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Encefalopatia hepática (EH)⇒ um amplo espectro de distúrbios neuropsiquiátricos associados à insuficiência hepática aguda ou crônica. Também pode aparecer em pacientes submetidos à derivação portossistêmica na ausência de doença hepatocelular. ⇒ É uma das complicações mais graves da insuficiência hepática aguda ⇒ Sua presença nos pacientes com EH indica um pior prognóstico. ⇒ Ocorre em 30 a 40% dos pacientes com cirrose durante a sua evolução clínica. O risco para o primeiro episódio de EH é de 5 a 25% dentro de 5 anos após o diagnóstico de cirrose (dependendo da presença de fatores de risco como ascite, diabetes e hepatite C). . ⇒ A EH assintomática ocorre em 20 a 80% dos pacientes com cirrose. ⇒ Após o primeiro evento, é comum os episódios se tornarem recorrentes. ⇒ Nos Estados Unidos ⇒ A encefalopatia hepática causa por volta de 110.000 hospitalizações anuais. Sua mortalidade é variável, com índices próximos de 40 % em graus 3 e 4 de West Haven( classificação usada para encefalopatia hepática). Fisiopato ⇒ O mecanismo exato da EH ainda não foi totalmente desvendado. Acredita-se que dependa de múltiplos fatores. Na maioria dos casos, mais de um fator contribui para o desenvolvimento das alterações do sistema nervoso central. ⇒ Em resumo ⇒ os produtos tóxicos produzidos naturalmente no intestino nao sao mais filtrados/metabolizados pelo fígado (ou devido sua falência ou por shunts portossistêmicos), dessa forma chegam até a circulação sistêmica e consequentemente ao SNC. # Entre as toxinas, a que apresenta melhor associação com a EH é a amônia (um subproduto do metabolismo de nitrogênio) ⇒ Produzida por ação da enzima glutaminase (dentro dos enterócitos do intestino delgado e do cólon) + ação de um grande número de bactérias produtoras de urease no intestino ⇒ Em condições fisiológicas normais a amônia entra no ciclo da ureia, sendo metabolizada pelo fígado (dentro dos hepatócitos pela glutamina sintetase - converte amônia e glutamato a glutamina). ⇒ As toxinas agem inibindo a neurotransmissão e apresentam efeitos deletérios na função cerebral. ===> Outras alterações associadas com o aparecimento da EH incluem: --Deposição de magnésio nos gânglios da base, o que justifica parcialmente as manifestações extrapiramidais da EH. --Deficiência de zinco (cofator no metabolismo da ureia e amônia) , sua deficiência leva a aumento da amônia e falsos neurotransmissores. --Ação de mediadores inflamatórios contribui para o aparecimento da EH. --Disfunção dos astrócitos causada pelo aumento do glutamato e amônia. --Aumento da permeabilidade da membrana hematoencefálica a produtos tóxicos. --Hiperatividade do sistema GABAérgico com ação endógena similar à de benzodiazepínicos, com efeito negativo cerebral. --Alteração do metabolismo de glicose cerebral. --Outros fatores envolvidos na disfunção cerebral incluem serotonina, óxido nítrico, peptídeos opioides circulantes e radicais óxidos livres. --Diminuição dos níveis de mioinositol induzida pelo aumento de amônia que diminui o tamponamento do excesso de glutamina no cérebro. #Fatores precipitantes de EH como infecções bacterianas ou hemorragia digestiva alta e constipação intestinal com sobrecarga resultante de aminoácidos no trato gastrointestinal com aumento da produção de falsos neurotransmissores (benzodiazepínicos endógenos). =====> As classificações da EH incluem: 1. Em relação a patologias associadas: – Tipo A: encefalopatia associada com insuficiência hepática fulminante. – Tipo B: encefalopatia associada com shunt portossistêmico na ausência de doença hepática intrínseca. – Tipo C: encefalopatia associada com cirrose e hipertensão portal. As manifestações clínicas dos tipos B e C são semelhantes, enquanto o tipo A tem características distintas e diferentes, podem ser associadas com um aumento da pressão intracraniana e um risco de herniação cerebral. 2. Formas de apresentação: – Episódica: O paciente só apresenta manifestações ocasionalmente, usualmente relacionadas a algum fator precipitante. – Persistente: paciente mantém padrão de alterações comportamentais que estão sempre presentes, com episódios de piora importante. Usualmente associadas a doença hepática grave. – Mínima: alterações apenas detectáveis em exames psicométricos. 3. Em relação a fatores precipitantes: – Associada a fatores precipitantes. – Espontânea. – Recorrente: sintomas recorrem em curtos intervalos de tempo (< 6 meses), com ou sem fatores precipitantes claros. 4. Em relação à intensidade: – Leve. – Grave. – Dependente de tratamento. ⇒ Na sua expressão mais leve, as alterações são sutis, muitas vezes reconhecidas somente pelo círculo de convivência mais próximo do paciente (apenas alterações de testes psicométricos - atenção, memória de trabalho, velocidade psicomotora e habilidade visual-espacial, medidas funcionais eletrofisiológicas do cérebro ⇒ micrografia é o achado característico dessa fase). ⇒ À medida que a EH progride, outras alterações podem ocorrer: # Alterações do padrão do sono: sonolência ou insônia ⇒ O ciclo sono-vigília pode ser alterado com sonolência diurna excessiva e insônia noturna. # Alterações do estado de consciência: desorientação progressiva temporal espacial, comportamento inapropriado e quadro confusional, estado de agitação ou sonolência, letargia e, por fim, coma. # Manifestações psiquiátricas: mudança repentina ou gradativa da personalidade, como apatia, euforia, agressividade, excitação e comportamento inadequado. # Achados neurológicos: em pacientes não comatosos com EH⇒ anormalidades da motricidade (hipertonia, hiperreflexia e positivação do sinal de Babinski). Raramente, déficits neurológicos focais transitórios podem ocorrer. ⇒ Hipocinesia, monotonia e lentidão da fala, tremor similar ao parkinsoniano e discinesia com movimentos voluntários diminuídos são achados comuns; em contraste, a presença de movimentos involuntários semelhantes a tiques ou coreia ocorre raramente. ⇒ Presença de Flapping ⇒ um movimento involuntário das mãos, semelhante ao bater de asas (Pode aparecer nos estágios intermediários da EH, mas desaparecem no estupor e coma) ⇒ é um achado característico de EH. ## testado provocando a dorsiflexão dos punhos, com os dedos separados. ========> A EH deve ser classificada em relação à gravidade de suas manifestações, de acordo com a classificação de West Haven. A importância dessa classificação é sua correlação com o prognóstico. Estudos mostram uma mortalidade 4 a 5 vezes maior em pacientes com EH graus 3 e 4 em comparação com EH graus 1e 2. Classificação de West Haven de encefalopatia hepática Diagnóstico ⇒ O diagnóstico da EH é feito com a detecção de sinais sugestivos em um paciente com insuficiência hepática grave (aguda ou crônica) e/ou shunts por hipertensão portal, que não têm causas alternativas óbvias de disfunção cerebral. ## Reconhecer um fator precipitante para EH auxilia o diagnóstico (infecção, sangramento e constipação). ###### O diagnóstico deve ser sempre considerado de exclusão (procure outras possíveis causas dos sintomas neurológicos). ⇒ São recomendações da American Association of Studies of Liver Disease em relação ao diagnóstico de EH: 1. Os episódios de encefalopatia hepática devem ser classificados de acordo com o tipo de doença subjacente, a gravidade das manifestações, o curso do tempo e fatores precipitantes. 2. A avaliação diagnóstica é necessária, considerando outras doenças que podem alterar a função cerebral e simulem EH. ##Os pacientes podem ter alterações do estado mental por outros motivos, como o uso de medicamentos, abuso de álcool, uso de drogas, efeitos de hiponatremia e doença psiquiátrica. ###A presença de flapping sugere o diagnóstico de EH, mas esse sinal é descrito também em pacientes com uremia, encefalopatia anóxica, hipercapnia, intoxicação por fenitoína e hipomagnesemia. ⇒ Exames a serem pedidos em suspeita de encefalopatia hepática. Tratamento ⇒ Em pacientes com agitação ⇒ O haloperidol deve ser usado criteriosamente nessas circunstâncias(opção mais segura que benzodiazepínicos). ⇒ No hospital, a colocação de uma sonda nasogástrica pode ser necessária para administrar as terapias orais em pacientes que são incapazes de engolir ou têm um risco aumentado de aspiração. ⇒ Após o diagnóstico usar Lactulose (um dissacarídeo não absorvível catalisado pela flora bacteriana intestinal, acidificando o meio e levando à diminuição da produção de amônio, convertendo NH3 em NH4+)==> considerada como padrão ouro no TTO da EH. A medicação modifica a flora colônica e efeito laxativo. ⇒ Dose inicial de 20 a 40 mL de 8/8 horas a 4/4 horas, com aumento progressivo se necessário, com dose máxima de 60 mL de 4/4 horas. ⇒ O objetivo com a medicação é obter de 2 a 4 evacuações pastosas ao dia. ⇒ O uso de antibióticos associados a lactulose tem benefício questionável, mas são recomendados em pacientes que após 48 horas de tratamento com lactulose não apresentaram melhora clínica. ⇒ Rifaximina em dose de 550 mg, via oral de 12/12 horas. ⇒ Pacientes com EH grau 1 podem ser manejados ambulatorialmente. Em grau 2 já deve ser estudado internação. Grau 3 e 4 devem ser internados e frequentemente é um paciente para UTI.
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