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1 Renan Lopes Fernandes – MED104 SISTEMA DIGESTÓRIO: TUBO DIGESTIVO 1. PLANO GERAL DO TUBO DIGESTIVO O tubo digestivo, a continuação da cavidade oral, é a porção tubular do trato digestivo que se estende do esôfago até o canal anal. Nele, os alimentos são agitados, liquefeitos e digeridos; os alimentos nutricionais e a água são absorvidos; e seus componentes não-digeríveis são eliminados. O tubo digestivo é subdividido em regiões morfologicamente conhecidas: o esôfago, o estômago, o intestino delgado (duodeno, jejuno e íleo) e o intestino grosso (ceco, colo, reto, canal anal e apêndice). O tubo digestivo é constituído por 4 camadas concêntricas: mucosa, submucosa, túnica muscular externa e serosa (ou adventícia). Essas camadas são inervadas pelo sistema nervoso entérico e moduladas por nervos simpáticos e parassimpáticos; elas também são supridas por fibras sensitivas. 1.1- MUCOSA Revestimento Epitelial Da Mucosa - O epitélio difere por todo o canal alimentar e é adaptado para a função especifica de cada parte do canal. A mucosa tem três funções principais: proteção, absorção e secreção. - PROTEÇÃO: O epitélio da mucosa serve como uma barreira que separa a luz do canal alimentar do resto do organismo. A barreira ajuda na proteção do indivíduo contra a entrada de antígenos, patógenos e outras substancias nocivas. No esôfago, um epitélio estratificado pavimentoso fornece proteção contra a abrasão física pelos alimentos ingeridos. Na porção GI, as zônulas de oclusão entre as células epiteliais simples colunares da mucosa servem como uma barreira seletivamente permeável. Primeira linha de defesa imune do corpo. - ABSORÇAÕ: A absorção é possível por causa das projeções da mucosa e submucosa no lúmen do trato digestivo. Essas projeções aumentam muito a área de superfície disponível para a absorção e variam quanto ao tamanho e à orientação. As pregas circulares são pregas submucosas orientadas circunferencialmente, presentes ao longo da maior parte da extensão do intestino delgado. As vilosidades são projeções da mucosa que revestem toda a superfície do intestino delgado, o principal local de absorção dos produtos da digestão. As microvilosidades são projeções microscópicas da superfície apical das células absortivas intestinais firmente compactadas. Elas aumentam ainda mais a superfície disponível para a absorção. 2 Renan Lopes Fernandes – MED104 Além disso, o glicocálice consiste em glicoproteínas que se projetam da membrana plasmática apical das células absortivas epiteliais O epitélio absorve seletivamente os produtos da digestão tanto para as suas próprias células quanto para transporte para o sistema vascular para distribuição a outros tecidos. Duas células com os glicocálices se tocando.... - SECREÇÃO: A função secretora da mucosa propicia a lubrificação e fornece enzimas digestivas, hormônios e anticorpos à luz do tubo alimentar. Os vários produtos secretores fornecem muco para a lubrificação protetora, bem como para tamponamento do revestimento do trato e substancias que ajudam na digestão, incluindo enzimas, ácido clorídrico, hormônios peptídicos e água. As glândulas do trato alimentar desenvolvem-se a partir de invaginações do epitélio luminal e incluem: As glândulas mucosas que se estendem até a lamina própria; As glândulas submucosas que liberam suas secreções diretamente na luz das glândulas mucosas ou através de ductos que atravessam a mucosa para a superfície luminal; As glândulas extramurais, que se situam fora do trato digestivo e liberam suas secreções através de ductos que atravessam a parede do intestino para adentrar na luz. Ex: fígado e pâncreas, liberam secreções no duodeno; Lâmina Própria Da Mucosa A lâmina própria contém glândulas, vasos que transportam substancias absorvidas e componentes do sistema imune. As glândulas mucosas estendem-se até a lâmina própria por toda a extensão do canal alimentar. Além disso, em várias partes do canal alimentar, a lâmina própria contém agregados de glândulas secretoras de muco pois elas lubrificam a superfície epitelial para proteger a mucosa contra lesão mecânica e química. No intestino delgado e grosso, os produtos absorvidos da digestão difundem-se para os vasos linfáticos da lâmina própria para serem distribuídos. Possuem capilares sanguíneos. Os tecidos linfáticos na lâmina própria funcionam como uma barreira imunológica integrada que protege contra os patógenos e outras substâncias antigênicas que poderiam potencialmente penetrar através da mucosa da luz do canal alimentar. O tecido linfático é representado por: Tecido linfático difuso consistindo em numerosos linfócitos e plasmócitos, localizados na lâmina própria, e linfócitos residindo transitoriamente nos espaços intercelulares do epitélio; Nódulos linfáticos com centros germinativos bem desenvolvidos; Eosinófilos, macrófagos e, algumas vezes, neutrófilos; Camada Muscular Da Mucosa A musculatura da mucosa forma o limite entre a mucosa e a submucosa. A muscular da mucosa, porção mais profunda da mucosa, consiste em células musculares lisas dispostas em uma camada circular interna e em uma camada longitudinal externa. A contração desse músculo produz movimento da mucosa, formando cristas e vales que facilitam a absorção e secreção. Esse movimento independe do movimento peristáltico de toda a parede do trato digestivo. 3 Renan Lopes Fernandes – MED104 1.2- SUBMUCOSA A submucosa consiste em uma camada de tecido conjuntivo denso irregular contendo vasos sanguíneo (estes que são os maiores vasos que enviam ramos para a mucosa, a muscular externa e a serosas) e linfáticos, um plexo nervoso (plexo de Meissner ou plexo submucoso) e glândulas ocasionais (glândulas ocorrem ocasionalmente na submucosa em certos locais). 1.3- MUSCULAR EXTERNA Consiste em duas camadas concêntricas e relativamente grossas de músculo liso. As células na camada interna formam uma espiral compacta, descrita como uma camada circular; as células da camada externa formam uma espiral frouxa, descrita como camada longitudinal. Localizada entre as duas camadas está uma camada delgada de tecido conjuntivo. Nesse tecido conjuntivo, situa-se o plexo mioentérico (plexo de Auerbach), contendo corpos celulares (células ganglionares) de neurônios parassimpáticos pós- ganglionares e neurônios do sistema nervoso entérico, bem como vasos sanguíneos e vasos linfáticos. A camada circular de musculo liso forma esfíncteres em localizações especiais ao longo do trato digestivo. Esfíncter faringoesofágico Esfíncter esofágico inferior – impede o refluxo do conteúdo gástrico do estomago para o esôfago. O relaxamento anormal desse esfíncter permite que o conteúdo gástrico retorne para dentro do esôfago. Se não tratada, essa condição pode progredir para doença do refluxo gastresofágico (DRGE). Esfíncter pilórico - controla a liberação do quimo Valva ileocecal Esfíncter interno do ânus 1.4- SEROSA E ADVENTÍCIA A serosa ou adventícia constituem a camada mais externa do canal alimentar. A serosa é uma membrana serosa que consiste em uma camada de epitélio simples pavimentoso, denominado mesotélio, e em uma pequena quantidade de tecido conjuntivo subjacente. Equivalente ao peritônio visceral da anatomia. Partes do trato digestivo não possuem uma serosa, ou seja possuem apenas tecido conjuntivo, denominamos de adventícia. Tecido conjuntivo que se funde com o tecido conjuntivo da parede. 2. CAVIDADE ORAL A cavidade oral consiste na boca e em suas estruturas, que incluem a língua, os dentes e suas estruturas de sustentação (periodonto), as glândulas salivares maiores e menores e as tonsilas. A cavidade oral é dividida em um vestíbulo e a cavidade própria da boca. O vestíbulo é o espaço entre os lábios, bochechas e dentes. A cavidade própria da bocasitua-se entre os dentes e é limitada superiormente pelos palatos duro e mole, inferiormente pela língua e pelo assoalho da boca e posteriormente pela entrada para a orofaringe. A cavidade oral é revestida pela mucosa oral que consiste na mucosa mastigatória, em uma mucosa de revestimento e em uma mucosa especializada. 4 Renan Lopes Fernandes – MED104 A mucosa mastigatória é encontrada sobre a gengiva e o palato duro. O palato duro, que contém osso, é dividido em metades direita e esquerda por uma rafe. Anteriormente, na zona adiposa, a submucosa do palato duro contém tecido adiposo; posteriormente, na zona glandular, existem glândulas mucosas dentro da submucosa. Nem a rafe nem a gengiva contam com uma submucosa; em vez disso, a mucosa é fixada diretamente ao osso. O palato mole tem músculo no lugar de osso, e suas glândulas são contínuas com as do palato duro na submucosa. A mucosa de revestimento é encontrada nos lábios, nas bochechas, na superfície mucosa alveolar, no assoalho da boca, nas superfícies inferiores da língua e no palato mole. A mucosa especializada está associada à sensação do paladar e se limita à superfície dorsal da língua. Ela contém papilas e botões gustativos responsáveis pela geração da sensação química do paladar. 2.1. PALATO - O palato, compreendendo o palato duro, o palato mole, e a úvula, separa a cavidade oral da cavidade nasal. O palato duro é imóvel e é sustentado por uma estrutura óssea. O palato mole é móvel, e seu eixo é ocupado por músculo esquelético, responsável por seus movimentos. 2.2. PALATO MOLE - A parte da esquerda é a cavidade oral (epitélio estratificado pavimentoso não-queratinizado) e a da direita é a cavidade nasal( pseudo-estratificado cilíndrico ciliado- epitélio respiratório). O palato mole não tem osso mas possui um esqueleto muscular. Possui também tecido conjuntivo denso não-modelado e glândulas salivares mucosas. 5 Renan Lopes Fernandes – MED104 2.3. PALATO DURO - Há uma parte dessa mucosa que possui um epitélio, tem um tecido conjuntivo fibroso e outro frouxo entre os bolsões do epitélio, embaixo um tecido conjuntivo adiposo (submucosa). - Em outras partes teremos o epitélio mais o conjuntivo frouxo e fibroso prendendo diretamente no periósteo do osso. 2.4. GLÂNDULAS SALIVARES MAIORES: - Parótidas - Subdmandibulares - Sublinguais MENORES 2.5. LÁBIOS O lábio possui três regiões: a face externa (formada por pele delgada, glândulas e folículos), a zona de transição (borda vermelha, tendo as alças do capilares muito próximas a superfície da pele) e a face interna ( formada pela mucosa do vestíbulo oral, glândulas salivares mucosas). 2.6. LÍNGUA - A língua é o órgão muscular que se projeta para dentro da cavidade oral a partir de sua superfície inferior. Os músculos linguais são tanto extrínsecos ( tendo uma fixação fora da língua) como intrínsecos ( confinados inteiramente à lingua, sem fixação externa). O músculo estriado da língua é disposto em feixes e geralemnre cursa em três planos, cada um deles dipostos em ângulos retos em relação aos outros dois. Esse arranjo permite maior flexibilidade e precisão aos movimentos da língua. - A língua possui uma superfície dorsal (dividida em dois terços anteriores e um terço posterior pelo sulco terminal), uma superfície ventral e duas superfícies laterais. 6 Renan Lopes Fernandes – MED104 - Numerosas irregularidades e elevações mucosas, denominadas papilas linguais, cobrem a superfície dorsal da língua anteriormente ao sulco terminal. As papilas linguais e os botões gustativos associados constituem a mucosa especializada da cavidade oral. Quatro tipos de papilas são descritos: Papilas filiformes: são delicadas estruturas que concedem aparência aveludada à superfície dorsal. Essas papilas são cobertas por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado e auxiliam a raspar o alimento de uma superfície. Não possuem botões gustativos. (bastante epitélio). Papilas fungiformes: se assemelham a um cogumelo cujo pedículo está conectado a uma área mais larga voltada para a superfície da língua. O revestimento epitelial dessas papilas é estratificado pavimentoso não-queratinizado. As papilas fungiformes possuem botões gustativos na face dorsal de sua porção mais larga. (possuem epitélio mas tem bastante tecido conjuntivo em seu interior). Papilas foliadas: também chamadas de foliáceas, estão localizadas ao longo da porção póstero-lateral da língua. Elas aparecem como sulcos verticais, semlehantes às páginas de um livro. Em indivíduos idosos, as papilas foliáceas podem não ser reconhecidas; em indivíduos mais jovens, elas são facilmente reconhecidas e contêm muitos botões gustativos. Pequenas glândulas serosas desembocam dentro dos sulcos. Papilas circunvaladas: organizadas em forma de v imediatamente anterior ao sulco terminal. Essas papilas estão submersas na superfície da língua, de maneira a estarem cercadas por um sulco revestido por um epitélio, cuja base é perfurada pelos delicados ductos das glândulas de von Ebner. O revestimento epitelial do sulco e o lado (mas não o dorso) dessas papilas possuem botões gustativos.( tem um cálice e entre suas partes há um sulco). No vale da papila caliciforme entra saliva, e abaixo dela há glândulas salivares que empurram a secreção para o valum. Além disso, elas apresentam botões gustativos onde a saliva com alimento ao entrar no valum entra em contato com os botões que enviam a informação ao cérebro. - O botão gustativo apresenta um poro que recebe a saliva para as células neuroepiteliais. - Na parte mais posterior ao V lingual é rica em material linfoide. 7 Renan Lopes Fernandes – MED104 3. ESÔFAGO O esôfago é um tubo muscular, 25 cm de comprimento, que transporta o bolo alimentar (alimento mastigado) da orofaringe para o estômago. O esôfago não possui nenhum esfíncter anatômico, mas possui dois esfíncteres fisiológicos – o esfíncter faringoesofágico e os esfíncteres gastroesofágicos interno e externo – que previnem o refluxo do esôfago para a faringe e do estômago para o esôfago, respectivamente. As paredes do esôfago são formadas por uma mucosa, seguida por uma submucosa, seguida pela túnica muscular e por fim uma camada adventícia. 8 Renan Lopes Fernandes – MED104 3.1. MUCOSA A mucosa do esôfago é constituída por um epitélio estratificado pavimentoso não-queratinizado (o lúmen do esôfago geralmente encontra-se colabado, abrindo-se somente durante o processo de deglutição). Esse epitélio é apoiado por uma camada de tecido conjuntivo, a lâmina própria. Nesta lâmina própria encontramos as glândulas cárdicas esofágicas (produzem um muco que cobre o revestimento do esôfago, lubrificando-o para proteger o epitélio), as quais são encontradas em duas regiões do esôfago, um grupo próximo da faringe e outro próximo à sua junção com o estômago. Abaixo temos a camada muscular da mucosa, que é constituída de apenas uma camada de fibras musculares lisas orientadas longitudinalmente que vai se tornando mais espessa nas proximidades do estômago. 3.2. SUBMUCOSA A submucosa do esôfago é constituída de tecido conjuntivo fibroelástico, mais fibroso que o tecido conjuntivo frouxo da lâmina própria, que contém as glândulas esofágicas propriamente ditas. Elas possuem dois tipos de células: células mucosas, que contém muco e células serosas, que contém a proenzima pepsinogênio e o agente antibacteriano lisozima. Os ductos destas glândulas lançam suas secreções no lúmen do esôfago. O esôfago e 9 Renan Lopes Fernandes – MED104 o duodeno são as duas únicas regiões do tubo digestivo com glândulas na submucosa. 3.3. TÚNICA MUSCULAR EXTERNA E ADVENTÍCIAA túnica muscular externa do esôfago está disposta em duas camadas: circular interna e longitudinal externa. Entretanto, estas camadas musculares não são usuais, pois são compostas tanto por fibras musculares lisas quanto por estriadas esqueléticas. A túnica muscular externa do terço superior do esôfago possui essencialmente músculo esquelético; o terço médio possui músculo esquelético e liso; e o terço inferior possui somente fibras musculares lisas. O plexo de Auerbach ocupa sua posição de costume entre as camadas musculares circular interna e longitudinal externa da túnica muscular externa. O esôfago é coberto por uma adventícia até ultrapassar o diafragma, após o órgão é coberto por uma serosa, o peritônio visceral. 10 Renan Lopes Fernandes – MED104 3.4. CORRELAÇÕES CLÍNICAS A síndrome de Barret é, provavelmente, uma condição pré-maligna devida, inicialmente, ao refluxo gastroesofágico. Parte do epitélio estratificado pavimentoso não – queratinizado do esôfago, geralmente na sua região mais inferior, é substituída por epitélio simples cilíndrico semelhante ao revestimento do estômago. Sob ponto de vista endoscópico, esta área metaplástica é de tonalidade avermelhada. À medida que o esôfago passa pelo diafragma, ele é reforçado por fibras desta estrutura muscular. Em algumas pessoas, o desenvolvimento anormal causa uma brecha no diafragma em torno da parede do esôfago, permitindo hibernação do estômago para a caixa torácica. Essa condição, conhecida como hérnia de hiato, enfraquece o esfíncter gastroesofágico, permitindo o refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago. 4. TRANSIÇÃO ESÔFAGO-ESTÔMAGO O epitélio estratificado pavimentoso não-queratinizado passa a assumir a conformação do epitélio do estômago, cilíndrico/colunar (2). As glândulas da submucosa vão deixando de existir (3). Um espessamento da camada muscular para formação de um esfíncter (4). 11 Renan Lopes Fernandes – MED104 5. ESTÔMAGO O estômago é uma parte expandida do tubo digestivo que se situa sob o diafragma. Nele irá formar o quimo, uma mistura líquida pastosa. A anatomia macroscópica subdivide o estômago em quatro regiões: 1- O cárdia que circunda o orifício esofágico; 2- O fundo que situa-se em cima do nível de uma linha horizontal traçada através do orifício esofágico (cárdico); 3- O corpo que situa-se abaixo dessa linha; 4- A parte pilórica que é uma região em formato de funil que leva ao piloro; região esfíncterica estreita distal entre o estômago e o duodeno; As regiões histológicas do estômago são: 1- Região cárdica (cárdia): a parte próxima do orifício esofágico, que contém as glândulas cárdicas; 2- Região pilórica (piloro): a parte proximal ao esfíncter pilórico, que contém as glândulas pilóricas; 3- A região fúndica (fundo): a parte maior do estômago, que está situada entre a cárdia e o piloro e contém as glândulas gástricas ou fúndicas; Histologicamente, o fundo e o corpo são idênticos. Todas as regiões gástricas apresentam rugas, pregas longitudinais da mucosa e da submucosa (transversais no antro), as quais desaparecem no estômago distendido. 5.1. MUCOSA DA REGIÃO FÚNDICA A mucosa da região fúndica do estômago é constituída de 3 componentes usuais: 1. Um epitélio revestindo o lúmen; 2. Um tecido conjuntivo subjacente, a lâmina própria; 3. As camadas de músculo liso formando a camada muscular da mucosa. 12 Renan Lopes Fernandes – MED104 5.1.1. EPITÉLIO DO ESTÔMAGO O lúmen da região fúndica do estômago é revestido por um epitélio simples cilíndrico composto por células de revestimento superficial, as quais produzem uma espessa camada de muco, conhecida como muco visível, uma substancia semelhante a um gel que adere ao revestimento do estômago protegendo-o da autodigestão. As células de revestimento superficial se continuam para o interior das fossetas gástricas, formando seu revestimento epitelial. Fossetas gástricas: O revestimento epitelial do estômago invagina-se na mucosa formando as fossetas (ou fovéolas, ou criptas) gástricas, as quais são mais rasas na região cárdicas e mais profundas na região pilórica. As fossetas gástricas aumentam a área da superfície do revestimento gástrico. 5.1.2. LÂMINA PRÓPRIA DO ESTÔMAGO O tecido conjuntivo frouxo altamente vascularizado da lâmina própria possui uma rica população de plasmócitos, linfócitos, mastócitos, fibroblastos e ocasionais células musculares. Grande parte da lâmina própria é ocupada pelas glândulas gástricas estreitamente unidas, conhecidas como glândulas fúndicas (ou glândulas oxínticas) da região fúndica. 5.1.3. GLÂNDULAS FÚNDICAS Cada glândula fúndica estende-se da camada muscular da mucosa à base de uma fosseta gástrica e é subdividida em três regiões: o istmo, o colo e a base, das quais a base é a mais comprida. O epitélio glandular que constitui a glândula fúndica é constituído de 6 tipos celulares: 1. Células de revestimento superficial: as células mucosas produzem muco (fluido visível contendo mucina). 2. Células mucosas do colo: as células mucosas do colo produzem muco solúvel que é misturado com o quimo, lubrificando-o reduzindo seu atrito à medida que se desloca pelo trato digestivo. 3. Células regenerativas: as células regenerativas (células-tronco) proliferam para substituir todas as células especializadas que revestem as glândulas fúndicas, as fossetas gástricas e a superfície luminal. 4. Células parietais (ou células oxínticas): as células parietais produzem o ácido clorídrico e o fator intrínseco gástrico; ambos são liberados no lúmen do estômago. Invaginação da membrana apical formam canalículos intracelulares revestidos por microvilos. 5. Células principais (ou células zimogênicas): as células principais produzem as enzimas pepsina (cujo precursor é o pepsinogênio) renina e lipase gástrica, liberando-as na luz do estõmago. 13 Renan Lopes Fernandes – MED104 6. Células do sistema neuroendócrino difuso (SNED): As células do SNED podem ser do tipo aberto ou fechado. Elas produzem hormônios endócrinos, parácrinos e neurócrinos. 5.2. MUCOSA CÁRDICA E PILÓRICA A mucosa da região cárdica do estômago difere da mucosa da região fúndica. Na região cárdica as fossetas gástricas são mais rasas e a base de suas glândulas é altamente contorcida. A população celular das glândulas cárdicas é composta principalmente por células de revestimento superficial, e algumas células mucosas do colo, poucas células do SNED e poucas células parietais, sem apresentar células principais. As glândulas da região pilórica contém os mesmos tipos celulares que as glândulas da região cárdica, mas os tipos celulares predominantes na região pilórica são as células mucosas do colo. Além de produzir muco, estas células secretam lisozima, uma enzima bactericida. As glândulas pilóricas são altamente contorcidas e tendem a se ramificar. Além disso, as fossetas gástricas na região pilórica são mais profundas que as fossetas das regiões cárdica e fúndica, estendendo-se aproximadamente até a metade da lamina própria. 14 Renan Lopes Fernandes – MED104 6. INTESTINO DELGADO Em torno de 7 metros, é a região mais longa do trato digestivo. Possui três regiões: duodeno, jejuno e íleo. O intestino delgado digere o material alimentar e absorve os produtos finais do processo digestivo. Para exercer suas funções digestivas, o duodeno recebe enzimas e um tampão alcalino do pâncreas e a bile do fígado. Além disso, células epiteliais e glândulas da mucosa produzem tampões e enzimas que facilitam a digestão. 6.1. MODIFICAÇÕESDA SUPERFÍCIE LUMINALA área da superfície luminal do intestino delgado é modificada para ampliar sua área de superfície. Três tipos de modificações são encontrados: 1- Pregas circulares: ou valvas de Kerckring são pregas transversais da submucosa e da mucosa que formam elevações semicirculares ou helicoidais. Ao contrário das rugas do estômago, estas pregas são estruturas permanentes do duodeno e do jejuno e terminam na metade proximal do íleo. Elas além de aumentar a área de superfície do intestino delgado, diminuem a velocidade do movimento do quimo ao longo do trato intestinal. 2- Vilos: ou vilosidades, são protusões digitiformes ou foliáceas da lâmina própria cobertas por epitélio. São estruturas permanentes agrupadas. Sâo mais numerosos no duodeno que no jejuno ou no íleo. Aparência aveludada do órgão e aumentam a superfície de contato. 3- Microvilos: ou microvilosidades, são especializações da membrana plasmática apical das células epiteliais que revestem os vilos intestinais e aumentam a área de superfície do intestino delgado. 4- As invaginações do epitélio para o interior da lâmina própria por entre os vilos formam as glândulas intestinais, ou criptas de Lieberkuhn, as quais também aumentam a área de superfície do intestino delgado. 6.2. MUCOSA INTESTINAL A mucosa do intestino delgado é composta pelas três camadas usuais: um epitélio simples cilíndrico, a lâmina própria e a camada muscular da mucosa. Vênulas, vãos linfáticos e arteríolas penetram até a região apical do vilo. Entre um vilo e outro teremos invaginações, as criptas de Lieberkuhn. Fibras musculares lisas penetram no vilo, conferindo movimento rítmico. Os enterócitos que compõe esses vilos tem a clássica estrutura de borda em escova. 15 Renan Lopes Fernandes – MED104 6.3. EPITÉLIO O epitélio simples cilíndrico recobre os vilos e a superfície dos espaços entres os vilos é constituído de células absortivas superficiais, células caliciformes e células do SNED. 6.3.1. CÉLULAS ABSORTIVAS SUPERFICIAIS (ENTERÓCITOS) As células absortivas superficiais são células cilíndricas altas que participam da etapa final da digestão e absorção de água e nutrientes. Além disso, essas células reesterificam ácidos graxos, em triglicerídeos, formam quilomícrons e transportam a maior parte dos nutrientes absorvidos para a lâmina própria, visando a distribuição para o restante do corpo. Elas apresentam em suas superfícies microvilos, cujas pontas são cobertas por glicocálix (protege os microvilos da auto digestão). 16 Renan Lopes Fernandes – MED104 1. CÉLULAS CALICIFORMES As células caliciformes são glândulas unicelulares. O duodeno possui um número menor de células caliciformes, e seu número aumenta em direção ao íleo. Estas células secretam mucinogênio (glicoproteínas ácidas que quando liberadas na superfície apical se hidratam e formam uma camada de muco), cuja forma hidratada é a mucina, um componente do muco, uma camada protetora que reveste o lúmen. 2. CÉLULAS M (CÉLULAS COM MICROPREGAS) Células epiteliais especializadas que recobrem folículos linfoides das placas de Peyer no íleo. Invaginações contendo linfócitos e Células apresentadoras de antígenos (APCs). Ela própria pode endocitar antígenos e transportar macrófagos adjacentes. As células M endocitam e transportam antígenos do lúmen para a lâmina própria. 7. LÂMINA PRÓPRIA O tecido conjuntivo frouxo da lâmina própria forma o eixo dos vilos, os quais, se elevam acima da superfície do intestino delgado. O restante da lâmina própria, que se estende para baixo em direção à camada muscular da mucosa, é comprimido pelas numerosas glândulas intestinais tubulosas, as criptas de Lieberkuhn, reduzindo-se a finas lâminas de tecido conjuntivo frouxo altamente vascularizado. 8. CRIPTAS DE LIEBERKUHN As glândulas de Lieberkuhn são glândulas tubulosas simples que se abrem nos espaços intervilosos como perfurações do revestimento epitelial. Essas glândulas tubulosas são constituídas de células absortivas superficiais , células caliciformes (ambas ocupam a metade superior da glândula), células regenerativas, células do SNED e células de Paneth (ocupam a metade basal da glândula). 1. CÉLULAS REGENERATIVAS: são células-tronco que sofrem uma extensa proliferação para repovoar o epitélio das criptas, da superfície da mucosa e dos vilos. 2. CÉLULAS DE PANETH: essas células piramidais ocupam o fundo das criptas de Lieberkuhn e produzem o agente antibacteriano lisozima, proteínas de defesa(defensinas) e fator de necrose tumoral – alfa (TNF- alfa). Secretam lisozima continuamente. Muitos grânulos eosinofílicos. É uma célula exócrina: imunidade inata. Controlam a microbiota. 17 Renan Lopes Fernandes – MED104 3. CÉLULAS DO SNED: Sistema neuroendócrino difuso, células enteroendócrinas que secretam hormônios. 9. CAMADA MUSCULAR DA MUCOSA A camada muscular da mucosa do intestino delgado é constituída por uma camada circular interna e longitudinal externa de células musculares lisas. As fibras musculares da camada circular interna penetram nos vilos estendendo-se pelo seu eixo até a ponta do tecido conjuntivo, atingindo a membrana basal. Durante a digestão, estas fibras musculares se contraem ritmicamente, encurtando os vilos. 10. SUBMUCOSA A submucosa do intestino delgado é constituída de tecido conjuntivo fibroeslástico, com um rico suprimento vascular e linfático. A inervação intrínseca da submucosa provém do plexo submucoso ( de Meissner) parassimpático. A submucosa do duodeno é diferente, pois contém glândulas de Brunner. 10.1. GLÂNDULAS DE BRUNNER As glândulas de Brunner (glândulas duodenais) são glândulas tubulosas ramificadas cujas porções secretoras se assemelham a ácinos mucosos. Os ductos destas glândulas atravessam a camada muscular da mucosa e geralmente perfuram a base das criptas de Lieberkuhn, lançando seu produto de secreção no lúmen do duodeno. Ocasionalmente, seus ductos abrem-se entre as vilosidades. As glândulas de Brunner secretam um fluido mucoso alcalino em resposta a um estímulo parassimpático. Este fluido ajuda a neutralizar a acidez do quimo que entra no duodeno vindo da região pilórica do estômago. pH ótimo para ação de enzimas pancreáticas. As glândulas também secretam o hormônio polipeptídico urogastrona (também conhecido como fator de crescimento epidérmico humano), o qual é liberado no lúmen duodenal juntamente com o tampão alcalino. A urogastrona inibe a produção de HCL (pela inibição direta das células parietais) e amplifica a velocidade da atividade mitótica das células epiteliais. 18 Renan Lopes Fernandes – MED104 10.2. TECIDO LINFOIDE ASSOCIADO AO TRATO DIGESTIVO (GALT) Os vilos do íleo são os mais esparsos, os mais curtos e os mais estreitos das 3 regiões do intestino delgado. A lâmina própria/submucosa do íleo contém grupos permanentes de nódulos linfoides , conhecidos como placas de Peyer. Essas estruturas estão localizadas na parede do íleo que é oposta à inserção do mesentério. Na região das placas de Peyer, os vilos têm sua altura reduzida, podendo até estarem ausentes. 11. TÚNICA MUSCULAR EXTERNA E SEROSA A túnica muscular externa do intestino delgado é constituída de uma camada circular interna e uma camada longitudinal externa de músculo liso. O plexo mioentérico de Auerbach, localizado entre as duas camadas musculares, é o suprimento nervoso intrínseco da túnica muscular externa. A túnica muscular externa é responsável pela atividade peristáltica do intestino delgado. Excetuando a segunda e a terceira partes do duodeno, que possuem uma aventícia, todo o intestino delgado está envolvido por uma serosa. 19 Renan Lopes Fernandes – MED104 12. DIFERENÇAS REGIONAIS 1- DUODENO: segmento mais curtodo intestino delgado, com apenas 25 cm de comprimento. Ele recebe a bile do fígado e sucos digestivos do pâncreas através do ducto biliar comum (ducto colédoco) e do ducto pancreático, respectivamente. Estes ductos se abrem no lúmen do duodeno na papila duodenal (de Vater). O duodeno difere do jejuno e íleo pelo fato de seus vilos serem mais altos, largos e numerosos por unidade de área. Ele possui também menos células caliciformes, e possui glândulas na submucosa (glândulas duodenais ou de Brunner). 2- JEJUNO: Os vilos do jejuno são mais estreitos, curtos e mais esparsos que os do duodeno. O número de células caliciformes por unidade de área é maior no jejuno que no duodeno. 3- ÍLEO: Os vilos do íleo são os mais esparsos, os mais curtos e os mais estreitos das 3 regiões do intestino delgado. A lâmina própria/submucosa do íleo contém grupos permanentes de nódulos linfoides , conhecidos como placas de Peyer. Essas estruturas estão localizadas na parede do íleo que é oposta à inserção do mesentério. Na região das placas de Peyer, os vilos têm sua altura reduzida, podendo até estarem ausentes. 4- 13. INTESTINO GROSSO O intestino grosso, constituído do ceco, colo (ascendente, transverso, descendente e sigmoide), reto e ânus, tem aproximadamente 1,5 m de comprimento. Ele absorve a maior parte da água e íons do quimo proveniente do intestino delgado e compacta o quimo em fezes para a eliminação. O ceco e o colo são histologicamente indistinguíveis e são discutidos como uma única entidade denominada colo. O apêndice, uma evaginação em fundo cego do ceco, é descrito separadamente. 20 Renan Lopes Fernandes – MED104 13.1. COLO O colo corresponde a quase todo o comprimento do intestino grosso. Ele recebe o quimo do íleo através da valva ileocecal, um esfíncter anatômico e fisiológico que impede o refluxo do conteúdo do ceco para o íleo. 13.2. HISTOLOGIA DO COLO O colo não possui vilos, mas é dotado de uma grande quantidade de criptas de Lieberkuhn, de composição semelhante a do intestino delgado, exceto pela ausência de células de Paneth. O número de células caliciformes aumenta do ceco para o colo sigmoide, mas as células absortivas são as mais numerosas de todos os tipos celulares. As células do SNED também estão presente, apesar de seu número ser pequeno. A lâmina própria, a camada muscular da mucosa e a submucosa do colo assemelham-se às do intestino delgado. A túnica muscular externa é diferente, pois a camada longitudinal externa não é contínua em toda a sua superfície; em vez disto, grande parte dela está agrupada em 3 estreitas fitas de feixes musculares conhecidos como tênias do colo. O tônus constante mantido pelas tênias do colo forma pregas no intestino, as chamadas saculações do colo (haustra coli). A serosa apresenta numerosas bolsas formadas por tecido adiposo unilocular denominadas apêndices epiplóicos. 14. RETO E CANAL ANAL Histologicamente, o reto assemelha-se ao colo, mas as criptas de Lieberkuhn são mais profundas e em menor número por unidade de área. O canal anal, a continuação mais estreita do reto, tem suas criptas de Lieberkuhn curtas e escassas e não estão mais presentes na metade distal do canal. A mucosa apresenta pregas longitudinais, as colunas anais (colunas retais de Morgani). Estas se encontram umas às outras formando evaginações semelhantes a bolsas, as valvas anais com seios anais intermediários. As valvas anais auxiliam o ânus a suportar a coluna de fezes. 14.1. MUCOSA ANAL O epitélio que é cheio de enterócitos, criptas e células caliciforme se transforma em epitélio pavimentoso queratinizado no ânus. 21 Renan Lopes Fernandes – MED104 14.2. SUBMUCOSA ANAL E MUSCULAR EXTERNA Constituída de tecido conjuntivo fibroeslástico. Ela contém dois plexos venosos, o plexo hemorroidário interno, situado acima da linha pectinada e o plexo hemorroidário externo, localizado na junção do canal anal com o orificio externo, o ânus.A túnica muscular externa consiste em uma camada circular interna e uma camada longitudinal externa de músculo liso. A camada circular interna torna-se mais espessa ao circular a região da linha pectinada, formando o músculo do esfíncter anal interno. As células musculares lisas da camada longitudinal externa continuam como uma lâmina fibroelástica envolvendo o esfíncter anal interno. Músculos esqueléticos do soalho da pelve formam o músculo do esfíncter anal externo, que envolve a lâmina fibroelástica e o esfíncter anal interno. O esfíncter externo está sob controle voluntário e possui um tônus constante. 14.3. APÊNDICE O apêndice vermiforme é um divertículo do ceco. A mucosa do apêndice é constituída de um epitélio cilindrico, composto por células absortivas superficiais, células caliciformes e células M nos locais em que os nódulos linfóides encostam-se no epitélio. Menor número e tamanho de glândulas/criptas. Não possui tênias do colon.
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