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Micro I - EAE 0203 - Noturno 1o Semestre 2012 Prof. Ricardo Madeira Monitor: Bruno Kawaoka Komatsu Provinha #3 - Economia com Dotac¸a˜o e Escolha Intertemporal Questa˜o 1 (50 pontos) Considere um indiv´ıduo com uma func¸a˜o utilidade dada por u(c1, c2, . . . , cn) =∑n i=1 1 (1+ρ)i−1 ln ci onde ci e´ o consumo do indiv´ıduo no per´ıodo i, n e´ o nu´mero de per´ıodos e ρ > 0 (os economistas constumam chamar ρ de taxa de desconto intertemporal da utilidade). A restric¸a˜o orc¸a- menta´ria do indiv´ıduo e´ dada por ∑n i=1 1 (1+r)i−1 ci = ∑n i=1 1 (1+r)i−1mi onde mi > 0 e´ a dotac¸a˜o de renda do indiv´ıduo no per[iodo i e r > 0 e´ a taxa de juros da economia. i) (20 pontos) Mostre que quando ρ = r o consumo o´timo e´ constante ao longo do tempo (i.e., c1 = c2 = c3 = . . . = cn−1 = cn). Resposta: O problema do consumidor sera´ alocar o consumo em cada per´ıodo de modo a maximizar a sua utilidade, sujeito a` restric¸a˜o intertemporal. Formalmente: max{ci}ni=1 ∑n i=1 1 (1+ρ)i−1 ln ci s.t. ∑n i=1 1 (1+r)i−1 ci = ∑n i=1 1 (1+r)i−1mi ρ > 0,mi > 0, r > 0 (1) Pelo me´todo do lagrangiano, temos: L(c1, c2, . . . , cn, λ) = n∑ i=1 1 (1 + ρ)i−1 ln ci + λ [ n∑ i=1 1 (1 + r)i−1 mi − n∑ i=1 1 (1 + r)i−1 ci = 0 ] (2) Temos n + 1 condic¸o˜es de primeira ordem: n equac¸o˜es para o ci, i ∈ {1, . . . , n} e uma a restric¸a˜o intertemporal: i. ∂L ∂ci = 0, ∀i ∈ {1, . . . , n} =⇒ 1 (1 + ρ)i−1 1 ci − λ 1 (1 + r)i−1 = 0 =⇒ λ = 1 (1 + ρ)i−1 1 ci (1 + r)i−1, ∀i ∈ {1, . . . , n} ii. ∂L ∂λ = 0 =⇒ n∑ i=1 1 (1 + r)i−1 mi − n∑ i=1 1 (1 + r)i−1 ci = 0 1 Para dois per´ıodos i e j quaisquer tais que i < j, temos: 1 (1 + ρ)i−1 1 ci (1 + r)i−1 = 1 (1 + ρ)j−1 1 cj (1 + r)j−1 =⇒ cj = ci ( 1 + ρ 1 + r )i−1( 1 + r 1 + ρ )j−1 (3) Logo, se ρ = r, enta˜o temos: cj = ci ( 1 + ρ 1 + r )i−1( 1 + r 1 + ρ )j−1 = ci ( 1 + r 1 + r )i−1( 1 + r 1 + r )j−1 = ci (4) Portanto, tomando os per´ıodos dois a dois, temos: c1 = c2 = c3 = · · · = cn−1 = cn. ii) (10 pontos) Mostre que quando ρ > r o consumo o´timo e´ decrescente ao longo do tempo (c1 > c2 > c3 > . . . > cn−1 > cn). Resposta: Pelas condic¸o˜es de primeira ordem do problema anterior, para dois per´ıodos quaiquer i e j tais que i < j temos: cj = ci ( 1 + ρ 1 + r )i−1( 1 + r 1 + ρ )j−1 = ci ( 1 + r 1 + ρ )j−i (5) Se r < ρ , enta˜o: 1 + r < 1 + ρ =⇒ 1+r1+ρ < 1 =⇒ ( 1+r 1+ρ )j−i < 1, ja´ que j > i. Logo, cj = ci ( 1+r 1+ρ )j−i < ci, para j > i. Enta˜o, tomando os per´ıodos aos pares, temos: c1 > c2, c2 > c3, . . . , cn−1 > cn. Portanto, c1 > c2 > c3 > . . . > cn−1 > cn. iii) (20 pontos) Suponha agora que so´ existem dois per´ıodos (i.e. n = 2), a func¸a˜o utilidade do indiv´ıduo e´ dada por u(c1, c2) = ln c1+ln c2 (i.e. ρ = 0) e m2 = (1+r)m1. Nesta situac¸a˜o, o que ocorrera´ com o bem-estar do indiv´ıduo se a taxa de juros aumentar? E se a taxa de juros reduzir? Justifique a sua resposta Resposta: Com essas especificac¸o˜es a restric¸a˜o intertemporal em valores presentes se torna: c1 + c2 1 + r = m1 + m2 1 + r = m1 + m1(1 + r) 1 + r = 2m1 =⇒ c1 + c2 1 + r = 2m1 (6) o problema do indiv´ıduo se torna: maxc1,c2 ln c1 + ln c2 s.t. c1 + c2 1+r = 2m1 (7) 2 Em valores presentes, temos p1 = 1 e p2 = 1/(1 +R). Enta˜o, a condic¸a˜o de equil´ıbrio desse problema sera´: TMS = 1 1/(1 + r) =⇒ ∂u/∂c1 ∂u/∂c2 = 1 + r =⇒ 1/c1 1/c2 = 1 + r =⇒ c1 = c2 1 + r (8) Substituindo na restric¸a˜o intertemporal temos: c1 + c2 1 + r = 2m1 =⇒ c2 1 + r + c2 1 + r = 2m1 =⇒ c∗2 = m1(1 + r) (9) Logo, c1 = c2 1+r = m1(1+r) 1+r =⇒ c∗1 = m1. A func¸a˜o utilidade indireta sera´: v(p1, p2,m1,m2) = ln c ∗ 1 + ln c ∗ 2 = lnm1 + ln [m1(1 + r)] = 2 lnm1 + ln (1 + r) (10) A partir dessa func¸a˜o, fica claro que o bem-estar do indiv´ıduo e´ crescente com os juros (∂v∂r = 1 1+r > 0,∀r > 0. Portanto, quando os juros aumentam, o bem-estar do indiv´ıduo aumenta; quando os juros caem, o bem-estar do indiv´ıduo cai. Isso ocorre por dois motivos. Em primeiro lugar, como as prefereˆncias do indiv´ıduo sa˜o do tipo Cobb- Douglas, enta˜o ele gastara´ proporc¸o˜es fixas de sua renda total em cada per´ıodo. O consumo no primeiro per´ıodo (c1) e´ igual a` dotac¸a˜o daquele per´ıodo, de modo que o indiv´ıduo na˜o tomara´ empre´stimos. A dotac¸a˜o do segundo per´ıodo (m2) aumenta de com a taxa de juros; dessa forma, como o indiv´ıduo na˜o toma empre´stimos no primeiro per´ıodo, o aumento da taxa de juros rebate diretamente no seu consumo daquele per´ıodo. Questa˜o 2 (50 pontos) Considere um indiv´ıduo com func¸a˜o utilidade u(x1, x2) = x1x2, xi denota a quantidade consumida do bem i ∈ {1, 2}. Toda a renda deste indiv´ıduo e´ dada por sua dotac¸a˜o dos bens 1 e 2, denotada por ω = (ω1, ω2). Temos que p1, p2 > 0. i) (25 pontos) Mostre analiticamente que se p2ω2 > p1ω1 este indiv´ıduo sera´ ofertante l´ıquido do bem 2. Resposta: Note que a func¸a˜o utilidade e´ do tipo Cobb-Douglas com os expoentes iguais; as demandas marshal- lianas sa˜o conhecidas: x1 = 1 2 ω1p1 + ω2p2 p1 e x2 = 1 2 ω1p1 + ω2p2 p2 (11) Para verificar se o indiv´ıduo e´ demandante ou ofertante l´ıquido do bem 2, e´ preciso avaliar a diferenc¸a x2 − ω2. Enta˜o temos: x2 − ω2 = 1 2 ω1p1 + ω2p2 p2 − ω2 = 1 2 ω1p1 + ω2p2 − 2p2ω2 p2 = 1 2 ω1p1 − ω2p2 p2 (12) 3 Mas se temos p2ω2 > p1ω1, enta˜o: x2 − ω2 = 1 2 ω1p1 − ω2p2 p2 < 0 (13) Como a diferenc¸a entre a quantidade demandada e a quantidade oferecida e´ negativa, enta˜o o indiv´ıduo e´ ofertante l´ıquido. ii) (25 pontos) Mostre analiticamente que quando ω = (ω1, 0) (i.e. a dotac¸a˜o do bem 2 e´ igual a zero) o valor absoluto do efeito substituic¸a˜o e´ igual ao efeito renda-dotac¸a˜o. Resposta: Para avaliarmos o efeito substituic¸a˜o, vamos resolver brevemente o problema de minimizac¸a˜o de dispeˆndio. O problem e´: minx1,x2 p1x1 + p2x2 st.x1x2 = u (14) L(x1, x2, λ) = p1x1 + p2x2 + λ(u− x1x2) (15) CPO: i. ∂L ∂x1 = 0 =⇒ p1 = λx2 ii. ∂L ∂x2 = 0 =⇒ p2 = λx1 iii. ∂L ∂λ = 0 =⇒ u = x1x2 Como solucionamos um problema muito semelhante a esse em lista passada, pularemos alguns passos. Das duas equac¸o˜es acima teremos: x1 = x2 p2 p1 . Substituindo na restric¸a˜o, chegaremos ao resultado: h2 = (u p1 p2 ) 1 2 e h1 = (u p2 p1 ) 1 2 Podemos enta˜o calcular os efeitos substituic¸a˜o: ∂h1 ∂p1 = 1 2 ( u p2 p1 )− 12 up2(−1) 1 p21 = −1 2 (up2) 1 2 p − 32 1 (16) ∂h2 ∂p1 = ∂h1 ∂p2 = 1 2 ( u p2 p1 )− 12 u p1 = 1 2 ( u p1p2 ) 1 2 (17) ∂h2 ∂p2 = 1 2 ( u p1 p2 )− 12 up1(−1) 1 p22 = −1 2 (up1) 1 2 p − 32 2 (18) Os efeitos substituic¸a˜o sa˜o calculados no n´ıvel de utilidade alcanc¸ado com a demanda marshalliana 4 inicial. Vamos obter esse n´ıvel de utilidade pela func¸a˜o utilidade indireta: v(p1, p2,m) = u(x ∗ 1, x ∗ 2) = ( m 2p1 )( m 2p2 ) = m2 4p1p2 (19) onde m = p1ω1 + p2ω2. Os efeitos substituic¸a˜o sa˜o dados enta˜o por: ∂h1(p1, p2, m2 4p1p2 ) ∂p1 = −1 2 ( m2 4p1p2 p2 ) 1 2 p − 32 1 = − m 4p21 = −p1ω1 − p2ω2 4p21 = −ω1 4p1 (20) ∂h2(p1, p2, m2 4p1p2 ) ∂p1 = ∂h1(p1, p2, m2 4p1p2 ) ∂p2 = 1 2 ( m2 4p1p2 p1p2 ) 1 2 = m 2p1p2 = p1ω1 + p2ω2 2p1p2 = p1ω1 2p1p2 = ω1 2p2 (21) ∂h2(p1, p2, m2 4p1p2 ) ∂p2 = −1 2 ( m2 4p1p2 p1 ) 1 2 p − 32 2 = − m 4p22 = −p1ω1 − p2ω2 4p22 = −p1ω1 4p22 (22) onde ja´ utilizamos o fato de que ω2 = 0. Os efeitos renda do bem xi em relac¸a˜o ao prec¸o pj , i, j ∈ {1, 2} podem ser calculados como: (ωj − xj)∂xi ∂m (23) A partir das demandas marshallianas, temos: ∂x1 ∂m = 1 2p1 (24) ∂x2 ∂m = 1 2p2 (25) Os efeitos renda sa˜o enta˜o dados por: (ω1 − x1)∂x1 ∂m = ( ω1 − m 2p1 ) 1 2p1 = ω1 2ω1 − m 4p21 = 2p1ω1 −m 4p21 = 2p1ω1 − p1ω1 − p2ω2 4p21 = = 2p1ω1 − p1ω1 4p21 = 2p1ω1 − p1ω1 4p21 = ω1 4p1 (26) (ω2 − x2)∂x1 ∂m = ( 0− m 2p2 ) 1 2p1 = m 2p1p2 (27) (ω2 − x2)∂x2 ∂m = ( 0− m 2p2 ) 1 2p2 = −p1ω1 − p2ω2 4p22 = −p1ω1 4p22 (28) Comparando as equac¸o˜es 20, 21 e 22 com as equac¸o˜es 26, 27 e 28, podemos concluir que os efeitos renda e substituic¸a˜opossuem os mesmos valores absolutos. 5
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