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LOMBALGIA E PROCESSO DEGENERATIVO DO DISCO INTERVERTEBRAL

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1 Esther Perinni Lopes – Medicina UVV XXVIII 
LOMBALGIA E PROCESSO DEGENERATIVO DO 
DISCO INTERVERTEBRAL 
Lombalgia mecânica é aquela conhecida como 
lombalgia idiopática, ou seja, que não tem uma causa 
definida. Isso pois a inervação da região lombar é 
entrelaçada, então são inúmeras as causas da dor. 
A lombalgia é muito comum e é uma dor na região 
lombar. A lombalgia pode ser também uma 
lombociatalgia. 
Definição de lombalgia = dor que vai desde a costela 
inferior até a prega glútea inferior. 
A lombalgia pode ou não ser acompanhada por uma 
irradiação para membros inferiores. 
 
Uma lombociatalgia é uma compressão do nervo 
ciático pois a inervação tem suas raízes de origem na 
região lombossacral, então qualquer problema nessa 
região pode comprimir esse nervo e causar irradiação 
para os membros inferiores. 
DEFINIÇÃO DO TEMPO DE ACOMETIMENTO DA 
LOMBALGIA 
O acometimento pode ser agudo, subagudo ou 
crônico. 
Aguda = persiste por menos de seis semanas 
Subaguda = perdura de seis a doze semanas 
Crônica = persiste por doze semanas ou mais 
 
 
 
 
A lombalgia atinge mais de 70% da população e 
predomina entre 35 e 55. Mas por que predomina nessa 
idade? Porque é a idade de produção, onde o ser 
humano está mais ativo, fica mais tempo trabalhando, 
tem uma sobrecarga postural, ou um trabalhador que 
precisa flexionar a coluna por muito tempo e carregar 
bastante peso, etc. 
A lombalgia inespecífica é aquela de maior prevalência, 
85 a 95% dos indivíduos acometidos. 
Na população com lombalgia, 2 a 7% podem sofrer de 
uma lombalgia crônica. 
 
As lombalgias podem ser: 
▪ câncer 
▪ fraturas por compressão - 4% 
▪ infecção da coluna vertebral 
▪ espondilite anquilosante - doença reumática que 
causa uma inflamação na região dos ligamentos da 
articulação sacroilíaca 
▪ estenose vertebral - 3% 
▪ hérnia de disco - 4% 
 
ETIOLOGIA 
▪ Fatores psicossociais – quando estamos estressados, dói 
em razão do aumento da tensão, esse aumento da 
tensão causa uma compressão das articulações, que 
pode ser a fonte da dor. 
▪ Obesidade – aumenta a sobrecarga na coluna, tanto 
nos discos intervertebrais quando nas articulações 
zigoapofisárias. 
▪ Trabalhos pesados – quando indivíduos que trabalham 
carregando muito peso, indivíduos que malham 
também. 
▪ Alterações climáticas – as terminações nervosas livres 
são muito estimuladas pelo frio. Então a temperatura 
muito baixa ativa essas terminações nervosas livres, o que 
provoca dor em algumas pessoas. Além disso, 
aumentamos a contração muscular na tentativa de 
produzir calor, isso pode comprimir a articulação, 
aumentar a compressão e desencadear dor. 
 
 
 
COLUNA LOMBAR 
No plano frontal, a coluna é retificada, sem curvas. 
A definição do tempo da condição é diferente entre 
a lombalgia e outras doenças do aparelho 
locomotor. 
Artigos mostram que quanto maior o grau de 
escolaridade, maior a queixa lombar. 
 
2 Esther Perinni Lopes – Medicina UVV XXVIII 
Quando não se tem uma radiografia numerada deve-se 
procurar a última costela pois ela se articula com T12. 
Assim, é possível se situar na imagem e encontrar L1. 
 
Às vezes existe uma sexta vértebra lombar, que causa 
bastante dor. 
Os processos espinhosos estão alinhados, mas se 
estiverem em posições diferentes pode acontecer uma 
rotação de vértebras, que é fonte de muita dor, 
Outra coisa muito importante de observar em exames 
radiográficos é se entre o processo transverso de L5 e a 
asa do osso ilíaco existe um espaço. Isso porque existem 
casos em que o processo transverso de L5 é muito 
grande e essas duas estruturas podem se chocar e 
causar muita dor. O nome dessa condição é 
megapófise. 
Em relação à anatomia da coluna lombar, ela é 
formada por vértebras fortes e são as maiores vértebras 
da coluna. Essas vértebras são ligadas por articulações, 
muitos ligamentos e músculos fortes e flexíveis. 
A coluna lombar é formada por grandes corpos, 
grandes discos intervertebrais e o corpo vertebral vai 
ficando maior conforme ele se aproxima do sacro. Ele 
precisa ser maior pois vai sustentar mais peso. 
É uma estrutura ricamente inervada, os ossos são 
inervados, disco intervertebral, a capsula articular das 
articulações zigoapofisárias são inervadas também. Já 
que a inervação é exuberante, a dor pode ter diversas 
origens. 
A coluna lombar permite mobilidade em 3 planos: 
▪ Plano sagital = flexão e extensão. 
▪ Plano frontal = flexão lateral. 
▪ Plano transversal = rotação 
As curvaturas na coluna são vistas pelo plano sagital. 
Uma curvatura primária é aquela que conserva a 
curvatura fetal, em flexão. Quando a criança começa a 
se sentar e quando ela fica em pé, se acentuam as 
curvaturas secundárias. A lombar apresenta uma 
curvatura secundária chamada de lordose. O grau 
dessa curvatura varia de 31 a 79 graus. 
É importante saber que temos uma curva lordótica 
normal na região lombar, e essa curva está dentro dos 
parâmetros normais quando L3 está no ápice dessa 
curvatura. 
A vista oblíqua é a melhor para se examinar os forames 
intervertebrais e as articulações facetárias no raio X. 
Nós temos dois tipos de articulação na coluna lombar: 
- Articulação cartilaginosa = entre os corpos vertebrais 
nós temos os discos intervertebrais, que formam esse tipo 
de articulação. Também é chamada de sínfise. 
- Articulação facetária ou zigoapofisárias, as 
articulações sinoviais = Faz a articulação entre as 
facetas, na região do arco vertebral. São as articulações 
com mais mobilidade do nosso corpo. 
 
 
 
ARTICULAÇÕES ZIGAPOFISÁRIAS 
Na região posterior do arco vertebral nós temos as 
lâminas que vão se unir e formar o processo espinhoso. 
O processo articular inferior da vértebra de cima vai se 
articular com o processo articular superior da vértebra de 
baixo → formação do processo espinhoso. 
Entre a região do processo articular superior e inferior, 
temos a pars articularis → é a região do arco vertebral 
que fica entre os processos articulares. 
 
3 Esther Perinni Lopes – Medicina UVV XXVIII 
 
Qual é a importância disso? Às vezes acontecem fraturas 
nessa região da parte articular, então é importante 
examinar com cuidado as imagens radiológicas 
oblíquas. Existem casos de jovens com dores que ainda 
não conseguiram diagnóstico, é importante pedir essa 
imagem oblíqua para verificar a integridade da região 
da pars articularis, que fica entre a articulação 
zigapofisária inferior e superior → é muito comum ter má 
formação óssea nessa região, o que pode levar a fraturas 
dolorosas. 
Dizem que essa região que inclui a faceta articular 
inferior, faceta articular superior e o processo espinhoso 
parece com um cachorro escocês e que nessa região 
está o pescoço do cachorro. 
 
 
VÉRTEBRA LOMBAR TÍPICA 
Ela tem um corpo vertebral e um arco vertebral, e nesse 
arco nós temos os processos que servem para a inserção 
de músculos e ligamentos. 
A ligação entre o corpo vertebral e o arco vertebral é 
chamada de pedículo. A partir do pedículo nós temos o 
arco vertebral. 
O arco vertebral tem os processos transversos dos dois 
lados, processo articular superior, processo articular 
inferior e o processo espinhoso. 
 
 
São comuns fraturas na região entre os processos 
articulares. 
O corpo vertebral é a área da vertebra especializada em 
receber carga, para suportar o peso. 
O arco vertebral protege o sistema nervoso e propicia 
uma mobilidade maior em relação ao corpo pois as 
articulações nessa região são próprias para o 
movimento. 
 
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Os corpos vertebrais se articulam por meio do disco 
intervertebral. Então eu tenho um osso compacto e um 
osso esponjoso, em cima desse osso eu tenho uma placa 
de cartilagem hialina e depois eu tenho o disco 
intervertebral. Então se é a área da coluna capacitada 
para receber carga, uma das funções dodisco 
intervertebral é amortecer as cargas. 
 
OS LIMITES DO FORAME INTERVERTEBRAL 
Limite superior e inferior = pedículo. 
Limite anterior = corpo e disco intervertebral. 
Limite posterior = articulações facetárias. 
Existem algumas coisas que podem abstruir a saída do 
nervo = a artrose, neoformação óssea, hérnia de disco, 
desidratação do disco. 
 
 
ESTENOSE VERTEBRAL 
A estenose vertebral é a artrose na coluna. Isso acontece 
quando temos muita compressão das articulações 
facetárias e a cartilagem começa a ser destruída, um 
osso começa a ser comprimido com o outro, o que causa 
um processo inflamatório e uma neoformação óssea. 
Assim, você começa a ter uma formação óssea dentro 
do forame intervertebral ou forame neural, o que diminui 
a luz desse forame e comprime a raiz nervosa. 
 
DISCO INTERVERTEBRAL 
O disco intervertebral tem como função amortecer 
carga. 
É formado por uma fibrocartilagem, é tecido fibroso 
interposto com tecido cartilaginoso na parte chamada 
de anel. 
No centro do disco existe um material mucoide 
gelatinoso formado por colágeno reticular, colágeno do 
tipo II e muitos proteoglicanos ou agrecanos. 
 
Agrecanos ou proteoglicanos = hidratam de uma 
maneira muito eficiente o disco intervertebral. Então a 
hidratação do disco depende dos proteoglicanos. 
Se você tem um disco intervertebral desidratado e essa 
hidratação depende dos proteoglicanos → esse disco 
intervertebral está empobrecido de proteoglicanos. 
Eu tenho muito mais hidratação no núcleo pulposo, 
porém também tem hidratação no anel fibroso. 
São essas estruturas ricamente hidratadas que dão o 
tamanho da coluna, separam de modo eficiente os 
corpos vertebrais, mantêm a altura superior e inferior do 
forame intervertebral e participam do amortecimento de 
cargas. 
O disco, apesar de ser uma fibrocartilagem (lembrando 
que cartilagens são avasculares), ele foge à regra. Ele é 
uma estrutura tão submetida a carga que ganha não 
apenas uma inervação na periferia como uma 
hidratação, tamanha é a carga com que os discos 
intervertebrais são submetidos. Se ele é inervado, então 
qualquer coisa que afete ele pode provocar dor. 
Essa inervação são terminações nervosas livres e 
proprioceptores. 
 
DESIDRATAÇÃO DO DISCO INTERVERTEBRAL 
O disco intervertebral é extremamente hidratado até os 
30 anos de idade e com isso mantem o forame 
intervertebral bem aberto. Mas com o passar dos anos 
 
5 Esther Perinni Lopes – Medicina UVV XXVIII 
esse disco começa a se achatar, começa a se desidratar 
e a luz do forame diminui no sentido superior → inferior. 
O disco intervertebral corresponde a ¼ da coluna 
vertebral. 
Em razão dessa desidratação e achatamento dos discos 
intervertebrais, alguns indivíduos diminuem de altura ao 
chegar na terceira idade. 
 
DISFUNÇÕES DO DISCO INTERVERTEBRAL 
Um disco normal possui o anel fibroso totalmente íntegro, 
mas quando começa a haver sobrecarga e ruptura 
nesse anel fibroso, o material mucoide pode vir migrando 
e causar um prolapso, uma barriga nesse disco → 
PROLAPSO DISCAL. 
Quando esse anel fibroso perde a sua integridade e esse 
material mucoide escapa do disco, do anel fibroso → 
HÉRNIA DE DISCO. 
Hérnia de disco = extravasamento do material mucoso 
do disco intervertebral. 
Prolapso discal/protrusão discal = quando ainda temos 
uma lâmina de anel fibroso segurando o núcleo pulposo, 
mas se o material do núcleo pulposo acaba vazando em 
razão de um rompimento da lâmina de anel fibroso, 
temos uma hérnia de disco. 
 
 
ESTÁGIOS DA DEGENERAÇÃO DO DISCO INTERVERTEBRAL 
Temos tanto na parte cartilaginosa do anel, mas 
principalmente no núcleo → agrecanos (agregados de 
proteoglicanos). 
Os proteoglicanos são glicoaminoglicanos ligados a 
proteínas que vão se ligar por meio de proteínas ao ácido 
hialurônico. 
 
Os glicoaminoglicanos são sulfatados → a carga do 
sulfato é negativa → vai atrair cargas positivas → sódio, 
água... → com isso temos a criação da água de 
solvatação → estrutura fica ricamente hidratada. 
Essas glicoproteínas sulfatadas têm a capacidade de 
absorver água e promover a hidratação. Com o passar 
dos anos, esses sulfatos vão se desfazendo, diminuindo a 
hidratação do disco → acontece normalmente a partir 
dos 30 anos de idade, mas esse processo pode se 
acelerar de acordo com a quantidade de carga 
recebida pelos discos intervertebrais ao longo da vida. 
 
Com a perda dos proteoglicanos e a perda da 
capacidade de reter água, o material do disco 
intervertebral vai se desfazendo e isso vai criar reações 
inflamatórias, subclínicas e um tecido de reparo vai 
sendo criado → o material vai ser substituído por 
colágeno do tipo I e vai formando um tecido fibroso. 
Então ele perde a maleabilidade, a hidratação e vai 
sendo substituído por um material muito mais rígido e 
com isso diminui sua altura e sua capacidade de 
amortecer carga. 
Alguns indivíduos têm pré-disposição maior a 
degeneração de cartilagens. 
 
AS FASES DA DETERIORAÇÃO DO DISCO INTERVERTEBRAL 
1. Disfunção inicial 
O anel fibroso começa a se rasgar, a placa de 
cartilagem hialina que está em cima do corpo vertebral 
também se rasga → criando reações inflamatórias → 
essas reações vão evoluir e atingem as articulações 
facetárias. 
 
6 Esther Perinni Lopes – Medicina UVV XXVIII 
Sintomas da fase: dor lombar localizada ou referida, 
sente mais dor quando se movimenta. 
Sinais da fase: muita sensibilidade quando você palpa a 
região, músculos contraídos com muita força, 
hipomobilidade e extensão dolorosa. 
Exame neurológico geralmente é normal. 
2. Estágio da instabilidade 
Com a perda dos proteoglicanos, temos a perda da 
altura do disco. 
A cápsula nas articulações zigapofisárias fica inflamada 
pois teve a desidratação e ela começa a ficar 
comprimida → inflamação nas articulações. 
 
As articulações são planas e eles podem se deslocar. 
Sintomas: dor lombar localizada ou referida, sente mais 
dor quando se movimente. 
 
Sinais: movimentos anormais e oscilantes. 
 
3. Estágio da estabilização 
Se eu já tenho um disco desidratado, uma articulação 
facetária comprimida, isso pode ser progressivo, ir 
degenerando cada vez mais essas estruturas → fechar o 
canal intervertebral, criando uma estenose... 
Mas essa condição também pode se estabilizar. 
Sintomas da fase de estabilização: dor lombar de 
gravidade decrescente. 
Sintomas/Sinais de cronicidade: sempre vai ter uma 
dorzinha e coluna travada, sempre movimentos 
reduzidos, pode ter escoliose.

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