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Conceito de vulnerabilidade em saúde

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O CONCEITO DE VULNERABILIDADE - ​AULA 1 
 
Esse capítulo traz como enfoque o a vulnerabilidade e sua atuação. Apesar de 
ser um conceito novo, com apenas dez anos, a vitalidade demonstrada no campo 
das respostas à epidemia do HIV/Aids, sugere que estamos diante de uma 
contribuição relevante, de um modo geral, na renovação das práticas da saúde e, 
de modo particular, na prevenção e promoção da saúde. No campo da Aids esse 
conceito foi importante na produção de um conhecimento interdisciplinar e na 
construção de intervenções dinâmicas e produtivas. 
Na área da advocacia o termo vulnerabilidade designa grupos ou indivíduos 
fragilizados, jurídica ou politicamente, na promoção, proteção ou garantia dos 
seus direitos. Na saúde é o resultado do processo de progressivas interseções 
entre o ativismo diante da epidemia da Aids e os Direitos Humanos. 
Em todas as áreas, se tem em comum o interesse pela ampliação dos horizontes 
aos estudos estudos, ações e política na direção do controle da epidemia. 
Talvez a mais importante transformação em nossa maneira de pensar sobre 
HIV/Aids tenha sido a passagem da noção de risco individual a uma nova 
compreensão de vulnerabilidade social. Então, como se caminhou de risco à 
vulnerabilidade? 
No período da descoberta, com a epidemia da Aids emergente, deu-se início a 
busca de fatores de risco associados à nova doença. Logo após, o fator de risco 
transmutou-se no conceito “grupo de risco”, a ideia difundiu-se amplamente 
como uma identidade concreta. Os chamados 4 H’s (homossexuais, 
hemophiliacs, haitas, heroin-adicts) foram os primeiros alvos das estratégias de 
prevenção. 
No período das primeiras respostas, a epidemia já não respeitava mais limites 
geográficos, sexo ou orientação sexual. O conceito de grupo de risco entrou, 
então, em processo de crítica, pela inadequação que a própria epidemia 
demonstrava e pelos severos ataques que recebeu os grupos mais atingidos pela 
estigmatição. 
Sendo assim, passou para um novo conceito-chave: o comportamento de risco. 
Retirando assim todo o estigma que o conceito anterior trazia e estimulou 
também o envolvimento individual com a prevenção. 
 
De 1989 aos dias atuais, a Aids é uma realidade mundial, difundindo-se mais 
rapidamente nos países pobres e nas periferias e bairros, mesmo entre as nações 
ricas. 
Foi na Conferência Internacional de Aids de Vancouver que se deu atenção aos 
fatores estruturais relacionados à vulnerabilidade e ao impacto do HIV. 
Então, nesse contexto que o conceito de vulnerabilidade se desenvolve, 
envolvendo a avaliação articulada de três eixos interligados, a 
saber:1.componente individual que grau e qualidade da informação; capacidade 
de elaborar e incorporar as informações no cotidiano; interesse em transformar 
em práticas, 2. Componente social: obtenção de informações e ao poder de 
incorporá-las em mudanças práticas; acesso aos meios de comunicação, 
escolarização, poder de influenciar políticas, possibilidade de enfrentar barreiras 
culturais; livre de coerções violentas, 3. componente programático: qualidade e 
compromisso de recursos, gerência e monitoramento de Programas de 
prevenção e cuidado. 
A proximidade entre os conceitos de risco e vulnerabilidade faz com que muitos 
os tornem sinônimos, o que é errôneo, pois, apesar de uma estreita relação 
histórica, eles possuem características próprias. 
Uma diferença é a busca da síntese na vulnerabilidade em contraste com o 
carater analitico do risco. 
Nas práticas intervencionais, risco e vulnerabilidade não são confundidos, isso 
se dá pelo fato de que são raras as propostas que se tenha como ponto principal 
a redução da vulnerabilidade. 
Há três qualidades da vulnerabilidade como conceito, a saber: 1. não é binária, é 
multidimensional, em uma mesma situação estamos vulneráveis a alguns 
agravos e não a outros. 2. não é unitária, estamos sempre vulneráveis em 
diferentes graus. 3. não é estável, as dimensões e graus mudam constantemente 
ao longo do tempo. 
Por fim, a abordagem da vulnerabilidade pressupõe e demonstra, 
simultaneamente, é que tal mudança não parte do indivíduo em relação ao outro 
e seu entorno. As mudanças mais profundas e interessantes acontecem quando 
enxergamos e construímos possibilidades dos indivíduos estarem uns frente aos 
outros em seu entorno de modo a tornar a saúde de todos mais satisfatória.

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