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Fernanda Pressoto ODONTOLOGIA UNIRP Um importante aspecto em qualquer procedimento cirúrgico é a preparação do ferimento para a cicatrização. A lesão tecidual pode ser causada por condições patológicas ou eventos traumáticos. O nosso organismo concentra sua energia naquela lesão. O dentista pode alterar a quantidade e a gravidade da lesão tecidual induzida traumaticamente e, assim contribuir para promover ou impedir a cicatrização do ferimento. PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO - Depende do tipo de tecido envolvido; - Característica celular: Lábeis (se multiplicam durante todo o ciclo de vida). Estáveis (aceleram a multiplicação após injúria) sem o trauma ou injúria é lento. Ex: fibroblastos. Permanentes (não se multiplicam durante a vida pós- natal). Qualidade da resposta cicatricial é influenciada pela natureza da ruptura do tecido e das condições para o fechamento da lesão. Existem tecidos que não se regeneram e não voltam a ser o que eram antes da injúria. Quanto maior a lesão, mais energia precisa. CAUSAS DE DANOS NOS TECIDOS Lesões traumáticas podem ser causadas por insultos físico ou químicos. FÍSICO - Fluxo sanguíneo comprometido: se não chega oxigênio, tem hipoxia, se tem hipoxia gera uma necrose = tecido sem função → precisa ser reparado/eliminado e regerado. - Esmagamento: se empurrar o afastador, broca, incisão incorreta, vai ser preciso mais energia logo a cicatrização é mais lenta. - Desidratação. - Incisão. - Irradiação. - Resfriamento. - Aquecimento. QUÍMICOS: - Agentes com pH não fisiológico - Agentes com tonicidade não fisiológica - Proteases - Vasoconstritores - Agentes trombogênicos RESPOSTA DE CICATRIZAÇÃO DA LESÃO: qualquer forma de injúria desencadeia uma complexa série de processos estritamente organizado e temporariamente concomitantes objetivando restaurar a integridade do tecido envolvido. REPARO DE FERIDAS • Epitelização: O epitélio ferido tem uma capacidade regenerativa geneticamente programada que permite restabelecer a sua integridade através da: Proliferação → migração → inibição por contato. Qualquer margem livre de um epitélio normal continua a migrar (por proliferação de células epiteliais germinativas que avançam a extremidade livre para a frente), até que entre em contato com a outra extremidade livre do epitélio, em que é sinalizada para parar de crescer lateralmente. - As feridas em que apenas a superfície do epitélio é lesionada são curadas pela proliferação do tecido epitelial através do leito da ferida do epitélio contido na epiderme e tecidos anexos. Fernanda Pressoto ODONTOLOGIA UNIRP Exemplo: o efeito raramente prejudicial do processo de inibição por contato controlando a Epitelização ocorre quando uma abertura é acidentalmente feita dentro do seio maxilar durante a extração de um dente. Se o epitélio de ambas as paredes do seio e a mucosa oral ficarem lesionados, ele começa a se proliferar em ambas as áreas. Neste caso, a primeira margem epitelial livre do seio do epitélio que pode entrar em contato é a mucosa oral, criando uma fístula oroantral. Células epiteliais malignas perderam seu recurso de inibição por contato, o que mostra a importância desse processo. O processo de reepitelização (Epitelização secundária) é, por vezes, utilizado terapeuticamente pelos cirurgiões bucomaxilofaciais durante determinadas cirurgias pré-protéticas em que uma área da mucosa oral esteja sem o tecido epitelial (gengiva não inserida) e depois deixada para Epitelização por um epitélio adjacente (gengiva inserida) que cresce lentamente sobre o leito da ferida. ETAPAS DA CICATRIZAÇÃO DE FERIDAS Independentemente da causa da lesão tecidual não epitelial, inicia-se um processo estereotipado e, se for capaz de continuar sem impedimentos, trabalha para restaurar a integridade do tecido = cicatrização de feridas. 1. Inflamatória. 2. Fibroplasia. 3. Remodelação. A duração do tempo de cada etapa depende de condições sistêmicas e do trauma. Quanto maior o tempo de intervenção, maior o estímulo para uma fase antinflamatório. Etapa inflamatória Ocorre momentânea lesão tecidual e, na ausência de fatores que prolonguem a inflamação, dura de 3 a 5 dias. Só prescrever antinflamatório: 3 a 4 dias no máximo, não é necessário prescrever antinflamatório por 7 dias, só se o paciente ainda estiver com dor, aí é preciso investigar o porque ele ainda está com dor. Divide-se em duas fases: Vascular e celular. Na fase vascular começam com uma vasoconstrição inicial dos vasos interrompidos como resultado do tônus vascular normal. A vasoconstrição diminui o fluxo sanguíneo para a área de lesão, promovendo a coagulação do sangue. Dentro de minutos, histamina e prostaglandinas E1 e E2, elaboradas pelos glóbulos brancos, causam vasodilatação e pequenos espaços abertos entre as células endoteliais, o que permite o vazamento do plasma e leucócitos para migrar os tecidos intersticiais. A fibrina do plasma transudado provoca obstrução linfática, e o plasma transudado – auxiliado por vasos linfáticos obstruídos = acumula-se na área da lesão, funcionando para diluir contaminantes. Essa coleção de fluidos é chamada de EDEMA. - Os sinais cardinais da inflamação são vermelhidão (eritema) e inchaço (edema), com calor e dor. O calor e o eritema são causados por vasodilatação, o inchaço é causado por transudação de fluido; e a dor e a perda de função são causadas pela histamina, pelas cininas, pelas prostaglandinas liberadas por leucócitos, assim pela pressão do edema. Na fase celular da inflamação desencadeia-se pela ativação do complemento sérico por trauma dos tecidos. Os resultados da divisão do complemento, atuam como fatores quimiotáticos e fazem leucócitos polimorfonucleares para ficar ao lado das veias sanguíneas (marginação) e, em seguida, migram através das paredes dos vasos (diapedese). Uma vez em contato com materiais estranhos (Ex bactérias), os neutrófilos liberam o conteúdo de seus lisossomos (degranulação). As enzimas lisossomas (consistindo principalmente de proteases) funcionam para destruir as bactérias e outros materiais estranhos e para digerir o tecido necrosado. A remoção de Fernanda Pressoto ODONTOLOGIA UNIRP detritos também é auxiliada pelos monócitos, tais como macrófagos, que fagocitam materiais estranhos e necróticos. Com o tempo, os linfócitos se acumulam no local da lesão dos tecidos. A fase inflamatória é, por vezes, denominada de fase de intervalo, pois este é o período durante o qual não ocorre ganho significativo na força da ferida. O principal material que mantém a ferida unida durante a fase inflamatória é de fibrina, que possui pouca resistência a tração. Quimiotaxia: sinalização para que as células especificas venham para a região lesada. Migração celular: quando já estão ali, elas vêm pelo vaso sanguíneo, precisam ir para o tecido aí entra a Diapedese: quando entra a histamina e a prostaglandina. Quem gera a vasodilatação? R: Histamina, prostaglandinas, leucotrienos. Recrutamento dos leucócitos: - Proteases e citocinas: eliminação de bactérias e tecidos sem vitalidade. COÁGULO SANGUÍNEO: fonte de citocinas e fatores de crescimento – interleucinas, fatores modificadores de crescimento (TGF-beta), fatores de crescimento derivados das plaquetas (PDGF), fatores de crescimento endotelial vascular (VEGF). Deslocamento do coágulo: dor, mal hálito, é a alveolite. As citocinas que dão a resposta dos sinais cardinais: Calor: aumento de temperatura devido a concentração celular (energia sendo dissipada). Avermelhamento: formação de novos vasos sanguíneos, com o intuito de chegar mais células e obter uma reparação mais rápida. Inchaço: decorrente da diapedese, porque células do tecido sanguíneoestão indo para o tecido lesado, tem formação de novos vasos e todos estimulados por citocinas. Dor: concentração elevado de prostaglandinas E2. Perda de função: por conta da dor, do edema. MIGRAÇÃO: INFLAMATÓRIA X PROLIFERATIVA - Queda no número de neutrófilos. - Aumento no número de monócitos (macrófagos). - Macrófagos: fagocitose de bactérias e restos celulares, fonte primária de mediadores da cicatrização, manutenção da quantidade de fatores de crescimento e citocinas, liberação de enzimas proteolíticas induzindo a formação de nova matriz extracelular. Etapa fibroblástica Se não tem inflamação, não tem etapa fibroblástica. Ordem cronológica. Pessoas que tem dificuldade na fase inflamatória, na cicatrização, não é pra indicar antinflamatório pois é pra obter a inflamação. Duração: inicia ao 4° ou 5° dia – 2 a 3 semanas. Estabelecimento de substâncias brasileiras. FIGURA: Etapa inflamatória: a ferida enche-se de sangue coagulado, células inflamatórias e plasma. O epitélio adjacente começa a migrar para dentro da ferida e as células mesenquimatosas indiferenciadas, começam a transformar- se em fibroblastos. Fernanda Pressoto ODONTOLOGIA UNIRP Fase migratória da etapa de fibroplasia. Ocorre a migração epitelial contínua, os leucócitos dispõem de materiais estranhos e necróticos, inicia-se a neoformação capilar, e os fibroblastos migram para a ferida pelos fios de fibrina. Formação de tecido de granulação: - Células inflamatórias, fibroblastos, angiogênese. - Estabelecimento de microcirculação: suprimento de oxigênio e nutrientes para o tecido de regeneração. Reepitelização: deposição de colágeno aumento rapidamente a resistência a tração da lesão e reduz a importância da sutura. É facilitada pelo tecido conjuntivo contrátil subjacente o qual se contrai para aproximar as margens da lesão. Os fios de fibrina, que são derivados da coagulação do sangue, riscam as feridas formando um trama em que os fibroblastos começam a estabelecer as substâncias basilares e tropocolágeno. Esta é a fase fibroplástica de reparo de feridas. Os fibroblastos transformam células mesênquimas pluripotentes locais e circulantes que começam a produção de colágeno no terceiro ou no quarto dia após a lesão do tecido. Os fibroblastos também fibronectina, uma proteína que desempenham várias funções. A fibronectina ajuda a estabilizar a fibrina, auxiliar no reconhecimento de material estranho que precisa ser removido pelo sistema imunológico, atua como um fator quimiotático para fibroblastos, e ajuda e guiar os macrófagos ao longo das cadeias de fibrina para a sua eventual fagocitose de fibrina pelos macrófagos. A rede de fibrina também é utilizada por novos capilares, que brotam de vasos já existentes ao longo das margens da ferida e percorrem fios de fibrina para atravessá-la. Aí ocorre a fibrinólise, que é causada pela plasmina trazida pelos novos capilares para remover as cadeias de fibrina que se tornaram inúteis. Um excesso de colágeno é necessário para reforçar a cicatrização da ferida inicialmente. Etapa remodelação A ferida depois de fechada ela necessita de um remodelação. Durante essa fase, muitas fibras de colágeno são destruídas à medida que são substituídas por novas fibras de colágeno, que são orientados para melhor resistir as forças de tensão sobre a ferida. Além disso, a resistência da ferida aumenta lentamente, mas não na mesma magnitude observada durante a fase de fibroplasia. Fernanda Pressoto ODONTOLOGIA UNIRP FASE PROLIFERATIVA • Progressivamente substituída por um extenso período de remodelação progressiva e fortalecimento do tecido cicatricial imaturo. • Pode durar anos. • Ocorre um equilíbrio entre degradação e formação de matriz. • Migração de colágeno do tipo III para tipo I Fatores que interferem na cicatrização Fatores que prejudicam a cicatrização CAUSAS DA ISQUEMIA: - Suturas apertadas. - Retalhos mal confeccionados. - Pressão externa (gaze), pressão interna (hematoma_. - Hipotensão sistêmica. - Doença vascular periférica. - Anemia. Fernanda Pressoto ODONTOLOGIA UNIRP FERIDA APÓS EXTRAÇÃO - Preenchimento do alvéolo por coágulo sanguíneo dentro das primeiras 24-48 horas. - Cicatrização ocorre por segunda intenção. - Osteoclastos acumulam-se por toda crista óssea alveolar. - Ocorre angiogênese por meio dos remanescentes do ligamento periodontal. - Até a 3° semana a cavidade é preenchida por tecido de granulação e tecido ósseo imaturo. - Evidências radiográficas de formação óssea não se torna aparente por seis a oito semana após extração. LESÕES NERVOSAS: Classificação Neuropraxia: Forma menos grave – contusão do nervo. - Manutenção da bainha epineural e axônio. - Pode ser provocada por traumas ou isquemia local. - Recuperação espontânea da função do nervo em poucos dias ou semanas. Axonotmese: - Continuidade do axônio é rompida. - Pode ser provocado por um forte trauma fechado esmagamento ou extrema tração do nervo. - Recuperação pode ocorrer (mas nem sempre) com a resolução da disfunção do nervo entre 2 e 6 meses. Neurotmese: - Forma mais grave de lesão nervosa, envolve completa perda de continuidade do nervo. - Pode ser provocada por fraturas com deslocamento desfavorável, rompimento por PAF ou traumas com grandes lacerações ou por transecções iatrogênicas. - Melhor em casos de extremidades próximas e com orientações de rescimento. REFERÊNCIAS HUPP, James R; ELLIS, Edward; TUCKER, Myron R. Cirurgia oral e maxilofacial contemporânea. 6 ed. Rio de Janeiro: Elsevi er,2015. 692p Fernanda Pressoto ODONTOLOGIA UNIRP
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