Prévia do material em texto
Introdução aos Cuidados Paliativos - FPM III Definição: → É uma abordagem que promove qualidade de vida de pacientes e seus familiares diante de doenças que ameaçam a continuidade da vida, através de prevenção e alívio do sofrimento. Requer a identificação precoce, avaliação e tratamento impecável da dor e outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual. Discussão: → Pacientes “fora da possibilidade de cura”: · Todo doente, já que a maioria das doenças é absolutamente incurável · Doente em suas últimas horas de vida → Concomitância da abordagem paliativa com o tratamento curativo é perfeitamente viável → À medida que a doença progride e o tratamento curativo perde o poder de oferecer um controle razoável da mesma, os cuidados paliativos crescem em significado, surgindo como uma necessidade absoluta na fase em que a incurabilidade se torna uma realidade. → Paciente “fora das possibilidades terapêuticas”: · Sempre há uma terapêutica a ser preconizada para um doente. Cuidado Paliativo: → Promove alívio da dor e de outros sintomas estressantes → Reafirma a vida e vê a morte como um processo natural → Não pretende antecipar e nem postergar a morte → Integra aspectos psicossociais e espirituais ao cuidado → Oferece um sistema de suporte que auxilie o paciente a viver tão ativamente quanto possível, até a sua morte. → Oferece um sistema de suporte que auxilie a família e entes queridos a sentirem-se amparados durante todo o processo da doença. → Deve ser iniciado o mais precocemente possível, junto a outras medidas de prolongamento de vida, como a quimioterapia e a radioterapia, e incluir todas as investigações necessárias para melhor compreensão e manejo dos sintomas. Indicações de Cuidados Paliativos: → Doença ativa, progressiva, ameaçadora à continuidade da vida significa que os cuidados paliativos podem e devem ser indicados na vigência de doenças crônicas em diferentes fases de evolução. → A amplitude dos cuidados e sua pertinência depende da fase em que se encontra a doença e a história natural da doença de cada uma delas. → Pacientes com câncer: · Diagnóstico é a fase mais difícil · O tratamento pode trazer desconforto · Após determinado período, por falência do tratamento ou recidiva, a doença evolui de forma progressiva e inversamente proporcional à condição clínica e capacidade funcional do doente. → Patologias crônicas como falências funcionais e síndromes demenciais: · Comportamento mais lento · Crises de necessidades · Capacidade funcional declina e não retorna ao patamar funcional anterior, até que se crie uma situação de alta dependência. · Neste momento, a paliação se torna imperativa e não se indicam os tratamentos invasivos e dolorosos, sob pena de proporcionar apenas prolongamento inútil de sofrimento. Critérios de inclusão: Conceitos gerais: → O paciente precisa de um diagnóstico definido. → Sobrevida média menor que 6 meses. - controvérsia, atualizado. → Doença que ameaça constantemente a vida. → O paciente e/ou responsável deve estar de acordo com a perspectiva paliativa. → A doença deve estar em franca progressão. Critérios de inclusão específicos: Câncer: → Qualquer câncer inoperável ou metastático; → Estado funcional ruim, Karnovsky < 50 Doença cardíaca: → insuficiência cardíaca (IC) com sintomas de repouso (NYHA classe IV) → medicação otimizada - paciente com doença tratada, com todas as medicações, mas que continua com os sintomas de IC, continua descompensado, continua precisando de UTI → sinais e sintomas preditores de mortalidade → FE < 20% → Escala de performance de Karnofsky: → Escala de Performance Paliativa: Critérios de inclusão específicos: Demência: → MEEM = 0 e ABVD = 0 → Presença de comorbidades que indicam mau prognóstico: aspiração, pielonefrite, sepse, úlceras de pressão (estágios 3 e 4), febre apesar de antibióticos (ATB). → Se o paciente possui SNE (sonda nasoenteral - alimentação por sonda), deve-se documentar perda nutricional (> 10% em 6 meses ou hipoalbuminemia) - a doença está tão avançada que apesar de receber todo suporte calórico por sonda, o paciente não consegue manter o peso. → Se o paciente não possui SNE, há diminuição da ingesta oral. Doença Pulmonar: → Dispnéia de repouso não responsiva ao tratamento. → Progressão da doença verificada por aumento do número de internações ou redução da VEF1 (volume expiratório forçado) - capacidade pulmonar diminuindo progressivamente → Cor pulmonale ou IC direita → Hipoxemia de repouso - precisa de O2, saturação baixa. → Hipercarbia - retenção de gás carbônico; não faz as trocas gasosas eficientemente; não consegue expirar o CO2 por causa da diminuição da complacência pulmonar → Taquicardia em repouso. Doença hepática: → Não estar aguardando transplante. → Função hepática reduzida. → Ascite refratária ao tratamento → PBE (peritonite bacteriana espontânea) → Síndrome hepatorrenal → Encefalopatia hepática → Sangramento por varizes esofágicas recorrente. Doença renal: → Não estar em diálise - não ter indicação de diálise ou ter indicação, mas não ter condição de fazer diálise por algum motivo. → Não estar aguardando transplante. → Clearance de creatinina < 10ml/min (< 15 se diabético) e creatinina sérica > 8 (> 6 se diabético). → Oligúria → Sinais e sintomas de uremia → Sobrecarga volêmica intratável Fragilidade/Imobilidade: → Internações e visitas a serviços de emergência frequentes → Albumina < 2,5 → Perda não intencional de peso → úlceras de pressão → Acamado Trajetória das doenças graves ao longo do tempo: → Quando o paciente com câncer tem um declínio funcional, normalmente a morte está bem próxima. → Em doenças cardíacas ou pulmonares graves, de tempos em tempos possui descompensações, se recupera, mas não totalmente (volta pior do que tava anteriormente). Em uma dessas descompensações, haverá o óbito. Pode-se reconhecer para que o óbito aconteça com o menor sofrimento possível. → Fragilidade e demência: descompensações também não retornam ao patamar anterior. Fases de Prestação de Cuidados Paliativos: Estratégias e evidências: Comunicação médico-paciente: → Cuidados Paliativos: · Iniciar estabelecendo as metas do cuidado · Apontar metas realistas e atingíveis, especialmente em doenças avançadas · Nestes casos pesar prejuízo (prolongar a vida e sofrimento) X benefício · Metas para alguns pacientes podem ser prolongar a vida a qualquer custo. · Singer mostrou que os doentes mais graves querem: └ Ausência de dor └ Melhora da qualidade de vida └ Evitar ser um fardo para a família └ Ter um relacionamento estreito com os mais próximos └ Manter o senso de controle Cuidados Paliativos ─ Estabelecendo metas claras: → Paciente com 87 anos, demência grave com disfagia. Discute-se a realização de gastrostomia. → Meta primária 1: reduzir o sofrimento e melhorar qualidade de vida do paciente. → Gastrostomia: · Procedimento doloroso e invasivo. · Elimina prazer do paladar. · Pode causar celulite, vômito, diarréia e distúrbio hidroeletrolítico. · Não diminui risco de aspiração · Associada ao maior uso de restritores. - amarrações para impedir a retirada das sondas. → Meta primária 2: prolongar a vida → Gastrostomia: · Não há ganho de sobrevida em estudos observacionais comparando pacientes que recebem nutrição por sonda ou sem sonda. → Médicos podem ajudar os pacientes e familiares a estabelecer as metas com perguntas diretas: · “O que faria a vida valer a pena?” · “Dada a gravidade da sua doença, o que é mais importante para atingir?” · “Quais são seus desejos mais importantes?” · “Quais são seus maiores medos?” · “O que você considera como pior que a morte?” → Metas podem se sobrepor, serem contraditórias ou mesmo mudar no decorrer da doença. → Sinais de alarme: metas pouco estabelecidas ou conflitantes em pacientes em CP: · Hospitalizações frequentes e/ou prolongadas · Sentimento de frustração, raiva ou de perda de controle por parte do médico · Estresse do cuidador (sobrecarregado) → Uma vez estabelecido metas claras, estas podem ser usadas para definir o tipo de cuidado queo paciente deseja. Cuidados Paliativos ─ Avaliando e tratando os sintomas: → Meta fundamental em CP: · Alívio da dor e outros sintomas físicos e psicológicos → Uso de instrumentos validados de forma rotineira. · Identifica sintomas e facilita tratamento · Aumenta satisfação do paciente e da família. Conceitos sobre futilidade: → Procedimento fútil: todo aquele que além de não alterar o prognóstico final gera desconforto e prolongamento do sofrimento para o paciente e seus familiares. → Exemplos: IOT, VM, acesso venoso central, hemodiálise, ATB de largo espectro, nutrição parenteral, múltiplas sondagens. Eutanásia: → “Eu” = boa, “thanatos” = morte → “Ato de promover a morte antes do esperado por motivo de compaixão diante de um sofrimento extremo. → Antecipar a morte; “promover a morte antes do esperado” Distanásia: → “Morte prolongada, lenta, ansiosa e com muito sofrimento.” Ortotanásia: → “A morte no momento correto.” → Preconizada nos cuidados paliativos. Cuidados Paliativos ─ Coordenação dos cuidados: → Estudos sugerem que o encaminhamento para programas de cuidados paliativos resultam em: · melhora dos sintomas dos pacientes; · menor custo hospitalar; · maior mortalidade em casa e maior satisfação pessoal e familiar. Conclusões e recomendações: → O objetivo dos cuidados paliativos é aliviar o sofrimento e melhorar a qualidade de vida dos pacientes e de suas famílias.