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1 Aula 1 - Anatomia patológica – Prof.ª Maria Clara – 09/02/2021 – Fernanda Pereira Guimarães – 4º período Em artérias normais, a íntima consiste em uma única camada de células endoteliais com mínimo tecido conjuntivo subendotelial subjacente. Ela é separada da média por uma densa membrana elástica chamada lâmina elástica interna. As camadas de células musculares lisas da média perto da luz do vaso recebem oxigênio e nutrientes por difusão direta da luz do vaso, o que é facilitado por orifícios na membrana elástica interna. No entanto, a difusão da luz é inadequada para as partes externas da média em vasos de grande e médio calibres e, portanto, estas áreas são nutridas por pequenas arteríolas que se originam de fora do vaso (chamadas vasa vasorum, literalmente “vasos dos vasos”), que têm um trajeto em direção à metade aos dois terços externos da média. O limite externo da média da maioria das artérias é uma lâmina elástica externa bem definida. Externamente à média, fica a adventícia, consistindo em tecido conjuntivo com fibras nervosas e vasa vasorum. Com base em seu calibre e características estruturais, as artérias se dividem em três tipos: artérias grandes ou elásticas, incluindo a aorta, seus ramos grandes (particularmente a inominada troncobraquiocefálica, subclávia, carótida comum e ilíaca) e as artérias pulmonares; artérias de médio calibre ou musculares, compreendendo outros ramos da aorta (p. ex., artérias coronárias e renais); e pequenas artérias (menos de aproximadamente 2 mm de diâmetro) e arteríolas (20 a 100 μm de diâmetro) na substância dos tecidos e órgãos. Como a resistência de um tubo ao fluxo de líquido é inversamente proporcional à quarta potência do diâmetro (diminuir o diâmetro à metade aumenta a resistência em 16 vezes), pequenas alterações do tamanho da luz de pequenas artérias, causadas por alteração estrutural ou vasoconstrição, podem ter um efeito profundo. Deste modo, as arteríolas são os principais pontos de resistência fisiológica ao fluxo sanguíneo. As células endoteliais estruturalmente intactas podem responder a vários estímulos fisiopatológicos pelo ajuste de suas funções habituais (constitutivas) e por expressão de propriedades recém adquiridas (indutíveis) – um processo chamado ativação endotelial. A ativação endotelial pode ocorrer por estresses hemodinâmicos e produtos lipídicos, críticos para a patogenia da aterosclerose. As células endoteliais ativadas expressam moléculas de adesão e produzem citocinas e quimiocinas, fatores de crescimento, moléculas vasoativas que resultam em vasoconstrição ou vasodilatação, moléculas do complexo principal de histocompatibilidade, partes pró-coagulantes e anticoagulantes de moléculas, e vários outros produtos biologicamente ativos. As células endoteliais influenciam a vasorreatividade das células musculares lisas subjacentes através da produção de fatores relaxantes (p. ex., o óxido nítrico [NO]) e fatores de contração (p. ex., a endotelina). A função endotelial normal caracteriza-se por um equilíbrio destas respostas. Conforme ocorre lesão vascular há estimulo para o crescimento de células musculares lisas e síntese de matriz extracelular associada, Doenças do aparelho cardiovascular 2 Aula 1 - Anatomia patológica – Prof.ª Maria Clara – 09/02/2021 – Fernanda Pereira Guimarães – 4º período levando ao espessamento da intima. Essa resposta é estereotipada sob qualquer lesão que o vaso sofra de forma a preencher a área lesionada. As células musculares que migraram para a íntima não possuem capacidade contrátil, apenas proliferativa e preenchedora. Com o tempo e a restauração ou normalização da camada endotelial, as células musculares lisas da íntima podem retornar a um estado não proliferativo. No entanto, a resposta de restauração resulta em espessamento permanente da íntima. Caso a lesão seja persistente o espessamento torna-se progressivo, podendo levar ao estreitamento da luz do vaso ou estenose. O coração também é divido em três camadas, sendo a mais interna o endocárdio mural, revestido por endotélio que fica em contato com o sangue. No meio fica o miocárdio, fibras musculares esqueléticas. O epicárdio corresponde ao pericárdio mais o tecido adiposo que fica aderido ao coração. Algumas células atriais apresentam grânulos elétron-densos no citoplasma, chamados de grânulos atriais específicos; eles constituem o local de armazenamento do peptídeo natriurético atrial. O peptídeo natriurético atrial pode produzir uma variedade de efeitos fisiológicos, incluindo vasodilatação, natriurese e diurese, ações que são benéficas em estados patológicos, tais como a hipertensão e a insuficiência cardíaca congestiva. Aterosclerose São lesões nas grandes artérias elásticas (aorta, carótidas e ilíacas) e artérias musculares de calibre médio (artérias coronárias, femorais e poplíteas). O termo reflete a aparência da placa aterosclerótica devido ao acúmulo de lipídeos, células musculares lisas, inflamação e tecido conectivo no interior da camada íntima. Essas lesões da camada íntima, chamadas de ateromas ou placas ateroscleróticas, causam morbidade e mortalidade significativas, tornando importante a compreensão de sua etiologia e patogênese. A grande maioria de mortes por isquemia cardíaca vem por uma complicação da arteriosclerose principalmente quando ela acomete as coronárias (vaso pequeno), levando ao infarto agudo do miocárdio. Patogenia da aterosclerose Envolve a seguinte sequência de eventos: Lesão endotelial, que causa (entre outras coisas) aumento da permeabilidade vascular, adesão de leucócitos e trombose. Acúmulo de lipoproteínas (principalmente LDL e suas formas oxidadas) na parede do vaso. Adesão de monócitos ao endotélio, seguida por migração para a íntima e transformação em macrófagos e células espumosas. Adesão plaquetária. Liberação de fatores das plaquetas, macrófagos e células da parede vascular ativados, induzindo recrutamento de células musculares lisas, seja da média, seja de precursores circulantes. Proliferação de células musculares lisas e produção de MEC. Formação da capa de aterosclerose que causa o abaulamento na parede do vaso. Acúmulo de lipídios extracelularmente e dentro das células (macrófagos e células musculares lisas). 3 Aula 1 - Anatomia patológica – Prof.ª Maria Clara – 09/02/2021 – Fernanda Pereira Guimarães – 4º período A lesão endotelial crônica ocorre por diversos fatores (dislipidemia: o lipídio é oxidado por radicais livres, o lipídio oxidado é citotóxico para as células endoteliais e para as células musculares lisas; hipercolesterolemia: s lipídios dominantes nas placas ateromatosas são o colesterol e os ésteres do colesterol; hipertensão arterial alterando a RVP; tabagismo; homocisteína; distúrbios hemodinâmicos como trombose, embolia e á distúrbios dos padrões de fluxo; toxinas; vírus e reações imunes). Quando o endotélio sofre lesão/disfunção o processo inflamatório é desencadeado. As células endoteliais passam a expor moléculas de adesão de plaquetas e monócitos e fatores de crescimento. Essas moléculas promovem aumento de permeabilidade e migração de células imunes, principalmente os monócitos que são precursores dos macrófagos. As células imunes liberam radicais livres que promovem a oxidação de lipídios e, continua ocorrendo o aumento da permeabilidade do vaso. Com isso as apoproteínas (proteínas transportadoras de lipídio) penetram na íntima. Quando isso acontece os macrófagos fagocitam os lipídios transformando-se em células espumosas. O acúmulo de células espumosas, em maior escala, forma as estrias gordurosas (células inflamatórias + células espumosas, ainda não têm a migraçãodas células musculares lisas, sem capa fibrosa). Vários fatores de crescimento estão implicados na proliferação de células musculares lisas e na síntese da MEC, incluindo PDGF (liberado por plaquetas aderentes ao local, bem como macrófagos, células endoteliais e células musculares lisas), FGF e TFG-α. As células musculares lisas recrutadas sintetizam MEC (notavelmente colágeno), que estabiliza as placas ateroscleróticas. No entanto, as células inflamatórias ativadas dos ateromas podem causar apoptose de células musculares lisas da íntima e também podem aumentar o catabolismo da MEC, resultando em placas instáveis. A proliferação de células musculares lisas da íntima (miofibroblastos) e a deposição de MEC (TCPD + proteoglicanos) convertem uma estria gordurosa, a lesão mais inicial, em ateroma maduro e contribuem para o crescimento progressivo das lesões ateroscleróticas. Durante a formação da placa e dependendo dos seus componentes observamos 3 diferentes estágios estria gordurosa placa de ateroma placa complicada Estria gordurosa uma coleção de macrófagos espumosos na íntima. São pequenas elevações lineares com coloração amarelada. Estágio inicial de formação do ateroma: células espumosas sem migração de músculo liso ou capsula fibrosa. A aorta de lactentes com menos de 1 ano de idade pode exibir estrias gordurosas, e tais lesões são vistas virtualmente em todas as crianças com menos de 10 anos. Crianças até os 10 anos não têm metabolismo lipídico formado, mas depois dos 10 anos este já é desenvolvido. Todavia, as estrias gordurosas coronárias começam a se formar na adolescência, nos mesmos locais anatômicos que, mais tarde, tendem a desenvolver placas. Placa de ateroma invadem a luz da artéria e têm um aspecto macroscópico branco a amarelo; o trombo superposto às placas ulceradas é castanho-avermelhado. O diâmetro das placas varia de 0,3 a 1,5 cm, mas podem coalescer e formar massas maiores. Para a placa ser formada ocorreram todas as fases da patogênese. Acomete vasos de médio e grande calibre: aorta carótidas, ilíacas coronárias. A PDGF determina a migração do músculo para a intima. 4 Aula 1 - Anatomia patológica – Prof.ª Maria Clara – 09/02/2021 – Fernanda Pereira Guimarães – 4º período Microscopia da placa de ateroma A cápsula fibrosa superficial é composta por células musculares lisas e colágeno relativamente denso. Abaixo da cápsula e ao lado dela (o “ombro”), há uma área mais celular contendo macrófagos, linfócitos T e células musculares lisas. Profundamente à cápsula fibrosa, há um centro necrótico que contém lipídios (primariamente colesterol e ésteres do colesterol), restos de células mortas, células espumosas (macrófagos carregados de lipídios e células musculares lisas), fibrina, trombo com organização variável e outras proteínas plasmáticas; A periferia das lesões mostra neovascularização (pequenos vasos em proliferação) para tentar recanalizar a área que foi perdida. Podem ser classificadas em: Moles ou instáveis: prevalência de lipídeos Duras ou estáveis: prevalência de componente fibroso Os cristais de colesterol livre encontrados no centro necrótico são as fendas brancas e os pontos roxo. Os pontos roxos escuro são sinais de calcificação, ocorre deposição de cálcio oriundo da degeneração celular, isso torna as placas mais duras, indicando que a placa é velha. Consequências da doença aterosclerótica Os vasos menores podem ficar ocluídos, comprometendo a perfusão distal dos tecidos. A placa que se rompeu pode embolizar resíduos ateroscleróticos e causar obstrução distal do vaso ou pode levar à trombose vascular aguda (e frequentemente catastrófica). A destruição da parede vascular subjacente pode levar à formação de aneurisma, com ruptura e/ou trombose secundárias. Estenose Aterosclerótica. Nas pequenas artérias, as placas ateroscleróticas podem ocluir gradualmente as luzes dos vasos, comprometendo o fluxo sanguíneo e causando lesão isquêmica. Nos primeiros estágios da estenose, a remodelação da média do vaso tende a preservar o diâmetro da luz à medida que se expande a circunferência total. No entanto, há limites para esta remodelação para fora e finalmente o ateroma se expandirá e invadirá o fluxo sanguíneo. Estenose crítica é o ponto em que a oclusão crônica limita significativamente o fluxo e a demanda começa a exceder a oferta. Alteração Aguda da Placa. A erosão ou ruptura da placa é seguida prontamente por trombose vascular parcial ou 5 Aula 1 - Anatomia patológica – Prof.ª Maria Clara – 09/02/2021 – Fernanda Pereira Guimarães – 4º período completa, resultando em infarto agudo do tecido (p. ex., infarto do miocárdio ou cerebral). As alterações da placa caem em três categorias gerais: Ruptura/fissura, expondo constituintes da placa altamente trombogênicos. Erosão/ulceração, expondo ao sangue a membrana basal subendotelial trombogênica. Hemorragia no ateroma, expandindo seu volume. A placa complicada é a placa mole ou vulnerável, mais fácil de se romper. Alterações abruptas na configuração da placa e trombose superposta são complexos e incluem fatores intrínsecos (p. ex., estrutura e composição da placa) e extrínsecos (p. ex., pressão arterial, reatividade plaquetária); A ruptura de uma placa indica que ela não foi capaz de suportar as tensões mecânicas das forças de cisalhamento vasculares. Em geral, a inflamação da placa resulta em um nítido aumento da degradação do colágeno e reduz a síntese de colágeno, assim desestabilizando a integridade mecânica da cápsula fibrosa. É interessante observar que as estatinas podem ter um efeito terapêutico benéfico não apenas por reduzirem os níveis circulantes de colesterol, mas também por estabilizarem as placas através de uma redução da sua inflamação. Quando a placa rompe surgem as complicações podendo ocorrer a obstrução arterial e a dilatação arterial. A obstrução vai levar a isquemia e a dilatação ocorre quando a placa altera a parede do vaso formando o aneurisma. O mais grave é a obstrução porque ela vai estar relacionada à isquemia. O que contribui para a complicação da placa? O crescimento da placa reduz a luz do vaso e provoca maior alteração da parede. A estimulação adrenérgica pode aumentar a pressão arterial sistêmica ou induzir vasoconstrição local, aumentando assim as tensões físicas em uma dada placa. Intenso estresse emocional também pode contribuir para ruptura da placa; isto é ilustrado mais dramaticamente pelo aumento da incidência de mortes súbitas associado a catástrofes. Hemorragia A hemorragia acontece quando a placa fibrosa rompe, levando ao crescimento da placa de forma aguda por extravasamento de sangue. 6 Aula 1 - Anatomia patológica – Prof.ª Maria Clara – 09/02/2021 – Fernanda Pereira Guimarães – 4º período Vasoespasmo/vasoconstrição A vasoconstrição compromete o tamanho da luz e, por aumentar as forças mecânicas locais, pode potencializar a ruptura da placa. Esse evento ocorre por estimulação de agonistas adrenérgicos circulantes; conteúdo plaquetário localmente liberado (estimulado pelo tromboxano – 2, por exemplo; vasoconstritor e agregador do tampão plaquetário); comprometimento da secreção de fatores relaxantes das células endoteliais (óxido nítrico) relativo aos fatores de contração (endotelina) em decorrência da disfunção endotelial, e possivelmente mediadores liberados das células inflamatórias perivasculares. Trombose A trombose parcial ou total associada à ruptura de uma placa é crítica para a patogenia das síndromes coronarianas agudas. Quando a placa rompe há estímulo da cascata de coagulação o que promove a agregação plaquetária muito rapidamente no vaso,levando a obstrução. A placa de um trombo mural pode fragmentar formando vários êmbulos. O trombo é um potente ativador de múltiplos sinais relacionados com o crescimento nas células musculares lisas, o que pode contribuir para o crescimento das lesões ateroscleróticas. Doença cardíaca isquêmica A doença isquêmica cardíaca se instala toda vez que se tem um fluxo sanguíneo insuficiente para suprir as necessidades metabólicas do coração. O desequilíbrio é notado desde obstruções pequenas, até grandes obstruções. Uma lesão obstrutiva fixa ocluindo 75% ou mais do lúmen geralmente é necessária para provocar uma isquemia sintomática induzida por exercícios físicos (a maioria manifestada por dor no peito, conhecida como angina); com esse grau de oclusão, a vasodilatação arterial coronariana compensatória não é mais suficiente para satisfazer até mesmo os aumentos moderados da demanda miocárdica. A obstrução de 90% do lúmen pode levar a um fluxo sanguíneo coronário inadequado mesmo no repouso. A isquemia miocárdica progressiva induzida por oclusões que se desenvolvem lentamente estimula a formação de vasos colaterais ao longo do tempo, os quais podem proteger o coração contra a isquemia e infarto do miocárdio e mitigar os efeitos de estenoses de alto grau. A isquemia do miocárdio é um desequilíbrio entre o suprimento (perfusão) e a demanda do coração por sangue oxigenado. A isquemia abrange não apenas uma insuficiência de oxigênio, mas também uma disponibilidade reduzida de substratos nutrientes e uma remoção inadequada de metabólitos. Por esta razão, a isquemia geralmente é menos tolerada pelo coração do que a hipóxia, tal como ocorre na anemia grave, cardiopatia cianótica ou doença pulmonar avançada. Em mais de 90% dos casos, a causa da isquemia miocárdica é uma redução do fluxo sanguíneo coronariano em razão de uma obstrução aterosclerótica nas artérias coronárias. Assim, a CI é frequentemente denominada de doença arterial coronariana (DAC) ou doença cardíaca coronariana. Na maioria dos casos, há um longo período (mais de décadas) de aterosclerose coronariana lenta, progressiva e silenciosa antes do aparecimento desses sintomas. Dessa forma, as síndromes da CI são apenas as manifestações tardias da aterosclerose coronariana que, provavelmente, se iniciou durante a infância ou adolescência A cardiopatia isquêmica (CI) apresenta-se com uma ou mais das seguintes manifestações clínicas: Infarto do miocárdio, a forma mais importante de CI, no qual a isquemia provoca a morte do músculo cardíaco. Angina Pectoris, na qual a isquemia não é grave o suficiente para provocar infarto, mas pode ser uma ameaça para o infarto do miocárdio. Doença isquêmica crônica com insuficiência cardíaca. Morte súbita cardíaca → morre em menos 24h do infarto isquêmico. A angina estável resulta de aumentos da demanda de oxigênio pelo miocárdio que ultrapassam a capacidade das artérias coronárias acentuadamente estenosadas de elevar a oferta de oxigênio, mas ela geralmente não está associada à ruptura de placas. A angina pectoris típica (estável) geralmente é aliviada pelo repouso (que diminui a demanda) ou pela nitroglicerina, um potente vasodilatador (que aumenta a perfusão). 7 Aula 1 - Anatomia patológica – Prof.ª Maria Clara – 09/02/2021 – Fernanda Pereira Guimarães – 4º período A angina instável ou em crescente refere-se a um padrão de dor que ocorre com uma frequência crescente, frequentemente de duração prolongada que é precipitada por esforços progressivamente menores ou que ocorre mesmo em repouso. Na maioria dos pacientes, a angina instável é causada pela ruptura da uma placa aterosclerótica com trombose parcial (mural) superposta e, possivelmente, formação de êmbolos ou vasoespasmo (ou ambos). A angina instável então serve de alerta para um iminente IM agudo; além disso, essa síndrome algumas vezes é denominada de angina pré-infarto. Por último, a morte súbita cardíaca envolve uma lesão aterosclerótica na qual a placa rompida provoca isquemia miocárdica regional que induz à arritmia ventricular fatal. Patogenia: o evento dominante nas síndromes da cardiopatia isquêmica é a perfusão coronariana diminuída com relação à demanda miocárdica, decorrente de um estreitamento aterosclerótico progressivo e crônico das artérias coronárias epicárdicas, e de vários graus de alteração aguda da placa sobreposta, trombose e vasoespasmo. Os elementos individuais e suas interações serão discutidos adiante. Maior causador é a aterosclerose É a principal causa de óbito homens da meia idade.; depois que a mulher entra na menopausa não têm mais estrogênio (vasodilatador) assim a quantidade de mortes entre homens e mulheres se iguala. Embora apenas um único tronco coronariano epicárdio principal possa estar afetado pela aterosclerose crônica, duas ou três artérias coronárias – a descendente anterior lateral (DAL), a circunflexa esquerda (CE) e a artéria coronária direita (ACD) – estão frequentemente envolvidas na aterosclerose. Clinicamente, placas muito estenosantes podem estar localizadas em qualquer lugar dentro desses vasos, mas tendem a predominar dentro dos primeiros centímetros da DAL e CE e ao longo de toda a extensão da ACD. Algumas vezes, os ramos principais epicárdicos secundários também estão envolvidos (i.e., ramos diagonais da DAL, ramos marginais obtusos da CE ou ramo posterior descendente da ACD), mas a aterosclerose dos ramos intramurais (penetrantes) é rara. O que aumenta a demanda cardíaca? Atividade física, estresse, emoções, HAS, defeitos da valva aórtica e hipertireoidismo (crise tireotóxica, níveis de t3 e t4 estão tão altos que a taxa metabólica da pessoa vai estar totalmente anormal, alterando a demanda do coração por energia, sangue e oxigênio) O que diminui a oferta? Obstrução por aterosclerose (90%), vasoespasmo (uso de vasoconstritores), proliferação fibrointimal (pacientes que fizeram uma ponte de safena, podendo dar uma reação de reparo com proliferação muito grande de componente fibroso, quase uma rejeição), anomalias congênitas (malformação vascular), compressões (hematoma, tumor) 8 Aula 1 - Anatomia patológica – Prof.ª Maria Clara – 09/02/2021 – Fernanda Pereira Guimarães – 4º período Infarto agudo do miocárdio Como isso se apresenta na clínica? Área de necrose isquêmica em uma região do miocárdio, necrose coagulativa Clínica do IAM é variável não necessariamente têm todos esses sintomas Dor precordial, dispneia, queimação, irradiada para MMSS, pescoço e abdômen, palidez, mal-estar e taquicardia. Diabéticos infartam sem nenhum sinal ou sintoma. Exames laboratoriais Supra de ST (V6) e onda Q patológica CK-MB e troponina elevadas (4 horas após o infarto que ocorre essa elevação, tendo o pico em 24 horas) → não esperar os exames laboratoriais para começar a tratar como infarto. Lactato elevado 9 Aula 1 - Anatomia patológica – Prof.ª Maria Clara – 09/02/2021 – Fernanda Pereira Guimarães – 4º período Macroscopia Menos de 12-15 horas: ausência de alterações 15-18 horas: lesão pálida, bem demarcada, intumescida com pequenos focos hemorrágicos 48-72 horas: cor amarelo ouro (inflamação, células morrendo e sendo digeridas), levemente deprimido, com bordas hemorrágicas. 7 dias: periferia deprimida, cor castanho- acinzentado (início do reparo, possui tecido de granulação, já têm fibroblasto e colágeno sendo depositado) 1-2 meses: cicatriz fibrosa Infarto Transmural X Subendocárdico A distribuição da necrose do miocárdio está correlacionada com a localização e causa da redução da perfusão. A maioria dos infartos do miocárdio é transmural,no qual a necrose isquêmica envolve toda ou quase toda a espessura da parede ventricular na distribuição de uma única artéria coronária. Esse padrão de infarto geralmente está associado à combinação de aterosclerose coronariana crônica, alteração aguda da placa e trombose superposta (conforme discutido anteriormente). Em contraposição, o infarto subendocárdico (não transmural) constitui uma área de necrose isquêmica limitada ao terço inferior interno à metade da parede ventricular. Como a zona subendocárdica é normalmente a última região perfundida do miocárdio, essa área é a mais vulnerável a qualquer redução do fluxo coronário. Um infarto subendocárdico pode ocorrer como resultado do rompimento de uma placa seguido por um trombo coronário que se torna lisado antes da necrose do miocárdio se estender ao longo de toda espessura da parede; nesse caso, o infarto estará limitado à região irrigada pela artéria coronária que foi atingida pela alteração na placa. Entretanto, os infartos subendocárdicos também podem resultar da redução prolongada e intensa da pressão arterial sistêmica, como ocorre no choque, muitas vezes superposta a estenoses coronarianas crônicas, mas não críticas. Nos casos de hipotensão global, os infartos subendocárdicos resultantes geralmente são circunferenciais, em vez de estarem limitados à região irrigada por uma única artéria coronária importante. De acordo com as alterações do eletrocardiograma resultantes de isquemia/necrose do miocárdio em várias regiões, os infartos transmurais frequentemente são denominados de “infartos de elevação ST” e os infartos subendocárdicos são conhecidos como “infartos de não elevação de ST”. IAM - microscopia 3-8 horas: necrose de coagulação (preserva a arquitetura do tecido que é eosinofílica), necrose em banda de contração (alternância entre miofilamentos, microfilamentos hipereosinofílicos ao lado de miofilamentos degradados e inexistentes formando bandas claras, aspecto tigrado. Isso acontece porque a célula muscular morre, o cálcio do sarcolema se deposita na área de necrose alterando a cor da fibra) e miocitólise na periferia (células musculares já necrosadas na periferia se transformam, virando células globosas vacuolizadas, células que já sofreram degradação celular, lembra uma célula espumosa). 15-18 horas 48-72 horas 7 dias 1-2 meses Questão de prova! Infarto após 72 horas? Qual o aspecto do miocárdio? Características macroscópicas: Mosqueamento com a área central do infarto de cor amarelo acastanhada. Microscópio óptico: Necrose por coagulação, com perda dos núcleos e das estriações; infiltrado intersticial vigoroso de neutrófilos. 2 Aula 1 - Anatomia patológica – Prof.ª Maria Clara – 09/02/2021 – Fernanda Pereira Guimarães – 4º período 24 horas: células anucleadas, edema evidente (inflamação). Começa a migração de neutrófilos (para limpar a área). 2 - 4 dias: pico do número de neutrófilos, tecido digerido, mole e friável. 4-5 dias: migração de macrófagos com proliferação de capilares e fibroblastos, formação do tecido de granulação 7-14 dias: formação evidente de colágeno. A cicatriz vai cobrir toda a área 4-6 semanas: cicatrização completa do miocárdio. Área que sofreu o infarto perde a função fica dependente das células musculares remanescentes para que o coração continue funcionando como bomba. Hipertensão arterial A hipertensão sistêmica é um dos fatores de risco modificáveis mais importantes para cardiopatia coronariana aterosclerótica, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e doença renal de estágio terminal. A prevenção e o trata- mento da hipertensão podem levar a uma redução significativa de morbidade e mortalidade das principais causas de morte na América do Norte. Os efeitos nos órgãos terminais aumentam à medida que se eleva a pressão sanguínea. Normal – sistólica < 120 mmHg, diastólica < 80 mmHg Pré́-hipertensão – sistólica 120 a 139 mmHg, diastólica de 80 a 90 mmHg Estágio 1 –sistólica 140 a 159 mmHg, diastólica 90 a 99 mmHg Estágio II – sistólica ≥ 160 mmHg, diastólica ≥ 100 mmHg 3 Aula 1 - Anatomia patológica – Prof.ª Maria Clara – 09/02/2021 – Fernanda Pereira Guimarães – 4º período Clinicamente, a hipertensão sistêmica é dividida em duas categorias: essencial (idiopática) ou secundária. A hipertensão essencial é responsável por cerca de 95% dos 50 milhões de cidadãos norte-americanos com hipertensão. Hipertensão secundária associada a uma causa clínica definível representa menos de 5% dos casos. A hipertensão secundária pode ser provocada por hipertensão renovascular (estenose da artéria renal, displasia fibromuscular), doenças endócrinas (incluindo Feocromocitoma, hiperaldorenismo, síndrome de Cushing, administração de esteroides exógenos), causas neurogênicas, medicamentos, apneia do sono e toxinas. Quanto aos níveis pressóricos a hipertensão pode ser classificada em benigna (níveis pouco elevados e complicações tardias) ou maligna (níveis tensionais muito elevados, diastólica maior que 120 e sistólica maior que 200 mmHg) A hipertensão maligna, uma emergência médica, é a rápida e grave elevação da pressão sanguínea que pode levar a dano do coração, dos rins e/ou do cérebro. Mais comumente, a pressão sanguínea sistólica é elevada a 180 mmHg ou mais. A hipertensão maligna pode se desenvolver de modo espontâneo em um indivíduo previamente saudável ou como uma complicação em cerca de 1% dos pacientes previa- mente hipertensivos. Outras causas incluem qualquer forma de hipertensão secundária, gravidez, uso de cocaína, inibidores da monoaminoxidase (IMAOs), contraceptivos orais, abstinência de álcool, β- bloqueadores ou α-estimulantes. A regulação da pressão arterial se dá pelo débito cardíaco X resistência vascular periférica Débito cardíaco é igual a volume sistólica X frequência cardíaca Sua maior importância está em suas consequências: Atinge os vasos e coração. No coração leva a hipertrofia. Nas artérias de grande e médio porte levam à aterosclerose. Nas arteríolas vasos pequenos calibre leva a arterioloesclerose. A arterioloesclerose tem duas formas de apresentação: hialina (benigna) e a hiperplásica (maligna). Arterioloesclerose hialina Pequenas artérias apresentam arterioloesclerose hialina, um espessamento róseo homogêneo da parede arterial. A luz arteriolar está frequentemente estreitada, levando à redução do fluxo de sangue oxigenado as estruturas dos órgãos terminais. O aspecto hialinizado das arteríolas deve-se ao extravasamento de componentes do plasma através do endotélio vascular (aumento da permeabilidade vascular em função do dano provocado por aumento das pressões sistêmicas) e ao aumento da produção de matriz extracelular por células musculares lisas, formando lesões eosinofílicas. A arterioloesclerose hialina é um dos principais componentes da nefroesclerose benigna e nefropatia hipertensiva. O rim vai perdendo sua função, assim pacientes com hipertensão arterial às vezes podem perder a função renal tendo que fazer diálise. Quando a pressão arterial aumenta ocorre aumento da pressão hidrostática, causando lesão endotelial. A lesão provoca aumento da permeabilidade e aumento da migração de células e substâncias. Esse processo está relacionado com a hipertensão benigna, principalmente no rim. 4 Aula 1 - Anatomia patológica – Prof.ª Maria Clara – 09/02/2021 – Fernanda Pereira Guimarães – 4º período Arterioloesclerose hiperplásica Na presença de hipertensão crônica, ela pode resultar de alterações terminais nas arteríolas ou pode ocorrer na presença de arterite. A lesão das arteríolas leva a uma maior permeabilidade dos vasos sanguíneos de pequeno calibre às proteínas plasmá- ticas(incluindo o fibrinogênio), deposição de plaquetas e lesão às células endoteliais. As proteínas plasmáticas e a fibrina são depositadas nas paredes das arteríolas, dando aos vasos uma aparência eosinofílicas, homogênea e granular (necrose fibrinoide). As arteríolas podem desenvolver trombose intraluminal oclusiva levando à isquemia renal. As artérias interlobares e as arteríolas de maior calibre apresentam uma resposta diferente, com proliferação de células da camada íntima (acredita-se que células musculares lisas) que produz um arranjo concêntrico com uma aparência de pele de cebola. Essa arterioloesclerose hiperplásica provoca um grave estreitamento dos lumens arterial e arteriolar e alterações isquêmicas adicionais nos rins. Hiperplasia de células musculares, aspecto em bulbo de cebola (proliferação em forma concêntrica, não têm mais luz o vaso), estreitamento da luz, necrose fibroide. Muito músculo faz com que o vaso perca a complacência., ou seja, diminui a motilidade do vaso (contração e dilatação), o que leva a hipertensão maligna. Isso, novamente, ocorre no rim, levando a insuficiência renal em poucos meses. Hipertrofia Cardíaca: Fisiopatologia e Progressão até a Insuficiência O aumento do trabalho mecânico devido à sobrecarga da pressão ou volume (p. ex., hipertensão sistêmica ou estenose aórtica), ou sinais tróficos (p. ex., aqueles mediados pela ativação dos receptores β-adrenérgicos) levam ao aumento do tamanho dos miócitos (hipertrofia); cumulativamente, isso provoca um aumento no tamanho e peso do coração. O padrão de hipertrofia reflete a natureza do estímulo. Em resposta ao aumento da pressão (p. ex., hipertensão ou estenose aórtica), os ventrículos desenvolvem a hipertrofia por sobrecarga de pressão, que geralmente causa um aumento concêntrico na espessura da parede. Na sobrecarga de pressão, os novos sarcômeros estão depositados em paralelo ao longo eixo das células, expandindo a área transversal dos miócitos. Em 5 Aula 1 - Anatomia patológica – Prof.ª Maria Clara – 09/02/2021 – Fernanda Pereira Guimarães – 4º período contrapartida, a hipertrofia por sobrecarga de volume é caracterizada pela dilatação do ventrículo. Isso ocorre por causa dos novos sarcômeros que são depositados em resposta à sobrecarga por volume e estão posicionados em série com os sarcômeros existentes. Como resultado, na dilatação devido à sobrecarga por volume, a espessura da parede pode ser maior, normal ou menor do que o normal; então o peso do coração, em vez da espessura da parede, é a melhor medida para corações com hipertrofia por sobrecarga de volume. Cardiomiopatia hipertensiva Esse diagnóstico acontece em paciente portador de HAS com sinais de hipertrofia concêntrica do ventrículo esquerdo. O paciente com esse diagnóstico não pode ter outras doenças cardiovasculares (insuficiência valvar). A hipertrofia concêntrica do VE ocorre com uma tentativa de vencer a HAS, vencer a resistência aumentada. Como o músculo cardíaco não multiplica, é tecido permanente, a única maneira de aumentar força é causando hipertrofia, isto é, aumentar o tamanho da célula. Esse processo de hipertrofia para compensar o aumento da PA é um processo adaptativo de compensação. A cardiomiopatia compensada é a fase inicial da cardiomiopatia hipertensiva, em que a hipertrofia do músculo é capaz de aumentar a força de contração, levando ao aumento do débito cardíaco. Nesse momento ocorre o aumento da espessura da parede cardíaca e, consequentemente, diminuição da luz ventricular. Isso é bom pro débito porque ele se mantém (é compensado), mas isso é ruim pro músculo porque dificulta a perfusão muscular (maior o tamanho da parede para ser perfundida) e aumenta a demanda do músculo por oxigênio e nutrientes. A compensação é limitada uma vez que quando as células musculares chegam no esgotamento a cardiomiopatia torna-se descompensada. A função das valvas semilunares depende da integridade e dos movimentos coordenados das inserções valvulares. Assim, a dilatação da raiz da aorta pode dificultar a coaptação das cúspides da valva aórtica durante o fechamento, produzindo regurgitação. Por outro lado, a competência das valvas atrioventriculares não depende somente dos folhetos e de suas inserções, mas também da conexão tendinosa dos músculos papilares da parede ventricular. A dilatação do ventrículo esquerdo, a ruptura de um tendão, ou a disfunção do músculo papilar podem interferir no fechamento da valva mitral, levando à regurgitação. A cardiomiopatia hipertensiva descompensada ocorre quando as células musculares se esgotaram e não conseguem mais manter o aumento da contratilidade para a manutenção do débito cardíaco apesar do aumento da PA e da RVP. Ocorre, então, a sobrecarga e assim para criar espaço o coração faz dilatação, a parede fica fina, diminuindo a espessura. Com a dilatação do ventrículo esquerdo ocorre, por consequência, a dilatação da valva mitral. Dessa forma, o sangue se acumula no átrio esquerdo, levando a dilatação do átrio esquerdo também, surgindo a insuficiência da mitral, insuficiência cardíaca. Em nível funcional, a hipertrofia cardíaca está associada à maior demanda metabólica devido ao aumento da tensão na parede, frequência cardíaca e contratilidade (estado inotrópico ou força de contração), todos os quais aumentam o consumo de oxigênio cardíaco. Como resultado dessas alterações, o coração hipertrofiado é vulnerável à descompensação, que pode evoluir para insuficiência cardíaca e, eventualmente, levar à morte. Análise da lâmina: quando aparece área de infarto com fibrose do lado de célula que está hipertrofiada é porque a cardiomiopatia já está descompensada. 6 Aula 1 - Anatomia patológica – Prof.ª Maria Clara – 09/02/2021 – Fernanda Pereira Guimarães – 4º período Consequências clínicas da cardiomiopatia: congestão, edema pulmonar, hipoperfusão renal, hipoperfusão encefálica, congestão sistêmica hepatomegalia, edema de MMII. O espessamento é bom pro débito, mas ruim p o músculo porque dificulta a difusão de oxigênio e aumento da demanda, a isquemia é pronunciada, ocorre fibrose. Próxima aula: miocardite, endocardite e pericardite. Folhetos cardíacos Endocárdio - camada mais interna do coração, que entra em contato direto com o sangue das cavidades dos átrios e ventrículos. Revestido por endotélio, então são células endoteliais que ficam nessa região. Miocárdio - abaixo do endocárdio temos uma camada mais espessa, formada de músculo estriado esquelético, que é o miocárdio. É a parte do coração responsável pela contração. Quem manda seu coração fazer sístole e diástole a partir dos estímulos elétricos do nó sinusal. Pericárdio é abaixo do miocárdio e é dividido em 2 camadas: Pericárdio visceral em contato com o miocárdio Espaço preenchido por liquido chamado de saco pericárdico (protege o coração de grandes impactos) Pericárdio parietal formado por uma camada de tecido fibroso e adiposo. Miocardites Definição de Dallas: processo inflamatório do miocárdio acompanhado de agressão e intensa degeneração ou necrose das fibras cardíacas. As miocardites estão classificadas em 4 grupos diferentes (as 2 últimas são as mais importantes e comuns): Isolada ou de Fiedler – causada por uma alteração do sistema de condução cardíaca, ou seja, afeta o no sinoatrial, que é quem coordena a contração do coração. Essa miocardite é relacionada a morte súbita (morte com menos de 24 horas do início do evento). Ação química e física – relacionada com outros procedimentos e tratamentos que são oferecidos ao paciente como quimioterapia e radioterapia. Eles causam miocardite dilatada (aumento do volume cardíaco, cardiomegalia) ou restritiva (fibrose – coração duro -, mais comum na radioterapia que promove lesão celular, mesmo em áreas que não estão doentes, com cicatrização por meio de fibrose). Aguda (menos de 2 semanas) - podem ser causadas por vários agentes, como vírus (HIV, sarampo, coxsackie B e covid), bactérias (estafilococos e estreptococos) e fungos (cândida). Como esses agentes chegam até o meio do coração, até o miocárdio? Forma direta 1. Por disseminação direta pelo pericárdio (contiguidade); 2. Desprendimento de êmbolos sépticos (o embolo séptico tem além de fibrina, plaqueta e hemácia, também bactéria. O embolo séptico em geral se forma em outra doença dentro do coração, na endocardite, e vai parar no miocárdio); 3. Disseminação de agentes infecciosos sistêmicos que avançam pela corrente sanguínea (septicemia), que acontece em doenças infecciosas agudas, como amigdalite, apendicite e colecistite. * Streptococcus β-hemolítico do grupo A, responsável pela febre reumática. Em termos de morfologia, a miocardite aguda é praticamente igual em todos os agentes. Em todas elas temos o aumento global do volume cardíaco e dilatação das câmaras cardíacas, principalmente o ventrículo. Por que o coração cresce e as câmaras dilatam? Não temos um processo inflamatório agudo? Em uma inflamação aguda temos dois grandes eventos: evento vascular (aumento da permeabilidade, vasodilatação) e evento celular (migração e adesão dos leucócitos para que ajam ali no local). Então devido a principalmente o evento vascular, temos o edema (extravasamento de líquido, se acumulando naquele espaço entre as células). No músculo as fibras ficam intimamente ligadas umas às outras, não existe espaço entre as fibras musculares. Quando você inflama o tecido muscular, começa a aparecer espaço entre as células. Quando você separa uma fibra da outra, você enfraquece individualmente cada fibra. Elas são fortes porque estão juntas e puxam umas às outras. Quando aparece edema, elas se tornam mais frágeis e as câmaras começam a dilatar. Lembrando que é um 7 Aula 1 - Anatomia patológica – Prof.ª Maria Clara – 09/02/2021 – Fernanda Pereira Guimarães – 4º período evento agudo, se a fibra não romper, depois volta ao normal, em cerca de 2 semanas. Macroscopia da miocardite aguda Coração grande, coração com as câmaras dilatadas. Ao coloca-lo em cima de uma mesa observa-se um coração mole, porque a resistência das fibras é diminuída devido a presença do edema. VE é sempre o mais afetado. Microscopia da miocardite aguda Na microscopia depende do agente etiológico. Se for causada por vírus, predomina a presença de linfócitos. Em uma miocardite por presença de bactéria e fungos vamos ver neutrófilos. E se for por um parasita, vamos observar presença de eosinófilos. Específica - são as mais importantes, com certeza serão cobradas!!! Consideramos uma doença específica em anatomia patológica toda doença que tem ou um agente identificável (por técnica de anatomia patológica) ou lesão histológica específica (lesão patognomônica). As duas miocardites específicas mais importantes de estudar, pois prevalecem no Brasil, são a miocardite chagásica (doença de chagas) e a miocardite reumática (febre reumática). Miocardite chagásica: causada pela doença de chagas, que tem como agente etiológico o Tripanossoma cruzi. Endêmico principalmente no norte e nordeste do Brasil. Em anatomia patológica dividimos a doença de chagas em duas etapas. A etapa aguda e a etapa crônica, e cada uma delas tem lesões específicas. Fase aguda: Fase inicial! O agente ganha a circulação e vai para um de seus locais preferido, o coração. Pra fazer isso tudo, precisa de muitos agentes, então vemos que há presença de muitos parasitas nessa fase inicial. Chegando ao coração, vai ocupar todos os 3 folhetos cardíacos (mas principalmente dentro do músculo estriado esquelético, na região do miocárdio). Pra ele se multiplicar ainda mais, precisa entrar no miócito (célula cardíaca) e uma vez maduros (trofozoítos), eles destoem o miócito. Quando matamos uma célula temos necrose, que desencadeia inflamação. Assim, inicia-se um processo inflamatório agudo, com múltiplos focos. Essa inflamação tem a fase celular, com migração de células imunes (exsudato com macrófagos, neutrófilos, linfócitos e plasmócitos), e também tem o componente vascular (extravasamento de líquido), causando o edema intersticial. No Chagas, o edema é tão intenso, estira tanto a fibra que ela rasga, faz uma dissecção da musculatura (lesão patognomônica do Chagas agudo). Setas indicam o trofozoíto dentro da fibra muscular. Os feixes cinzas são os músculos separados e alguns rompidos (dissecção). A resposta do sistema imunológico do paciente acometido pela doença de chagas determina a gravidade da fase aguda. Fase crônica: Uma vez que o paciente tem doença de chagas, tem duas opções de desenvolvimento da doença: ou ele morre, ou ele adquire o chagas crônico (população da região endêmica). Geralmente, e quem consegue superar a fase aguda e passar para a crônica são os indivíduos de áreas endêmicas, porque tem diferença na resposta imunológica dos indivíduos. Berenice morava na região endêmica de chagas, o que quer dizer que toda sua vida foi exposta de certa forma ao parasita. É um antígeno que seu sistema imunológico conhece, e sua resistência é passada de mãe pra filho. Isso quer dizer que quando um morador da região endêmica desenvolve doença de chagas, a resposta imunológica dele é menor, é menos agressiva para o indivíduo. Quando tiver dissecção da musculatura, ele vai perder menos músculo. Então em geral, vamos ver chagas crônico nos pacientes que moram em região endêmica. Eles conseguem passar da fase aguda sem perder todos aqueles miocitos. O que esperamos ver em uma doença que alcançou a cronicidade? Os parasitas que na fase aguda estão em 8 Aula 1 - Anatomia patológica – Prof.ª Maria Clara – 09/02/2021 – Fernanda Pereira Guimarães – 4º período grande quantidade, na fase crônica estão em pequena quantidade. Como teve perda de musculatura (com fibrose), a musculatura que sobrou tem que realizar mais força, causando uma hipertrofia da musculatura. A parede do coração vai ficar mais espessa, afim de realizar mais força e compensar a perda. Hipertrofia (compensatória) é adaptação, tem um certo esgotamento, só consegue hipertrofiar até certo ponto. Se não dá mais pra crescer, ocorre a dilatação das câmaras. Vemos diante disso a cardiomegalia. Na fase aguda destrói, na fase crônica compensa, causando hipertrofia. Quando o coração dilata a espessura da parede diminui, causando o adelgaçamento da Ponta do VE (local que recebe mais pressão apesar de ser o local mais frágil do coração), e consequentemente o pseudo-aneurisma de vórtex (lesão patognomônica do Chagas crônico – lesão sacular/abaulamento). 4 megas da doença de Chagas 1. Cardiomegalia – mega tem origem pela tentativa compensatória. 2. Megaesôfago 3. Megacólon 4. Megaurter Megaesôfago, colón e ureter têm origem da destruição nervosa devido a colonização próxima da inervação. Quando perde inervação perde a motilidade e elasticidade, assim o órgão dilata. Embriologicamente, a ponta do VE é mais fraca, pois é formada apenas por uma camada. Não é um aneurisma verdadeiro porque não é possível visualizá-lo com o coração fechado, uma vez que não atinge todas as camadas do coração. Na microscopia da fase crônica pode-se perceber infiltrado inflamatório crônico de linfócitos e macrófagos, além de fibrose cardíaca. A principal consequência da doença de chagas é a insuficiência cardíaca congestiva (ICC), com cardiomegalia. Miocardite reumática Definida como uma complicação tardia não- supurativa, mediada por anticorpos,após infecções de vias aéreas superiores causadas por estreptococus beta hemolítico do grupo A de Lancefield. Paciente com repetidas infecções por esse agente, em geral, faringite. Quando se tem varias infecções pelo mesmo agente há desenvolvimento de resposta imunológica. E, essa resposta nem sempre é boa. O estreptococus tem uma proteína M em sua capa, e essa proteína M é análoga a componentes proteicos presentes nas válvulas cardíacas. Com isso, ao montar uma resposta imunológica contra o estreptococus baseado na proteína M, pode haver o reconhecimento das proteínas M das válvulas cardíacas como a do agente invasor, gerando uma reação cruzada. Ocorre uma reação cruzada, onde você monta uma resposta imunológica tanto para o agente lesivo, mas ao mesmo tempo tem uma estrutura análoga a algum componente do corpo humano, nesse caso à válvula cardíaca, como se ela fosse uma bactéria. A sua resposta imunológica ataca então os componentes valvares, causando lesão, inflamação e miocardite. Esses componentes que são lesados são os músculos papilares, as cordas tendíneas, o endocárdio mural, e 9 Aula 1 - Anatomia patológica – Prof.ª Maria Clara – 09/02/2021 – Fernanda Pereira Guimarães – 4º período os folhetos valvares. Nesse caso, o músculo estriado esquelético não é lesado, como no caso da miocardite chagásica. Na verdade, essa miocardite é o que chamamos de pancardite (doença que pega os 3 folhetos do coração). Por que chama miocardite se pega os 3? Porque todas as lesões exuberantes estão no miocárdio. Endocárdio – alterações estruturais, deixa de ser liso e forma áreas abauladas que podem formar trombos. Miocárdio – 3 lesões fundamentais da miocardite reumática (edema mucinoso, necrose fibrinoide e nódulo de Aschoff) Pericardite – processo inflamatório, extravasamento de fibrina. Assim como a chagásica, a reumática também se divide em duas fases: Fase aguda (menos exuberante que a fase crônica): vamos ver mais o processo inflamatório inicial. No miocárdio encontramos as 3 lesões fundamentais da miocardite reumática. 1. Edema mucinoso: Como ocorre? Tivemos a reação imunológica cruzada, levando à migração de células e ao aumento da permeabilidade vascular (fenômeno inflamatório agudo). O liquido vai ser extravasado, promovendo edema. Só que além de passar plasma, a permeabilidade aumenta de forma suficiente pra passar também fibrina. Essa fibrina misturada com plasma fica com uma característica que chamamos de edema mucinoso. 2. Necrose fibrinoide: além do edema mucinoso, aquelas células imunes que migraram, atacam os componentes valvares, levando então à destruição, morte celular, com necrose. Essa necrose de processos autoimunes, de reação cruzada, recebe um nome especial, que é necrose fibrinoide (principalmente, na parede dos vasos que é onde ela mais acontece). Tem um aspecto semelhante à fibrina e uma coloração eosinofílica, necrose de processos autoimunes e reação cruzada. 3. Nódulo de Aschoff: essa lesão levou à migração de células, e entre essas células que migraram temos os macrófagos. Eles olham para o colágeno degenerado das válvulas cardíacas e vão fagocitar, assim mudam de forma. Deixam de ser macrófagos e se torna uma célula de citoplasma eosinofilico chamada célula de Anitschkow. E esse conjunto de macrófagos, célula de Anitschkow com o colágeno degenerado próximo é o que forma o nódulo de Aschoff. Esse nódulo Aschoff se forma exatamente na transição entre o miocárdio e o endocárdio, empurrando o miocárdio em direção ao endocárdio, formando um abaulamento no endocárdio, o que é um problema porque o endotélio tem que ser liso pra sustentar o fluxo laminar do sangue. Quando leso o endotélio tenho a formação da cascata de coagulação (chama fibrina, plaqueta e hemácia pra formar um trombo). Forma-se então um trombo no endocárdio (nesse caso chamado de verrucosidade pois tem outros componentes), lesão facilitadora pra outras doenças. Ainda estamos na fase aguda, mas que pode causar complicações futuras maiores. O endocárdio sofre lesões estruturais. O nódulo de Aschoff é a lesão patognomônica da fase aguda da miocardite reumática. 10 Aula 1 - Anatomia patológica – Prof.ª Maria Clara – 09/02/2021 – Fernanda Pereira Guimarães – 4º período Fase crônica: vamos observar as consequências das lesões iniciais da fase aguda, o processo de reparo. É bem mais exuberante que a fase aguda. Essa fase não tem atividade, ou seja, lesão acontecendo só reparo. Em primeiro lugar ocorre a organização da inflamação, ou seja, ela diminui um pouco. Vemos que o edema é drenado, a necrose desaparece, o que sobram são as células inflamatórias. E vemos aparecendo agora os marcadores de reparo: a fibrose e a hialinização, que aparecem para substituir o que foi perdido (válvula sofrendo alteração, vaso perdido). As principais consequências da fibrose vão ser vista nas válvulas cardíacas. Quando ocorre a fibrose ela acaba causando o espessamento e fusão das comissuras e folhetos valvares. Eles perdem então mobilidade. E a perda de mobilidade de uma região de válvula é extremamente importante, porque isso quer dizer que a válvula vai ficar estenosada (estenose valvar), ela não abre mais direito, e o sangue tem dificuldade de passar do átrio para o ventrículo. Com o sangue acumulado no átrio, vai ter tentativa de compensação com hipertrofia, o que funciona no início, mas esgota um dia e o átrio dilata. Uma outra estrutura que vai sofrer com o reparo é a cordoalha tendínea. Quando você fibrosa elas espessam e encurtam e fusionam. Uma estrutura que tem que ser elástica quando fusiona perde força, perda a capacidade elástica, fazendo com que a válvula não consiga fechar direito, causando uma insuficiência valvar. Se a válvula não fecha, quando o coração contrai o sangue passa de volta pelo buraco que ficou, ele regurgita. Essa combinação de estenose com insuficiência valvar é o que chamamos de dupla lesão mitral. Mitral porque acontece mais do lado esquerdo. A lesão patognomônica da fase crônica da miocardite reumática é a placa de McCallum. Vimos que quando a corda tendíneas é afetada e não consegue mais fechar a válvula, tem insuficiência. Assim quando faço a sístole o sangue reflui de volta do ventrículo para o átrio. Quando reflui, reflui com pressão. Esse sangue todo vai pra cima da parede do átrio. Bateu na parede com força, lesionou, e é fibrosada e a parede posterior do AE fica espessada e abaulada. Essa região é chamada placa de McCallum. A miocardite reumática também pode evoluir pra ICC, não é só na chagásica. Quais são as possíveis consequências da febre reumática crônica? - Alteração valvar que leva à insuficiência, estenose, tentativa de compensação com hipertrofia e dilatação, podendo causar insuficiência cardíaca, principalmente do lado esquerdo. - Outra consequência é se aumentei a força de contração do lado esquerdo pra vencer as alterações valvares, o lado direito também é afetado, causando hipertensão pulmonar. Porque aumentou muito a pressão do sangue pra compensar o lado esquerdo. - E a última é a endocardite. Endocardites: Podem ser causadas por agentes infecciosos ou não, mas nessa aula vamos nos ater as endocardites infecciosas. Ela é uma inflamação do endocárdio provocada por microrganismos. Na maioria das vezes vai ser na válvula cardíaca. As válvulas favoritas dos microrganismos são a aórtica e a mitral, sendo a mitral a mais afetada por endocardite infecciosa. Usuários de drogas endovenosas costumam ter a tricúspide como válvula mais afetada na endocardite, porque quando você injeta a droga, você faz isso em direção ao fluxo sistêmico, e quem está relacionado com esse fluxo é a tricúspide. Quem causa a endocardite infecciosasão principalmente bactérias. E pra que elas consigam chegar a aderir e causar a doença precisa de uma lesão predisponente. É daí que vem a importância da verrucosidade. Sinais da endocardite -> febre, fraqueza, cefaleia, anorexia, calafrios, linfonodomegalia, hepatoesplenomegalia, embolia e infarto. O que diferencia isso de outro processo infeccioso? Através dos critérios de Duke modificados. Morfologia -> formação de vegetações (verrucosidade + bactéria). Vamos ver formando a lesão da endocardite fibrina, plaqueta, neutrófilo, necrose e bactéria. São massas brancas ou avermelhadas, friáveis (que destaca com facilidade) aderidas aos folhetos valvares. Além da doença em si, do processo infeccioso, qual o problema disso? Consequências -> ulceração da válvula (essas vegetações com bactérias destoem a válvula e ela deixa de ser funcional), perfuração de cúspides, embolia séptica (não são friáveis? Não soltam com 11 Aula 1 - Anatomia patológica – Prof.ª Maria Clara – 09/02/2021 – Fernanda Pereira Guimarães – 4º período facilidade? Vão migrar pela corrente sanguínea), infarto séptico (embolo séptico correr pela corrente sanguínea e obstruir a vascularização de algum órgão), aneurisma micótico (em alguns casos esses fragmentos de êmbolos de vegetação podem inflamar a parede do vaso. O aneurisma micótico é a mesma coisa que a vasculite).
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