Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 Aspectos Jurídicos da Prática Médica I Resumo baseado nas aulas e no material do Prof. Me. Lourenço de Miranda Freire Neto Índice - Aula 01: A Medicina e O Direito………………………………………………..Pág. 02 - Aula 02: Exercício Legal e Exercício Ilegal da Medicina…………………….Pág. 05 - Aula 03: O Médico e O Mercado……………………………………………….Pág. 07 - Aula 04: Segredo Médico……………………………………………………….Pág. 11 - Aula 05: Honorários, Publicidade e Publicações Médicas………………….Pág. 14 - Aula 06: Tratamento Arbitrário e Omissão de Socorro………………………Pág. 17 - Aula 07: Responsabilidade Civil………………………………………………..Pág. 20 - Aula 08: Responsabilidade Civil (Erro Médico)……………………………….Pág. 24 - Aula 09: Responsabilidade Administrativa……………..……………………..Pág. 27 - Aula 10: Responsabilidade Penal………………………………………………Pág. X - Aula 11: Documentos Médicos…………………………………………………Pág. 31 - Aula 12: Legislação da Morte……………………………….…………………..Pág. X Siglas utilizadas - CC: Código Civil - CDC: Código de Defesa do Consumidor - CEM: Código de Ética Médica - CF: Constituição Federal - CFM: Conselho Federal de Medicina - CJF: Conselho da Justiça Federal - CNRM: Conselho Nacional de Residência Médica - CP: Código Penal - CPP: Código de Processo Penal - CRM: Conselho Regional de Medicina - IAP’s: Institutos de Aposentadorias e de Pensões - IML: Instituto Médico-Legal - Inamps: Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social - Inep: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Texeira - SVO: Sistema de Verificação de Óbito - RQE: Registro de Qualificação de Especialista - TJ: Tribunal de Justiça Página � de �1 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 Aula 01: A Medicina e o Direito - Introdução • Medicina Legal - Foi criada com o intuito de auxiliar a prática jurídica, no que tange a Polícia Judiciária - Seguindo o método hipocrático, a Ética Médica seria praticada de forma subjetiva, seguindo apenas a consciência de quem a pratica • Deontologia Médica - Atividade do Médico regulada por leis - Conjunto de regras e princípios sobre os deveres e obrigações dos Médicos • Diceologia Médica - Garantias e prerrogativas do Médico - Conjunto de regras e princípios sobre os direitos e garantias dos Médicos • Função: Solucionar de forma coerente, clara e uniforme os grandes conflitos - E.g. Reprodução assistida; Uso de órgãos e tecidos; Políticas antinatalistas; Cirurgia estética; Pesquisas; Possibilidade de não prolongar a vida - O Pensamento Hipocrático • Base fundamental: Afastar a Medicina das interpretações teológicas e fantasiosas, fazendo com que o diagnóstico perca seu caráter divino e passe a ser um processo lógico de observação de sinais e de sintomas. A Medicina se volta ao doente, não aos deuses. • Livros de Hipócrates - Epidemus —> Desenrolar das doenças - Ares, Água e Lugares —> 1º. tratado de saúde pública - Histórias Clínicas —> Exame minucioso - Prognóstico —> Alteração de pulso e Temperatura corporal - Aforismos, Regime das Doenças Agudas, Articulações e Fraturas, Feridas na Cabeça, Medicina Antiga, entre outros • Entre todos esses textos, poucos são citados atualmente, o que leva à conclusão de que o maior legado deixado por Hipócrates foi a Ética, expressa em seu juramento, ainda hoje reafirmado por Médicos formandos, trazendo os pilares da Ética Médica: - Gratidão e construção de família intelectual com os Mestres Página � de �2 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 - Rigorosa moralidade profissional - Respeito ao Segredo Médico - Princípio da Beneficência - Medicina como ciência da natureza e arte da observação - Velha Ética Médica (Hipocrática) • “Conservarei puras minha vida e minha arte” = Base na virtude e na prudência • Desta fo rma, a É t ica se r ia praticada de forma subjetiva, a d e p e n d e r d a v i r t u d e e d a prudência do Médico, isto é, de sua consciência - Nova Ética Médica • B a s e n a s u p e r e s t r u t u r a (moralidade externa e anseios sociais), através da Deontologia aplicada dentro de um espaço socialmente delimitado • Distantes os anseios sociais da velha ética, surge a Diceologia (Aos poucos a teoria das virtudes é substituída pela teoria dos princípios) —> A partir deste momento, como a Ética se liga ao Direito, este se liga à Medicina, levando-se a se falar de um Direito Médico , cujo documento legal mais representativo é o Código de Ética Médica 1 - Código de Ética Médica (CEM) • A evolução da Ética Médica se dá através de 5 modelos de Medicina que vão surgindo com o tempo: - Paternalista (1945): o Médico dita tudo, como um “pai”, sendo o único titular do tratamento; o paciente é, portanto, apenas ator passivo do processo de cuidado, estando submisso ao que é dito pelo profissional - Humanitarista (1953): o paciente dita tudo, sendo agora ator ativo único do processo de cuidado, já sendo possível perceber que o compromete - Paternalista-humanitário (1965): uma tentativa de juntar os prévios modelos - Autoritarista (1984): o poder do processo de cuidado é dado ao Estado, ocorrendo em tempos de regime militar - Humanista-solidário (1988 e 2009): há uma cooperação mútua entre médico e paciente, buscando a otimização do processo de cuidado, respeitando-se o saber técnico do profissional e as individualidades do paciente “O Código de Ética Médica é um instrumento fundamental na regulação das relações do médico com a sociedade, e em particular com o paciente, não um emblema corporativo” - Direitos do Paciente Neste ponto, fica como sugestão a leitura dos livros de Genival Veloso de França: 1 Medicinal Legal (1977), Direito Médico (1975) e Fundamentos de Medicina Legal (2005) Página � de �3 33 vs. Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 • Informação detalhada e completa sobre o problema, para a tomar decisões • Recusar tratamento dentro do limite da lei • Obter outra opinião (i.e. consultar outro Médico) • Discrição absoluta e sigilo 2 - Prontuário Médico • Todo o acervo documental padronizado, organizado e conciso, referente ao registro dos cuidados médicos prestados, assim como os documentos relacionados a essa assistência (e.g. exames complementares) • Pertence exclusivamente ao paciente, tendo o Médico e a instituição (Hospital) o direito de guarda • Não se pode liberar cópia a ninguém, a não ser o próprio paciente ou seu representante legal, incluindo-se na negativa de liberação os parentes do paciente no post-mortem (previsto pelo parecer nº. 6/2010 do Conselho Federal de Medicina) - Consentimento do paciente • Com o fim da Medicina paternalista, isto é, a teoria das virtudes, a Medicina do Código de Ética Médica prezará pela teoria dos princípios, quais sejam: - Princípio da Autonomia: consentimento livre e esclarecido 3 - Princípio da Temporalidade: consentimento continuado - Princípio da Revogabilidade: consentimento mutável - Princípio da não Maleficência: o paciente permitir o ato não se justifica, caso contrário às normas éticas ou jurídicas 4 - Princípio da Beneficência: o ato imperioso e inadiável diante de um iminente perigo de vida pode ser praticado sem o consentimento 5 O Sigilo Médico será melhor e especificamente tratado na Aula 042 O consentimento substituto poder-se-á aplicar no caso das Diretivas Antecipadas de 3 Vontade ou Testamento Vital, que será melhor e especificamente tratado na Aula 12 A quebra de uma norma ética pode ser punida pelos Conselhos Federal ou Regional de 4 Medicina, sendo configurada uma infração apenas no âmbito profissional e tendo advertências ou até cassação de diplomas (punições administrativas). Enquanto isso, os atos contrários às normas jurídicas concernem ao Direito Penal, ligado à responsabilidade penal do Médico, possivelmente gerando punições jurídicas de multa ou reclusão. O Princípio da Benevolência justifica o Tratamento Arbitrário, que será melhor e 5 especificamentetratado na Aula 06 Página � de �4 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 Aula 02: Exercício Legal e Exercício Ilegal da Medicina - Conceitos Iniciais • Profissão Legalizada: “[…] é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer” . 6 Sendo assim, não havendo objeto ilícito, qualquer ofício é automaticamente legalizado • Profissão Regulamentada: necessária legislação própria, ou seja, requisitos a serem obrigatoriamente seguidos, quais sejam: a) Exigir conhecimentos teórico-práticos b) Exercida após curso reconhecido pelo MEC c) A possibilidade de dano social, caso não regulamentada d) Não propor reserva de mercado em detrimento de profissão existente e) Garantia de fiscalização do exercício f) Estabelecidas suas Deontologia e Diceologia g) Regulamentação considerada de interesse social - Exercício Legal da Medicina • Regulamentada pela Lei do Ato Médico (nº. 12.842/2013): “Art. 2. O objeto de atuação do Médico é a saúde do ser humano e das coletividades humanas, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo, com o melhor de sua capacidade profissional e sem discriminação de qualquer natureza” • Podem exercer a Medicina 1. Possuidores de habilitação legal e profissional (diploma reconhecido) 2. Médicos estrangeiros, após REVALIDA (Inep) 3. “Português equiparado” (Decreto 70.391/72): países lusófonos 4. Professores universitários BOL e CHI (Tratado de Santiago): recíproco • Conselhos de Medicina (Lei nº. 3.286/57): autarquia com personalidade jurídica de direito público, disciplinadores e julgadores da classe médica, estando os Médicos podendo apenas exercer legalmente a Medicina após registro de seus títulos, diplomas, certificados ou cartas do MEC no CRM de jurisdição de sua atividade. Desta forma, em cada Estado que exercer a Medicina, o Médico deverá estar registrado, estando limitado a apenas 2 registros concomitantes • Médico estrangeiro: deve submeter-se ao REVALIDA, que possui uma etapa teórica e outra prática de conhecimentos clínicos. Mesmo possuindo documento para exercício de atividades remuneradas, apenas se pode exercer Constituição Federal, art. 5, inciso XIII6 Página � de �5 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 a Medicina após o exame (Lei nº. 6.815/80). Os asilados deverão passar pelo mesmo processo, mas terão facilitado seu registro no CRM (CFM 1.244/87) • Programa Mais Médicos: o intercambista exercerá a ensino, pesquisa e extensão apenas no Programa, dispensado por 3 anos da revalidação (Lei nº. 12.871/2013). Este prazo de dispensa foi prorrogado por 3 anos (Lei 13.333/16) • Exame de Qualificação: a mesma Lei nº. 12.871/2013 previu a criação da Avaliação Nacional Seriada dos Estudantes de Medicina (Anasem), instituindo avaliações a cada 2 anos pelo Inep, como componente curricular obrigatório inserido no Histórico Escolar do estudante, sendo condição para diplomação. Poderá também constituir modalidade única ou complementar aos processos de Residência Médica • Médico deficiente: havendo restrições à habilitação profissional, estas devem estar explícitas no diploma; não havendo, o Médico é inscrito sem restrições - Exercício Ilegal da Medicina • CP art. 282 - “Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de Médico, Dentista ou Farmacêutico, sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites: - Pena: Detenção de 6 meses a 2 anos - Parágrafo único: Se o crime é praticado com fim de lucro, aplica-se também multa” - Ressalva: Exercer pressupõe algo corriqueiro, não eventual • Basta o perigo de dano, para configurar crime (e.g. Pessoa apenas estar no hospital vestido como Médico e se anunciar como tal, não havendo necessidade de ter realizado qualquer ato) • O Médico pode ser enquadrado por assumir responsabilidade de tratamento por terceiro não qualificado (e.g. estudante de Medicina), por atestar graciosamente (falso atestado) ou por manipular medicamentos (reserva de mercado do Farmacêutico) • Lei do Ato Médico art. 4, § 5º., VI: excetua-se do das atividades privativas do Médico o atendimento à pessoa sob risco de morte iminente, i.e. qualquer um pode prestar primeiros socorros ou ajuda a alguém em risco iminente de vida • Charlatanismo: CP art. 283 - “Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível —> 3 meses a 1 ano, e multa”. Praticado por Médico como crime de perigo abstrato. Cabe ao CFM decidir sobre tratamentos experimentais (Lei do Ato Médico art. 7) • Curandeirismo: CP art. 284 - “Exercer o curandeirismo: I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância; II - usando gestos, palavras ou qualquer meio; III - fazendo diagnósticos”. Não é Exercício Ilegal da Medicina, pois não se faz passar por Médico e requer habitualidade • Interdição cautelar (CFM 1.987/2012): CRM ou CFM pode interditar o Médico que esteja prejudicando gravemente a população, ou na iminência de fazê-lo Página � de �6 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 Aula 03: O Médico e o Mercado - Sindicalismo Médico • Defender interesses econômicos e políticos da classe Médica, sendo permitido, mas não obrigatório • A contribuição sindical era obrigatória, mas passou a ser facultativa após a Reforma Trabalhista do Governo Temer • Exceção: Médico militar, proibido de se sindicalizar - Medicina-Empresa • Sociedade simples: Os sócios trabalham diretamente na prestação de serviços, sem maiores complexidades. O registro necessário é apenas o CRM dos sócios • Sociedade empresária: Registro necessário em Junta Comercial como Pessoa Jurídica, havendo maior complexidade. Pessoas além dos sócios ofertam serviços. A grande vantagem é a menor tributação • Requisitos para estabelecimento de relação de emprego (vínculo empregatício): - Subordinação: Obedecem-se ordens diretas - Habitualidade: Dias fixos do mês ou da semana para realização dos serviços, não havendo número mínimo de dias 7 - Onerosidade: Há pagamento pelos serviços prestados, o que exclui o vínculo empregatício em ofícios voluntários - Pessoalidade: O prestador de serviços é o único que pode exercer aquela função, não podendo elencar ou delegar a terceiro a prestação - Pessoa Física: O prestador de serviços é uma pessoa física; No caso de pessoa jurídica, pode-se lavrar um contrato com a empresa prestadora - Especialismo Médico • Há uma tendência de superespecialização dos Médicos, fator que nem 8 sempre é absorvido pelo mercado competitivo hodierno, fazendo com que especialistas atuem como generalistas. Dessa forma, é importante que não se perca a visão geral, ampla da Medicina e do paciente Essa ressalva se mostra válida, pois o senso comum leva-nos a crer que há a 7 necessidade de 3 dias por semana para se estabelecer vínculo. Entretanto, basta que se fixem dias e horários (mesmo que seja um único dia) para se configurar a relação Pode-se associar essa tendência ao Relatório Flexner (1910), que induziu a fragmentação 8 do corpo para o processo de cuidado Página � de �7 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 • É vedado ao Médico anunciar qualquer título científico que não possa comprovar. Esta comprovação é feita por registro no CRM, mediante apresentação de Certificado de Conclusão de Residência Médica credenciada no CNRM ou Título de Especialista concedida pela associação brasileira da respectiva especialidade • O Médico apenas poderá divulgação e anúncio de até duas especialidades e duas áreas de atuação, dentre 54 especialidades e 57 áreas reconhecidas pelo CFM (CFM/CME nº.2/2016) - Socialização da Medicina • A Medicina vem caminhando de um modelo liberal para um modelo social, induzindo um aumento da burocratização e da subordinação a gestores • Liberalismo: no século XIX, os profissionais atuavam livremente no mercado, ofertando seus serviços. A assistência de menos afortunados se dava nas Santas Casas daMisericórdia. No entanto, não havia qualquer modelo de gestão sanitária • Medicina de Fábrica: na República Velha, empresas, funcionários e consumidores custeavam as próprias Caixas de Aposentadoria e de Pensões (CAP’s), que custeavam cuidados médicos, gerando uma simbiose Medicina- Fábricas. (Hodiernamente, custeiam-se planos de saúde, não CAP’s próprios) • Medicina de Grupo: na Era Vargas, os CAP’s se substituem por Institutos de Aposentaria e Pensões (IAP’s), organizados agora por categorias profissionais (sindicatos). Instituiram-se, também, órgãos executivos, normativos e supletivos de assistência médico-hospitalar, fortalecendo-se o Instituto Oswaldo Cruz. Posteriormente, nos Governos Populistas (1945-1964), a Lei Orgânica da Previdência Social universalizou a previdência social, e o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) foi criado • Sistema Único de Saúde (SUS): a Constituição Federal prevê os princípios do SUS pelo art.198: Universalidade, Integralidade e Equidade; Descentralização, Regionalização, Hierarquização, Participação Comunitária, a Resolutividade e a Complementariedade com o Setor Privado. Dessa forma, o Médico pode atuar no setor público, no privado ou no de saúde suplementar (planos de assistência à saúde e apólices de seguro-saúde) - A Greve e a Ética: a greve é possível tanto pela CLT, quanto pelo CEM, devendo ser comunicada previamente ao CRM, ressalvam-se, entretanto, as situações de urgência e de emergência 9 Nesses casos, o não atendimento do paciente pelo Médico pode configurar Omissão de 9 Socorro, e este poderá responder criminalmente pelo ato negligente (Esse assunto será melhor e especificamente tratado na Aula 06) Página � de �8 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 - Auditoria Médica • Consequência da burocratização, objetiva o melhor rendimento dos serviços e o apoio pedagógico dos profissionais, não podendo interferir na autonomia técnica ou científica do Médico • Não se justifica por mero barateamento de custos, mas o Médico auditor deve intervir em casos de encarecimento desnecessário, bem como denunciar quaisquer ilegalidades, estando sujeito a responder criminalmente, caso não o faça - Direito de Internar e Atender: o Médico possui o direito de internar e assistir seus pacientes em hospitais privados ou públicos, ainda que não trabalhe neles, respeitadas as normas técnicas e jurídicas do CRM em jurisdição - Relação de Consumo: Na prestação de serviços, o Médico se configura como Fornecedor, e o paciente, como Consumidor, implicando que a relação médico- paciente é uma relação de consumo, regida pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC), que dispões em seu art. 14 que o fornecedor (Médico) responde pela reparação de danos causados aos consumidores, mediante a verificação de culpa , no caso de profissionais liberais (§4º.) 10 - Relação com Crianças e Adolescentes: o Médico deverá comunicar quaisquer casos suspeita ou confirmação de tratamento cruel ou degradante e de maus- tratos ao Conselho Tutelar local, estando sujeito a multa de três a vinte salários de referência, caso não o faça (CP art. 245) - Cooperativismo: Cooperativa é uma organização de membros de mesmo grupo social ou econômico com identidade de propósitos e interesses, que realizarão uma ação conjunta, voluntária e objetiva para a coordenação de contribuição e de serviços, visando um resultado útil e comum. Há cooperativas para especialidades específicas e amplas, como a Unimed - Managed Care: modelo de Medicina de convênio ou pré-paga, passando sempre primeiro por um generalista, referenciará tratamentos, procedimentos clínicos ou cirúrgicos ou consultas com especialistas, diminuindo os custos dos serviços Aqui cabe ressaltar que o Médico não promete qualquer certeza sobre a cura após o 10 tratamento ministrado; entretanto, está obrigado a dar ao paciente as informações suficientes e adequadas sobre o tratamento e agir através de conduta justa e adequada Página � de �9 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 - Medicina baseada em evidências: processo de sempre utilizar resultados de investigação (artigos, livros consagrados) para usar como base às decisões clínicas. Deve-se ressaltar o cuidado para não sacralizar tais conceitos, devendo- se unir a base científica e o ensino continuado à contribuição das experiências pessoais. - Medicina Preditiva: capacidade de predizer predisposições genéticas a determinadas doenças, as quais vêm sendo investigadas em clínicas por sequenciamento genético das células do cordão umbilical enviado ao estabelecimento. Dessa forma, permitir-se-á o tratamento antecipado, mas tem seus aspectos negativos no que tange a descoberta de informações da vida privada das pessoas, podendo ocasionar discriminação - Saúde e Liberdade: o fim do paternalismo induziu um aumento das liberdades individuais dos sujeitos, entretanto se deve notabilizar que elas apenas existirão no caso de também serem conferidas ao Médico, que deve poder exercer sua profissão com total autonomia técnica e científica - Conclusão: Medicina Política “No plano individual, o médico brasileiro sempre teve uma relativa atuação, sobrevivendo através de heróis solitários e mártires anônimos. No plano coletivo, ele se omite de uma participação política, optando pela neutralidade e pela acomodação. A saúde, como fenômeno social, exige uma intervenção política. O Médico não pode permanecer agindo apenas na periferia das doenças. Tem de reduzir seu poder sobre o indivíduo e ampliar sua capacidade de intervenção no meio. Há uma necessidade imediata de o médico iniciar um processo de consciência crítica e não perder seu direito de decisão na política de saúde.” (Prof. Genival Veloso de França) Página � de �10 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 Aula 04: Segredo Médico - Introdução “O que, no exercício ou fora do exercício e no comércio da vida, eu vir ou ouvir, que não seja necessário revelar, conservarei como segredo.” (Juramento de Hipócrates) - Escolas Doutrinárias • Escola Absolutista: o segredo deve ser preservado em qualquer situação • Escola Abolicionista: o segredo médico é uma farsa, portanto, deve ser abolido • Escola Intermediária: o segredo é relativo, i.e., em regra, deve ser preservado, mas pode, em alguns casos, ser quebrado - Aspectos Legais • CP art. 154: revelar, sem justa causa, segredo em função de ofício gera imputação legal —> detenção de 3 meses a 1 ano, ou multa • CEM XI: “O médico guardará sigilo a respeito das informações de que detenha conhecimento no desempenho de suas funções, com exceção dos casos previstos em lei.” • CEM art. 73: vedado ao Médico revelar informação que conheça devido à profissão, salvo por motivo justo, dever legal ou consentimento escrito. Permanece a proibição a) havendo conhecimento público ou post-mortem; b) quando o Médico é testemunha (devendo declarar seu impedimento à autoridade judicial); c) quando há investigação de suspeita de crime, implicando que não deve expor o paciente a processo penal • Definição de segredo: 1. Existência de segredo: fato conhecido por número limitado de pessoas interessadas em sua inviolabilidade 2. Conhecimento em razão de ofício: o Médico o sabe durante a prática do ato médico 3. Ausência de justa causa, possibilidade de dano (estado de necessidade) e presença de dolo (intenção) • Definições adjacentes: 1. Justa causa: estado de necessidade (prática para salvar de perigo atual, cujo sacrifício não era razoável de se exigir) ou de legítima defesa (prática para defender-se de injusta acusação ) 11 No caso de o Médico sofre um processo legal de suposto erro médico, ele poderá violar 11 o segredo médico, mas devendo ter a cautela de solicitar que o processo corra em segredo de justiça Página � de �11 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 2. Dever legal: revelação em obediência à Lei 123. Autorização do paciente: revelação por autorização do paciente ou de seu representante legal 13 • CPP art. 207: proibição de depor informações colhidas em ofício, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, desejarem dar seu testemunho • CP art. 269: deixar de denunciar à Autoridade pública doenças de notificação compulsória 14 • Lei das Contravenções Penais art. 66: dever de denunciar crime de ação pública, sem expor o cliente a procedimento criminal, i.e. apenas se deve revelar prejuízo causado por terceiros ao paciente • Lei de Acidentes de Trabalho art. 15: sempre que solicitado, deverá fornecer ao acidentado do trabalho atestado declarando natureza do mal verificado, causa, evolução e incapacidade resultante até 72 horas após início do tratamento; ao suspender o tratamento, deve emitir outro atestado, mencionando pormenorizadamente seu estado, inclusive sua capacidade laborativa. Caso seja indicado pelo empregador, a este o Médico deve fazer entrega de segunda via dos atestados referidos • CEM art. 74: Sigilo se mantém, quando o paciente é menor, salvo se a não revelação possa acarretar dano ao paciente • CEM art. 75: Vedada referência identificável, seja em anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos médicos 15 • CEM art. 76: Vedado revelar informações confidenciais do trabalhador ao empregador, a não ser que haja risco à saúde dos empregados ou da comunidade • CEM art. 77: Vedado revelar a empresas seguradoras qualquer informação sobre a morte além das apresentadas em atestado de óbito • CEM art. 78: Vedado deixar de orientar auxiliares e alunos sobre o segredo • CEM art. 79: “Deixar de guardar o sigilo profissional na cobrança de honorários por meio judicial ou extrajudicial.” Vale lembrar aqui do tópico de Relação com Crianças e Adolescentes (Aula 03), mas 12 também incluir a possibilidade de ordem judicial Vale lembrar aqui que a autorização deve estar por escrito e que o representante legal 13 pode ser definido por Diretiva Antecipada de Vontade (Aula 12) Definidas em lista pela Portaria do Ministério da Saúde nº. 1.271, de 6 de junho de 201414 Em artigos científicos, além da autorização do paciente por escrito para a utilização, 15 devem-se usar tarjas escuras digitais, de forma a impedir a identificação Página � de �12 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 - Conflitos e Limites • Prontuário Médico: pertence exclusivamente ao paciente, tendo o médico e a instituição o direito de guarda, apenas liberando a ele ou a seu representante • Óbito (CFM Parecer nº. 6/10): “O direito ao sigilo, garantido por lei ao paciente vivo, tem efeitos projetados para além da morte”. Dessa forma, não pode ser liberado a quem quer que seja, mesmo que seja um parente, pois “o parentesco, por si só, não configura a ‘justa causa’ a que se refere o artigo 102 do Código de Ética Médica” • Tempo de guarda de prontuários: caso seja físico, deve ser guardado por 20 anos no caso geral ou 18 anos no caso de hospitais-maternidade; caso seja digital, o registro deve ser permanente • Acesso à informação por empresas: o sigilo será mantido, salvo em expressa previsão legal. No caso de seguros e planos de saúde, as informações para requisição de exames e de procedimentos podem ser prestadas, mas exclusivamente para outros Médicos que analisarão a matéria - Situações especiais • Causa própria: Médico pode utilizar informações em legítima defesa, mas deve solicitar trâmite em segredo de justiça • Estudantes de Medicina: mesmo dever de segredo • Revelação ao Paciente: revelar seu estado ao próprio paciente não configura quebra de sigilo • Esposas de médico: Médico deve manter segredo para com todos • Segredo post mortem: salvo justo motivo, o segredo deve ser mantido • Requisição de prontuários: posse apenas do paciente e ao Médico cabe apenas o dever de guarda • Perícia Médica: juntas médicas oficiais devem fornecer os dados por dever legal • Revelação de crime: crimes de ação pública incondicionada prat. por terceiros • Autoridade sanitária: dever legal • Informática médica: todos os envolvidos têm o dever de sigilo e de fiscalização • Boletim médico e imprensa: dever de informação sucinta, sóbria e objetiva • Cobrança judicial de honorários: não se deve revelar detalhes do diagnóstico • Segredo compartido: havendo vários interessados, todos devem autorizar • Atestado Médico: não deve constar diagnóstico, salvo justa causa, dever legal ou autorização expressa do paciente Página � de �13 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 Aula 05: Honorários, Publicidade e Publicações Médicas - Honorários • CC art. 594: Todo trabalho lícito, material ou imaterial, pode ser contratado retribuição • CC art. 596: Não havendo acordo prévio, arbitra-se consuetudinariamente o valor da remuneração 16 • CEM art. 58: Vedado o exercício mercantilista da Medicina (conceito amplo) • CEM art. 64: Vedado agenciar, aliciar ou desviar o paciente do SUS para clínica particular ou dele utilizar-se para a execução de procedimentos em clínica privada, visando vantagens pessoais • Preços vis ou extorsivos: não há definição, mas extorsão é deduzida de outras vedações, e vis são os preços menores que os dos convênios • CEM art. 65: Vedado cobrar honorários de paciente do SUS (infração civil, administrativa e criminal) • CEM art. 66: Vedada dupla cobrança. A complementação em serviço privado pode ser cobrada, se em contrato (Pacientes conveniados podem pagar a diferença dos serviços diferenciados que desejarem, em relação ao tratamento que seria pago pelo plano de saúde) • Cobrança de atestados: ato complementar ao exame, não podendo ser cobrado em separado, inclusive de óbito (IML e SVO) • Exames periciais: o pagamento é feito pelo poder público, não podendo o perito receber pagamento de qualquer das partes, salvo se estiver agindo como assistente técnico , não como perito. 17 • Cobrança de ato ilícito: a cobrança é feita à vítima, que, por sua vez, poderá acionar o agressor e ser indenizada pelas despesas médicas e hospitalares • Cobrança e êxito do serviço prestado: em regra, o serviço médico é uma obrigação de meio, não de resultado (CEM art. 62), sendo cobrado independente do resultado, inclusive em caso de óbito. Põem-se como ressalvas os procedimentos estéticos de cirurgiões plásticos, por exemplo, cuja obrigação de resultado pode ser questionada • CEM art. 61: vedado ao médico “deixar de ajustar previamente o custo estimado dos procedimentos” • CEM art. 70: vedado deixar de apresentar separadamente seus honorários, quando outros profissionais participarem dos serviços • CEM art. 63: vedado explorar outro Médico, quando em situação de poder CEM art. 6116 Profissional contratado por uma ou por ambas as partes para fornecer uma opinião 17 técnica sobre determinado objeto processual Página � de �14 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 • Contrato de prestação de serviços médicos - Deve possuir: a) Capacidade das partes; b) Vontade espontânea; e c) Objeto lícito - Recomendação: a inclusão de duas testemunhas torna o contrato um Título Executivo Extrajudicial - A pretensão (possibilidade de cobrar) pelos honorários prescreve em 5 anos • CEM art. 59: Vedado oferecer ou aceitar vantagens por paciente encaminhado • CEM art. 68: Vedado exercer profissão com interação ou dependência de farmácia, indústria, óptica ou qualquer organização de produtos de prescrição médica • CEM art. 69: Vedado exercer simultaneamente Medicina e Farmácia ou obter vantagem pelo encaminhamento de procedimentos ou produtos, cuja compra decorra de influência direta do ato médico • CEM art. 71: Vedado oferecer seus serviços como prêmio • CEM art. 72: “Vedado estabelecer vínculo de qualquer natureza com empresas que anunciam ou comercializam planos de financiamento, cartões de descontos ou consórcios para procedimentos médicos.” • CEM art. 73: Vedado deixarde manter a integralidade do pagamento e permitir descontos ou retenção de honorários - Publicidade Médica (Vedações) • CEM art. 111: Permitir que sua participação na mídia não seja apenas de esclarecimento e de educação da sociedade • CEM art. 112: Divulgação sensacionalista, promocional ou inverídica de assunto médico • CEM art. 113: Divulgar, fora do meio científico, tratamento não reconhecido • CEM art. 114: Consultar, diagnosticar ou prescrever em meios de comunicação de massa • CEM art. 115: Anunciar títulos que não pode comprovar • CEM art. 116: Participar de anúncios comerciais, valendo-se da profissão • CEM art. 117: Apresentar como originais ideias que não o sejam • CEM art. 118: Deixar de incluir CRM e RQE em anúncio • Anúncio de mais de duas especialidades e/ou duas áreas de atuação, dentre as 54 especialidades e 57 áreas de atuação reconhecidas pelo CFM (CFM/ CME nº. 2/2016) Página � de �15 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 - Publicações e Entrevistas • Resolução CFM 1974/2011: “Por ocasião das entrevistas, comunicações, publicações de artigos e informações ao público, o Médico deve evitar sua autopromoção e sensacionalismo, preservando, sempre, o decoro da profissão.” • Autopromoção: a) angariar clientela; b) concorrência desleal; c) pleitear exclusividade; d) auferir lucros; e) permitir divulgação própria • Sensacionalismo: a) divulgação exagerada e fugindo de conceitos técnicos; b) divulgar métodos sem reconhecimento; c) adulterar estatísticas para benefício próprio; d) apresentação, em público, de técnicas e métodos restritos ao ambiente médico; e) veiculação de informações que causem intranquilidade, pânico ou medo à sociedade; f) uso abusivo de imagens e informações para prometer resultados - Redes Sociais • Resolução CFM 2.126/2015: Vedado publicar, nas mídias sociais, quaisquer imagens ou áudios que caracterizem sensacionalismo, autopromoção ou concorrência desleal, bem como de “antes e depois” de procedimentos - Telemedicina • CFM art. 37: Vedado prescrever tratamento ou procedimentos sem exame direto do paciente, salvo em urgência ou emergência e impossibilidade comprovada de fazê-lo, devendo ser feito logo que cessado o impedimento • Resolução CFM 1974/2011: Vedado “consultar, diagnosticar ou prescrever por meio de comunicação em massa ou a distância” 18 • Parecer Consulta CRM/PA nº. 12/2015: - Consulta por mídias sociais não configura ato médico completo - Se realizada anamnese e exame físico, o resultado de exames ou novas informações pode ser enviado por meio eletrônico - Como não se trata de ato médico completo, o Médico não pode receber orientações/prescrições, se o fizer Até esta parte, apenas se havia repetido o art. 114 do CEM18 Página � de �16 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 Aula 06: Tratamento Arbitrário e Omissão de Socorro - Tratamento Arbitrário • Definição: Ato médico sem consentimento do paciente ou contra sua vontade • Conflitos: - Paternalismo Médico vs. Autonomia do Paciente - Princípio da Beneficência vs. Princípio da Autonomia • Requisitos: Perigo iminente de vida e emergência, entendidos como uma situação concreta de êxito letal que exija uma atuação rápida, decisiva e inadiável, para evitar a morte • CP art. 146 § 3º. I: é uma exceção ao constrangimento do livre arbítrio, bem como o impedimento do suicídio • No instante de saída de perigo real, a autonomia do paciente deve ser recuperada • CEM art. 31: Vedado desrespeitar a vontade do paciente ou de seu representante legal, salvo em iminente risco de morte • CEM art. 32: Vedado “deixar de usar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento, cientificamente reconhecidos e a seu alcance, em favor do paciente” (Omissão de Socorro) - Transfusões de Sangue em Testemunhas de Jeová • Entra no conflito ético agora a liberdade religiosa 19 • Primeira conduta: buscar conciliar os interesses, ao desenvolver o tratamento, de forma a não sacrificar a vida ou os princípios religiosos do paciente • Não havendo possibilidade de tratamento que não sacrifique os princípios religiosos do paciente: - Paciente inconsciente ou civilmente incapaz: consenso de que o procedimento deve ser realizado, mesmo sem consentimento de responsável - Paciente consciente e lúcido: há quem defenda o direito de recusar tratamento pelo art. 5º. da CF, permitindo a não realização de procedimento; enquanto que há o entendimento de que tal direito deixa de existir, em caso de perigo iminente de morte, implicando no tratamento obrigatório • CJF Enunciado 403: o direito à inviolabilidade de crença se aplica à recusa de tratamento, com ou sem risco de morte, desde que hajam: a) capacidade civil CF art. 5º. , inciso VI: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo 19 assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;” Página � de �17 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 plena; b) manifestação de vontade livre, consciente e informada; e c) oposição que diga respeito à própria pessoa do declarante • TJ do RS, Apelação Cível nº. 70020868162: “o profissional de saúde tem o dever de, havendo iminente perigo de vida, empreender todas as diligências necessárias ao tratamento da paciente, independentemente do consentimento dela ou de seus familiares - Greve de Fome • Definição: ato de recusa de uma pessoa livre e consciente de alimentar-se, no deliberado propósito de protestar ou de reivindicar • Conduta médica: apenas efetuar cuidados paliativos aceitos pelo grevista • Tratamento arbitrário: apenas em risco iminente de vida - Contenção de Pacientes • Pacientes psiquiátricos (CFM nº. 2057/2013): admissível, desde que prescrita por Médico, registrada em prontuário e quando for o meio mais adequado de prevenção de dano • Paciente maior, capaz e consciente, sem risco de vida: o Médico fica desobrigado a proceder o tratamento e não será responsável, desde que anote todo o processo de esclarecimento e de tomada de decisão no prontuário, inclusive com a assinatura de envolvidos • Paciente maior, capaz e consciente, com risco de vida: Médico deve recusar alta e manter internação, mesmo contra vontade, podendo requisitar presença de autoridade policial e, em caso de evasão, deverá descrever detalhadamente no prontuário, havendo assinatura de duas testemunhas • Incapaz e consciente, com ou sem risco de vida: alta negada independente de risco de vida; insistindo os pais na alta, deve-se chamar o Conselho Tutelar. Exceção: solicitação de transferência a outra equipe médica, sem risco no transporte - Omissão de Socorro • CP art. 135: Deixar de prestar socorro assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal; ou, neste caso, não pedir socorro da Autoridade pública —> Pena de 1 a 6 meses, e multa (duplicada em omissão resultando lesão corporal grave e triplicada em caso de morte) • Elemento objetivo: Vontade livre e consciente de não prestar socorro Página � de �18 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 • E.g.: Alegação de folga, quando não há outro Médico; Recusar tratamento de paciente sem recursos para depósito prévio; alegação de não existência de convênio entre o Médico e o hospital • Plantões à distância: Omissão de Socorro, quando a especialidade do plantonista é essencial ao funcionamento da unidade de assistência, excetuando-se, portanto, os especialistas diagnóstico auxiliar/complementar de ocorrências fortuitas • Deixar de permanecer ou abandonar plantões, sem presença de substituto; Delegar a terceiro não médico atribuições restritas à atividade do profissional; e Deixar de atender em urgência/emergência, mesmo em greve de categoria - Conclusão “Por fim, importante ressaltar que há ligação direta entre o tratamento arbitrário e a omissão de socorro. Nas hipóteses legais de tratamento arbitrário, istoé, estando o Médico autorizado a, diante de iminente risco de vida, atuar independente da sua vontade, no sentido de salvar o paciente; no caso de não agir, irá incorrer em omissão de socorro.” (Prof. Me. Lourenço de Miranda) Página � de �19 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 Aula 07: Responsabilidade Civil - Introdução • CC Art. 186: Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrém, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito • CC. Art. 187: Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê- lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes • CC. Art. 927: Aquele que, por ato ilícito (Art. 186 e 187), causar dano a outrém, fica obrigado a repará-lo • Vale ressaltar que a infração de direitos da esfera civil implica em imposição de multas a se pagarem, no sentido de reparar o dano causado - Elementos • Conduta voluntária: Ato consciente e voluntário, comissivo ou omissivo, isto é, por ação ou por omissão; dessa forma, alguém que está sendo ameaçado por alguém não incorre em conduta voluntária • Dano: Efetiva violação a um interesse jurídico tutelado, patrimonial (material) ou extrapatrimonial (físico/corporal ou moral) • Nexo de causalidade: A relação ou vínculo existente entre a conduta do agente e o resultado danoso, isto é, o dano ocorreu como consequência da conduta; em uma cirurgia, o erro médico cometido pelo cirurgião não implica em vínculo de dano entre dano e anestesiologista • Responsabilidade objetiva (teoria do risco): bastam tais elementos formadores da responsabilidade civil • Responsabilidade subjetiva: deve existir culpa (caso do Médico) • CDC. Art. 14. § 4º.: “A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa” (Responsabilidade subjetiva), quando houver vínculo com uma empresa, será configurada a responsabilidade objetiva • Culpa lato sensu: - Dolo: violação deliberada, consciente, intencional, de um dever jurídico Página � de �20 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 - Culpa stricto sensu : dano não intencional, causado por negligência, 20 imprudência ou imperícia • Obrigação de Meio: Compromisso da utilização de todos os recursos d isponíve is para se ter um resultado, mas sem a obrigação de alcançar esse êxito • Obr igação de Resu l tado : A prestação do serviço tem um fim e, se não houver o resu l tado esperado, o agente assume o ônus por não satisfazer a obrigação que prometeu • A obrigação do Médico é, em regra, de meio, só sendo responsabilizado em caso de culpa (erro Médico), tendo-se como exceção a cirurgia plástica com meros fins estéticos, cuja obrigação de resultado é vinculada a sua responsabilidade. Além do cirurgião plástico, pode-se incluir o Anestesiologista em determinados casos, por ter dever de vigilância • Negligência: Caracteriza-se pela inação, indolência, inércia, passividade - E.g.: Abandono do doente; Omissão de tratamento; Permitir prática ilegal por estudantes de Medicina ou outros profissionais de saúde; Esquecer corpos estranhos em cirurgia; Prescrever com letra ilegível; Proceder diagnóstico sem recorrer a todos os meios ao seu alcance para investigar o mal; Cirurgia do local errado • Imprudência: Caracteriza-se pela ação sem cautela, intempestiva, precipitada, insensata, irreflexiva - E.g.: Cirurgião que deixa técnica conhecida e segura para utilizar outra experimental; Cirurgião que inicia a cirurgia sem o anestesiologista, aplicando a anestesia; Cirurgia em metade do tempo convencional; Cirurgia arriscada sem os equipamentos necessários ou sem garantia de vaga na UTI • Imperícia: Falta de conhecimento das normas, a deficiência de conhecimentos técnicos da profissão, o despreparo prático - E.g.: Médico que emprega meio de tratamento obsoleto ou atua em área para o qual não tem preparo; Cirurgião que ao colher fragmento para biópsia hepática perfura o fígado do enfermo; Médico obstetra que, na cesariana, corta a bexiga da paciente ou, no parto normal, manuseando fórceps provoca traumatismo cranioencefálico no neonato 21 O Prof. Genival Veloso crê que não haja esse tipo de culpa, implicando que sempre 20 haverá dolo; entretanto ele é minoria nesta posição, podendo ser analisado mais precisamente pelo Dr. Miguel de Fury Neto O Prof. Genival Veloso entende que o Médico habilitado profissional e legalmente não 21 pode ser considerado imperito. Tal posicionamento é isolado e não encontra respaldo na doutrina e na jurisprudência dominante Página � de �21 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 • Negligência x Imprudência x Imperícia - Imprudência: Enfrentar, prescindivelmente, um perigo; negligência: não cumprir um dever, um desempenho da conduta; imperícia: falta de habilidade para certos misteres. Ex.: Cirurgião que, por vaidade, redobra seus cuidados, mas que abandona técnica habitual e pratica intervenção experimental é imprudente. Seria negligente se não exigisse assepsia perfeita para o ato cirúrgico ou se finda a cirurgia abandonasse o paciente aos cuidados de pessoas sabidamente inaptas. Seria imperito caso se aventurasse em cirurgia sem dispor dos conhecimentos para tanto. - Danos • Dano patrimonial (material): Prejuízo pecuniário, compreendido em lucros cessantes, despesas médico-hospitalares, medicamentos, etc. • Dano extrapatrimonial - Moral: Dor sofrida, abalo interior, profundo mal estar advindo dos abalos causados - Físico: Prejuízo corporal, diante da degradação da integridade física ou estabelecimento de um estado patológico agravado ou crônico - Estético: A lesão à beleza física • Nexo de Causalidade: Na responsabilidade civil, é necessário se estabelecer se o dano médico é mesmo consequência da ação culposa do profissional, ou se é atribuível a causa diversa ou desconhecida - E.g.: Paciente falece após cirurgia devido a intensa hemorragia, sem que a cauterização fosse realizada em tempo hábil pelo cirurginao que estava em outro procedimento. Reconhecida a culpa do cirurgião, o anestesiologista não será responsabilizado, pois da sua conduta não adveio dano ao paciente • Liquidação do Dano Médico - Morte por erro médico • Funeral: Despesas com velório, féretro, transporte, aquisição de terreno em cemitério e lápide adequada • Luto: Danos decorrentes da ausência do ente querido, isto é, da privação do convívio do desaparecido no seio familiar • Pensão: 2/3 da renda do falecido, em prol da família, até a data limite em que o mesmo atingiria a idade correspondente à expectativa de vida média do brasileiro, ou quando os filhos atingem a maioridade (se não universitários), conduzem a faculdade, ou quando a viúva contrai novas núpcias Página � de �22 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 - Lesão por erro médico • Pensão Vitalícia: Em caso de invalidez total e permanente, em valor correspondente à renda do paciente, e em caso de invalidez parcial e permanente, em valor correspondente à depreciação ao trabalho sofrida • Lucros cessantes: Em caso de invalidez temporária, em valor correspondente ao que está deixando de receber financeiramente • Despesas médicas: Oriundas da necessidade de tratamento à lesão provocada, enquanto durar a necessidade • Dano moral e estético: Valores para compensar o tamanho do abalo emocional em si e também para compensar a imperfeição na beleza Página � de �23 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 Aula 08: Responsabilidade Civil (Erro Médico) - Infecção Hospitalar • O Risco de infecção é inerente ao ato cirúrgico, não existindo índice de infecção zero. Por melhor que seja a desinfecção, alguns germes persistem, e, quanto mais longa for a duração da cirurgia, maior o risco • Parar evitar a responsabilização, os Hospitais devem buscar manter altos índices de eficiência por partedas Comissões de Controle de Infecção Hospitalar • Lei nº. 9.431/97 (MS/GM nº. 2.616/98): determina a obrigatoriedade de manutenção de um programa de controle de infecções hospitalares, para exercer vigilância epidemiológica, para elaborar normas preventivas, para controlar o uso de antimicrobianos, para relatar casos de doenças de notificação compulsória e para inventariar os casos de infecção • Nas demandas indenizatórias originadas de infecção hospitalar, as vítimas argumentam que se submeteram a cirurgias limpas, tendo o processo infeccioso se instalado após a infecção. Com base no CDC, aplica-se aos hospitais a responsabilidade objetiva (independente da existência de culpa), sistema que acarreta a inversão do ônus da prova (o Hospital passa a ser obrigado a provar sua ausência de culpa, em vez de quem alegar dever provar) • O Médico não responde pelos danos decorrentes do pós-operatório, a que não deu causa, pois não é de culpa desse profissional, mas do hospital - Anestesiologista • A obrigação do anestesiologista tende a ser de resultado, pois ocorre o que se chama “dever de cuidado objetivo”. Há quem defenda que permanece a obrigação de meio, no entanto, aponta-se que a violação de conduta previsível objetivamente pressupõe atos positivos de imperícia, de negligência e de imprudência • CFM Res. 1.802/2006 art.1, II: O anestesiologista, “para conduzir as anestesias gerais ou regionais com segurança, deve […] manter vigilância permanente a seu paciente” • Surge, assim, o dever objetivo de cuidado, que já impede que o especialista participe de mais de uma cirurgia ao mesmo tempo; tangendo o conceito de culpa presumida, se o anestesista não mantiver a vigilância permanente • Principais erros cometidos - a) Erro de diagnóstico: avaliação equivocada de riscos e da resistência pós- operatória do paciente - b) Erros de terapêutica ou de conduta: negligência, deixar o paciente sem vigilância, podendo complicações ocorrerem no pré ou no pós-anestésico, bem como má conduta ao estresse cirúrgico-anestésico Página � de �24 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 - c) Erro de técnica: e.g. uso de anestésico local onde o paciente é hipersensível ou inadequado, ou oxigenação insuficiente • Elementos vedados observáveis do Anestesiologista - a) Risco da anestesia > Risco da operação - b) Sem consentimento - c) Sem testemunha - d) Sem exame prévio - e) Operação ilícita ou fraudulenta, e.g. aborto criminoso, esterilização vedada - f) Drogas entorpecentes, senão nas condições imperativas e precisas, para aliviar a dor - Cirurgião Plástico • Inicialmente, é necessário fazer uma distinção entre a natureza da cirurgia plástica estética, quando o paciente é saudável e quer apenas melhoras sua aparência, e a cirurgia plástica reparadora que corrige anomalias congênitas ou resultado de traumas • Cirurgia meramente estética: entende-se que a obrigação do Médico é de resultado, sob o argumento que a motivação para sua realização não tem a mesma relevância da intervenção para o salvamento de vidas ou para eliminar a dor. O profissional está empenhado em proporcionar-lhe o resultado almejado e, se não tiver condições de fazê-lo, não deve realizar a cirurgia, podendo ser responsabilizado por mal resultado • Cirurgia reparadora: o Médico tem a obrigação de meios e está subordinado, como qualquer outro, a responder pelos danos causados diante da prova de culpa, isto é, devendo utilizar-se de todos os meios necessários, considerando a situação, não sendo admitidos negligência, imperícia ou imprudência • Obviamente, a obrigação de resultado não é sinônimo de responsabilidade objetiva. Assim, mesmo diante de uma obrigação de resultado, existe a necessidade do elemento culpa, e o cirurgião pode demonstrar que o resultado danoso foi desencadeado por fatores imprescindíveis, isto é, que o médico não conhecia nem podia conhecer, mesmo agindo com diligência e acuidade. Outrossim, o resultado não foi atingido por sua culpa, mas por superveniência de causas que ele não poderia prever. O que ocorre é que o paciente não tem que provar que o médico tenha sido negligente, imprudente ou imperito; é dever do médico estabelecer a certeza de que não agiu com culpa, pois, se não o fizer, diante do resultado negativo, a culpa será presumida, ou seja, há a inversão do ônus da prova • Os críticos da adoção do conceito de obrigação de resultado para as cirurgias plásticas meramente estéticas se amparam na dificuldade em se definir o que seria “resultado embelezador” ou “melhora estética”, diante da subjetividade existente na definição do que é ou não belo. Por outro lado, a adoção de tal Página � de �25 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 teoria pelos Tribunais brasileiros tem levado apenas à punição de situações em que o resultado estético foi claramente negativo - Conclusão • A responsabilidade do médico, em regra, só ocorre se verificada a prova de sua culpa por negligência, por imprudência ou por imperícia, já que possui obrigação de meio, não assegurando a cura do enfermo. • Em parte dos casos, há o dever de resultado, como nos casos do anestesiologista e da cirurgia plástica meramente estética. • Por fim, a responsabilidade objetiva ocorre apenas para instituições fornecedoras de saúde, em casos como o das infecções hospitalares Página � de �26 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 Aula 09: Responsabilidade Administrativa - Introdução • As infrações pelos profissionais médicos poderão resultar em processos e punições em esferas distintas e independentes. Além da responsabilidade civil, com fins de condenação em indenizações, haverá as responsabilidades administrativa e penal. A responsabilidade administrativa ocorre no âmbito dos CRM’s e CFM e trata das infrações médico-hospitalares, por descumprimento das normas inerentes à profissão, em especial do Código de Ética Médica - Disposições Gerais do CEM • Competência de julgar: CRM que detém inscrição do Médico • Local onde não possui o Médico inscrição: instrução e sindicância realizadas no local de ocorrência do fato • Julgamento: pode ser desaforado (encaminhamento) por decisão fundamental da plenária, com remessa dos autos ao CFM. Em caso dos conselheiros, após instruído processo no CRM, deve ser remetido ao CFM, para evitar julgamento de pares próximos - Sindicância • Instauração: ex ofício ou denúncia por escrito ou tomada a termo, com identificação completa do denunciante (descarta-se, pois, denúncia anônima) • Sindicante: conselheiro redator de relatório contendo - I - identificação das partes; - II - descrição dos fatos e circunstâncias em que ocorreram; - III - correlação entre a conduta e a eventual infração ética; - IV - conclusão sobre a existência ou não de indícios de infração ética • Conciliação: depende de prévia aprovação dos sindicantes, proibindo-se acerto pecuniário (monetário) e no caso de lesão corporal ou óbito; havendo conciliação, não caberá recurso posterior • Interrupção: não ocorre até o fim da sindicância • Fim do Julgamento: - i. Arquivamento fundamentado da denúncia; - ii. Baixa diligência ou pedido de vista dos autos por 30 dias; - iii. Aprovação de TAC (Termo de Ajustamento de Conduta); - iv. Aprovação da proposta de conciliação - v. Instauração de Processo Ético-Profissional (PEP) - vi. Instauração de PEP com proposta de interdição cautelar Página � de �27 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 - vii. Instauração de procedimento administrativo para apurar doença incapacitante - Interdição Cautelar • Resolução CFM 1.987/2012: CRM ou CFM pode interditar o Médico que esteja prejudicando gravemente a população, ou na iminência de fazê-lo • Interditado: impedido de exercer atividades de Médico, até a conclusão do processo, sendo-lhe retida a carteira de registo profissional no CRM - Doença Incapacitante • Resolução 1.990/2012: Conselheirodesigna perícia médica, para avaliar exercício, cabendo interdição cautelar • Implicações: arquivamento, suspensão parcial ou total de exercício, bem como realização de exames periódicos - Instrução de PEP • Conselheiro instrutor: nomeado por Presidente do Conselho, não podendo ser o conselheiro sindicante • Após realizada, não pode ser arquivada por desistência das partes • Conselheiro instrutor promoverá citação para defesa prévia e arrolar testemunhas, … • Denunciado ausente: nomeação de Defensor Dativo pelo Conselheiro Instrutor ou pelo Presidente do Conselho, podendo ser cessada a revelia, mediante comparecimento espontâneo do denunciado • Abre-se prazo de 15 dias para apresentação de razões finais; primeiramente ao denunciante e, em seguida, ao denunciado, podendo ser feita de forma oral na própria audiência • Termo de Encerramento dos Trabalhos: feito pelo conselheiro instrutor • Julgamento: após receber processo, Presidente do Conselho designa conselheiros relator e revisor responsáveis pela elaboração • Sessão de julgamento: leitura do relatório elaborado pelo relator, sem manifestação de conclusão de mérito; reconhecimento de ofício de nulidades absolutas que devem ser imediatamente julgadas e discutidas; após relatório, partes sustentam oralmente por 10 minutos; Conselheiros podem solicitar esclarecimentos ao relator e ao revisor; Encerrados os esclarecimentos, 5 minutos para disposições finais, passasse para a realização de diligências • Diligências: Preliminares (prejuízo do processo por algum fato, que deve ser discutido), culpabilidade (conclusão de mérito), capitulação (disposição sobre a violação ou não de algum e de qual artigo do CEM) e apenação (qual pena resultará daquela conduta) Página � de �28 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 • Votação por chamada nominal dos conselheiros, iniciando por relator e revisor; posteriormente sendo anunciado o resultado pelo Presidente, sendo redigido o acórdão pelo conselheiro autor do voto vencedor • Julgamento ocorre a portas fechadas • Recurso: prazo máximo de 30 dias, I - às câmaras CFM após resolução do CRM; II - ao pleno do CRM após resolução das câmaras, por maioria; III - CFM após pleno do CRM, por unanimidade; IV - ao pleno do CFM após resolução por maioria das câmaras do CFM ou da cassação pelo CRM; V - ao pleno do CRM, ex officio das decisões de cassação do exercício profissional pelas câmaras do CRM • Efeito devolutivo e suspensivo: devolvem-se as informações para apreciação e suspende-se a pena • Princípio de Non Reformatio In Pejus: não pode gerar pena maior, no caso de recurso apenas do denunciado • Penas - a) Advertência confidencial - b) Censura confidencial em aviso reservado - c) Censura pública em aviso publicação - d) Suspensão de exercício por 30 dias - e) Cassação ad referendum pelo CFM do Exercício da Medicina - Impedimentos ou Suspeição de Conselheiros • I - Interesse direto ou indireto na matéria • II - Tenha atuado nos autos como perito, testemunha ou representante, ou advogado, ou cônjuge, companheiro ou parente até 4º. grau • III - Litigando, judicial ou administrativamente, com o interessado ou respectivo cônjuge ou companheiro • IV - … - Disposições Finais • Ato nulo apenas em caso de prejuízo Página � de �29 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 Aula 10: Responsabilidade Penal Página � de �30 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 Aula 11: Documentos Médicos - Atestado • Definição: instrumento que tem a finalidade de firmar a veracidade de certo fato ou a existência de determinado estado, ocorrência ou obrigação; documento destinado a reproduzir, com idoneidade, uma específica manifestação do pensamento • É diferente da declaração, pois tem fé de ofício, provando, reprovando ou comprovando aquilo que se está atestando; Na declaração, trata-se apenas de um testemunho • Na saúde, apenas o competente para firmar diagnóstico pode atestar, enquanto que os outros apenas podem declarar, dar uma comprovação de comparecimento • Componentes: declaração pura e simples, por escrito, de um fato médico e suas consequências, sintetizando, de forma objetiva e singela, o que resultou do exame feito em um paciente, sugerindo um estado de sanidade ou um estado mórbido; é um documento particular, sem compromisso prévio e independente de compromisso legal, fornecido por qualquer médico em exercício regular de sua profissão • CEM, X, Art. 80, 81 e 82: vedado ao Médico expedir documento sem ter praticado ato profissional que o justifique; atestar como forma de obter vantagens; usar formulários de instituições públicas para prescrever ou atestar fatos verificados na clínica privada • CEM X, Art. 86 e 91: vedado ao Médico deixar de fornecer laudo médico ao paciente ou ao seu representante legal, quando aquele for encaminhado ou transferido ou em caso de alta; ou deixar de atos executados no exercício profissional, quando solicitado pelo paciente • CFM 1.658/2002: o atestado é parte integrante do ato médico, não podendo ser cobrado, e devendo ser registrados dados dos exames e tratamentos, de maneira a atender a pesquisas de informações dos médicos peritos; deve especificar tempo de dispensa, estabelecer diagnóstico apenas quando autorizado, registrar os dados de maneira legível, identificar-se como emissor com assinatura e carimbo ou número do CRM; quando for solicitado para perícia médica, deve constar diagnóstico, resultado de exames complementares, conduta, prognóstico, consequências, provável tempo de repouso; deve-se exigir prova de identidade do paciente ou de seu representante legal; o diagnóstico pode vir codificado ou não, quando por justa causa, dever legal ou solicitação escrita; 6- apenas médicos e odontólogos no âmbito de sua profissão podem emitir atestado de afastamento Página � de �31 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 - Laudo Médico • Uma corrente acredita que apenas perito judicial ou junta médica oficial pode lavrar laudo médico • Outra corrente acredita que a diferença entre um atestado e um laudo é a complexidade, sendo aquele simples e objetivo, responsável por descrever aquele momento específico, e este um documento que explicita o passado da doença, o estado atual e as projeções de progressão • CEM X, Art. 86 e 91: vedado ao Médico deixar de fornecer laudo médico ao paciente ou ao seu representante legal, quando aquele for encaminhado ou transferido ou em caso de alta; ou deixar de atos executados no exercício profissional, quando solicitado pelo paciente • Definição: parecer escrito, expondo perícia, respondendo quesitos dos interessados e consignando o resultado de um exame pericial; é minucioso e bem elaborado, onde esteja realçada a descrição, fundamentada em elementos fisiopatológicos • No laudo, o Médico “afirma justificando, menciona interpretando, descreve valorizando e relata esmiuçando”, segundo o Prof. Genival Veloso de França • Estrutura: preâmbulo, quesitos, histórico, descrição, discussão, conclusão e resposta aos quesitos; devendo ser claro mesmo a leigos, procurando explicar os conceitos médicos emitidos, se houver possibilidade de não entendimento; deve haver descrição de todos os sinais e sintomas, resultados dos exames realizados, tratamento adotado, evolução apresentada e esperada pelo paciente - Receituário/Prescrição • Cabeçalho: impresso, inclui nome e endereço do profissional ou da instituição onde trabalha (clínica ou hospital), registro profissional e CPF ou CNPJ, podendo ainda conter a especialidade do profissional, desde que registrada em um CRM • Superinscrição: nome e endereço do paciente, idade, quando pertinente, sem a obrigatoriedade do símbolo R, que significa “receba”; por vezes, este último é omitido e no seu lugar se escreve “uso interno” ou “uso externo”, corresponde ao emprego de medicamentos por vias enterais ou parenterais • Inscrição:nome do fármaco, forma farmacêutica e sua concentração • Subinscrição: designa a quantidade total a ser fornecida; para fármacos de uso controlado, esta quantidade deve ser expressa em algarismos arábicos e escritos por extenso, entre parênteses • Adscrição: orientações do profissional para o paciente • Data, assinatura e número do CRM (ou carimbo) • Dados facultativos: peso, altura e dosagens específicas; verso para outras orientações gerais a se adicionarem, como possíveis efeitos adversos Página � de �32 33 Fábio Serra - UFPB - Medicina - 106 - 2017.1 • Letra legível: imprescindível, podendo-se optar pela forma impressa - CEM Art. 39.: “Vedado ao médico receitar ou atestar de forma secreta ou ilegível, assim como assinar em branco folhas de receituários, laudos, atestados ou quaisquer outros documentos médicos” - Prontuário Médico • Definição: acervo documental produzido acerca de determinado paciente, com todo o histórico de seu tratamento, prescrições e exames, feito de forma cronológica; feito no consultório ou hospital, o prontuário é composto de informações valiosas tanto para o paciente quanto para o próprio médico; seu objetivo é facilitar assistência ao paciente, sendo sua propriedade, apesar do termo “prontuário médico”, tendo este e a instituição apenas direito de guarda, devendo ser preservado o sigilo, inclusive post-mortem (CFM nº. 6/2010) • CEM X Art.85: vedado ao Médico permitir o manuseio e o conhecimento dos prontuários por pessoas não obrigadas ao sigilo profissional, quando sob sua responsabilidade • CEM X Art. 87: vedado deixar de apresentar prontuário legível • CEM X Art. 88: vedado negar acesso ao paciente, deixar de lhe fornecer cópia quando solicitada, bem como deixar de lhe dar explicações necessários à sua compreensão, salvo quando ocasionarem riscos ao paciente ou a terceiros • CEM X Art. 89: vedado liberar cópias sob sua guarda, salvo quando autorizado ou para atender a dever legal, podendo também se defender judicialmente, desde que tome o cuidado de pedir trâmite em segredo de justiça Página � de �33 33
Compartilhar