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A importância social do uso da linguagem no processo da comunicação humana. Fernando Tremoço INTRODUÇÃO: A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO NA VIDA HUMANA • A comunicação dinamiza as relações humanas e se concretiza por meio da linguagem. Dessa forma, o homem interage com seu semelhante, ao mesmo tempo em que significa esse mundo que o rodeia, a partir de suas experiências pessoais e culturais. Podemos nos comunicar por múltiplas linguagens, mas a linguagem das palavras, que formam os textos, é, com certeza, a mais significativa. • Comunicação é a palavra de ordem da sociedade moderna. Mas devemos lembrar que, desde épocas remotas, os homens já sentiam essa necessidade de se comunicar e, para isso, deixaram vestígios de sua capacidade criativa, como registros, por todo o mundo, inclusive sob a forma de desenhos, nas pedras. • O ato de se comunicar foi sendo desenvolvido pela necessidade que o ser humano encontrou de expressar as ideias, os sentimentos ou simplesmente de informar algo para as pessoas de seu convívio social, já que não é capaz de viver isolado; Por ser um ser social, precisa interagir com o outro. Portanto, da oralidade à escrita, das tábuas de argila ou madeira ao papel, da pena ao computador, percebemos que a necessidade de se comunicar tornou-se fundamental na vida individual e social. • E a comunicação se faz por intermédio de textos. COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM • A comunicação entre os homens se torna possível por meio da linguagem e é exatamente essa capacidade que diferencia o homem dos animais. Os animais irracionais também se comunicam, pois possuem sinais fônicos para a imediata expressão dos seus sentimentos.. Porém, nenhum animal tem a capacidade de expressão imediata do pensamento pelo som; eles não se comunicam racionalmente, e sim por instinto (Benveniste). A linguagem possibilita as relações do homem com o mundo e com seus semelhantes. • Essa evidente função social de comunicação da linguagem não é única. Há uma segunda função, da qual depende a função social de comunicação. Trata-se da função simbólica, é por meio dessa função que o homem consegue representar o mundo, transformando seus elementos em dados de conhecimento, passíveis de serem transmitidos a outros indivíduos. • Não se pode fazer uma lista de palavras como etiquetas para os elementos da realidade, pois a representação das coisas do mundo pela linguagem passa pelas experiências humanas, pelo conhecimento. • Por exemplo, as palavras fruta e melancia podem dar nome ao mesmo objeto do mundo real, mas partem de perspectivas diferentes, e complementares: a primeira generaliza, e a segunda especifica. • Por meio da linguagem, organiza-se o mundo em categorias para que haja comunicação entre os seres humanos, pois tudo o que dizemos ou escrevemos não corresponde a um retrato fiel da realidade, mas resulta da filtragem desses dados de experiências, armazenados como conhecimento. A linguagem, portanto, reflete o mundo, na medida em que o reordena e constrói. LINGUAGEM E LÍNGUA • A linguagem é considerada como atividade humana universal ao permitir a relação entre o homem e o mundo que o cerca, abrindo-se a vários códigos semiológicos (Representações simbólicas da realidade por meio de diferentes signos (sinais): cores, gestos, sons etc.). • Logo, é comum mencionar, além da linguagem humana, a linguagem dos sinais, das cores, das bandeiras, da música etc. (Podemos pensar em alguns jogos como o futebol, por exemplo.) Porém, é importante considerar que, quando o homem fala, ele o faz numa determinada língua. Nesse caso, trata-se da língua coletiva, como criação histórica e como instituição social. (Chomsky chamaria de Língua-E). Daí podermos falar em língua portuguesa, língua francesa, língua italiana etc. • Resumidamente, a linguagem é a faculdade que tem o homem de se exprimir por meio de um sistema de sons vocais denominado língua. A língua, por sua vez, como criação histórica, é patrimônio cultural de grupos coletivos. A linguagem verbal se representa por meio de muitas funções que possibilitam a cada indivíduo participar da vida social, integrando- se em uma determinada cultura. A língua, como fato cultural, tem valor de representação. Karl Bühler − linguista e psicólogo alemão − sistematizou as funções da linguagem a partir da função representacional da língua – a representação –, reconhecendo, ainda, mais duas funções: a manifestação psíquica e o apelo. A representação constitui, então, o que se convencionou chamar de função referencial da linguagem, ao lado da função emotiva (manifestação psíquica) e da função apelativa ou conativa (apelo). AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM (JAKOBSON) Roman Osipovich Jakobson, pensador russo que se tornou um dos maiores linguistas do século XX e foi pioneiro da análise estrutural da linguagem, da poesia e da arte, manteve as três funções de Bühler, renomeando-as, respectivamente – referencial, emotiva e conativa – e introduziu mais três: fática, metalinguística e poética. Reconheceu, portanto, seis funções da linguagem, articulando cada uma delas a cada um dos elementos da comunicação Exemplos • No texto A, a função utilizada é a fática, pois o canal de comunicação é enfatizado. A intenção é iniciar um contato. • No texto B, a ênfase é dada à linguagem do emissor, logo, a função utilizada é a emotiva. Observa-se o envolvimento pessoal do emissor, que comunica sentimentos, avaliações e opiniões centradas na expressão do seu mundo interior. • No texto C, o objetivo é persuadir o receptor. Trata-se da função apelativa (ou conativa) da linguagem. Exemplos: • No texto D, há o predomínio da função poética, já que a ênfase recai sobre a construção do texto, a seleção e a disposição de palavras. • No texto E, o destaque é o referente, ou seja, o petróleo. A intenção do emissor é transmitir informações. Trata-se da função referencial. • No texto F, a função utilizada é a metalinguística. Essa função tem como fator essencial o código, ou seja, utiliza a linguagem para falar dela mesma LINGUAGEM, LÍNGUA E... DISCURSO • A atividade que envolve a comunicação, numa circunstância específica, é denominada discurso. Logo, quando nos comunicamos, não transmitimos apenas informações, mas nossa maneira de ver o mundo. Por isso, o discurso é a língua atualizada num dado momento por um dado indivíduo, seja como fala (discurso oral), seja como escrita (discurso escrito). • O discurso constitui-se da prática de comunicação linguística oral ou escrita, sendo um acontecimento que envolve um enunciador e um ou mais destinatários, numa situação específica, que inclui o espaço social e o momento histórico. Por meio do discurso, produzem-se os textos . O QUE É TEXTO? • Texto é o produto da atividade discursiva, na qual estão implicados tanto quem o produz quanto quem o recebe. Em um texto circulam, interagem e se integram diversas informações, explícitas ou implícitas, evidentes por si mesmas ou dependentes de interpretação. Por isso, um texto é necessariamente fruto de uma construção de sentido em que cooperam quem o enuncia e quem o recebe. • O texto – considerado como um todo organizado de sentido, produzido/recebido por sujeitos, num dado espaço e num dado tempo – pode ser verbal (um conto, por exemplo), visual (um quadro), verbal e visual (um filme). A partir das últimas décadas do século XX, com o aparecimento de novos gêneros textuais (por exemplo, nas redes sociais) impulsionados pela “internetês”, amplia-se ainda mais o conceito de texto. E é nesse sentido que o texto pode ser considerado, conforme Beaugrande, estudioso da Linguística textual, um “evento comunicativo para o qual convergem ações linguísticas sociais e cognitivas”. • A palavra texto provém do latim (textu) e significa “tecido, entrelaçamento”. Assim, há uma razão etimológica para nunca nos esquecermos de que o texto resulta da ação de tecer, de entrelaçar unidades a fim de criar um todo interrelacionado. Textualidade • É o conjunto de características que fazem com que um texto seja umtexto, e não apenas uma sequência de frases (VAL, 2000). • As frases que compõem um texto formam, portanto, uma trama. Dessa forma, não se pode isolar uma frase de um texto e tentar dar-lhe significado; precisamente porque, no texto, o sentido de uma frase depende do sentido das demais com que se relaciona, ou seja, o sentido de qualquer passagem de um texto é dado pelo todo. Além disso, para se fazer uma boa leitura de um texto, deve-se observar o contexto em que está inserido, pois uma simples frase pode ter significados distintos, dependendo do contexto em que se encontra. • Mas nem sempre o contexto vem explicitado; os elementos da situação em que se produz o texto podem estar implícitos, por se considerar que se dispensam maiores esclarecimentos sobre eles. (Inferência)
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