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@resumosdamed_ 1 ENDOMETRIOSE E INFERTILIDADE ENTENDER A ENDOMETRIOSE (FATORES DE RISCO, FISIOPATOLOGIA QUADRO CLÍNICO TIPO E TRATAMENTO) o A endometriose é um distúrbio ginecológico benigno comum definido pela presença de glândulas e estroma endometriais fora do sítio normal. Com frequência é encontrada no peritônio pélvico, mas também pode ser vista em ovários, septo retovaginal e ureter, sendo rara na bexiga, no pericárdio e na pleura. o A endometriose é uma doença hormônio-dependente, sendo por isso encontrada sobretudo nas mulheres em idade reprodutiva. As pacientes com endometriose podem ser assintomáticas, subférteis ou apresentar graus variáveis de dor pélvica. O quadro de tecido endometrial localizado dentro do miométrio é denominado adenomiose, ou, algumas vezes, endometriose in situ. o A incidência de endometriose é difícil de quantificar, uma vez que as portadoras da doença quase sempre são assintomáticas e os exames de imagem apresentam sensibilidade baixa para o diagnóstico. O principal método de diagnóstico é a laparoscopia, com ou sem biópsia para diagnóstico histológico. FISIOPATOLOGIA ETIOLOGIA o Embora a causa definitiva de endometriose ainda seja desconhecida, várias teorias têm sido propostas. TEORIA DA MENSTRUAÇÃO RETRÓGRADA: o A teoria mais antiga e aceita propõe a ocorrência de menstruação retrógrada por meio das trompas de Falópio com subsequente disseminação do tecido endometrial no interior da cavidade peritoneal. o Os fragmentos endometriais do movimento de refluxo adeririam e invadiriam o mesotélio peritoneal com desenvolvimento de suprimento sanguíneo, levando à sobrevivência e ao crescimento do implante. Essa teoria ganhou sustentação com os achados de maior volume de sangue de refluxo e tecido endometrial na pelve de mulheres com endometriose. o Observaram-se hiperperistalse e disperistalse em mulheres com endometriose, que resultaram em aumento subsequente do refluxo endometrial. TEORIA METAPLASIA CELÔMICA: o A teoria da metaplasia celômica sugere que o peritônio parietal seja um tecido pluripotencial que possa sofrer transformação metaplásica para @resumosdamed_ 2 tecido histologicamente indistinguível do endométrio normal. Como ovários e ductos müllerianos são derivados do epitélio celômico, a metaplasia poderia explicar o desenvolvimento de endometriose ovariana. o Essa teoria é considerada especialmente nos casos de endometriose sem que haja menstruação, como na pré-menarca e na pós- menopausa, e nos homens tratados com estrogênio e orquiectomia para carcinoma de próstata. o No entanto, a ausência de endometriose em outros tecidos derivados do epitélio celômico é um argumento contrário a essa teoria. TEORIA DA INDUÇÃO: o A teoria da indução propõe que algum(ns) fator(es) hormonal(is) ou biológico(s) possa(m) induzir a diferenciação de células indiferenciadas em tecido endometrial. Essas substâncias poderiam ser exógenas ou liberadas diretamente do endométrio. o Estudos in vitro demonstraram o potencial do epitélio superficial ovariano de, em resposta aos estrogênios, sofrerem transformação para formar lesões endometrióticas. DEPENDÊNCIA HORMONAL o O estrogênio tem papel importante como causador de endometriose. o Embora quase todo o estrogênio nas mulheres seja produzido diretamente pelos ovários, sabe-se que diversos tecidos periféricos produzem estrogênio por meio de aromatização de androgênios ovarianos e suprarrenais. o Demonstrou-se que os implantes endometrióticos expressam aromatase e 17b-hidroxiesteroide-desidrogenase tipo 1, enzimas responsáveis, respectivamente, pela conversão de androstenediona em estrona e de estrona em estradiol. o Os implantes, entretanto, são deficientes em 17b-hidroxiesteroide- desidrogenase tipo 2, que inativa o estrogênio. Essa combinação enzimática propicia que os implantes sejam expostos a um ambiente estrogênico. o Além disso, os estrogênios localmente produzidos no interior das lesões endometrióticas podem produzir efeitos biológicos no mesmo tecido ou célula em que são produzidos, um processo chamado de intracrinologia. o Por outro lado, o endométrio normal não expressa aromatase e apresenta níveis elevados de 17b-hidroxiesteroide-desidrogenase tipo 2 em resposta à progesterona. Como consequência, a progesterona antagoniza os efeitos do estrogênio no endométrio normal durante a fase lútea do ciclo menstrual. o Entretanto, a endometriose apresenta um estado de resistência relativa à progesterona, que impede a atenuação da estimulação do estrogênio nesse tecido. o A prostaglandina E2 (PGE2) é o mais potente indutor da atividade aromatase nas células estromais endometriais, agindo por meio do subtipo EP2 do receptor da prostaglandina. O estradiol produzido em resposta ao aumento da atividade aromatase, subsequentemente, aumenta a produção de PGE2 estimulando a enzima cicloxigenase tipo 2 (COX-2) nas células endoteliais uterinas. @resumosdamed_ 3 o Com isso, cria-se um ciclo de retroalimentação positiva com potencialização dos efeitos estrogênicos na proliferação da endometriose. o Esse conceito de produção local de estrogênio com ação intrácrina na endometriose é a base para o uso de inibidores da aromatase em casos de endometriose refratários à terapia-padrão. TEORIA IMUNOLÓGICA o Em pacientes com endometriose, as células endometriais/fragmentos escapariam de ser eliminados pela resposta imune/inflamatória, devido a uma alteração da imunidade humoral e da imunidade celular. o Uma grande variedade de anormalidades imunológicas foi descrita em mulheres com endometriose. O fluido peritoneal das pacientes acometidas contém um grande número de células imunes (macrófagos e leucócitos). o No entanto, ao invés de agirem eficientemente na remoção das células endometriais da cavidade peritoneal, essas células de defesa parecem estimular a doença pela secreção de uma grande variedade de citocinas e de fatores de crescimento que estimulam a adesão e proliferação do endométrio ectópico e a angiogênese local. FATORES DE RISCO o Existem uma série de fatores que podem ser relacionados ao surgimento da endometriose. Aparentemente, a endometriose é uma doença poligênica e multifatorial, resultante da interação genética com fatores ambientais envolvidos. o Os principais fatores de risco são: história familiar materna; malformações uterinas; menarca precoce; ciclos menstruais curtos; duração do fluxo menstrual aumentada; fluxo menstrual aumentado; estenoses cervicais; baixos índices de massa corporal; gestação tardia; nuliparidade; raça branca e asiática; e consumo exagerado de café e álcool. GRUPOS FAMILIARES o Há evidências de um padrão hereditário familiar para a endometriose. Embora não se tenha identificado um padrão mendeliano evidente de transmissão genética, o aumento da incidência em familiares de primeiro grau sugere padrão hereditário poligênico/multifatorial. DEFEITOS ANATÔMICOS o A obstrução do trato de saída do sistema reprodutivo pode predispor ao desenvolvimento da endometriose, provavelmente em função do aumento da menstruação retrógrada. o Como consequência, a endometriose tem sido identificada em mulheres com corno uterino não comunicante, hímen imperfurado e septo vaginal transverso. o Em razão dessa associação, sugere-se laparoscopia diagnóstica para identificar e tratar endometriose no momento da cirurgia corretiva para muitas dessas anormalidades. o Acredita-se que o reparo desses defeitos reduza o risco de desenvolvimento da endometriose. @resumosdamed_ 4 TOXINAS AMBIENTAIS o A exposição a toxinas ambientais pode desempenhar um papel relevante no desenvolvimento da endometriose. As toxinas mais comumente envolvidas são 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina (TCDD) e outros compostosdo tipo dioxina. Ao se ligar, a TCDD ativa o receptor aril-hidrocarboneto. Esse receptor funciona como fator de transcrição básico, e da mesma forma que a família do receptor hormonal esteroide de proteínas, leva à transcrição de vários genes. Como resultado, a TCDD e outros compostos do tipo dioxina podem estimular a endometriose aumentando os níveis de interleucina, ativando enzimas do citocromo P450, como a aromatase e alterando a remodelação tecidual. Além disso, a TCDD, em conjunto com o estrogênio, parece estimular a formação de endometriose, sendo que a TCDD parece bloquear a regressão da endometriose induzida por progesterona. o No ambiente, a TCDD e os compostos do tipo dioxina são subprodutos do processamento industrial. o A ingestão ou o contato acidental com alimentos contaminados é o método mais comum de exposição. Apesar de, inicialmente, endometriose e TCDD terem sido relacionadas em primatas, estudos realizados em humanos também observaram prevalência mais alta de endometriose nas mulheres com concentrações mais elevadas de dioxina no leite materno. Além disso, estudos subsequentes demonstraram níveis mais altos de dioxina sérica em mulheres inférteis com endometriose, em comparação com aquelas nos grupos-controle de inférteis. @resumosdamed_ 5 CLASSIFICAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DA ENDOMETRIOSE SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO o O principal método de diagnóstico da endometriose é a visualização das lesões endometrióticas por laparoscopia, com ou sem biópsia para confirmação histológica. o Uma vez que a extensão da doença pode variar muito entre as pacientes. o O sistema atual de classificação permite descrever a extensão da doença, diferenciar entre doença superficial e invasiva, correlacionar melhor os achados cirúrgicos e os resultados clínicos e descrever a morfologia da lesão endometriótica como branca, vermelha ou preta. o Algumas atividades bioquímicas dentro dos implantes e, possivelmente, o prognóstico da doença, podem ser preditos a partir da morfologia dos implantes. Contudo, esse sistema tem limitações e não é um preditor efetivo para gravidez após o tratamento além de não manter boa correlação com os sintomas de dor. o Nesse sistema, a endometriose é classificada como estágio I (mínima), estágio II (leve), estágio III (moderada) e estágio IV (grave). Nessa classificação mais recente não estão incluídas algumas localizações de endometriose, como o intestino, no estadiamento da doença. SÍTIOS ANATÔMICOS o A endometriose pode se desenvolver em qualquer sítio dentro da pelve e em outras superfícies peritoneais extrapélvicas. o O mais comum é encontrar a endometriose nas áreas dependentes da pelve. Ovário, peritônio pélvico, fundo de saco anterior e posterior e ligamentos uterossacrais costumam estar comprometidos. Além disso, septo retovaginal, ureter e, raramente, bexiga, pericárdio, cicatrizes cirúrgicas e pleura podem ser afetados. Em uma revisão patológica revelou-se que a endometriose foi identificada em todos os órgãos, exceto o baço. o Os sítios raros de endometriose podem apresentar sintomas cíclicos atípicos. Por exemplo, mulheres com endometriose no trato urinário podem descrever sintomas cíclicos de irritação ao urinar e hematúria; aquelas com envolvimento retossigmoide podem relatar sangramento retal cíclico, e lesões pleurais foram associadas a pneumotórax menstrual e hemoptise. o Os endometriomas ovarianos são uma manifestação comum da endometriose. Esses cistos ovarianos apresentam paredes lisas, têm cor marrom-escura e são repletos de líquido com aspecto de chocolate, podendo ser uniloculares ou, quando muito grandes, multiloculares. Supõe-se que os endometriomas ovarianos sejam formados por invaginação do córtex ovariano e posterior incorporação de resíduos menstruais que se tenham aderido à superfície ovariana. Outra teoria sugeriu que a endometriose ocorreria como resultado de metaplasia celômica de inclusões epiteliais invaginadas. @resumosdamed_ 6 SINTOMAS DA PACIENTE o Embora as mulheres com endometriose possam ser assintomáticas, os sintomas são comuns e costumam incluir dor pélvica crônica (DPC) e infertilidade. Determinadas alterações menstruais precoces podem estar associadas à endometriose. o A classificação atual da ASRM para endometriose, que define a extensão da doença, avalia de forma insatisfatória os sintomas. Por isso, clinicamente, as mulheres com doença extensa (estágio IV) podem apresentar poucas queixas, e aquelas com doença mínima (estágio I) podem se queixar de dor significativa, subfertilidade ou ambas. DOR: o A endometriose é uma causa comum de dor pélvica, que, nas mulheres afetadas, pode variar bastante, podendo ser cíclica ou crônica. o A causa subjacente dessa dor ainda não foi esclarecida, mas citocinas pró-inflamatórias e prostaglandinas, liberadas pelos implantes endometrióticos dentro do líquido peritoneal, podem ser uma fonte. Além disso, há evidências a sugerir que a dor da endometriose correlaciona-se com a profundidade da invasão e que o sítio da dor pode indicar a localização da lesão. o A dor da endometriose pode resultar de invasão neuronal nos implantes endometrióticos que posteriormente passam a ter suprimento nervoso sensorial e simpático, suscetível à sensibilização central. Isso leva à hiperexcitabilidade persistente dos neurônios e subsequente dor que se mantém apesar da excisão cirúrgica. A hiperinervação de endometriose profundamente infiltrada no intestino talvez explique por que esta lesão causa dor intensa. o Qualquer que seja a causa, as mulheres com endometriose clinicamente experimentam manifestações diferentes de dor. DISMENORREIA: o Dor cíclica com a menstruação é observada com frequência nas mulheres portadoras de endometriose. o Normalmente, a dismenorreia associada à endometriose precede as menstruações em 24 a 48 horas e é menos responsiva aos medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e aos contraceptivos orais combinados (COCs). o Essa dor é considerada mais intensa em comparação com a dismenorreia primária. o Foi demonstrado haver correlação positiva entre intensidade da dismenorreia e risco de endometriose. o Além disso, a endometriose de infiltração profunda, isto é, a doença que se estende por > 5 mm sob a superfície peritoneal, também parece correlacionar-se positivamente com a intensidade da dismenorreia. DISPAREUNIA: o A dispareunia associada à endometriose na maioria das vezes está relacionada com doença localizada no septo retovaginal ou no ligamento uterossacral e menos associada a envolvimento ovariano. o Durante a relação sexual, a tensão sobre os ligamentos uterossacrais comprometidos pode precipitar a dor. @resumosdamed_ 7 o Embora algumas mulheres com endometriose possam relatar história de dispareunia desde a perda da virgindade, suspeita-se de dispareunia associada à endometriose quando a dor passa a ocorrer depois de anos de relação sexual indolor. Entretanto, parece que o grau de desconforto não depende da gravidade da doença DISÚRIA. o Embora sejam sintomas menos comuns em casos de endometriose, queixas como disúria e frequência e urgência urinárias cíclicas podem ser observadas nas mulheres afetadas. o A endometriose deve ser suspeitada se tais sintomas forem acompanhados de culturas negativas de urina. Se forem observados hematúria ou sintomas vesicais significativos, a cistoscopia pode ser realizada para investigação complementar e confirmação diagnóstica. DOR DEFECATÓRIA: o A defecação dolorosa é mais rara do que os outros tipos de dor pélvica e normalmente refletem a presença de implantes de endometriose no retossigmoide. o Os sintomas podem ser crônicos ou cíclicos e estar associados à constipação, diarreia ou hematoquezia cíclica. DOR PÉLVICANÃO CÍCLICA: o A dor pélvica crônica (DPC) é o sintoma mais comumente associado à endometriose. o O foco da dor crônica pode variar de uma mulher para a outra. Se o septo retovaginal ou os ligamentos uterossacrais estiverem comprometidos pela doença, a dor talvez irradie para o reto ou para a região lombar. Por outro lado, a irradiação da dor para as pernas, causando dor ciática cíclica, pode refletir endometriose peritoneal posterior ou envolvimento direto do nervo isquiático. o Algumas pacientes com queixa de dor abdominal apresentarão endometriose de parede abdominal. o Em alguns casos, ocorrem endometriomas em cicatriz abdominal após procedimentos como cirurgia uterina ou cesariana, enquanto outros casos não se relacionam com cirurgia prévia surgindo espontaneamente. INFERTILIDADE o Será visto mais a frente. OBSTRUÇÃO INTESTINAL E URETERAL o A endometriose pode envolver intestino delgado, ceco, apêndice ou colo retossigmoide e levar à obstrução intestinal em alguns casos. o A endometriose do trato gastrintestinal em geral está restrita à subserosa e muscular própria. Entretanto, os casos mais graves podem envolver a parede intestinal no aspecto transmural e levar a um quadro clínico e radiográfico consistente com malignidade. o O diagnóstico e o tratamento préoperatórios precisos são difíceis em razão da apresentação atípica. Normalmente, a laparoscopia leva ao diagnóstico definitivo. @resumosdamed_ 8 o Em geral, o tratamento é cirúrgico, com ressecção e anastomose primária do segmento intestinal afetado. Entretanto, nas mulheres sem sintomas de obstrução, o tratamento conservador com terapia hormonal pode ser considerado. o A endometriose do trato urinário tem apresentação variável, que inclui frequência, urgência e obstrução ureteral eventualmente evoluindo progressivamente para perda da função renal. O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico. O cirúrgico geralmente é feito com técnicas de ressecção específicas para aliviar a obstrução ureteral. DIAGNÓSTICO EXAME FÍSICO INSPEÇÃO: o Em grande parte, a endometriose é uma doença restrita à pelve. o Portanto, com frequência não são observadas anormalidades durante a inspeção. o Algumas exceções incluem a endometriose em uma cicatriz de episiotomia ou em uma cicatriz cirúrgica, com frequência na incisão de Pfannenstiel. É raro, mas a endometriose também pode se desenvolver espontaneamente no períneo ou na região perianal. EXAME COM ESPÉCULO: o Em geral, o exame da vagina e do colo uterino não revela sinais de endometriose. o Ocasionalmente, lesões azuladas ou parecidas com queimadura por pólvora podem ser observadas no colo uterino ou no fórnice posterior da vagina. Essas lesões podem ser sensíveis ou sangrar ao contato. EXAME BIMANUAL: o A palpação de órgão pélvico pode revelar anormalidades anatômicas sugestivas de endometriose. o A presença de nódulos e de sensibilidade ao toque no ligamento uterossacral podem refletir doença ativa ou fibrose ao longo do ligamento. Além disso, uma massa anexial cística extensa pode representar um endometrioma ovariano, que pode ser móvel ou aderente a outras estruturas pélvicas. o O exame bimanual talvez revele útero retrovertido, fixo, sensível ao toque, ou um fundo de saco posterior firme e fixo. Contudo, o exame físico geralmente é impreciso na avaliação da extensão da endometriose, especialmente se as lesões forem extragenitais. o Embora a palpação de órgão pélvico possa auxiliar no diagnóstico, a sensibilidade e a especificidade dolorosa focal pélvica para detecção da endometriose são altamente variáveis. o As nodularidades pélvicas secundárias à endometriose podem ser mais facilmente detectadas pelo exame bimanual durante as menstruações. EXAMES LABORATORIAIS o Os exames laboratoriais são solicitados para excluir outras causas de dor pélvica. Inicialmente, hemograma completo, dosagem sérica ou urinária de gonadotrofina coriônica humana, exame e culturas de urina, culturas vaginais e esfregaços do colo uterino podem ser realizados para excluir infecções ou complicações da gestação. @resumosdamed_ 9 CA-125 SÉRICO: o Numerosos marcadores séricos foram pesquisados como possíveis auxiliares no diagnóstico de endometriose. Nenhum marcador sérico foi mais estudado do que o antígeno de câncer 125 (CA125). Estabelecido como determinante antigênico de uma glicoproteína, o CA-125 foi identificado em vários tecidos de adultos, como epitélio das tubas uterinas, endométrio, endocérvice, pleura e peritônio. Esse marcador é usado na investigação e acompanhamento de casos de câncer ovariano. o Identificados por meio de ensaios com anticorpo monoclonal, níveis elevados de CA-125 apresentaram correlação positiva com a gravidade da endometriose. Infelizmente, apesar de demonstrar especificidade adequada, o exame tem sensibilidade insuficiente para detecção de endometriose leve. Em uma metanálise de artigos para avaliação do CA-125 no diagnóstico de endometriose revelou-se sensibilidade de apenas 28% e especificidade de 90%. o Esse marcador parece ser melhor como teste diagnóstico para a endometriose nos estágios III e IV. o Embora o papel desse teste na prática clínica não tenha sido estabelecido, ele talvez possa ser útil nos casos de cisto ovariano detectado por ultrassonografia e imagem sugestiva de endometrioma. OUTROS MARCADORES SÉRICOS o O antígeno de câncer 19-9 (CA-19-9), outra glicoproteína antigênica, é um marcador sérico que também demonstrou ter correlação positiva com a gravidade da endometriose. Inicialmente, demonstrou-se que a proteína placentária sérica 14 (PP-14; glicoproteína A) teria sensibilidade adequada (59%), mas isso não foi confirmado por outros estudos. Níveis séricos da IL-6 acima de 2 pg/mL (90% de sensibilidade e 67% de especificidade) e de fator de necrose tumoral alfa (TNF-a) no líquido peritoneal acima de 15 pg/ mL (100% de sensibilidade e 89% de especificidade) podem ser usados para diferenciar entre pacientes com e sem endometriose. Vários outros marcadores séricos foram estudados, com acurácia diagnóstica limitada. Como mencionado anteriormente, a maioria desses testes raramente é usada fora do ambiente de pesquisa. DIAGNÓSTICO POR IMAGEM ULTRASSONOGRAFIA TRANSVAGINAL (USG TV): o É um exame simples, barato e amplamente difundido. Contudo, dificilmente encontra pequenos focos de endometriose e focos com pouca atividade. o Porém, na presença de um grande endometrioma fica fácil fechar o diagnóstico, pois eles se apresentam como massas bem delimitadas. o Além disso, a USG TV consegue identificar aderências pélvicas e acometimento por endometriose profunda. o A ultrassonografia retal, ecoendoscopia e técnicas como sonovaginografia, que envolve instilação de solução salina na vagina para maior precisão na localização de endometriose retovaginal, têm sido recomendadas para o diagnóstico de endometriose do septo retovaginal e dos ligamentos uterossacrais. @resumosdamed_ 10 RESSONÂNCIA MAGNÉTICA (RM): o A RM possui ressonância magnética alto custo, é pouco disponível em nosso meio e não deve ser solicitada de rotina em qualquer suspeita de endometriose. o Entretanto, é o exame que apresenta melhores taxas de sensibilidade e especificidade na avaliação da paciente com endometrioma e endometriose profunda. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA (TC): o Esse exame é mais utilizado para diagnosticar e avaliar a extensão da endometriose intestinal, determinando a presença e a profundidade de lesões endometrióticas intestinais. LAPAROSCOPIA DIAGNÓSTICA o Essa ferramenta é o principal método usado para o diagnóstico de endometriose. o Os achados laparoscópicos podem variar e incluem lesões endometrióticas discretas, endometrioma e aderências. o Os órgãos pélvicos e o peritônio pélvicosão localizações típicas de endometriose. o As lesões têm coloração variável incluindo vermelha (vermelha, vermelho-rosada e vermelho-clara), branca (branca ou marrom- amarelada) e preta (preto ou preto-azulada). o As lesões escuras são pigmentadas por depósito de hemossiderina oriundo de resíduos menstruais não expelidos. As lesões brancas e vermelhas costumam estar correlacionadas aos achados histológicos de endometriose. o Além das diferenças nas cores, as lesões endometrióticas podem diferir em sua morfologia. Podem aparecer como bolhas lisas nas superfícies peritoneais, como buracos ou falhas no peritônio ou como lesões estreladas planas, cujos pontos são formados pelo tecido de cicatriz ao redor. o As lesões endometrióticas podem ser superficiais ou profundas, invadindo o peritônio ou os órgãos pélvicos. Embora essas características possibilitem que a doença seja diagnosticada com precisão, os sintomas dolorosos correlacionam-se de forma insatisfatória aos achados na laparoscopia. o A visualização laparoscópica dos endometriomas ovarianos tem sensibilidade e especificidade de 97 e 95%, respectivamente. o Consequentemente, é rara a necessidade de biópsia ovariana para o diagnóstico. TRATAMENTO o O diagnóstico e o tratamento da endometriose dependem dos sintomas específicos relatados pela paciente, sua gravidade, localização das lesões endometrióticas, objetivos do tratamento e desejo de conservar a fertilidade. o É essencial determinar se a paciente está buscando tratamento de infertilidade ou de dor, uma vez que a terapêutica para cada objetivo é diferente. o Se a infertilidade for a queixa principal, a opção deverá ser por um tratamento que preserve a fertilidade, sem supressão da ovulação. Por outro lado, se a paciente apresentar sintomas dolorosos intensos e constantes e não desejar mais ter filhos, justifica-se a cirurgia definitiva. @resumosdamed_ 11 TRATAMENTO CLÍNICO: o Em relação ao tratamento clínico, nas pacientes assintomáticas, com diagnóstico acidental de endometriose, pode-se adotar uma conduta expectante. o Nas pacientes sintomáticas, como o tecido endometriótico tem resposta hormonal, pode-se utilizar medicações que levam a um período com ausência de menstruação ou amenorreia. Dentre os medicamentos estão os análogos do GnRH, que simulam a menopausa; o gestrinona ou danazol, que levam a amenorreia; ou os anticoncepcionais orais e progestágenos. Todos esses tratamentos são não invasivos, todavia, têm a desvantagem para a mulher que quer engravidar. o Além disso, para melhor a dor, comum na endometriose, estão indicados medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), como ibuprofeno, o naproxeno e o ácido mefenâmico. Esses agentes inibem de forma não seletiva as isoenzimas COX-1 e/ou COX-2. Ambas as enzimas são responsáveis pela síntese das prostaglandinas envolvidas na dor e na inflamação associada à endometriose. o Outras medidas, como acupuntura e atividade física, podem ser efetivas no manejo da dor pélvica. ANÁLOGOS DO GNRH: o Em relação aos análogos do GnRH, eles levam a diminuição de gonadotrofinas e hipoestrogenismo. Dessa forma, ocorre amenorreia e redução da atividade dos focos de endometriose. o Os efeitos adversos são decorrentes da diminuição dos níveis de estrogênio (fogachos, ressecamento vaginal, diminuição da libido, alteração de humor, cefaleia e depleção óssea). o O tratamento por mais de seis meses deve ser associado à reposição hormonal para diminuir os efeitos do hipoestrogenismo. ANTICONCEPCIONAL ORAL (ACO): o O ACO alivia a dismenorreia e pode ser utilizado de forma cíclica ou contínua. o Ele causa inibição da ovulação com diminuição dos níveis de gonadotrofinas, diminuição do fluxo menstrual e decidualização dos focos de endometriose. PROGESTÁGENOS: o Esses medicamentos provocam decidualização e atrofia dos focos de endometriose. Apresentam como efeitos adversos mais frequentes sangramento irregular, ganho de peso, acne e edema. Pode ser utilizado em comprimidos, formas injetáveis, implantes e dispositivos intrauterinos (DIU). DANAZOL E GESTRINIONA: o O danazol é um androgênio oral que inibe o LH e a esteroidogênese, e eleva os níveis de testosterona livre. Os efeitos adversos mais comuns incluem hirsutismo, acne e alteração de voz. A gestrinona é um antiprogestágeno e produz inibição da esteroidogênese ovariana. Os @resumosdamed_ 12 efeitos adversos são decorrentes dos efeitos androgênicos e antiestrogênicos. TRATAMENTO CIRÚRGICO: o O tratamento cirúrgico pode ser realizado por meio de laparoscopia ou laparotomia. Tendo como objetivo a retirada do tecido endometriótico. o O tratamento cirúrgico consiste na cauterização dos focos de endometriose associada à lise de aderências, procurando restabelecer a anatomia normal da pelve. Além disso, pode-se retirar áreas de fibrose via laparoscopia, desfazer endometrioma, e reposicionar as trompas, para facilitar uma possível gestação. Endometriomas devem ser manejadas cirurgicamente. o O tratamento medicamentoso pode levar à redução temporária do tamanho do cisto, mas não consegue eliminá-lo. Eles podem ser somente drenados ou ter sua cápsula cauterizada. Além disso, pode- se fazer a cistectomia, com retirada completa da lesão. Sendo que essa última opção possui melhores taxas de redução dos sintomas. Porém, nesses casos também há maior dano ao parênquima ovariano, podendo alterar a reserva ovariana. o A histerectomia total associada à anexectomia bilateral é reservada a pacientes com doença extensa e que não desejam ter filhos. @resumosdamed_ 13 o Outra abordagem inclui a neurectomia pré-sacral, que tem demonstrado diminuir dispareunia e dismenorreia. Em alguns casos de endometriose, pode ser necessário a ressecção vesical parcial, reimplante ureteral, ressecção digestiva, colostomia, a depender da extensão da doença. o Vale lembrar que mesmo com intervenção cirúrgica, a paciente precisa ser trata da clinicamente. Não adianta fazer cirurgias sem tratar clinicamente, pois pouco tempo depois, as alterações, como endometriomas e aderências, podem retornar. Por isso, toda paciente que é tratada cirurgicamente, obrigatoriamente, tem que fazer o tratamento combinado para evitar que a doença volte. RELACIONAR ENDOMETRIOSE COM INFERTILIDADE o A incidência da endometriose nas mulheres subférteis é de 20 a 30%. Além disso, embora haja relatos de grande variabilidade, as pacientes inférteis parecem ter maior incidência de endometriose do que as mulheres férteis do grupo-controle. o Foi observado maior prevalência de estágios mais graves de endometriose nas mulheres inférteis. o As aderências causadas pela endometriose talvez impeçam a captura e o transporte do oócito pela tuba uterina. Além do impedimento mecânico da ovulação e da fertilização, outras falhas sutis também parecem estar envolvidas na patogênese da infertilidade nas mulheres com endometriose. Essas falhas incluem alterações nas funções ovariana e imune, bem como na implantação. DOENÇA MÍNIMA OU LEVE o Existem evidências sugerindo que formas graves de endometriose estejam associadas à infertilidade; no entanto, os dados de suporte à possibilidade de que formas mais leves sejam causadoras de infertilidade são menos abundantes. Não há estudos em humanos demonstrando a endometriose mínima ou leve como causa de subfertilidade, mas essa associação é sugerida pelas diferentes prevalências da doença entre pacientes inférteis e férteis. o Mulheres com endometriose mínima apresentaram taxa de fecundidade mensal de 6% e taxa cumulativa de gravidez em 12 meses de 47%. Embora esses percentuais estejam muito abaixo dos observados nas mulheres normais férteis, é provável que haja viés de participação nesses estudos DOENÇAMODERADA OU GRAVE o Na endometriose moderada a grave (estágio III a IV), a anatomia tubária e ovariana, em geral, encontra-se distorcida. Como resultado, pode-se esperar deficiência na fertilidade. Infelizmente, poucos estudos relataram as taxas de fecundidade em mulheres com endometriose grave. Uma pesquisa comparando endometriose branda, moderada e grave revelou taxa de fecundidade mensal de 8,7% para as pacientes com doença branda, 3,2% para aquelas com doença moderada e nenhuma gravidez para as pacientes com doença grave. EFEITOS NA FOLICULOGÊNESE E NA EMBRIOGÊNESE @resumosdamed_ 14 o Alguns pesquisadores sugeriram que a foliculogênese seria deficiente nas mulheres com endometriose. O desenvolvimento e a qualidade dos embriões em mulheres com endometriose submetidas à FIV foram comparados com os dos embriões de mulheres com infertilidade por fator tubário. O número de blastômeros por embrião foi significativamente menor e observou-se taxa maior de interrupções no desenvolvimento embrionário no grupo com endometriose. Este dado sugere possível redução da competência de desenvolvimento dos oócitos originários dos ovários de mulheres com endometriose. o Em outra pesquisa verificou-se que o número de oócitos pode estar reduzido nas mulheres com a doença. ALTERAÇÕES ENDOMETRIAIS o As anormalidades no desenvolvimento endometrial de mulheres com endometriose corroboram a possibilidade de que defeitos de implantação possam ser responsáveis pela subfertilidade associada à doença. Por exemplo, foram encontradas anormalidades nos perfis de expressão de genes no endométrio eutópico de mulheres com endometriose, em comparação com mulheres sem a doença. OUTROS FATORES: o As anormalidades na atividade inflamatória e das citocinas em mulheres com endometriose podem desempenhar um papel na infertilidade associada à doença. A função dos espermatozoides pode estar alterada nas mulheres com endometriose, e os espermatozoides podem ser mais fagocitados por macrófagos nas mulheres afetadas. Além disso, a ligação do espermatozoide à zona pelúcida parece ser negativamente alterada. ENTENDER O CONCEITO DE INFERTILIDADE, SEU FLUXOGRAMA DE INVESTIGAC ̧ÃO E SUAS MODALIDADES DE TRATAMENTO. o Para iniciar esse tópico, cabe definir a fertilidade como a aptidão para a reprodução, conceito que só existe quando aplicado para um casal. A infertilidade, por sua vez, é considerada um problema de saúde pela OMS, e pode ser definida como ausência de gestação após 12 meses de tentativas, sendo tentativa caracterizada por uma vida sexual ativa (relações de 2 a 4 vezes por semana) sem a utilização de quaisquer métodos contraceptivos. o A infertilidade pode ser definida como primária, quando não há gravidez anterior, ou secundária, aquela na qual ocorreu pelo menos uma concepção anterior. INVESTIGAÇÃO o A investigação deve ser iniciada após 12 meses de tentativa sem sucesso. No entanto, a avaliação pode ser iniciada mais cedo, em mulheres com 35 anos ou mais, mulheres com ciclos menstruais irregulares ou fatores de risco conhecidos para infertilidade, como histórico de DIP ou mal-formações do trato reprodutivo. o A investigação pode ser iniciada precocemente em mulheres com 35 anos ou mais, após 6 meses de tentativas sem sucesso. Essa investigação precoce se justifica pela perda de quantidade e qualidade dos óvulos. @resumosdamed_ 15 o Em se tratando de infertilidade, a investigação é sempre conjugal! Mesmo que o homem já tenha filhos de outras relações, tanto ele como a mulher devem sempre ser investigados. PROPEDÊUTICA BÁSICA DO CASAL o A propedêutica básica do casal envolve a anamnese, o exame físico e alguns exames complementares específicos. o Com relação à anamnese voltada para a mulher, os pontos mais importantes são a duração da infertilidade, tratamentos anteriores e seus resultados, se realizados; história menstrual, envolvendo a duração e características do ciclo, de forma a avaliar o status ovulatório; patologias prévias; história cirúrgica e ginecológica, buscando condições, procedimentos ou uso de medicamentos associados à infertilidade (cabe aqui um interrogatório de sintomas que possam direcionar a investigação para alguma causa, como dor pélvica, entre outros); história obstétrica; história sexual, inclusive disfunções sexuais e a frequência de coito; história familiar para infertilidade, defeitos congênitos e mutações genéticas; hábitos de vida e história social, incluindo ocupação, nível de estresse, dieta, atividade física, abuso de substâncias ou qualquer outro fator que possa alterar a fertilidade. o Já para o homem, a anamnese deve ser direcionada para o desenvolvimento sexual e puberal, incluindo a presença de pelos no corpo e a descida testicular; histórico médico, avaliando a ocorrência de doença sistêmica grave crônica, história de traumatismo pélvico, infecções do trato gênito-urinário e IST’s, varicocele, entre outras patologias; história cirúrgica, principalmente de cirurgias envolvendo as áreas inguinal e escrotal, como a vasectomia ou orquiectomia; história de vida e social, abordando o abuso de substâncias, exposições ocupacionais ou mesmo radioterapia ou quimioterapia prévia; história sexual, questionando sobre libido, frequência de relações, além do histórico de fertilidade anterior. o O principal exame complementar utilizado na propedêutica para o homem é o espermograma, além dos exames pré-concepcionais quando pertinentes, como por exemplo sorologias para hepatites. o Já os exames complementares para as mulheres são mais vastos, utilizados na dependência da causa subjacente à infertilidade. Podemos citar a Ultrassonografia Transvaginal (USGTV - para avaliação anatômica uterina), Histerossalpingografia (para avaliação da permeabilidade tubária), avaliação da presença de ciclos ovulatórios ou exames mais específicos para verificá-los, caso não seja possível inferir pela história. Além disso, deve-se solicitar os exames básicos pré- concepcionais (tipagem sanguínea, sorologias – HBV, HCV, HIV, Sífilis, Toxoplasmose e Rubéola – e TSH). @resumosdamed_ 16 FATOR OVARIANO o Dentre os fatores ovarianos, podemos citar como causas de infertilidade a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), tireoidopatias (principalmente o hipotireoidismo), hiperprolactinemia e baixa reserva funcional ovariana. o A SOP é a principal causa de anovulação crônica, sendo essa a endocrinopatia mais comum das mulheres no menacme, correspondendo a cerca de 80% dos casos de infertilidade por fator ovariano. • Trata-se de uma síndrome caracterizada por ciclos anovulatórios ou oligo-ovulação, hiperandrogenismo e múltiplos pequenos cistos ovarianos. • Usualmente, a paciente busca atendimento médico por 3 quadros, sendo eles: ciclos anovulatórios (sangramento uterino irregular, oligomenorreia e até amenorreia), hiperandrogenismo (hirsutismo e acne, não sendo comum a virilização) e infertilidade. Além disso, a SOP pode se manifestar com quadros metabólicos como obesidade, resistência periférica à insulina, DM tipo II e dislipidemia, além de cursar com um risco independente aumentado para doenças cardiovasculares, devido ao estado inflamatório característico da doença. • A SOP é um diagnóstico de exclusão, sendo realizado através dos Critérios de Rotterdam. • O tratamento dessa síndrome envolve modificações do estilo de vida – que individualmente já aumentam o nível de ovulação -, indução de ciclos menstruais regulares e melhora do hirsutismo (através de anticoncepcionais orais, finasterida, espironolactona e tratamentos cosméticos). o As patologias da tireoide, principalmente o hipotireoidismo, estão associadas a alterações no ciclo menstrual, em sua duração e no volume de fluxo. Oligomenorreia e amenorreia são achados frequentes. Ainda quemulheres com hipotireoidismo leve possam ovular e engravidar, o tratamento com tiroxina é importante, auxiliando no retorno para o padrão menstrual normal, bem como aumentando a fertilidade. o Com relação ao achado de hiperprolactinemia, devem ser pesquisadas causas fisiológicas, farmacológicas ou secundárias ao aumento patológico de secreção hormonal. Na ausência de hipotireoidismo ou de causas farmacológicas, os estudos de imagem auxiliam no diagnóstico de tumores hiper produtores de prolactina, como os adenomas hipofisários. O seu tratamento primário será realizado através da administração de agonistas da dopamina. o Dentre os fatores ovarianos supracitados, os principais agentes envolvidos na infertilidade são os fatores ovulatórios. COMO PODEMOS INVESTIGAR E CONFIRMAR A OCORRÊNCIA DE OVULAÇÃO? o Dosagem do pico de LH no meio do ciclo, o qual culmina em ovulação. o Dosagem de progesterona na 2ª fase do ciclo menstrual. Após a ovulação, a presença do corpo lúteo vai gerar a produção de progesterona na 2ª fase do ciclo. o USG seriado durante o ciclo menstrual, podendo observar o desenvolvimento de folículos antrais e produção da dominância @resumosdamed_ 17 folicular pré-ovulatória. Durante o ciclo menstrual diversos folículos são maturados, porém usualmente apenas um desenvolve a dominância, tornando-se o responsável pela ovulação. Esse processo pode ser observado ao USG pélvico seriado, o que demonstra a ocorrência ou não de ovulação. o Biópsia de endométrio na 2a fase do ciclo menstrual, observando um endométrio de padrão secretor após a ovulação, com o estímulo da progesterona presente. Pouco realizado na prática, por ser invasivo e dispendioso. o OBS. A reserva ovariana é nada mais que a quantidade de folículos que existem no ovário, ainda a serem ovulados, em uma certa idade. A avaliação da reserva ovariana é quantitativa e não qualitativa. Podemos utilizar como arsenal diagnóstico o Hormônio Anti-Mulleriano (AMH), que é um hormônio produzido pelas células da granulosa dos folículos ovarianos, estimando a quantidade de folículos primordiais; a contagem de folículos antrais através do USGTV, no início do ciclo menstrual, por volta do 3º-5º dia do ciclo; a dosagem de FSH no 3º dia do ciclo. Altos níveis de estradiol podem inibir a produção de FSH, gerando um resultado falso negativo. Caso o AMH esteja elevado (> 1ng/mL), a contagem de folículos antrais seja alta (≥10 folículos), e o valor do FSH esteja baixo (< 10mUI/mL), pode-se considerar a reserva folicular como adequada. FATOR TUBO PERITONEAL o São fatores que envolvem patologias modificadoras da tuba uterina, podendo cursar com alterações anatômicas e aderências peritoneais, impedindo o movimento normal da tuba, a captura dos óvulos e o transporte desses para o útero, culminando na infertilidade. Pode-se citar como causas mais comuns: Doença Inflamatória Pélvica (DIP), endometriose, cirurgias prévias e tuberculose prévia, sendo as duas primeiras causas muito mais prevalentes que as demais. o A doença inflamatória pélvica (DIP) é uma infecção do trato genital feminino superior (acima do orifício interno do colo do útero), envolvendo útero, tubas e ovário. Pode afetar também peritônio e órgãos abdominais adjacentes. Cerca de 85% dos casos são considerados IST’s. É uma infecção polimicrobiana causada por germes que ascendem do colo uterino, sendo os principais a Neisseria gonorrhoeae e a Chlamydia trachomatis. O quadro clínico mais comum envolve dor pélvica, podendo estar associado a corrimento vaginal purulento. • O diagnóstico é elaborado a partir de critérios maiores, menores e elaborados. • O tratamento com antibioticoterapia deve ser iniciado precocemente, para realizar a prevenção de sequelas, como a infertilidade. • A síndrome de Fitz-Hugh-Curtis corresponde, no período agudo, a formas mais graves da DIP, que podem evoluir com peri-hepatite, formando pequenos abscessos na superfície hepática. Em sua fase crônica, essa síndrome cursa com “aderências em corda de violino” entre o fígado e a parede abdominal anterior. o A endometriose, por sua vez, é caracterizada pela presença de tecido endometrial ectópico, usualmente na pelve (principalmente no ovário), mas também pode estar presente no intestino, diafragma e até na @resumosdamed_ 18 cavidade pleural. É encontrado em mulheres na menacme, já que é uma doença estrogênio-dependente. O quadro clínico se apresenta, normalmente, de três formas: de forma assintomática, um quadro de dor (dismenorreia, dor pélvica crônica e/ou dispareunia) ou através da infertilidade. Até metade das mulheres com infertilidade podem ter endometriose. o Algumas cirurgias, principalmente cirurgias abdominopélvicas, como a apendicectomia, possuem como possível complicação a manipulação inadequada de estruturas reprodutivas femininas, podendo vir a gerar a infertilidade. A tuberculose genital é uma forma rara de tuberculose, afetando principalmente as tubas uterinas e em seguida o endométrio. Usualmente o seu quadro clínico já se apresenta através da infertilidade, devendo elevar o grau de suspeição para essa patologia diante de um quadro de infertilidade. Porém, essas duas entidades como causa de infertilidade tuboperitoneais são muito raras. COMO REALIZAR A AVALIAÇÃO DA PERMEABILIDADE TUBÁRIA? o A Histerossalpingografia é o exame mais comumente utilizado. Através da injeção intrauterina de corante iodado, o qual é captado através de imagens radiográficas sucessivas, observa-se se há dissipação desse corante na cavidade. o A Laparoscopia com cromotubagem é outra opção para avaliação da permeabilidade tubária. A cromotubagem é a injeção de corante com azul de metileno por via uterina, observando a saída do mesmo pela tuba uterina para a cavidade pélvica através da videolaparoscopia, denotando a permeabilidade das tubas uterinas. É um exame menos utilizado, normalmente realizado quando a laparoscopia é indicada por outro motivo. o É importante salientar que a videolaparoscopia NÃO faz parte da avaliação inicial de infertilidade! FATOR UTERINO Apesar de não ser uma das causas mais comuns de infertilidade, também podem estar associadas a ela. Dentre as causas que geram distorção da cavidade uterina e consequente menor fertilidade, podemos citar: o A Síndrome de Asherman, na qual ocorrem sinéquias intrauterinas, ou seja, aderências ou cicatrizes usualmente resultantes de manipulação intrauterina, principalmente na curetagem. Esse quadro gera amenorreia secundária e infertilidade. o Outra causa uterina são os Leiomiomas uterinos, tumores de músculo liso benignos, que podem impedir a implantação do zigoto a depender da sua localização e tamanho, principalmente o mioma submucoso, que gera distorção da cavidade uterina. o Além disso existem os pólipos endometriais e lesões polipoides, tumores presentes na cavidade intrauterina e as anomalias congênitas, principalmente as alterações mullerianas, como útero septado, útero bicorno, útero unicorno, útero didelfo e agenesia uterina. Nesse caso, deve-se avaliar a cavidade uterina em si. Existem alguns exames que podem fazer essa avaliação, dentre eles: o A Histeroscopia se caracteriza pela avaliação endoscópica da cavidade intrauterina, sendo o principal método para definir anormalidades no interior do útero. É o exame padrão ouro para tal avaliação e além de diagnóstico pode ser terapêutico, através da @resumosdamed_ 19 excisão de lesões. É um exame simples, apesar de minimamente invasivo, que pode ser realizado até em regime ambulatorial. Utiliza-se algum meio para distensão do orifício interno do colo uterino, permitindo a passagem de uma fibra ótica por ele, possibilitando a visualização da cavidade uterina. A Histerossalpingografia é menos utilizada, nesse caso. Por fim, existe a Histerossonografia,um USG com o auxílio da injeção de soro fisiológico na cavidade uterina, permitindo delinear melhor lesões na cavidade uterina, caso existam. Em alguns poucos casos podem-se utilizar também a ressonância magnética. FATOR MASCULINO o As causas da infertilidade masculina podem ser divididas em 4 grupos principais, sendo eles os distúrbios endócrinos e sistêmicos (relacionados ao hipogonadismo secundário – hipogonadotrófico), defeitos testiculares na espermatogênese (corresponde de 65 a 80% dos casos de infertilidade masculina, sendo a maioria relacionados à dispermatogênese idiopática), distúrbios no transporte do espermatozoide e a infertilidade masculina idiopática (corresponde a um homem infértil com análise normal do esperma e sem causa aparente de infertilidade). o O hipogonadismo se manifesta através de alterações da função testicular, envolvendo alterações hormonais ou alterações na produção espermática. O hipogonadismo pode ocorrer por alterações no próprio testículo ou por doenças hipofisárias e/ou hipotalâmicas, o que caracteriza o hipogonadismo secundário ou hipogonadotrófico. o É importante lembrar que fertilidade prévia não exclui a necessidade de investigação do fator masculino. o Além da anamnese e exame físico, o exame complementar inicial utilizado na investigação masculina é o espermograma. Nesse exame, devem ser avaliados 5 itens, sendo eles: volume de ejaculação (2-5mL), concentração de espermatozoides (≥15 milhões/mL), motilidade – espermatozoides móveis e progressivos (≥32%), morfologia normal dos espermatozoides (≥4% – Critérios de Kruger e ≥30% - Critérios da OMS) e concentração de leucócitos (<1 milhão/mL). @resumosdamed_ 20 o A coleta do esperma deve ser realizada em ambiente laboratorial, pois o estudo da amostra deve ser realizado, no máximo, após uma hora de coletada. Cabe ressaltar, ainda que o homem deve respeitar um período de abstinência sexual de 2 a 3 dias antes da análise, visto que períodos menores podem prejudicar a contagem de espermatozoides e maiores podem prejudicar à qualidade (motilidade e morfologia dos espermatozoides). o É importante saber a terminologia relacionada às alterações do espermograma para poder avaliar o seu resultado, lembrando que podem existir combinações desses fatores em um mesmo exame: • Baixa motilidade = Astenozoospermia • Ausência de espermatozoide = Azoospermia • Diminuição da concentração de espermatozoides = Oligozoospermia • Morfologia alterada = Teratozoospermia TRATAMENTO DA INFERTILIDADE o Para o tratamento da infertilidade conjugal podem ser empregadas técnicas de baixa complexidade ou técnicas de alta complexidade, que diferem com relação ao nível de tecnologia utilizado. TÉCNICAS DE BAIXA COMPLEXIDADE: o Existem basicamente duas técnicas de baixa complexidade. o O coito programado nada mais é que a programação de quando o coito deve ser realizado pelo casal, durante a janela fértil da paciente. Para utilizar essa técnica, a paciente deve ter tubas normais e seu parceiro deve possuir um espermograma normal. o A Inseminação intrauterina corresponde, por sua vez, a injeção do sêmen na cavidade uterina, após a seleção dos espermatozoides móveis e morfologicamente normais, ocorrendo a fertilização no próprio organismo da mulher. Deve-se utilizar esse método quando as tubas uterinas forem normais, podendo haver fator masculino e/ou ovulatório leve. Aqui cabe uma distinção para com a Fertilização In-Vitro (FIV), o qual é um método de alta complexidade em que o processo de fertilização do óvulo pelo espermatozoide ocorre in-vitro, não no organismo feminino. o Nos métodos de baixa complexidade, administra-se o HCG 34-36 horas antes do método, fármaco que mimetiza o pico de LH, gerando a ovulação e possibilitando a fertilização. TÉCNICAS DE ALTA COMPLEXIDADE o A principal técnica de alta complexidade é a Fertilização In-Vitro (FIV). Nesse caso, o embrião é formado fora do organismo da paciente e implantado na cavidade uterina. Tem como principais indicações doenças tubárias graves, espermograma ruim, doenças genéticas (pois é uma técnica que possibilita a seleção genética embrionária) e falhas com técnicas de baixa complexidade. A paciente submetida à FIV utiliza alguns medicamentos para o procedimento, como o FSH (para @resumosdamed_ 21 estimular os folículos ovarianos), análogo ou antagonista de GnRH (evitando o pico endógeno de LH precocemente) e HCG, gerando a ovulação. Esse procedimento segue alguns passos: • Estímulo para a formação de mais folículos que o comum. • Realiza-se a captação dos óvulos antes do rompimento desses. • Fertilização ou Injeção intra-citoplasmática: junção do óvulo com o espermatozoide. A segunda técnica é utilizada quando há fatores masculinos proeminentes. • Transferência do embrião: implante do embrião na cavidade uterina. Pode ser realizado no mesmo ciclo ou em outro, quando se usa o método de congelamento. o Além do tratamento geral da infertilidade, algumas patologias específicas podem demandar tratamentos específicos. Tanto os pólipos endometriais, bem como o mioma submucoso e a síndrome de Asherman podem ser tratados através da histeroscopia cirúrgica, que como dito anteriormente, além de ser um procedimento diagnóstico pode ser também um procedimento terapêutico. o Com relação à Endometriose, como abordado anteriormente, não existe um consenso em literatura, porém admite-se que a FIV poderia ser realizada antes do procedimento cirúrgico, em alguns casos. Deve-se analisar caso a caso, incluindo a sintomatologia da paciente. Devemos lembrar que a cirurgia pode tanto melhorar a fertilidade como piorar, caso sejam necessárias abordagens ovarianas durante o procedimento. FLUXOGRAMA: ORDEM DE TRATAMENTO NA INFERTILIDADE CONJUGAL @resumosdamed_ 22 EXTRA @resumosdamed_ 23 REFERÊNCIAS https://aluno.sanarflix.com.br/#/portal/sala- aula/5daaddb3132ed4001119ef3a/5daadc2d132ed4001119ef37/documen to/5eb095b7d6f329001c6dec9c Joseph I. Schaffer, Barbara L. Hoffman, John O. Schorge. Ginecologia de Williams.
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