diarreia APRESENTAÇÃO OSMÓTICA Por adesão à mucosa causa lesão dos enterócitos da superfície, com redução da produção das dissacaridases (lactose) e retenção de líquidos dentro do lúmen intestinal devido à presença de solutos (açúcares) osmoticamente ativos não absorvidos, que carreiam a água para dentro da alça intestinal e são metabolizados pela via anaeróbica resultando na produção de radicais ácidos. Ex: Rotavírus (diarreia aquosa de grande volume) SECRETORA A liberação de enterotoxina bloqueia o transporte ativo de água e eletrólitos do enterócito ocasionando o aumento da sua secreção intestinal, principalmente de ânions cloreto e bicarbonato. Ex: E. coli enterotoxigênica INVASORA A lesão da célula epitelial do intestino impede a absorção de nutrientes. Pode ocorrer invasão da mucosa causando diarreia com muco, pus e sangue nas fezes (por ex salmonela, shiguella) ou invasão da lâmina própria com disseminação hematogênica e sintomas sistêmicos Ex: E. coli enterotoxigênica e Salmonella QUADRO CLÍNICO • Depende da: idade, estado nutricional, competência imunológica, patogenicidade do agente, manejo adequado. • Outros sintomas: febre, vômitos, dores abdominais, perda ou diminuição do apetite, redução do volume urinário. • Menor a idade e pior o estado nutricional → aumenta a gravidade. A grande maioria não ocorre distúrbio hidroeletrolítico. Nas crianças, as diarreias podem levar à óbito. Competência imunológica: medicamentos (omeprazol diminuindo a acidez; antibiótico que altera a microbiota), patogenicidade do agente Bruna Altvater Saturnino XLII 2021.2 - 2 ANAMNESE Duração da diarreia, número de evacuações diárias, presença de sangue nas fezes, número de episódios de vômitos, presença de febre ou outra manifestação clínica, práticas alimentares, presença de outros casos de diarreia na família ou na escola. EXAME FÍSICO Estado de hidratação, estado nutricional, estado de alerta (ativo, irritado, letárgico), a capacidade de beber e a diurese. Peso: • Até 5% = desidratação leve • 5-10% = desidratação moderada • + 10% = desidratação grave DIAGNÓSTICO Maioria não tem necessidade de exames complementares. Reservado para: evolução grave, comprometimento do estado geral, lactentes muito jovens, desnutrição grave, imunossuprimidos → risco de generalização do processo infeccioso ou seu prolongamento. COPROCULTURA Infecções disseminadas, surtos epidêmicos, diarreia em imunodeprimidos e crianças portadoras de doenças crônicas, quadros graves, pacientes de baixa idade, evidência de disseminação extraintestinal, diarreias com sangue, quadros prolongados. Coprológico (pH e substâncias reduzidas) → para ver sem tem diarreia osmótica. Sangue e leucócitos nas fezes: invasão do epitélio intestinal. Pesquisa de vírus nas fezes: geralmente quando o paciente está no hospital → métodos imunoenzimáticos (ELISA). HEMOGRAMA Suspeita de sepse Bioquímica: • Desidratação grave com necessidade de reposição intravenosa • K, Na, Cl • Ureia, creatinina e glicose de acordo com o quadro clínico Gasometria arterial • Suspeita clínica de acidose metabólica. EPF Determinação de parasitas • História de viagem recente à área endêmica, culturas de fezes negativas, diarreia persiste por mais de uma semana. • Surto de diarreia. • Imunodeprimidos. TRATAMENTO Objetivos • Prevenir e repor as perdas fecais de água e eletrólitos • Re-estabelecer o equilíbrio hidroeletrolítico • Proporcionar um aporte proteico suficiente para impedir instalação ou agravo da desnutrição • Maioria dos casos: TRO (tratamento de reidratação oral) + realimentação precoce • SRO MS: Na 90mmol/L, Cl 80mmol/L, citrato 10mmol/L, K 20mmol/L, 111mmol/L glicose • Prevenir e repor as perdas fecais de água e eletrólitos • Re-estabelecer o equilíbrio hidroeletrolítico • Proporcionar um aporte proteico suficiente para impedir instalação ou agravo da desnutrição • Maioria dos casos: TRO + realimentação precoce • Soro (de acordo com o ministério da saúde): Na 90mmol/L, Cl 80mmol/L, citrato 10mmol/L, K 20mmol/L, 111mmol/L glicose. Para desidratação grave, obrigatório ao menos: estado cromatoso- hipotônico ou bebe mal ou não é capaz de beber. Bruna Altvater Saturnino XLII 2021.2 - 3 PLANO A – CRIANÇA COM DIARREIA SEM SINAIS DE DESIDRATAÇÃO Aumentar a ingestão de líquidos: soro caseiro, chás, cozimento de cereais, sopas e sucos. Soro caseiro: mantêm a criança com diarreia hidratada, mas não reidrata uma criança desidratada → em desuso, OMS não recomenda, alternativa em locais mais pobres. A mãe deverá ser orientada a oferecer após cada evacuação: • Até 12 meses: 50 a 100ml (1/4 a ½ copo). • Acima de 12 meses: 100 a 200ml (1/2 a 1 copo). • Maiores de 10 anos: a quantidade que desejar. Manter dieta habitual: • LM: aumentar a frequência das mamadas. • Pequenos volumes, curtos intervalos. Não modificar a dieta de uma forma geral. PLANO B – CRIANÇA COM DIARREIA E COM SINAIS DE DESIDRATAÇÃO TRO – A quantidade dependerá da sede da criança. • 50 a 100ml/kg no período de 4 a 6h. • Alimentação durante a hidratação (somente LM). • Não usar anti-eméticos e anti-térmico. Após hidratação, alta com orientação de usar SRO após cada evacuação: • Criança até 12 meses: 50 a 100ml • Criança maior que 12 meses: 100 a 200ml • >10 anos: a quantidade que a criança desejar Gastróclise: • Perda de peso após 2h de TRO (tratamento de reidratação oral) • Vômitos persistentes: 4 ou mais vezes em 1h • Distensão abdominal acentuada com RHA presentes • Dificuldade de ingestão de SRO • Velocidade: 20 a 30ml/kg/h até a reidratação • Reidratou → tira a sonda e pode mandar para casa (retorna ao plano A) PLANO C – CRIANÇA COM DIARREIA E DESIDRATAÇÃO GRAVE O paciente já está muito mal, o cérebro vai parar, pode entrar em coma. Indicações para hidratação venosa: • Desidratação grave. • Alteração no estado de consciência. • Vômitos persistentes após uso de SNG • Incapacidadede ingestão oral. • Íleo paralítico (distensão abdominal e ausência de RHA) • Sinais sugestivos de septicemia • Concomitância com infecções graves Hidratação venosa Fase 1: expansão (rápida): estabelecimento do estado normal de hidratação em curto período de tempo. • Menores de 5 anos: 20mL/kg de soro fisiológico 0,9% endovenoso a cada 30 minutos. Repetir se necessário. • Maiores de 5 anos: iniciar com soro fisiológico 0,9% endovenoso 30mL/kg e correr em 30 minutos. Na sequência, utilizar Ringer Lactato 70mL/kg e correr em 2 horas e 30 minutos. Fase 2: manutenção: cobrir necessidades diárias de água e eletrólitos. • Administrar 3 soluções endovenosa concomitantemente em 24 horas: o Soro glicosado 5% + soro fisiológico 0,9% (proporção 4:1). o Soro glicosado 5% + soro fisiológico 0,9% (proporção 1:1) o KCl a 10%. Fase 3: reposição de perdas anormais que ocorrem durante todo o período diarreico (diarreia e vômitos). Fases 2 e 3 são feitas concomitantemente. Zinco: • É um elemento essencial para os seres humanos. • É grande a perda de zinco pelas fezes. • Não existe depósito. Homeostase de zinco depende da dieta/absorção/perdas, então se não está comendo direito, está com grandes perdas e a absorção está ruim, porque o intestino está ruim, vai ter que repor. Bruna Altvater Saturnino XLII 2021.2 - 4 É o que vai fazer com que cicatrize o intestino e prevenir infecção 3 meses depois. • Sua suplementação diminui a gravidade e a duração da diarreia • Atua na prevenção de novos episódios nos próximos 2-3 meses • A OMS recomenda o uso de zinco para todas as crianças com diarreia: 10mg para menores de 6 meses, 20mg para os maiores de 6 meses. • Iniciar o mais precoce possível (primeiro dia da diarreia) e mantendo por 10 a 14 dias. Antibióticos: Uso absolutamente restrito • Diarreia invasiva (com sangue) + comprometimento do estado geral (após hidratação): inicialmente prevalente a hipótese de Shigella. • 1º Ciprofloxacino 15mg/kg duas vezes ao dia por 3 dias. • 2º Azitromicina 10-12mg/kg no primeiro dia e 5-6mg por mais 4 dias (Shigella – suspeita ou comprovada). • 3º Ceftriaxona nos casos que requerem hospitalização, 50- 100mg/kg IM ou EV por dia por 3 a 5 dias • Giardíase: Metronidazol Assim que o patógeno identificado em cultura, direcionar o tratamento. Na suspeita de diarreia por E. coli enterohemorrágica não tratar com antibiótico, pois pode levar à Síndrome Hemolítica Urêmica. Na suspeita de protozoários, como Giardia, quando a diarreia é maior que 2 semanas, optar por uso de metronizadol 250mg via oral 8/8 horas por 7 dias. Probióticos: Definição: organismos vivos que quando administrados em quantidades adequadas conferem um benefício à saúde do hospedeiro – compete com o patógeno, na verdade, se a bactéria tiver o alimento ela sobrevive, se não tiver, ela morre. • Tratamento da diarreia esporádica em crianças: redução da duração da diarreia (em 1 dia), maioria dos casos estudados – diarreia por rotavírus. • Prevenção na disseminação da diarreia em crianças hospitalizadas: resultados conflitantes • Prevenção da diarreia associada a antibióticos: estudam mostram evidência de que é eficaz Probióticos com estudo comprovado: Lactobacillus reuteri, Sacchromyces boulardii, Lactobacillus GG, L. accidophilus LB. Os micro-organismos utilizados em iogurtes NÃO são considerados probióticos e não são efetivos na redução da diarreia. No tratamento é preferível dar o zinco e o probiótico, mas se a mãe não tiver dinheiro é preferível o zinco. PREVENÇÃO • Aleitamento materno • Práticas adequadas de desmame • Saneamento básico • Imunização → rotavírus: 2 doses (2 e 4 meses) – vírus vivos atenuados • Lavagem das mãos • Educação em saúde
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