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Daniela Carvalho – Turma LVI SÍNDROME NEFRÓTICA A síndrome nefrótica é uma doença pediátrica sendo 15 vezes mais comum em crianças que em adultos. A incidência é de 2-3/100.000 por ano. A maioria das crianças afetadas apresentará a doença por lesão mínima corticossensível. Aspectos característicos: ❖ Proteinúria intensa (>3,5 g/24 h em adultos ou 40 mg/m²/h em crianças). ❖ Hipoalbuminemia (<2,5 g/dL) ❖ Edema ❖ Hiperlipidemia ETIOLOGIA • 90%: Síndrome nefrótica idiopática o Doença por lesão mínima (85%) o Proliferação mesangial (5%) o Glomerulosclerose segmentar focal (10%) • 10%: Síndrome nefrótica secundária o Doenças sistêmicas o Doenças glomerulares (ex: nefropatia membranosa, glomerulonefrite membranoproliferativa) FISIOPATOLOGIA • Há aumento na permeabilidade da parede capilar glomerular → proteinúria maciça e hipoalbuminemia. o A causa do aumento de permeabilidade não está bem estabelecida, mas há algumas teorias. • Edema: mecanismo não completamente estabelecido (a teoria abaixo não se aplica a todos os pacientes): o Perda maciça de proteínas na urina → hipoalbuminemia → redução da pressão oncótica plasmática e transudato do compartimento intravascular para o espaço intersticial. ▪ Redução do volume intravascular→ redução da pressão de perfusão renal → ativação do SRAA → estímulo a reabsorção tubular de sódio. ▪ Redução do volume intravascular → liberação de ADH → aumento da reabsorção de água no ducto coletor. • Hiperlipidemia: o Hipoalbuminemia → estímulo a síntese proteica generalizada pelo fígado (incluindo lipoproteínas). o Perda urinária da enzima lipoproteína lipase → redução do catabolismo lipídico. SÍNDROME NEFRÓTICA IDIOPÁTICA PATOLOGIA • Síndrome Nefrótica por Lesão Histológica Mínima (LHM) o 85% dos casos; 95% das crianças respondem a corticoterapia. o Glomerulos aparecem normais ou mostram um aumento mínimo de matriz e de células mesangiais à microscopia óptica. o Microscopia eletrônica: fusão dos processos podais. • Proliferação Mesangial o 5% dos casos; 50% respondem à corticoterapia. Daniela Carvalho – Turma LVI o Aumento difuso das células mesangiais e da matriz à microscopia óptica. o Imunofluorescência: traços ou 1+ de impregnação mesangial de IgM e/ou IgA. o Microscopia eletrônica: aumento no número de células mesangiais e matriz bem como fusão dos processos podais das células epiteliais. • Glomerulosclerose segmentar focal (GESF) o 10% do casos; 20% respondem à corticoterapia. o Microscopia óptica: proliferação mesangial e fibrose segmentar. o Imunofluorescência: impregnação de IgM e C3 nas áreas de esclerose segmentar. o Microscopia eletrônica: fibrose segmentar do tufo glomerular com obliteração da luz capilar glomerular. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Meninos > meninas (2:1). • Mais comum entre 2 e 6 anos de idade (pré-escolares). • O episódio inicial e recidivas subsequentes podem ser precedidos por pequenas infecções e, ocasionalmente, reações a picadas de insetos, picada de abelhas e erva venenosa. • Edema: Usualmente o edema é moderado periorbital e nas extremidades inferiores. Comumente é confundida com distúrbio alérgico devido ao edema ao redor dos olhos. Com o tempo, se torna generalizado com desenvolvimento de ascite, derrames pleurais e edema genital. • Anorexia, irritabilidade, dor abdominal e diarréia são comuns. • Hipertensão e hematúria macroscópica são incomuns. DD da criança com edema inclui: Enteropatia perdedora de proteína, insuficiência hepática, insuficiência cardíaca congestiva, glomerulonefrite aguda ou crônica e desnutrição proteica. DIAGNÓSTICO • Urina 1: Proteinúria 3+ ou 4+; hematúria microscópica (20% dos casos). • Relação proteína/creatinina isolada > 2,0 • Proteinúria de 24 horas: proteinúria > 3,5 g/ 24h em adultos e 40 mg/m²/h em crianças. • Creatinina séria: valor geralmente normal, mas pode estar aumentado devido a perfusão renal diminuida. • Concentração de albumina sérica < 2,5 g/dL • Colesterol e triglicérides elevados. • Níveis de C3 e C4 normais • Biópsia renal não é necessário para a maioria das crianças. TRATAMENTO • Crianças tendo o primeiro episódio e edema discreto a moderado. o Não necessitam de internação. o A ingestão de sódio deve ser reduzida (dieta hipossódica), que pode ser normalizada após remissão. o Diuréticos orais são usados por muitos clínicos, mas devem ser reservados para pacientes com sintomas graves e devem ser cuidadosamente monitorados em virtude da possibilidade de aumentar o risco de complicações tromboembólicas. • Edema sintomático grave, incluindo grandes derrames pleurais, ascite ou edema genital grave. o Devem ser hospitalizados o Restrição de sódio e líquidos (se hiponatremia). Daniela Carvalho – Turma LVI o Se edema escrotal -> elevação com travesseiros para melhorar a remoção de líquido por gravidade. o A diurese pode ser aumentada com diuréticos: clorotiazida (10 mg/kg/ dose cada 12 h) ou metolazona (0,1mg/kg/dose 2x/dia) seguida por furosemida após 30 minutos (1-2 mg/kg/dose cada 12 h). • Albumina humana a 25% IV (0,5 g/kg/ dose IV cada 6-12 h) ao longo de 1-2 h seguida por furosemida (1-2 mg/kg/dose IV) -> caso a restrição de líquidos e diuréticos é eficaz. o Necessário monitorização cuidadosa da volemia, balanço hidroeletrolítico sérico e função renal. • Corticoterapia (prednisona) o Pode ser iniciada sem biópsia renal diagnóstica, exceto se menor probabilidade de e tratar de LHM (quando há hematúria, hipertensão, insuficiência renal, hipocomplementemia, idade < 1 ano ou > 8 anos), necessitando nestes casos de biópsia antes do tratamento. o Prednisona (após teste de PPD negativo) em uma dose de 60 mg/m²/dia (dose máxima diária, 80 mg divididos em 2-3 doses) durante pelo menos 4 semanas consecutivas (4-6 semanas no geral). ▪ 80-90% responderam: urina com traço ou negativa para proteína por 3 dias consecutivos. ▪ Depois da dose inicial, deve ser gradualmente diminuida e dada em dias alterados. ▪ Recidivas devem ser retratadas com prednisona. o Corticorresistente: não respondem a corticoterapia após 8 semanas de tratamento. Necessário realizar biópsia diagnóstica. Trata-se de GESF EM 80% dos casos e LHM em apenas 20%. o Corticodependentes: apresentam recidiva durante a corticoterapia em dias alternados ou dentro de 28 dias após o término da terapia. ▪ Podem ser tratados com ciclofosfamida, que prolonga a duração da remissão e reduz o número de recaídas. o Recidivantes frequentes: respondem bem à terapia, mas apresentam recidiva 4 ou mais vezes em um período de 12 meses. o Pulsoterapia de metilpredinisolona em altas doses ▪ Para os casos de Síndrome nefrótica complicada • Ciclosporina ou tacrolimo o São eficazes para manter remissões prolongadas e úteis na diminuição do uso de corticóides. • Micofenolato o Pode manter a remissão em corticodependentes ou recidivantes frequentes. • IECA e BRA o Podem ser úteis como terapia adjunta para reduzir proteinúria em pacientes corticorresistentes. COMPLICAÇÕES • Infecções o Susceptibilidade aumentada devido: perdas urinárias de imunoglobulinas e fator B da properdina, deficiência na imunidade celular, terapia imunossupressora, desnutrição, e edema/ ascite (“meios de cultura”). o Sepse, pneumonia, celulite, ITU, entre outros. o Devem receber a vacina pneumocócica polivalente e a da varicela caso não previamente vacinadas, no período de remissão. Devem receber a vacina para influenza anualmente. • Peritonite bacteriana espontânea Daniela Carvalho – Turma LVI • Risco aumentado para eventos tromboembólicos o Devido ao aumento de fatores protrombóticos e redução de fatores fibrinolíticos (perdas urinárias). o Anticoagulação profilática em crianças não é recomendada (a não ser que já tenham tido um evento anteriormente). • Risco de doença cardiovascular o Devido a hiperlipidemiaPROGNÓSTICO • A maioria tem repetidas recidivas, as quais geralmente diminuem em frequência a medida que fica mais velha. • Corticorresistentes: prognóstico mais reservado, desenvolvem doença renal crônica terminal e necessitam de diálise ou transplante renal. Daniela Carvalho – Turma LVI SÍNDROME NEFRÓTICA SECUNDÁRIA Ocorre como uma característica secundária de muitas formas de doenças glomerulares (tabela 527-1). Pode estar associada a doenças infecciosas, neoplasias e durante a terapia com algumas drogas e substâncias. • Deve ser suspeitada em pacientes com idade > 8 anos, hipertensão, hematúria, disfunção renal, sintomatologia extra-renal (erupção cutânea, artralgias, febre) ou concentrações diminuídas de complemento sérico. SÍNDROME NEFRÓTICA CONGÊNITA Se desenvolve em lactentes nos primeiros meses de vida. A causa mais comum é a síndrome nefrótica tipo finlandês, transtorno autossômico recessivo que é mais comum em populações de descendência escandinava (1:8.000). Pode ser causada por mutações nos genes NPHS1 ou NPHS2 (codificam nefrina e podocina). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E TRATAMENTO Tipo Finlandês • Proteinúria maciça (detectável intraútero por aumento da alfa-fetoproteina), uma placenta grande e edema acentuado. • Aspectos clínicas adicionais: prematuridade, desconforto respiratório e separação das suturas cranianas. • História natural: edema persistentes, infecções recorrentes e insuficiência renal progressiva com óbito em torno de 5 anos de idade. • Corticosteróides e agentes imunossupressores não possuem valor terapêutico. • IECA, indometacina e nefrectomia unilateral: podem diminui a proteinúria maciça e melhorar o estado nefrótico. • Os pacientes necessitam de suporte nutricional agressivo evoluindo para diálise crônica e transplante renal. Daniela Carvalho – Turma LVI Outras causas incluem infecções congênitas como sífilis, toxoplasmose, rubéola e citomegalovírus. HIV e hepatite B também são descritas causando síndrome nefrotica no período neonatal • Quadro geralmente menos grave, que pode melhorar ou se resolver com o tratamento da infecção subjacente. Esclerose mesangial difusa • Rara doença glomerular observada em uma minoria de crianças com síndrome nefrótica congênita. • Quadro clínico consiste em perda rápida da função renal, com doença renal crônica terminal dentro de meses ou anos. • Pode ocorrer como doença isolada ou como parte da síndrome de Denys-Drash. Fonte – resumo baseado em: Nelson, Tratado de Pediatria – Robert M. Kliegman et al. Páginas 2196 – 2201 8ª ed. Rio de Janeiro. Elsevier, 2009.
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