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QUESTÕES DEFENSORIA PÚBLICA – JURISPRUDÊNCIAS DO STJ
Questão 1
Jorge adquiriu uma televisão no valor R$3.500,00 perante o fabricante Jony S.A., logo em seguida a aquisição, a
televisão apresentou problemas de imagem. Ao tentar estabelecer contato com o comerciante para solucionar o
problema, foi informado pelo mesmo, que o consumidor deveria levar o produto para a assistência técnica. Muito
chateado, Jorge ajuíza demanda solicitando a troca do produto, sem conceder o prazo de 30 dias previsto no art.18 do
CDC. Diante do caso concreto, como funciona o entendimento das cortes superiores a respeito do tema?
Resposta:
Informativo 598
PROCESSO REsp 1.459.555-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, por unanimidade, julgado em 14/2/2017, DJe
20/2/2017.
Resumo: RAMO DO DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Troca de mercadoria. Prazo em benefício do consumidor. Art.
18, § 1º, do CDC. Observância.
Texto Integral: Incialmente, cumpre salientar que não há no CDC norma cogente que confira ao consumidor um direito
potestativo de ter o produto trocado antes do prazo legal de 30 (trinta) dias. A troca imediata do produto viciado,
portanto, embora prática sempre recomendável, não é imposta ao fornecedor. O prazo de 3 (três) dias para a troca da
mercadoria é um plus oferecido pela empresa, um benefício concedido ao consumidor diligente, que, porém, não é
obrigatório. Ademais, verificase que essa política de troca não exclui a possibilidade de o consumidor realizar a troca,
na forma do art. 18 do CDC. Registre-se que o STJ, quando do julgamento do REsp 1.411.136-RS (DJe 10/3/2015), no
qual se discutiu acerca da responsabilidade do comerciante quanto à sua obrigação de interceder perante a assistência
técnica em favor do consumidor, concluiu que, "disponibilizado serviço de assistência técnica, de forma eficaz, efetiva
e eficiente, na mesma localidade do estabelecimento do comerciante, a intermediação do serviço apenas acarretaria
delongas e acréscimo de custos”. Ademais, de acordo com a legislação pátria, que deve ser aplicada à espécie,
incumbe à empresa fornecedora, observados os prazos do art. 26 do CDC, cumprir o mandamento constante do artigo
18, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor, o qual prescreve que se o vício do produto não for sanado no prazo
máximo de 30 (trinta) dias pelo fornecedor, o consumidor poderá exigir, alternativamente e ao seu arbítrio, as
seguintes opções: a) substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; b) a
restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos, ou c) o
abatimento proporcional do preço. A exegese do artigo é clara: constatado o defeito, concede-se primeiro a
oportunidade de sanar-se o vício no prazo máximo de 30 (trinta) dias, sendo certo que a assistência técnica possui
melhores condições para buscar a reparação do vício. (Informativo n. 598)
Questão 2
Sandro, adquiriu passagens aéreas a fim de visitar seus familiares (Festa do seu sobrinho) que residiam na cidade de
São Paulo. O Voo estava agendado para ás 12:00 e ao chegar no saguão do aeroporto às 10:00 havia na tela de
partidas e chegadas a confirmação do mesmo. Ocorre, que ao recorrer ao balcão da CIA ás 12:00, foi informado pela
atendente, que o voo se encontrava atrasado. Durante 3 horas, o atraso persistiu sem qualquer tipo de explicação ou
previsão de novos embarques. Muito chateado, Sandro estabeleceu contato com seus familiares informando que pela
ausência total de informação estaria cancelando a viagem.
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Diante do caso concreto, quais os direitos que poderiam ser pleiteados por Sandro, tomando-se por base o
entendimento das cortes superiores?
Resposta: Informativo 593
PROCESSO REsp 1.469.087-AC, Rel. Min. Humberto Martins, por unanimidade, julgado em 18/8/2016, DJe 17/11/2016.
RAMO DO DIREITO DIREITO ADMINISTRATIVO E DO CONSUMIDOR TEMA Concessão de serviços aéreos. Transporte
aéreo. Serviço essencial. Cancelamento de voos. Abusividade. Dever de informação ao consumidor.
Resumo: O transporte aéreo é serviço essencial e pressupõe continuidade. Considera-se prática abusiva tanto o
cancelamento de voos sem razões técnicas ou de segurança inequívocas como o descumprimento do dever de
informar o consumidor, por escrito e justificadamente, quando tais cancelamentos vierem a ocorrer.
Texto integral: O debate diz respeito à prática no mercado de consumo de cancelamento de voos por concessionária
de sem comprovação pela empresa de razões técnicas ou de segurança. As concessionárias de serviço público de
transporte aéreo são fornecedoras no mercado de consumo, sendo responsáveis, operacional e legalmente, pela
adequada manutenção do serviço público que lhe foi concedido, não devendo se furtar à obrigação contratual que
assumiu quando celebrou o contrato de concessão com o Poder Público nem à obrigação contratual que assume
rotineiramente com os consumidores, individuais e (ou) plurais. Difícil imaginar, atualmente, serviço mais "essencial"
do que o transporte aéreo, sobretudo em regiões remotas do Brasil. Dessa forma, a ele se aplica o art. 22, caput e
parágrafo único, do CDC e, como tal, deve ser prestado de modo contínuo. Além disso, o art. 39 do CDC elenca
práticas abusivas de forma meramente exemplificativa, visto que admite interpretação flexível. As práticas abusivas
também são apontadas e vedadas em outros dispositivos da Lei n. 8.078/1990, assim como podem ser inferidas,
conforme autoriza o art. 7º, caput, do CDC, a partir de outros diplomas, de direito público ou privado, nacionais ou
estrangeiros. Assim, o cancelamento e a interrupção de voos, sem razões de ordem técnica e de segurança
intransponíveis, é prática abusiva contra o consumidor e, portanto, deve ser prevenida e punida. Também é prática
abusiva não informar o consumidor, por escrito e justificadamente, quando tais cancelamentos vierem a ocorrer. A
malha aérea concedida pela ANAC é uma oferta que vincula a concessionária a prestar o serviço concedido nos termos
dos arts. 30 e 31 do CDC. Independentemente da maior ou da menor demanda, a oferta obriga o fornecedor a cumprir
o que ofereceu, a agir com transparência e a informar o consumidor. (Informativo n. 593)
Questão 3
JAC Autopeças do Brasil Ltda., adquiriu peças de veículos, com o fito de comercializa-las na região norte do país.
Ocorre, que ao tentar retirar os referidos insumos no aeroporto de origem, foi informada de que as referidas peças
haviam sido extraviadas. JAC, pretende demandar contra o transportador em seu domicilio segundo a regra do
art.101, I do CDC. Diante de tal fato, podemos afirmar que JAC obterá sucesso em seu intento?
Resposta: Informativo 600
PROCESSO REsp 1.442.674-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, por unanimidade, julgado em 7/3/2017, DJe
30/3/2017.
RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR TEMA Contrato de transporte internacional de carga. Insumos.
Relação de consumo. Inocorrência. Vinculação entre o contrato principal e o acessório de transporte.
Resumo: Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor - CDC ao contrato de transporte de mercadorias vinculado a
contrato de compra e venda de insumos.
Texto integral:
A controvérsia central diz respeito à aplicação do CDC a uma pretensão indenizatória decorrente de extravio de
insumos (componentes de autopeças) em transporte aéreo. Trata-se de relação jurídica acessória de transporte,
vinculada a contrato de compra e venda de insumos para a indústria de autopeças. Na origem entendeu-se que essa
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relação jurídica de transporte de carga configuraria relação de consumo, fazendo-se uma distinção com a relação
jurídica estabelecida no contrato principal. Todavia, nãoé possível reconhecer a caracterização de relação de consumo
no contrato de transporte de mercadoria celebrado no caso. O conceito básico de consumidor foi fixado no CDC, em
seu art. 2º, ao estatuir que “consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatária final”. A nota característica dessa definição está na identificação de uma pessoa (física ou jurídica)
como destinatária final de um produto ou serviço para que possa ser enquadrada como consumidora. A condição de
destinatário final de um bem ou serviço constitui a principal limitação estabelecida pelo legislador para a fixação do
conceito de consumidor e, consequentemente, para a própria incidência do CDC como lei especial. Há necessidade,
assim, de se estabelecer o alcance dessa expressão, que constitui o elemento teleológico dessa definição. Considera-se
destinatário final aquele que, no ato de consumir, retira o bem do mercado. Seguindo nessa linha de raciocínio, a
Segunda Seção acabou por firmar entendimento centrado na teoria subjetiva ou finalista (REsp 541.867-BA, DJe
16/5/2005), posição hoje consolidada no âmbito deste STJ. Porém, a jurisprudência, posteriormente, evoluiu para
admitir uma certa mitigação da teoria finalista na hipótese em que, embora não verificada a condição de destinatário
final, constata-se a vulnerabilidade do consumidor profissional ante o fornecedor. No caso, não se aplica a referida
mitigação da teoria finalista, pois a contratante do serviço de transporte sequer alegou a sua vulnerabilidade perante a
empresa contratada. Portanto, sob a ótica da teoria finalista, seria o caso de analisar se a contratante do serviço de
transporte de carga é destinatária final fática e econômica desse serviço. Contudo, uma vez que a carga transportada é
insumo, o contrato celebrado para o transporte desse insumo fica vinculado a essa destinação, não havendo
necessidade de se perquirir acerca da destinação econômica do serviço de transporte. (Informativo n. 600)
Questão 4 – Renato adquiriu ações comercializadas pela corretora BCA PACTUMAL LTDA., acreditando na promessa
efetivada pelo corretor que garantia uma valorização de seus títulos pelo percentual de 30% em apenas 6 meses.
Ocorre, que após os 6 meses Renato havia perdido todo o patrimônio e pretendeu demandar contra a corretora
valendo-se para tanto do Código de Defesa do Consumidor. Diante do caso concreto é como vem se posicionando o
STJ acerca do tema?
Informativo 600 - PROCESSO REsp 1.599.535-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 14/3/2017,
DJe 21/3/2017.
RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Corretagem de valores e títulos mobiliários. Relação de consumo.
Incidência do CDC.
Resumo: Deve ser reconhecida a relação de consumo existente entre a pessoa natural, que visa a atender
necessidades próprias, e as sociedades que prestam de forma habitual e profissional o serviço de corretagem de
valores e títulos mobiliários.
Texto integral: Cinge-se a controvérsia à incidência do CDC aos contratos de corretagem de valores e títulos
mobiliários. Na legislação que trata das relações de consumo, a definição de consumidor se encontra dispersa em
alguns dispositivos do CDC, quais sejam: art. 2º, caput e parágrafo único, art. 17 e art. 29. Cada um deles, endereçando
um determinado tipo de situação em que o consumidor possa se encontrar em relação de vulnerabilidade a um
fornecedor, mesmo que para isso haja equiparações legais. Após alguma oscilação, a jurisprudência do STJ atualmente
se encontra consolidada no sentido de que a determinação da qualidade de consumidor deve, em regra, ser feita
mediante aplicação da teoria finalista, que, numa exegese restritiva do art. 2º do CDC, considera destinatário final tão
somente o destinatário fático e econômico do bem ou serviço, seja ele pessoa física ou jurídica. (REsp 1.195.642-RJ,
DJe 21/11/2012). Com isso, fica excluído da proteção do CDC o consumo intermediário, assim entendido como aquele
cujo produto retorna para as cadeias de produção e distribuição, compondo o custo (e, portanto, o preço final) de um
novo bem ou serviço. Vale dizer, só pode ser considerado consumidor, para fins de tutela pela Lei n. 8.078/1990,
aquele que exaure a função econômica do bem ou serviço, excluindo-o de forma definitiva do mercado de consumo. A
despeito disso, a jurisprudência tem evoluído para uma aplicação temperada da teoria finalista frente às pessoas
jurídicas, num processo que a doutrina vem denominando finalismo aprofundado. Nesse sentido, esta Corte tem
mitigado os rigores da teoria finalista para autorizar a incidência do CDC nas hipóteses em que a parte, embora não
seja destinatária final do produto ou serviço, se apresenta em situação de vulnerabilidade. A atividade relacionada à
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corretagem de valores e títulos mobiliários está regida pelas Leis n. 4.728/1965, 6.385/1976, 6.404/1976, 7.913/1989,
7.940/1989, 8.178/1991, além de diversos atos normativos infralegais. No entanto, apesar da alta incidência de regras
reguladoras e uma longa lista de proibições, a natureza da atividade de corretagem de títulos e valores mobiliários não
é substancialmente alterada: ainda é uma prestação de serviço a um consumidor final. O valor da operação comercial
envolvida em um determinado contrato é incapaz de retirar do cidadão a natureza de consumidor a ele conferida pela
legislação consumerista. Assim, o CDC é aplicável tanto ao comércio popular quanto ao consumo de alto padrão. É
incabível, aliás, retirar a condição de consumidor de uma determinada pessoa em razão da presunção de seu nível de
discernimento comparado ao da média dos consumidores. Assim, mesmo que haja um discernimento acima da média
dos consumidores, não deixa de se encontrar o contratante de serviços de investimentos, em relação às empresas,
numa situação de clara vulnerabilidade referente à prestação de serviço contratada. (Informativo n. 600)
Questão 5
Considerando as regras consumeristas, os empregados demitidos sem justa causa e os aposentados que contribuíram
para plano de saúde coletivo empresarial, nas condições legais, que tenha sido extinto e um novo contratado em
novas condições, poderão manter o mesmo pagamento que lhes era conferido em período anterior à demissão?
Discorra sobre o tema indicando a posição jurisprudencial dominante.
Resposta: Informativo 599
PROCESSO REsp 1.539.815-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, por unanimidade, julgado em 7/2/2017, DJe
14/2/2017.
RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR TEMA Manutenção em plano de assistência à saúde.
Contribuição com valores diferenciados para empregados e ex-empregados demitidos sem justa causa.
Impossibilidade. Interpretação do art. 30 da Lei n. 9.656/1998 que prescinde da aplicação da Resolução ANS n.
279/2011.
Resumo: Mesmo antes da entrada em vigor da Resolução ANS n. 279/2011, é indevido cobrar reajuste de ex
empregado demitido sem justa causa que opta por permanecer vinculado ao plano de saúde em que se encontrava
antes da demissão, na condição de beneficiário, pelo prazo que lhe assegura o art. 30, § 1º, da Lei n. 9.656/1998, nas
mesmas condições de cobertura assistencial e mediante o pagamento integral das mensalidades, só lhe podendo ser
atribuído algum aumento que também tenha sido estipulado aos empregados em atividade.
Texto integral: O ponto nodal da controvérsia diz respeito à possibilidade de o ex-empregado, demitido sem justa
causa, permanecer vinculado ao plano de saúde contratado por seu ex-empregador – juntamente com seus
dependentes –, nas mesmas condições de cobertura e preço a que estava submetido antes de seu desligamento,
acrescido da parcela que era de responsabilidade da empresa estipulante, nos termosdo que dispõe o art. 30 da Lei n.
9.656/1998, ou, diversamente, se essa faculdade só poderia ser exercida após a edição da Resolução n. 279/2011, que
regulamentou o mencionado dispositivo legal. Com efeito, sendo a resolução um ato normativo subordinado à lei, não
poderia restringir, ampliar ou modificar direitos e obrigações por ela previstos. Nessa linha de raciocínio, entende-se
que a Resolução n. 279/2011, por meio de seu art. 16, não inovou na ordem jurídica, ao assinalar que a manutenção
do ex-empregado – demitido sem justa causa –, na condição de beneficiário no mesmo plano privado de assistência à
saúde em que se encontrava, observará "as mesmas condições de reajuste, preço, faixa etária e fator moderador
existentes durante a vigência do contrato de trabalho", haja vista que essa compreensão já era possível de ser
extraída, antes mesmo de sua edição, como decorrência da interpretação sistemática do texto legal que a antecedeu,
qual seja, o art. 30 da Lei n. 9.656/1998, que, diante de situação idêntica, assegurava ao ex-empregado o direito de
manter-se vinculado ao plano, nas mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava à época da vigência do
contrato de trabalho, "desde que assuma o seu pagamento integral". Assim, considerando a própria finalidade da lei e
sua submissão ao microssistema do Código de Defesa do Consumidor – (Súmula n. 469/STJ: Aplica-se o Código de
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Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde) –, é curial que o valor a ser pago após a demissão seja a
mesma quantia estabelecida por ocasião da vigência do contrato de trabalho, sujeitando-se, porém, aos critérios de
reajuste e revisão que forem aplicados para os empregados em atividade. Vale, ainda, lembrar que a jurisprudência
deste STJ firmou-se no sentido de que a Lei n. 9.656/1998 é autoaplicável, não necessita de regulamentação para a
produção dos efeitos nela previstos, na medida em que já contém todos os elementos necessários ao exercício dos
direitos que assegura. Desse modo, se o art. 30 da Lei n. 9.656/1998 assegura o direito à manutenção do plano de
saúde, em caso de demissão sem justa causa, "nas mesmas condições de cobertura assistencial" de que gozava na
vigência do contrato de trabalho, "desde que assuma o seu pagamento integral", impõe-se reconhecer que a própria
lei condicionou a continuidade da contraprestação financeira, apenas sob o aspecto subjetivo, ou seja, transferindo
integralmente a obrigação de pagamento da contribuição para o beneficiário, em substituição ao seu ex-empregador,
só lhe podendo ser atribuído algum reajuste que também tenha sido concedido aos empregados em atividade.
(Informativo n. 599)
Questão 6
Pode o SPC efetivar negativação sem que ocorra a prévia informação do consumidor? Responda à questão indicando o
entendimento do STJ acerca do tema.
Informativo 597
PROCESSO REsp 1.620.394-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, por unanimidade, julgado em 15/12/2016, DJe
6/2/2017.
RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Cadastro de devedores inadimplentes. Dever de notificação
prévia. Endereço incorreto do devedor. Distinção em face de Recurso Repetitivo. Possibilidade de responsabilização
civil do órgão mantenedor do cadastro
Resumo: É passível de gerar responsabilização civil a atuação do órgão mantenedor de cadastro de proteção ao crédito
que, a despeito da prévia comunicação do consumidor solicitando que futuras notificações fossem remetidas ao
endereço por ele indicado, envia a notificação de inscrição para endereço diverso.
Texto integral: A questão trazida nos autos se limita a verificar se o órgão mantenedor de cadastro de proteção ao
crédito pode responder por eventuais danos sofridos por consumidor no caso de enviar a notificação de inscrição
negativa do seu nome para endereço diverso daquele mencionado em notificação extrajudicial dirigida ao referido
órgão. De fato, este STJ efetivamente firmou o entendimento de que a comunicação prévia ao consumidor a ser
realizada pelos órgãos mantenedores de cadastro se conclui com o envio de correspondência ao endereço fornecido
pelo credor. A prova desse fato é feita com a demonstração de remessa ao endereço informado pelo credor, não se
exigindo a juntada do aviso de recebimento. Tal questão foi decidida em sede de recurso especial afetado ao rito dos
recursos repetitivos (REsp 1.083.291-RS, Segunda Seção, DJe 20/10/2009). Neste julgamento, por seu turno,
consignou-se inexistir qualquer imposição legal para que o mantenedor do cadastro procedesse à investigação da
veracidade das informações fornecidas por seus associados. Ante a ausência de obrigação legal, não há, em regra,
liame causal entre eventuais danos sofridos pelo consumidor pelo envio de notificação a endereço diverso e a conduta
do mantenedor do cadastro de proteção ao crédito, atribuindo-se a responsabilidade àquele que submete a
informação. Tal entendimento, contudo, não se aplica nos casos em que se observa a notificação extrajudicial enviada
pelo consumidor ao órgão mantenedor noticiando a existência de fraudes praticadas com seu nome e requerendo que
as anotações fossem excluídas, bem como que eventuais notificações fossem destinadas ao endereço por ele
informado. Ora, o fato de não se poder exigir que o órgão mantenedor do cadastro proceda à investigação de toda e
qualquer informação que lhe é submetida não se confunde com a ausência de responsabilidade pela sua atuação
negligente. Se o próprio consumidor teve a cautela de informar-lhe o endereço ao qual deveriam ser enviadas as
futuras notificações, há de se concluir que não se está exigindo que o órgão mantenedor proceda à verificação das
informações que lhe são prestadas, não se está criando qualquer obrigação desproporcional ou impossível.
(Informativo n. 597)
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Questão 7
Os provedores de pesquisa (Ex.Google) podem ser responsabilizados por eventuais danos oportunizados por sites que
tenham sido localizados por seu intermédio? Responda justificadamente.
Informativo 593
PROCESSO REsp 1.444.008-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 25/10/2016, DJe 9/11/2016.
RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR TEMA Internet. Comércio eletrônico. Provedor de pesquisa.
Intermediação não caracterizada. Vício da mercadoria ou inadimplemento contratual. Ausência de responsabilidade.
Resumo: O provedor de buscas de produtos à venda on-line que não realiza qualquer intermediação entre consumidor
e vendedor não pode ser responsabilizado por qualquer vício da mercadoria ou inadimplemento contratual.
Texto integral: O cerne da insurgência apreciada pelo STJ limitou-se a definir se, no comércio eletrônico – isto é, nas
compras realizadas na internet –, há responsabilidade solidária, nos termos do art. 7º do CDC, entre o vendedor do
produto e o provedor de serviços de buscas de mercadorias à venda on-line. Nesse contexto, cabe destacar que o
serviço prestado pela recorrente (Shopping Uol) é um mecanismo de busca orientado ao comércio eletrônico, em que
é possível encontrar os produtos e serviços vendidos em ambiente virtual, bem como realizar comparações de preços
entre eles, sem realizar qualquer intermediação entre consumidor e vendedor. Da mesma forma que os provedores de
busca na internet, apesar da evidente relação de consumo que se estabelece entre a recorrente e aqueles que utilizam
seu serviço, a responsabilidade pelas compras de produtos e mercadorias expostos nos resultados deve ser limitada à
natureza da atividade por ela desenvolvida. Essa análise do modo como o serviço é prestado na internet é de
importância fundamental para se identificar as hipóteses de responsabilidade em cada situação, pois são muitos os
modelos de negócios que existem em ambientevirtual. Nesse ponto, portanto, há de ser feita uma distinção
fundamental para este julgamento. De um lado, existem provedores de serviço na internet que, além de oferecerem a
busca de mercadorias ao consumidor, fornecem toda a estrutura virtual para que a venda seja realizada. Nesses casos,
a operação é realizada inteiramente no site desse prestador. Sendo um contrato interativo, a comunicação do
consumidor se perfaz somente com os recursos virtuais fornecidos pelo prestador de serviço e, dessa forma, também
passa a fazer parte da cadeia de fornecimento, nos termos do art. 7º do CDC, junto com o vendedor do produto ou
mercadoria. Nessas situações, é comum a cobrança de comissões sobre as operações realizadas. Há, contudo, uma
situação muito distinta quando o prestador de buscas de produtos se limita a apresentar ao consumidor o resultado
da busca, de acordo com os argumentos de pesquisa fornecidos por ele próprio, sem participar da interação virtual
que aperfeiçoará o contrato eletrônico. Nessas hipóteses, após a busca, o consumidor é direcionado ao site ou recurso
do vendedor do produto, interagindo somente com o sistema eletrônico fornecido por este, e não pelo prestador de
busca de produtos. Também se diferencia da situação anterior, pela ausência da cobrança de comissões sobre as
operações realizadas, pois nessas circunstâncias os rendimentos dos prestadores de busca se originam da venda de
espaço publicitário. O Tribunal de origem, ao afirmar que a recorrente integra a cadeia de fornecedores e, assim, é
responsável pelo inadimplemento contratual, bastando para isso o simples fato de ela realizar a aproximação entre
consumidores e fornecedores, desconsiderou as diferentes formas de buscas voltadas ao comércio eletrônico.
Responsabiliza-la por todas as vendas propiciadas pelas buscas por ela realizadas, seria como lhe impor a obrigação de
filtrar e verificar a ausência de fraude de cada uma das lojas virtuais existentes na internet – o que não encontra
guarida em nosso direito, tampouco na jurisprudência do STJ. (Informativo n. 593)
Questão 8
O condomínio possui legitimidade ativa para pleitear direitos contra a empresa de construção civil que efetuou a obra,
tendo como base o Código de Proteção e Defesa do Consumidor? Justifique.
Informativo 592
PROCESSO REsp 1.560.728-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, por unanimidade, julgado em 18/10/2016, DJe
28/10/2016.
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RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL TEMA Condomínio de adquirentes de edifício em
construção. Defesa dos interesses dos condôminos frente a construtora ou incorporadora. Aplicação do CDC.
Resumo: Aplica-se o CDC ao condomínio de adquirentes de edifício em construção, nas hipóteses em que atua na
defesa dos interesses dos seus condôminos frente a construtora ou incorporadora.
Texto integral: O recurso especial devolveu ao conhecimento do STJ questão jurídica consistente na definição da
aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor a condomínio de adquirentes de edifício em construção nas
hipóteses em que atua na defesa dos interesses dos seus condôminos frente a construtora ou incorporadora. O
enunciado normativo do parágrafo único do art. 2º do CDC amplia substancialmente o conceito básico de consumidor
previsto no caput para abranger a coletividade de consumidores, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas
relações de consumo, para efeito de incidência do microssistema de proteção do consumidor. A valer a ratio decidendi
para reconhecer a inaplicabilidade do CDC ao condomínio e o respectivo instrumento de inversão do ônus da prova,
cada um dos integrantes do condomínio seria forçado a ingressar em juízo isoladamente para obter a tutela do CDC no
lugar da tutela conjunta dos direitos individuais homogêneos dos condôminos. Se o condomínio detém legitimidade
para defender os interesses comuns dos seus condôminos, justamente por ser constituído da comunhão dos seus
interesses (artigo 12, inciso IX, do CPC/1973; atual art. 75, inciso XI, do CPC/2015), não se pode restringir a 111 tutela
legal colocada à sua disposição pelo ordenamento jurídico. Interpretação em sentido contrário vai de encontro a toda
a principiologia do CDC seja no plano material (conceito amplo de consumidor), seja no plano processual (estímulo à
tutela coletiva). (Informativo n. 592)
Questão 9
Joana, teve seu nome inserido em um cadastro de bancos de dados (SERASA), por um período de 30 dias. Ao
estabelecer contato com o banco de dados, ficou esclarecido que se tratava de um equívoco. Ocorre, que a
consumidora, além de não possuir qualquer anotação pretérita, deixou de adquirir um imóvel que se encontrava em
vias de aprovação de financiamento imobiliário perante a CEF, fato este que além de produzir abalo emocional,
importou em uma perda econômica no valor de R$50.000,00. Diante do caso concreto, indique quais os direitos que
poderão ser perseguidos por Joana.
Informativo 595
PROCESSO REsp 1.178.768-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, por unanimidade, julgado em 1/12/2016, DJe 7/12/2016.
RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Responsabilidade de sociedade mantenedora de cadastros
restritivos de crédito por anotações indevidas de dados. Poder de polícia do Banco Central sobre a atividade relativa a
cadastro de devedores.
Resumo: O Banco Central não possui atribuição para fiscalizar as atividades desenvolvidas pelo Serasa S.A., entidade
que não se qualifica como instituição financeira.
Texto integral: A discussão trazida no recurso especial tratou da existência de atribuição, por parte do Banco Central
do Brasil, para o exercício de fiscalização sobre a atividade da Serasa. Inicialmente destacou-se que a Serasa S.A. é
sociedade que mantém cadastro de consumidores cujos dados interessam a seus associados como elementos
necessários ao estudo de risco para as operações relativas a concessão de crédito. Os associados, sim, podem ser
instituições financeiras, mas a Serasa só organiza o cadastro, sem interferir direta ou indiretamente no deferimento do
financiamento. Não se trata, portanto, de instituição financeira, cujo conceito é dado pelo art. 17 da Lei n. 4.595/1964.
Não exerce coleta, intermediação nem aplicação de recursos financeiros próprios ou terceiros, nem a custódia de valor
de propriedade de terceiros, seja como atividade principal ou acessória. Nem mesmo o fato de que a Serasa tem
atividade ligada a interesses dos bancos torna aceitável a interpretação de que equivale a instituição financeira.
Afastada a natureza financeira do órgão mantenedor do cadastro de inadimplentes, descarta-se a incidência dos
incisos VI e IX do art. 10 da Lei n. 4.595/1964, que tratam da competência do Banco Central para exercer o controle
sobre o crédito e a fiscalização das instituições financeiras. A interpretação de que a Serasa seria instituição financeira
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(inciso IX), bem como a de que o controle do crédito sob todas as suas formas (inciso VI) cobre a atividade dessa
sociedade, é muito extensiva e prejudica a garantia do administrado de que os órgãos da Administração Pública só
agem nos estritos limites da legalidade. Assim, essa fiscalização, que nada mais seria do que o exercício do poder de
polícia, não pode ser exercida pelo Banco Central - nem pela Administração Pública, diga-se - sem o respectivo
respaldo legal, sob pena de ofensa ao princípio da legalidade (Constituição da República, art. 37, caput). (Informativo
n. 595)
Questão 10
É viável a denunciação da lide no Código de Proteção e Defesa do Consumidor?
Informativo 592
PROCESSO REsp 913.687-SP, Rel. Min. Raul Araújo, por unanimidade, julgado em 11/10/2016, DJe 4/11/2016.
RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR E PROCESSUALCIVIL TEMA Interpretação do art. 88 do CDC.
Denunciação à lide.
Resumo: Descabe ao denunciado à lide, nas relações consumeristas, invocar em seu benefício a regra de afastamento
da denunciação (art. 88 do CDC) para eximir-se de suas responsabilidades perante o denunciante.
Texto integral: Cingiu-se a controvérsia em analisar a exclusão de corréu denunciado à lide em relação consumerista
quando a insurgência não é arguida pelo consumidor. De fato, o Superior Tribunal de Justiça já uniformizou
entendimento de que a vedação à denunciação da lide prevista no art. 88 do CDC não se restringe à responsabilidade
de comerciante por fato do produto (art. 13 do CDC), sendo aplicável também nas demais hipóteses de
responsabilidade civil por acidentes de consumo. Foi propósito do legislador não permitir a denunciação da lide de
modo a não retardar a tutela jurídica do consumidor, dando celeridade ao seu pleito indenizatório, evitando a
multiplicação de teses e argumentos de defesa que dificultem a identificação da responsabilidade do fornecedor do
serviço. Assim, se, de um lado, a denunciação da lide (CPC/1973, art. 70) é modalidade de intervenção de terceiros que
favorece apenas o réu denunciante (fornecedor, no caso), na medida em que este objetiva a responsabilização
regressiva do denunciado, de outro lado, a norma do art. 88 do CDC consubstancia-se em regra insculpida totalmente
em benefício do consumidor, atuando em prol do ressarcimento de seus prejuízos o mais rapidamente possível, em
face da responsabilidade objetiva do fornecedor. Na hipótese, porém, de deferimento da denunciação sem
insurgência do consumidor legitimado a tal, opera-se a preclusão, sendo descabido ao corréu fornecedor invocar em
seu benefício a regra de afastamento da denunciação. Trata-se de direito subjetivo público assegurado ao consumidor
para a facilitação de sua defesa. (Informativo n. 592)
Questão 11
A Defensoria pública do Rio de Janeiro, promoveu ACP no intuito de obrigar a todos os fabricantes de vinho, que
informem de maneira clara a quantidade de sódio ou de calorias presentes no produto. Em sede defensiva, foi contra
argumentado que "não há na legislação pátria nenhuma norma que determine a indicação de calorias do vinho" e que
"a obrigatoriedade das informações exigidas somente pode ser aferida pelo Estado no exercício regular do Poder de
Polícia Sanitária". Afirmou, inclusive, que "as bebidas alcóolicas são excluídas, pela ANVISA do Regulamento RDC
360/2003 que trata de rotulagem de alimentos". Diante da controvérsia, como nossos tribunais vem decidindo?
Informativo nº 0592
Período: 19 de outubro a 8 de novembro de 2016.
TERCEIRA TURMA
9
Processo REsp 1.605.489-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, por unanimidade, julgado em
4/10/2016, DJe 18/10/2016.
Ramo do Direito DIREITO CIVIL
Tema Ação civil pública. Vinho. Rótulo. Informações essenciais. Lei n. 8.918/1994. CDC.
Inaplicabilidade.
Destaque
Inexiste a obrigação legal de se inserir nos rótulos dos vinhos informações acerca da quantidade de sódio ou de
calorias (valor energético) presente no produto.
Informações do Inteiro Teor
Tratou-se de recurso especial em que se apontou, entre outras questões, violação ao art. 2º da Lei n. 8.918/1994 e
Decreto n. 6.871/2009, que dispõem sobre a padronização, classificação, registro, inspeção, produção e a fiscalização
das bebidas produzidas e comercializadas por produtores, importadores e distribuidores de vinhos. Na oportunidade,
o recorrente ressaltou que "não há na legislação pátria nenhuma norma que determine a indicação de
calorias do vinho" e que "a obrigatoriedade das informações exigidas pela recorrida somente pode ser aferida pelo
Estado no exercício regular do Poder de Polícia Sanitária". Afirmou, inclusive, que "as bebidas alcóolicas são excluídas,
pela ANVISA do Regulamento RDC 360/2003 que trata de rotulagem de alimentos". Primeiramente, saliente-se que ao
Estado incumbe o dever de fiscalizar a comercialização ou a publicidade de bebidas alcoólicas. Indubitavelmente o
governo deve agir de modo a proteger a saúdedos consumidores e a promover a venda de produtos de qualidade no
mercado. Todavia, a regulação encontra limites na livre concorrência e nos possíveis impactos que novas exigências
refletem tanto nas empresas como na livre economia de mercado. Com efeito, não se nega a importância de se
conhecer os ingredientes nutricionais dos produtos alimentícios. Todavia, no caso do vinho, a legislação retira tal
obrigatoriedade, como se afere da legislação específica, que afasta a aplicação do Código de Defesa do
Consumidor, haja vista o princípio da especialidade (lex specialis derrogat lex generalis). Incide no caso o art. 2º da Lei
n. 8.918/1994, que prevê o registro necessário para comercialização de bebidas, bem como seu decreto
regulamentador (Decreto n. 6.871/2009), que não se aplica às bebidas alcoólicas derivadas da uva. A legislação
aplicável à espécie, portanto, não obriga o vinicultor a inserir nos rótulos das bebidas que comercializa – no caso,
vinhos – informações acerca da quantidade de sódio ou de calorias (valor energético) contida no produto. Saliente-se,
ainda, que a Resolução-RDC n. 360, de 23 de dezembro de 2003, de autoria da Diretoria Colegiada da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (ANVISA), regulamentadora da Lei n. 6.437/1977, tornou obrigatória a rotulagem nutricional de
alimentos embalados e comercializados nos países integrantes do Mercosul, visando proteger a saúde da população
em geral. Contudo, excluiu do seu âmbito de aplicação, dentre outros produtos, as bebidas alcoólicas. Destaque-se,
por oportuno, que a produção de vinho difere de outros alimentos por não possuir uma fórmula certa e ter
características próprias que dificultam a informação nutricional, pois são elaborados com ingredientes únicos,
exclusivos e variáveis, dependendo do tempo de armazenagem e de condições da natureza, tendo em vista o
processamento das substâncias usadas, a qualidade e safra da uva e a inclusão de ácidos ou açúcar para obtenção de
uma bebida mais ou menos ácida ou doce. Ademais, a análise nutricional é conduzida diferentemente por região, não
havendo falar em receita padrão da bebida, sob pena de reduzir a qualidade em determinadas hipóteses e quebrar a
exclusividade do produto. É considerado, em princípio, a single ingredient food (um produto singular) em muitas
regulações internacionais. Finalmente, vale acrescentar que a exigência de informações adicionais impostas de
maneira pontual viola frontalmente o livre exercício de determinada atividade econômica (art. 170, inciso IV, da
Constituição Federal), não cabendo ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, substituir-se à lei especial e
suas normas técnicas regulamentadoras, criando, indiretamente, obrigação restrita às partes, sob pena de
violação do princípio da separação dos poderes.
Questão 12
10
Pedro, engenheiro elétrico, mora na cidade do Rio de Janeiro e trabalha na Concessionária Iluminação S.A.. Ele é viúvo
e pai de Bruno, de sete anos de idade, que estuda no colégio particular Amarelinho. Há três meses, Pedro celebrou
contrato de financiamento para aquisição de um veículo importado, o que comprometeu bastante seu orçamento e, a
partir de então, deixou de arcar com o pagamento das mensalidades escolares de Bruno. Por razões de trabalho,
Pedro será transferido para uma cidade serrana, no interior do Estado e solicitou ao estabelecimento de ensino o
histórico escolar de seu filho, a fim de transferi-lo para outra escola. Contudo, teve seu pedido negado pelo Colégio
Amarelinho, sendo a negativa justificada pelo colégio como consequência da sua inadimplência com o pagamento das
mensalidades escolares. Para surpresa de Pedro, na mesma semanada negativa, é informado pela diretora do Colégio
Amarelinho que seu filho não mais participaria das atividades recreativas diuturnas do colégio, enquanto Pedro não
quitar o débito das mensalidades vencidas e não pagas. Com base no caso narrado, indique se existe ou não a
possibilidade de retenção do histórico, bloqueio de aulas ou efetivação de matricula, caso a escola seja a proprietária
de curso superior.
Informativo nº 0591
Período: 4 a 18 de outubro de 2016.
SEGUNDA TURMA
DIREITO DO CONSUMIDOR. HIPÓTESE EM QUE INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR NÃO PODE RECUSAR A
MATRÍCULA DE ALUNO.
Instituição de ensino superior não pode recusar a matrícula de aluno aprovado em vestibular em razão de
inadimplência em curso diverso anteriormente frequentado por ele na mesma instituição. Inicialmente, destaque-se
que a prestação de serviços educacionais se caracteriza como relação de consumo (REsp 647.743-MG, Terceira Turma,
DJe 11/12/2012), motivo pelo qual devem incidir as regras destinadas à proteção do consumidor, o qual, por ser a
parte mais vulnerável, merece especial atenção quando da interpretação das leis que, de alguma forma, incidem sobre
as relações consumeristas. Ademais, não se pode olvidar que a educação, dada sua extrema relevância para o
desenvolvimento da sociedade, é um direito consagrado constitucionalmente, como prevê o art. 205 da CF. Diante
disso, observa-se que o art. 5º da Lei n. 9.870/1999 expressamente autoriza a negativa da instituição de ensino
superior em renovar a matrícula de aluno inadimplente. No entanto, a hipótese aqui analisada não diz respeito à mera
renovação de matrícula, mas sim à constituição de nova relação jurídica, ainda que na mesma instituição de ensino.
Assim, não se mostra razoável que se proceda a uma interpretação extensiva da Lei em apreço de modo a prejudicar
o consumidor, em especial aquele que almeja a inserção no ambiente acadêmico. Não é esse o ideal
balizador do ordenamento jurídico pátrio, o qual possui como escopo assegurar as diretrizes hermenêuticas de
interpretação mais benéficas ao sujeito mais vulnerável da relação. Por fim, é importante lembrar que não se pretende
construir um entendimento no sentido de que dívida com instituição de ensino seja inexigível. Eventual cobrança de
valores em aberto pode ser realizada, porém pelos meios legais ordinários. O que não se admite é negativa de
matrícula fundamentada no fato de o aluno estar inadimplente com relação a mensalidades de outro curso da mesma
instituição, uma vez que não há respaldo legal para tanto. REsp 1.583.798-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado
em 24/5/2016, DJe 7/10/2016.
11
Questão 13
A população do Rio das Pedras, encontra-se muito preocupada com uma nova doença que surgiu na região. Ocorre,
que o laboratório, apesar de possuir o medicamento, nega-se a proceder a entrega, haja vista, que estabeleceu
unilateralmente uma lista de prioridades. Diante de situações como esta, existe a possibilidade do ajuizamento de
uma ação coletiva por uma associação constituída há menos de 1 ano? Justifique.
Informativo nº 0591
Período: 4 a 18 de outubro de 2016.
SEGUNDA TURMA
DIREITO DO CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL. DISPENSA DO REQUISITO TEMPORAL PARA A LEGITIMAÇÃO ATIVA
DE ASSOCIAÇÃO EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
É dispensável o requisito temporal (pré-constituição há mais de um ano) para associação ajuizar ação civil pública
quando o bem jurídico tutelado for a prestação de informações ao consumidor sobre a existência de glúten em
alimentos. De fato, o STJ, por ocasião do julgamento do REsp 1.479.616-GO (Terceira Turma, DJe 16/4/2015),
consignou que: "'atualmente, o único tratamento eficaz [para a doença celíaca] é uma dieta isenta de glúten durante
toda a vida', pois não existem medicamentos capazes de impedir as lesões e que o corpo ataque o intestino na
presença de glúten. Daí a importância da informação nas embalagens de alimentos comercializados de que é 'isento
de glúten' ou qual a quantidade ministrada da proteína. Isso porque, se porventura uma pessoa com doença celíaca
consumir alimentos com glúten ou traços de glúten, a ingestão poderá provocar uma inflamação crônica apta a
impedir a absorção de nutrientes. Além do art. 31 do Código de Defesa do Consumidor, que estatui uma 'obrigação
geral de informação' ao consumidor, a Lei n. 10.674/2003 prevê, em seu art. 1º, que 'Todos os alimentos
industrializados deverão conter em seu rótulo e bula, obrigatoriamente, as inscrições 'contém Glúten' ou 'não contém
Glúten', conforme o caso'. Dessa forma, por versar a ação sobre direitos individuais homogêneos, a solução do feito
não se limita aos membros da associação autora, haja vista abranger todos os consumidores submetidos às mesmas
condições descritas nos autos. Portanto, muito embora o art. 5º, inciso V, 'a' da Lei n. 7.347/1985 disponha que a
associação deverá estar constituída há pelo menos 1 (um) ano, nos termos da lei civil, o requisito formal pode ser
dispensado quando presente, como na hipótese, interesse social de um grupo indeterminável de interessados, como
prevê o parágrafo 4º do referido dispositivo legal, bem como o art. 82, § 1º, do CDC. O Superior Tribunal de Justiça [...]
já reconheceu a legitimidade de associação que complete um ano de existência no curso do processo, conforme o
princípio da economia processual [...]. Ademais, [...] o caso concreto versa acerca de interesses individuais
homogêneos, conhecidos como transindividuais, referindo-se a um grupo determinável de pessoas, no caso, os
doentes celíacos, cujos interesses excedem sobremaneira o âmbito estritamente individual, tendo em vista as
circunstâncias de fato de origem comum (incolumidade da saúde). Assim, a relação consumerista subjacente e divisível
é pertinente a todo indivíduo que adquira produtos alimentícios no mercado de consumo e que tenha suscetibilidade
à referida proteína. Com efeito, atualmente se admite que as ações coletivas, quando propostas por uma
associação, longa manus da coletividade, pressupõem uma legitimação prévia, oriunda do fim institucional relativo à
tutela de interesses difusos (meio ambiente, saúde pública, consumidor, dentre outros), cujos interesses dos seus
associados podem se sobrepor ao requisito da constituição temporal, formalidade superável em virtude da
dimensão do dano ou relevância do bem jurídico a ser protegido e cuja defesa coletiva é ínsita à própria razão de ser
da requerente. Em verdade, cumpre[-se] um mandamento constitucional, pois o art. 196 prevê que a 'saúde
12
é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco
de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação'. Sob a ótica do direito público, o risco da falta de informação a que está submetido
o consumidor celíaco, hipervulnerável por natureza, também já foi objeto de julgamento nesta Corte no REsp n.
586.316 (DJe 19/3/2009), de relatoria do Ministro Herman Benjamim, que considerou pertinente o pedido formulado
pelo PROCON quanto à necessidade de advertência dos malefícios do glúten em embalagens de produtos alimentícios,
sob pena de sanções administrativas. Por fim, consigne-se que a concessão da legitimidade às associações e entes
afins para a propositura da ação civil pública visa, em última análise, mobilizar a sociedade civil para participar de
questões de ordem pública, coadunando-se com a ideia de Estado Democrático de Direito, ao facilitar, por
meio do Poder Judiciário, a discussão de eventual interesse público, ampliando o acesso da sociedade civil à Justiça".
Com efeito, é fundamental assegurar os direitos de informação e segurançaao consumidor celíaco, que está adstrito à
dieta isenta de glúten, sob pena de graves riscos à saúde, o que, em última análise, tangencia a garantia a uma vida
digna. REsp 1.600.172-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016, DJe 11/10/2016.
Questão 14
Eduardo matriculou seu filho na escola vale verde. Ocorre, que a empresa tem por regra o oferecimento de desconto
de 30% para os pagamentos realizados pontualmente. Diante do presente problema é correto afirmar que o desconto
de pontualidade configura uma prática comercial abusiva?
Informativo nº 0591
Período: 4 a 18 de outubro de 2016.
TERCEIRA TURMA
DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. VALIDADE DO DESCONTO DE PONTUALIDADE INSERIDO EM CONTRATO DE
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS.
O denominado "desconto de pontualidade", concedido pela instituição de ensino aos alunos que efetuarem o
pagamento das mensalidades até a data do vencimento ajustada, não configura prática comercial abusiva. Em
relação à natureza jurídica, pode-se afirmar que o abono por pontualidade e a multa contratual possuem, como traço
em comum, o propósito de instar a outra parte contratante a adimplir a sua obrigação, de garantir o cumprimento da
obrigação ajustada. Porém, diversamente do desconto por pontualidade, a multa contratual, concebida como espécie
de cláusula penal (no caso, cláusula penal moratória), assume um nítido viés coercitivo e punitivo, na medida em que
as partes, segundo o princípio da autonomia privada, convencionam a imposição de uma penalidade na hipótese de
descumprimento da obrigação, cujo limite, nos contratos civis, é de 10% sobre o valor da dívida (arts. 8º e
9º do Decreto n. 22.626/1933); nas dívidas condominiais, de 2% (art. 1.336, § 1º, do CC); e nos contratos de consumo,
de 2%. Por sua vez, o desconto de pontualidade, ainda que destinado a instar a outra parte contratante a adimplir a
sua obrigação, como reverso da moeda, constitui um idôneo instrumento posto à disposição das partes, também com
esteio na autonomia privada, destinado a encorajar, incentivar o contratante a realizar um comportamento positivo,
almejado pelas partes e pela sociedade, premiando-o. Sob esse enfoque, e a partir de lições doutrinárias
acerca do tema, pode-se afirmar, com segurança, que as normas que disciplinam o contrato (seja o CC, seja o CDC)
comportam, além das sanções legais decorrentes do descumprimento das obrigações ajustadas contratualmente (de
caráter coercitivo e punitivo), também as denominadas sanções positivas, que, ao contrário, tem por propósito definir
consequências vantajosas em decorrência do correto cumprimento das obrigações contratuais. Ademais, na hipótese
13
em que os serviços educacionais são devidamente contratados mediante o pagamento de um preço de anualidade
certo, definido e aceito pelas partes (diluído em prestações nominais e taxa de matrícula) e os contratantes, com
esteio na autonomia privada, ajustam entre si que, caso haja pagamento tempestivo, o adquirente do serviço faz jus a
um desconto no valor contratado, o que, a um só tempo, facilita e estimula o cumprimento voluntário da obrigação
ajustada, conferindo ao consumidor uma vantagem, no caso, de índole patrimonial, a tese de que o abono de
pontualidade guarda, em si, uma espécie de aplicação dissimulada de multa, a extrapolar o patamar legal previsto no §
1º do art. 52 do CDC (de 2%), afigurar-se-á absolutamente insubsistente, pois partirá de premissa equivocada. Em
verdade, compreensão contrária à ora registrada também propõe que o Estado, no bojo de uma relação privada e em
substituição à parte contratante, estipule o "preço ideal" pelos serviços por ela prestados, como se possível fosse
mensurar todas as variáveis mercadológicas que o empresário/fornecedor leva em conta para definir o preço de seus
serviços, em indevida intervenção no domínio econômico. Efetivamente, a proibição da estipulação de sanções
premiais faria com que o redimensionamento dos custos do serviço pelo fornecedor (a quem cabe, exclusivamente,
definir o valor de seus serviços) fossem repassados ao consumidor, indistintamente, tenha ele o mérito de ser
adimplente ou não. Assim, além de o desconto de pontualidade significar indiscutível benefício
ao consumidor adimplente - que pagará por um valor efetivamente menor que o preço da anualidade ajustado -,
conferindo-lhe, como já destacado, isonomia material, tal estipulação corrobora com transparência sobre a que título
os valores contratados são pagos, indiscutivelmente. Como se vê, a multa, que tem por propósito punir o
inadimplemento, não exclui a possibilidade de se estipular a denominada "sanção premial" pelo adimplemento,
tratando-se, pois, de hipóteses de incidência diferentes, o que, por si só, afasta a alegação de penalidade bis in
idem. REsp 1.424.814-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 4/10/2016, DJe 10/10/2016.
Questão 15
É válida a cobrança de taxa de corretagem na aquisição de imóveis adquiridos na planta?
Informativo nº 0590
Período: 16 de setembro a 3 de outubro de 2016.
RECURSOS REPETITIVOS - DECISÕES DE AFETAÇÃO
DIREITO CIVIL. TEMA 960.
Recurso Especial afetado à Segunda Seção com representativo da seguinte controvérsia: "validade da transferência
ao consumidor da obrigação de pagar a comissão de corretagem nas promessas de compra e venda celebradas no
âmbito do programa 'Minha Casa, Minha Vida'." REsp 1.601.149-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe
20/9/2016.
Questão 16
Qual o prazo prescricional para pretensão de restituição do Serviço de Assessoria Técnico Imobiliária (SATI)?
Informativo nº 0589
Período: 1º a 15 de setembro de 2016.
RECURSOS REPETITIVOS
DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. PRAZO PRESCRICIONAL DA PRETENSÃO DE RESTITUIÇÃO DE SATI. RECURSO
REPETITIVO. TEMA 938.
14
Incide a prescrição trienal sobre a pretensão de restituição dos valores pagos a título de comissão de corretagem ou
de serviço de assistência técnico-imobiliária (SATI), ou atividade congênere (art. 206, § 3º, IV, CC). A Segunda Seção
debateu profundamente questão semelhante no julgamento do REsp 1.360.969-RS (DJe 19/9/2016), discutindo o
prazo prescricional incidente sobre a pretensão de repetição do indébito formulada por consumidor contra empresas
de planos de saúde, alegando-se a abusividade de cláusulas contratuais relativas ao reajuste de mensalidades. Após
longo e profícuo debate sobre a referida questão, prevaleceu o entendimento de ser hipótese de prescrição trienal (3
anos), aplicando-se a regra especial do art. 206, § 3º, IV, do CC, relativa a pretensão de
ressarcimento do enriquecimento sem causa. Ademais, a jurisprudência do STJ, em precedente da Terceira Turma
(REsp 1.238.737-SC, DJe 17/11/2011), acerca de pedido de repetição do indébito formulado por consumidor alegando
a cobrança indevida de valores por fornecedor, posicionou-se nessa mesma linha. O caso ora analisado é semelhante
aos precedentes aludidos, pois a pretensão central da parte demandante é o ressarcimento das parcelas relativas à
comissão de corretagem e ao serviço de assessoria técnico-imobiliária (SATI), que teriam sido pagas indevidamente
por serem abusivas as cláusulas que atribuíram esse encargo aos consumidores. Ou seja, a alegação é a ocorrência de
enriquecimento sem causa como premissa fundamental da pretensão central de repetição do indébito.
Especificamente em relação ao prazo trienal, a orientação da Turma de Uniformização do TJDFT firmou-se no seguinte
sentido (AC 879.851, DJe 14/7/2015): "Uniformiza-se o entendimento de que o prazo prescricional, nas ações que
tenham por fundamento o enriquecimento sem causa, com pedido de devolução de taxa de corretagem é de 3 (três)
anos." Enfim, mostra-se bastanterazoável a alegação de incidência da prescrição trienal aos pedidos de
repetição do indébito referentes aos valores pagos a título de comissão de corretagem ou de serviço de assistência
técnico-imobiliária (SATI), com fundamento no art. 206, § 3º, IV, do CC. REsp 1.551.956-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 24/8/2016, DJe 6/9/2016.
Questão 17
Renato é afiliado de um plano de saúde de autogestão. Ocorre, que o referido plano não quer pagar pelo
tratamento de seu filho que se encontra registrado como seu dependente. Sendo assim, pretende promover
demanda pautada no Código de Defesa do Consumidor. Diante de tal posição é possível afirmar que Renato obterá
tal direito?
Informativo nº 0588
Período: 17 a 31 de agosto de 2016.
SEGUNDA SEÇÃO
DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. DESCLASSIFICAÇÃO DE OPERADORA DE PLANO DE SAÚDE DE AUTOGESTÃO
COMO FORNECEDORA.
Não se aplica o CDC às relações existentes entre operadoras de planos de saúde constituídas sob a modalidade de
autogestão e seus filiados, na hipótese em que firmado contrato de cobertura médico-hospitalar. A
jurisprudência do STJ, até o presente momento, vem externando o entendimento de que as normas do CDC regulam
as relações existentes entre filiados e operadoras de planos de saúde, ainda que estas se constituam na forma de
autogestão, sem fins lucrativos, uma vez que a relação de consumo se caracterizaria pelo objeto contratado, ou seja, a
cobertura médico-hospitalar (REsp 519.310-SP, Terceira Turma, DJ 24/5/2004). Acontece que, após recente
julgamento realizado pela Segunda Seção (REsp 1.536.786-MG, DJe 20/10/2015), em que foi analisada questão de
15
certo modo assemelhada, consistente na incidência das mesmas regras do CDC às relações envolvendo entidades de
previdência privada fechadas, os aspectos lá considerados para o afastamento da legislação consumerista mostram-se
de aplicação pertinente ao caso de entidades que administrem plano de saúde de autogestão, tendo em vista a
coincidência de características entre as entidades, reclamando a necessidade de renovação da discussão da matéria,
sempre no intuito do aperfeiçoamento da jurisprudência. Com efeito, os planos de autogestão são assim denominados
dada a opção feita pela empresa empregadora em assumir a responsabilidade pela gestão e pelo fornecimento de
serviços de assistência médico-hospitalar, seja por meio de rede própria seja por meio de convênios ou quaisquer
tipos de associação com as empresas que fornecerão, de fato, o serviço. À luz da Lei n. 9.656/1998, é possível afirmar
que, apesar de serem reguladas pela mesma norma das operadoras comerciais, há, em relação a pessoas jurídicas que
mantêm sistemas de assistência à saúde pela modalidade de autogestão, diferenças de tratamento, e uma das mais
significativas diz respeito à inexigibilidade para as últimas entidades de oferecimento de plano-referência,
indispensável para a constituição das pessoas jurídicas que não operam nesta modalidade. De certo, o objetivo
perseguido pela lei por ocasião da criação do plano-referência foi tornar óbvias as obrigações das operadoras e, na
mesma linha, as cláusulas de exclusão de cobertura, para que o contrato firmado não se mostrasse iníquo para
o consumidor, principalmente no momento em que necessitasse da assistência do plano. A exclusão das operadoras
de autogestão da obrigatoriedade do oferecimento do plano-referência justifica-se na própria razão de ser do modelo.
É que, pensado para garantir o mínimo ao usuário, o plano-referência também representa forma de incremento na
competição entre as operadoras, uma vez que, por serem praticamente idênticos os serviços disponibilizados,
diferente apenas o preço, a escolha do consumidor é facilitada, sendo realizada por meio de simples comparação. Na
linha desse raciocínio, como as entidades de autogestão não podem oferecer seus planos no mercado de consumo sob
pena de total descaraterização da modalidade, não faz sentido, para essas pessoas jurídicas, a exigência desse mínimo.
A doutrina que comenta o CDC vê, nessa particularidade, razão bastante para que o diploma consumerista não seja
aplicado às relações constituídas com as operadoras de autogestão. Noutro ponto, ainda para afastar a
incidência do CDC das relações com as autogestoras, doutrina assinala que, mesmo havendo retribuição dosserviços
prestados por meio de remuneração, isso não parece suficiente para mudar o entendimento até aqui afirmado. Assim,
há diferenças sensíveis e marcantes entre as diversas modalidades de operadoras de plano de saúde. Embora todas
celebrem contratos cujo objeto é a assistência privada à saúde, apenas as comerciais operam em regime de mercado,
podendo auferir lucro das contribuições vertidas pelos participantes (proveito econômico), não havendo nenhuma
imposição legal de participação na gestão dos planos de benefícios ou da própria entidade. Anote-se, ademais, que,
assim como ocorre nos casos de entidades de previdência privada fechada, os valores alocados ao fundo comum
obtidos nas entidades de autogestão pertencem aos participantes e beneficiários do plano, existindo explícito
mecanismo de solidariedade, de modo que todo excedente do fundo de pensão é aproveitado em favor de seus
próprios integrantes. Portanto, as regras do Código Consumerista, mesmo em situações que não sejam
regulamentadas pela legislação especial, não se aplicam às relações envolvendo entidades de planos de saúde
constituídas sob a modalidade de autogestão. Assim, o "tratamento legal a ser dado na relação jurídica entre os
associados e os planos de saúde de autogestão, os chamados planos fechados, não pode ser o mesmo dos planos
comuns, sob pena de se criar prejuízos e desequilíbrios que, se não inviabilizarem a instituição, acabarão elevando o
ônus dos demais associados, desrespeitando normas e regulamentos que eles próprios criaram para que o plano se
viabilize. Aqueles que seguem e respeitam as normas do plano arcarão com o prejuízo, pois a fonte de receita é a
contribuição dos associados acrescida da patronal ou da instituidora" (REsp 1.121.067-PR, Terceira Turma, DJe
3/2/2012). REsp 1.285.483-PB, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/6/2016, DJe 16/8/2016.
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Questão 18
Jorge foi demitido sem justa causa pela empresa JOMIL S.A., ocorre, que pretende manter seu plano de saúde com
todos os benefícios acrescido do desconto de 50% custeado pelo empregador. Diante do caso concreto, indique como
as cortes superiores vem se manifestando acerca do litígio.
Informativo nº 0588
Período: 17 a 31 de agosto de 2016.
TERCEIRA TURMA
DIREITO CIVIL. HIPÓTESE EM QUE NÃO É ASSEGURADO AO EX-EMPREGADO O DIREITO DE MANTER SUA CONDIÇÃO
DE BENEFICIÁRIO EM PLANO DE SAÚDE COLETIVO EMPRESARIAL.
O empregado que for aposentado ou demitido sem justa causa não terá direito de ser mantido em plano de saúde
coletivo empresarial custeado exclusivamente pelo empregador - sendo irrelevante se houver coparticipação no
pagamento de procedimentos de assistência médica, hospitalar e odontológica -, salvo disposição contrária
expressa em contrato ou em convenção coletiva de trabalho. De fato, é assegurado ao trabalhador demitido sem
justa causa ou ao aposentado que contribuiu para o plano de saúde em decorrência do vínculo empregatício
o direito de manutenção como beneficiário nas mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava por
ocasião da vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o seu pagamento integral (arts. 30 e 31 da Lei n.
9.656/1998). Assim, uma das condições exigidas para a aquisição desse direito é o empregado contribuir, na atividade,
para o custeio do plano de saúde. Contribuir significa, nos termos da lei, pagaruma mensalidade, independentemente
de se estar usufruindo dos serviços de assistência médica. Nesse contexto, contribuição não se confunde com
coparticipação. Por um lado, a coparticipação é um fator de moderação, previsto em alguns contratos, que consiste no
valor cobrado do consumidor apenas quando utilizar o plano de saúde, possuindo, por isso mesmo, valor variável, a
depender do evento sucedido. Sua função, portanto, é a de desestimular o uso desenfreado de serviços de saúde
suplementar. Por outro lado, conforme o conceito constante do art. 2°, I, da RN n. 279/2011 da ANS, que
regulamentou os arts. 30 e 31 da Lei n. 9.656/1997, considera-se "contribuição: qualquer valor pago pelo empregado,
inclusive com desconto em folha de pagamento, para custear parte ou a integralidade da contraprestação pecuniária
de seu plano privado de assistência à saúde oferecido pelo empregador em decorrência de vínculo empregatício, à
exceção dos valores relacionados aos dependentes e agregados e à co-participação ou franquia paga única e
exclusivamente em procedimentos, como fator de moderação, na utilização dos serviços de assistência médica ou
odontológica". Logo, quanto aos planos de saúde coletivos custeados exclusivamente pelo empregador, não
há direito de permanência do ex-empregado aposentado ou demitido sem justa causa como beneficiário, salvo
disposição contrária expressa prevista em contrato ou em convenção coletiva de trabalho, sendo irrelevante a
existência de coparticipação, pois, como visto, esta não se confunde com contribuição. Quanto à
caracterização do plano concedido pelo empregador de assistência médica, hospitalar e odontológica como salário
indireto, o art. 458, § 2º, IV, da CLT é expresso em dispor que esse benefício não possui índole salarial, seja em relação
aos serviços prestados diretamente pela empresa seja em relação aos prestados por determinada operadora. Com
efeito, o plano de saúde fornecido pela empresa empregadora, mesmo a título gratuito, não possui natureza
retributiva, não constituindo salário-utilidade (salário in natura), sobretudo por não ser contraprestação ao trabalho.
Ao contrário, referida vantagem apenas possui natureza preventiva e assistencial, sendo uma alternativa às graves
deficiências do Sistema Único de Saúde (SUS), obrigação do Estado. Nesse sentido, há julgados do TST (RR 451318-
95.1998.5.01.5555, Quarta Turma, DJ de 30/5/2003; e RR 9962700-09.2003.5.04.0900, Quinta Turma, DEJT
18/9/2009). REsp 1.594.346-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/8/2016, DJe 16/8/2016.
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Questão 19
Qual o termo inicial do prazo de permanência de registro de nome de consumidor em cadastro de proteção ao
crédito?
Informativo nº 0588
Período: 17 a 31 de agosto de 2016.
TERCEIRA TURMA
DIREITO DO CONSUMIDOR. TERMO INICIAL DO PRAZO DE PERMANÊNCIA DE REGISTRO DE NOME
DE CONSUMIDOR EM CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO.
O termo inicial do prazo de permanência de registro de nome de consumidor em cadastro de proteção ao crédito
(art. 43, § 1º, do CDC) inicia-se no dia subsequente ao vencimento da obrigação não paga, independentemente da
data da inscrição no cadastro. Quanto ao início da contagem do prazo de 5 anos a que se refere o § 1º do art.
43 do CDC, vale ressaltar que - não obstante mencionada, em alguns julgados do STJ, a indicação de que esse prazo
passaria a contar da "data da inclusão" do nome do devedor (conforme constou, por exemplo, da decisão monocrática
proferida no REsp 656.110-RS, DJ 19/8/2004) ou "após o quinto ano do registro" (expressão que aparece no REsp
472.203-RS, Segunda Seção, DJ 23/6/2004) - o termo inicial do prazo previsto no § 1º do art. 43 nunca foi o cerne da
discussão desses precedentes, merecendo, portanto, melhor reflexão. É verdade que não constou do § 1º do art.
43 do CDC regra expressa sobre o início da fluência do prazo relativo ao "período superior a cinco anos". Entretanto,
mesmo em uma exegese puramente literal da norma, é possível inferir que o legislador quis se referir, ao utilizar a
expressão "informações negativas referentes a período superior a cinco anos", a "informações relacionadas, relativas,
referentes a fatos pertencentes a período superior a cinco anos", conforme ressalta entendimento doutrinário. E,
sendo assim, em linha doutrinária, conclui-se que "o termo inicial de contagem do prazo deve ser o da data do ato ou
fato que está em registro e não a data do registro, eis que, se assim fosse, aí sim a lei estaria autorizando que as
anotações fossem perpétuas", pois "bastaria que elas passassem de um banco de dados para outro ou para um banco
de dados novo". Ademais, o CDC, lei de ordem pública, por expressa disposição em seu art. 1º, deve ser interpretado
sempre de maneira mais favorável ao consumidor. Nesse sentido, parece que a interpretação que mais se coaduna
com o espírito do Código e, sobretudo, com os fundamentos para a tutela temporal do devedor, aí incluído
o direito ao esquecimento, é a que considera como termo a quo do quinquênio a data do fato gerador da informação
arquivada. De fato, a partir de interpretação literal, lógica, sistemática e teleológica do enunciado normativo do §
1º do art. 43 do CDC, conclui-se que o termo a quo do quinquênio deve levar em consideração a data dofato gerador
da informação depreciadora. Nessa perspectiva, defende-se, doutrinariamente, que "o termo inicial da
contagem do prazo deve coincidir com o momento em que é possível efetuar a inscrição da informação nos bancos de
dados de proteção ao crédito: o dia seguinte à data do vencimento da dívida" - data em que se torna possível a
efetivação doapontamento negativo -, salientando-se, ainda, que "o critério é objetivo, pois não pode ficar submetido
à vontade do banco de dados ou do fornecedor, sob pena de esvaziar, por completo, o propósito legal de impedir
consequências negativas, como a denegação do crédito, em decorrência de dívidas consideradas - legalmente - antigas
e irrelevantes". REsp 1.316.117-SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Rel. para acórdão Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 26/4/2016, DJe 19/8/2016.
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Questão 20
Marcio vem há 10 anos combatendo uma doença cardíaca em conjunto com seu médico. Sendo assim, visando dar
prosseguimento ao tratamento, encaminhou para o plano de saúde todas as solicitações efetivadas pelo Dr. Flavio.
Ocorre, que o plano de saúde vem se negando a dar prosseguimento ao referido tratamento, haja vista, que o médico
subscritor não faz parte do rol de médicos cadastrados pelo plano de saúde. Sendo assim, Marcio pretende recorrer ao
judiciário, a fim de obter o direito. Diante do caso concreto, é possível afirmar que Marcio terá razoáveis chances de
acordo com o entendimento do STJ?
Informativo nº 0588
Período: 17 a 31 de agosto de 2016.
QUARTA TURMA
DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. ABUSIVIDADE DE CLÁUSULA QUE AUTORIZA PLANO DE SAÚDE A INDEFERIR
PROCEDIMENTOS MÉDICO-HOSPITALARES.
Em contrato de plano de assistência à saúde, é abusiva a cláusula que preveja o indeferimento de quaisquer
procedimentos médico-hospitalares quando solicitados por médicos não cooperados. O contrato de plano de saúde,
além da nítida relação jurídica patrimonial que, por meio dele, se estabelece, reverbera também caráter existencial,
intrinsecamente ligado à tutela do direito fundamental à saúde do usuário, o que coloca tal espécie contratual em
uma perspectiva de grande relevância no sistema jurídico pátrio. No âmbito da legislação, a Lei n. 9.656/1998 - a qual
versa sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde - preconiza, logo no art. 1º, I, o seu escopo. É com
clareza meridiana que se infere da legislação de regência a preponderância do zelo ao bem-estardo usuário em
face do viés econômico da relação contratual. Até porque não se pode olvidar que há, nesse contexto, uma atenta e
imperativa análise dos ditames constitucionais, que, por força hierárquica, estabelecem o direto à saúde como
congênito. Assim está previsto na CF, especificamente em seu art. 196. Consoante doutrina a respeito do tema,
conquanto a Carta da República se refira, por excelência, ao Poder Público, sabe-se que a eficácia do
direito fundamental à saúde ultrapassa o âmbito das relações travadas entre Estado e cidadãos - eficácia vertical -,
para abarcar as relações jurídicas firmadas entre os cidadãos, limitando a autonomia das partes, com o intuito de se
obter a máxima concretização do aspecto existencial, sem, contudo, eliminar os interesses materiais. Suscita-se, pois,
a eficácia horizontal do direito fundamental à saúde, visualizando a incidência direta e imediata desse direito nos
contratos de plano de saúde. Todavia, o que se nota, muitas vezes, no âmbito privado, é a colisão dos interesses das
partes, ficando, de um lado, as operadoras do plano de saúde - de caráter eminentemente patrimonial - e, de outro, os
usuários - com olhar voltado para sua subsistência. Assim, para dirimir os conflitos existentes no decorrer da execução
contratual, há que se buscar, nesses casos, o diálogo das fontes, que permite a aplicação simultânea e complementar
de normas distintas. Por isso, é salutar, nos contratos de plano de saúde, condensar a legislação especial (Lei n.
9.656/1998), especialmente com o CDC, pois, segundo o entendimento doutrinário, esse contrato configura-se como
um "contrato cativo e de longa duração, a envolver por muitos anos um fornecedor e um consumidor,com uma
finalidade em comum, que é assegurar para o usuário o tratamento e ajudá-lo a suportar os riscos futuros envolvendo
a sua saúde". Assim, diante da concepção social do contrato, aquele que declara algo referente ao negócio que está
prestes a concluir deve responder pela confiança que a outra parte nele depositou ao contratar. Isso porque o direito
dos contratos assume a função de realizar a equitativa distribuição de direitos e deveres entre os contratantes,
buscando atingir a justiça contratual, a qual se perfectibiliza, pois, na exata equivalência das prestações ou sacrifícios
19
suportados pelas partes, bem como na proteção da confiança e da boa-fé de ambos os contratantes. Embora seja
conduta embasada em cláusulas contratuais, nota-se que as práticas realizadas pela operadora do plano de saúde,
sobretudo negar as solicitações feitas por médicos não cooperados, mostram-se contrárias ao permitido pela
legislação consumerista. Naquela situação em que o usuário busca o médico de sua confiança, mas realiza os exames
por ele solicitados em instalações da rede credenciada, não há prejuízo nenhum para a cooperativa, haja vista que o
valor da consulta foi arcado exclusivamente pelo usuário, sem pedido de reembolso. Indeferir a solicitação de
qualquer procedimento hospitalar requerido por médico não cooperado estaria afetando não mais o
princípio do equilíbrio contratual, mas o da boa-fé objetiva. De fato, exames, internações e demais procedimentos
hospitalares não podem ser obstados aos usuários cooperados exclusivamente pelo fato de terem sido solicitados por
médico diverso daqueles que compõem o quadro da operadora, pois isso configura não apenas
discriminação do galeno, mas também tolhe tanto o direito de usufruir do plano contratado como a liberdade de
escolher o profissional que lhe aprouver. Com isso, não resta dúvida da desproporcionalidade da cláusula contratual
que prevê o indeferimento de quaisquer procedimentos médico-hospitalares se estes forem solicitados por médicos
não cooperados, devendo ser reconhecida como cláusula abusiva. A nulidade dessas cláusulas encontra previsão
expressa no art. 51, IV, doCDC. Por fim, convém analisar conjuntamente o art. 2º, VI, da Res. n. 8/1998 do Conselho
de Saúde Suplementar ("Art. 2° Para adoção de práticas referentes à regulação de demanda da utilização dos serviços
de saúde, estão vedados: [...] VI - negar autorização para realização do procedimento exclusivamente em
razão do profissional solicitante não pertencer à rede própria ou credenciada da operadora") com o art. 1º, II, da Lei n.
9.656/1998 ("Art. 1º Submetem-se às disposições desta Lei as pessoas jurídicas de direito privado que operam planos
de assistência à saúde, sem prejuízo do cumprimento da legislação específica que rege a sua atividade, adotando-se,
para fins de aplicação das normas aqui estabelecidas, as seguintes definições: [...] II - Operadora de Plano de
Assistência à Saúde: pessoa jurídica constituída sob a modalidade de sociedade civil ou comercial, cooperativa, ou
entidade de autogestão, que opere produto, serviço ou contrato de que trata o inciso I deste artigo"). Com efeito, é
explícita a previsão legislativa que considera defeso a negativa de autorização para a realização de procedimentos
exclusivamente em razão de o médico solicitante não pertencer à rede da operadora. Apesar de ter sido suprimido o
trecho do referido art. 2º, que mencionava a palavra "cooperada" ao se referir à rede de atendimentos, ainda assim
permanece o óbice dessa prática, haja vista que o legislador ordinário se utilizou de expressão mais ampla, mantendo
a inclusão, nos termos do art. 1º, II, da Lei n. 9.656/1998, da cooperativa. REsp 1.330.919-MT, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 2/8/2016, DJe 18/8/2016.
Questão 21
É abusiva a cláusula contratual que preveja a coparticipação entre o plano privado de assistência à saúde e seus
usuários nas despesas médico-hospitalares?
Informativo nº 0586
Período: 1º a 31 de julho de 2016.
TERCEIRA TURMA
DIREITO CIVIL. COPARTICIPAÇÃO DO USUÁRIO DE PLANO DE SAÚDE EM PERCENTUAL SOBRE O CUSTO DE
TRATAMENTO MÉDICO SEM INTERNAÇÃO.
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Não é abusiva cláusula contratual de plano privado de assistência à saúde que estabeleça a coparticipação do
usuário nas despesas médico-hospitalares em percentual sobre o custo de tratamento médico realizado sem
internação, desde que a coparticipação não caracterize financiamento integral do procedimento por
parte dousuário, ou fator restritor severo ao acesso aos serviços. De fato, o art. 16, VIII, da Lei n. 9.656/1998 permitiu
a inclusão de fatores moderadores, paralelos às mensalidades, no custeio dos planos de saúde, como a coparticipação,
a franquia e os limites financeiros, que devem estar devidamente previstos no contrato, de forma clara e legível, desde
que também não acarretem o desvirtuamento da livre escolha do consumidor. Nos termos do art. 3º, I e II, da
Resolução n. 8/1998 do Conselho de Saúde Suplementar (CONSU), franquia é o valor estabelecido no contrato de
plano de saúde até o qual a operadora não tem responsabilidade de cobertura, e a coparticipação é a parte
efetivamente paga pelo consumidor à operadora referente à realização de determinado procedimento, que se soma à
mensalidade. Cumpre destacar que esses fatores moderadores de custeio, além de proporcionar mensalidades mais
módicas, são medidas inibitórias de condutas descuidadas e pródigas do usuário, visto que o uso indiscriminado de
procedimentos, consultas e exames afetará negativamente o seu patrimônio. A prudência, portanto, figura como
importante instrumento de regulação do seu comportamento. Desse modo, pela própria natureza do instituto, a
adoção da coparticipação no plano de saúde implica diminuição do risco assumido pela operadora, o que provoca
redução do valor da mensalidade a ser paga pelo usuário, que, por sua vez, caso utilize determinada cobertura, arcará
com valor adicional apenas quanto a tal evento. Logo, não há falar em ilegalidade nacontratação de plano de saúde
em regime de coparticipação, seja em percentual sobre o custo dotratamento seja em montante fixo, até mesmo
porque "percentual de co-participação do consumidor ou beneficiário" (art. 16, VIII, da Lei n. 9.656/1998) é expressão
da lei. O que é vedado, todavia, é a instituição de fator que limite seriamente o acesso aos serviços de assistência à
saúde, a exemplo de financiamentos quase integrais do procedimento pelo próprio usuário, a evidenciar
comportamento abusivo da operadora. Em outras palavras, não é possível atribuir ao usuário de plano de saúde, sob o
disfarce da coparticipação, o custeio da maior parte das despesas médicas, impedindo-o de usufruir dosserviços de
assistência à saúde contratados. Ademais, especificamente sobre a coparticipação em percentual sobre o
custo do tratamento, cabe ressaltar que sua previsão é proibida apenas nos casos de internação, e somente para os
eventos que não tenham relação com a saúde mental, devendo, no lugar, ser os valores prefixados. É o que
determinam os arts. 2º, VII e VIII, e 4º, VII, da Resolução n. 8/1998 do CONSU: "Art. 2° Para adoção de práticas
referentes à regulação de demanda da utilização dos serviços de saúde, estão vedados: [...] VII - estabelecer co-
participação ou franquia que caracterize financiamento integral do procedimento por parte do usuário, ou fator
restritor severo ao acesso aos serviços; VIII - estabelecer em casos de internação, fator moderador em forma de
percentual por evento, com exceção das definições específicas em saúde mental. [...] Art. 4º As operadoras de planos
ou seguros privados de assistência à saúde, quando da utilização de mecanismos de regulação, deverão atender às
seguintes exigências: [...] VII - estabelecer, quando optar por fator moderador em casos de internação, valores
prefixados que não poderão sofrer indexação por procedimentos e/ou patologias." Por fim, o afastamento de cláusula
de coparticipação equivaleria a admitir-se a mudança do plano de saúde para que o usuário arcasse com valores
reduzidos de mensalidade sem a necessária contrapartida, o que causaria grave desequilíbrio contratual. REsp
1.566.062-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/6/2016, DJe 1/7/2016.
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Questão 22
É possível a inclusão de assistência ao neonato, quando a mãe possuir em seu plano de saúde o de tratamento
obstétrico durante os 30 primeiros dias?
Informativo nº 0584
Período: 27 de maio a 10 de junho de 2016.
QUARTA TURMA
DIREITO DO CONSUMIDOR. DEVER DE ASSISTÊNCIA AO NEONATO DURANTE OS TRINTA PRIMEIROS DIAS APÓS O
SEU NASCIMENTO.
Quando o contrato de plano de saúde incluir atendimento obstétrico, a operadora tem o dever de prestar
assistência ao recém-nascido durante os primeiros trinta dias após o parto (art. 12, III, "a", da Lei n. 9.656/1998),
independentemente de a operadora ter autorizado a efetivação da cobertura, ter ou não custeado o parto,
tampouco de inscrição do neonato como dependente nos trinta dias seguintes ao nascimento. Inicialmente, o art. 12
da Lei n. 9.656/1998 prevê as modalidades de planos de saúde, na nomenclatura da lei, os segmentos, e, nessa
extensão, os serviços mínimos compreendidos em cada uma das quatro modalidades estabelecidas. Na
trilha domecanismo desenvolvido pela citada lei, as operadoras de planos e seguros necessariamente oferecerão um
serviço mínimo base, conforme descrito no art. 10 do citado diploma legal, e, a partir desse padrão (plano-referência),
novos serviços poderão ser somados, agora tendo como referência as especificações das modalidades ou
segmentações. Conclui-se, portanto, que é facultativa a inclusão de atendimento obstétrico na contratação do plano-
referência (art. 12, III, a, da Lei n. 9.656/1998), quando, então, deverá ser respeitada, dentre outras, a seguinte
exigência mínima: "a) cobertura assistencial ao recém-nascido, filho natural ou adotivo do consumidor, ou de seu
dependente, durante os primeiros trinta dias após o parto;" Ainda, somada a essa cobertura, a lei assegura a
possibilidade de inscrição do recém-nascido no plano ou seguro, como dependente, dispensado, inclusive o
cumprimento dos períodos de carência e, aqui sim, desde que a inscrição ocorra no prazo máximo de trinta
dias do nascimento (art. 12, III, b). Como visto, a disposição da alínea a do inciso III do art.12 é absolutamente clara ao
afirmar que a modalidade de plano que incluir atendimento obstétrico deve garantir, no mínimo, cobertura
assistencial ao recém-nascido durante os primeiros trinta dias após o parto, sem vincular essa prestação à prévia
inscrição do recém-nascido no plano. Na verdade, a inscrição dentro dos trinta dias após o parto é condição, apenas,
para que o filho se torne dependente do titular, pai ou mãe, sem a exigência das carências típicas, regulamentação,
inclusive, a cargo da alínea b do mesmo inciso. Com efeito, o sentido da norma sob análise pode ser alcançado a partir
de sua própria literalidade. Ademais, é importante não perder de vista que as previsões da Lei n. 9.656/1998 devem
ser interpretadas a partir dos princípios gerais e contratuais do CDC. Desse modo, o evento que garante e impõe a
assistência ao recém-nascido - nos termos da lei - é a opção do filiado consumidor pela contratação de plano com
atendimento obstétrico, e não o fato de o parto do recém-nascido ter sido custeado pela operadora do plano.
Inclusive, conforme entendimento doutrinário, há a necessidade de se compreender a cobertura ao recém-nascido em
maior extensão e, nessa linha, defende que a lei merece reparos, apontando-os: "(...) pode ocorrer que o recém-
nascido permaneça em tratamento por mais de trinta dias após o parto. Nos termos em que foi redigida, a norma
permite que as operadoras transfiram a responsabilidade pelo custo do tratamento do recém-nascido para os pais ou
responsável ultrapassado o prazo de trinta dias, quando não deve ser assim. Portanto, deve-se entender que a
cobertura assistencial estende-se ao recém-nascido durante os primeiros trinta dias após o parto ou enquanto durar o
22
tratamento, se iniciado durante os primeiros trinta dias." REsp 1.269.757-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado
em 3/5/2016, DJe 31/5/2016.
Questão 23
Sandro absorveu plano de saúde no início da semana passada, ocorre, que no dia de hoje deu entrada na emergência
do hospital toro-trauma. O plano de saúde vem negando a assistência, ante o não término do período de carência.
Diante do caso concreto podemos afirmar quanto a abusividade do ato praticado pelo plano de saúde?
SÚMULA N. 597 A cláusula contratual de plano de saúde que prevê carência para utilização dos serviços de assistência
médica nas situações de emergência ou de urgência é considerada abusiva se ultrapassado o prazo máximo de 24
horas contado da data da contratação. Segunda Seção, aprovada em 8/11/2017, DJe 20/11/2017. (Informativo n. 614)
Questão 24
As instituições de ensino superior respondem objetivamente pelos danos suportados pelo aluno/consumidor pela
realização de curso não reconhecido pelo Ministério da Educação, sobre o qual não lhe tenha sido dada prévia e
adequada informação?
SÚMULA N. 595 As instituições de ensino superior respondem objetivamente pelos danos suportados pelo
aluno/consumidor pela realização de curso não reconhecido pelo Ministério da Educação, sobre o qual não lhe tenha
sido dada prévia e adequada informação. Segunda Seção, aprovada em 25/10/2017, DJe 6/11/2017. (Informativo n.
614)
Questão 25
Analise o texto abaixo e indique se a assertiva é verdadeira ou falsa, segundo o entendimento do STJ.
"O mero equívoco em uma das diversas inscrições não gera dano moral indenizável, mas apenas o dever de suprimira
inscrição indevida."
Discorra sobre o tema.
Resposta:
Recursos Repetitivos DIREITO DO CONSUMIDOR. HIPÓTESE EM QUE A INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO DE
INADIMPLENTES NÃO ENSEJA INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC/1973 E
RES. STJ N. 8/2008). TEMA 922. A inscrição indevida comandada pelo credor em cadastro de proteção ao crédito,
quando preexistente legítima inscrição, não enseja indenização por dano moral, ressalvado o direito ao cancelamento.
A Súmula n. 385 do STJ prevê que “Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização
por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento”. O fundamento dos
precedentes da referida súmula – "quem já é registrado como mau pagador não pode se sentir moralmente ofendido
por mais uma inscrição do nome como inadimplente em cadastros de proteção ao crédito" (REsp 1.002.985-RS,
Segunda Seção, DJe 27/8/2008) –, embora extraídos de ações voltadas contra cadastros restritivos, aplica-se também
às ações dirigidas contra supostos credores que efetivaram inscrições irregulares. Ressalte-se, todavia, que isso não
quer dizer que o credor não possa responder por algum outro tipo de excesso. A anotação irregular, já havendo outras
inscrições legítimas contemporâneas, não enseja, por si só, dano moral. Mas o dano moral pode ter por causa de pedir
outras atitudes do suposto credor, independentemente da coexistência de anotações regulares, como a insistência em
uma cobrança eventualmente vexatória e indevida, ou o desleixo de cancelar, assim que ciente do erro, a anotação
indevida. Portanto, na linha do entendimento consagrado na Súmula n. 385, o mero equívoco em uma das diversas
inscrições não gera dano moral indenizável, mas apenas o dever de suprimir a inscrição indevida. REsp 1.386.424-MG,
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Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, Segunda Seção, julgado em
27/4/2016, DJe 16/5/2016 (Informativo n. 583).
Questão 26
Marcio teve tratamento negado pelo seu plano de saúde ao argumento de existência de doença pré-existente. Ocorre,
que Marcio comprovou que o referido plano não realizou qualquer exame médico prévio à contratação ou
demonstrou em momento algum a má-fé do segurado. Diante do caso concreto, como o STJ vem se manifestando
acerca do assunto?
SÚMULA N. 609 A recusa de cobertura securitária, sob a alegação de doença preexistente, é ilícita se não houve a
exigência de exames médicos prévios à contratação ou a demonstração de má-fé do segurado. Segunda Seção, julgado
em 11/04/2018, DJe 17/04/2018. (Informativo n. 622)
Questão 27
Aplicam-se no CDC os contratos de plano de saúde?
SÚMULA N. 608 Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde, salvo os administrados
por entidades de autogestão. Segunda Seção, julgado em 11/04/2018, DJe 17/04/2018 (Informativo n. 622).
Questão 28
O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos dos consumidores?
SÚMULA N. 601 O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos, coletivos e
individuais homogêneos dos consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço público. Corte Especial,
aprovada em 7/2/2018, DJe 14/2/2018. (Informativo n. 618)
Questão 29
O fornecedor de alimentos deve complementar a informação-conteúdo "contém glúten" com a informação-
advertência de que o glúten é prejudicial à saúde dos consumidores com doença celíaca? Indique a posição do STJ
Resposta:
O fornecedor de alimentos deve complementar a informação-conteúdo "contém glúten" com a informação-
advertência de que o glúten é prejudicial à saúde dos consumidores com doença celíaca. INFORMAÇÕES DO INTEIRO
TEOR A divergência traçada envolve a suficiência dos dizeres "contém glúten" ou "não contém glúten", contidas nas
embalagens de alimentos industrializados, para cumprimento das exigências informativas. O acórdão embargado, da
Terceira Turma, entendeu "ser suficiente a informação 'contém glúten' ou 'não contém glúten', para alertar os
consumidores afetados pela referida proteína". Já o acórdão da Segunda Turma, invocado como paradigma,
considerou "não ser suficiente a informação 'contém glúten', pois a informação deve ser complementada pela
advertência sobre a prejudicialidade do glúten à saúde dos doentes celíacos". Sobre o tema, o inciso II do art. 6º do
Código de Defesa do Consumidor estabelece que o direito à informação está relacionado com a liberdade de escolha
daquele que consome e vinculado à correta, fidedigna e satisfatória informação sobre os produtos e os serviços postos
no mercado de consumo. Por sua vez, o dever de informar também deriva do respeito aos direitos básicos do
consumidor, designadamente do disposto no inciso III do dispositivo legal supra, o qual prevê, como essencial, a
"informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade,
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características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem". Ao cuidar da oferta nas
práticas comerciais, o CDC traz, em seu art. 31, pelo menos quatro categoriais de informação, intimamente
relacionadas: i) informação-conteúdo - correspondente às características intrínsecas do produto ou serviço; ii)
informação-utilização - relativa às instruções para o uso do produto ou serviço; iii) informação-preço - atinente ao
custo, formas e condições de pagamento; e iv) informação-advertência - relacionada aos riscos do produto ou serviço.
Perante as exigências do art. 37, §§ 1º e 3º do CDC, a expressão "contém glúten" é uma informação-conteúdo e como
tal, é omissa e incompleta, devendo ser complementada por uma informação-advertência. Acrescente-se que a
redação lacunosa do art. 1º da Lei n. 10.674/2003 (Lei do Glúten), que ab-rogou a Lei n. 8.543/1992, não esvazia o
comando do art. 31 do CDC (Lei 8.078/1990), que determina, na parte final de seu caput, que o fornecedor de
produtos ou serviços deve informar "sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores", o que
equivale a uma necessária informação-advertência. Para que a informação seja correta, clara e precisa, tornase
necessária, portanto, a integração jurídica entre a Lei do Glúten (lei especial) e o Código de Defesa do Consumidor (lei
geral), pois, em matéria de fornecimento de alimentos e medicamentos, ainda mais a consumidores hipervulneráveis,
não se pode contentar com o standard mínimo e sim com o standard mais completo possível. (Informativo n . 612)
Questão 30
O saque indevido de numerário na conta corrente com o ressarcimento dos valores pela instituição bancária é capaz
de produzir o dano moral in re ipsa?
Resposta:
PROCESSO REsp 1.573.859-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, por unanimidade, julgado em 07/11/2017, DJe
13/11/2017 RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL, DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Ação de indenização por danos
morais. Saque indevido de numerário na conta corrente do autor. Ressarcimento dos valores pela instituição bancária.
Ausência de dano moral in re ipsa. DESTAQUE O saque indevido de numerário em conta corrente, reconhecido e
devolvido pela instituição financeira dias após a prática do ilícito, não configura, por si só, dano moral in re ipsa.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR De início, não se olvida que a Terceira Turma desta Corte tem precedente no sentido
de considerar que o saque indevido em conta corrente, por si só, acarreta dano moral. Observe-se que, por ocasião do
julgamento do Recurso Especial Repetitivo n. 1.197.929/PR, a Segunda Seção desta Corte fixou a tese de que as
instituições bancáriasrespondem de forma objetiva pelos danos causados aos correntistas, decorrentes de fraudes
praticadas por terceiros, caracterizando-se como fortuito interno. Cabe ainda ressaltar que no referido julgado foi
reconhecido o dano moral presumido em decorrência da inscrição indevida em cadastro de proteção ao crédito, razão
pela qual não se confunde com o caso ora em análise. Assim, na linha do que ficou decidido no recurso especial
representativo da controvérsia citado alhures, os valores sacados de forma fraudulenta na conta corrente do
consumidor, tal como ocorrido na espécie, devem ser integralmente ressarcidos pela instituição bancária. Logo, nessas
hipóteses, o consumidor não terá qualquer prejuízo material em decorrência do defeito na prestação do serviço
oferecido pelo banco. Embora não se tenha dúvida de que o saque indevido acarreta dissabores ao consumidor, para
fins de constatação de ocorrência de dano moral é preciso analisar as particularidades de cada caso concreto, a fim de
verificar se o fato extrapolou o mero aborrecimento, atingindo de forma significativa algum direito da personalidade
do correntista (bem extrapatrimonial). Circunstâncias, por exemplo, como o valor total sacado indevidamente, o
tempo levado pela instituição bancária para ressarcir os valores descontados e as repercussões daí advindas, dentre
outras, deverão ser levadas em conta para fins de reconhecimento do dano moral e sua respectiva quantificação. Não
seria razoável que o saque indevido de pequena quantia, considerada irrisória se comparada ao saldo que o
correntista dispunha por ocasião da ocorrência da fraude, sem maiores repercussões, possa, por si só, acarretar
compensação por dano moral. Dessa forma, o saque indevido em conta corrente não configura, por si só, dano moral,
podendo, contudo, observadas as particularidades do caso, ficar caracterizado o respectivo dano se demonstrada a
ocorrência de violação significativa a algum direito da personalidade do correntista. (Informativo n. 615)
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Questão 31
As normas protetivas do Código de Defesa do Consumidor são aplicáveis ao seguro obrigatório (DPVAT)?
Resposta:
195 PROCESSO REsp 1.635.398-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, por unanimidade, julgado em 17/10/2017, DJe
23/10/2017 RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Ação de cobrança de seguro obrigatório (DPVAT).
Obrigação imposta por lei. Inexistência de relação de consumo. CDC. Inaplicabilidade. DESTAQUE As normas protetivas
do Código de Defesa do Consumidor não se aplicam ao seguro obrigatório (DPVAT). INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
De plano, releva assentar que o seguro DPVAT não tem por lastro uma relação jurídica contratual estabelecida entre o
proprietário do veículo e as seguradoras que compõem o correlato consórcio. Trata-se, pois, de um seguro obrigatório
por força de lei, que tem por escopo contemporizar os danos advindos da circulação de veículos automotores. Em se
tratando de obrigação imposta por lei, não há, por conseguinte, qualquer acordo de vontade e, principalmente,
voluntariedade entre o proprietário do veículo e as seguradoras componentes do consórcio do seguro DPVAT, o que,
por si, evidencia que não se trata de contrato. Note-se que a estipulação da indenização securitária em favor da vítima
do acidente, assim como as específicas hipóteses de cabimento (morte, invalidez permanente, total e parcial, e por
despesas de assistência médica e suplementares - art. 3º da Lei n. 6.194/74) decorrem exclusivamente de imposição
legal, e, como tal, não comportam qualquer temperamento das partes envolvidas. Nesse contexto, não há, por parte
das seguradoras integrantes do consórcio do seguro DPVAT, responsáveis por lei a procederem ao pagamento,
qualquer ingerência nas regras atinentes à indenização securitária, inexistindo, para esse propósito, a adoção de
práticas comerciais abusivas de oferta, de contratos de adesão, de publicidade, de cobrança de dívidas, etc. Aliás,
diversamente do que se dá no âmbito da contratação de seguro facultativo (esta, sim, de inequívoca incidência da
legislação protetiva do consumidor), a atuação das seguradoras integrantes do consórcio do seguro DPVAT, adstrita à
lei de regência, não é concorrencial, tampouco destinada à obtenção de lucro, na medida em que a respectiva
arrecadação possui destinação legal específica. Tampouco seria possível falar-se em vulnerabilidade, na acepção
técnico-jurídica, das vítimas de acidente de trânsito - e muito menos do proprietário do veículo a quem é imposto o
pagamento do "prêmio" do seguro DPVAT - perante as seguradoras, as quais não possuem qualquer margem
discricionária para efetivação do pagamento da indenização securitária, sempre que presentes os requisitos
estabelecidos na lei. (Informativo n. 614)
Questão 32
A reclamação obstativa da decadência, prevista no art. 26, § 2º, I, do CDC pode ser feita documentalmente ou
verbalmente?
Resposta:
PROCESSO REsp 1.442.597-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 24/10/2017, DJe 30/10/2017
RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Ação redibitória. Reclamação que obsta a decadência.
Comprovação pelo consumidor. Forma documental ou verbal. Admissão. DESTAQUE A reclamação obstativa da
decadência, prevista no art. 26, § 2º, I, do CDC pode ser feita documentalmente ou verbalmente. INFORMAÇÕES DO
INTEIRO TEOR Na origem, trata-se de ação redibitória - extinta com resolução do mérito, ante o reconhecimento da
decadência - por meio da qual se buscava a rescisão do contrato de compra e venda de veículo defeituoso. Nesse
contexto, discute-se a forma pela qual o consumidor deve externar a reclamação 196 prevista no art. 26, § 2º, I, do
Código de Defesa do Consumidor. Nos termos do dispositivo supracitado, é causa obstativa da decadência, a
reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a
resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca. Infere-se do preceito legal que a lei
não preestabelece uma forma para a realização da reclamação, exigindo apenas comprovação de que o fornecedor
tomou ciência inequívoca quanto ao propósito do consumidor de reclamar pelos vícios do produto ou serviço. Com
efeito, a reclamação obstativa da decadência pode ser feita documentalmente - por meio físico ou eletrônico - ou
mesmo verbalmente - pessoalmente ou por telefone - e, consequentemente, a sua comprovação pode dar-se por
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todos os meios admitidos em direito. Afinal, supor que o consumidor, ao invés de servir-se do atendimento
atualmente oferecido pelo mercado, vá burocratizar a relação, elaborando documento escrito e remetendo-o ao
Cartório, é ir contra o andamento natural das relações de consumo. (Informativo n. 614)
Questão 33
É abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê
prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias?
Resposta:
RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR PROCESSO REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, por
unanimidade, julgado em 12/9/2017, DJe 21/9/2017 TEMA Promessa de compra e venda de imóvel em construção.
Atraso da obra. Cláusula de tolerância. Validade. Previsão legal. Peculiaridades da construção civil. Atenuação de
riscos. Benefício aos contratantes. DESTAQUE Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de
compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso
máximo de 180 (cento e oitenta) dias. INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR No contrato de promessa de compra e venda
de imóvel em construção, além do período previsto para o término do empreendimento,há, comumente, cláusula de
prorrogação excepcional do prazo de entrega da unidade ou de conclusão da obra, que varia entre 90 (noventa) e 180
(cento e oitenta) dias: a conhecida cláusula de tolerância. É certo que a esses contratos de incorporação imobiliária,
embora regidos pelos princípios e normas que lhes são próprios (Lei n. 4.591/1964), também se aplica
subsidiariamente a legislação consumerista sempre que a unidade imobiliária for destinada a uso próprio do
adquirente ou de sua família. De qualquer modo, apesar de o Código de Defesa do Consumidor incidir na dinâmica dos
negócios imobiliários em geral, não há como ser reputada abusiva a cláusula de tolerância. Isso porque existem no
mercado diversos fatores de imprevisibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar
excessivamente seus atores, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise
no setor, entre outros contratempos. Assim, a complexidade do negócio justifica a adoção no instrumento contratual,
desde que razoáveis, de condições e formas de eventual prorrogação do prazo de entrega da obra, o qual foi, na
realidade, apenas estimado, tanto que a própria lei de regência disciplinou tal questão, conforme previsão do art. 48, §
2º, da Lei n. 4.591/1964. Logo, observa-se que a cláusula de tolerância para atraso de obra possui amparo legal, não
constituindo abuso de direito (art. 187 do CC). Por outro lado, não se verifica também, para fins de mora contratual,
nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprometeria o princípio da equivalência das
prestações estabelecidas. Tal disposição contratual concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional
a ser suportada pelo adquirente, pois ameniza o risco da atividade advindo da dificuldade de se fixar data certa para o
término de obra de grande magnitude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis. Por seu turno, no
tocante ao tempo de prorrogação, deve ser reputada razoável a cláusula que prevê no máximo o lapso de 180 (cento e
oitenta) dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do
empreendimento (arts. 197 33 e 34, § 2º, da Lei n. 4.591/1964 e 12 da Lei n. 4.864/1965) e é o prazo máximo para que
o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC). Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de
prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias será considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias
excedentes para fins de não responsabilização do incorporador. (Informativo n. 612)
Questão 34
Renan encontra-se tratando de transtorno mental (depressão) há 2 anos, ocorre que seu médico solicitou 30 sessões,
mas seu plano de saúde vem negando o tratamento ao argumento de que existe cláusula contratual que limita a 12
sessões. Renan indignado resolve recorrer ao judiciário. Como o STJ entende o tema?
Resposta:
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RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR PROCESSO REsp 1.679.190-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, por
unanimidade, julgado em 26/09/2017, DJe 02/10/2017. TEMA Plano de saúde. Transtorno mental. Depressão.
Tratamento psicoterápico. Limitação do número de consultas. Abusividade. DESTAQUE Há abusividade na cláusula
contratual ou em ato da operadora de plano de saúde que importe em limitação/interrupção de tratamento
psicoterápico por esgotamento do número de sessões anuais asseguradas no Rol de Procedimentos e Eventos em
Saúde da ANS, devendo as consultas excedentes ser custeadas em regime de coparticipação. INFORMAÇÕES DO
INTEIRO TEOR Inicialmente, cumpre salientar que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) fixa periodicamente
diretrizes de atenção à saúde bem como atualiza o Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde, que constitui a
referência básica para a cobertura assistencial mínima nos planos privados de assistência à saúde. Para os
atendimentos realizados em consultório ou em ambulatório, o art. 21, inciso IV da Resolução Normativa (RN) n.
338/2013 da ANS, dispôs sobre a cobertura de psicoterapia, limitada, entretanto, ao número de sessões estabelecido
em um de seus anexos. Por seu turno, o Anexo II da referida resolução estabeleceu diferentes quantidades de sessões
ou de consultas obrigatórias mínimas a serem custeadas pelo plano de saúde conforme o grau de severidade do
transtorno mental. Posteriormente, com a superveniência da RN n. 387/2015, algumas coberturas mínimas foram
ampliadas, como as sessões de psicoterapia que passaram de 12 (doze) por ano de contrato para 18 (dezoito). Ocorre
que os tratamentos psicoterápicos são contínuos e de longa duração, de modo que um número tão exíguo de sessões
anuais não é capaz de remediar a maioria dos distúrbios mentais. Dessa forma, a restrição severa de cobertura poderá
provocar a interrupção da própria terapia, o que comprometerá o restabelecimento da higidez mental do usuário, a
contrariar não só princípios consumeristas (art. 51, IV, da Lei n. 8.078/1990), mas também os de atenção integral à
saúde na Saúde Suplementar (art. 3º da RN n. 338/2013, hoje art. 4º da RN n. 387/2015). Ademais, em conformidade
com entendimento firmado por esta Corte Superior, é de rigor que o médico ou profissional habilitado – e não o plano
de saúde – tenha autonomia para aferir o período de atendimento adequado segundo as necessidades de cada
paciente, de forma que a operadora não pode limitar o número de sessões recomendadas para o tratamento integral
de determinado transtorno mental. Assim, será abusiva qualquer cláusula contratual ou ato da operadora de plano de
saúde que importe em interrupção de tratamento psicoterápico por esgotamento do número de sessões anuais
asseguradas no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da ANS. Logo, o número de consultas/sessões anuais de
psicoterapia fixado pela ANS deve ser considerado apenas como cobertura obrigatória mínima a ser custeada
plenamente pela operadora de plano de saúde; mas, para não haver o esvaziamento do tratamento da enfermidade
mental, a quantidade que ultrapassar tais balizas deverá ser suportada tanto pela operadora quanto pelo usuário, em
regime de coparticipação, aplicando-se, por analogia, o que ocorre nas hipóteses de internação em clínica psiquiátrica.
A estipulação de coparticipação nessas situações se revela necessária, porquanto, por um lado, impede a concessão de
consultas indiscriminadas ou o prolongamento em demasia de tratamentos e, por outro, restabelece o equilíbrio
contratual (art. 51, § 2º, do CDC), visto que as sessões acima do limite mínimo estipulado pela ANS não 198 foram
consideradas no cálculo atuarial do fundo mútuo do plano, o que evita a onerosidade excessiva para ambas as partes.
(Informativo n. 612)
Questão 35
Renato tornou-se inadimplente perante a empresa XYZ. Sendo assim, Renato estabeleceu contato com a mesma, a fim
de saldar o referido débito. Ocorre, que ao chegar a conta com a totalidade do débito, foi incluído pela operadora a
ligação referente à cobrança.
Pergunta-se: A cobrança é devida?
PROCESSO REsp 1.361.699-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, por unanimidade, julgado em 12/9/2017, DJe
21/9/2017. RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Ação civil pública. Despesas administrativas para o
banco reaver seu crédito. Ligações telefônicas. Repasse ao consumidor. Abusividade não configurada. DESTAQUE: Não
há abusividade na cláusula contratual que estabeleça o repasse dos custos administrativos da instituição financeira
com as ligações telefônicas dirigidas ao consumidor inadimplente. 199 INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR Na origem, o
Ministério Público estadual ajuizou ação civil pública embasada em reclamação de cliente de instituição financeira,na
qual se insurge, entre outros pontos, contra o ressarcimento dos custos de cobrança decorrentes da inadimplência
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contratual – a exemplo do valor das ligações telefônicas dirigidas ao consumidor. Inicialmente, ressalta-se que com
base no princípio restitutio in integrum, consagrado no art. 395 do Código Civil/2002, imputa-se ao devedor a
responsabilidade por todas as despesas a que ele der causa em razão da sua mora ou inadimplemento, estando o
consumidor, por conseguinte, obrigado a ressarcir os custos decorrentes da cobrança de obrigação inadimplida a
tempo e modo, desde que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor, nos exatos termos do art. 51, XII, do
Código de Defesa do Consumidor. Desse modo, havendo expressa previsão contratual impondo ao consumidor o
dever de ressarcimento dos custos resultantes de cobrança administrativa, não se pode afirmar que a exigibilidade
dessas despesas em caso de mora ou inadimplemento, ainda que em contrato de adesão, seja indevida. Sobre o tema,
a doutrina leciona que: "(...) o princípio da restituição integral, no âmbito das consequências do descumprimento das
obrigações, deve ter seu significado extraído à luz das cláusulas gerais da boa-fé e da função social do contrato em
razão da garantia constitucional da propriedade privada insculpida nos arts. 5º, XXII e 170, II, ambos da Constituição
Federal de 1988, preservando, inclusive, a existência digna do cidadão (art. 1º, III, da Constituição Federal)." No
entanto, eventual abusividade decorrente da inexistência de provas acerca dos referidos custos, bem como da falta de
razoabilidade dos valores cobrados, deve ser examinada em cada caso, a título singular, não se mostrando a ação civil
pública adequada a tal propósito, sob pena desta Corte estar admitindo o seu manejo para a defesa de interesse
individual – o que contraria todo o ordenamento jurídico aplicável à essa espécie de demanda coletiva. Por fim, a
necessidade de reposição integral dos danos causados por um dos contratantes ao outro decorre do sistema jurídico,
por extensão legal conferida pelo art. 51, XII, do CDC, de modo que a garantia da reparação total valerá tanto para o
fornecedor quanto para o consumidor, independentemente de expressa previsão contratual. (Informativo n. 611)
Questão 36
É abusiva a exigência de indicação da CID (Classificação Internacional de Doenças), como condição de deferimento, nas
requisições de exames e serviços oferecidos pelas prestadoras de plano de saúde, bem como para o pagamento de
honorários médicos? Fundamente.
PROCESSO REsp 1.509.055-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, por unanimidade, julgado em 22/8/2017, DJe
25/8/2017. RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Ação Civil Pública. Serviço de assistência à saúde.
Indicação da Classificação Internacional de Doenças (CID) em requisições de exames e serviços de saúde.
Condicionamento para a cobertura do serviço e pagamento de honorários médicos. Ausência de abusividade.
DESTAQUE Não é abusiva a exigência de indicação da CID (Classificação Internacional de Doenças), como condição de
deferimento, nas requisições de exames e serviços oferecidos pelas prestadoras de plano de saúde, bem como para o
pagamento de honorários médicos. INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR A discussão devolvida ao conhecimento do STJ
está inserta em ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal para imposição de obrigações de fazer e não
fazer em face da ANS e de 21 operadoras de planos de saúde, entre elas, o afastamento da condicionante de indicação
da CID para o deferimento de exames e o pagamento de honorários médicos. De início, cumpre explicar que CID é a
denominação comumente dada à Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a
Saúde, confeccionada pela Organização Mundial de Saúde, tendo a importante função de codificar a classificação de
doenças e sintomas e sendo uma ferramenta de diagnósticos padrão para epidemiologia, gestão de saúde e propósitos
clínicos, incluindo a análise da situação geral 200 de saúde dos grupos populacionais. A Lei n. 9.656/98 estreita,
sobremaneira, a relação entre a prestação dos serviços de saúde pelas operadoras à referida ferramenta de
diagnósticos padrão, pois há de se trabalhar dentro de um espectro de previsibilidade, ou seja, deverá alcançar as
enfermidades catalogadas na CID. É de se notar que a exigência de menção da CID nas requisições de exames e demais
serviços de saúde decorre, razoavelmente, do fato de as operadoras de planos de saúde estarem obrigadas a prestar
os serviços previstos no plano-referência, e, quiçá, outros que desbordem do atendimento mínimo previsto em lei e
nos regulamentos da ANS, desde que tenham respaldo contratual. Com efeito, o regime de cooperação que deve ser
estabelecido no curso de relações privadas, com base na boa-fé objetiva, que é via de mão dupla, milita em favor de
que sejam prestadas, também pelo consumidor/paciente, as informações necessárias para uma hígida prestação dos
serviços. Desta forma, assim como se exige do fornecedor a clara e destacada discriminação de procedimentos que
não estejam cobertos pelo plano contratado, há de se exigir do consumidor, também, que, preste informações
relevantes e necessárias para o cumprimento da obrigação. Nesse panorama, em face da possibilidade de as
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requisições de exames voltarem-se a tratamentos que desbordem o plano-referência e os termos do contrato, o
condicionamento da informação da CID nas requisições de serviços de saúde não se revela abusivo, tampouco
representa ofensa aos princípios fundamentais consumeristas. Conclui-se, por fim, que a exigência da CID pelas
operadoras de planos de saúde não se mostra iníqua ou incompatível com a boa-fé – pois a indicação da enfermidade
objeto de tratamento constitui elemento intrínseco à relação estabelecida entre o paciente, o médico e a própria
operadora. (Informativo n. 610)
Questão 37
Pode a publicidade se equiparar ao contrato de adesão no tocante ao tamanho das letras?
Diante do caso concreto, como nossas cortes superiores estão se posicionando?
PROCESSO REsp 1.602.678-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, por unanimidade, julgado em 23/5/2017, DJe
31/5/2017. RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Tamanho mínimo de letra em anúncios. Aplicação da
norma do art. 54 § 3, do CDC. Analogia. Descabimento. Elementos de distinção entre o contexto dos anúncios e o
contexto dos contratos. DESTAQUE A previsão de tamanho mínimo de fonte em contratos de adesão estabelecido no
art. 54, § 3º, do CDC não é aplicável ao contexto das ofertas publicitárias. INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR A polêmica
central do presente recurso diz respeito à possibilidade de aplicação, por analogia, do enunciado normativo do art. 54,
§ 3º, do Código de Defesa do Consumidor, aos anúncios. Assim prevê o citado dispositivo: “§ 3º - Os contratos de
adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não
será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor.” Inicialmente, consigna-se que a
integração do ordenamento jurídico por meio da analogia pressupõe que a identidade entre os dois casos deve
atender ao elemento em vista do qual o legislador formulou a regra que disciplina o caso previsto. Na discussão posta,
não se verifica esse elemento de identidade, pelo contrário, existem importantes elementos de distinção. Uma
distinção evidente diz respeito aos sujeitos da relação jurídica. Num contrato, por exemplo, a relação jurídica se
estabelece entre um número determinado de pessoas (os contratantes), ao passo que, no âmbito da oferta ao público,
a relação jurídica se estabelece entreo anunciante e um número indeterminado de pessoas (toda a coletividade
exposta à publicidade). Outra distinção diz respeito aos custos do suporte material do contrato e do anúncio.
Tratando-se de um contrato, o espaço ocupado pelas letras no papel não é significativo em termos de custo, pois o
custo de uma folha de papel é desprezível em relação ao preço dos produtos e serviços. Tratando-se, 201 porém, de
um anúncio na imprensa, o espaço ocupado pelas letras tem um custo significativo, sendo, por vezes, superior ao
preço do produto anunciado. Uma última distinção relaciona-se ao aspecto visual do texto (design gráfico), que é
indiferente no âmbito de um contrato, mas é bastante relevante no âmbito das ofertas publicitárias. Essas
significativas diferenças entre o contexto de um contrato e o contexto de uma oferta publicitária tornam inviável a
pretendida aplicação da analogia. Sob outra ótica, a fixação do corpo 12 como mínimo para o tamanho das letras nos
anúncios não resiste a um juízo de razoabilidade. Efetivamente, observa-se que a imprensa se utiliza de fontes de
tamanho menores do que o corpo 12 na seção de classificados dos jornais, onde se concentra a maior parte dos
anúncios ao mercado consumidor. Desse modo, uma norma que estabelecesse o corpo 12 como tamanho mínimo da
fonte implicaria mudança na diagramação dos jornais, tornando mais onerosos os anúncios. Não parece razoável,
portanto, que tamanhas consequências sejam impostas pela via jurisprudencial, valendo-se da analogia. (Informativo
n. 605)
Questão 38
Lesões graves proveniente de abertura do mecanismo de AIR BAG, sem qualquer motivação que a justifique produz
algum tipo de responsabilidade?
PROCESSO REsp 1.656.614-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 23/5/2017, DJe 2/6/2017.
RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Ação de indenização por danos materiais e compensação por
danos morais. Acidente de trânsito. Segurança. Graves lesões. Mecanismo de segurança. Risco inerente. Produto
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defeituoso. DESTAQUE A comprovação de graves lesões decorrentes da abertura de air bag em acidente
automobilístico em baixíssima velocidade, que extrapolam as expectativas que razoavelmente se espera do
mecanismo de segurança, ainda que de periculosidade inerente, configura a responsabilidade objetiva da montadora
de veículos pela reparação dos danos ao consumidor. INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR Cinge-se a controvérsia a
analisar se montadora de veículo pode ser responsabilizada por lesões ocasionadas a consumidor pela abertura de
mecanismo de segurança conhecido como air bag. Cabe considerar, de início, que, segundo a legislação consumerista,
o fabricante tem o dever de colocar no mercado um produto de qualidade, sendo que, se existir alguma falha, seja
quanto à segurança, ou à adequação do produto em relação aos fins a que se destina, haverá responsabilidade do
fabricante à reparação dos danos que esse produto vier a causar. Sua responsabilidade pelo fato do produto é objetiva
e, portanto, prescinde da análise de culpa, apesar de não dispensar a prova do dano e do nexo causal (art. 12, caput,
do CDC). Sobre o tema, a doutrina assevera que “em matéria de proteção da saúde e segurança dos consumidores vige
a noção geral da expectativa legítima. Isto é, a ideia de que os produtos e serviços colocados no mercado devem
atender as expectativas de segurança que deles legitimamente se espera. As expectativas são legítimas quando,
confrontadas com o estágio técnico e as condições econômicas da época, mostram-se plausíveis, justificadas e reais. É
basicamente o desvio deste parâmetro que transforma a periculosidade inerente de um produto ou serviço em
periculosidade adquirida”. Na hipótese, os contornos fáticos demonstram que o consumidor sofreu graves lesões no
rosto, principalmente nos olhos, pela abertura do mecanismo de segurança conhecido como air bag em acidente
automobilístico ocorrido em baixíssima velocidade, com pequenos danos ao carro. Assim, a contrapartida da utilização
do air bag pelo consumidor ultrapassou a expectativa normal e legítima dos possíveis danos causados pelo
funcionamento do referido mecanismo de segurança. Nessa linha, o fato da utilização do air bag como mecanismo de
segurança de periculosidade inerente, não autoriza que as montadoras de veículos se eximam da responsabilidade em
ressarcir danos fora da normalidade do “uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam” (art. 12, § 1º, II do CDC).
(Informativo n. 605)
Questão 39
O laboratório farmacêutico responde objetivamente pelos danos advindos da morte, por insuficiência renal aguda, de
pessoa que, por prescrição médica, ingeriu medicamento (anti-inflamatório Vioxx) por aquele produzido, cuja bula
adverte, expressamente, como possíveis reações adversas, a ocorrência de doenças graves renais?
202 PROCESSO REsp 1.599.405-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, por unanimidade, julgado em 4/4/2017, DJe
17/4/2017. RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Ação de indenização por danos morais e materiais.
Medicamento antiinflamatório. Ingestão. Falecimento do paciente. Fundamento da reponsabilidade objetiva do
fornecedor pelo fato do produto. Inobservância do dever de segurança, a partir da fabricação e inserção no mercado
de produto defeituoso. Não verificação. Produto de periculosidade inerente. Riscos previsíveis e informados aos
consumidores. DESTAQUE Em se tratando de produto de periculosidade inerente (medicamento), cujos riscos são
normais à sua natureza e previsíveis, eventual dano por ele causado ao consumidor não enseja a responsabilização do
fornecedor. INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR A controvérsia centra-se em saber se laboratório farmacêutico responde
objetivamente pelos danos advindos da morte, por insuficiência renal aguda, de pessoa que, por prescrição médica,
ingeriu medicamento (anti-inflamatório Vioxx) por aquele produzido, cuja bula adverte, expressamente, como
possíveis reações adversas, a ocorrência de doenças graves renais. Debate-se, nesse contexto, se o remédio poderia
ser considerado defeituoso, na dicção legal. Sobre a responsabilidade do fornecedor pelo chamado acidente de
consumo, releva anotar, de início, que o Código de Defesa do Consumidor acolheu a teoria do risco do
empreendimento (ou da atividade). Há que se bem delimitar, contudo, o fundamento desta responsabilidade, que, é
certo, não é irrestrita, integral, na medida em que pressupõe requisitos próprios (especialmente, o defeito do produto
como causador do dano experimentado pelo consumidor) e comporta eximentes. Assinala-se que o fornecedor não
responde objetivamente pelo fato do produto simplesmente porque desenvolve uma atividade perigosa ou produz um
bem de periculosidade inerente, mas sim, concretamente, caso venha a infringir o dever jurídico de segurança
(adentrando no campo da ilicitude), o que se dá com a fabricação e a inserção no mercado de um produto defeituoso,
de modo a frustrar a legítima expectativa dos consumidores. Este dever jurídico, cuja inobservância confere
supedâneo à responsabilidade objetiva do fornecedor, está expresso no art. 8º do Código de Defesa do Consumidor,
ao dispor que os produtos e serviços colocados no mercado não poderão acarretar riscos à segurança ou à saúde dos
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consumidores — revelando-se defeituosos, portanto —, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência
de sua natureza e fruição. Daí ressai que o sistema protetivo do consumidor, na esteira do dispositivo legal acima
destacado, não tem por propósito obstar, de modo absoluto, a inserção no mercado de produto ou serviço que
propicie riscos à segurança e à saúde dos consumidores. Uma disposição com esse propósito afigurar-se-ia de todo
inócua, pois ignorariauma realidade intrínseca a todo e qualquer produto, qual seja, a de guardar, em si, um resquício,
um grau mínimo, de insegurança. Esta realidade, a propósito, apresenta-se de modo muito contundente em relação
aos medicamentos em geral (qualificados como produtos de periculosidade inerente), pois todos, sem distinção,
guardam riscos à saúde dos consumidores, na medida em que causam efeitos colaterais, de maior ou menor
gravidade, indiscutivelmente. Por conseguinte, os riscos normais e previsíveis, em decorrência da natureza ou da
fruição do produto, são absolutamente admissíveis e, por consectário lógico, não o tornam defeituoso, impondo-se ao
fornecedor, em qualquer hipótese, a obrigação de conferir e explicitar as informações adequadas a seu respeito.
Coerente com tais diretrizes, o artigo 12 do CDC teceu os contornos da responsabilidade objetiva do fornecedor pelo
fato do produto. O defeito do produto apto a ensejar a responsabilidade do fornecedor é o de concepção técnica
(compreendido como o erro no projeto, pela utilização de material inadequado ou de componente orgânico ou 203
inorgânico prejudicial à saúde ou à segurança do consumidor), de fabricação (falha na produção) ou de informação
(prestação de informação insuficiente ou inadequada), que não se confunde com o produto de periculosidade
inerente. Neste, o produto não guarda em si qualquer defeito, apresentando riscos normais, considerada a sua
natureza ou a sua fruição, e previsíveis, de conhecimento do consumidor, pela prestação de informação suficiente e
adequada quanto à sua periculosidade. O produto de periculosidade inerente, que apresente tais propriedades, não
enseja a responsabilização de seu fornecedor, ainda que, porventura, venha a causar danos aos consumidores, afinal,
o sistema de responsabilidade pelo fato do produto adotado pelo Código de Defesa do Consumidor é o do risco do
empreendimento, e não o do risco integral, como se fosse o fornecedor um segurador universal de seus produtos.
Portanto, em se tratando de produto de periculosidade inerente, cujos riscos são normais à sua natureza
(medicamento com contraindicações) e previsíveis (na medida em que o consumidor é deles expressamente
advertido), eventual dano por ele causado não enseja a responsabilização do fornecedor, pois, de produto defeituoso,
não se cuida. (Informativo n. 603)
Questão 40
Existe a possibilidade de o fornecedor originário de veículo responder solidariamente, à luz do art. 18 do CDC, pelos
prejuízos decorrentes da adulteração de hodômetro constatada após a revenda do referido bem pelo consumidor final
a terceiro? Responda indicando os dispositivos legais.
PROCESSO REsp 1.517.800-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, por unanimidade, julgado em 2/5/2017, DJe
5/5/2017. RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Veículo usado. Venda. Hodômetro adulterado.
Responsabilidade. Proprietário. Agência contratada. Solidariedade. Art. 18 do CDC. Fornecedor originário.
Inaplicabilidade. Relações de consumo distintas. Cadeia de fornecimento. Ruptura. DESTAQUE O fornecimento de bem
durável ao seu destinatário final põe termo à eventual cadeia de seus fornecedores originais, de modo que, a posterior
revenda desse mesmo bem por seu adquirente constitui nova relação jurídica obrigacional com o eventual comprador
e, por conseguinte, não se pode estender aos integrantes daquela primeira cadeia de fornecimento a responsabilidade
solidária de que trata o art. 18 do CDC por eventuais vícios que este venha a futuramente detectar no produto.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR Cinge-se a discussão a definir a possibilidade de o fornecedor originário de veículo
responder solidariamente, à luz do art. 18 do CDC, pelos prejuízos decorrentes da adulteração de hodômetro
constatada após a revenda do referido bem pelo consumidor final a terceiro. Sobre o tema, cabe salientar que nos
termos da legislação de regência, só há falar em responsabilidade solidária entre os fornecedores integrantes de uma
mesma cadeia de oferecimento de produtos e/ou serviços, não podendo ser responsabilizado prestador pertencente à
cadeia anterior à retirada de bem durável do mercado de consumo (a partir de sua aquisição pelo destinatário final)
por prejuízos constatados no futuro em virtude da revenda do referido bem, independentemente de ter sido esta
materializada com a celebração de um negócio meramente civil ou com o surgimento de uma nova relação de
consumo. Na hipótese analisada se está diante de corriqueira sucessão de negócios destinados à venda e revenda de
bem durável, representada por duas relações jurídicas bem distintas, ou seja, uma primeira cadeia de consumo foi
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formada e encerrou-se quando o primeiro vendedor alienou o veículo ao consumidor (destinatário final). Uma nova e
independente cadeia iniciou-se quando este, que adquiriu o automóvel e lhe deu destinação final, decidiu entregar o
referido bem à empresa de agenciamento de veículos para recolocá-lo no mercado. É dizer, o bem desvinculou-se de
uma cadeia de consumo quando saiu de mercado para integrar o acervo patrimonial de seu destinatário final. Após,
foi inserido em outra cadeia de consumo ao retornar ao mercado através dos serviços de agenciamento contratados
por seu proprietário para facilitar-lhe a revenda; serviço este que, aliás, não pode servir de justificativa para que a
referida agência de veículos seja parte integrante da cadeia 204 de fornecimento de que fez parte o vendedor
primeiro. Resulta inconteste, assim, a descontinuidade (quebra) entre as duas relações de consumo, que resulta na
inexistência de relação jurídica entre o primeiro vendedor e o último adquirente do automóvel. Oportuno ressaltar,
ainda, que o vício ensejador da propositura da presente demanda não consiste em mero defeito de fabricação, mas
em verdadeira prática ilícita ulterior à entrada do veículo em circulação (a adulteração do hodômetro com o propósito
de reduzir a desvalorização natural do preço do automóvel no mercado), pelo que eventualmente só poderia
responder o primeiro vendedor se tivesse o último adquirente do veículo produzido prova concreta de sua
participação no referido evento. Desse modo, ainda que se possa afirmar a responsabilidade solidária do anterior
proprietário do veículo e da agência por ele contratada para revendê-lo ao terceiro, não se afigura possível estender
tal responsabilidade ao primeiro vendedor, pelo menos não sob a alegação de que estaria ela alcançada por suposta
solidariedade determinada pelas regras de proteção do Código de Defesa do Consumidor. (Informativo n. 603)
Questão 41
É viável a aplicação do CDC a uma pretensão indenizatória decorrente de extravio de insumos (componentes de
autopeças) em transporte aéreo?
PROCESSO REsp 1.442.674-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, por unanimidade, julgado em 7/3/2017, DJe
30/3/2017. RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR TEMA Contrato de transporte internacional de
carga. Insumos. Relação de consumo. Inocorrência. Vinculação entre o contrato principal e o acessório de transporte.
DESTAQUE Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor - CDC ao contrato de transporte de mercadorias
vinculado a contrato de compra e venda de insumos. INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR A controvérsia central diz
respeito à aplicação do CDC a uma pretensão indenizatória decorrente de extravio de insumos (componentes de
autopeças) em transporte aéreo. Trata-se de relação jurídica acessória de transporte, vinculada a contrato de compra
e venda de insumos para a indústria de autopeças. Na origem entendeu-se que essa relação jurídica de transporte de
carga configuraria relação de consumo, fazendo-se uma distinção com a relação jurídica estabelecida no contrato
principal. Todavia, nãoé possível reconhecer a caracterização de relação de consumo no contrato de transporte de
mercadoria celebrado no caso. O conceito básico de consumidor foi fixado no CDC, em seu art. 2º, ao estatuir que
“consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatária final”. A nota
característica dessa definição está na identificação de uma pessoa (física ou jurídica) como destinatária final de um
produto ou serviço para que possa ser enquadrada como consumidora. A condição de destinatário final de um bem ou
serviço constitui a principal limitação estabelecida pelo legislador para a fixação do conceito de consumidor e,
consequentemente, para a própria incidência do CDC como lei especial. Há necessidade, assim, de se estabelecer o
alcance dessa expressão, que constitui o elemento teleológico dessa definição. Considera-se destinatário final aquele
que, no ato de consumir, retira o bem do mercado. Seguindo nessa linha de raciocínio, a Segunda Seção acabou por
firmar entendimento centrado na teoria subjetiva ou finalista (REsp 541.867-BA, DJe 16/5/2005), posição hoje
consolidada no âmbito deste STJ. Porém, a jurisprudência, posteriormente, evoluiu para admitir uma certa mitigação
da teoria finalista na hipótese em que, embora não verificada a condição de destinatário final, constata-se a
vulnerabilidade do consumidor profissional ante o fornecedor. No caso, não se aplica a referida mitigação da teoria
finalista, pois a contratante do serviço de transporte sequer alegou a sua vulnerabilidade perante a empresa
contratada. Portanto, sob a ótica da teoria finalista, seria o caso de analisar se a contratante do serviço de transporte
de carga é destinatária final fática e econômica desse serviço. Contudo, uma vez que a carga transportada é insumo, o
contrato celebrado para o 205 transporte desse insumo fica vinculado a essa destinação, não havendo necessidade de
se perquirir acerca da destinação econômica do serviço de transporte. (Informativo n. 600)
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Questão 42
O cessionário de milhares de contratos de participação financeira mantém a condição de consumidor do promitente-
assinante.
PROCESSO REsp 1.608.700-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, por unanimidade, julgado em 9/3/2017, DJe
31/3/2017. RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Serviço de telefonia. Cessão de milhares de contratos
de participação financeira. Relação de Consumo. Inexistência. DESTAQUE A condição de consumidor do promitente-
assinante não se transfere aos cessionários do contrato de participação financeira. INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
Cinge-se a controvérsia em definir se o cessionário de contratos de participação financeira mantém a condição de
consumidor do promitente-assinante. Inicialmente, relembra-se que os contratos de participação financeira têm
natureza híbrida, enfeixando duas relações jurídicas autônomas, relativas à (i) prestação do serviço telefônico entre o
usuário e a empresa de telefonia, e (ii) à emissão de ações, entre o acionista e a companhia. No caso analisado, as
linhas telefônicas e os próprios contratos permaneceram com os promitentes-assinantes, sendo transferida apenas a
segunda relação jurídica, concernente aos valores mobiliários. Sobre o tema, é certo que a jurisprudência do STJ se
firmou no sentido de que o Código de Defesa do Consumidor é aplicável às ações que têm como objeto o
cumprimento de contratos de participação financeira, pois diretamente atrelados ao serviço de telefonia. De fato, o
interessado, para ter acesso ao serviço público de telefonia, tinha que obrigatoriamente se tornar acionista da
respectiva concessionária. Nesse sentido, justifica-se que a proteção ao consumidor se estenda ao contrato como um
todo, tanto no que concerne à prestação de serviços telefônicos quanto à retribuição em ações, pois a condição de
acionista era imposta ao consumidor, sendo a administração de seus recursos por terceiros compulsória. Assim,
mesmo nas hipóteses em que o adquirente originário vinha a juízo requerer apenas a complementação de ações, sem
nenhuma pretensão quanto ao serviço de telefonia, era reconhecida a incidência do estatuto consumerista em virtude
de sua vulnerabilidade e, no mais das vezes, hipossuficiência. Outra, porém, é a situação retratada, em que se tem
cessionária de milhares de contratos de participação financeira, os quais já foram objeto de outras negociações
anteriores. Nesse caso, a pretensão se resume ao recebimento de ações e seus respectivos consectários, não havendo
irresignação relativa ao uso dos serviços de telefonia. Não se identifica, também, vínculo com a situação originária do
adquirente da linha telefônica, que era compelido a subscrever ações caso quisesse usar o sistema de telefonia. O que
se verifica, na hipótese, são transações havidas entre sociedades empresárias, de índole comercial, não se
identificando quer a vulnerabilidade, quer a hipossuficiência do cessionário. Além disso, a cessão está resumida à
integralidade dos direitos creditícios, participações, direitos acionários, proventos e valores ainda não recebidos,
decorrentes dos contratos de participação financeira. Trata-se, portanto, de cessão de crédito e não de cessão de
posição contratual, pois não há cessão da inteira posição no ajuste. Assim, considerando que as condições
personalíssimas do cedente não se transmitem ao cessionário, a condição de consumidor do promitente-assinante não
se transfere aos cessionários do contrato de participação financeira. (Informativo n. 600)
Questão 43
Diante da seguinte assertiva: “A cobrança da multa de fidelidade pela prestadora de serviço de TV a cabo NÃO deve
ser proporcional ao tempo faltante para o término da relação de fidelização, mesmo antes da vigência da Resolução n.
632/2014 da ANATEL.” Podemos entender como inviável tal ato?
PROCESSO REsp 1.362.084-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por maioria, julgado em 16/5/2017, DJe 1/8/2017. RAMO
DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Prestação de serviço de TV a cabo. Cláusula de fidelização. Cobrança
proporcional da multa de fidelidade independentemente do cumprimento parcial do prazo de carência. DESTAQUE A
cobrança da multa de fidelidade pela prestadora de serviço de TV a cabo deve ser proporcional ao tempo faltante para
o término da relação de fidelização, mesmo antes da vigência da Resolução n. 632/2014 da ANATEL. INFORMAÇÕES
DO INTEIRO TEOR A controvérsia principal versa sobre a licitude ou não da cláusula permitindo a cobrança da
integralidade da multa por fidelidade, por parte da prestadora de serviço de TV a cabo, quando o consumidor opta
pela rescisão do contrato no curso do prazo de carência. Inicialmente, consigna-se que a multa convencional, no caso
de resilição unilateral imotivada, tem por escopo principal o necessário ressarcimento dos investimentos financeiros
realizados por uma das partes para a celebração ou execução do contrato (parágrafo único do artigo 473 do Código
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Civil). De outro lado, sobressai seu caráter coercitivo, objetivando constranger o devedor a cumprir o prazo estipulado
no contrato e, consequentemente, viabilizar o retorno financeiro calculado com o pagamento das mensalidades a
serem vertidas durante a continuidade da relação jurídica programada. Nada obstante, em que pese ser elemento
oriundo de convenção entre os contratantes, a fixação da cláusula penal não pode estar indistintamente ao alvedrio
destes, já que o ordenamento jurídico prevê normas imperativas e cogentes, que possuem a finalidade de resguardar
a parte mais fraca do contrato. A referida preocupação reverbera, com maior intensidade, em se tratando do chamado
contrato de adesão, ou seja, aquele cujas cláusulas tenham sido estabelecidas unilateralmente pelo fornecedorde
produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo (artigo 54 do
Código de Defesa do Consumidor). É, sem dúvida, o que ocorre com o pacto de prestação de serviço de TV a cabo, cuja
licitude da cláusula de fidelização extrai-se de normativos expedidos pela ANATEL e da jurisprudência desta Corte. Em
relação à forma de cálculo da multa a ser cobrada em caso de resilição antecipada dos contratos com fidelização,
verifica-se que a ANATEL, em 07 de março de 2014, expediu a Resolução n. 632, que aprovou o Regulamento Geral de
Direitos do Consumidor de Serviços de Telecomunicações, que determina o pagamento da multa de fidelidade
proporcionalmente ao valor do benefício concedido e ao período restante para o decurso do prazo mínimo estipulado.
No entanto, mesmo antes da vigência do citado normativo, revelava-se abusiva a prática comercial adotada por
prestadora do serviço de TV a cabo que cobra a multa de fidelidade integral dos consumidores, independentemente
do tempo faltante para o término da relação de fidelização. Isso porque essa prática coloca o fornecedor em vantagem
exagerada, caracterizando conduta iníqua, incompatível com a equidade, consoante disposto no § 1º e inciso IV do
artigo 51 do CDC. Nesse panorama, sobressai o direito básico do consumidor à proteção contra práticas e cláusulas
abusivas, que consubstanciem prestações desproporcionais, cuja adequação deve ser realizada pelo Judiciário, a fim
de garantir o equilíbrio contratual entre as partes, afastando-se o ônus excessivo e o enriquecimento sem causa
porventura detectado (artigos 6º, incisos IV e V, e 51, § 2º, do CDC), providência concretizadora do princípio
constitucional de defesa do consumidor, sem olvidar, contudo, o princípio da conservação dos contratos. Assim,
infere-se que o custo arcado pelo prestador do serviço é, efetivamente, recuperado a cada mês da manutenção do
vínculo contratual com o tomador, não sendo razoável a cobrança da mesma multa àquele que incorre na quebra do
pacto no início do prazo de carência e àquele que, no meio ou ao final, demonstra o seu desinteresse no serviço 213
prestado. Desse modo, reconhece-se a ilicitude (caráter abusivo) da cobrança integral da multa de fidelidade pela
prestadora de TV a cabo independentemente do cumprimento parcial do prazo de carência pelos consumidores,
mesmo antes da vigência da Resolução ANATEL n. 632/2014. (Informativo n. 608)
Questão 44
Qual o prazo para ajuizamento de ações indenizatórias por danos materiais decorrentes de vícios de qualidade e de
quantidade do imóvel adquirido pelo consumidor? 3 meses? 3 Anos? 5 anos?
PROCESSO REsp 1.534.831-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, por maioria, julgado
em 20/02/2018, DJe 02/03/2018 RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL, DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Ação
indenizatória. Defeitos aparentes da obra. Art. 26 do CDC. Prazo decadencial. Inaplicabilidade à pretensão
indenizatória. Sujeição a prazo prescricional. Art. 205 do CC/02. DESTAQUE Aplica-se o prazo prescricional do art. 205
do CC/02 às ações indenizatórias por danos materiais decorrentes de vícios de qualidade e de quantidade do imóvel
adquirido pelo consumidor, e não o prazo decadencial estabelecido pelo art. 26 do CDC. INFORMAÇÕES DO INTEIRO
TEOR Na hipótese, discute-se em ação de indenização por danos materiais, entre outras questões, o afastamento da
prejudicial de decadência no tocante aos vícios de qualidade e de quantidade de imóvel adquirido pelo consumidor.
Primeiramente, faz-se necessário salientar que o prazo quinquenal disposto no art. 618 do CC/02, para que o
comitente verifique eventual existência de defeito ou vício que estivesse oculto por ocasião da entrega da construção,
é de garantia, na medida em que visa protegê-lo contra riscos futuros e eventuais. Não se trata, pois, de prazo
prescricional ou decadencial. Isso significa que, apesar da entrega da obra, o empreiteiro permanecerá responsável
por vício oculto que venha a ser revelado dentro do quinquênio legal, comprometendo a segurança e a solidez da
construção. Verificado o vício nesse interregno, poderá o comitente reclamá-lo; entretanto, qual o prazo para que o
faça? Essa questão suscitou bastante divergência na doutrina e nos Tribunais pátrios, mormente com a introdução do
parágrafo único ao art. 618 pelo CC/2002 (sem correspondente na legislação anterior), o qual passou a estabelecer
que "decairá do direito assegurado neste artigo o dono da obra que não propuser a ação contra ao empreiteiro, nos
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cento e oitenta dias seguintes ao aparecimento do vício ou defeito". Sobre o tema, a doutrina majoritária se inclina no
sentido de que o prazo de 180 dias, de natureza decadencial, se refere apenas ao direito de o comitente pleitear a
rescisão contratual ou o abatimento no preço (ação de índole desconstitutiva), permanecendo a pretensão de
indenização, veiculada em ação condenatória sujeita ao prazo prescricional disposto no art. 205 do CC/02, o qual, além
de corresponder ao prazo vintenário anteriormente disposto no art. 177 do CC/16, é o prazo que regula as pretensões
fundadas no inadimplemento contratual. De outro turno, quando o litígio envolve relação de consumo, novas
considerações devem ser feitas, haja vista que o CDC, em matéria de vícios de qualidade ou de quantidade do produto
ou do serviço, confere tratamento diverso daquele da codificação civilista. Isso porque, mesmo não havendo no CDC
qualquer prazo específico de garantia dos trabalhos de construção, como ocorre no art. 618 do CC/02 em relação à
"solidez e segurança" de "edifícios e outras construções consideráveis", possui o consumidor proteção mais
abrangente, haja vista que estará resguardado de vícios na obra ainda que estes surjam após o prazo de cinco anos do
recebimento. A princípio, em qualquer momento em que ficar evidenciado o defeito, poderá o consumidor enjeitá-lo,
desde que o faça dentro do prazo decadencial de 90 dias, o qual, inclusive, pode ser suspenso pela reclamação do vício
junto ao fornecedor ou pela instauração de inquérito civil (art. 26, § 2º, do CDC). Ademais, para além da possibilidade
de redibir o contrato ou de pleitear o abatimento do preço - alternativas que vigoram no Código Civil para vícios
ocultos - o CDC coloca à disposição do consumidor uma terceira opção, consistente na substituição do produto ou na
reexecução do serviço (arts. 18, § 1º, I, e 20, I, do CDC). A despeito das considerações supracitadas, cabe registrar que
a solução, segundo a legislação consumerista, da questão relativa à decadência do direito de reclamar por vícios no
imóvel (prazo de 90 dias, contado do recebimento do bem, em se tratando de vício aparente, ou do aparecimento do
defeito, em se tratando de vício oculto) não obsta a que seja aplicado o raciocínio anteriormente desenvolvido no que
tange à prescrição da pretensão indenizatória. Sendo assim, o prazo decadencial previsto no art. 26 do CDC se
relaciona ao período de que dispõe o consumidor para exigir em juízo alguma das alternativas que lhe são conferidas
pelos arts. 18, § 1º, e 20, caput do mesmo diploma legal, não se confundindo com o prazo prescricional a que se 78
sujeita o consumidor para pleitear indenização decorrente da má-execução do contrato. E, à falta de prazo específico
no CDC que regule a hipótese de inadimplemento contratual - o prazo quinquenal disposto no art. 27 é exclusivo para
as hipóteses de fato do produto ou do serviço - entende-se que deve ser aplicado o prazo geral decenal do art. 205 do
CC/02. (Informativo n. 620)
Questão 45
O comerciante no que tange à disponibilização e prestação de serviço de assistência técnica (art. 18, caput e § 1º, do
CDC) pode ser compelido a disponibilizartal assistência?
PROCESSO REsp 1.634.851-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, por maioria, julgado em 12/09/2017, DJe 15/02/2018 RAMO
DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Ação civil pública. Vício do produto. Reparação em 30 dias. Dever de
sanação do comerciante, assistência técnica ou diretamente do fabricante. Direito de escolha do consumidor.
DESTAQUE Cabe ao consumidor a escolha para exercer seu direito de ter sanado o vício do produto em 30 dias - levar
o produto ao comerciante, à assistência técnica ou diretamente ao fabricante. INFORMAÇÕES DOINTEIRO TEOR A
questão jurídica discutida consiste, dentre outros pontos, em definir a responsabilidade do comerciante no que tange
à disponibilização e prestação de serviço de assistência técnica (art. 18, caput e § 1º, do CDC). Em princípio, verifica-se
que a interpretação puramente topográfica do § 1º do art. 18 do CDC leva a crer que a responsabilidade solidária
imputada no caput aos fornecedores, inclusive aos próprios comerciantes, compreende o dever de reparar o vício no
prazo de trinta dias, sob pena de o consumidor poder exigir a substituição do produto, a restituição da quantia paga
ou o abatimento proporcional do preço. A Terceira Turma do STJ, no entanto, ao analisar situação análoga se
manifestou no sentido de que, "disponibilizado serviço de assistência técnica, de forma eficaz, efetiva e eficiente, na
mesma localidade [município] do estabelecimento do comerciante, a intermediação do serviço apenas acarretaria
delongas e acréscimo de custos, não justificando a imposição pretendida na ação coletiva" (REsp 1.411.136-RS, DJe
10/03/2015). No entanto, esse tema merece nova reflexão. Isso porque o dia a dia revela que o consumidor, não
raramente, trava verdadeira batalha para, após bastante tempo, atender a sua legítima expectativa de obter o
produto adequado ao uso, em sua quantidade e qualidade. Aliás, há doutrina a defender, nessas hipóteses, a
responsabilidade civil pela perda injusta e intolerável do tempo útil. Assim, não é razoável que, à frustração do
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consumidor de adquirir o bem com vício, se acrescente o desgaste para tentar resolver o problema ao qual ele não
deu causa, o que, por certo, pode ser evitado - ou, ao menos, atenuado - se o próprio comerciante participar
ativamente do processo de reparo, intermediando a relação entre consumidor e fabricante, inclusive porque,
juntamente com este, tem o dever legal de garantir a adequação do produto oferecido ao consumo. Vale ressaltar que
o comerciante, em regra, desenvolve uma relação direta com o fabricante ou com o representante deste; o
consumidor, não. Por isso também, o dispêndio gerado para o comerciante tende a ser menor que para o consumidor,
sendo ainda possível àquele exigir do fabricante o ressarcimento das respectivas despesas. Logo, à luz do princípio da
boa-fé objetiva, se a inserção no mercado do produto com vício traz em si, inevitavelmente, um gasto adicional para a
cadeia de consumo, esse gasto deve ser tido como ínsito ao risco da atividade, e não pode, em nenhuma hipótese, ser
suportado pelo consumidor, sob pena de ofensa aos princípios que regem a política nacional das relações de consumo,
em especial o da vulnerabilidade e o da garantia de adequação, a cargo do fornecedor, além de configurar violação do
direito do consumidor de receber a efetiva reparação de danos patrimoniais sofridos por ele. (Informativo n. 619).
Questão 46
O simples "levar à boca" do alimento industrializado com corpo estranho (Anel) gera dano moral in re ipsa,
independentemente de sua ingestão?
PROCESSO REsp 1.644.405-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 09/11/2017, DJe 17/11/2017
RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Aquisição de pacote de biscoito com corpo estranho no recheio
de um dos biscoitos. Não ingestão. Levar à boca. Exposição do consumidor a risco concreto de lesão à saúde e
segurança. Fato do produto. Existência de dano moral. DESTAQUE O simples "levar à boca" do alimento industrializado
com corpo estranho gera dano moral in re ipsa, independentemente de sua ingestão. 80 INFORMAÇÕES DO INTEIRO
TEOR O objeto do debate consiste em analisar se, para ocorrer danos morais em função do encontro de corpo
estranho em alimento industrializado, é necessária sua ingestão ou se o simples fato de levar tal resíduo à boca é
suficiente para a configuração do dano moral in re ipsa. De pronto, verifica-se que a jurisprudência do STJ está
consolidada no sentido de que há dano moral na hipótese em que o produto de gênero alimentício é consumido,
ainda que parcialmente, em condições impróprias, especialmente quando apresenta situação de insalubridade
oferecedora de risco à saúde ou à incolumidade física. No entanto, na hipótese analisada, há a peculiaridade de não
ter havido ingestão, ainda que parcial, do produto contaminado, visto que, conforme estabelecido no acórdão
recorrido, o corpo estranho -um anel indevidamente contido em uma bolacha recheada - esteve prestes a ser engolido
por criança de 8 anos, sendo cuspido no último instante. É necessário, assim, indagar se a hipótese dos autos alberga
um mero vício (de qualidade por inadequação, art. 18, CDC) ou, em verdade, um defeito/fato do produto (vício de
qualidade por insegurança, art. 12, CDC). Registre-se que um produto ou serviço apresentará defeito de segurança
quando, além de não corresponder à expectativa do consumidor, sua utilização ou fruição for capaz de criar riscos à
sua incolumidade ou de terceiros - o que aconteceu no caso em tela, pois o corpo estranho contido no recheio de um
biscoito expôs o consumidor a risco, na medida em que, levando-o à boca por estar encoberto pelo produto adquirido,
sujeitou-se à ocorrência de diversos tipos de dano, seja à sua saúde física, seja à sua integridade psíquica. O
consumidor foi, portanto, exposto a grave risco, o que torna ipso facto defeituoso o produto. Nesse contexto,
verificada a ocorrência de defeito no produto, a afastar a incidência exclusiva do art. 18 do CDC à espécie (o qual
permite a reparação do prejuízo material experimentado), inafastável é o dever do fornecedor de reparar também o
dano extrapatrimonial causado ao consumidor, fruto da exposição de sua saúde e segurança à risco concreto.
(Informativo n. 616).
Questão 47
A Bancorbrás é parte legítima para figurar no polo passivo de ação indenizatória de dano moral decorrente de defeito
do serviço prestado por hotel integrante de sua rede conveniada?
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QUARTA TURMA Voltar ao Sumário. PROCESSO REsp 1.378.284-PB, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade,
julgado em 08/02/2018, DJe 07/03/2018 RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL TEMA
Bancorbrás. Hotel conveniado. Má prestação de serviço. Solidariedade entre todos os integrantes da cadeia de
fornecimento de serviços. Legitimidade passiva ad causam. DESTAQUE A Bancorbrás é parte legítima para figurar no
polo passivo de ação indenizatória de dano moral decorrente de defeito do serviço prestado por hotel integrante de
sua rede conveniada. INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR Inicialmente, cumpre salientar que em se tratando de relações
consumeristas, o fato do produto ou do serviço (ou acidente de consumo) configura-se quando o defeito ultrapassar a
esfera meramente econômica do consumidor, atingindo-lhe a incolumidade física ou moral, como é o caso dos autos,
em que consumidor, no período de lazer programado, fora - juntamente com seus familiares - submetido a
desconforto e aborrecimentos desarrazoados, em virtude de alojamento, em quarto insalubre, em resort integrante
da rede conveniada da Bancorbrás. Nos termos do caput do artigo 14 do CDC, o fornecedor de serviços responde,
independentemente da existência de culpa, pela reparaçãodos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre fruição e riscos. Sob
essa ótica e tendo em vista o disposto no parágrafo único do artigo 7º e no § 1º do artigo 25 do CDC, sobressai a
solidariedade entre todos os integrantes da cadeia de fornecimento de serviços, cabendo direito de regresso (na
medida da participação na causação do evento lesivo) àquele que reparar os danos suportados pelo 81 consumidor.
No contexto analisado, a Bancorbrás não funciona como mera intermediadora entre os hotéis e os adquirentes do
título do clube de turismo. A intermediação configurar-se-ia se o contrato fosse fundado na livre escolha do
consumidor, sem qualquer condução ou direcionamento da Bancorbrás. Ao revés, a escolha do adquirente do título
fica limitada aos estabelecimentos previamente credenciados e contratados pela Bancorbrás, que, em seu próprio
regimento interno, prevê a necessidade de um padrão de atendimento e de qualidade dos serviços prestados. O caso,
portanto, não pode ser tratado como culpa exclusiva de terceiro, pois o hotel conveniado integra a cadeia de consumo
referente ao serviço introduzido no mercado pela Bancorbrás. Em verdade, sobressai a indissociabilidade entre as
obrigações de fazer assumidas pela Bancorbrás e o hotel credenciado. Nesse sentido, evidencia-se que os prestadores
de serviço de hospedagem credenciados funcionam como verdadeiros prepostos ou representantes autônomos da
Bancorbrás, o que atrai a incidência do artigo 34 do CDC. Deste modo, é de se reconhecer a legitimidade passiva ad
causam da Bancorbrás para responder por defeito do serviço de hotel conveniado. (Informativo n. 620)
Questão 48
É abusiva a prática comercial consistente no cancelamento unilateral e automático de um dos trechos da passagem
aérea, sob a justificativa de não ter o passageiro se apresentado para embarque no voo antecedente?
PROCESSO REsp 1.595.731-RO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, julgado em 14/11/2017, DJe
01/02/2018 RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Contrato de transporte aéreo de pessoas. Trechos de
ida e volta adquiridos conjuntamente. Não comparecimento do passageiro para o trecho de ida (no show).
Cancelamento de viagem de volta. Conduta abusiva. DESTAQUE É abusiva a prática comercial consistente no
cancelamento unilateral e automático de um dos trechos da passagem aérea, sob a justificativa de não ter o
passageiro se apresentado para embarque no voo antecedente. INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR A adoção do
cancelamento unilateral de um dos trechos da passagem adquirida por consumidor quando do não comparecimento
no voo de ida é prática tarifária comumente utilizada pelas empresas do ramo de transporte aéreo de passageiros e
parece ter por finalidade exclusiva, ou ao menos primordial, a viabilização da nova comercialização do assento da
aeronave, atendendo a interesses essencialmente comerciais da empresa, promovendo a obtenção de maior de lucro,
a partir da dupla venda. É imperioso que se diga que esse propósito, embora justificável do ponto de vista econômico
e empresarial, não basta para legitimar a adoção de práticas que causem prejuízos à parte vulnerável da relação de
consumo, cuja proteção é imposta pela Constituição Federal e concretizada pelo Código de Defesa do Consumidor.
Considerando as linhas principiológicas do CDC, revela-se abusiva a prática comercial analisada por afrontar direitos
básicos do consumidor, tais como a vedação ao enriquecimento ilícito, a falta de razoabilidade nas sanções impostas e,
ainda, a deficiência na informação sobre os produtos e serviços prestados. De fato, no que respeita ao enriquecimento
ilícito, ele se configura de forma evidente no momento em que o consumidor, ainda que em contratação única e
utilizandose de tarifa promocional, adquire o serviço de transporte materializado em dois bilhetes de embarque
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autônomos e vê-se impedido de fruir um dos serviços que contratou, o voo de volta. Deveras, o cancelamento da
passagem de volta pela empresa aérea significa a frustração da utilização de um serviço pelo qual o consumidor
pagou, a caracterizar, claramente, o cumprimento adequado do contrato por uma das partes e o inadimplemento
desmotivado pela outra. Noutro ponto, constata-se falta de razoabilidade, principalmente no que respeita à aplicação
de penalidades pela empresa aérea, nas hipóteses em que observada não apenas o abusivo cancelamento do voo
subsequente, mas uma sucessão de penalidades para uma mesma falta cometida pelo consumidor. Por seu turno, é
cediço que a ausência de qualquer destaque ou visibilidade, em contrato de adesão, sobre as cláusulas restritivas dos
direitos do consumidor, configura afronta ao princípio da transparência (CDC, art. 4º, caput) - o que resulta a nulidade
da respectiva cláusula contratual, com fundamento no art. 51, inciso XV, do CDC. Conclui-se, desse modo, que a
conduta da companhia de cancelar o bilhete de volta, por não ter sido utilizado pela parte o bilhete de ida, configura
ato ilícito, gerando para o consumidor o direito 82 de ser ressarcido por eventuais danos morais que suportar,
dependendo das circunstâncias de cada caso. (Informativo n. 618)
Questão 49
Existe a possibilidade da cobrança de valores mensais decorrentes da instalação e utilização de equipamentos
adicionais e de pontos extras em contrato de serviço de TV por assinatura, fornecido na residência ou outro local de
escolha do consumidor?
PROCESSO REsp 1.449.289-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Marco Buzzi, por maioria, julgado em
14/11/2017, DJe 13/12/2017 RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Serviços de TV por assinatura.
Ponto extra e aluguel de equipamento adicional. Contratação anterior à Resolução da ANATEL n. 528/2009. Cobrança.
Possibilidade. DESTAQUE É lícita a conduta da prestadora de serviço que em período anterior à Resolução da ANATEL
n. 528, de 17 de abril de 2009, efetuava cobranças pelo aluguel de equipamento adicional e ponto extra de TV por
assinatura. INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR O ponto nodal da controvérsia consiste em definir sobre a possibilidade
da cobrança de valores mensais decorrentes da instalação e utilização de equipamentos adicionais e de pontos extras
em contrato de serviço de TV por assinatura, fornecido na residência ou outro local de escolha do consumidor.
Inicialmente cumpre salientar que até o advento da Resolução da ANATEL n. 488, de 3/12/2007, não se vedava a
cobrança de preço adicional pelos pontos extras, pois sua utilização demanda a disponibilização adicional de
decodificadores pertencentes à fornecedora, em número correspondente ao de pontos extras, salvo nas hipóteses de
o consumidor ter os próprios ou buscá-los perante terceiro (outro fornecedor), às suas próprias expensas. A vedação
somente passou a existir a partir da entrada em vigor da Resolução n. 488 da ANATEL, alterada pela Resolução n. 528,
de 17 de abril de 2009, quando a cobrança pela utilização do ponto extra foi substituída pela cobrança de aluguel do
equipamento conversor/decodificador necessário ao uso de pontos, nos termos do entendimento expresso na Súmula
da ANATEL n. 9, de 19 de março de 2010. Por isso mesmo, o que antes se denominava de "cobrança por ponto
adicional" nada mais era, de fato, do que o que se passou a chamar, mais propriamente, de "cobrança pelo aluguel do
equipamento", isto é, disponibilização do decodificador adicional. Tanto é assim que as sucessivas resoluções sobre o
tema adiaram por muito tempo a aplicação das normas regentes, assegurando maior liberdade na contratação, até
que encontrada uma mais clara forma de regular a prestação dos serviços de telecomunicações noregime privado,
ganhando o consumidor em transparência. Nesses termos, e considerando que, nos serviços de telecomunicações
prestados sob regime privado, a liberdade é a regra (Lei n. 9.472/97, art. 128, I), a imposição de qualquer restrição não
prevista em lei representa interferência indevida. Ademais, caso o consumidor não pretenda pagar o aluguel pelos
aparelhos disponibilizados pela própria fornecedora do serviço de TV por assinatura em razão direta dos pontos
adicionais requeridos, pode optar por comprar ou alugar ou obter em comodato de terceiros os equipamentos
necessários para a decodificação do sinal nos exatos termos da faculdade conferida pela normatização regente.
Contudo, optando o cliente por adquirir o pacote de serviços da própria fornecedora do sinal da TV por assinatura
contratada, ou seja, com a inclusão do conversor/decodificador, plenamente justificável a cobrança de valor adicional
na mensalidade, não havendo falar em abuso. (Informativo n. 617)
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Questão 50
Qual o prazo prescricional a ser adotado para o ajuizamento de ação de indenização por furto de joias utilizadas como
garantia de mútuo em contrato de penhor subscrito com instituição financeira.
83 PROCESSO REsp 1.369.579-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, julgado em 24/10/2017, DJe
23/11/2017 RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL, DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Contrato de mútuo garantido por
penhor de joias subtraídas na constância do contrato. Falha no serviço. Ação de indenização. Prescrição quinquenal.
Art. 27 do CDC. DESTAQUE As pretensões indenizatórias decorrentes do furto de joias, objeto de penhor em instituição
financeira, prescrevem em 5 (cinco) anos, de acordo com o disposto no art. 27 do CDC. INFORMAÇÕES DO INTEIRO
TEOR A controvérsia dos autos consiste na definição do prazo prescricional a ser adotado para o ajuizamento de ação
de indenização por furto de joias utilizadas como garantia de mútuo em contrato de penhor subscrito com instituição
financeira. De início, anota-se, no que diz respeito à natureza da relação existente entre os pactuantes do contrato
analisado, que a orientação pacífica do Superior Tribunal de Justiça reconhece a submissão das instituições financeiras
aos princípios e às regras do Código de Defesa do Consumidor. De fato, no contrato de penhor celebrado com o banco,
é notória a hipossuficiência do consumidor, pois este, necessitando de empréstimo, apenas adere a contrato cujas
cláusulas são inegociáveis, submetendo-se, inclusive, à avaliação unilateral realizada pela instituição financeira. Com
efeito, o referido contrato traz embutido o de depósito do bem e, por conseguinte, o dever do credor pignoratício de
devolver esse bem após o pagamento do mútuo. Foi nesse rumo de ideias que a jurisprudência do STJ assentou que,
quando o credor é banco e o bem dado em garantia fica depositado em cofre, não é possível admitir o furto ou o
roubo como causas excludentes do dever de indenizar, devendo-se considerar esse tipo de evento como um fortuito
interno, inerente à própria atividade, incapaz de afastar, enfim, a responsabilidade do depositário. Há, portanto, nos
casos de roubo de joias objeto de contrato de penhor ligado ao mútuo, falha no serviço prestado pela instituição
financeira, a impor a incidência da norma especial. Com isso, na hipótese em análise deve incidir o prazo de cinco anos
previsto no art. 27 do CDC para a ação de indenização por danos materiais e morais. Isso porque, frise-se, a
indenização requerida não se fundamenta no inadimplemento contratual, nada obstante a base da natureza jurídica
entre as partes seja o contrato regido pela lei consumerista. A guarda do bem penhorado é, sim, obrigação da
instituição financeira, isso não se discute, mas não é prestação contratual stricto sensu. De fato, a contraprestação
devida nos contratos de mútuo garantido por penhor é o pagamento do valor acordado para o empréstimo.
(Informativo n. 616)
Questão 51
É abusiva e ilegal cláusula prevista em contrato de prestação de serviços de cartão de crédito que autoriza o banco
contratante a compartilhar dados dos consumidores com outras entidades financeiras ou mantenedoras de cadastros
positivos e negativos de consumidores, sem que seja dada opção de discordar daquele compartilhamento?
PROCESSO REsp 1.348.532-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, julgado em 10/10/2017, DJe
30/11/2017 RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR, DIREITO BANCÁRIO TEMA Ação civil pública. Cartão de
crédito. Cláusulas abusivas. Compartilhamento de dados pessoais. Necessidade de opção por sua negativa.
Desrespeito aos princípios da transparência e confiança. DESTAQUE É abusiva e ilegal cláusula prevista em contrato de
prestação de serviços de cartão de crédito que autoriza o banco contratante a compartilhar dados dos consumidores
com outras entidades financeiras ou mantenedoras de cadastros positivos e negativos de consumidores, sem que seja
dada opção de discordar daquele compartilhamento. 84 INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR Inicialmente, cabe registrar
que a Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça editou a Portaria n. 5, de 28/8/2002, ampliando o
leque de cláusulas abusivas constante no art. 51 do Código do Consumidor, passando a considerar abusiva, nos termos
de seu art. 1º, nos contratos de fornecimento de produtos e serviços, a cláusula que: I - autorize o envio do nome do
consumidor, e/ou seus garantes, a bancos de dados e cadastros de consumidores, sem comprovada notificação prévia;
II - imponha ao consumidor, nos contratos de adesão, a obrigação de manifestar-se contra a transferência, onerosa ou
não, para terceiros, dos dados cadastrais confiados ao fornecedor. Por oportuno, merece destaque, também, a "Nota"
tirada do sítio eletrônico do Banco Central do Brasil, acerca do Sistema de Informações de Créditos (SCR), que informa
que a Lei Complementar 105/2001, que dispõe sobre o sigilo das operações de instituições financeiras, em seu art. 1º,
40
§ 3º, determina que somente não constituirá violação do dever de sigilo a troca de informações entre instituições
financeiras, para fins cadastrais, inclusive por intermédio de centrais de risco, quando observadas as normas baixadas
pelo Conselho Monetário Nacional e pelo Banco Central do Brasil. E complementa: "...o CMN, por sua vez, por meio da
Resolução 3.658/2008, dispõe que as instituições financeiras poderão consultar as informações consolidadas por
cliente constantes do sistema, desde que obtida autorização específica do cliente para essa finalidade. Em realidade,
depende de o tomador de crédito permitir ou não o compartilhamento de dados. Sem a autorização do cliente,
nenhuma instituição financeira pode acessar seus dados no sistema. O SCR preserva a privacidade do cliente, pois
exige que a instituição financeira possua autorização expressa do cliente para consultar as informações que lhe dizem
respeito”. Por fim, a Lei n. 12.414/2011, dispõe que o compartilhamento de informação de adimplemento só é
permitido se autorizado expressamente pelo cadastrado, por meio de assinatura em instrumento específico ou em
cláusula apartada. Assim, é possível concluir que a cláusula posta em contrato de serviço de cartão de crédito que não
possibilite ao consumidor a opção de discordar do compartilhamento de dados é abusiva por deixar de atender a dois
princípios importantes da relação de consumo: transparência e confiança. (Informativo n. 616).
Questão 52
O Banco do Brasil, na condição de gestor do Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF), tem a
responsabilidade de notificar previamente o devedor acerca da sua inscrição no aludido cadastro, tampouco
legitimidade passiva para as ações de reparação dedanos fundadas na ausência de prévia comunicação?
Resposta:
SÚMULA N. 572 O Banco do Brasil, na condição de gestor do Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF),
não tem a responsabilidade de notificar previamente o devedor acerca da sua inscrição no aludido cadastro, tampouco
legitimidade passiva para as ações de reparação de danos fundadas na ausência de prévia comunicação. Segunda
Seção, julgado em 11/5/2016, DJe 16/5/2016 (Informativo n. 583).
Questão 53
O companheiro faz jus à cobertura de cláusula de remissão por morte de titular de plano de saúde na hipótese em que
a referida disposição contratual faça referência a cônjuge, sendo omissa quanto a companheiro?
DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. EQUIPARAÇÃO DE COMPANHEIRO A CÔNJUGE PARA FINS DE COBERTURA DE
CLÁUSULA DE REMISSÃO DE PLANO DE SAÚDE. O companheiro faz jus à cobertura de cláusula de remissão por morte
de titular de plano de saúde na hipótese em que a referida disposição contratual faça referência a cônjuge, sendo
omissa quanto a companheiro. De início, impende asseverar que a cláusula de remissão, pactuada em alguns planos
de saúde, consiste em uma garantia de continuidade da prestação dos serviços de saúde suplementar aos
dependentes inscritos após a morte do titular, por lapso que varia de 1 a 5 anos, sem a cobrança de mensalidades.
Objetiva, portanto, a proteção do núcleo familiar do titular falecido, que dele dependia economicamente, ao ser
assegurada, por certo período, a assistência médica e hospitalar, a evitar o desamparo abrupto. Diante disso, embora
a cláusula de remissão de plano de saúde se refira a cônjuge como dependente, sendo omissa quanto à figura do
companheiro, não deve haver distinção sobre esse direito, diante da semelhança de papéis e do reconhecimento da
união estável como entidade familiar, promovido pela própria CF (art. 226, § 3º). Nesse sentido, o STJ já 189
reconheceu a possibilidade de inclusão de companheiro como dependente em plano de assistência médica, mesmo
em hipóteses mais singulares, como a união entre dois homens ou duas mulheres (AgRg no Ag 971.466-SP, Terceira
Turma, DJe 5/11/2008). Desse modo, havendo a equiparação de companheiro e de cônjuge para fins de qualificação
como dependente em plano de saúde, deve ser estendido ao companheiro o direito à cobertura adicional de remissão
por morte. REsp 1.457.254-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/4/2016, DJe 18/4/2016 (Informativo
n. 581).
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Questão 54
Após o transcurso do período previsto em cláusula de remissão por morte de titular de plano de saúde, o dependente
já inscrito pode assumir, nos mesmos moldes e custos avençados, a titularidade do plano?
Terceira Turma DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. POSSIBILIDADE DE O DEPENDENTE ASSUMIR A TITULARIDADE DE
PLANO DE SAÚDE APÓS O PERÍODO DE REMISSÃO. Após o transcurso do período previsto em cláusula de remissão por
morte de titular de plano de saúde, o dependente já inscrito pode assumir, nos mesmos moldes e custos avençados, a
titularidade do plano. De início, impende asseverar que a cláusula de remissão, pactuada em alguns planos de saúde,
consiste em uma garantia de continuidade da prestação dos serviços de saúde suplementar aos dependentes inscritos
após a morte do titular, por lapso que varia de 1 a 5 anos, sem a cobrança de mensalidades. Objetiva, portanto, a
proteção do núcleo familiar do titular falecido, que dele dependia economicamente, ao ser assegurada, por certo
período, a assistência médica e hospitalar, a evitar o desamparo abrupto. Nesse contexto, no tocante à transferência
de titularidade do plano de saúde após o término do período de remissão, cumpre ressaltar que a Agência Nacional de
Saúde Suplementar – ANS editou a Súmula Normativa n. 13/2010, pontificando que “o término da remissão não
extingue o contrato de plano familiar, sendo assegurado aos dependentes já inscritos o direito à manutenção das
mesmas condições contratuais, com a assunção das obrigações decorrentes, para os contratos firmados a qualquer
tempo”. Essa orientação foi fundada especialmente nos princípios constitucionais da igualdade, da dignidade da
pessoa humana, da liberdade, da proteção da segurança jurídica e da proteção à entidade familiar, conjugados com o
previsto no art. 3º, § 1º, da Resolução Normativa n. 195/2009 da ANS, com o fim de evitar o desamparo dos
dependentes inscritos do titular falecido quanto à assistência médica e hospitalar. Assim, deve ser assegurado a
dependente o direito de assumir a posição de titular de plano de saúde – saindo da condição de dependente inscrito –
desde que arque com as obrigações decorrentes e sejam mantidas as mesmas condições contratuais, em virtude da
ausência de extinção da avença, não sendo empecilho, para tanto, o gozo do período de remissão. REsp 1.457.254-SP,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/4/2016, DJe 18/4/2016 (Informativo n. 581).
Questão 55
Em contrato de plano de assistência à saúde, é abusiva a cláusula que preveja o indeferimento de quaisquer
procedimentos médico-hospitalares quando solicitados por médicos não cooperados?
DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. ABUSIVIDADE DE CLÁUSULA QUE AUTORIZA PLANO DE SAÚDE A INDEFERIR
PROCEDIMENTOS MÉDICO-HOSPITALARES. Em contrato de plano de assistência à saúde, é abusiva a cláusula que
preveja o indeferimento de quaisquer procedimentos médico-hospitalares quando solicitados por médicos não
cooperados. O contrato de plano de saúde, além da nítida relação jurídica patrimonial que, por meio dele, se
estabelece, reverbera também caráter existencial, intrinsecamente ligado à tutela do direito fundamental à saúde do
usuário, o que coloca tal espécie contratual em uma perspectiva de grande relevância no sistema jurídico pátrio. No
âmbito da legislação, a Lei n. 9.656/1998 – a qual versa sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde –
preconiza, logo no art. 1º, I, o seu escopo. É com clareza meridiana que se infere da legislação de regência a
preponderância do zelo ao bem-estar do usuário em face do viés econômico da relação contratual. Até porque não se
pode olvidar que há, nesse contexto, uma atenta e imperativa análise dos ditames constitucionais, que, por força
hierárquica, estabelecem o direto à saúde como congênito. Assim está previsto na CF, especificamente em seu art.
196. Consoante doutrina a respeito do tema, conquanto a Carta da República se refira, por excelência, ao Poder
Público, sabe-se que a eficácia do direito fundamental à saúde ultrapassa o âmbito das relações travadas entre Estado
e cidadãos – eficácia vertical –, para abarcar as relações jurídicas firmadas entre os cidadãos, limitando a autonomia
das partes, com o intuito de se obter a máxima concretização do aspecto existencial, sem, contudo, eliminar os
interesses materiais. Suscita-se, pois, a eficácia horizontal do direito fundamental à saúde, visualizando a incidência
direta e imediata desse direito nos contratos de plano de saúde. Todavia, o que se nota, muitas vezes, no âmbito
privado, é a colisão dos interesses das partes, ficando, de um lado, as operadoras do plano de saúde – de caráter
eminentemente patrimonial – e, de outro, os usuários – com olhar voltado para sua subsistência. Assim, para dirimir
os conflitos existentes no decorrer da execução contratual, há que se buscar, nesses casos, o diálogo das fontes, que
permite a aplicação simultânea e complementar de normas distintas. Por isso, é salutar, nos contratos de plano de
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saúde, condensar a legislação especial (Lei n. 9.656/1998), especialmente com o CDC, pois, segundo o entendimento
doutrinário, esse contrato configura-se como um “contrato cativo e de longa duração, a envolver por muitos anos um
fornecedore um consumidor, com uma finalidade em comum, que é assegurar para o usuário o tratamento e ajudá-lo
a suportar os riscos futuros envolvendo a sua saúde”. Assim, diante da concepção social do contrato, aquele que
declara algo referente ao negócio que está prestes a concluir deve responder pela confiança que a outra parte nele
depositou ao contratar. Isso porque o direito dos contratos assume a função de realizar a equitativa distribuição de
direitos e deveres entre os contratantes, buscando atingir a justiça contratual, a qual se perfectibiliza, pois, na exata
equivalência das prestações ou sacrifícios suportados pelas partes, bem como na proteção da confiança e da boa-fé de
ambos os contratantes. Embora seja conduta embasada em cláusulas contratuais, nota-se que as 193 práticas
realizadas pela operadora do plano de saúde, sobretudo negar as solicitações feitas por médicos não cooperados,
mostram-se contrárias ao permitido pela legislação consumerista. Naquela situação em que o usuário busca o médico
de sua confiança, mas realiza os exames por ele solicitados em instalações da rede credenciada, não há prejuízo
nenhum para a cooperativa, haja vista que o valor da consulta foi arcado exclusivamente pelo usuário, sem pedido de
reembolso. Indeferir a solicitação de qualquer procedimento hospitalar requerido por médico não cooperado estaria
afetando não mais o princípio do equilíbrio contratual, mas o da boa-fé objetiva. De fato, exames, internações e
demais procedimentos hospitalares não podem ser obstados aos usuários cooperados exclusivamente pelo fato de
terem sido solicitados por médico diverso daqueles que compõem o quadro da operadora, pois isso configura não
apenas discriminação do galeno, mas também tolhe tanto o direito de usufruir do plano contratado como a liberdade
de escolher o profissional que lhe aprouver. Com isso, não resta dúvida da desproporcionalidade da cláusula
contratual que prevê o indeferimento de quaisquer procedimentos médico-hospitalares se estes forem solicitados por
médicos não cooperados, devendo ser reconhecida como cláusula abusiva. A nulidade dessas cláusulas encontra
previsão expressa no art. 51, IV, do CDC. Por fim, convém analisar conjuntamente o art. 2º, VI, da Res. n. 8/1998 do
Conselho de Saúde Suplementar (“Art. 2° Para adoção de práticas referentes à regulação de demanda da utilização dos
serviços de saúde, estão vedados: [...] VI - negar autorização para realização do procedimento exclusivamente em
razão do profissional solicitante não pertencer à rede própria ou credenciada da operadora”) com o art. 1º, II, da Lei n.
9.656/1998 (“Art. 1º Submetem-se às disposições desta Lei as pessoas jurídicas de direito privado que operam planos
de assistência à saúde, sem prejuízo do cumprimento da legislação específica que rege a sua atividade, adotando-se,
para fins de aplicação das normas aqui estabelecidas, as seguintes definições: [...] II - Operadora de Plano de
Assistência à Saúde: pessoa jurídica constituída sob a modalidade de sociedade civil ou comercial, cooperativa, ou
entidade de autogestão, que opere produto, serviço ou contrato de que trata o inciso I deste artigo”). Com efeito, é
explícita a previsão legislativa que considera defeso a negativa de autorização para a realização de procedimentos
exclusivamente em razão de o médico solicitante não pertencer à rede da operadora. Apesar de ter sido suprimido o
trecho do referido art. 2º, que mencionava a palavra “cooperada” ao se referir à rede de atendimentos, ainda assim
permanece o óbice dessa prática, haja vista que o legislador ordinário se utilizou de expressão mais ampla, mantendo
a inclusão, nos termos do art. 1º, II, da Lei n. 9.656/1998, da cooperativa. REsp 1.330.919-MT, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 2/8/2016, DJe 18/8/2016 (Informativo n. 588).
Questão 56
É abusiva a cláusula prevista em contrato de adesão que impõe ao consumidor em mora a obrigação de pagar
honorários advocatícios decorrentes de cobrança extrajudicial?
DIREITO DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIZAÇÃO DE CONSUMIDOR POR PAGAMENTO DE HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS EXTRAJUDICIAIS. Não é abusiva a cláusula prevista em contrato de adesão que impõe ao consumidor
em mora a obrigação de pagar honorários advocatícios decorrentes de cobrança extrajudicial. A cobrança, em favor do
credor, de honorários advocatícios extrajudiciais é prática muito comum e, em nada, mostra-se abusiva. Isso porque,
além de não causar prejuízo indevido para o devedor em atraso e representar importante segmento no mercado de
trabalho dos advogados, ela tem apoio nas normas dos arts. 389, 395 e 404 do CC, as quais atribuem ao devedor a
responsabilidade pelas despesas e prejuízos causados em razão de sua mora ou inadimplemento, neles incluindo
expressamente os honorários advocatícios. Portanto, não há dúvidas acerca da responsabilidade do devedor
inadimplente pelos honorários advocatícios do profissional contratado pelo credor para a cobrança extrajudicial de
43
débito em atraso, obrigação essa que decorre da lei, e independe, pois, de previsão contratual. Estabelecido isso, tem-
se que, no caso de existir cláusula expressa em contrato de adesão acerca da incidência de honorários advocatícios
extrajudiciais na hipótese de cobrança de consumidor em mora, é necessário compatibilizar as referidas disposições da
legislação civil com o disposto no art. 51, XII, do CDC (“Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas
contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: [...] XII – obriguem o consumidor a ressarcir os
custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor”), de modo a
assegurar ao consumidor, independentemente de previsão contratual, o mesmo direito a cobrança de honorários
advocatícios extrajudiciais conferido ao credor. De fato, o efeito direto do descumprimento da obrigação, que no caso
se caracteriza pela mora, é o dever de reparar integralmente o prejuízo injustamente causado ao credor. Ademais,
afasta-se o argumento de que os honorários 197 decorrentes de cobrança extrajudicial, embora integrando as verbas
indenizáveis ope legis, só podem ser reavidos pelo credor mediante procedimento judicial próprio, porquanto essa
exigência iria na contramão do contexto moderno em que se pretende desafogar o Judiciário. Por fim, havendo
expressa previsão contratual, não se pode afirmar que a cobrança de honorários advocatícios extrajudiciais em caso de
mora ou inadimplemento, ainda que em contrato de adesão, seja indevida. REsp 1.002.445-DF, Rel. originário Min.
Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Raul Araújo, julgado em 26/8/2015, DJe 14/12/2015 (Informativo n. 574).
Questão 57
O Código de Defesa do Consumidor é aplicável aos empreendimentos habitacionais promovidos pelas sociedades
cooperativas?
SÚMULA N. 602 O Código de Defesa do Consumidor é aplicável aos empreendimentos habitacionais promovidos pelas
sociedades cooperativas. Segunda Seção, aprovada em 22/2/2018, DJe 26/2/2018. (Informativo n. 618).
Questão 58
É válida a rescisão unilateral imotivada de plano de saúde coletivo empresarial por parte da operadora em face de
microempresa com apenas dois beneficiários.
Resposta:
Informativo 621
PROCESSO REsp 1.701.600-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 06/03/2018, DJe
09/03/2018
RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL
TEMA Plano de saúde coletivo. Empresário individual. Ausência de população vinculada à pessoa
jurídica. Dois beneficiários. Rescisão unilateral e imotivada. Invalidade.
DESTAQUE
Não é válida a rescisão unilateral imotivada de plano de saúde coletivo empresarial por parte da operadora em face de
microempresa com apenas dois beneficiários.INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
Na hipótese, decorridos cerca de 20 anos de relação contratual com operadora de plano de saúde, uma microempresa
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individual foi notificada da rescisão do contrato coletivo de plano de saúde, com a alternativa de migração para um
novo plano, cuja contraprestação pecuniária para os dois únicos beneficiários do plano passaria do dobro do valor
pago habitualmente. Em razão da rescisão unilateral e imotivada, um dos beneficiários teve interrompido o
tratamento de doença. Nesse contexto, cinge-se a controvérsia a analisar a validade dessa rescisão unilateral
imotivada. De início, verifica-se que as normas que regem os planos privados de assistência à saúde estabelecem os
tratamentos distintos entre os planos coletivos (empresarial ou por adesão) e individuais/familiares. Enquanto que
para os planos coletivos há expressa autorização para a operadora do plano de saúde rescindir unilateral e
imotivadamente o contrato coletivo obedecidos alguns requisitos, o art. 13, parágrafo único, inciso II da LPS prevê para
os planos privados vedação da "suspensão ou a rescisão unilateral do contrato, salvo por fraude ou não-pagamento da
mensalidade por período superior a sessenta dias, consecutivos ou não, nos últimos doze meses de vigência do
contrato, desde que o consumidor seja comprovadamente notificado até o qüinquagésimo dia de inadimplência". No
entanto, para a solução da controvérsia dos autos não transparece suficiente a mera subsunção do fato à norma em
raciocínio desprovido de ponderação das reais necessidades prático-normativas em matéria de planos privados de
assistência à saúde. Nesse caminho, é imperioso destacar que toda construção da Lei dos Planos de Saúde, bem como
a própria estruturação do conceito dos planos coletivos e individuais delineada na RN ANS 195/09 estão voltadas para
o elemento central acerca da população vinculada a uma pessoa jurídica, seja por vínculo empregatício/estatutário,
seja por vínculo profissional, classista ou setorial. Ora, a contratação por uma microempresa de plano de saúde em
favor de dois únicos beneficiários não atinge o escopo da norma que regula os contratos coletivos, justamente por
faltar o elemento essencial de uma população de beneficiários. Nesse contexto, o problema que a norma prevista no
art. 13, parágrafo único, II, da LPS pretende resolver é justamente a situação de hipossuficiência do elo mais frágil da
relação que não tem condições de participar efetivamente das obrigações decorrentes do contrato de assistência à
saúde. O problema da hipótese concreta, por sua vez, ilustra perfeitamente a situação de um casal que em delicado
momento da vida se encontra desguarnecido de proteção, ante a conduta desmotivada e unilateral da operadora que
rescinde o contrato de plano de saúde. Este confronto entre problemas, da espécie à norma, revela um tratamento de
matriz analógica adequado à oferecer solução específica. Vale dizer, a rescisão unilateral e imotivada, da forma como
se deu no caso, surge como abuso de direito. A resposta à situação de abuso encontra-se na aplicação excepcional da
proteção conferida aos planos de saúde individuais, pois de acordo com as concretas peculiaridades da hipótese em
julgamento, a contratação ocorreu na modalidade familiar e não coletiva, como formalmente aparece.
Questão 59
O suicídio pode ser coberto nos dois primeiros anos de vigência do contrato de seguro de vida?
SÚMULA N. 610
O suicídio não é coberto nos dois primeiros anos de vigência do contrato de seguro de vida, ressalvado o direito do
beneficiário à devolução do montante da reserva técnica formada. Segunda Seção, aprovada em 25/04/2018, DJe
07/05/2018.
Questão 60
É devida a indenização securitária quando ausente a comunicação prévia do segurado acerca do atraso no pagamento
do prêmio?
SÚMULA N. 616
A indenização securitária é devida quando ausente a comunicação prévia do segurado acerca do atraso no pagamento
do prêmio, por constituir requisito essencial para a suspensão ou resolução do contrato de seguro. Segunda Seção,
julgado em 23/05/2018, DJe 28/05/2018.
Questão 61
João conduzia seu veículo e após ter bebido uma garrafa de vinho se envolveu em acidente automobilístico. A
seguradora negou o prêmio, haja vista, a evidência do estado de embriagues. A atitude da CIA está correta?
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Resposta:
Informativo 625
PROCESSO EREsp 973.725-SP, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado Do TRF 5ª Região),
por unanimidade, julgado em 25/04/2018, DJe 02/05/2018
RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL
TEMA Seguro de vida. Acidente de trânsito. Embriaguez do segurado. Exclusão de cobertura. Vedação.
DESTAQUE
É vedada a exclusão de cobertura de seguro de vida em razão da embriaguez do segurado.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
A Segunda Seção do STJ, em apreciação aos embargos de divergência, pacificou o entendimento que encontrava
dissonância no âmbito das Turmas responsáveis pelas matérias relativas a Direito Privado, acerca do direito, ou não, de
os beneficiários de seguro de vida receberem a respectiva indenização securitária quando constatado que o segurado
estava embriagado na ocasião do acidente automobilístico que o levou a óbito. Sobre o tema, o Código Civil de 1916,
vigente à época dos fatos, disciplinando o seguro de pessoas, estabeleceu em seu artigo 1.440 que "a vida e as
faculdades humanas também se podem estimar como objeto segurável, e segurar, no valor ajustado, contra os riscos
possíveis, como o de morte involuntária, inabilitação para trabalhar, ou outros semelhantes". Cabe salientar que, no
âmbito de contrato de seguro de veículos, é aceitável que se presuma, cabendo prova em contrário, que a condução
de veículos por motorista que se encontre sob os efeitos de bebida alcoólica configura agravamento do risco
contratado, podendo ocasionar, casuísticamente, a exclusão da cobertura securitária que incide sobre a coisa. Todavia,
não obstante as diferenças existentes nas espécies de seguro, no âmbito das Turmas que compõem a Segunda Seção
desta Corte, a questão, na generalidade dos casos, recebeu uniforme solução, tanto na hipótese de seguro de vida
quanto no de automóveis, no sentido de que é possível a exclusão da cobertura securitária, a depender da
comprovação do aumento decisivo do risco, não bastando, por si só, a situação de embriaguez do condutor segurado.
Embora o estado mental do segurado possa ter sido decisivo para a ocorrência do sinistro, a doutrina entende que é
"da essência do seguro de vida para o caso de morte um permanente e contínuo agravamento do risco segurado".
Desse modo, a jurisprudência da Segunda Seção deste Tribunal se uniformiza, adotando o entendimento de que, nos
seguros de pessoas, é vedada a exclusão de cobertura na hipótese de sinistros ou acidentes decorrentes de atos
praticados pelo segurado em estado de insanidade mental, de alcoolismo ou sob efeito de substâncias tóxicas.
Questão 62
É possível a limitação, por legislação internacional espacial, do direito do passageiro à indenização por danos materiais
decorrentes de extravio de bagagem?
Resposta
Informativo 626
TERCEIRA TURMA
46
PROCESSO REsp 673.048-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, por unanimidade, julgado em 08/05/2018,
DJe 18/05/2018
RAMO DO DIREITO DIREITO CONSTITUCIONAL, DIREITO DO CONSUMIDOR, DIREITO INTERNACIONAL
TEMA Juízo de retratação. Ação indenizatória. Extravio de bagagem. Responsabilidade das
transportadoras aéreas de passageiros. Indenização tarifada. Preponderância das Convenções
de Varsóvia e Montreal em relação ao Código de Defesa do Consumidor.
DESTAQUE
Em adequação ao entendimento do Supremo Tribunal Federal, é possível a limitação, por legislação internacional
espacial, do direito do passageiro à indenização por danos materiais decorrentesde extravio de bagagem.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, em juízo de retratação (art. 1.040, II, do CPC/2015), reformou
decisão antes proferida, tendo em vista que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 636.331-RJ, Rel. Min.
Gilmar Mendes, DJe 13/11/2017, firmou compreensão de que "nos termos do art. 178 da Constituição da República, as
normas e os tratados internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros,
especialmente as Convenções de Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao Código de Defesa do
Consumidor". Constata-se, portanto, que a antinomia aparente se estabelecia entre o art. 14 do Código de Defesa do
Consumidor, o qual impõe ao fornecedor do serviço o dever de reparar os danos causados, e o disposto no art. 22 da
Convenção de Varsóvia, introduzida no direito pátrio pelo Decreto 20.704, de 24/12/1931, que preestabelece limite
máximo para o valor devido pelo transportador, a título de reparação pelos danos materiais.
Questão 63
O Município tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos consumeristas
questionando a cobrança de tarifas bancárias?
Informativo 626
PROCESSO REsp 1.509.586-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 15/05/2018, DJe
18/05/2018
RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL
TEMA Ação civil pública. Cobrança de tarifa de renovação de cadastro bancário. Interesses Individuais
Homogêneos. Município. Legitimidade ativa. Pertinência temática e representação adequada
presumidas.
DESTAQUE
Município tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos consumeristas
questionando a cobrança de tarifas bancárias.
47
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
Inicialmente cumpre salientar que os entes federativos ou políticos, enquanto gestores da coisa pública e do bem
comum, são, em tese, os maiores interessados na defesa dos interesses metaindividuais, haja vista que, conforme
leciona a doutrina, "o Estado é a ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em um
determinado território". Trata-se, em verdade, de dever-poder, decorrente da supremacia do interesse público sobre o
privado e da indisponibilidade do interesse público, a impor aos entes políticos o dever de agir na defesa de interesses
metaindividuais, por serem seus poderes irrenunciáveis e destinados à satisfação dos interesses públicos. Ademais, a
legitimação dos entes políticos para a defesa de interesses metaindividuais é justificada pela qualidade de sua
estrutura, capaz de conferir maior probabilidade de êxito na implementação da tutela coletiva, bem como não se
questiona sua pertinência temática ou representatividade adequada, por serem presumidas. Deste modo, no que se
refere especificamente à defesa de interesses individuais homogêneos dos consumidores, o Município é o ente político
que terá maior contato com as eventuais lesões cometidas contra esses interesses, pois, conforme afirma a doutrina,
"será no Município que esses fatos ensejadores da ação civil pública se farão sentir com maior intensidade [...] em face
da proximidade, da imediatidade entre ele e seus munícipes".
Questão 64
O falecimento do consignante extingue a dívida decorrente de contrato de crédito consignado em folha de
pagamento?
Resposta:
Informativo 627
TERCEIRA TURMA
PROCESSO REsp 1.498.200-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 05/06/2018, DJe
07/06/2018
RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL
TEMA Contrato de crédito consignado em folha de pagamento. Falecimento de consignante. Extinção
da dívida. Ausência de previsão legal. Art. 16 da Lei n. 1.046/1950. Revogação tácita.
DESTAQUE
O falecimento do consignante não extingue a dívida decorrente de contrato de crédito consignado em folha de
pagamento.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
A Lei n. 1.046/1950 dispõe sobre a consignação em folha de pagamento dos servidores públicos civis e militares e
prevê em seu art. 16, que, ocorrido o falecimento do consignante, ficará extinta a dívida. Por sua vez, a Lei n.
10.820/2003 também dispõe sobre a autorização para desconto de prestações em folha de pagamento, mas não
tratou da hipótese de morte do consignante. Todavia, infere-se que a Lei n. 10.820/2003 não declarou, expressamente,
revogada a Lei n. 1.046/1950. Desse modo, faz-se então necessário analisar se houve a sua revogação tácita, total ou
parcial. O STJ orienta que, "após a edição da Lei n 8.112/1990, encontra-se revogada, no âmbito das entidades e dos
servidores sujeitos ao seu regime, a disciplina de consignação em folha de pagamento disposta pelas Leis n.
1.046/1950 e 2.339/1954". Configura-se, pois, a ab-rogação tácita ou indireta da Lei n. 1.046/1950, na medida em que
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a Lei n. 8.112/1990 tratou, inteiramente, da matéria contida naquela, afastando, em consequência, a sua vigência no
ordenamento jurídico. Por sua vez, a Lei n. 10.820/2003 regula a consignação em folha de pagamento dos empregados
regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT e dos titulares de benefícios de aposentadoria e pensão do
Regime Geral de Previdência Social. Daí se extrai claramente que a Lei n. 10.820/2003 não se aplica à consignação em
folha de pagamento de servidores públicos civis, mesmo porque tal hipótese é integralmente regida pelo art. 45 da Lei
n. 8.112/1990. Logo, é equivocado o entendimento de que a Lei n. 10.820/2003 revogou a Lei n. 1.046/1950, na
medida em que ambas versam sobre situações absolutamente distintas. No entanto, conclui-se que, assim como na Lei
n. 8.112/1990, não há na Lei n. 10.820/2003 a previsão de que a morte do consignante extinga a dívida por ele
contraída.
Questão 65
A empresa de transporte aéreo XYZ cancelou o voo contratado, não sendo disponibilizado, ainda, a possibilidade de
realocação dos passageiros em outro voo. Em substituição, disponibilizou transporte por via terrestre, mediante
ônibus fretado, cujo percurso durou mais de 14h (quatorze horas). No curso da viagem um passageiro foi roubado e
agredido por meliantes. Diante desse quadro, poderia o fornecedor esquivar-se de responsabilidade ao argumento de
fortuito externo?
Resposta:
Informativo 627
PROCESSO REsp 1.728.068-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, por unanimidade, julgado em 05/06/2018,
DJe 08/06/2018
RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL
TEMA Responsabilidade civil. Cancelamento de voo. Substituição por transporte via terrestre (ônibus).
Roubo de passageiros durante o trajeto. Fortuito externo. Ausência. Culpa concorrente da
transportadora. Alteração substancial e unilateral do contrato.
DESTAQUE
A alteração substancial e unilateral do contrato firmado de transporte aéreo para terrestre impede a utilização da
excludente de fortuito externo para eximir a empresa de transporte aéreo da responsabilidade civil por danos
causados por roubo ao ônibus.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
Discute-se, no caso em tela, a responsabilidade civil de empresa de transporte aéreo que cancelou o voo contratado,
não sendo disponibilizado, ainda, a possibilidade de realocação dos passageiros em outro voo, mas, sim, apenas em via
terrestre, mediante ônibus fretado, cujo percurso durou mais de 14h (quatorze horas), ocasião em que o passageiro foi
roubado e agredido por meliantes. No que concerne ao transporte de pessoas, o art. 734 do Código Civil estabelece a
responsabilidade civil objetiva do transportador, o qual deverá responder pelos danos causados às pessoas
transportadas e suas bagagens, salvo a existência de alguma excludente de responsabilidade, como motivo de força
maior, caso fortuito, culpa exclusiva da vítima ou de terceiro. Em relação ao fato de terceiro, todavia, a teor do que
dispõe o art. 735do Código Civil, a responsabilidade só será excluída se ficar comprovado que a conduta danosa era
completamente independente em relação à atividade de transporte e aos riscos inerentes à sua exploração,
caracterizando-se, nesse caso, como fortuito externo. Nessa linha de entendimento, a jurisprudência do STJ reconhece
49
que o roubo dentro de ônibus configura hipótese de fortuito externo, por se tratar de fato de terceiro inteiramente
independente ao transporte em si, afastando-se, com isso, a responsabilidade da empresa transportadora por danos
causados aos passageiros. Não obstante essa seja a regra, o caso em análise guarda peculiaridade que comporta
solução diversa. Com efeito, a alteração substancial e unilateral do contrato firmado – de transporte aéreo para
terrestre –, acabou criando uma situação favorável à ação de terceiros (roubo), pois o transporte rodoviário é
sabidamente muito mais suscetível de ocorrer crimes dessa natureza, ao contrário do transporte aéreo. Dessa forma, a
conduta da transportadora concorreu para o evento danoso, pois ampliou significativamente o risco de ocorrência
desse tipo de situação, não podendo, agora, se valer da excludente do fortuito externo para se eximir da
responsabilidade.
Questão 66
A concessionária de transporte ferroviário pode responder por dano moral sofrido por passageira, vítima de assédio
sexual, praticado por outro usuário no interior do trem?
Resposta:
Informativo 628
PROCESSO REsp 1.662.551-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, por maioria, julgado em 15/05/2018, DJe
25/06/2018
RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL
TEMA Responsabilidade civil da transportadora. Ato libidinoso praticado contra passageira no interior
de trem. Dano moral configurado. Fortuito interno. Conexidade com a atividade de transporte
de pessoas.
DESTAQUE
A concessionária de transporte ferroviário pode responder por dano moral sofrido por passageira, vítima de assédio
sexual, praticado por outro usuário no interior do trem.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
De início, registre-se que o Supremo Tribunal Federal, em julgamento de recurso extraordinário representativo da
controvérsia, determinou que a pessoa jurídica de direito privado, prestadora de serviço público, ostenta
responsabilidade objetiva em relação a terceiros usuários ou não usuários do serviço público, nos termos do artigo 37,
§ 6º, da Constituição da República de 1988 (RE 591.874/MS, publicado no DJe de 21/11/2008). Em reforço à
responsabilidade objetiva do transportador, não se pode olvidar que a legislação consumerista receitua que o
fornecedor de serviços responde pela reparação dos danos causados, independentemente da existência de culpa,
50
decorrente dos defeitos relativos à prestação destes serviços, nos termos do art. 14, §§ 1º e 3º, do CDC. Ademais, a
cláusula de incolumidade é ínsita ao contrato de transporte, implicando obrigação de resultado do transportador,
consistente em levar o passageiro com conforto e segurança ao seu destino, salvo se demonstrada causa de exclusão
do nexo de causalidade, notadamente o caso fortuito, a força maior ou a culpa exclusiva da vítima ou de terceiro. O
fato de terceiro, conforme se apresente, pode ou não romper o nexo de causalidade. Exclui-se a responsabilidade do
transportador quando a conduta praticada por terceiro, sendo causa única do evento danoso, não guarda relação com
a organização do negócio e os riscos da atividade de transporte, equiparando-se a fortuito externo. De outro turno, a
culpa de terceiro não é apta a romper o nexo causal quando se mostra conexa à atividade econômica e aos riscos
inerentes à sua exploração, caracterizando fortuito interno. Por envolver, necessariamente, uma grande aglomeração
de pessoas em um mesmo espaço físico, aliados à baixa qualidade do serviço prestado, incluído a pouca quantidade de
vagões ou ônibus postos à disposição do público, a prestação do serviço de transporte de passageiros vem propiciando
a ocorrência de eventos de assédio sexual. Em outros termos, mais que um simples cenário ou ocasião, o transporte
público tem concorrido para a causa dos eventos de assédio sexual. Em tal contexto, a ocorrência desses fatos acaba
sendo arrastada para o bojo da prestação do serviço de transporte público, tornando-se assim mais um risco da
atividade, a qual todos os passageiros, mas especialmente as mulheres, tornam-se vítimas. Conclui-se que, se a
ocorrência do assédio sexual guardar conexidade com os serviços prestados pela concessionária e, tratando-se de
fortuito interno, a transportadora de passageiros permanece objetivamente responsável pelos danos causados.
Questão 67
É possível determinar o rompimento do vínculo estabelecido por provedores de aplicação de busca na internet entre o
nome de prejudicado, utilizado como critério exclusivo de busca, e a notícia apontada nos resultados?
Resposta: Informativo 628
PROCESSO REsp 1.660.168-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, por maioria,
julgado em 08/05/2018, DJe 05/06/2018
RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL, DIREITO DO CONSUMIDOR
TEMA Ação de obrigação de fazer. Provedor de aplicação de pesquisa na internet. Proteção a dados
pessoais. Desvinculação entre nome e resultado de pesquisa. Direito ao esquecimento.
Possibilidade.
DESTAQUE
É possível determinar o rompimento do vínculo estabelecido por provedores de aplicação de busca na internet entre o
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nome de prejudicado, utilizado como critério exclusivo de busca, e a notícia apontada nos resultados.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
No caso, pleiteia-se a desindexação do nome da recorrente, em resultados nas aplicações de busca na internet, de
notícia sobre fraude em concurso público, no qual havia sido reprovada. Atualmente, o fato referido já conta com mais
de uma década, e ainda hoje os resultados de busca apontam como mais relevantes as notícias a ela relacionadas,
como se, ao longo desta década, não houvesse nenhum desdobramento da notícia nem fatos novos relacionados ao
nome da autora. Quanto ao assunto, a jurisprudência desta Corte Superior tem entendimento reiterado no sentido de
afastar a responsabilidade de buscadores da internet pelos resultados de busca apresentados, reconhecendo a
impossibilidade de lhe atribuir a função de censor e impondo ao prejudicado o direcionamento de sua pretensão
contra os provedores de conteúdo, responsáveis pela disponibilização do conteúdo indevido na internet. Há, todavia,
circunstâncias excepcionalíssimas em que é necessária a intervenção pontual do Poder Judiciário para fazer cessar o
vínculo criado, nos bancos de dados dos provedores de busca, entre dados pessoais e resultados da busca, que não
guardam relevância para interesse público à informação, seja pelo conteúdo eminentemente privado, seja pelo
decurso do tempo. Essa é a essência do direito ao esquecimento: não se trata de efetivamente apagar o passado, mas
de permitir que a pessoa envolvida siga sua vida com razoável anonimato, não sendo o fato desabonador
corriqueiramente rememorado e perenizado por sistemas automatizados de busca. Por outro vértice, aqueles que
quiserem ter acesso a informações relativas a fraudes em concurso público, não terão seu direito de acesso impedido,
porquanto as fontes que mencionam inclusive o nome da autora permanecerão acessíveis. Contudo, sua busca deverá
conter critérios relativos a esse conteúdo, seja em conjunto com o nome da autora, seja de forma autônoma.
Questão 68
Em compras realizadas na internet, o fato de o consumidor ser penalizado com a obrigação de arcar com multa
moratória, prevista no contrato com a financeira, quando atrasa o pagamento de suas faturas de cartão de crédito não
autoriza a imposição, por sentença coletiva,de cláusula penal ao fornecedor de bens móveis, nos casos de atraso na
entrega da mercadoria e na demora de restituição do valor pago quando do exercício do direito do arrependimento?
Resposta: Informativo 628
PROCESSO REsp 1.412.993-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Maria Isabel Gallotti, por
maioria, julgado em 08/05/2018, DJe 07/06/2018
RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR
TEMA Ação civil pública. Compra e venda realizada pela internet. Atraso na entrega. Demora na
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restituição do valor pago pelo consumidor arrependido. Imposição por sentença coletiva de
cláusula penal. Ausência de previsão legal ou contratual. Inexistência no contrato de multa em
prol do fornecedor passível de inversão.
DESTAQUE
Em compras realizadas na internet, o fato de o consumidor ser penalizado com a obrigação de arcar com multa
moratória, prevista no contrato com a financeira, quando atrasa o pagamento de suas faturas de cartão de crédito não
autoriza a imposição, por sentença coletiva, de cláusula penal ao fornecedor de bens móveis, nos casos de atraso na
entrega da mercadoria e na demora de restituição do valor pago quando do exercício do direito do arrependimento.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
O contrato de cartão de crédito não pode ser chamado de acessório ao pacto de compra e venda. Na verdade, se trata
de pactos autônomos, com fornecedores de serviços diversos (compra e venda e financeiro) e cláusulas diferentes e
incomunicáveis. No pacto entre o consumidor e a operadora de cartão por ele escolhida não se pode cogitar de
desequilíbrio contratual, uma vez que a cobrança de encargos moratórios é contrapartida contratual e legalmente
prevista diante da mora do consumidor, que obteve o crédito de forma fácil e desembaraçada, sem prestar garantia
adicional alguma além da promessa de pagar no prazo acertado. Já no pacto de compra e venda, a empresa
fornecedora recebe o preço (da operadora de cartão de crédito), e só depois de confirmado o pagamento, envia o
produto ao consumidor. Não há risco de mora do consumidor em relação à fornecedora, e, por isso, logicamente, não
há previsão de multa moratória em prol do fornecedor. Por seu turno, não se vislumbra que a imposição, por sentença
coletiva, de multa em desfavor da empresa fornecedora seja um corolário do princípio do equilíbrio contratual entre
comprador e vendedor erigido no Código de Defesa do Consumidor. O art. 49 do CDC dispõe que o fornecedor, nos
casos em que o consumidor exercita o direito de arrependimento, deverá restituir imediatamente o valor pago, com
atualização. A previsão da atualização monetária denota que pode haver demora no reembolso ao consumidor – mas
essa demora não prejudica o equilíbrio da relação de consumo a ponto de demandar a imposição, genérica e abstrata,
por lei, de cláusula penal. Em suma, o legislador não anteviu quebra automática e necessária no equilíbrio contratual
nos casos de atraso na entrega de mercadoria ou restituição decorrente de arrependimento, ao menos não a ponto de
lançar mão da imposição da multa ao fornecedor, como norma geral e abstrata. Assim, dado que ao Poder Judiciário
não é atribuída a tarefa de substituir o legislador, a "inversão" da cláusula deve partir do atendimento a dois
pressupostos lógicos: a) que a cláusula penal tenha sido, efetivamente, celebrada no pacto; b) haja quebra do
equilíbrio contratual, em afronta ao princípio consagrado no art. 4º, III, do CDC. Nenhum desses requisitos se faz
presente no caso sob exame.
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Questão 69
O Ministério Público possui legitimidade ativa para postular em juízo a defesa de direitos transindividuais de
consumidores que celebram contratos de compra e venda de imóveis com cláusulas pretensamente abusivas?
Resposta: Informativo 629
PROCESSO EREsp 1.378.938-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, por unanimidade, julgado em 20/06/2018,
DJe 27/06/2018
RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR, DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL
TEMA Ação Civil Pública. Direito transindividual do consumidor. Abusividade de cláusula contida em
contrato de compra e venda de imóvel. Legitimidade ativa do Ministério Público.
DESTAQUE
O Ministério Público possui legitimidade ativa para postular em juízo a defesa de direitos transindividuais de
consumidores que celebram contratos de compra e venda de imóveis com cláusulas pretensamente abusivas.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
De início, cumpre salientar que o acórdão embargado, da Quarta Turma, entendeu que falta ao Ministério Público
legitimidade ativa para o ajuizamento de demanda coletiva (em sentido lato) com a finalidade de se declarar por
sentença a pretensa nulidade e ineficácia de cláusula contratual constante de contratos de compra e venda de imóveis
celebrados entre as empresas embargadas e seus consumidores. Já o acórdão paradigma, da Corte Especial, entendeu
ter o Ministério Público legitimidade para reclamar a defesa de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos em
ação civil pública, ainda que se estivesse diante de interesses disponíveis. Tal orientação, ademais, é a que veio a
prevalecer neste Tribunal Superior, que aprovou o verbete sumular n. 601, de seguinte teor: "o Ministério Público tem
legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos dos consumidores,
ainda que decorrentes da prestação de serviço público." Além disso, tanto a Lei da Ação Civil Pública (arts. 1º e 5º)
como o Código de Defesa do Consumidor (arts. 81 e 82) são expressos em definir o Ministério Público como um dos
legitimados a postular em juízo em defesa de direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos do consumidor.
Incumbe verificar, então, se tal legitimidade ampla definida expressamente em lei (Lei n. 7.347/1985 e Lei n.
8.078/1990) é compatível com a finalidade do Ministério Público, como exige o inc. IX do art. 129 da Constituição da
República. Nos termos da jurisprudência desta Corte, a finalidade do Ministério Público é lida à luz do preceito
54
constante do caput do art. 127 da Constituição, segundo o qual incumbe ao Ministério Público "a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis". Daí porque se firmou a
compreensão de que, para haver legitimidade ativa do Ministério Público para a defesa de direitos transindividuais não
é preciso que se trate de direitos indisponíveis, havendo de se verificar, isso sim, se há "interesse social" (expressão
contida no art. 127 da Constituição) capaz de autorizar a legitimidade do Ministério Público.
Questão 70
Ressalvada a denominada Faixa 1, em que não há intermediação imobiliária, é válida a cláusula contratual que
transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão de corretagem nos contratos de promessa de
compra e venda do Programa Minha Casa, Minha Vida, desde que previamente informado o preço total da aquisição
da unidade autônoma, com o destaque do valor da comissão de corretagem.?
Resposta: Informativo 630
PROCESSO REsp 1.601.149-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, Segunda Seção, por maioria, julgado em 13/06/2018, DJe 15/08/2018 (Tema 960)
RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL, DIREITO DO CONSUMIDOR
TEMA Promessa de compra e venda de imóvel. Programa Minha Casa, Minha Vida. Comissão de
corretagem. Transferência de obrigação ao consumidor. Possibilidade. Dever de informação.
Necessidade. Tema 960.
DESTAQUE
Ressalvada a denominada Faixa 1, em que não há intermediação imobiliária, é válida a cláusula contratual que
transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão de corretagem nos contratos de promessa de
compra e venda do ProgramaMinha Casa, Minha Vida, desde que previamente informado o preço total da aquisição
da unidade autônoma, com o destaque do valor da comissão de corretagem.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
O Programa Minha Casa, Minha Vida – PMCMV, subdivide-se atuando em 4 (quatro) diferentes faixas de renda familiar
mensal: Faixa 1 - até R$ 1.800,00 (ou R$ 3.600,00, excepcionalmente); Faixa 1,5 - até R$ 2.600,00; Faixa 2 - até R$
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4.000,00; Faixa 3 - até R$ 9.000,00. Na Faixa 1 "não há comercialização dos imóveis no mercado, inexistindo
envolvimento de imobiliárias, corretores e construtoras/incorporadoras na sua venda" não havendo, pois, nenhuma
margem para a cobrança da comissão de corretagem. Já as outras três faixas de renda do PMCMV (Faixa 1,5, Faixa 2 e
Faixa 3) não diferem substancialmente das demais modalidades de financiamento imobiliário existentes, a autorizar,
em tese, não só a cobrança da comissão de corretagem, mas a transferência desse encargo ao adquirente do imóvel,
desde que previamente informado o preço total da aquisição, com o valor da referida comissão devidamente
destacado. Essa transferência se harmoniza com os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence (art.
51, § 1º, I, do CDC) na medida das distinções criadas pelo próprio programa, que leva em conta as diferentes condições
estabelecidas para cada faixa de renda familiar. No que diz respeito às consequências de se vetar o repasse do custo da
comissão de corretagem aos beneficiários do PMCMV, na impossibilidade de transferência da obrigação de pagar a
comissão de corretagem ao consumidor, esse custo seria sistematicamente embutido no preço dos imóveis, em
prejuízo dos beneficiários situados nas primeiras faixas de renda familiar, tendo em vista a necessária observância dos
tetos de aquisição previamente definidos nas regras do programa. Destaca-se, ainda, que a multiplicidade de recursos
que justificou a afetação do tema deriva de demandas ajuizadas por beneficiários que, de uma forma ou de outra,
conseguiram ter acesso ao PMCMV, arcaram com o pagamento da comissão de corretagem e agora pedem o
ressarcimento dessa despesa. Nesse contexto, salienta-se que não há, nas normas do PMCMV, expressa vedação
quanto à transferência do custo da corretagem ao consumidor, de modo que a atuação do Poder Judiciário, a quem
não compete legislar, ficaria restrita, nesses casos, ao reconhecimento do dever de restituição aos que já tiveram
acesso ao programa.
Questão 71
A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescrito pelo médico, sob o pretexto
de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA
(uso off-label)?
Resposta: Informativo 632
PROCESSO REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 28/08/2018, DJe
06/09/2018
RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL
TEMA Planos de saúde. Negativa de fornecimento de medicação. Tratamento experimental. Uso fora
da bula (off-label). Ingerência da operadora na atividade médica. Impossibilidade.
56
DESTAQUE
A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescrito pelo médico, sob o pretexto
de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA
(uso off-label).
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
O propósito recursal consiste em definir se a operadora de plano de saúde está autorizada a negar tratamento
prescrito por médico, sob o fundamento de que sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas
na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label). A Lei n. 9.656/1998 (Lei dos Planos de Saúde) estabelece que as
operadoras de plano de saúde estão autorizadas a negar tratamento clínico ou cirúrgico experimental (art. 10, I). Por
sua vez, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) editou a Resolução Normativa n. 338/2013, vigente ao tempo
da demanda, disciplinando que é considerado tratamento experimental aquele que não possui as indicações descritas
na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label). Quanto ao ponto, a jurisprudência do STJ está sedimentada no
sentido de que é o médico, e não a operadora do plano de saúde, o responsável pela orientação terapêutica adequada
ao paciente. Desse modo, ao estabelecer que a operadora está autorizada a negar cobertura de tratamento clínico ou
cirúrgico que "não possui as indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label)", a ANS acaba
por substituir abstrata e previamente a expertise médica pela ingerência da operadora. Nesse sentido, a doutrina
afirma que "o tratamento previsto no art. 10, I, da Lei n. 9.656/1998 não abrange o uso off-label do medicamento", em
reconhecimento de que a resolução normativa da ANS "ultrapassou os limites da mera regulamentação do art. 10, I, da
Lei n. 9.656/1998". O caráter experimental a que faz referência este inciso diz respeito ao tratamento clínico ou
cirúrgico incompatível com as normas de controle sanitário ou, ainda, aquele não reconhecido como eficaz pela
comunidade científica. Assim, a ingerência da operadora, além de não ter fundamento na Lei n. 9.656/98, constitui
ação iníqua e abusiva na relação contratual, e coloca concretamente o consumidor em desvantagem exagerada (art.
51, IV, do CDC).
Questão 72
A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à
autodeterminação e caracteriza responsabilidade extracontratual?
Resposta: Informativo 632
PROCESSO REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região),
Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, por maioria, julgado em 02/08/2018, DJe 04/09/2018
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RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL, DIREITO DO CONSUMIDOR
TEMA Responsabilidade civil do médico. Inadimplemento do dever de informação. Especialização da
informação e de consentimento específico. Necessidade. Ofensa ao direito à autodeterminação.
Dano extrapatrimonial. Configuração.
DESTAQUE
A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à
autodeterminação e caracteriza responsabilidade extracontratual.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
A controvérsia consiste em definir a responsabilidade civil decorrente da inobservância do dever de informação (falta
ou deficiência) acerca de procedimento cirúrgico implementado em tratamento neurocirúrgico, que compromete o
denominado consentimento informado - manifestação do direito fundamental de autodeterminação do paciente.
Registre-se que, inexiste no ordenamento jurídico brasileiro qualquer norma que imponha o consentimento escrito do
paciente, expresso em documento assinado. Diante da inexistência de legislação específica para regulamentação do
dever de informação e do direito ao consentimento livre e informado na relação médico-paciente, o Código de Defesa
do Consumidor é o diploma que reúne as regras capazes de proteger o sujeito em estado de vulnerabilidade e
hipossuficiência, a partir de uma visão da relação contratual, com prevalência do interesse social. Nesse sentido,
consoante dispõe o art. 6º, III, do CDC, caracterizada a relação de consumo, o dever de informar pode assumir caráter
de direito básico, principal, denominado pela doutrina como dever instrumental, de conduta, dever de proteção ou
deveres de tutela. Além disso, no âmbito do direito do consumidor, serão indenizados os danos causados por produto
ou serviço defeituoso. A ausência do consentimento informado será considerada defeito tendo em vista a "falta ou
insuficiência de instruções sobre a correta utilização do produto ou serviço, bem como sobre riscos por ele ensejados".
Afalta de segurança pode decorrer da falta de informação da periculosidade de serviço que o consumidor não tenha
sido advertido dos riscos a serem suportados. Nesse rumo de ideias, de extrema importância esclarecer que o dano
indenizável, não é o dano físico, a piora nas condições físicas ou neurológicas do paciente. Todavia, este dano, embora
não possa ser atribuído à falha técnica do médico, poderia ter sido evitado diante da informação sobre o risco de sua
ocorrência, que permitiria que o paciente não se submetesse ao procedimento. O dano indenizável é, na verdade, a
violação da autodeterminação do paciente que não pôde escolher livremente submeter-se ou não ao risco previsível.
Deste modo, pelos critérios tradicionais dos regimes de responsabilidade civil, a violação dos deveres informativos dos
médicos seria caracterizada como responsabilidade extracontratual.
58
Questão 73
É decenal o prazo prescricional aplicável à ação do adquirente contra a incorporadora que visa a cobrança da multa
prevista no art. 35, § 5º, da Lei n. 4.591/1964?
Resposta: Informativo 633
PROCESSO REsp 1.497.254-ES, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, por unanimidade, julgado em
18/09/2018, DJe 24/09/2018
RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL, DIREITO DO CONSUMIDOR
TEMA Incorporação imobiliária. Registro. Ausência. Multa. Art. 35, § 5º, da Lei n. 4.591/1964. Ação do
adquirente. Prescrição. Prazo decenal. Art. 205 do Código Civil.
DESTAQUE
É decenal o prazo prescricional aplicável à ação do adquirente contra a incorporadora que visa a cobrança da multa
prevista no art. 35, § 5º, da Lei n. 4.591/1964.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
Cinge-se a controvérsia a definir o prazo prescricional aplicável para a ação ajuizada com base no art. 35 da Lei n.
4.591/1964, que estabelece um período máximo para o incorporador promover o devido arquivamento do memorial
de incorporação no Registro de Imóveis, nos termos exigidos pelo art. 32 do mesmo diploma, sob pena de pagar multa
ao adquirente no percentual de 50% (cinquenta por cento) do valor da unidade imobiliária negociada. A ausência de
previsão legal específica na Lei n. 4.596/1964 acarreta a necessidade de interpretar suas disposições em conjunto com
outro diploma normativo, sendo frequente a sua associação com o Código de Defesa do Consumidor, haja vista que
ambos os diplomas partilham o propósito de equilibrar a disparidade contratual própria da relação entre
adquirente/consumidor e alienante/incorporador. No entanto, apesar do conteúdo protetivo comum, o fato de se
tratar de relação de consumo não atrai, por si só, a incidência do prazo prescricional quinquenal do Código de Defesa
do Consumidor, uma vez que o entendimento desta Corte Superior é de que o art. 27 do CDC não se aplica a qualquer
caso de inadimplemento contratual, restringindo-se às ações que busquem a reparação de danos causados por fato do
produto ou do serviço, o que não é a hipótese dos autos. Nesse contexto, a falta do registro imobiliário da
incorporação não configura um defeito no serviço, mas, sim, o descumprimento de dever oriundo tanto do contrato
como da própria Lei de Incorporações Imobiliárias, a sujeitar o incorporador à multa prevista na legislação de regência,
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sem prejuízo de outras sanções eventualmente cabíveis. Assim, diante da falta de previsão legal específica na Lei de
Incorporações Imobiliárias e a inaplicabilidade do prazo previsto no Código de Defesa do Consumidor, a ação do
adquirente contra a incorporadora que visa a cobrança da multa prevista no art. 35, § 5º, da Lei n. 4.591/1964 se
submete ao prazo prescricional geral do art. 205 do Código Civil, ou seja, 10 (dez) anos.
Questão 74
Há solidariedade entre as sociedades consorciadas em relação às obrigações derivadas de relação de consumo desde
que essas obrigações guardem correlação com a esfera de atividade do consórcio?
Resposta: Informativo 633
PROCESSO REsp 1.635.637-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 18/09/2018, DJe
21/09/2018
RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL, DIREITO DO CONSUMIDOR
TEMA Consórcio de empresas. Relação de consumo. Solidariedade. Art. 28, § 3º, do CDC.
Interpretação restritiva. Correlação com as obrigações resultantes do objeto do consórcio.
Necessidade.
DESTAQUE
Há solidariedade entre as sociedades consorciadas em relação às obrigações derivadas de relação de consumo desde
que essas obrigações guardem correlação com a esfera de atividade do consórcio.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
O propósito recursal consiste em definir se as sociedades integrantes de consórcio para a prestação de serviço de
transporte coletivo urbano, assim como o próprio consórcio, respondem solidariamente por acidente envolvendo
ônibus de propriedade exclusiva de uma das empresas consorciadas. Inicialmente, cumpre salientar que, como regra
geral, as sociedades consorciadas apenas se obrigam nas condições previstas no respectivo contrato, respondendo
cada uma por suas obrigações, sem presunção de solidariedade, de acordo com o disposto no art. 278, § 1º, da Lei das
Sociedades Anônimas (Lei n. 6.404/1976). Essa regra, no entanto, não é absoluta, havendo no ordenamento jurídico
diversas normas que preveem a solidariedade entre as sociedades consorciadas, notadamente quando está em jogo
interesse que prepondera sobre a autonomia patrimonial das integrantes do consórcio. Na hipótese de
responsabilidade derivada de relação de consumo, afasta-se a regra geral da ausência de solidariedade entre as
60
consorciadas por força da disposição contida no art. 28, § 3º, do CDC. Essa exceção em matéria consumerista justifica-
se pela necessidade de se atribuir máxima proteção ao consumidor, mediante o alargamento da base patrimonial hábil
a suportar a indenização. É interessante anotar, nesse passo, que a solidariedade entre os integrantes do consórcio
quanto a obrigação decorrente de uma relação de consumo não significa a desconsideração da personalidade jurídica
das consorciadas, mas sim a atribuição de responsabilidade a terceiros em razão do vínculo jurídico mantido com o
fornecedor causador do dano. Outrossim, é certo que, por se tratar de exceção à regra, a previsão de solidariedade
contida no art. 28, § 3º, do CDC deve ser interpretada restritivamente, de maneira a abarcar apenas as obrigações
resultantes do objeto do consórcio, e não quaisquer obrigações assumidas pelas consorciadas em suas atividades
empresariais gerais. Ademais, a exceção em comento não alcança o próprio consórcio, que apenas responderá
solidariamente com suas integrantes se houver previsão contratual nesse sentido.
Questão 75
As entidades mantenedoras de cadastros de proteção ao crédito não devem incluir em sua base de dados informações
coletadas dos cartórios de protestos sem a informação do prazo de vencimento da dívida, sendo responsáveis pelo
controle de ambos os limites temporais estabelecidos no art. 43 da Lei n. 8.078/1990?
Resposta: Informativo 633
PROCESSO REsp 1.630.889-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, por maioria, julgado em 11/09/2018, DJe
21/09/2018
RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR
TEMA Entidades mantenedoras de cadastros de proteção ao crédito. Princípio da veracidade da
informação. Art. 43 do CDC. Prazos de manutenção de informação no cadastro de
inadimplentes. Informação decorrente de protesto de títulos. Informação do prazo de
vencimento da dívida. Necessidade. Responsabilidade da instituição arquivista.
DESTAQUE
As entidades mantenedoras de cadastros de proteção ao crédito não devem incluir em sua base de dados informações
coletadas dos cartórios de protestos sem a informação do prazo de vencimento da dívida, sendo responsáveis pelo
controle de ambosos limites temporais estabelecidos no art. 43 da Lei n. 8.078/1990.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
61
O propósito recursal é determinar, dentre outros pontos, a quem cabe a responsabilidade pela verificação do prazo
máximo de permanência da inscrição em cadastros de proteção ao crédito, na hipótese de anotações decorrentes de
protesto de títulos. Assevere-se que não é o protesto o dado registrado no cadastro de inadimplentes, mas sim a dívida
que o fundamenta, eis que é a inadimplência a informação essencial para a verificação do risco na concessão de
crédito, propósito da existência do banco de dados de consumidores. Ademais, as entidades mantenedoras de
cadastros de crédito devem responder solidariamente com a fonte e o consulente pela inexatidão das informações
constantes em seus arquivos e pelos danos que podem causar aos consumidores (art. 16 da Lei n. 12.414/2011). Como
reflexo do princípio da veracidade, o CDC cuidou de estabelecer limites temporais objetivos para que a informação
negativa a respeito dos débitos do consumidor conste na base dos bancos de dados de proteção ao crédito. Previu,
assim, em seu art. 43, dois prazos, quais sejam: a) o prazo genérico de 5 (cinco) anos, do § 1º; e b) o prazo específico
da ação de cobrança, do § 5º. Esses prazos são conciliados, de modo que uma dívida não pode estar sujeita a registro
em cadastro de proteção ao crédito por período superior a cinco anos. Assim, os arquivistas devem adotar a posição
que evite o dano potencial ao direito da personalidade do consumidor, razão pela qual é legítima a imposição da
obrigação de não-fazer, consistente em não incluir em sua base de dados informações coletadas dos cartórios de
protestos, sem a informação do prazo de vencimento da dívida, para controle de ambos os limites temporais
estabelecidos no art. 43 da Lei n. 8.078/1990.
Questão 76
O termo inicial do prazo máximo de cinco anos que o nome de devedor pode ficar inscrito em órgão de proteção ao
crédito é o dia seguinte à data de vencimento da dívida?
Resposta: Informativo 633
PROCESSO REsp 1.630.889-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, por maioria, julgado em 11/09/2018, DJe
21/09/2018
RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR
TEMA Entidades mantenedoras de cadastros de proteção ao crédito. Princípio da finalidade. Princípio
da veracidade da informação. Art. 43, § 1º, do CDC. Prazo de manutenção de informação no
cadastro de inadimplentes. Termo inicial.
DESTAQUE
O termo inicial do prazo máximo de cinco anos que o nome de devedor pode ficar inscrito em órgão de proteção ao
crédito é o dia seguinte à data de vencimento da dívida.
62
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
A jurisprudência em relação ao termo inicial do prazo máximo de duração da anotação em cadastro de inadimplentes
ainda não foi consolidada pelas Turmas de Direito Privado desta Corte. Entretanto, tendo em vista os princípios da
veracidade e da finalidade, a orientação que mais se coaduna ao espírito do CDC é de que o termo a quo do
quinquênio do art. 43, § 1º, do CDC deve tomar por base a data do fato gerador da informação depreciadora. Com
efeito, a inscrição de dado negativo de consumo do devedor nos bancos de dados de proteção ao crédito não é
imprescindível para a cobrança da dívida, consistindo, portanto, em direito potestativo do credor. Ademais, esta Corte
consignou, em julgamento de recurso especial repetitivo, que "qualquer dívida resultante de documento público ou
particular, tenha ou não força executiva, submete-se à prescrição quinquenal, contando-se do respectivo vencimento"
(REsp 1.101.412-SP, Segunda Seção, DJe 3/2/2014). Nesse sentido, o termo inicial do prazo de cinco anos previsto no §
1º do art. 43 do CDC deve corresponder ao primeiro dia seguinte à data de vencimento da dívida, por ser esse o
entendimento que mais se coaduna com a função dos bancos de dados de inadimplentes de refletir com fidelidade a
situação financeira dos devedores.
Questão 77
Na hipótese de débito estrito de recuperação de consumo efetivo por fraude no aparelho medidor atribuída ao
consumidor, desde que apurado em observância aos princípios do contraditório e da ampla defesa, é possível o corte
administrativo do fornecimento do serviço de energia elétrica, mediante prévio aviso ao consumidor, pelo
inadimplemento do consumo recuperado correspondente ao período de 90 (noventa) dias anterior à constatação da
fraude, contanto que executado o corte em até 90 (noventa) dias após o vencimento do débito, sem prejuízo do
direito de a concessionária utilizar os meios judiciais ordinários de cobrança da dívida, inclusive antecedente aos
mencionados 90 (noventa) dias de retroação?
Resposta: Informativo 634
PROCESSO REsp 1.412.433-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
25/04/2018, DJe 28/09/2018 (Tema 699)
RAMO DO DIREITO DIREITO ADMINISTRATIVO, DIREITO DO CONSUMIDOR
TEMA Fornecimento de energia elétrica. Débitos do consumidor. Fraude no medidor de consumo.
Corte administrativo do serviço. Possibilidade. Critérios. Tema 699.
DESTAQUE
63
Na hipótese de débito estrito de recuperação de consumo efetivo por fraude no aparelho medidor atribuída ao
consumidor, desde que apurado em observância aos princípios do contraditório e da ampla defesa, é possível o corte
administrativo do fornecimento do serviço de energia elétrica, mediante prévio aviso ao consumidor, pelo
inadimplemento do consumo recuperado correspondente ao período de 90 (noventa) dias anterior à constatação da
fraude, contanto que executado o corte em até 90 (noventa) dias após o vencimento do débito, sem prejuízo do
direito de a concessionária utilizar os meios judiciais ordinários de cobrança da dívida, inclusive antecedente aos
mencionados 90 (noventa) dias de retroação.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
Inicialmente cumpre salientar que, no panorama geral da jurisprudência do STJ, são três os principais cenários de corte
administrativo do serviço em decorrência de débitos de consumo de energia elétrica por inadimplemento: a) consumo
regular (simples mora do consumidor); b) recuperação de consumo por responsabilidade atribuível à concessionária; e
c) recuperação de consumo por responsabilidade atribuível ao consumidor (normalmente, fraude do medidor).
Relativamente a esse último cenário, a jurisprudência do STJ veda o corte quando o ilícito for aferido unilateralmente
pela concessionária. A contrario sensu, é possível a suspensão do serviço se o débito pretérito por fraude do medidor
cometida pelo consumidor for apurado de forma a proporcionar o contraditório e a ampla defesa. Assim, incumbe à
concessionária do serviço público observar rigorosamente os direitos ao contraditório e à ampla defesa do consumidor
na apuração do débito, já que o entendimento do STJ repele a averiguação unilateral da dívida. Dessa forma, o não
pagamento dos débitos por recuperação de efetivo consumo por fraude ao medidor enseja o corte do serviço, assim
como acontece para o consumidor regular que deixa de pagar a conta mensal (mora), sem deixar de ser observada a
natureza pessoal (não propter rem) da obrigação, conforme pacífica jurisprudência do STJ. Além disso, o
reconhecimento da possibilidade de corte de energia elétrica deve ter limite temporal de apuração retroativa, pois
incumbe às concessionárias o dever não só de fornecer o serviço, mas também de fiscalizar adequada e
periodicamente o sistema de controle de consumo. Por conseguinte e à luz do princípio da razoabilidade, a suspensão
administrativa do fornecimento do serviço – como instrumento de coação extrajudicial ao pagamento de parcelas
pretéritas relativas à recuperação de consumo por fraude do medidor atribuível ao consumidor – deve serpossibilitada
quando não forem pagos débitos relativos aos últimos 90 (noventa) dias da apuração da fraude, sem prejuízo do uso
das vias judiciais ordinárias de cobrança. Da mesma forma, deve ser fixado prazo razoável de, no máximo, 90 (noventa)
dias, após o vencimento da fatura de recuperação de consumo, para que a concessionária possa suspender o serviço.
Questão 78
Não é abusiva a cláusula de coparticipação expressamente contratada e informada ao consumidor para a hipótese de
internação superior a 30 (trinta) dias decorrentes de transtornos psiquiátricos?
Resposta: Informativo 635
64
PROCESSO EAREsp 793.323-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 10/10/2018, DJe
15/10/2018
RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR
TEMA Planos de saúde. Internação psiquiátrica superior a 30 dias por ano contratual. Coparticipação.
Validade.
DESTAQUE
Não é abusiva a cláusula de coparticipação expressamente contratada e informada ao consumidor para a hipótese de
internação superior a 30 (trinta) dias decorrentes de transtornos psiquiátricos.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
Cinge-se a discussão a determinar a interpretação que deve prevalecer na Segunda Seção acerca da abusividade ou
não de cláusula em contrato de plano de saúde, que impõe coparticipação do contratante, após o período de 30
(trinta) dias, à razão de 50% (cinquenta por cento) do valor das despesas hospitalares e honorários médicos de
internação para tratamento psiquiátrico. Inicialmente, cumpre salientar que o art. 12, II, "a" da Lei n. 9.656/1998, veda
às operadoras de plano de saúde a limitação de prazo, valor máximo e quantidade de cobertura de internações
hospitalares. Contudo, o art. 16, inc. VIII da mesma lei, determina que conste em qualquer modalidade de produto,
serviço ou contrato de assistência médica, hospitalar e odontológica, com clareza, "a franquia, os limites financeiros ou
o percentual de coparticipação do consumidor ou beneficiário, contratualmente previstos nas despesas com
assistência médica, hospitalar e odontológica". Além disso, da própria definição de "plano privado de assistência à
saúde" que consta no art. 1º da lei, extrai-se a possibilidade de a prestação continuada de serviços "ser paga integral
ou parcialmente às expensas da operadora contratada, mediante reembolso ou pagamento direto ao prestador, por
conta e ordem do consumidor". Percebe-se, assim, que a Lei n. 9.656/1998 autoriza, expressamente, a possibilidade de
coparticipação do contratante em despesas médicas específicas, desde que figure de forma clara e expressa a
obrigação para o consumidor no contrato.
Questão 79
O encerramento de conta-corrente usada na comercialização de criptomoedas, observada a prévia e regular
notificação, não configura prática comercial abusiva ou exercício abusivo do direito?
Resposta: Informativo 636
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PROCESSO REsp 1.696.214-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, por maioria, julgado em 09/10/2018, DJe
16/10/2018
RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL
TEMA Ação de obrigação de fazer. Corretora de criptomoedas. Rescisão unilateral do contrato de
conta-corrente. Prévia e regular notificação realizada pela instituição financeira. Inexistência de
prática comercial abusiva ou exercício abusivo do direito.
DESTAQUE
O encerramento de conta-corrente usada na comercialização de criptomoedas, observada a prévia e regular
notificação, não configura prática comercial abusiva ou exercício abusivo do direito.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
Diante da inegável repercussão nas novas relações jurídicas advindas do uso e da circulação das moedas digitais,
notadamente a bitcoin, especializada doutrina passou a dela tratar, ressaltando, entre as suas características, a
desnecessidade de um terceiro intermediário para a realização de transações e a ausência de autoridade estatal
reguladora. Ressai evidenciado, portanto, que o serviço bancário de conta-corrente oferecido pelas instituições
financeiras em nada repercute na circulação ou na utilização das moedas virtuais, que, como visto, não dependem de
intermediários, possibilitando a operação comercial e/ou financeira direta entre o transmissor e o receptor da moeda
digital. Nesse contexto, tem-se, a toda evidência, que a utilização de serviços bancários, especificamente o de abertura
de conta-corrente, dá-se com o claro propósito de incrementar sua atividade produtiva de intermediação, não se
caracterizando, pois, como relação jurídica de consumo — mas sim de insumo —, a obstar a aplicação das normas
protetivas do Código de Defesa do Consumidor. Por consectário, o encerramento de conta-corrente, antecedido de
regular notificação, não constitui prática abusiva comercial, na esteira da legislação consumerista. Ademais, destaca-se
que a Lei n. 4.595/1964, recepcionada pela Constituição Federal de 1988 com status de lei complementar e regente do
Sistema Financeiro Nacional, atribui ao Conselho Monetário Nacional competência exclusiva para regular o
funcionamento das instituições financeiras (art. 4º, VIII). E, no exercício dessa competência, o Conselho Monetário
Nacional, por meio da edição de resoluções do Banco Central do Brasil que se seguiram, destinadas a regulamentar a
atividade bancária, expressamente possibilitou o encerramento do contrato de conta de depósitos, por iniciativa de
qualquer das partes contratantes, desde que observada a comunicação prévia. Nessa linha de entendimento, atendo-
se à natureza do contrato bancário, notadamente o de conta-corrente, o qual se afigura intuitu personae, bilateral,
oneroso, de execução continuada, prorrogando-se no tempo por prazo indeterminado, não se impõe às instituições
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financeiras a obrigação de contratar ou de manter em vigor específica contratação, a elas não se aplicando o art. 39, II
e IX, do Código de Defesa do Consumidor. Nessa medida, longe de encerrar abusividade, tem-se por legítima, sob o
aspecto institucional, a recusa da instituição financeira em manter o contrato de conta-corrente, utilizado como
insumo, no desenvolvimento da atividade empresarial de intermediação de compra e venda de moeda virtual, a qual
não conta com nenhuma regulação do Conselho Monetário Nacional. De igual modo, sob o aspecto mercadológico,
também se afigura lídima a recusa em manter a contratação, se sua atividade empresarial se apresenta, no mercado
financeiro, como concorrente direta e produz impacto no faturamento da instituição financeira. Dessa maneira, o
proceder levado a efeito pela instituição financeira não configura exercício abusivo do direito.
Questão 80
É cabível o pedido de indenização por danos morais em razão de descumprimento de ordem judicial em demanda
pretérita envolvendo as mesmas partes, na qual foi fixada multa cominatória?
Resposta: Informativo 636
PROCESSO REsp 1.689.074-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, por unanimidade, julgado em 16/10/2018, DJe
18/10/2018
RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL
TEMA Inscrição indevida em cadastro de inadimplentes. Multa cominatória fixada em demanda
pretérita. Descumprimento. Dano moral configurado. Cumulação. Possibilidade.
DESTAQUE
É cabível o pedido de indenização por danos morais em razão de descumprimento de ordem judicial em demanda
pretérita envolvendo as mesmas partes, na qual foi fixada multa cominatória.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
Inicialmente, cumpre salientar que a jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que a inscrição indevida em
cadastro de inadimplentes gera dano moral passível de indenização, salvo constatada a existência de outras anotações
preexistentes àquela que deu origem a ação reparatória (Súmula 385/STJ). Na hipótese, o Magistrado de primeiro grau
julgou procedentepedido de indenização, tendo em vista a manutenção da negativação do nome da autora em
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cadastro de proteção ao crédito mesmo após determinação judicial de retirada, proferida em processo distinto no qual
foi fixada multa cominatória. A referida indenização visa a reparar o abalo moral sofrido em decorrência da verdadeira
agressão ou atentado contra dignidade da pessoa humana. A multa cominatória, por outro lado, tem cabimento nas
hipóteses de descumprimento de ordens judiciais, sendo fixada justamente com o objetivo de compelir a parte ao
cumprimento daquela obrigação. Encontra justificativa no princípio da efetividade da tutela jurisdicional e na
necessidade de se assegurar o pronto cumprimento das decisões judiciais cominatórias. Verifica-se, portanto, que os
institutos em questão têm natureza jurídica e finalidades distintas. A multa tem finalidade exclusivamente coercitiva e
a indenização por danos morais tem caráter reparatório de cunho eminentemente compensatório, portanto,
perfeitamente cumuláveis.
Questão 81
A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à
autodeterminação e caracteriza responsabilidade extracontratual?
Resposta:
PROCESSO REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd.
Min. Luis Felipe Salomão, por maioria, julgado em 02/08/2018, DJe 04/09/2018 RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL,
DIREITO DO CONSUMIDOR TEMA Responsabilidade civil do médico. Inadimplemento do dever de informação.
Especialização da informação e de consentimento específico. Necessidade. Ofensa ao direito à autodeterminação.
Dano extrapatrimonial. Configuração.
DESTAQUE: A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à
autodeterminação e caracteriza responsabilidade extracontratual.
Questão 82
PROCESSO: REsp 1.764.859-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, por unanimidade, julgado em 06/11/2018, DJe
08/11/2018
TEMA: Plano de assistência à saúde. Atendimento ambulatorial. Urgência e emergência. Cobertura limitada a 12 (doze)
horas. Abusividade da cláusula contratual. Inocorrência. Súmula n. 302/STJ. Inaplicabilidade.
DESTAQUE: O teor do enunciado n. 302 da Súmula do STJ, que dispõe ser abusiva a cláusula contratual de plano de
saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado, refere-se, expressamente, à segmentação hospitalar,
e não à ambulatorial.
INTEIRO TEOR: De início, é de suma relevância consignar que todo plano de assistência à saúde — em detida
observância às características de sua específica segmentação contemplada no art. 12 da Lei n. 9.656/1998, cuja
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cobertura há de observar, no mínimo, a extensão dos serviços médicos constantes no plano referência, previsto no art.
10 do mesmo diploma legal — deverá prover a cobertura dos procedimentos de urgência e de emergência. Nesse
contexto, o Conselho de Saúde Suplementar editou a Resolução n. 13, de 3 de novembro de 1998, que disciplinou a
cobertura do atendimento (obrigatório) nos casos de urgência e de emergência, com especificação de sua abrangência
em cada segmentação de atendimento. Ao regulamentar o segmento atendimento ambulatorial, a Resolução CONSU
n. 13 preceituou, em seu art. 2º, que o correlato plano deverá garantir a cobertura de urgência e de emergência,
limitada até as 12 (doze) primeiras horas do atendimento. Estabeleceu-se que, superado esse espaço de tempo, e
sendo necessária a internação hospitalar — atendimento que refoge do segmento atendimento ambulatorial —, cessa
a responsabilidade financeira da operadora e, caso, a unidade hospitalar em que o paciente se encontre não tenha
condições de conferir prosseguimento no atendimento do paciente, deverá, ainda, promover sua remoção para
hospital capacitado para tal. Em havendo contratação do segmento atendimento hospitalar, dispôs o art. 3º da aludida
resolução que o respectivo contrato deverá oferecer cobertura aos atendimentos de urgência e emergência que
evoluírem para internação, desde a admissão do paciente até a sua alta, ou que sejam necessários à preservação da
vida, órgãos e funções, portanto, sem nenhuma limitação de tempo. Compreende-se, pois, que, nos casos de urgência
e emergência, após o lapso temporal de 12 (doze) horas, no qual se prestou todos os serviços médicos próprios do
segmento ambulatorial, a eventual necessidade de internação hospitalar, por definição legal e regulamentar, refoge
daquela segmentação ajustada. Cessa, a partir de então, a responsabilidade da operadora, incumbindo zelar para que
o paciente seja conduzido para unidade hospitalar (da rede pública ou privada, indicada pelo paciente ou familiar) na
qual seja possível o prosseguimento do atendimento hospitalar, se, no local, não houver condições para tanto. Assim,
o disposto no art. 12, II, a, da Lei n. 9.656/1998, que veda a limitação de tempo para a internação hospitalar, e o teor
do enunciado n. 302 da Súmula do STJ, que dispõe ser abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no
tempo a internação hospitalar do segurado, referem-se, expressamente, à segmentação hospitalar, e não à
ambulatorial.
Questão 83
PROCESSO: REsp 1.713.619-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, por maioria, julgado em 16/10/2018, DJe 12/11/2018
TEMA: Planos de saúde. Art. 31 da Lei n. 9.656/1998. Pagamento integral. Abrangência. Resolução normativa n.
279/2011 da ANS. Plano de saúde destinado aos empregados ativos e outro destinado aos empregados inativos.
Impossibilidade.
DESTAQUE: O "pagamento integral" da redação do art. 31 da Lei n. 9.656/1998 deve corresponder ao valor da
contribuição do ex-empregado, enquanto vigente seu contrato de trabalho, e da parte antes subsidiada por sua ex-
empregadora, pelos preços praticados aos funcionários em atividade, acrescido dos reajustes legais.
INTEIRO TEOR: Inicialmente cumpre salientar que a redação anterior do art. 30 da Lei n. 9.656/1998 (Lei dos Planos de
Saúde) dispunha de forma clara que "o pagamento integral" refere-se à integralidade da contribuição do ex-
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empregado e a suportada por seu ex-empregador na vigência do seu contrato de trabalho. O "pagamento integral" da
atual redação do art. 31 da Lei n. 9.656/1998, com efeito, deve corresponder ao valor da contribuição do ex-
empregado, enquanto vigente seu contrato de trabalho, e da parte antes subsidiada por sua ex-empregadora, pelos
preços praticados aos funcionários em atividade e eventuais reajustes legais para manutenção do equilíbrio do
contrato de plano de saúde cativo e de longa duração. Impor ao aposentado ou ao demitido sem justa causa preços
diferenciados dos funcionários ativos, esvaziaria, por completo, o sentido protetivo do usuário do plano de saúde
coletivo que extingue seu contrato de trabalho. Esse entendimento também decorre da própria natureza do contrato
do plano de assistência à saúde e tem amparo no princípio geral da boa-fé que rege as relações em âmbito privado,
pois nenhuma das partes está autorizada a eximir-se de sua respectiva obrigação para frustrar a própria finalidade que
deu origem ao vínculo contratual. Não é lícito que se apresente, com esse propósito, valor diferenciado para os ex-
empregados, tampouco se eximam as ex-empregadoras da comprovação daquilo que efetivamente suportavam
quando ativo o contrato de trabalho. A própria LPS, no art. 16, exige que o beneficiário do plano de saúde seja
adequadamente informado sobre as características essenciais do seu contrato de plano de saúde, o que, na espécie,
representaria a real ciência durante todo o seu contrato de trabalho, do valor da sua contribuição e da parcela
subsidiada por sua empregadora. A contrataçãode novo plano, com características díspares do plano usufruído na
vigência do contrato de trabalho, desvirtua o preceito do art. 31 da Lei n. 9.656/1998, que garante ao aposentado,
bem como eventuais dependentes, a manutenção como beneficiário nas mesmas condições com a assunção do
pagamento integral da mensalidade – compreendido, reitere-se, ao que vinha pagando enquanto empregado,
acrescido ao montante que era pago pela empregadora na vigência do contrato de trabalho mais os reajustes legais
aplicados aos empregados ativos.