Prévia do material em texto
Fonte: aula da professora Vanina. 1 Melinna Cardoso – P6 DRGE INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO: A DRGE decorre da falha da barreira normal antirrefluxo em proteger contra quantidades frequentes e anormais de refluxo gastroesofágico. o Refluxo gastroesofágico: conteúdo gástrico em movimento retrógrado sem esforço a partir do estômago para esôfago. OBS: A maioria dos sintomas decorrem do pH ácido ao qual o epitélio do esôfago não está “acostumado”. OBS: Há, ainda, o refluxo alcalino que é mais difícil de tratar e causa muitos sintomas extra-esofágicos. OBS: Sempre que o paciente se queixar de “azia”, deve- se perguntar o que é azia para ele, pois alguns chamam a pirose de azia e outros denominam por azia uma queimação localizada no epigástrio. EPIDEMIOLOGIA: Acomete 12% da população urbana brasileira; Sexo: igual entre homens e mulheres, mas entre homens é mais comum a apresentação de casos mais graves, como esofagite e esôfago de Barrett; Aumento da idade é um fator importante na prevalência de complicações da DRGE. FATORES DE RISCO POPULACIONAIS Idade: aumenta com a idade; Gestação: aumenta durante a gestação aumento da pressão intra-abdominal/ alterações hormonais; Obesidade: é mais frequente no obeso aumento do volume intra-abdominal; Hérnia Hiatal principalmente por deslizamento: relaciona-se às formas mais graves; Fatores genéticos: sugerem participação genética. Na imagem abaixo, observa-se uma Hérnia de Hiato por deslizamento o estômago desliza para a cavidade torácica. Abaixo, observa-se uma imagem por Endoscopia Digestiva alta. A esôfago distal (onde ocorrem a maioria das lesões por DRGE. o O normal é que a transição esôfago-gástrica (TEG) esteja no pinçamento diafragmático. Através da EDA, pode-se fazer o diagnóstico de hérnia hiatal por deslizamento e medir o tamanho da hérnia. o Nas imagens que vemos o aparelho de endoscopia, estamos vendo a cárdia e o fundo gástrico. O normal é que a cárdia esteja ajustada ao aparelho. Não estar justa pode ser um sinal indireto de DRGE, porém, até mesmo a sedação pode relaxar o esfíncter esofágico inferior. o Assim, através da EDA não se pode dar o diagnóstico de Hipotonia do Esfíncter Esofágico Inferior (quem faz isso é a Manometria), mas sim sugerir que a Cárdia não está ajustada ao aparelho. ETIOPATOGENIA As lesões características da DRGE ocorrem quando a mucosa do órgão é exposta ao refluxato gástrico que contém agentes agressores: ácido, pepsina, sais biliares e enzimas pancreáticas. Refluxo fisiológico: refluxo de curta duração e rápida depuração todos possuem. Fonte: aula da professora Vanina. 2 Melinna Cardoso – P6 Refluxo patológico: tem como principal causa as aberturas transitórias ou relaxamentos transitórios do esfíncter esofágico inferior e hipotensão esfincteriana ocorre várias vezes ao dia, de modo que o paciente não consegue depurar o ácido que vai para o esôfago. Dilatação do espaço intercelular: mudança morfológica mais precocemente observada no epitélio esofágico por isso, a EDA pode ser normal e o paciente mesmo assim ter DRGE com sintomas. OBS: O refluxo ácido é muito mais comum do que o refluxo não ácido; OBS: Refluxo não ácido envolvido na gênese de sintomas extraesofágicos como tosse, pigarro e globus (“bolo na garganta”). OBS: Globus faríngeo também pode estar presente no refluxo ácido. FATORES PATOGÊNICOS NA DRGE A gravidade da doença vai depender de: Episódios de refluxo gastroesofágico: frequência; volume ou extensão do refluxato; aberturas transitórias e hipotensão do EEI; Redução da capacidade de depuração esofágica; Agressividade do material refluído: ácido, álcalis, pepsina e hiperosmolaridade; Redução na resistência tecidual ao conteúdo refluído; Natureza do refluxato: líquido ou gasoso; CLASSIFICAÇÃO DA DRGE 1. Doença de refluxo não erosiva: forma mais comum quando possui os sintomas, mas o esôfago está normal à endoscopia; 2. Doença de refluxo erosiva: apresentação clássica; Imagem de endoscopia digestiva alta, região do esôfago distal, onde observa-se que a TEG está um pouco acima e há uma erosão longitudinal. Pela classificação de Los Angeles, que vai de A – D de acordo com a gravidade, a imagem está na classificação B lesão maior que 5mm que não faz confluência com nenhuma outra erosão. Nesse caso, a biópsia não é necessária, a EDA é suficiente para classificar. OBS: Helicobacter pylori não tem relação com a DRGE; ESÔFAGO DE BARRETT: Substituição do epitélio escamoso estratificado do esôfago por epitélio colunar com metaplasia intestinal; o Diagnóstico: Endoscopia Digestiva Alta e Biópsias obrigatoriamente, o diagnóstico é histopatológico; OBS: Com a metaplasia, a célula esofágica se modifica e fica semelhante à célula intestinal; o Dano maior: ocorre mais pelo tempo prolongado de exposição ao pH ácido inferior a 4. o Condição pré-maligna aumenta o risco de adenocarcinoma do esôfago distal. OBS: Há a classificação em Barret Curto (lesões de até 3cm é preciso ser muito certeiro na hora de biopsiar, pois o esôfago sangra muito) e Barret Longo (é mais fácil para biopsiar, mas geralmente já possui displasia); OBS: Histopatologicamente, a Metaplasia Intestinal fecha o diagnóstico de Esôfago de Barret; A presença de Displasias de baixo/ alto grau mudam o tratamento e o acompanhamento. Na imagem acima, observa-se que a TEG está um pouco acima do nível do pinçamento diafragmático (hérnia hiatal por deslizamento). Além disso, é marcante a diferença de coloração semelhante a um prolongamento da mucosa gástrica, característico do esôfago de Barret. É necessário biopsiar a irregularidade. DIAGNÓSTICO DA DRGE Anamnese cuidadosa: escutar com cuidado para não induzir respostas. Sintomas típicos: Pirose; Regurgitação. o Sintomas típicos 2 ou mais vezes por semana, durante 4 a 8 semanas; o Sintomas associados: sialorréia, eructação e sensação de opressão retroesternal; Fonte: aula da professora Vanina. 3 Melinna Cardoso – P6 Sintomas atípicos: Extra-esofágicos Dor torácica não cardíaca (DTCN); Globus faringeus; Asma – microaspirações; Tosse Crônica; Fibrose Pulmonar idiopática; Apneia do sono; Pneumonias de repetição; Otite média; Sinusite crônica; Rouquidão; Pigarro; Desgaste do esmalte dentário; Sinais ou sintomas de alerta: independente da idade, são indicação para realizar EDA Anemia; Hemorragia digestiva; Emagrecimento; Disfagia; Odinofagia. TESTES DIAGNÓSTICOS TESTE DIAGNÓSTICO TERAPÊUTICO: III consenso da DRGE Brasileiro tem recomendação A: IBP em dose plena, por um período de 4 semanas, em pacientes com menos de 45 anos. OBS: O teste diagnóstico terapêutico só pode ser feito em pacientes que não possuem sinais de alarme. É observada a resposta ao tratamento – se o paciente respondeu bem, pode-se fechar o diagnóstico sem exames complementares. OBS: Acima dos 45 anos, mesmo sem sinais de alarme, é necessário fazer a EDA. ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA: Método de escolha é o mais importante por permitir a visualização de complicações; entretanto, o exames padrão-ouro são a pHmetria e a bioimpedância. Permite a visualizar se a presença de erosões esofágicas, suas características e realizações de biópsias; OBS: É feita por um endoscopista e um anestesista, pois a droga de escolha para a sedação do paciente é o propofol caso não tenha o anestesista, é preciso ter 2 endoscopistas na sala; caso só haja um endoscopista, ele pode utilizar midazolam/ fentanil e precisa de uma auxiliar de enfermagem. OBS: É necessário fazer uma boa triagem antes da endoscopia, tendo em vista que é um exame invasivo e possui seus riscos. Indicações de biópsias: complicações de DRGE: o Estenose esofágica; o Úlcera de esôfago; o Esôfago de Barrett. Na imagem acima,observa-se complicações possui úlceras e a erosão é mais profunda, com base mais alargada, a camada é grossa de fibrina e conflui com outras erosões; possui também estenose que dificulta a progressão do aparelho. Há indicação de biópsia. OBS: A forma não erosiva é quando o paciente possui os sintomas típicos, mas a sua EDA é normal. Enquanto a forma erosiva é classificada abaixo. A classificação endoscópica de Los Angeles é a preconizada para caracterizar os achados endoscópicos da DRGE; Grau A: Erosões mais sutis, <5mm, longitudinais, pode haver mais de uma, entretanto, não fazem confluência entre elas; Grau B: diferencia-se da A por ter erosões >5mm; Grau C: além de serem >5mm, confluem-se; Grau D: diferencia-se da C pelo fato da confluência ocupar mais de 75% da luz do esôfago chance de evoluir para úlceras, estenoses e esôfago de Barret. Fonte: aula da professora Vanina. 4 Melinna Cardoso – P6 RAIO-X CONTRASTADO DE ESÔFAGO (ESOFOGRAMA OU SERIOGRAFIA): Indicação restrita casos de disfagia e odinofagia; OBS: Consegue observar estenose, acalásia. CINTILOGRAFIA COM INGESTÃO DE CONTRASTE COM TC99: Utilizado em crianças e em investigações de manifestações atípicas (extra-esofágicas); MANOMETRIA CONVENCIONAL E MANOMETRIA ESOFÁGICA DE ALTA RESOLUÇÃO: Indicações: o Antes de realização de pHmetria definir o local exato dos esfíncteres; o Pré-operatório da DRGE, afastando acalasia ou distúrbios importantes de motilidade de esôfago, como por exemplo, a esclerose sistêmica; o Investigação complementar de disfagia: esôfago em quebra-nozes e espasmos esofágico difuso. PHMETRIA ESOFÁGICA DE 24 HORAS: Método específico e sensível para o diagnóstico do refluxo ácido gastroesofágico e sua correlação com os sintomas referidos pelos pacientes. OBS: Ao contrário da bioimpedância, vê apenas refluxos ácidos (maioria). Indicações de pHmetria: o Para documentar a exposição acida em pacientes com endoscopia negativa; o Pacientes com sintomas típicos de DRGE, com endoscopia negativa e refratários (que não responderam) ao tratamento com IBP; o Adequação de tratamento com supressão ácida em pacientes com Esôfago de Barrett; o Em paciente com sintomas atípicos, EDA negativa e refratários ao tratamento com IBP. Phmetria sem fio cápsula Bravo; o Permite o registro prolongado do pH esofágico por 96 horas; o Seu uso é ainda restrito alto custo. BIOIMPEDÂNCIA: Refluxos ácidos e não ácidos. Permite que o refluxato possa ser categorizado como: o Ácido (pH <4) o Fracamente ácido (pH entre 4 e 7) o Fracamente alcalino (pH > 7); Indicação: avaliação de paciente com sintomas de pirose e regurgitação e endoscopia negativa, a despeito de terapia adequada com IBP. Em pacientes com queixas primárias de dor torácica ou sintomas extraesofágicos. OBS: Possui as mesmas indicações que a pHmetria, porém, é bem mais cara, os convênios não cobrem e em Maceió, até então, não houve a aderência de nenhum serviço. TRATAMENTO Objetivo: controle dos sintomas, cicatrizar as lesões e prevenir complicações da DRGE; Pode ser cirúrgico, clínico e endoscópico (em fase de investigação); CLÍNICO: Medidas comportamentais e farmacológicas: MODIFICAÇÕES COMPORTAMENTAIS: Elevação da cabeceira da cama assim como não deitar de estômago cheio; Moderação na ingesta dos seguintes alimentos: alimentos gordurosos, cítricos, café, chocolate, bebida alcoólica, hortelã, tomates e derivados; Medicações de risco: anticolinérgico, teofilina, antidepressivos tricíclicos, bloqueadores do canal de cálcio, alendronato; Redução ou cessação do tabagismo; Redução do peso corporal. OBS: café, chocolate e refrigerante possuem xantinas aumentam o relaxamento do esfíncter esofágico inferior. O café descafeinado possui uma menor quantidade de xantinas; entretanto, durante as fases de exacerbação, é importante cortar esses alimentos. FARMACOLÓGICO Alcalinos e sucralfatos: pouco utilizados, tendo em vista que produzem apenas alívio sintomático passageiro, não chegam a tratar as lesões Em Fonte: aula da professora Vanina. 5 Melinna Cardoso – P6 gestantes, o Hidróxido de Mg e de Al são utilizados, pois o IBP é contraindicado. Bloqueadores dos receptores H2 de Histamina: Cimetidina, Ranitidina, Famotidina e Nizatidina; o Apresentam Taquifilaxia usando por mais de 15 dias, o medicamento perde efeito por conta da produção de anticorpos contra ele; o Como a DRGE é uma doença crônica, o tratamento feito geralmente é de, no mínimo, 2 meses; de modo que não adianta tratar apenas com bloqueadores de H2. São bons para a supressão ácida noturna; o Prescritos em situações onde IBP não podem ser prescritos. Procinéticos: Metoclopramida, Domperidona e Bromoprida. o Utilizados em associação com IBP, principalmente em pacientes com dismotilidade associada a DRGE. IBP (Inibidores da Bomba de Prótons): o Mais eficazes; o Índices de cicatrizações são elevados; o Seguros para uso de longo prazo entretanto, é necessário acompanhamento para observar possíveis complicações. o IBPS disponíveis no Brasil: Omeprazol 40 mg; Lansoprazol 30 mg; Pantoprazol 40 mg. Esomeprazol 40 mg Rabeprazol 20 mg; Dexlansoprazol 60 mg. OBSERVAÇÕES: Tempo de tratamento: casos agudos – 04 a 08 semanas; Sintomas extraesofágicos ou complicações: dose dobrada por até 180 dias; Eventos adversos: cefaleia, diarreia, constipação e dor abdominal; Na gravidez, o omeprazol enquadra-se na categoria C. CIRÚRGICO Indicações: o Esofagites recidivantes após tratamentos bem sucedidos, de no mínimo 06 meses; o Pacientes que apresentam complicações da DRGE, inclusive extraesofágicas; o Perspectiva de uso de IBP por longos anos (pacientes de baixa idade); o Hérnias de grande volume em pacientes com risco de volvo ou perfuração. Tipo de cirurgia indicada: fundoplicaturas totais (Nissen) ou parciais (Lind ou Toupet) e s/n associada a fechamento do hiato esofágico; Complicação cirúrgica mais frequente: disfagia; Acompanhamento pós-cirúrgico: principalmente nos portadores de esôfago de Barrett: o Sem a presença de displasia – EDA a cada 03 anos; o Displasia de baixo grau: a cada ano; o Displasia de alto grau: revisão de lâmina após cirurgia ou ablação endoscópica.