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ELAINE CRISTINA VENÂNCIO IVANI LIMA PEREIRA MICHELE VALIN DA SILVA O PAPEL DO ENFERMEIRO JUNTO À FAMÍLIA DO IDOSO ACAMADO Bragança Paulista 2012 ELAINE CRISTINA VENÂNCIO - 001200900885 IVANI LIMA PEREIRA - 001200900809 MICHELE VALIN DA SILVA - 001200900884 O PAPEL DO ENFERMEIRO JUNTO À FAMÍLIA DO IDOSO ACAMADO Monografia apresentada ao curso de Graduação em Enfermagem da Universidade São Francisco, Campus Bragança Paulista, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Enfermagem. Orientação: Prof.ª Grazielle Cristina dos Santos Bertolini Bragança Paulista 2012 ELAINE CRISTINA VENÂNCIO IVANI LIMA PEREIRA MICHELE VALIN DA SILVA O PAPEL DO ENFERMEIRO JUNTO À FAMÍLIA DO IDOSO ACAMADO Monografia apresentada ao curso de Graduação em Enfermagem da Universidade São Francisco, Campus Bragança Paulista, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Enfermagem. Orientação: Prof.ª Grazielle Cristina dos Santos Bertolini Data de aprovação: ___/___/___ Banca examinadora: _________________________________________________ Prof.ª Grazielle Cristina dos Santos Bertolini (Orientadora) Universidade São Francisco _________________________________________________ Prof.ª Elis Regina Varalda Rodrigues (Examinadora) Universidade São Francisco Dedicamos este trabalho ao nosso grande amigo André, que nos acompanhou durante essa etapa e hoje nos assiste lá dos Céus, vibrando por esta vitória! AGRADECIMENTOS Primeiramente ao nosso bom Deus, que permitiu a nossa caminhada até aqui. A meus pais Jésus e Lidinha, pelo apoio afetivo, financeiro e que mesmo distantes, ensinaram-me a não desistir nunca. A minha querida irmã, Cristiane, pela amizade, incentivo e ajuda nos momentos em que mais precisei. A meu noivo, Silvio, que mesmo com suas dificuldades, ainda tinha paciência para me ouvir e me consolar. A meu sobrinho Enzo, que me faz sorrir e tem o dom de engrandecer sempre os meus dias. A minha sobrinha (o) que ainda não nasceu, mas já é muito amada por todos. A minha saudosa e querida Vó e Madrinha, que já não se encontra mais aqui, por tudo que ela fez por mim, por seus eternos conselhos e sabedoria de vida. Elaine. A meus pais Tarcisio e Antonia pela colaboração, apoio e incentivo durante toda essa trajetória. A meu esposo Júlio César pela compreensão e por estar sempre presente nos momentos difíceis. A minha querida e amada filha Heloísa, pela imensa alegria que me proporciona todos os dias, apesar dos períodos de ausência nesses 4 anos. E a todos aqueles que de alguma forma me auxiliaram a alcançar este objetivo. Ivani. A minha mãe Arlete por estar presente nos momentos em que precisei. A meu pai José Joaquim e sua esposa Magda, por todo apoio e incentivo dedicados. A meus irmãos e seus conjuges, em especial Lincoln e Fátima, pelas horas dedicadas a me ouvir, consolar e também incentivar. A meus sobrinhos que sempre me alegraram e compreenderam a minha ausencia. A minha querida avó D. Gilda e tios pelo zelo e cuidado. A Elton, pela paciência ao me ajudar nos estudos, por ouvir minhas lamentações e proporcionar momentos de alegria e distração. A todos os amigos e colegas que comigo estiveram durante esta etapa. Michele. Enfim, agradecemos Aos professores da graduação pela excelência no ensino. A querida orientadora, Grazielle pelo carinho, dedicação, motivação de sempre e pela confiança em nós depositada. A Equipe de Saúde da Família Vila Palmira de Socorro que nos acolheu e permitiu com que este trabalho fosse realizado. Aos cuidadores e idosos que contribuíram para a concretização deste trabalho. Ao companheirismo, apoio, motivação e amizade por nós construída nesses longos anos que passamos juntas. “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana.” Carl G. Jung http://pensador.uol.com.br/autor/aristoteles/ RESUMO O envelhecimento é um processo biológico, vital, dinâmico e progressivo, onde ocorrem mudanças morfológicas, funcionais e bioquímicas, passíveis de interferir na capacidade do indivíduo em adaptar-se ao meio, dispondo-o à vulnerabilidade aos agravos e doenças, acarretando no comprometimento de sua qualidade de vida e saúde. Logo, o presente estudo aborda o papel do enfermeiro junto à família do idoso fragilizado/acamado. Considerando a importância da Estratégia de Saúde da Família (ESF) que atua na promoção da saúde e na prevenção de doenças, minimizando os agravos instalados no processo saúde doença, abordou-se este tema com o intuito de analisar a situação dos idosos acamados como também a percepção destes e de sua família em relação ao papel do enfermeiro na atenção domiciliar. Para a coleta de dados foram elaborados questionários com perguntas abertas e fechadas, desenvolvidos, aplicados e interpretados pelos pesquisadores para conhecer o perfil da população de idosos, cuidadores e profissionais de saúde da ESF II - Vila Palmira, Socorro – SP. Os resultados apontaram que o perfil do estudo nos mostra a tendência demográfica nacional, ou seja, a aceleração do envelhecimento. Assim, foram observados dados como: mulheres vivendo mais que homems, a aposentadoria como única fonte de renda, idosos frágeis e dependentes, portadores de várias doenças crônicas. A respeito dos cuidadores, foi possível identificar que em sua maioria são mulheres, pertencentes à família do idoso acamado/fragilizado e recebem pouca orientação para a realização dos cuidados. Quanto ao perfil dos profissionais da equipe de saúde, a unidade é composta por agentes comunitários de saúde, médico, enfermeira, técnicos de enfermagem, dentista, auxiliar de dentista e servente, a grande maioria é do sexo feminino. A equipe possui tempo de formação variado, mas grande parte com experiência de 5 a 6 anos em PSF. Dos profissionais estudados, 92% alegam realizarem visitas domiciliares aos idosos acamados, porém, apenas 2 afirmam ter curso de capacitação ao idoso. Sobre a assistência do enfermeiro ao paciente acamado, em suma, grande parte da equipe acredita que há um bom atendimento, entretanto os resultados se demonstram bastante contraditórios ao se analisar as respostas dos pacientes. Deste modo, pode-se também averiguar a percepção do idoso, da família e dos profissionais da saúde em relação ao papel do enfermeiro, contudo com divergências entre as informações coletadas. Portanto, esta pesquisa promoveu a concepção sobre a atual condição em que se encontra o idoso e seu cuidador no contexto social, econômico e cultural. Com as informações obtidas, conhecemos as principais necessidades a serem trabalhadas com os idosos e cuidadores, a fim de promover um cuidado integrado, qualificado e humanizado, de modo que o idoso tenha um envelhecimento ativo e saudável, evitando assim a sua institucionalização. Palavras-chave: cuidador. idoso acamado. papel do enfermeiro. visita domiciliar. ABSTRACT Aging is a biologic, vital, dynamic and progressiveprocess, in which occurs morphologic, functional and biochemical changes, that can interfere in the individual’s ability to adapt to the environment, exposing one to the vulnerability of aggravation and deceases, compromising the quality of one’s life and health. The present study addresses the roll of the nurse together with the family of the impaired/bedbound elderly. With consideration to the importance of the Strategy to the Family Health (ESF) that operates to promote health and prevention of deceases, minimizing the damages made during the process health-deceases, this topic is approached with intention to analyze the situation of the impaired elderlies and also their perception and their families perception to the roll of the nurse in homecare. To the gathering of data were elaborated surveys that contains open and closed questions, developed, applied and interpreted by the researchers to understand the profile of the elderly population, caregivers and health professionals from ESF II – Vila Palmira, Socorro - SP. The results indicated that the profile of the study show us the national demographic tendency, i.e., the acceleration of the aging. Therefore, it was observed data such as: women living longer than men, the pension as only income, impaired and dependents elderlies, patients with many chronic diseases. Concerned to the caregivers, it was possible to identify that the majority are women which belong to the impaired/bedbound elderly and receive little orientation on how to perform the care. About the profile of the health professionals team, the unit is composed by community health staff, doctor, nurse, practical nurse, dentist, dentist assistant and janitor, the majority are female. The team has varied formation time, but the most part has 5-6 years’ experience in PSF. From the professionals in the survey, 92% claim to make home visits to the impaired elderlies; however, only 2 claim to have training to take care of elderly people. About the nurse assistance to the impaired patient, in brief, most part of the team believes that the service is good, but the results are very contradictory when you analyze the answers from the patients. Thus, it can also be verified the perception of the elder, of the family and of the health professionals to the roll of the nurse, although with divergences among the information collected. Therefore, this study promoted the conception about the actual condition in which the elderlies and theirs caregivers are in, under the social, economic and cultural context. With the obtained information, we realized the main necessities to be worked with the elderlies and caregivers, in order to promote an integrated, competent and humane care, in a way that the elderly can have a health and active aging, avoiding in this way having to be institutionalized. Key words: Caregivers, impaired elderly, roll of the nurse, homecare. LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Distribuição da amostra segundo características sócio demográficas, PSF Vila Palmira, Socorro/SP, 2012 (n=27).............................................................................. 28 Tabela 2 - Distribuição da amostra segundo condições clínicas de saúde dos usuários cadastrados na unidade de saúde PSF Vila Palmira, Socorro/SP, 2012. (Aspectos clínicos n=27)...................................................................................................................... 31 Tabela 3 - Distribuição da amostra segundo características relacionadas aos cuidados ao idoso, PSF Vila Palmira, Socorro/SP, 2012 (n=20)........................................................ 40 Tabela 4 - Distribuição da amostra segundo avaliação da satisfação do serviço prestado pela unidade de saúde, PSF Vila Palmira, Socorro/SP, 2012 (n=20).................... 44 Tabela 5 - Distribuição da caracterização da amostra segundo tempo de formação, PSF Vila Palmira, Socorro/SP, 2012, (n=12)...................................................................... 46 Tabela 6 - Distribuição da caracterização da amostra segundo tempo de PSF, PSF Vila Palmira, Socorro/SP, 2012, (n=12)...................................................................................... 47 Tabela 7 - Distribuição da amostra segundo percepção dos profissionais dos aspectos relacionados à Visita Domiciliar, PSF Vila Palmira, Socorro/SP, 2012, (n=11)................................................................................................................................... 48 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Evolução da Proporção de Idosos e mais Idosos na População Brasileira por Sexo — 1920-2020.................................................................................................................... 17 FIGURA 2 - Distribuição da população por faixa etária em 2010...................................... 17 FIGURA 3 - Distribuição do número de idosos em relação a apresentação de patologias (n=27)........................................................................................................... 32 FIGURA 4 - Número de Internações de idosos no município de Socorro durante o ano de 2011.................................................................................................................... 33 FIGURA 5 - Distribuição dos pacientes amostrados segundo o tratamento farmacológico (n=27).................................................................................................... 34 FIGURA 6 - Distribuição dos pacientes amostrados segundo condições fragilizado/acamado (n=27)........................................................................................... 35 FIGURA 7 - Distribuição dos cuidadores por sexo e idade (n=20 em anos)............... 38 FIGURA 8 - Distribuição do grau de parentesco dos cuidadores com o idoso (n=21) 39 FIGURA 9 - Distribuição do grau de escolaridade dos cuidadores (n=20).................. 39 FIGURA 10 - Dificuldades descritas pelos cuidadores ao prestar cuidados aos idosos (n=20)................................................................................................................. 42 FIGURA 11 - Dificuldades encontradas pelos cuidadores ao lidar com o idoso (n=20)....................................................................................................................... ..... 43 FIGURA 12 - Distribuição de profissionais da equipe de saúde segundo sexo e idade (n=12)................................................................................................................... 45 FIGURA 13 - Distribuição de profissionais da equipe de saúde segundo cargo/função (n=12)...................................................................................................... 46 FIGURA 14 - Realização de curso de capacitação ao idoso pelos profissionais de saúde (n=12)................................................................................................... ............... 47 FIGURA 15 - Identificação dos problemas na atenção domiciliar no papel dos cuidadores (n=12).......................................................................................................... 51 FIGURA 16 - Assistência do Enfermeiro ao paciente acamado (n=12)...................... 51 LISTA DE SIGLAS ACS – Agente Comunitario de Saúde APAE – Associação de Pais e Alunos Especiais DM – Diabetes Mellitus ESF - Estrategia Saúde da Familia HA – Hipertensão Arterial IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística MS - Ministério da Saúde PAISI - Programa de Assistência Integral à Saúde do Idoso PNSPI – Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa PSF - Programa de Saúde da Família SIH/SUS- Sistema de Informações Hospitalares do SUS SUS – Sistema Único de Saúde VD - Visita Domiciliar SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 14 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.......................................................................... 16 2.1 ENVELHECIMENTO............................................................................................ 16 2.2 PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA POPULAÇÃO IDOSA NO BRASIL.............. 16 2.3 ATENÇÃO INTEGRAL AO PACIENTE IDOSO............................................... 18 2.3.1 O papel do enfermeiro.......................................................................................... 19 2.3.1.1 Visita domiciliar................................................................................................ 19 2.3.2 O papel da família e do cuidador.......................................................................... 20 2.3.3 O paciente acamado.............................................................................................. 20 3 JUSTIFICATIVA..................................................................................................... 22 4 OBJETIVOS............................................................................................................. 23 4.1 OBJETIVO GERAL............................................................................................... 23 4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................................. 23 5 MATERIAIS E MÉTODOS.................................................................................... 24 5.1 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO............................................................... 24 5.2 CLASSIFICAÇÃO E LOCAL DO ESTUDO....................................................... 24 5.3 PERFIL DA AMOSTRA....................................................................................... 24 5.4 CRITÉRIOS DO ESTUDO.................................................................................... 25 5.4.1 Critérios de inclusão............................................................................................. 25 5.4.2 Critérios de exclusão............................................................................................ 25 5.5 COLETA DE DADOS........................................................................................... 25 5.6 PROCEDIMENTO ÉTICO-LEGAL...................................................................... 26 5.7 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE........................................................................ 26 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................. 27 6.1 PERFIL DOS IDOSOS DO PSF II VILA PALMIRA............................................ 27 6.1.1 Perfil sócio-demográfico dos idosos..................................................................... 27 6.1.2 Perfil das condições clínicas de saúde dos idosos................................................ 30 6.2 PERFIL DOS CUIDADORES DO PSF II VILA PALMIRA................................ 37 6.3 PERFIL DOS PROFISSIONAIS DA EQUIPE DE SAÚDE DO PSF II VILA PALMIRA..................................................................................................................... 44 6.3.1 Perfil demográfico................................................................................................ 44 6.4 PERCEPÇÃO DOS AUTORES FRENTE AO PROCESSO DE PESQUISA.................................................................................................................... 52 7 CONCLUSÃO........................................................................................................... 54 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 55 REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 56 APÊNDICES............................................................................................................... 62 ANEXOS...................................................................................................................... 67 14 1 INTRODUÇÃO O envelhecimento é um processo progressivo no qual o corpo é submetido a diversas modificações fisiológicas, que influenciam na adaptação do indivíduo ao seu meio, tornando- o susceptível às doenças e suas complicações e comprometendo sua qualidade de vida e saúde (SOUZA; SKUBS; BRÊTAS, 2007). Atualmente, no Brasil, os idosos representam 7,4 % da população total, evidenciando um crescente percentual nos últimos anos (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍTICA - IBGE, 2010). Isto demonstra um processo de envelhecimento populacional brasileiro, mas que ocorre em ritmos diferentes de região para região (CONCEIÇÃO, 2010). Segundo o IBGE (2010), a razão desse crescimento é a soma de dois indicadores: a queda dos níveis de fecundidade e o aumento da longevidade da população e que traz como consequência o aumento das taxas de óbitos dessa faixa etária no total de mortes. Perante o envelhecimento populacional, o objetivo não é somente o prolongamento da vida, mas, sobretudo, a conservação da capacidade funcional do paciente, de modo que o idoso fique independente pelo maior tempo possível. Assim, faz-se necessária a garantia do acesso universal à atenção primária, programas públicos para controlar fatores de risco às doenças, estabelecimento de indicadores de pacientes de alto risco, programas de incentivo para uma vida saudável, promoção da saúde e prevenção de doenças, avaliação do idoso como um todo, com a finalidade principal de conservação da capacidade funcional do paciente (Soares et al., 2001 apud COSTA, PORTO e SOARES, 2003). De acordo com o Art. 230 da Constituição Federal Brasileira (1988) “a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida”. Em razão do elevado número de idosos brasileiros, da precária assistência à sua saúde e da dependência de cuidado constante, faz-se primordial conhecer todo o processo de cuidado ao idoso, bem como dos seus cuidadores (ZANDONA, 2008). Pois, em virtude a esse rápido envelhecimento da população, conseqüentemente, aumenta o número de idosos acamados, fragilizados, dependentes e com suas necessidades básicas comprometidas, logo, é imprescindível o conhecimento aprofundado que aponte os diagnósticos de enfermagem mais comuns nesse grupo de pacientes e, deste modo, possibilitar um planejamento competente de 15 intervenção e cuidados efetivos, que promova bem-estar e melhore a qualidade de vida da população idosa (FIGUEIREDO et al., 2008). Neste contexto, exige uma necessidade do direcionamento dos cuidados e da atenção ao idoso acamado, atendendo suas necessidades básicas, e, ao mesmo tempo, assistir suas famílias, já que são elas que garantem a continuidade da assistência ao idoso no domicílio. Para tanto, o profissional de saúde deve orientá-las a respeito do cuidado ao paciente e seus direitos de saúde; observando suas multinecessidades, fragilidades e limitações, de modo que ofereça suporte e condições para enfrentarem a complicada situação de ter um familiar idoso acamado sob seus cuidados (SILVA et al., 2011). Portanto, este estudo destaca uma perspectiva para o cuidado de enfermagem ao paciente idoso acamado, propondo uma pesquisa em uma Estratégia de Saúde da Família (ESF), que conta com uma enfermeira assistencial e uma equipe de saúde com 12 profissionais, que atendem uma população de aproximadamente 3.500 pessoas, sendo750 famílias, com uma média de 8 integrantes por família. Dentre a população assistida, serão selecionados os pacientes idosos acamados, sendo inclusos aqueles com extrema dificuldade de locomoção. Por fim, este trabalho apresenta como proposta a busca dos principais fatores que interferem no fenômeno do envelhecimento bem como das complicações das diversas doenças que acometem os idosos acamados, com enfoque no papel do enfermeiro na atenção domiciliar, a fim de possibilitar uma assistência humanizada e com qualidade, capaz de oferecer um envelhecimento ativo e saudável ao paciente. 16 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Envelhecimento O envelhecimento é um processo biológico, que se apresenta em cada ser humano idoso de um modo particular. Se fosse possível quantificar o envelhecimento conforme a perda da capacidade de cada órgão, a velhice significaria uma etapa de falência e incapacidades na vida. Entretanto, este fenômeno natural e evolutivo que acomete todos os seres vivos, não obrigatoriamente incapacita, pois os seres humanos não necessitam de toda totalidade de reserva funcional para viver bem e com qualidade. (MARTINS et al., 2007). Nesta fase vital, dinâmica e progressiva ocorrem mudanças morfológicas, funcionais e bioquímicas, que interferem na capacidade do indivíduo em adaptar-se ao meio, dispondo-o à vulnerabilidade aos agravos e doenças, acarretando no comprometimento de sua qualidade de vida e saúde (SOUZA, SKUBS, BRÊTAS, 2007). Para COSTA, PORTO, SOARES, 2003 o processo de envelhecimento caracteriza-se por diminuição da reserva funcional, que somada aos anos de exposição a inúmeros fatores de risco, torna os idosos mais vulneráveis às doenças. Eles são geralmente portadores de múltiplas enfermidades crônicas e incapacitantes e, por isso, são importantes consumidores dos recursos orçamentários destinados à saúde. 2.2 Perfil Epidemiológico da População Idosa No Brasil Atualmente, ocorre uma transformação mundial no perfil de faixas etárias da população. Em países antigamente apresentavam um número elevado de jovens, hoje, passam por um processo de envelhecimento da população (CHAVES et al., 2009). Segundo o censo demográfico de 2000 (VEIGA, MENEZES, 2008), a população de pessoas idosas com 60 anos ou mais era de 14,6 milhões, correspondia a 8.5% da população total do Brasil; consequentemente, projeções demográficas indicam para 2025 um total de 32 milhões de idosos, atingindo um percentual de 15% da população brasileira. A Figura 1 apresenta a Evolução da Proporção de Idosos no Brasil dos anos de 1920 a 2020. O aumento deste extrato 17 populacional tende a conduzir para a maior incidência de doenças crônico-degenerativas, com suas co-morbidades comuns na velhice (CAMARANO, 2002). FIGURA 1 - Evolução da Proporção de Idosos e mais Idosos na População Brasileira por Sexo — 1920-2020. Fonte: IBGE, vários censos demográficos. Projeções populacionais IPEA (2002). O censo demográfico de 2010 (IBGE, 2011) apresenta um aumento da população idosa comparado ao censo de 2000, conforme mostra os dados da Figura 2. FIGURA 2 – Distribuição da população por faixa etária em 2010. Fonte dos dados: IBGE, 2011. 18 A população do Brasil está em fase de envelhecimento, entretanto as regiões envelhecem em ritmos diferentes. O envelhecimento é um fator considerável ao se planejar as estratégias de saúde e previdência; pois, este processo provoca impactos significativos sobre os gastos públicos, o que demanda melhor infraestrutura, melhores tecnologias e profissionais mais capacitados, o que acarreta em intervenções mais custosas com hospitalizações, internações hospitalares e permanência em lares para idosos (CONCEIÇÃO, 2010). Na grande maioria dos estudos sobre envelhecimento populacional, é predominante a preocupação com o aumento o sobre os gastos previdenciários e a utilização dos serviços de saúde devido ao crescimento da população idosa (CAMARANO, 2002). Devido ao envelhecimento da população brasileira, torna-se urgente à implementação políticas de saúde voltadas ao paciente idoso, que preservem os seus direitos à saúde, com atendimento integral e de qualidade (CHAVES et al., 2009). 2.3 Atenção Integral Ao Paciente Idoso O cuidado do idoso na Atenção Básica é um tema bastante abordado na área da saúde, e é decorrente do crescente aumento da expectativa de vida da população brasileira, sendo assim, existe a necessidade de um cuidado específico para que a população da terceira idade tenha uma qualidade de vida adequada e, principalmente humanizada. A preocupação com esta faixa etária levou o Ministério da Saúde (MS) a desenvolver uma política pública de assistência, o Programa de Atenção Integral à Saúde do Idoso (PAISI), cujo objetivo é manter o estado de saúde para que se atinja o máximo de vida ativa na comunidade e na família, com maior grau de independência funcional (BRASIL, 2006a). Este programa ainda é novo, porém com uma abordagem mais ampla, contando com o auxílio dos Programas de Saúde da Família (PSF), os quais desenvolvem atividades para atingir os objetivos propostos. Portanto, é essencial a responsabilidade dos profissionais da saúde em proporcionar uma atenção em saúde que promova um envelhecimento saudável e ativo, objetivando a prevenção do surgimento de enfermidades crônicas ou a redução de eventuais complicações (UNICOVSKY, 2004). 19 2.3.1 O papel do enfermeiro A atuação do enfermeiro é de extrema importância para um envelhecimento saudável, segundo Gaioli (2010) a principal função dos enfermeiros na atenção básica, de acordo com as normas de operacionalização da assistência à saúde é, prestar assistência individual e coletiva, levando em conta as necessidades da população, aliando a atuação clínica à prática de saúde coletiva, realizando cuidados diretos de enfermagem nas urgências e emergências clínicas, realizando consulta de enfermagem, solicitando exames complementares, prescrevendo ou transcrevendo medicações. Executa as ações de assistência integral a criança, a mulher, ao adolescente, ao adulto e ao idoso. A equipe de enfermagem tem uma função essencial na educação em saúde, assistência e formação de recursos humanos, visando a promoção de saúde (Litvoc, Brito, 2004 apud ROCHA et al., 2011; Sousa et al. 2008 apud ROCHA et al., 2011). Neste sentido, enfermeiros têm buscado efetivamente novas e mais humanizadas perspectivas para o cuidado com a população, principalmente a população idosa (ROCHA et al., 2011). Portanto, a Enfermagem é ferramenta ativa e efetiva do ato de cuidar, sendo considerada uma presença próxima e aberta para o ser cuidado, no trabalho do processo dinâmico de saúde, adoecimento e bem- estar de cada indivíduo (LEITE, GOMES E CLAUDINO, SANTOS, 2009). 2.3.1.1 Visita domiciliar As visitas domiciliares (VD) promovem a aproximação do enfermeiro com seus pacientes (SILVA, 2009). Assim, é necessário ressaltar a importância da visita domiciliar como peça fundamental ao cuidado do idoso. Durante uma VD, tanto a enfermagem como toda a equipe podem observar de perto o ambiente domiciliar do idoso, o convívio com a família, levantando dados nem sempre relatados numa consulta dentro da unidade, como objetos ou mobílias que oferecem risco de quedas, banheiro fora da casa, alimentação e higiene, além de situações de violência. Com essa visão, o enfermeiro pode mudar o enfoque do cuidado, orientar melhor a família ou o cuidador a respeito de situações de risco e nutrição, visando à proteção do idoso e promoção da saúde, podendo assim obter resultados positivos 20 no tratamento de doenças crônico-degenerativas, tais como Hipertensão Arterial (HA), Diabetes Mellitus (DM), entre outras comuns da idade (DUARTE, 2000). Duarte (2000, p. 68) aindaafirma que a qualidade de vida dos idosos e de seus cuidadores familiares pode ser melhorada pela intervenção de cuidadores profissionais trabalhando em seus domicílios e essas intervenções devem ser no sentido de manter e implementar o bem-estar físico, emocional e cognitivo do idoso, ajudar a família a superar conflitos gerados pela situação de cuidado, ajudá-la a tomar as providências necessárias a incrementar a qualidade de vida do idoso. 2.3.2 O papel da família e do cuidador Um dos principais problemas enfrentados pelo paciente acamado é a necessidade de cuidado domiciliar (FONSECA, 2010). Silva et al. (2011) em estudo sobre a convibilidade da família com o idoso acamado no domicílio, relatou que é primordial a percepção de família como unidade de saúde permanente e estável para seus membros. Logo, o idoso acamado deve ser prioridade frente às políticas públicas de saúde, já que este tem necessidade de maiores cuidados (Fried e Walston, 2003 apud LINCK e CROSSETTI, 2011), maior suporte familiar e social e principalmente maior atenção da equipe de enfermagem (LINCK e CROSSETTI, 2011). Geralmente, os familiares assumem o papel de cuidadores do idoso, uma vez que tem a responsabilidade direta e vínculo afetivo. Seja por vontade, disponibilidade ou capacidade, na maioria das vezes, a função do cuidador é admitida por uma única pessoa, o cuidador principal, que assume as tarefas de cuidado, sendo o responsável por atender às necessidades do idoso (Brasil, 2006b apud SILVA et al., 2011). 2.3.3 O paciente acamado A condição de idoso acamado deve-se à redução da capacidade funcional e do grau de fragilidade, decorrentes da idade avançada associada às patologias crônicas. Então, para a definição de “envelhecimento com dependência”, é considerável como fator implicante a prevalência de doenças crônicas na população idosa (CALDAS, 2003). 21 O idoso acamado pode desenvolver diversas complicações em vários órgãos e sistemas do organismo (FONSECA, 2010). Neste contexto, a prevenção do desenvolvimento ou agravamento da fragilidade é possível através de uma avaliação integral do idoso pelo enfermeiro, reduzindo, assim, as taxas de hospitalizações, internações e os índices de morbimortalidade. (Macedo, Gazzola, Najas, 2008 apud LINCK e CROSSETTI, 2011). 22 3 JUSTIFICATIVA Por entendermos que a ESF atua na promoção da saúde e na prevenção de doenças, minimizando os agravos instalados no processo saúde doença, acreditamos que a visita domiciliar é uma atividade que propicia estarmos junto ao paciente e à sua família inseridos no território através dos princípios de vinculo, acolhimento e humanização. Segundo diretrizes do MS (BRASIL, 2006b) a família é de vital importância para um processo de envelhecimento com mais autonomia, e neste sentido o papel desenvolvido pelos cuidadores devem ser o menos adoecedor possível. Pois no cenário atual e de acordo com as projeções demográficas esta população tende a aumentar necessitando cada vez mais de assistência do profissional de saúde de forma resolutiva e integral. Este estudo se fez necessário, pretendendo contribuir com a literatura acadêmica no sentido de trazer experiências para qualificar os serviços de atenção ao idoso e reafirmar o papel do enfermeiro enquanto agente de promoção a saúde não só no âmbito individual e sim coletivo e familiar, que na atualidade vem se mostrando pouco eficaz para atender a população idosa, de modo que exerça uma assistência humanizada e com qualidade. 23 4 OBJETIVOS 4.1 Objetivo Geral Este trabalho teve como objetivo analisar a situação dos idosos acamados como também a percepção destes e de sua família em relação ao papel do enfermeiro na atenção domiciliar. 4.2 Objetivos Específicos Conhecer o perfil do idoso em relação aos aspectos sócio-demográficos, morbidade e familiares; Identificar junto à família, idoso e equipe de saúde cuidadora a percepção em relação ao papel do enfermeiro na assistência ao idoso. Conhecer o papel do enfermeiro na assistência domiciliar ao paciente idoso acamado; Reconhecer o papel do cuidador enquanto potencializador de uma assistência domiciliar qualificada; Conhecer as questões familiares na melhoria/diminuição da qualidade de vida desses idosos. 24 5 MATERIAIS E MÉTODOS 5.1 Levantamento Bibliográfico Para subsidiar o processo de construção da pesquisa, realizou-se um levantamento bibliográfico sobre o assunto em questão de modo que propiciou aos pesquisadores conhecimento e atualização técnica, abordou-se o cuidado com o idoso acamado pela equipe de enfermagem, e contribuiu para a qualidade do estudo proposto, foi utilizado como descritores para busca nas bases de dados LILACS, BIREME, SCIELO e as palavras chaves: cuidado domiciliar, idoso acamado, enfermeiro e cuidador. 5.2 Classificação e Local do Estudo Foi realizada uma pesquisa de campo de natureza qualiquantitativa do tipo exploratório descritiva, realizada no ESF II – Vila Palmira, situado a Rua Estevam Bozolla nº 195, no bairro Vila Palmira do município de Socorro, estado de São Paulo. 5.3 Perfil da Amostra A amostra foi composta por: 30 idosos, acima de 60 anos, que estavam cadastrados na unidade de pesquisa e que eram alvos de atenção domiciliar por estarem fragilizados/acamados, dos quais somente 27 aceitaram participar da pesquisa; participaram também, os cuidadores diretos (família ou não), totalizando 20 cuidadores, sendo que 1 cuidador é responsável por 2 idosos e 13 profissionais de saúde da unidade que prestam assistência no domicilio independente da formação profissional, no qual apenas 1 não respondeu a pesquisa. 25 5.4 Critérios do Estudo 5.4.1Critérios de inclusão A população inclusa foi: - idosos (maior que 60 anos) que necessitavam de assistência domiciliar e que eram cadastrados na unidade; - familiares ou cuidadores maiores de 18 anos, que realizavam assistência; - profissionais de saúde que trabalhavam na unidade há mais de 1 ano, e que tinham mais que 18 anos. - toda população do estudo que aceitou participar da pesquisa, através assinatura de termo de consentimento livre e esclarecido (Apêndice A). 5.4.2 Critérios de exclusão Foi excluída a população que não se enquadrava no perfil acima referido e que não aceitou participar da pesquisa. 5.5 Coleta de Dados Para coleta de dados foram elaborados questionários de perguntas com questões abertas e fechadas, desenvolvidos, aplicados e interpretados pelos pesquisadores para conhecer o perfil da população de idosos, cuidadores e profissionais de saúde, sendo o conteúdo diferente de acordo com os objetivos específicos propostos (Apêndice B, C, D). 26 5.6 Procedimento Ético-Legal O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Francisco e registrado no SISNEP sob o protocolo CAAE número 0476.0.142.000-11 (Anexo A) e autorizado pela Secretaria de Saúde do município de Socorro. (Anexo B). Após estarem cientes e concordarem em participar da pesquisa, todos assinaram o termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A). 5.7 Procedimento de Análise Foi feita uma pesquisa de campo de natureza qualiquantitativa do tipo exploratória descritiva, realizada no PSF II – Vila Palmira, situado a Rua Estevam Bozolla nº 195, no bairro Vila Palmira do município de Socorro, estado de São Paulo, no mês de julho de 2012. Os dados foram analisados, agrupados e discutidos em forma de tabelas e gráficos. 27 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO6.1 Perfil dos idosos do PSF II Vila Palmira 6.1.1 Perfil sócio-demográfico dos idosos Foi realizada uma análise dos prontuários dos pacientes atendidos e deste modo, feito um levantamento do número dos idosos acamados cadastrados na unidade. No entanto, no momento da coleta dos dados, dos 30 idosos cadastrados, 27 aceitaram responder ao questionário e 3 idosos não aceitaram participar da pesquisa. Observou-se também que dos 27 idosos que aceitaram participar da pesquisa, somente 3 idosos encontravam-se acamados de fato e que os demais (n=24) se encontravam fragilizados devido idade e condições de saúde. Segundo Brasil (2006b), a fragilidade constitui-se em uma síndrome multidimensional envolvendo uma interação complexa dos fatores biológicos, psicológicos e sociais no curso de vida individual, que culmina com um estado de maior vulnerabilidade, associado ao maior risco de ocorrência de desfechos clínicos adversos - declínio funcional, quedas, hospitalização, institucionalização e morte. A tabela a seguir apresenta os aspectos demográficos dos idosos entrevistados. 28 Tabela 1 – Distribuição da amostra segundo características sócio demográficas, PSF Vila Palmira, Socorro/SP, 2012 (n=27). Variáveis n % Idade (em anos) 60 a 64 0 0 65 a 69 3 11,1 70 a 74 5 18,5 75 a 79 5 18,5 80 ou mais 14 51,9 Sexo Masculino 9 33,3 Feminino 18 66,7 Estado civil Solteiro 4 14,81 Casado 11 40,74 Desquitado 0 0 Viúvo 12 44,45 Possui filhos Sim 23 85,19 Número de filhos 1 a 5 11 40,74 5 ou mais 12 44,45 Não 4 14,81 Escolaridade Ensino fundamental 9 33,3 Ensino médio 1 3,7 Nível superior 0 0 Não alfabetizado 17 63 Renda (em salários mínimos) Menos de 1 1 3,7 De 1 a 4 25 92,6 De 5 a 8 1 3,7 Renda proveniente de Aposentadoria 25 92,6 Aluguéis 2 7,4 Pensão 0 0 Ajuda de familiares 0 0 Reside com Sozinho 7 25,9 Família 19 70,4 Outros 1 3,7 Na Tabela 1, que apresenta o perfil sócio demográfico do grupo de idosos entrevistados, em relação à faixa etária, a idade predominante foi de 80 anos ou mais (52%), seguindo 70 a 74 anos (18%). Segundo Martins et al. (2007), estas informações nos mostram indivíduos longevos, o que contribuiu para a obtenção de uma amostra de senis portadores de 29 determinada dependência, pois “estes dados corroboram o crescimento da população idosa no Brasil”. Quanto ao sexo, houve uma predominância de mulheres (67%), Camarano (2004) justifica que “a proporção do contingente feminino é mais expressiva quanto mais idoso for o segmento, fato este explicado pela mortalidade diferencial por sexo”. Sendo assim, o maior número de mulheres mais idosas se deve à exposição aos diversos riscos ocupacionais; ao maior número de mortes por causas externas entre a população masculina; diferenças na ingestão de álcool e tabaco e diferenças de costumes em relação às enfermidades, já que, as mulheres frequentam mais os serviços de saúde (FELICIANO, MORAES, FREITAS, 2004). Em relação ao estado civil, predominaram viúvos (44%) e casados (41%). Nesta perspectiva, Turatti (2012) afirma que quanto maior o envelhecimento da população, maior é a possibilidade de mulheres senis viverem sós. Agregando-se a esses fatores psicossociais as regras culturais que prevalecem na sociedade, que levam a população masculina a se casarem novamente, na maioria das vezes com companheiras jovens, sendo a nova união para viúvos muito mais comum do que para viúvas. Verificou-se também que dos idosos entrevistados, 12 possuem entre 5 ou mais filhos, 11 possuem entre 1 a 5 filhos e 4 idosos não tem nenhum filho. Estes dados podem refletir diretamente em termos de cuidado, uma vez que Caldas (2003) exprime que a dependência de uma pessoa idosa na família pode causar desestruturação na dinâmica, na economia e até mesmo na saúde dos elementos da família que se incumbem dos cuidados; chamando a atenção essencialmente aos idosos sem família e que não têm uma pessoa que assuma os cuidados, indispensáveis em situações de dependência. Quanto à escolaridade, de todos os idosos pesquisados, 63% não eram alfabetizados, 33% cursaram até o ensino fundamental e apenas 1 idoso tinha o ensino médio. A amostra possui uma baixa escolaridade, fato que deve ser considerado pelo enfermeiro durante o atendimento ao idoso, pois, Tavares et al. (2012) afirma que o nível de alfabetização pode prejudicar a prática sobre o autocuidado e o entendimento das condutas terapêuticas e que “o enfermeiro deve atentar para a comunicação eficaz com o idoso e seus familiares, usando linguagem clara e objetiva sobre os cuidados necessários para melhoria na saúde dessa população”. O baixo nível de estudo pode mostrar-se como empecilho no processo da educação em saúde, deste modo, faz-se necessário que os profissionais de saúde empreguem as mais diversas maneiras e dinâmicas para obter os objetivos propostos (MARTINS et al., 2007). 30 Foi identificado que 92% dos idosos tem renda de 1 a 4 salários, sendo que 1 idoso possui renda menor que 1 salário mínimo e 1 idoso possui renda de 5 a 8 salários. Todos os idosos afirmam que a renda é proveniente de aposentadoria e ainda 1 deles afirma ter renda adicional proveniente de aluguéis. A renda influencia no acesso dos idosos aos serviços de saúde, bem como na adesão de plano de saúde privado. Sendo assim, as ações em saúde pública devem ser apropriadas às condições econômicas dos idosos, objetivando a terapêutica efetiva e com qualidade (TAVARES et al., 2012). De acordo com as informações coletadas, apenas uma idosa relatou que reside com uma pessoa que não tem nenhum grau de parentesco com a mesma, enquanto que 74% dos idosos residem com a família e uma taxa elevada equivalente a 26% dos idosos moram sozinhos. Para Caldas (2003) “o fato de morar só, para o idoso, tem sido associado a um decréscimo na qualidade de vida, agravamento da morbidade e, até mesmo, indicador de risco de mortalidade”. 6.1.2 Perfil das condições clínicas de saúde dos idosos Para avaliar as condições clínicas de saúde dos idosos estudados, é importante destacar que uma “avaliação geriátrica abrangente deve abordar aspectos clínicos, estado funcional e variáveis psicológicas e sociais” (VESCIO et al., 2009), pois a avaliação geriátrica corresponde às características clínicas do envelhecimento e aos diversos e amplos cuidados de saúde necessários à população idosa (PEREIRA, SCHNEIDER, SCHWANKE, 2009). A qualidade de vida na população idosa depende da avaliação clínica dos idosos e dos diversos fatores que influenciam no envelhecimento, portanto, a Tabela 2 refere-se aos aspectos clínicos da saúde dos idosos entrevistados. 31 Tabela 2 – Distribuição da amostra segundo condições clínicas de saúde dos usuários cadastrados na unidade de saúde PSF Vila Palmira, Socorro/SP, 2012. (Aspectos clínicos n=27). Variáveis n % Possui caderneta de saúde do idoso Sim 16 59,3 Não 11 40,7 Acamado/fragilizado há quanto tempo (em anos) 1 a 4 11 40,7 5 a 09 14 51,9 10 anos ou mais 2 7,4 Presença de doenças Sim 25 92,6 Não 2 7,4 Número de internações no último ano 1 a 3 4 14,8 3 ou mais 4 14,8 Nenhuma 19 70,4 Uso de medicamentos contínuos Não 0 0 Sim 27 100 Faz uso de SNE 0 0 SVD 0 0 Fralda 2 7,4 Traqueostomia 0 0 Apresenta úlceras de pressão Não 26 96,3 Sim 1 3,7 Grau de dependência Parcial 24 88,9 Total 3 11,1 Já foi vítima de quedas Sim 18 66,7 Não 9 33,3 Recebe visita de profissional de saúde da ESF Sim 20 74,1 Não 7 25,9 Portanto, foi registrado que a grande parte dos idosos possui caderneta de saúde do idoso (59%). Conforme Brasil (2008a), a caderneta de saúde do idoso é um documento fornecido peloMinistério da Saúde, que permite o acompanhamento da saúde da população idosa, onde são anotadas informações significativas das condições de saúde do idoso e que pode ajudar os profissionais de saúde em ações necessárias para proporcionar ao idoso um envelhecimento ativo e saudável. 32 No que diz respeito ao tempo (em anos) que o idoso começou a necessitar de cuidados, ou seja, em relação ao tempo de fragilidade/acamado, os dados revelam que 52% relataram que estão nessas condições, entre 5 a 9 anos e 41% afirmaram que estão fragilizados entre 1 a 4 anos e apenas 7,4% dos idosos estão nessas condições de fragilidade há mais de 10 anos. Para Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (BRASIL, 2006a) é considerado idoso frágil ou em situação de fragilidade aquele que reside em instituições de longa permanência, é acamado, foi hospitalizado recentemente por qualquer motivo, portador de doenças incapacitantes (acidente vascular encefálico, síndromes demenciais e outras doenças neurodegenerativas, etilismo, neoplasia terminal, amputações de membros) e que viva em situações de violência doméstica, e também é considerado frágil o idoso com 75 anos ou mais de idade. Quanto às patologias relatadas, a pesquisa demonstrou que 92,6% dos idosos entrevistados são portadores de doenças crônicas. Alguns afirmaram serem portadores de HAS e/ou DM juntamente com alguma outra patologia, como: fibrose pulmonar, câncer, acidente vascular cerebral, asma, insuficiência renal crônica, entre outras, conforme a Figura 3. Figura 3 - Distribuição do número de idosos em relação a apresentação de patologias (n=27) Bandeira, Pimenta, Souza (2006) abordam que as enfermidades que acometem os idosos, geralmente são crônicas e múltiplas, persistem por longos anos, exigindo acompanhamento médico e de equipes multidisciplinares permanentes e internações com maior frequência. “Assim, as patologias, em sua maioria, enquadram-se como sendo crônico degenerativas” (MARTINS et al., 2007). 33 Observou-se também um total de 8 idosos internados no último ano, onde 4 deles afirmaram terem sido internados de 1 a 3 vezes e outros 4 alegaram 3 ou mais internações, sendo que 19 idosos afirmaram não ter sido internado no último ano. Dados fornecidos pelo Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS- MS, 2012) mostram um elevado índice de internações de idosos no município de Socorro/SP, um total de 743 internações no ano de 2011 (Figura 4). Este fator é importante e deve ser considerado, pois, Martin et. al. (2006) afirma que as internações necessitam ser evitadas, em decorrência dos efeitos negativos causados ao cliente e pelo impacto causado no sistema de saúde. Figura 4 - Número de Internações de idosos no município de Socorro durante o ano de 2011. Fonte dos dados: DATASUS (SIH/SUS – MS). Os resultados também são corroborados por Loyola Filho et al. (2004), que verificaram que a taxa de internação hospitalar, tanto para homens quanto para mulheres, na faixa etária de 60 anos ou mais foi mais de duas vezes superior à verificada na faixa etária de 20-59 anos e que entre os idosos, o risco de internação aumenta acentuadamente com a idade. Além disso, a Tabela 2, adicionalmente demonstra que 100% dos idosos fazem uso de medicamentos contínuos, dos quais 71% ingerem em torno de 1 a 4 medicações diferentes e 29% fazem uso de 5 a 8 tipos de medicamentos. Portanto, todos os pacientes entrevistados fazem uso concomitante de medicamentos, ou seja, uso de diversas medicações em conjunto. Segundo Brasil (2006b), a enfermidade e os fármacos fazem parte do dia a dia dos idosos. Portanto, “o papel do profissional que cuida do idoso, muitas vezes é racionalizar a prescrição, tentando evitar os riscos da polifarmácia e consequente iatrogenia ou efeitos 34 patológicos do uso ou da interação das drogas prescritas” (BANDEIRA, PIMENTA, SOUZA, 2006). A correta utilização dos medicamentos, a orientação adequada quanto à dose, tipos e intervalo aos idosos e seus familiares, são informações essenciais na manutenção da qualidade de vida do idoso (BRASIL, 2006b). A Figura 5 apresenta as classes medicamentosas mais utilizadas pelos entrevistados. Figura 5 - Distribuição dos pacientes amostrados segundo o tratamento farmacológico (n=27) Conforme relatado pelos idosos, os medicamentos mais utilizados por eles são: captopril, hidroclorotiazida, glibenclamida, enalapril, losartana, metformina, insulina, clonazepan, bromazepan, anlodipina, flurazepan, cimetidina, omeprazol, fluoxetina, ácido acetil salicílico, entre muitos outros. De acordo com Brasil (2000), os fármacos de uso diário são de extrema importância na terapêutica de enfermidades crônico-degenerativas, como a hipertensão arterial sistêmica e o diabetes mellitus, como também nos problemas de saúde mental, doenças, as quais representam altas prevalências no Brasil devido envelhecimento da população. Foi possível identificar que dos 27 idosos entrevistados, apenas 2 idosos faziam uso de fralda (Tabela 2), verificou-se também que 1 idoso fazia uso de cadeira de rodas, 1 de balão de O2. Como profissionais da área da saúde temos a função de educar os clientes idosos e cuidadores sobre seus agravos de saúde, autocuidado e na precaução para que não ocorram danos. E para tal, o enfermeiro é elemento essencial na educação de cuidadores e clientes para melhor assistência e qualidade do cuidado. Para o planejamento adequado das intervenções é 35 importante, a capacidade técnica, intelectual e interpessoal, fatores fundamentais para fornecer um cuidado de qualidade (ZANDONA, 2008). De acordo com a Tabela 2, somente 4% dos idosos entrevistados apresentam úlcera de pressão, apesar do baixo índice, este fator deve ser levado em consideração, já que, o envelhecimento causa várias alterações dérmicas, tornando idosos e pacientes acamados mais suscetíveis ao risco de aparecimento de feridas (CONCEIÇÃO, 2010). Assim sendo, a úlcera de pressão deve ser vista como um problema de saúde que carece do envolvimento de todos os profissionais da área da saúde, mas principalmente da equipe enfermagem (ALVES et al., 2008). Conforme a Tabela 2, a maioria dos idosos entrevistados (89%) apresenta dependência parcial e 11% dependência total. Vale destacar que o grau de dependência do paciente fragilizado/acamado é de grande relevância, pois, a dependência é considerada importante fator de risco para a mortalidade do idoso, inclusive mais significativa do que as próprias doenças que induzem a ela (PEDRAZZI, RODRIGUES, SCHIAVETO, 2007). Para Conceição (2010) é importante ressaltar que nos estados de dependência seja ela parcial ou total compete aos especialistas, de modo eficiente e possível, informar os cuidadores no desempenho de suas atividades, pois, quem auxilia um paciente completamente dependente para as atividades do dia a dia reconhece que as situações são complicadas e desgastantes. O motivo das condições de fragilizado/acamado dos idosos entrevistados se deve a vários fatores, conforme nos mostra a Figura 6. Figura 6 - Distribuição dos pacientes amostrados segundo condições fragilizado/acamado (n=27) 36 Grande parte dos idosos tem a fragilidade como principal causa de sua condição de acamado. No estudo realizado por Silva, Leite, Paganini (2007), sobre os cuidados de enfermagem e o envelhecimento, “os idosos, em sua grande maioria, por serem portadores de diversos distúrbios constituem-se em clientes mais complexos que exigem do enfermeiro mais tempo para a prestação de cuidados”. Ainda foi abordado se os idosos haviam sido vítima de quedas, 18 idosos responderam que sim e 9 responderam que não. De acordo com Brasil (2006b), esse episódio deve ser analisado, pois, as quedas são um grave problema para a população idosa e estão ligadas ao alto índice de morbi-mortalidade,diminuição da capacidade funcional e institucionalização precoce. Convém ressaltar, que as quedas também estão relacionadas com o desequilíbrio causado por algumas patologias, efeitos de determinados fármacos e às condições do ambiente em que o idoso vive (CONCEIÇÃO, 2010). Segundo a entrevista, os resultados apontam que 74% dos idosos recebem a visita do profissional de saúde, sendo que o profissional mais presente é o ACS, seguido pela equipe de enfermagem (auxiliar ou técnico de enfermagem), sendo que a enfermeira e o médico da unidade realizam a VD somente quando necessário. Para Souza, Almeida, Barbosa (2009), o trabalho dos ACS e a realização da VD são muito importantes, pois proporciona qualidade para a assistência oferecida, formando vínculo com as famílias e equipe, melhora do serviço de saúde e qualidade de vida das pessoas, condição indispensável para a consolidação da ESF. Neste contexto, a VD deve ser realizada com mais frequência para o reconhecimento da realidade das famílias e para a prevenção de possíveis agravos (FERNANDES, 2010). Segundo Figueiredo et al. (2008), é imprescindível que os profissionais da Equipe de Saúde sejam capacitados para analisar o nível de dependência do idoso, seus limites e suas potencialidades, para que consigam identificar as suas reais necessidades e proporcionar um atendimento apropriado ao idoso. Para Martins et al. (2007), uma das ocupações mais importantes para o enfermeiro bem como para a equipe multidisciplinar atuante na saúde, é “cuidar e promover a educação em saúde no domicílio”. Quando pedido aos idosos para resumir em 2 ou 3 palavras a representatividade do enfermeiro na VD, notamos que eles tiveram visões diferenciadas na questão da importância do enfermeiro na assistência domiciliar, sendo que 23 idosos responderam a esta questão e 4 não responderam, as quais foram expostas a seguir: “Importante e bom”. - Idoso1 “Bom já que o médico quase não aparece”. – Idoso 5 “Não tem tanta importância”. – Idoso 12 37 “Bom”. – Idoso 19 “Importante e obrigação”. – Idoso 21 “Muito bom pela atenção”. – Idoso 24 “Importante e cuidado”. – Idoso 26 Devemos ressaltar também que apenas 2 idosos afirmaram conhecer a enfermeira e que esta realiza a VD somente quando solicitado, ou seja, em caso de necessidade, e que também não se realiza consulta de enfermagem. Convém destacar que para os idosos, cuidadores e para a maioria da população, não há uma diferença entre os níveis profissionais da enfermagem, ou seja, todos são vistos como “enfermeiros” (MARTINS et al., 2007). De acordo com Figueiredo et al., (2008), o desenvolvimento da atenção básica torna possível, aos elementos das Equipes da ESF, principalmente ao Enfermeiro, conhecer o perfil dos idosos acamados, suas condições socioeconômicas e habitacionais; o conhecimento e as atitudes de seus cuidadores; o grau de dependência; o nível de comprometimento e complicações das doenças crônicas instaladas. Portanto, tendo em vista à promoção e reabilitação da saúde dos idosos, a VD torna-se indispensável para a realização de uma assistência de enfermagem adequada, com qualidade e resolutiva (SILVA et al., 2011). 6.2 Perfil dos cuidadores do ESF II Vila Palmira Dos 27 idosos que aceitaram participar da pesquisa, apenas 21 possuíam cuidador, sendo que 20 aceitaram responder ao questionário e 1 cuidador não aceitou participar da pesquisa. Segundo o Brasil (2008b, p.8), cuidador é um ser humano de qualidades especiais, expressas pelo forte traço de amor à humanidade, de solidariedade e de doação. A ocupação de cuidador integra a Classificação Brasileira de Ocupações – CBO sob o código 5162, que define o cuidador como alguém que “cuida a partir dos objetivos estabelecidos por instituições especializadas ou responsáveis diretos, zelando pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da pessoa assistida”. É a pessoa, da família ou da comunidade, que presta cuidados à outra pessoa de qualquer idade, que esteja necessitando de cuidados por estar acamada, com limitações físicas ou mentais, com ou sem remuneração. 38 Em relação ao perfil sócio demográfico do grupo de cuidadores entrevistados a faixa etária predominante foi de 45 anos ou mais (60%), seguido da faixa etária 26 a 35 anos (25%). Quanto ao sexo, houve uma predominância de mulheres (85%), conforme nos mostra a Figura 7. Em um estudo realizado por Martins, Ribeiro, Garrett (2003), sobre a avaliação da sobrecarga para cuidadores informais, a idade média dos cuidadores de idosos era de 58,3 anos, sendo mais frequente a idade de 68 anos. Para Fernandes (2003 apud FERNANDES , FRAGOSO, 2005), uma preocupação surge diante deste quadro, pois a idade dos cuidadores está próxima à do idoso cuidado, ou seja, são idosos jovens cuidando de idosos dependentes, sendo que esses cuidadores geralmente estão passando por mudanças associadas ao seu próprio envelhecimento e revelam estado de saúde semelhante ao do ser cuidado, processo que pode gerar maior tensão e maior predisposição a um impacto negativo, já que lhes revive a proximidade da sua própria incapacidade. A maioria dos cuidadores familiares é do sexo feminino (ANDRADE et al., 2009; CERQUEIRA, OLIVEIRA, 2002; FRANCO, 2009; GARRIDO, MENEZES, 2004), isto se deve provavelmente pelo fator cultural e social delegado à mulher de cuidar da família (DIOGO, CEOLIM, CINTRA, 2005), além de sua maior sensibilidade, que a leva a prestar maior atenção e cuidado as pessoas (ANDRADE et al., 2009). Figura 7 - Distribuição dos cuidadores por sexo e idade (n=20 em anos) Em relação ao grau de parentesco, houve uma predominância de cuidadores com parentesco em primeiro grau (47.6%, considerando esposo, filho e neto), seguido por pessoas que apenas realizam a função de cuidador (28.6%), de acordo com a Figura 8. Para Brasil 0 2 4 6 8 10 12 14 18-25 26-35 36-44 45 ou mais n ° d e cu id ad o re s Idade (em anos) Sexo Masculino Sexo Feminino 39 (2006b), “Os membros da família costumam assumir o papel de cuidadores, por terem uma responsabilidade culturalmente definida ou vínculo afetivo”. Sendo que na maioria dos casos não está preparada para este encargo (SILVA et al., 2011). Figura 8 - Distribuição do grau de parentesco dos cuidadores com o idoso (n=21) Quanto à escolaridade dos cuidadores 45% cursaram o ensino fundamental, 35% eram não alfabetizados, 10% cursaram o ensino médio, apenas 1 (5%) tem ensino superior, porém o que mais surpreendeu foi encontrar 1 cuidador (5%) frequentador da Associação de Pais e Alunos Especiais (APAE), dados mostrados pela Figura 9. Conforme Nakatani et al. (2003), o grau de escolaridade interfere, direta ou indiretamente, nos cuidados prestados ao idoso, já que o cuidador precisa seguir dietas, prescrições e manusear medicamentos, podendo haver queda na qualidade serviço prestado. Assim como pode também interferir na adesão do processo de educação em saúde (MARTINS et al., 2007). Figura 9 - Distribuição do grau de escolaridade dos cuidadores (n=20) 4 4 2 2 2 1 6 Esposo (a) Filho (a) Neto (a) Sobrinho (a) Genro/Nora Cunhado (a) Cuidador 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 n º d e cu id ad o re s nº cuidadores 40 A Tabela 3 representa os cuidados com o idoso, onde se verificou que: Tabela 3 – Distribuição da amostra segundo características relacionadas aos cuidados ao idoso, PSF Vila Palmira, Socorro/SP, 2012 (n=20). Variáveis n % Fez curso de capacitação para cuidados com idosos Sim 0 0 Não 20 100 Realiza os cuidados em período Integral 13 65 Parcial 7 35 Recebe ajuda Sim 11 55 Não 9 45 Quem ajuda Filhos do idoso 5 41.66 Esposo do idoso 1 8.33 Irmãos 1 8.33 Mãe 1 8.33 Genro 1 8.33 Tio 1 8.33 Esposo docuidador 1 8.33 Filho do cuidador 1 8.33 Recebe Visita de Profissionais da Saúde Sim 19 90 Não 1 10 Qual Profissional Médico 1 5 Assistente Social 0 0 Psicólogo 0 0 Fisioterapeuta 0 0 Terapeuta Ocupacional 3 15 Enfermeiro (a) 3 15 Técnico em enfermagem 9 45 Agente Comunitário de Saúde 19 95 Médico particular 1 5 Já recebeu orientação do profissional Sim 10 50 Não 10 50 100% dos cuidadores não possuem curso de capacitação para cuidados com idosos. Para Rejane, Carlette (1996 apud Nakatani et al., 2003), existem dois tipos de cuidadores: o formal, o qual foi preparado por uma instituição de ensino para realizar cuidados no domicilio; e o informal, geralmente o cuidador é uma pessoa leiga, indicada pela família para que realize cuidados com o idoso acamado/fragilizado, portanto normalmente não tem preparo para tal (BRASIL, 2008b). No entanto, cada pessoa traz consigo uma bagagem de conhecimentos advinda de suas experiências e informações anteriores, que serve de direção na prestação de cuidados ao idoso. (MARTINS et al., 2007). 41 Sabendo que a qualidade de vida dos idosos é diretamente proporcional ao suporte oferecido aos seus cuidadores, por meio de treinamento, supervisão e acessoria, foi preconizado pela Política Nacional do Idoso (Lei 8842/1994), o preparo dos cuidadores pela equipe multiprofissional (BRASIL, 1997). Portanto, de acordo com Nakatani et al. (2003), faz –se necessário conhecer o perfil destes cuidadores, suas condições sócio-econômico-culturais, que são individuais, para que possa ser realizada uma capacitação por parte da equipe de saúde, gerando assim uma assistência adequada e de qualidade ao idoso. Quanto ao período que realiza os cuidados, 65% prestam cuidados em período integral e 35% em período parcial. Em um estudo realizado por Gonçalves et al. (2006), com cuidadores cadastrados nos PSFs de Florianópolis, 56,3% deles realizavam o cuidado de forma permanente, ou seja, em período integral. Para Cerqueira, Oliveira (2002), o tempo em que o cuidador dispensa no trabalho deve ser estudado com atenção. E ainda de acordo com Gonçalves et al. (2006, p.573), cuidar de um idoso em tempo prolongado exige exposição constante dos cuidadores a riscos de adoecimento, pois principalmente aqueles que são cuidadores únicos assumem total responsabilidade, e com isso estão sempre sobrecarregados. Em se tratando de mulheres, estas acumulam diversos papéis como: de mãe, esposa e cuidadora de outros dependentes, dentre outros. Em relação a ter ajuda nos cuidados, 55% responderam que sim e 45% não recebem ajuda para realizar os cuidados. Sendo que 83,3% das pessoas que ajudam tem relação de parentesco com o idoso fragilizado/acamado e 16,7% possuem relação de parentesco com o cuidador. O papel de cuidador no ambiente familiar geralmente é assumido por apenas uma pessoa, chamada “cuidador principal”, a qual assume e se responsabiliza por todas as tarefas de cuidado, normalmente sem ajuda de outro membro da família. (WANDERLEY, BLANES, 1998). Entretanto, quando outro integrante da família colabora no cuidado de forma ocasional, assume o papel de “cuidador secundário”, auxiliando ou substituindo o cuidador quando necessário, podendo assim minimizar a situação causadora de estresse sobre o cuidador principal, principalmente quando se trata de um cuidador em período integral (GONÇALVES et al., 2006; SOMMERHALDER, 2001; WANDERLEY, BLANES, 1998). Ainda neste sentido, Silva et al. (2011), afirma que as tarefas no sistema familiar deveriam ser divididos a fim de oferecer uma assistência mais qualificada e promover maior autonomia a pessoa idosa, além de permitir que o cuidador principal tenha alguns momentos do dia para se cuidar, relaxar e descansar (BRASIL, 2008b). 42 Dos cuidadores pesquisados, 90% recebem visita de profissionais da Saúde, porém dentre os profissionais citados, 95% recebem vista do ACS, 45% do Técnico em Enfermagem, 15% do Terapeuta Ocupacional e do Enfermeiro e apenas 5% do Médico. Para os autores, é durante a visita domiciliar que a equipe de saúde pode avaliar as condições do idoso, da família e do meio em que vivem, direcionando assim um planejamento de cuidados efetivos, por meio de intervenções precoces em situações de riscos, com vistas à prevenção de agravos, manter a capacidade funcional do idoso, sua independência e qualidade de vida por maior tempo possível. (DUARTE, DIOGO, 2000; FERNANDES, FRAGOSO, 2005). Quanto a receber orientação do profissional que visita, 50% dos cuidadores afirmam que recebem orientação. A falta de informação e orientação fragiliza o cuidado, podendo colocar em risco a saúde do idoso (MARTINS et al., 2007; WANDERLEY, BLANES, 1998). No entanto, quando o cuidador é devidamente orientado sobre o processo de envelhecimento e as patologias desenvolvidas no idoso alvo do cuidado, é possível que os desafios encontrados sejam enfrentados com mais segurança, além de proporcionar uma melhor qualidade de vida ao idoso e ao cuidador (Bocchi, 2004 apud FRANCO, 2009; MARTINS et al., 2007). Esse processo educativo deve ser específico a cada cuidador, de acordo com as necessidades individuais de cada paciente, descrevendo as atividades que o cuidador pode fazer e quais procedimentos são realizados pela equipe de saúde, quais são os sinais e sintomas de perigo e quando deve chamar os profissionais de saúde (BRASIL, 2008b). Na questão do cuidador sentir alguma dificuldade em cuidar do idoso, 85% responderam que não sentem dificuldade nos cuidados e apenas 15% afirmam que tem dificuldades, sendo estas: audição do idoso, agressividade do idoso, e a própria idade do cuidador, conforme a Figura 10. Figura 10 - Dificuldades descritas pelos cuidadores ao prestar cuidados aos idosos (n=20) 0 5 10 15 20 Não sentem dificuldades Agressividade Audição Idade do Cuidador n º d e cu id ad o re s 43 De acordo com Diogo, Ceolim, Cintra (2005), pesquisas mostram que estão entre os fatores estressantes aos cuidadores de idosos os cuidados diretos e contínuos; sobrecarga sobre um único cuidador, além do desenvolvimento de problemas de saúde pela idade avançada do mesmo. A Figura 11 representa as principais dificuldades encontradas em lidar com o idoso, onde se verificou que a maioria dos cuidadores (35%), relata a teimosia, seguidos por uma minoria (15%) que sofrem resistência. Brasil (2008b) ressalta a importância em compreender que o idoso cuidado pode ter comportamentos que dificultem o cuidado ofertado, como resistência em comer ou tomar banho. Ao reconhecer essas possibilidades é possível trabalhar seus sentimentos para que não se tornem frustração ou culpa. Segundo Andrade et al. (2009), os cuidadores revelam preocupações e temem negligenciar o cuidado, devido a falta de informação, causando-lhes sobrecargas, evidenciando assim o valor das orientações advindas dos profissionais de saúde, permitindo aos cuidadores um maior preparo emocional. Figura 11 – Dificuldades encontradas pelos cuidadores ao lidar com o idoso (n=20) Foram realizadas também questões para avaliação da assistência prestada pela ESF aos cuidadores, conforme mostra a Tabela 4. 35% 15% 5% 5% 40% Teimosia Resistência Doenças que não conhece Sem especificação Não tem dificuldade 44 Tabela 4 - Distribuição da amostra segundo avaliação da satisfação do serviço prestado pela unidade de saúde, PSF Vila Palmira, Socorro/SP, 2012 (n=20). Variáveis n % VD surte efeito Sim 16 60 Não 4 40 Como classificaria o atendimento da Unidade de Saúde Ruim 0 0 Regular 2 10 Bom 9 45 Muito Bom 3 15 Ótimo 6 30 Em relação à visita domiciliar prestada pelos profissionais de saúde, a grande maioria (80%) dos cuidadores afirmam que surte efeito, enquanto apenas 20% deles acreditam que não. E quantoa classificação do atendimento prestado pela Unidade de Saúde, 45% dos cuidadores consideram bom, 30%, um número considerável de cuidadores, classifica o atendimento como ótimo e somente 10% deles acreditam que o atendimento é regular. Estas questões visam avaliar a qualidade do serviço prestado pela unidade de saúde aos cuidadores e aos idosos em seu domicilio, de acordo com suas respectivas necessidades. Para Gouveia (2005 apud MORSCH, 2008), a satisfação pode ser considerada como um elo entre a estrutura, o processo e o resultado das ações do serviço prestado. Sendo que, geralmente não se avalia a satisfação em si, mas a percepção e expectativas prévias dos pacientes (FERRI et al., 2007). 6.3 Perfil dos profissionais da equipe de saúde da ESF II Vila Palmira 6.3.1 Perfil Demográfico Os dados foram coletados a partir do questionário aplicado junto aos profissionais da equipe dentro da própria unidade de saúde. Um total de 13 profissionais, sendo que apenas um se recusou a participar da pesquisa 1 , o auxiliar de dentista. Conforme a Figura 12, grande 1 Todos os resultados apresentados foram tabulados excluindo o profissional que negou participar do estudo, exceto na distribuição de profissionais da equipe de saúde segundo cargo/função (Figura 13). 45 parte dos profissionais são do sexo feminino, aproximadamente 66,67% e um índice maior na faixa etária de 26 a 33 anos. Figura 12 - Distribuição de profissionais da equipe de saúde segundo sexo e idade (n=12) Estudos feitos por Benito, Becker (2007), Fernandes et al. (2010) e por Santini et al. (2010), que analisaram as atitudes gerenciais do enfermeiro no Programa Saúde da Família: visão da Equipe Saúde da Família, a atuação do enfermeiro na gerência de unidades básicas de saúde e o perfil dos profissionais das equipes de saúde da família, respectivamente, também indicaram uma maior predominância em profissionais do sexo feminino nas unidades de saúde pesquisadas. Este índice expressa maior participação de mulheres em equipes de saúde da família (OLIVEIRA, TAVARES, 2010). A população estudada é constituída por ACS, médico, enfermeiro, dentista, técnico de Enfermagem, auxiliar de dentista e servente, como demonstrado na Figura 13, que apresenta a distribuição de profissionais da equipe de saúde segundo cargo ou função. Destes, como dito anteriormente, somente a auxiliar de dentista não participou da pesquisa. 0 1 2 3 4 18-25 26-33 34-41 42-49 50-58 59-65 sexo masculino sexo feminino Idade N º d e fu n ci o n ár io s 46 Figura 13 - Distribuição de profissionais da equipe de saúde segundo cargo/função (n=12) Da população de profissionais estudada, aproximadamente metade é composta por ACS, o que ressalta a grande importância deste profissional frente aos Programas de Saúde da Família; Gomes et al. (2009) consideram o ACS “um elo entre a população e os demais profissionais da equipe, e por meio da vigilância à saúde”. Deste modo, é demasiadamente importante destacar o papel de equipe, Campos (1992) discorre que “um grupo de profissionais só configura uma equipe quando opera de modo cooperativo, convergindo seus objetivos para uma dada situação, de forma a haver complementaridade e não soma de superposição”. A amostra também foi caracterizada por tempo de formação e tempo de trabalho no PSF, como apresentado nas Tabelas 5 e 6, respectivamente. Tabela 5 – Distribuição da caracterização da amostra segundo tempo de formação, PSF Vila Palmira, Socorro/SP, 2012, (n=12). Tempo de formação Profissionais 1-3 anos 4-9 anos 10 anos ou mais ACS 3 3 - Médico - - 1 Enfermeiro - - 1 Técnico de Enfermagem 1 1 - Servente - - 1 Dentista - - 1 Total 4 4 4 46,1% 7,7% 7,7% 15,4% 7,7% 7,7% 7,7% ACS Médico Enfermeiro Técnico de Enfermagem Dentista Auxiliar de dentista Servente 47 Tabela 6 – Distribuição da caracterização da amostra segundo tempo de PSF, PSF Vila Palmira, Socorro/SP, 2012, (n=12). Tempo de PSF Profissionais < 1 ano 2-4 anos 5-6 anos >6 anos ACS - 3 2 1 Médico - - 1 - Enfermeiro - - - 1 Técnico de Enfermagem - - 2 - Servente 1 - - - Dentista - - 1 - Total 1 3 6 2 O tempo de conclusão de formação profissional varia entre 1 a 10 anos ou mais. Neste sentido, Silvestre, Costa Neto (2003) aponta a importância da formação dos profissionais voltada à atenção básica. Quanto ao tempo de atuação no PSF, os profissionais apresentam em média 5 a 6 anos de trabalho junto ao programa. Para Giacomozzi, Lacerda (2006), colaboradores que apresentam em média 5 anos de trabalho em saúde da família possuem experiência profissional e experiência de trabalho em equipe e, portanto conhecem as novas concessões de saúde do país, inclusive a assistência domiciliar à saúde. Figura 14 - Realização de curso de capacitação ao idoso pelos profissionais de saúde (n=12) Os 17% dos profissionais que possuem curso de capacitação ao idoso correspondem a apenas 2 profissionais, sendo a enfermeira e o médico. Pesquisas realizadas em Enfermagem Gerontológica, revelam que existe uma carência de capacitação e suporte para os profissionais (MARTINS et al., 2007). Veloso, Satler, Da-Silva (2009) sobre a importância da capacitação de profissionais de saúde no atendimento ao idoso em PSF's, aconselham a capacitação de 48 profissionais da área da saúde como uma medida relevante para otimizar a qualidade do serviço público na assistência ao idoso. Adicionalmente, Marziale (2003) ressalta que a capacitação da equipe de saúde é indispensável para o atendimento adequado ao idoso, principalmente ao se tratar da formação acadêmica do enfermeiro, visando o fenômeno do envelhecimento e o processo saúde-doença da população idosa, e ainda que se deva contemplar “a capacitação de recursos humanos para atuar nas unidades geriátricas de referência, esses profissionais necessitam ter formação especializada nas áreas de Geriatria e Gerontologia Social para assistir adequadamente essa clientela”. Neste contexto, vale lembrar que a assistência domiciliar é uma ação relevante no processo saúde-doença da população idosa. Para avaliar o quão a assistência à saúde em domicílios interfere na população idosa acamada, analisamos como é feita a VD por parte dos profissionais estudados, como demonstra a Tabela 7. Tabela 7 - Distribuição da amostra segundo percepção dos profissionais dos aspectos relacionados à Visita Domiciliar, PSF Vila Palmira, Socorro/SP, 2012, (n=11). Variáveis n % Prática da VD Sim 11 92 Não 1 8 Periodicidade da VD Semestral 0 0 Mensal 2 18,18 Trimestral 0 0 Quando solicitado 2 18,18 Mensal e Quando solicitado 7 63,64 Como procede a VD Escolha da família 0 0 Demanda vem por parte do ACS 11 100 É bem recebido na residência Sim 11 100 Não 0 0 Considera que a VD surte efeito Sim 11 100 Não 0 0 Realiza atividade específica com os cuidadores Sim 7 63,64 Não 4 36,36 Discussão dos casos junto à família Sim 6 54,55 Não 5 45,45 Realiza ação intersetorial Sim 9 81,82 Não 2 18,18 49 Portanto, a visita domiciliar não transforma apenas o modo de trabalho, como somatória de tarefas de serviços de saúde, mas tem potencial suficiente para sensibilizar a ação e pensamento da equipe de saúde. Esta prática “favorece uma aproximação da realidade que é complexa e dinâmica, possibilitando, portanto, uma reflexão e revisão da própria atitude dos profissionais na busca de transformações do cuidado” (Pereira, 2001 apud SAKATA et al., 2007). A VD é
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