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Criatividade na Educação Infantil APRESENTAÇÃO Bem-vindo(a) a esta Unidade de Aprendizagem. Nela trabalharemos a docência como uma atividade criativa e a necessidade de desenvolver a criatividade das crianças, a partir de uma prática criativa. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a necessidade de desenvolver a criatividade das crianças.• Identificar práticas docentes criativas.• Apontar condições e intervenções que fazem do brincar uma prática criativa.• DESAFIO De acordo com Moyles (2010), o ensino criativo se refere a um ensino de qualidade, conectado, que favorece a aprendizagem holística das crianças. O desafio de muitos gestores educacionais de escolas da educação infantil, hoje, é encontrar maneiras de desenvolver e apoiar a criatividade dos professores, permitindo que inovem, assumam riscos e reconhecer essas práticas criativas. No entanto, os professores entendem que nas aulas de artes todos os alunos têm a oportunidade de criar. Na percepção desses professores, o desenvolvimento da criatividade das crianças está ligado à participação em atividades artísticas. Você concorda? Justifique sua resposta, elaborando um pequeno texto argumentativo. INFOGRÁFICO Neste infográfico você conhecerá o significado de criatividade profissional, o papel do brincar no desenvolvimento da criatividade da criança e os passos de todo processo criativo. CONTEÚDO DO LIVRO É na infância que observamos mais frequentemente a curiosidade conduzindo as crianças à descoberta do mundo. É nas brincadeiras que papéis são vivenciados e resignificados, bem como amplia-se a criatividade. As crianças são muito criativas, mas se não lhes for concedido o espaço para criar, aos poucos elas vão abandonando essa capacidade. Assim, a escola é um espaço que precisa construir práticas criativas para compartilhar com as crianças um mundo de novas possibilidades. As brincadeiras são, por excelência, o palco do desenvolvimento e ampliação do ato criativo das crianças. Nessa unidade você irá compreender o sentido da criatividade, em sua multiplicidade, reconhecer sua importância para o desenvolvimento infantil e ainda, identificar as práticas docentes criativas, bem como as intervenções que fazem do brincar uma dessas práticas. Boa leitura. CONTEÚDO E METODOLOGIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Reconhecer a necessidade de desenvolver a criatividade das crianças. > Identificar práticas docentes criativas. > Apontar condições e intervenções que fazem do brincar uma prática criativa. Introdução O desenvolvimento da criatividade, enquanto potencial inventivo dos seres humanos, foi visto durante muito tempo, de maneira equivocada, como sendo privilégio inato de alguns indivíduos. Estudos realizados de alguns anos para cá demonstraram que o desenvolvimento da criatividade pode ocorrer em todos os indivíduos e que o ambiente tem um papel de grande relevância na sua promoção. A escola é um lugar privilegiado para que o desenvolvimento da criativi- dade ocorra e deve oportunizá-lo desde a educação infantil. Não se pode, no entanto, falar em desenvolvimento da criatividade infantil sem que o professor seja criativo. A brincadeira, entendida como eixo de trabalho e direito de aprendizagem na educação infantil, constitui-se como um elemento fundamental para o desenvolvimento da criatividade. Neste capítulo, portanto, você vai ver uma discussão sobre a importância desse elemento na prática docente com crianças, vendo possibilidades de aplicar a criatividade em aula e o brincar como intervenção possível nesse contexto. Criatividade na educação infantil Maria Elena Roman de Oliveira Toledo Identificação interna do documento 7X3F9QILR7-ISBJXP1 O desenvolvimento da criatividade infantil Nos últimos anos, segundo Oliveira (2006), a criatividade humana tem sido objeto de estudo de muitos enfoques teóricos, o que demonstra o aumento pelo interesse por esse tema, sob diferentes pontos de vista. A palavra criatividade tem sua origem no latim creare, que significa “fazer”, e no grego krainen, que significa crise, realizar e preencher (OLIVEIRA, 2006). A etimologia da palavra demonstra uma preocupação, já na Antiguidade, com o pensar e o sentir de maneira criativa. De acordo com Alencar (1996 apud OLIVEIRA, 2006, p. 44), a criatividade é: [...] um fenômeno complexo e multifacetado que envolve uma interação dinâmica entre elementos relativos à pessoa, como características de personalidade e habilidades de pensamento, e ao ambiente, como o clima psicológico, os valores, normas da cultura e oportunidades para expressão de novas ideias. Não há, ainda nos dias atuais, uma definição única para a criatividade: Algumas definições são formuladas em termos de experiência subjetiva, advinda da inspiração; outras são centradas na qualidade do problema à sua solução; outras definições referem-se à originalidade do produto e outras, ainda, à própria solução do problema. (GETZELS, 1990 apud OLIVEIRA, 2006, p. 46) As múltiplas definições relacionam a criatividade com originalidade, novi- dade, pensamento divergente, solução de problemas, visão humanista, entre outros. O ponto de convergência entre elas reside no reconhecimento de que todos os indivíduos podem desenvolver a criatividade e que o ambiente tem um papel fundamental nesse processo. Segundo Alencar (2007), é muito importante que a criatividade humana possa ser cultivada e desenvolvida de forma plena ao longo da vida. A prin- cipal razão para que isso ocorra é que “[...] a necessidade de criar é uma parte saudável do ser humano, sendo a atividade criativa acompanhada de sentimentos de satisfação e prazer, elementos fundamentais para o bem- -estar emocional e saúde mental” (ALENCAR, 2007, p. 45). Nesse sentido, a inibição do potencial criador limita as possibilidades de realização plena e a expressão de talentos diversos. De acordo com Alencar (2007, p. 48), “[...] a criatividade não é algo que acontece por acaso, podendo ser deliberadamente empregada, gerenciada, desenvolvida, cabendo à escola maximizar as oportunidades de expressão da criatividade nos processos de ensino e aprendizagem”. Criatividade na educação infantil2 Identificação interna do documento 7X3F9QILR7-ISBJXP1 O incentivo à criatividade deve estar presente nas práticas educativas em contextos escolares desde a educação infantil. Assim, de acordo com Sternberg (2003 apud OLIVEIRA, 2006), no contexto educacional, cabe ao professor criar um ambiente de estímulo à criatividade que deve ser pensado em termos de: � gestão dos tempos escolares para inclusão do pensamento criativo nas práticas educativas; � valorização de ideias e produtos criativos apresentados pelos educandos; � incentivo aos alunos para que corram riscos, sob o ponto de vista da busca do novo; � aceitação do erro como parte do processo de aprendizagem; � criação de situações nas quais os alunos possam imaginar outros pontos de vista; � criação de oportunidades para a exploração do ambiente e para o questionamento dos pressupostos; � identificação dos interesses; � formulação de problemas; � incentivo ao levantamento de múltiplas hipóteses; � valorização das ideias ao invés de fatos específicos. O desenvolvimento da criatividade na educação infantil e em toda a edu- cação básica é de tamanha relevância que está previsto na Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, [2017]), documento em que, dentre as competências gerais que devem ser desenvolvidas na educação básica, está: Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. (BRASIL, [2017], p. 9).No mesmo documento (BRASIL, [2017]), a criatividade volta a ser mencio- nada quando os direitos de aprendizagem e desenvolvimento na educação infantil são citados. Na Figura 1, a seguir, você confere um esquema com esses direitos explicitados. Criatividade na educação infantil 3 Identificação interna do documento 7X3F9QILR7-ISBJXP1 Figura 1. Direitos de aprendizagem e desenvolvimento na educação infantil. Fonte: Adaptada de Brasil ([2017]). De acordo com a Base Nacional Comum Curricular, na Educação Infantil a criança tem o direito de brincar: [...] cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. (BRASIL, [2017], p. 38). A menção à criatividade no documento norteador da organização e da reorganização curricular das diferentes redes de ensino do país reafirma a importância de que o desenvolvimento da criatividade se constitua como um objetivo educacional para as crianças em contextos escolares, devendo ser implementado já na educação infantil. As práticas docentes criativas Não se pode falar em desenvolvimento criativo das crianças sem levar em consideração a criatividade do docente, profissional responsável por planejar e implementar as situações que oportunizarão às crianças o desenvolvimento pleno da sua criatividade. Criatividade na educação infantil4 Identificação interna do documento 7X3F9QILR7-ISBJXP1 Para que as crianças possam ser criativas, precisam ter liberdade para criar e para romper com modelos dados. Se o professor pautar as suas práticas educativas por atividades nas quais os alunos tenham que repetir e mecanizar procedimentos ou reproduzir modelos, as crianças não têm oportunidades, no contexto escolar, de desenvolver a sua criatividade. De acordo com Oliveira, Silva e Cavalcante (2015), nas sociedades letra- das, usuárias da escrita, a escola é um dos principais meios de socialização. Nela, o professor é um dos responsáveis pelo incentivo ou pelo bloqueio às manifestações criativas de seus alunos. O papel docente no gerenciamento do talento criativo dos educandos também é apontado por Oliveira (2007 apud OLIVEIRA; SILVA; CAVALCANTE, 2015) em referência aos estados latentes de criatividade que ganham força quando devidamente estimulados. Apesar das crescentes discussões sobre o papel da escola no desenvol- vimento criativo dos educandos, a literatura educacional aponta aspectos do contexto escolar e do processo de formação docente que fazem com que os professores cheguem à sala de aula despreparados para a efetivação de práticas criativas e emancipatórias. Os aspectos apontados decorrem, sobretudo, dos valores difundidos pelo modelo econômico e social capitalista ocidental, que valoriza a objetividade, a utilidade e a lógica, em detrimento das manifestações imaginativas e da diversidade. A preocupação constante com a entrega de resultados, decorrente desses valores, relega os processos criativos a um segundo plano, deixando pouco espaço para eles nas práticas de sala de aula. Somam-se aos fatores econômicos os desafios da profissão docente impostos pela limitação de recursos materiais nas instituições escolares, pela baixa remuneração, que leva à necessidade de assumir mais do que um emprego e dedicar-se menos às atividades assumidas, e pelo grande número de alunos nas salas de aula (WECHSLER, 1993 apud OLIVEIRA; SILVA; CAVAL- CANTE, 2015). O acúmulo de tarefas, decorrentes de diferentes ocupações, muitas vezes faz com que o professor não consiga dedicar o tempo necessário à pesquisa, aos estudos e às leituras para que possa implementar práticas criativas em suas aulas. Alencar (2007) discute as limitações docentes para o incentivo à criatividade como sendo fruto de alguns equívocos, dentre os quais destaca: Criatividade na educação infantil 5 Identificação interna do documento 7X3F9QILR7-ISBJXP1 � o desconhecimento da importância do papel de uma base sólida de conhecimento, motivação e esforço para a produção criativa; � a concepção da criatividade como sendo um talento natural, presente apenas em alguns poucos indivíduos; � o desconhecimento de que, embora haja diferenças individuais na criatividade, todos os indivíduos são naturalmente criativos, e o seu aflorar depende, grandemente, do ambiente no qual o indivíduo está inserido. O primeiro equívoco pode ser superado pela mudança da ideia tão ar- raigada no imaginário escolar de que a criatividade é inerente às práticas artísticas, sem vinculação com as demais áreas do conhecimento. A superação requer que o professor veja a criatividade, em todas as disciplinas do currí- culo, como um elemento de atribuição de maior significação aos conteúdos trabalhados. O segundo e o terceiro equívocos encontram-se interrelacionados e podem ser superados se o professor, ao reconhecer o potencial criativo de todos os alunos, organizar os tempos e os espaços escolares para que o desenvolvi- mento da criatividade dos educandos se faça possível. De acordo com Alencar (2007), é fundamental que o professor saiba que, mesmo que uma pessoa tenha todos os recursos internos necessários para pensar e agir de forma criativa, sem algum tipo de apoio do ambiente, difi- cilmente o seu potencial será expresso. Isso se deve ao fato de que a criatividade pode ser expandida a partir de ações que fortaleçam as atitudes, os comportamentos, os valores, as crenças e outros atributos pessoais que predisponham o indivíduo a pensar e agir de uma maneira mais independente, flexível e imaginativa (ALENCAR, 2007). A falta de criatividade docente faz com que os professores tenham di- ficuldades para romper com práticas passadas e ultrapassadas e de incor- porar, intencionalmente, novas estratégias pedagógicas que promovam a criatividade de seus alunos. No entanto, a falta de preparo para o estímulo à criatividade dos educandos não pode ser vista como regra. Segundo Oliveira, Silva e Cavalcante (2015, p. 128): [...] o cenário descrito é presenciado também por professores estimuladores da criatividade. Para estes, as barreiras não foram significadas como tal, ou expe- riências paralelas propiciaram-lhes uma formação criativa, ou sua personalidade aportou tal desenvolvimento ou, ainda, a convivência com professores como eles, estimuladores, inspirou uma adaptação original à realidade. Criatividade na educação infantil6 Identificação interna do documento 7X3F9QILR7-ISBJXP1 Um exemplo de prática pedagógica criativa é o projeto desenvolvido por uma professora da educação infantil (AVISA LÁ, 2001) que trabalha com crian- ças de quatro a cinco anos. Tendo como objetivos didáticos a apresentação de alguns conhecimentos sobre as espécies marinhas e a socialização de procedimentos para a busca e sistematização de informações, a professora propôs para as crianças a montagem de uma coleção de espécies marinhas in vitro e a elaboração de um arquivo fichário para consultas. No início do projeto, a maior referência das crianças sobre o universo marinho era a televisão. Quatro meses depois, elas já haviam se habituado a pesquisar em diversas fontes de informação. Essa foi apenas uma das conquistas oportunizadas pela realização de um projeto que apresentou os mistérios e as maravilhas do fundo do mar. O projeto proposto adotou, portanto, uma perspectiva interdisciplinar, integrando os eixos de natureza e sociedade (ao abordar os seres vivos) e de língua portuguesa (leitura de texto informativo). Com o projeto, a professora tinha o objetivo de oportunizar às crianças as seguintes aprendizagens: � a diversidade da vida marinha; � a obtenção de informações em diversas fontes, como livros, cartazes, filmes, observação direta, entre outras; � o desenvolvimento de ideias a partirdas informações obtidas e a partilha das informações desenvolvidas; � o desenvolvimento de uma postura de pesquisador, mediante a utili- zação de procedimentos como a observação, a verificação e a experi- mentação e o interesse por saber mais sobre o mundo que os cerca; � a reorganização dos conhecimentos prévios pelo confronto com o material produzido com a turma. O desenvolvimento do projeto teve início com o levantamento dos co- nhecimentos das crianças e com a elaboração das questões que seriam pesquisadas, devidamente registradas. A turma foi organizada em subgrupos para a realização da pesquisa, que foi realizada em materiais selecionados cuidadosamente, para que fossem especializados e ricos em imagens. Os resultados das pesquisas realizadas pelos grupos foi socializada com todos e apoiados em registros e livros. Além disso, foram organizados passeios para a ampliação dos conhecimentos sobre o assunto e para a realização de Criatividade na educação infantil 7 Identificação interna do documento 7X3F9QILR7-ISBJXP1 pesquisas in loco. Todas as informações obtidas foram sistematizadas em fichas de consulta e disponibilizadas para as crianças. Além dessas ações, foi formada uma pequena biblioteca especializada sobre o assunto em questão para pesquisas do grupo, envolvendo todos os adultos e crianças da creche. Na classe, foi separado um painel onde as crianças puderam ir anexando as informações sobre o estudo. Um mapa-múndi foi trazido para a sala para que as crianças pudessem localizar o local de origem e a trajetória das baleias, golfinhos e demais animais. Durante todo o processo, a professora assumiu o papel de escriba para o registro das descobertas do grupo. Esse projeto sobre o universo marinho desenvolvido pela professora da creche é apenas um exemplo das inúmeras possibilidades que podem ser implementadas pelos professores que adotam caminhos criativos em suas práticas educativas. Cientes da importância do desenvolvimento da criatividade dos seus educandos, os professores devem empreender esforços e buscar meios (novas ideias, cursos de formação continuada, referenciais teóricos, entre outros) para que suas práticas sejam criativas e incentivem a inventividade por parte de seus alunos. É fundamental, também, que o desenvolvimento da criatividade, tanto por parte dos docentes quanto dos discentes, possa constituir-se como um objetivo comum a toda a equipe escolar. O brincar como uma prática criativa O brincar aparece na proposta da Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, [2017]) para a educação infantil como eixo estruturante do trabalho pedagógico e como um direito de aprendizagem e desenvolvimento. Enquanto eixo estruturante do trabalho pedagógico, a brincadeira fi- gura ao lado das interações, como uma experiência na qual “[...] as crianças podem construir e apropriar-se de conhecimento por meio de suas ações e interações com seus pares e com os adultos, o que possibilita aprendizagens, desenvolvimento e socialização” (BRASIL, [2017], p. 37) Na BNCC (BRASIL, [2017]), a proposição de seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento visa assegurar, na educação infantil, condições para que as crianças possam aprender em situações nas quais tenham um papel ativo, em ambientes nos quais possam vivenciar desafios e sentir-se motivadas para resolvê-los, construindo significados sobre si, sobre os outros e sobre o mundo social e natural. Criatividade na educação infantil8 Identificação interna do documento 7X3F9QILR7-ISBJXP1 O brincar aparece, nesse contexto, como um dos seis direitos de apren- dizagem e desenvolvimento propostos, devendo fazer parte da rotina das classes da educação infantil, em diferentes espaços e tempos. Nesse sentido, as brincadeiras que devem fazer parte da rotina das classes da educação infantil devem (GARVEY, 1977 apud BROCK, 2011, p. 27): � ser agradáveis para aqueles que brincam; � não possuir objetivos extrínsecos, de modo que o objetivo intrínseco seja a busca pela diversão; � ser espontâneas e voluntárias; � envolver um comprometimento ativo da criança que brinca. As brincadeiras têm um papel bastante relevante no desenvolvimento infantil. Para Kishimoto (PORTAL DO PROFESSOR, 2009, documento on-line): O brincar é importante para a criança expressar significações simbólicas. Pelo brin- car a criança aprende a simbolizar. Ao assumir papéis, ao usar objetos com outras finalidades para expressar significações, a criança entra no processo simbólico. O brincar auxilia o desenvolvimento simbólico. Mas não se trata de entender o símbolo como exercício ou cópia de letras e números em práticas de uso do brinquedo no ensino formal. A criança, ao brincar de fazer compras no mercado, desenvolve a linguagem verbal e quando dispõe de um ambiente preparado, com embalagens de caixas de mantimentos, refrigerantes com rótulos que indicam o nome dos produtos e utiliza dinheiro que constrói como moeda de troca, vai penetrando no mundo letrado e gradativamente avançando no processo de simbolização, conhecido como emergência, no letramento. A brincadeira, como elemento fundamental para o desenvolvimento da criatividade infantil, não pode se constituir como uma escolarização de jogos e brincadeiras, ou seja, como meio para atingir um determinado fim. Nesse sentido, cabe ao professor propor situações pertinentes ao universo infantil de seus alunos nas quais eles possam aprender brincando. Cabe ao professor organizar os espaços para que a brincadeira ocorra, disponibili- zando objetos e materiais diversos e oportunizando um tempo para que a brincadeira ocorra. De acordo com Barros (2009), o brincar possibilita a interação entre as crianças, e a mediação de um adulto nesse contexto é fundamental. Durante a brincadeira, as crianças conversam umas com as outras e movimentam-se livremente para buscar parceiros de brincadeira e até mesmo para pedir brinquedos emprestados. Criatividade na educação infantil 9 Identificação interna do documento 7X3F9QILR7-ISBJXP1 Nessas situações, o educador exerce um importante papel de mediador, tendo como função potencializar as crianças para o alcance de níveis mais avançados de desenvolvimento. Na mediação, o professor oportuniza às crianças a aprendizagem de novas situações e a criação de novas necessidades que podem ser exploradas pelas brincadeiras, possibilitando caminhos para um nível mais elevado de desenvolvimento. Um jeito bastante interessante de oportunizar o desenvolvimento dos processos criativos dos alunos por meio de brincadeiras é a organização, pelo professor, de “cantos do faz de conta”. Esses cantos podem ser organizados com materiais e objetos enviados pelas famílias. Para a montagem dos cantos, pode-se pedir às famílias que enviem para escola monitores de computador, escovas de cabelo, aventais, fantasias, radiografias antigas, utensílios de cozinha antigas, caixas de diferentes formatos e tamanhos e outros objetos que estejam em desuso. Com esses materiais, o professor pode organizar o canto do escritório, das fantasias, da casinha, do cabeleireiro, do médico, entre outros, que se constituirão como importantes elementos para que as crianças possam soltar a imaginação e experimentar diferentes papéis. De acordo com Oliveira (1997), que retoma o pensamento de um dos mais importantes psicólogos do campo, Lev Vigotsky, na brincadeira de faz de conta, as crianças experimentam papéis sociais que não são seus, adiantando-se ao seu percurso de desenvolvimento e vivenciando as regras da sociedade na qual estão inseridas. Por exemplo, ao utilizar objetos médicos e assumir o papel de um médico, o brincar infantil está sendo regido por regras sociais na medida em que a criança está se comportando como se fosse uma mãe. Nesse tipo de brincadeira, o papel do professor é o de organizar os tempos, os espaços e os materiais para que as crianças possam brincar e expressar-se livremente. Durante a brincadeira,suas intervenções devem ser no sentido de mediar possíveis conflitos e de acolher e valorizar as diferentes formas de manifestação da criatividade infantil. Lev Semionovitch Vigotsky foi um psicólogo russo pioneiro no campo da psicologia cultural-histórica que centrou seus estudos no desen- volvimento intelectual das crianças em sua relação com as interações sociais e as condições de vida. Para saber mais, leia o artigo “A criança e seu meio: contribuição de Vigotski ao desenvolvimento da criança e à sua educação”, de Angel Pino, que analisa o conceito de “meio” e sua influência no desenvolvimento da criança. Criatividade na educação infantil10 Identificação interna do documento 7X3F9QILR7-ISBJXP1 Referências ALENCAR, E. M. L. S. Criatividade no contexto educacional: três décadas de pesquisa. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 23, p. 45–49, 2007. Número especial. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ptp/v23nspe/07.pdf. Acesso em: 23 nov. 2020. AVISA LÁ. Mergulhando no universo marinho. 2001. Disponível em: https://avisala.org. br/index.php/assunto/tempo-didadico/mergulhando-no-universo-marinho/. Acesso em: 23 nov. 2020. BARROS, F. C. O. M. Cadê o brincar?: da educação infantil para o ensino fundamental. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, [2017]. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_ EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 23 nov. 2020. BROCK, A. et al. Brincar: aprendizagem para a vida. Porto Alegre: Penso, 2011. OLIVEIRA, L. M. C. Educação Infantil e criatividade: percepção de professores. 2006. Tese (Doutorado em Psicologia) – Centro de Ciências da Vida, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, 2006. Disponível em: http://www.bibliotecadigital. puc-campinas.edu.br/tde_arquivos/6/TDE-2006-10-10T140006Z-1208/Publico/Luci- lena%20Marcondes.pdf. Acesso em: 23 nov. 2020. OLIVEIRA, D. P.; SILVA, D. L.; CAVALCANTE, R. L. A. Práticas docentes criativas e histórias de formação: um estudo de caso. Revista Quadrimestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, v. 19, n. 1, p. 127–134, 2015. Disponível em: https:// www.scielo.br/pdf/pee/v19n1/2175-3539-pee-19-01-00127.pdf. Acesso em: 23 nov. 2020. OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento. Uma perspectiva sócio- -histórico. São Paulo: Scipione, 1997. PORTAL DO PROFESSOR. Tizuko Kishimoto, da USP: brincar é diferente de apren- der. 2009. Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/conteudoJornal. html?idConteudo=453. Acesso em: 23 nov. 2020. Leituras recomendadas ASSIS, M. R. O lúdico no processo de desenvolvimento da imaginação e criatividade na criança. Revista Acadêmica Educação e Cultura em Debate, v. 3, n. 2, p. 113–130, 2017. Disponível em: https://revistas.unifan.edu.br/index.php/RevistaISE/article/ download/290/223. Acesso em: 23 nov. 2020. PINO, A. A criança e seu meio: contribuição de Vigotski ao desenvolvimento da criança e à sua educação. Psicologia USP, v. 21, n. 4, p. 741–756, 2010. Disponível em: https:// www.scielo.br/pdf/pusp/v21n4/v21n4a06.pdf. Acesso em: 23 nov. 2020. SCHILLER, P.; ROSSANO, J. Ensinar e aprender brincando: mais de 750 atividades para educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008. TEMPO do brincar. [S. l.: s. n.], 2017. 1 vídeo (2 min e 41 seg). Publicado pelo canal Alana. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NqK147AfJnA. Acesso em: 23 nov. 2020. Criatividade na educação infantil 11 Identificação interna do documento 7X3F9QILR7-ISBJXP1 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Criatividade na educação infantil12 Identificação interna do documento 7X3F9QILR7-ISBJXP1 DICA DO PROFESSOR O brincar proporciona o desenvolvimento da criatividade da criança. Neste vídeo você irá aprender sobre as características das crianças e as brincadeiras adequadas a cada idade, entre 0 a 3 anos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) A metáfora de Woods (1996), compara o professor a um artista, pelo motivo de ele conseguir criar e sustentar estados de humor. Sendo a docência uma profissão criativa, o professor deve empregar habilidosamente os recursos necessários e utilizar eficientemente o tempo e o espaço para que seus alunos aprendam. Das características abaixo, qual delas se refere especificamente a um professor criativo? A) Seguir o currículo e cumpri-lo conforme previsto na proposta da escola. B) Conseguir cumprir a rotina estabelecida pela escola. C) Planejar, executar e monitorar as atividades de artes das crianças. D) Conseguir ir além da norma ou da prática usual, sempre inovando. E) Conseguir manter suas crianças atentas e concentradas em todas as atividades. 2) O professor criativo é autoconfiante e investe tempo e energia no seu trabalho. No entanto, existem algumas limitações para a criatividade dos professores. Uma delas é a: A) falta de recursos para desenvolver seus planejamentos. B) dissonância entre o que diretrizes dizem e o que o professor faz. C) fragilização do trabalho em equipe. D) agitação e desatenção das crianças. E) falta de apoio da família. 3) Na educação infantil existe menos tensão para transcender algumas pedagogias tradicionais ou limitadas. Por isso, podemos encontrar maior número de professores criativos do que em outros níveis de ensino. No entanto, um dos principais desafios dos sistemas de ensino é desenvolver e apoiar a criatividade dos professores. Uma forma de ofertar esse apoio diretamente ao professor é: A) a) incluindo mais habilidades artísticas no currículo da educação infantil. B) desenvolvendo um sistema de contratação de professores que valorize títulos posteriores à graduação. C) equipando a escola com jogos e outros recursos que desenvolvam a criatividade dos alunos. D) estabelecendo um número menor de crianças por turma. E) e) reconhecendo e recompensando práticas criativas, definindo critérios para as mesmas. A aprendizagem e o desenvolvimento das crianças da educação infantil devem ser de forma integral e contextualizada. O ensino criativo envolve, além do currículo da educação infantil, diferentes áreas de atuação, que a priori estariam desconectadas. 4) Sendo criativo, o professor faz a conexão dessas áreas. Elas são: A) Ambiente, comunidade, experiências das crianças e áreas da aprendizagem. B) Valores, atitudes e meio ambiente. C) Música, corporeidade e movimento. D) Administrativa, financeira e pedagógica. E) Sala de recursos, sala de informática e biblioteca da escola. 5) Existem vários mitos sobre a criatividade na educação infantil. Um deles é que as crianças pequenas são inatamente criativas ao dramatizar, imaginar etc. e requerem uma intervenção mínima para expressar sua criatividade ao brincar. Moyles (2010) afirma que o "brincar por brincar" não é criativo. Então, sobre esse mito, as pesquisas afirmam que: A) O professor criativo deve assumir uma postura “nativista” para desenvolver a criatividade da criança. B) A criança se entrega a fantasias extravagantes, o que desenvolve sua criatividade. C) A criança demonstra criatividade quando já domina algumas convenções sociais e é capaz de ir além delas nas dramatizações. D) As crianças em fases imaginativas devem ser deixadas à vontade para desenvolverem sua criatividade. E) Brincadeiras monitoradas por adultos desenvolvem a criatividade da criança. NA PRÁTICA Ao brincar a criança constrói a capacidade de resolver problemas e imaginar futuros alternativos. Para isso, é importante que o professor semostre ativo em todos os momentos do dia, interagindo com as crianças, preocupando-se com suas dificuldades, anseios e fortalecendo a relação professor-aluno. Veja um exemplo: SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: A criatividade infantil na perspectiva de Lev Vigotski Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Fundamentos da educação infantil: ensinando crianças em uma sociedade diversificada
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