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A hipertensão arterial é uma doença crônica não transmissível definida por níveis pressóricos, em que os benefícios do tratamento (não medicamentoso e/ ou medicamentoso) superam os riscos. Trata-se de uma condição multifatorial, que depende de fatores genéticos/ epigenéticos, ambientais e sociais, caracterizada por elevação persistente da pressão arterial, ou seja, PA sistólica (PAS) maior ou igual a 140 mmHg e/ou PA diastólica (PAD) maior ou igual a 90 mmHg, medida com a técnica correta, em pelo menos duas ocasiões diferentes, na ausência de medicação anti-hipertensiva. . Genética; . Idade; . Sexo; . Etnia; . Sobrepeso/obesidade; . Ingestão de sódio e potássio; . Sedentarismo; . Álcool; . Fatores socioeconômicos; . Apneia obstrutiva do sono; . Estresse. A idade se constitui como um fator de risco para hipertensão, pois ocorrem alterações na musculatura lisa e no tecido conjuntivo dos vasos sanguíneos devido ao envelhecimento. O sexo masculino é o mais afetado pela doença até os 50 anos de idade e as mulheres, ao produzirem hormônios femininos que são fatores de proteção, tendem a ter a incidência baixa antes da menopausa a qual aumenta a partir da sexta década de vida. FATORES DE RISCO CAUSAS A etnia negra predispõe os indivíduos a apresentarem níveis pressóricos mais elevados que a branca, evidenciando que aqueles têm maior propensão ao desenvolvimento da hipertensão, além de terem mais chances de desenvolver as formas mais graves da doença e as patologias associadas. O nível de escolaridade é inversamente proporcional à hipertensão. Este é um dado relevante uma vez que com o aumento do nível de instrução é mais fácil a compreensão das informações passadas a respeito da doença, das medicações, dos hábitos de vida e dos fatores de risco. A baixa renda e as más condições de vida estão associadas ao desenvolvimento da hipertensão. A baixa renda pode ser um fator determinante para a adesão ao tratamento, uma vez que dificulta o acesso a medicamentos, a alimentos adequados, a frequentar academias, entre outros. O sal contém em sua composição o sódio que é um potente estimulante cardíaco e, além disso, exerce atividades hipertensivas nos vasos sanguíneos periféricos. Há várias propostas de dietas para a prevenção da HA, que também favorecem o controle dos hipertensos e contribuem para a saúde como um todo. Tem destaque, nesse sentido, a dieta DASH e suas variantes (baixa quantidade de gordura, mediterrânea, vegetariana/vegana, nórdica, baixo teor de carboidratos etc.). Os benefícios são ainda maiores quando ocorre em conjunto a redução de ingestão de sódio. Todos os documentos sobre o assunto indicam a alimentação com consumo parcimonioso de frutas, verduras, legumes, cereais, leite e derivados, além de indicarem menor quantidade de gordura e sal. O ganho de peso está associado ao aumento de insulina plasmática, hormônio que favorece a absorção de sódio pelos rins, o aumento do volume sanguíneo circulante e a atividade vascular. Essa condição aumenta a ativação do sistema nervoso simpático, a liberação de noradrenalina e a perda da regulação da pressão sanguínea. Durante a realização de exercícios aeróbios, a exacerbação simpática provoca aumento no débito cardíaco para garantir o fluxo sanguíneo necessário para a musculatura ativa. A consequência hemodinâmica desse ajuste cardiovascular é o aumento da pressão arterial sistólica e a manutenção ou redução da pressão arterial diastólica. Após a finalização do exercício, a pressão arterial diminui, mantendo- se abaixo dos níveis pré-exercícios por períodos prolongados. O exercício físico aeróbio, realizado regularmente leva a importantes adaptações autonômicas e hemodinâmicas que influenciam, sobremaneira, o sistema cardiovascular. A bradicardia de repouso, o aumento do VS e a atenuação da atividade nervosa simpática renal e muscular estão entre as mais importantes alterações provocadas pelo treinamento físico no sistema cardiovasculares. As principais hipóteses de estudos anteriores que analisaram a ação do etanol sobre os níveis tensionais referem-se à estimulação simpática ou adrenal e ao sistema renina-angiotensina- aldosterona, ambos atuando nas vias inibitórias do centro vasomotor e causando aumento nos níveis de hormônio antidiurético, cortisol e comprometimento do mecanismo barorreflexo. Modelos em animais sugerem que a hipertensão induzida pelo etanol está relacionada ao comportamento bifásico da ação aguda do álcool na atividade simpática e a uma resposta mediada dos barorreceptores ainda desconhecida. A nicotina presente no cigarro promove a liberação de catecolaminas, que aumentam a freqüência cardíaca, a pressão arterial e a resistência periférica. Aumenta também a capacidade orgânica em formar coágulos e diminui sua função de destruí-los. Há redução de oxigênio nos glóbulos vermelhos em cerca de 15 a 20%, pois o monóxido de carbono que resulta da queima do fumo e do papel, se liga à hemoglobina. Este último também lesa a parede interna dos vasos, propiciando a deposição de gorduras. Outra situação relacionada à HAS e à hiperatividade simpática é a síndrome da apnéia obstrutiva do sono (SAOS). Vários mecanismos são sugeridos para explicar a relação entre episódios noturnos de hipóxia/hipercapnia com aumentos sustentados da atividade do SNS nos portadores de SAOS, especialmente alterações no controle reflexo cardiovascular (baroreflexo, quimiorreflexo). O diagnóstico muitas vezes é feito durante uma verificação de rotina da pressão arterial. Se é incerto se uma pessoa realmente tem pressão arterial elevada, pode ser necessário fazer um teste de 24 horas de duração, durante o qual a pressão sanguínea é medida em diversos momentos ao longo do dia. Hipertensão essencial, também chamada de hipertensão primária, é a pressão arterial elevada (superior a 140/90 mmHg) sem qualquer causa identificável. A hipertensão arterial secundária (HAsec) é definida como um aumento de pressão arterial decorrente de uma causa identificável que pode ser tratada com uma intervenção específica para causa. ACHADOS CLÍNICOS PARA DIAGNÓSTICO TIPOS DE HAS A diferença da PA entre as medidas obtidas no consultório e fora dele é denominada EAB ou EM, quando seus valores são, respectivamente, positivos ou negativos. Com base em estudos de MRPA, diferenças iguais ou superiores a 15 mmHg na PAS e/ou 9 mmHg na PAD indicam EAB significativa, enquanto diferenças iguais ou inferiores a -1 mmHg na PAS e/ou PAD indicam EM significativa. Essas situações não mudam o diagnóstico, ou seja, se o indivíduo é normotenso, permanecerá normotenso; e, se é hipertenso, continuará sendo hipertenso. Define-se hipertensão arterial resistente (HAR) como a PA de consultório que permanece com valores ≥140/90 mmHg, com o uso de três ou mais classes de fármacos anti-hipertensivos com ações sinérgicas, em doses máximas preconizadas ou toleradas, sendo um deles preferencialmente um diurético tiazídico. Quando o paciente necessita do uso de quatro ou mais fármacos anti hipertensivos para alcançar o controle da PA, ele também é considerado um hipertenso resistente, porém controlado (PA < 140/90 mmHg). Já a hipertensão refratária (HARf) é definida como um subgrupo de pacientes com HAR verdadeira, que mantém a PA não controlada (PA ≥ 140/90 mmHg), mesmo estando em uso de cinco ou mais fármacos anti-hipertensivos, incluindo a espironolactona e um diurético de longa ação. O diabetes pode causar instalação de um quadro de hipertensão, já que a resistência à insulina dificulta o acesso das células à glicose circulante. Isso deixa o sangue com níveis maiores de açúcar, o que contribuipara o enrijecimento das artérias e o aumento da pressão. Além disso, a exposição da vasculatura à hiperglicemia e o aumento de ácidos graxos livres (EROs) característicos do DM e estados de resistência insulínica induzem à produção de superóxido e reduzem a biodisponibilidade de NO, substância vasodilatadora. Níveis elevados sujeitam o indivíduo à secreção de substâncias vasoativas com exacerbação do processo de formação de placas de ateroma, que culminam em aterosclerose. Isso promove vasoclusão, com alteração de fluxo sanguíneo nos vasos, aumento da RVP e de DC, consequentemente, eleva-se a PA. ACOMETIMENTOS CLÍNICOS Diversos mecanismos fisiopatológicos explicam a relação entre a pressão arterial e lesões em órgãos-alvo, incluindo a DAC. Entre os principais mecanismos, encontram-se: . a hiperativação dos sistemas nervoso simpático e renina-angiotensina- aldosterona; . alterações nas concentrações e ativação de vasodilatadores como o óxido nítrico e a prostaciclina, assim como o peptídeo natriurético; . alterações hemodinâmicas e estruturais; . disfunção endotelial; . aumento na expressão de citocinas inflamatórias e fatores de crescimento, entre outros. A doença renal crônica (DRC) é definida por lesão renal caracterizada por alterações estruturais ou funcionais dos rins com ou sem redução da TFG, manifestadas por alterações patológicas ou indícios de lesão renal em exames de sangue, de urina ou de imagens. A insuficiência renal pode causar hipertensão devido à retenção excessiva de sal e líquidos, ou liberando um hormônio produzido no rim, a renina. A hipertensão pode lesar os rins porque torna os vasos sanguíneos desses órgãos mais espessados e rígidos. Com isso há uma redução da irrigação sanguínea tornando a função renal ineficiente. Quando os rins ficam incapazes de remover os produtos nocivos, tem-se um acúmulo de líquidos que sobrecarrega o coração, aumenta a pressão arterial e pode traduzir-se sob a forma de edema. A elevação da pressão arterial sistólica isolada ou da sisto-diastólica aumenta a incidência de quadros de insuficiência cardíaca. O aumento da pós-carga induz à hipertrofia ventricular, à disfunção ventricular e à insuficiência cardíaca associado com doença isquêmica é responsabilizada, como a principal causa da falência cardíaca. A hipertensão arterial sistêmica é um fator de risco para doenças decorrentes de aterosclerose e trombose, que se manifestam, predominantemente, por acometimento isquêmico cardíaco, cerebral, vascular periférico e renal. Glicemia em jejum: quadro de hiperglicemia promove aumento de EROs e alteração da volemia, o que aumenta a RVP e, juntamente com o DC, aumentam a PA. Hemoglobina glicada (HbA1c): principal teste para monitoramento de pacientes diabéticos, pois não é influenciado por mudança nos hábitos alimentares recentes (glicemia em jejum), representando os níveis de açúcar circulantes nos últimos meses. Análise de creatinina e ureia: Uma lesão renal causa aumento dos níveis de creatinina e altera a ureia. EXAMES LABORATORIAIS, GRÁFICOS E DE IMAGEM Taxa de filtração glomerular: associado à perda progressiva da capacidade renal de excretar sódio. EAS sumário de urina: proteinúria. Um problema a nível glomerular promove dificuldade na absorção e/ou na reabsorção. Dessa forma, os elementos que deveriam ser absorvidos ou reabsorvidos, não o são e passam para a urina. Colesterol total, frações e triglicerídeos: níveis elevados sujeitam o indivíduo à secreção de substâncias vasoativas com exacerbação do processo de formação de placas de ateroma, que culminam em aterosclerose. Isso promove vasoclusão, com alteração de fluxo sanguíneo nos vasos, aumento da RVP e de DC, consequentemente, eleva-se a PA. IMC, IRCQ, etc: obesidade abdominal é fator predisponente para hipertensão arterial. Eletrocardiograma: A hipertrofia ventricular esquerda (HVE) é importante fator de risco para eventos cardiovasculares e pela realização do eletrocardiograma (ECG) que geralmente se inicia sua identificação. Análise de Na+ e de K+ plasmáticos: o sistema de compensação Renina-Angiotensina-Aldosterona (RAAS) promove maior reabsorção de água e de Na+ e maior depleção de K+. Cintilografia cardíaca: tem finalidade de avaliar o fluxo sanguíneo nas artérias que nutrem o músculo cardíaco, detectando possíveis falhas na irrigação de determinadas regiões do coração. Ecocardiograma: é mais sensível que o ECG quanto ao diagnóstico de HVE e agrega valores na avaliação de formas geométricas de hipertrofia e tamanho do átrio esquerdo, nas funções sistólica e diastólica. Está indicado quando houver indícios de HVE no eletrocardiograma ou em pacientes com suspeita clínica de insuficiência cardíaca. Ultrassonografia de carótidas: indicado na presença de sopro carotídeo, sinais de doença cerebrovascular ou presença de doença aterosclerótica em outros territórios. O aumento na espessura íntima-média (EIM) das carótidas e/ou a identificação de placas de aterosclerose prediz a ocorrência de acidentes vasculares cerebrais e infarto do miocárdio, independentemente de outros fatores de risco CV. Raio x de tórax: tem indicação no acompanhamento do paciente hipertenso nas situações de suspeita clínica de acometimento cardíaco e/ou pulmonar ou para a avaliação de hipertensos com acometimento de aorta em que o ecocardiograma não está disponível. BARRETTO, Antonio Carlos Pereira. Hipertensão arterial e insuficiência cardíaca. Rev Bras Hipertens, v. 8, n. 3, p. 339-43, 2001. BORTOLOTTO, Luiz Aparecido. Hipertensão arterial e insuficiência renal crônica. 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