Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
⇒ As hepatites são processos inflamatórios que ocorrem no fígado, podem ser secundários a infecções virais, drogas e outras patologias. ⇒ O processo inflamatório, contínuo, pode causar necrose hepatocelular (caracterizada laboratorialmente por elevação de enzimas hepáticas). Em suas formas graves pode evoluir com disfunção hepática, que pode ser fulminante. ###As aminotransferases aumentam quando a membrana do hepatócito é lesada, porém seu aumento não tem relação direta com extensão da lesão. ⇒ As hepatites virais agudas são a principal causa infecciosa de hepatite aguda, em particular as hepatites A e E. ⇒ Toxinas e medicações podem potencialmente causar hepatites graves e fulminantes. # o medicamento mais conhecido por esse risco é o paracetamol (quando ingestão excede 4g/dia no adulto). ⇒ A hepatite isquêmica costuma ocorrer como consequência de insuficiência cardíaca ou sepse e cursa com elevações dramáticas dos níveis de transaminases. ⇒ Outras causas de elevação importante dos níveis de transaminases⇒ biliar aguda, doença de Wilson e síndrome de Budd-Chiari aguda. ⇒ Cerca de 90-100% dos alcoólicos desenvolvem doença gordurosa. Destes, 10-35% desenvolvem hepatite alcoólica, enquanto somente 8-20% dos alcoólicos crônicos têm cirrose. Causas de elevação das transaminases Causas extra-hepáticas de elevação de transaminases Causas de acentuada elevação das transaminases =========>A hepatite crônica ⇒ Conjunto de distúrbios hepáticos com causas e gravidade variáveis na qual a inflamação e a necrose do fígado permanecem presentes por pelo menos 6 meses. Nas suas formas mais graves pode ocorrer processo de fibrose e organização arquitetural, que se avançadas podem resultar em cirrose. ⇒ Várias categorias de hepatite crônica são conhecidas⇒ hepatite viral crônica, hepatite crônica induzida por medicamentos e hepatite crônica autoimune , doença de Wilson, doença hepática gordurosa não alcoólica e lesão hepática alcoólica. Doença hepática alcoólica (dha) ⇒ O principal determinante do surgimento de DHA é a quantidade de álcool ingerida. Em homens, as formas graves da doença em geral só aparecem quando o consumo é > 80 g/dia por mais de 10 anos, ao passo que, nas mulheres, este limiar é um pouco mais baixo: > 30-40 g/dia por mais de 10 anos. ⇒ Diversos outros fatores modulam o risco de DHA. As hepatites virais crônicas (B e C), presença de obesidade e outras hepatopatias (ex.: hemocromatose), representam os principais amplificadores do risco. #Desnutrição e fatores genéticos como polimorfismos nos genes do PNPLA-3 (palatin-like phospholipase domain-containing protein 3), TNF-alfa, citocromo P450 e glutation S-transferase também parecem exacerbar o risco, facilitando a ocorrência de DHA. ⇒ Quando nenhum fator adjuvante está presente, a chance de cirrose alcoólica é significativamente reduzida, mesmo em pacientes que bebem muito: algo em torno de 5% apenas. ⇒ Fisiopato do dano hepático exercido pelo álcool⇒ O excesso de etanol absorvido pela circulação porta é metabolizado predominantemente na região centrolobular do lóbulo hepático (onde tem maior concentração de álcool-desidrogenase) ⇒ Durante a metabolização o oxigênio acaba sendo muito consumido, causando assim hipóxia centrolobular ⇒ hipóxia prejudica o funcionamento das mitocôndrias, bloqueando a oxidação dos ácidos graxos (que por isso se acumulam no interior da célula na forma de gotículas de gordura). ⇒ O principal metabólito do etanol é o acetaldeído ⇒ Tal molécula após ser formada se liga covalentemente a diversas proteínas teciduais, criando “neoantígenos” ⇒ Ocorre resposta autoimune que desencadeia processo necro inflamatório no parênquima hepático. ⇒ O acetaldeído também é diretamente tóxico, promovendo peroxidação das membranas celulares e necrose hepatocitária. ⇒ consumo de álcool também causa aumento de permeabilidade da mucosa intestinal⇒ ocasiona aumento da absorção de toxinas bacterianas como o lipopolissacarídeo (LPS ou “endotoxina”) ⇒ Essa translocação de LPS para o fígado através da veia porta estimula as células de Kupffer a produzirem citocinas como o TNF-alfa, contribuindo para o processo inflamatório. # A persistência ou recorrência desses insultos podem ativar as células estreladas (que começam a produzir colágeno) e culminar em fibrose e desestruturação do parênquima hepático = cirrose. ⇒ Evolução da DHA é dividida em 3 etapas. #Histologicamente, os três predominam na região central (perivenular) do lóbulo hepático, o que ajuda a diferenciar a DHA de outras hepatopatias crônicas. 1 ⇒ Esteatose Hepática ⇒ Devido à hipóxia celular gerada na metabolização do etanol, os ácidos graxos não conseguem ser oxidados pelas mitocôndrias e acabam se acumulando no citoplasma do hepatócito, onde formam gotículas de gordura. A esteatose hepática induzida pelo álcool é prontamente reversível com a cessação do etilismo. 2 ⇒ Esteato-Hepatite ⇒ Presença de esteatose com necrose hepatocitária e infiltração do parênquima por leucócitos. ##Alterações notadas na biópsia hepática: 1- Necrose Hepatocitária; 2- Infiltrado Neutrofílico; 3- Distribuição Perivenular (central) do Infiltrado; 4- Corpúsculos de Mallory.* 3 ⇒ Cirrose Hepática: Assim como acontece em outras formas de cirrose, na etiologia alcoólica a deposição de colágeno no parênquima hepático é mediada pelas células estreladas perissinusoidais, ou células de Ito, que fisiologicamente servem como armazenadoras de vitamina A, mas, quando o fígado é exposto a insultos necro inflamatórios persistentes ou repetitivos, podem ser ativadas e conduzir à “cirrotização”. ##No começo o processo é potencialmente reversível, porém, nos indivíduos que mantém uma ingesta etílica elevada a evolução para fibrose panlobular é normalmente definitiva. Manifestações Clínicas ⇒ A esteatose hepática “pura” costuma ser assintomática, com o paciente apresentando apenas hepatomegalia ao exame físico. Alguns portadores de esteatose muito intensa referem desconforto no quadrante superior direito do abdome, além de náuseas e discreta icterícia. ⇒ Na esteato-hepatite alcoólica podemos encontrar diversos sinais e sintomas ⇒ Anorexia, hepatomegalia dolorosa, febre e icterícia acentuada (síndrome clássica). ### também pode se apresentar assintomática, tendo como alterações apenas alterações laboratoriais sugestivas. ⇒ Na esteato-hepatite alcoólica, a elevação das aminotransferases é a regra : ● Relação AST/ALT > 2 ● AST dificilmente ultrapassa 300 U/l em valores absolutos. ● Fosfatase alcalina e gama-GT também aumentam na hepatite alcoólica, mas nunca > 3x o LSN. ● Entre 60-90% dos casos cursam com hiperbilirrubinemia direta ⇒ níveis > 10 mg/dl indicam hepatite alcoólica “grave”. ● Mesmo sem ter cirrose pode haver prolongamento do TAP (> 5 segundos acima do controle) e hipoalbuminemia severa (< 2,5 g/dl) ⇒ tais achados denotam “gravidade”. ● No hemograma, é comum leucocitose com desvio à esquerda. ● 10% dos portadores de hepatite alcoólica também apresentam plaquetopenia (efeito mielotóxico do álcool e/ou a um hiperesplenismo secundário à hipertensão porta “transitória”). ● Anemia macrocítica é comum (mielotoxicidade do etanol + carência de folato associada). ###Casos graves de hepatite alcoólica aguda são mais propensos a desenvolver infecções bacterianas intercorrentes (pneumonia, ITU, bacteremia), e a falência hepática fulminante pode ser a primeira manifestação em alguns doentes. ⇒ Na cirrose alcoólica ⇒ manifestações clínicas inerentes a qualquer quadro de cirrose ⇒ icterícia, encefalopatia, hipoalbuminemia, coagulopatia, ginecomastia, aranhas vasculares, hipertensão portal (esplenomegalia, ascite, varizes esofagogástricas). #contratura palmar de Dupuytren ⇒ lesão independente do dano hepático, porém clássica do alcoolismo. ⇒ Biópsia Hepática ⇒ Não é obrigatória para estabelecer o diagnóstico de DHA em nenhuma de suas formas. A história e o exame físico, em associação aos achados laboratoriais característicos, costumam permitir um diagnóstico essencialmente “clínico”, emparticular quando outras etiologias de doença hepática puderem ser afastadas. #### Devemos indicar a biópsia hepática quando ⇒ há dúvida diagnóstica ou quando necessário para descartar a coexistência de outros processos patológicos ou avaliação acurada do prognóstico. Tratamento ⇒ O primeiro passo é a abstinência alcoólica. # Alguns medicamentos podem ser utilizados para diminuir a “vontade” por álcool: ⇒ Naltrexone (atua como um antagonista competitivo dos receptores opióides), sua administração reduziria o consumo de álcool através do bloqueio pós-sináptico dos receptores opióides m, d e k nas vias mesolímbicas. ⇒ Acamprosato (inibe a atividade excitatória glutamatérgica) ⇒ modula a atividade dopaminérgica no núcleo accumbens, reduzindo o reforço positivo relacionado ao consumo de etanol. ⇒ Suporte nutricional atua positivamente nas alterações hepáticas ⇒ Aporte calórico (40 kcal/kg de peso/dia) a fim de evitar complicações potencialmente fatais, como hipoglicemia, cetoacidose alcoólica e catabolismo muscular esquelético acelerado, garantindo também uma reposição proteica vigorosa (1,5 a 2 g/kg de peso/dia), além de repor micronutrientes (ácido fólico, tiamina, zinco etc) conforme a necessidade. ⇒ Em caso de Encefalopatia e/ou um índice de função discriminante de Maddrey (calculado a partir do TAP e bilirrubinas totais) > ou = 32 ⇒ paciente se beneficia do uso de corticoterapia por um mês (com redução da mortalidade em curto prazo). ##prednisolona 32 mg/dia VO (ou doses equivalentes de outras formulações de glicocorticoide). A prednisolona é preferida em relação à tradicional prednisona porque esta última requer conversão hepática à prednisolona. ###Os critérios de exclusão incluem sangramento gastrintestinal ativo, insuficiência renal ou pancreatite. ###As mulheres com encefalopatia devido à hepatite alcoólica grave podem ser particularmente candidatas apropriadas aos glicocorticóides. ###O Índice de Função Discriminante de Maddrey (IFD) foi especificamente validado na literatura para avaliar a probabilidade de óbito num paciente com hepatite alcoólica. Valores maiores ou iguais a 32 identificam pacientes onde o risco da doença supera o risco do tratamento, servindo, portanto, como “ponto de corte” para indicar a corticoterapia. Sua fórmula é: ###Se houver alguma contraindicação ao corticoide, a droga de escolha passa a ser a pentoxifilina (400 mg VO 3x dia durante um mês), que também reduz a mortalidade em curto prazo, principalmente por reduzir a ocorrência de síndrome hepatorrenal. ⇒ Importante identificar e tratar adequadamente as possíveis complicações como ascite, encefalopatia hepática, síndrome hepatorrenal, peritonite bacteriana espontânea. Prognóstico ⇒ A escala MELD ou Modelo para Doença Hepática Terminal, é um sistema de pontuação para avaliar a gravidade da doença hepática crônica. Para sua pontuação utiliza os valores do paciente de bilirrubina sérica, creatinina sérica e índice internacional normalizado (INR) para predizer sobrevida. Este sistema também é utilizado para priorizar a alocação dos pacientes para transplantes hepáticos. ## MELD = 3,78[Ln bilirrubina sérica (mg/dL)] + 11,2[Ln INR] + 9,57[Ln creatinina sérica (mg/dL)] + 6,43 Obs: Ln = Logaritmo natural ⇒ Classificação de Child-Pugh ⇒ é usada para avaliar o prognóstico da doença hepática crônica, principalmente da cirrose. ### (classificação mostra o estagio da doença hepática). ⇒ A pontuação emprega cinco critérios clínicos para a doença hepática. Cada critério é pontuado entre 1-3, com 3 indicando a condição mais severa. ⇒ A doença hepática crônica é classificada em Child-Pugh classes A a C. ⇒ Curto Prazo. A mortalidade em curto prazo num quadro de hepatite alcoólica gira em torno de 34% em poucos meses (20% no primeiro mês). Os principais fatores de mau prognóstico são: 1.Idade avançada; 2.Bilirrubina > 10 mg/dl; 3.Coagulopatia; 4.Encefalopatia hepática; 5.Azotemia; 6.Grau de leucocitose; 7.Coexistência de infecção/sepse; 8.Não responsividade ao corticoide; 9.Escassez de esteatose na biópsia; 10. Reversão do fluxo portal na USG com Doppler. A falta de resposta após sete dias de tratamento com glicocorticóide indica péssimo prognóstico. Vários escores foram validados com o intuito de estimar a probabilidade de resposta ao tratamento: (1) escore de Lille; (2) escore de Glasgow para hepatite alcoólica; (3) “ABIC” (Age, Bilirrubin, INR, Creatinine); (4) o próprio MELD. O surgimento de injúria renal aguda num paciente com hepatite alcoólica tem sido considerado o melhor preditor isolado da chance de óbito nos próximos 90 dias. ⇒ Longo Prazo. Pacientes que se recuperam de um episódio de hepatite alcoólica aguda têm chance de óbito nos próximos três anos até 10x maior do que a população geral de mesma faixa etária. O risco persiste após esse período, e depois de cinco anos, inclusive, a mortalidade pode chegar a 85%. A chance de hepatocarcinoma está aumentada em portadores de cirrose alcoólica, sendo ainda maior naqueles que possuem extensos depósitos de ferro na biópsia hepática (ex.: coexistência de hemocromatose, com mutações no gene C282Y). O risco de neoplasias extra-hepáticas após o transplante ortotópico de fígado é maior em alcoolistas em comparação com outros pacientes: os motivos são: (1) o álcool também lesa outros órgãos; (2) com frequência esses indivíduos também são fumantes.
Compartilhar