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BCM Lipólise e beta-oxidação A oxidação dos ácidos graxos de cadeia longa à acetil-CoA é uma via central de geração de energia em muitos organismos e tecidos. No coração e no fígado de mamíferos, por exemplo, ela fornece até 80% das necessidades energéticas em todas as circunstâncias fisiológicas. Os elétrons retirados dos ácidos graxos durante a oxidação passam pela cadeia respiratória, levando à síntese de ATP; a acetil-CoA produzida a partir dos ácidos graxos pode ser completamente oxidada a CO2 no ciclo do ácido cítrico, resultando em mais conservação de energia. No fígado, a acetil-coA pode ser convertida em corpos cetônicos. Esse processo repetitivo de quatro etapas que converte os ácidos graxos e acetil-CoA é chamado de beta- oxidação. Quando hormônios sinalizam a necessidade de energia metabólica, os triacilgliceróis armazenados no tecido adiposo são mobilizados (retirados do armazenamento) – lipólise – e transportados aos tecidos (musculatura esquelética, coração e córtex renal), nos quais os ácidos graxos podem ser oxidados para a produção de energia – beta-oxidação. FONTES DE ÁCIDOS GRAXOS Estado alimentado: TG da dieta; TG sintetizado no fígado pelo excesso de carboidratos da dieta. Estado em jejum: TG armazenado nas células; Na falta de nutrientes, elas também podem reciclar lipídeos por autofagia. HORMÔNIOS ESTIMULADORES E ENZIMAS DA LIPÓLISE Os hormônios adrenalina e glucagon, secretados em resposta aos baixos níveis de glicose ou atividade iminente, estimulam a enzima adenilil ciclase na membrana plasmática dos adipócitos (figura abaixo), que produz o segundo mensageiro intracelular AMP cíclico (cAMP). A proteína-cinase dependente de cAMP (PKA) leva a mudanças que abrem a gotícula de lipídeo para a atividade de três lipases, que atuam sobre tri-, di- e monoacilgliceróis, liberando ácidos graxos e glicerol. A lipólise libera ácidos graxos e glicerol na circulação sanguínea. Através da albumina, os ácidos graxos serão transportados pela albumina para ser utilizado por outros tecidos. O glicerol é levado até o fígado onde atuará como precursor da síntese de glicose. Quando os baixos níveis de glicose no sangue ativam a liberação de glucagon, ➊ o hormônio se liga ao seu receptor na membrana do adipócito e assim ➋ estimula a adenilil-ciclase, via uma proteína G, a produzir cAMP. Isso ativa a PKA, que fosforila ➌ a lipase sensível a hormônio (HSL) e ➍ as moléculas de perilipina na superfície da gotícula lipídica. A fosforilação da perilipina causa a ➎ dissociação da proteína CGI da perilipina. A CGI então se associa com a enzima triacilglicerol lipase no adipócito (ATGL), ativando-a. A triacilglicerol lipase ativada ➏ converte triacilgliceróis em diacilgliceróis. A perilipina fosforilada se associa com a lipase sensível a hormônios fosforilada, permitindo o acesso à superfície da gotícula lipídica, onde ➐ ela hidrolisa os diacilgliceróis em monoacilgliceróis. Uma terceira lipase, a monoacilglicerol lipase (MGL) ➑ hidrolisa os monoacilgliceróis. ➒ Os ácidos graxos saem do adipócito, se ligam à albumina sérica no sangue e são transportados no sangue; eles são liberados da albumina e ➓ entram em um miócito por meio de um transportador específico de ácidos graxos. 11 No miócito, os ácidos graxos são oxidados a CO2, e a energia da oxidação é conservada em ATP, que abastece a contração muscular e outros tipos de metabolismo que necessitam de energia no miócito. ATGL – lipase de triacilglicerol do adipócito – forma um ácido graxo livre e um diacilglicerol a partir de seu substrato (triacilglicerol). HSL – lipase sensível a hormônio – age no diacilglicerol (substrato), produto da ATGL, quebrando-o em monoacilglicerol e uma ácido graxo. MGL – lipase monoacilglicerol – age no monoacilglicerol (substrato), liberando um ácido graxo livre e glicerol. Albumina sérica – Ácidos graxos liberados passam dos adipócitos para o sangue onde eles se ligam à proteína circulante albumina. Ligados a essa proteína solúvel, os ácidos graxos, que de outra maneira seriam insolúveis, são transportados aos tecidos para servir de combustível. LANÇADEIRA DE CARNITINA NA Β-OXIDAÇÃO As acil-CoA-sintetases localizadas na membrana mitocondrial externa catalisam a formação de uma ligação tioéster entre o grupo carboxila do ácido graxo e o grupo tiol da coenzima A para produzir uma acil-CoA graxo, em uma reação acoplada à clivagem do ATP em AMP e PPi acil CoA sintetase Acil-CoA graxo é ligado a carnitina formando acil carnitina – 2ª. Reação do ciclo. Essa transesterificação é catalisada pela carnitina-acil-transferase 1 (também chamada de carnitina- palmi-toiltransferase 1, CPT1), na membrana externa. A acil-CoA é convertida no éster de carnitina à medida que passa através da membrana externa. O éster de acil-carnitina, então, entra na matriz por difusão facilitada através do cotransportador acil-carnitina/carnitina da membrana mitocondrial interna. Esse cotransportador move uma molécula de carnitina da matriz para o espaço intermembrana enquanto uma molécula de acil-carnitina é levada para a matriz (co-transporte carnitina-graxo e carnitina). No terceiro e último passo da lançadeira da carnitina, o grupo acila é enzimaticamente transferido da carnitina para a coenzima A intramitocondrial pela carnitina-aciltrans-ferase 2 (também chamada de CPT2). Essa isoenzima, localizada na face interna da membrana mitocondrial interna, regenera acil-CoA de cadeia longa e a libera, juntamente com a carnitina livre, dentro da matriz. ETAPAS DA OXIDAÇÃO DOS ÁCIDOS GRAXOS Após a primeira repetição das quatro etapas, ocorre a liberação de um acetil- CoA, com o palmitol perdendo 2C. A cada passagem por uma sequência de quatro passos, um resíduo acetila (sombreado em cor salmão) é removido na forma de acetil-CoA da extremidade carboxílica da cadeia acila. 1 2 3 4 CORPOS CETÔNICOS Em humanos, e na maior parte de outros mamíferos, o acetil-CoA formado no fígado durante a oxidação dos ácidos graxos pode entrar no ciclo do ácido cítrico ou sofrer conversão a “corpos cetônicos”, acetona, acetoacetato e D-beta-hidroxibutirato, para exportação a outros tecidos. Corpos cetônicos: combustíveis solúveis em água exportados para o encéfalo e para outros tecidos quando glicose não está disponível. O fígado pode terminar a oxidação do acetil CoA para gerar energia para suas células, mas, durante o jejum, um intermediário dessa reação, o oxalacetato (oxalacetato + acetil CoA = citrato -> ciclo de Krebs), está sendo desviado para a formação de glicose (neoglicogênese). Assim, a acetil CoA é desviada para a produção de corpos cetônicos. Isso ocorre fisiologicamente, ou seja, pessoas saudáveis e bem nutridas produzem corpos cetônicos a uma taxa relativamente baixa. Portanto, para ocorrer a formação de corpos cetônicos a acetil CoA tem que estar em excesso. A acetona, produzida em menor quantidade do que os outros corpos cetônicos, é exalada. O acetoacetato e o D-b-hidroxibutirato são transportados pelo sangue para outros tecidos que não o fígado (tecidos extra-hepáticos), onde são convertidos a acetil-CoA e oxidados no ciclo do ácidocítrico, fornecendo muito da energia necessária para tecidos como o músculo esquelético e cardíaco e o córtex renal. O acúmulo resultante de acetil-CoA acelera a formação de corpos cetônicos além da capacidade de oxidação dos tecidos extra-hepáticos. O aumento dos níveis sanguíneos de acetoacetato e D- b-hidroxibutirato diminui o pH do sangue, causando a condição conhecida como acidose. Os corpos cetônicos são produzidos em excesso no diabetes e durante o jejum Jejum e diabetes melito não tratado levam à superprodução hepática de corpos cetônicos, com vários problemas médicos associados. O aumento dos níveis sanguíneos de acetoacetato e d-β- hidroxibutirato diminuio pH do sangue, causando a condição conhecida como acidose. A acidose extrema pode levar ao coma e, em alguns casos, à morte.
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