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Carboidratos são poli-hidroxialdeídos ou poli- hidroxicetonas, ou substâncias que geram esses compostos quando hidrolisadas. São moléculas complexas e muito hidratadas; variados em suas estruturas e funções, dentre elas podem ter funções estruturais, fontes de reserva energética, reconhecimento entre as células (glicocálice), etc. Muitos carboidratos tem a fórmula empírica (CH2O)n; alguns também contêm nitrogênio, fósforo ou enxofre. Existem 3 classes principais de carboidratos: Monossacarídeos: ou açúcares simples, constituem o tipo mais simples de carboidratos, sendo chamados de aldoses ou cetoses, segundo o grupo funcional que apresentam, aldeído ou cetona. São glicídios simples, não ramificados, não hidrolisáveis, hidrossolúveis e constituídos apenas por ligações simples entre carbonos. De acordo com seu número de átomos de carbono, podem ser designados: Trioses Tetroses Pentoses Hexoses Heptoses Oligossacarídeos são produtos da condensação de 2 a 10 monossacarídeos. A maior parte não é digerida pelas enzimas humanas. Os mais abundantes são os dissacarídeos (com 2 unidades de monossacarídeos), por exemplo, lactose, maltose, isomaltose, sacarose e trealose. Ps.: Em células, a maioria dos oligossacarídeos constituídos por três ou mais unidades não ocorre como moléculas livres, mas sim ligadas a moléculas que não são açúcares (lipídeos ou proteínas), formando glicoconjugados, que são carboidratos complexos. Polissacarídeos são produtos da condensação de mais de 10 unidades monossacarídicas; os exemplos são os amidos e as dextrinas, que podem ser polímeros lineares ou ramificados. Os polissacarídeos são, algumas vezes, classificados em hexosanos ou pentosanos, dependendo dos monossacarídeos constituintes (hexoses ou pentoses, respectivamente). Além dos amidos e das dextrinas (que são hexosanos), os alimentos contêm uma ampla variedade de outros polissacarídeos que são coletivamente conhecidos como polissacarídeos não amídicos; eles não são digeridos por enzimas humanas e são os principais componentes das fibras dietéticas. Exemplos são a celulose da parede celular dos vegetais (um polímero de glicose; e a inulina, um carboidrato de armazenamento em algumas plantas. A estrutura da glicose pode ser apresentada de 3 maneiras: A formula estrutural de cadeia aberta (aldo- hexose) pode contribuir para algumas propriedades da glicose. A estrutura cíclica (um hemiacetal formado pela reação entre o grupamento aldeído e um grupamento hidroxila) é favorecida do ponto de vista termodinâmico. A projeção de Haworth, na qual a molécula é visualizada lateralmente e acima do plano do anel; as ligações mais próximas ao observador estão em negrito e mais espessas, com agrupamento hidroxil acima ou abaixo do plano do anel. Os átomos de hidrogênio ligados a cada carbono não estão mostrados na figura. O anel na forma de cadeira. A glicose, com quatro átomos de carbono assimétrico, pode formar 16 isômeros. Os tipos mais importantes de isomerismos são os seguintes: 1. Isomerismos D e L: a designação de um isômero glicídico como a forma D ou de sua imagem espelhada como a forma L é determinada por sua relação espacial com o composto original dos carboidratos, o açúcar de três carbonos glicerose (gliceraldeído). . A orientação dos grupos —H e —OH ao redor do átomo de carbono adjacente ao carbono alcoólico terminal (carbono 5 na glicose) determina se o açúcar pertence à série d ou l. Quando o grupo —OH nesse carbono está à direita (como visto na Figura 15-2), o açúcar é o isômero d; quando ele está à esquerda, é o isômero l. A maioria dos monossacarídeos de ocorrência natural consiste em d-açúcares, e as enzimas responsáveis pelo seu metabolismo são específicas para essa configuração. 2. A presença de átomos de carbono assimétricos também confere atividade óptica ao composto. Quando um feixe de luz polarizada atravessa uma solução de um isômero óptico, ele gira para a direita, dextrorrotatório (+), ou para a esquerda, levorrotatório (-). A direção da rotação da luz polarizada independe da estereoquímica do açúcar, de modo que ele pode ser designado como D(-), D(+), L(-) ou L(+). Por exemplo, a forma de ocorrência natural da frutose é o isômero D (-). De forma confusa, o dextrorrotatório (+) já foi chamado de D-, e o levorrotatório (-), de L-. Essa nomenclatura é obsoleta, mas pode, às vezes, ser encontrada; ela não está relacionada ao isomerismo D- e L-. Em solução a glicose é dextrorrotatória, e as soluções de glicose são, por vezes, conhecidas como dextrose. 3. Estruturas anelares piranose e furanose: as estruturas anelares dos monossacarídeos são similares às estruturas anelares do pirano (um anel com seis componentes) ou do furano (um anel com cinco componentes) (Figuras 15-3 e 15- 4). Para a glicose em solução, mais de 99% estão na forma piranose. 4. Anômeros alfa e beta: a estrutura do anel de uma aldose é um hemiacetal, uma vez que ele é formado pela reação entre um aldeído e um grupamento álcool. De modo similar, a estrutura anelar de uma cetose é um hemicetal. A glicose cristalina é uma a-d-glicopiranose. A estrutura cíclica é mantida em solução, porém o isomerismo ocorre em torno da posição 1, a carbonila ou átomo de carbono anomérico, para gerar uma mistura de a-glicopiranose (38%) e b- glicopiranose (62%). Menos de 0,3% é representado por anômeros alfa e beta da glicofuranose. Nada mais é que um fenômeno de mutarrotação, onde o grupamento hidroxila (-OH) pode estar em baixo ou em cima, respectivamente. 5. Epímeros: os isômeros que diferem em consequência de variações na configuração do – OH e do –H nos átomos de carbono 2, 3 e 4 da glicose são conhecidos como epímeros. Biologicamente, os epímeros mais importantes da glicose são a manose (epimerizada no carbono 2) e a galactose (epimerizada no carbono 4). (Figura 15-5). 6. Isomerismo aldose-cetose: a frutose tem a mesma fórmula molecular da glicose, mas elas diferem quanto à existência de um potencial grupamento ceto na posição 2, o carbono anomérico da frutose, ao passo que, na glicose, há um grupo aldeído potencial na posição 1, o carbono anomérico. Exemplos de açúcares aldose e cetose estão mostrados nas Figuras 15-6 e 15-7. Do ponto de vista químico, as aldoses são compostos redutores, e são, às vezes, conhecidas como açúcares redutores. Isso é o princípio de um simples teste químico para detectar glicose na urina de pacientes com diabetes melito fracamente controlado, por meio da redução de uma solução de cobre alcalina Os derivados das trioses, das tetroses, das pentoses e do açúcar de sete carbonos sedo-heptulose são formados como intermediários metabólicos na glicólise e na via das pentoses-fosfato). As pentoses são importantes em nucleotídeos, em ácidos nucleicos e em diversas coenzimas (Tabela 15-2). Glicose, galactose, frutose e manose são, do ponto de vista fisiológico, as hexoses mais importantes (Tabela 15-3). As cetoses bioquimicamente importantes são mostradas na Figura 15-6, e as aldoses, na Figura 15-7. Além disso, os derivados de ácido carboxílico da glicose são importantes, incluindo o D-glucuronato (para a formação da glicuronídeo e nos glicosaminoglicanos) e seus derivados metabólicos, L- iduronato (um intermediário na via do ácido urônico). Os glicosídeos são formados pela condensação entre o grupo hidroxila do carbono anomérico (carbono que difere somente em sua configuração no carbono que continha o grupo carbonílico na cadeia aberta) de um monossacarídeo e um segundo composto, que pode ser outro monossacarídeo ou, no caso de uma aglicona, um composto não açúcar. Quando o segundo grupamento é um hidroxil, a ligação O-glicosídica é uma ligação acetal,uma vez que resulta de uma reação entre um agrupamento hemiacetal (formado a partir de um aldeído e um grupamento –OH) e outro grupamento –OH. Quando a porção hemiacetal é a glicose, o composto resultante é um glicosídeo; quando é a galactose, um galactosídeo; e assim por diante. Quando o segundo grupamento é uma amina, forma-se uma ligação N-glicosídica, por exemplo, entre a adenina e a ribose nos nucleotídeos, como o ATP. Os glicosídeos distribuem-se amplamente na natureza; a aglicona pode ser metanol, glicerol, esterol, fenol ou uma base, como a adenina. Os glicosídeos que são importantes na medicina devido à sua ação sobre o coração (glicosídeos cardíacos) contêm, sem exceção, esteroides, como a aglicona. Estes incluem os derivados digitálicos e estrofantos, como a ouabaína, um inibidor da Na+-K+- ATPase das membranas celulares. Outros glicosídeos incluem antibióticos, como a estreptomicina. Os desoxiaçúcares são aqueles em que um grupamento hidroxil foi substituído por hidrogênio. Um exemplo é a desoxirribose (Figura 15-9) no DNA. O desoxiaçúcar l- fucose ocorre nas glicoproteínas; a 2-desoxiglicose é utilizada experimentalmente como inibidor do metabolismo da glicose. São componentes das glicoproteínas, gangliosídeos e dos glicosaminoglicanos. Os aminoaçúcares incluem d- glicosamina, um constituinte do ácido hialurônico (Figura 15-10), a d-galactosamina (também conhecida como condrosamina), um constituinte da condroitina, e a d- manosamina. Diversos antibióticos (p. ex., eritromicina) contêm aminoaçúcares, os quais são importantes para a sua atividade metabólica. Os dissacarídeos são açúcares compostos por dois resíduos monossacarídicos ligados por uma ligação glicosídica (Figura15-11). Os dissacarídeos fisiologicamente importantes são a maltose, a sacarose e a lactose (Tabela 15-4). A hidrólise da sacarose fornece uma mistura de glicose e frutose chamada de “açúcar invertido”, visto que a frutose é fortemente levorrotatória e muda (inverte) a ação dextrorrotatória mais fraca da sacarose. Possuem funções estruturais e de armazenamento. Os polissacarídeos incluem vários carboidratos importantes fisiologicamente. O amido é um homopolímero de glicose, formando uma cadeia a-glicosídica, chamada de glicosano ou glicano. É o mais importante carboidrato na dieta, contido em cereais, batatas, legumes e em outros vegetais. Os dois constituintes principais são a amilose (13-20%), que possui estrutura helicoidal não ramificada, e a amilopectina (80-87%), que consiste em cadeias ramificadas com 24 a 30 resíduos de glicose com ligações a1 → 4 nas cadeias e ligações a1 → 6 nos pontos de ramificação (Figura 15-12). A extensão em que o amido nos alimentos é hidrolisado pela amilase é determinada por sua estrutura, pelo grau de cristalização ou hidratação (o resultado do cozimento) e pelo fato de ele estar (ou não) incluso em paredes de células vegetais intactas (e indigeríveis). O índice glicêmico de um alimento amiláceo é uma medida de sua digestibilidade, com base na extensão em que ele eleva a concentração sanguínea de glicose em comparação com uma quantidade equivalente de glicose ou de um alimento de referência como o pão branco ou o arroz cozido. O índice glicêmico varia de 1 (ou 100%) para os amidos que são prontamente hidrolisados no intestino delgado até 0 para aqueles que não sofrem hidrólise. O glicogênio é o polissacarídeo de armazenamento em animais e é, algumas vezes, chamado de amido animal. É uma estrutura mais altamente ramificada que a amilopectina, com cadeias de 12 a 15 resíduos de a-d- glicopiranose (na ligação a1 → 4 glicosídica) com ramificação por meio de ligações a1 → 6 glicosídicas. Os grânulos de glicogênio no músculo (partículas b) são esféricos e contêm até 60 mil resíduos de glicose; no fígado, existem grânulos semelhantes e também rosetas de grânulos de glicogênio que parecem ser partículas b agregadas. A inulina é um polissacarídeo de frutose (uma frutosana) encontrada em tubérculos e raízes de dálias, alcachofras e dentes-de-leão. Ela é prontamente solúvel em água e é utilizada para determinar a taxa de filtração glomerular, mas não é hidrolisada pelas enzimas intestinais, logo não possui valor nutricional. As dextrinas são intermediários na hidrólise do amido. A celulose é o principal constituinte das paredes das células vegetais. É insolúvel e consiste em unidades de b-d- glicopiranose ligadas por ligações beta1 → 4 para formar cadeias longas e retas fortalecidas por ligações de hidrogênio cruzadas. Os mamíferos carecem de qualquer enzima que hidrolise as ligações beta1 → 4; portanto, não conseguem digerir a celulose. É uma importante fonte de “massa” na dieta e é o principal componente das fibras da dieta. Os microrganismos no intestino dos ruminantes e de outros herbívoros podem hidrolisar a ligação e fermentar os produtos até ácidos graxos de cadeia curta como uma importante fonte de energia. Há algum metabolismo bacteriano da celulose no colo humano. A quitina é um polissacarídeo estrutural no exoesqueleto de crustáceos e insetos, assim como em cogumelos. Ela consiste em unidades de N-acetild- glicosamina unidas por ligações glicosídicas b1 → 4. A pectina ocorre em frutas; ela é um polímero de ácido galacturônico unido por ligações alfa1 → 4, com ramificações de galactose ou arabinose, e é parcialmente metilada (Figura 15-13). Os glicosaminoglicanos (mucopolissacarídeos) são carboidratos complexos que contêm aminoaçúcares e ácidos urônicos. Eles podem estar ligados a uma molécula de proteína para formar um proteoglicano. Os proteoglicanos fornecem a substância fundamental ou embalagem do tecido conectivo. Eles detêm grandes quantidades de água e ocupam espaço, acolchoando ou lubrificando outras estruturas devido ao grande número de grupamentos —OH e às cargas negativas na molécula, que, por meio de repulsão, mantêm afastadas as cadeias de carboidratos. Os exemplos são o ácido hialurônico, o sulfato de condroitina e a heparina (Figura 15-14). As glicoproteínas (também conhecidas como mucoproteínas) são proteínas contendo cadeias oligossacarídicas ramificadas ou não ramificadas (Tabela 15-5), incluindo fucose (Figura 15-15). Elas ocorrem nas membranas celulares e muitas proteínas são glicosiladas. Os ácidos siálicos são derivados N ou O-acil do ácido neuramínico (Figura 15-15). O ácido neuramínico é um glicídeo de nove carbonos derivado da manosamina (um epímero da glicosamina) e do piruvato. Os ácidos siálicos são constituintes tanto de glicoproteínas quanto de gangliosídeos. Aproximadamente 5% do peso das membranas celulares constituem a parte de carboidratos das glicoproteínas e glicolipídeos. A sua presença na superfície externa da membrana plasmática (o glicocálice) foi demonstrada com o emprego de lectinas vegetais, aglutininas proteicas que se ligam a resíduos glicosil específicos. Por exemplo, a concanavalina A liga- se aos resíduos a-glicosil e a-manosil. A glicoforina é uma glicoproteína importante integrante da membrana de hemácias humanas. Ela possui 130 resíduos de aminoácidos e atravessa a membrana lipídica, com regiões polipeptídicas para fora da membrana tanto da superfície externa quanto da interna (citoplasmática). As cadeias de carboidratos estão ligadas à porção aminoterminal na superfície externa. Os carboidratos também estão presentes na apoproteína B das lipoproteínas plasmáticas. Os carboidratos não podem ser absorvidos em suas formas naturais por meio da mucosa gastrointestinal e, por essa razão, são inúteis como nutrientes, sem digestão preliminar. Quase todos os carboidratos da dieta são grandes polissacarídeos ou dissacarídeos, que são combinações de monossacarídeos, ligados uns aos outros por condensação. Esse fenômenosignifica que um íon hidrogênio (H+) foi removido de um dos monossacarídeos, e um íon hidroxila (−OH) foi removido do outro. Os dois monossacarídeos se combinam, então, nos locais de remoção, e os íons hidrogênio e hidroxila se combinam para formar água (H2O). Quando os carboidratos são digeridos, esse processo é invertido, e os carboidratos são convertidos a monossacarídeos. Enzimas específicas nos sucos digestivos do trato gastrointestinal catalisam a reintrodução dos íons hidrogênio e hidroxila obtidos da água nos polissacarídeos e, assim, separam os monossacarídeos. Esse processo, denominado hidrólise, é o seguinte (no qual R -R é um dissacarídeo): Existem apenas 3 fontes principais de carboidratos na dieta humana normal. Sacarose, dissacarídeo popularmente conhecido como açúcar de cana; lactose, dissacarídeo encontrado no leite; amidos, grandes polissacarídeos presentes em quase todos os alimentos de origem não animal, particularmente nas batatas e nos diferentes tipos de grãos. Outros carboidratos ingeridos em menor quantidade são amilose, glicogênio, álcool, ácido lático, ácido pirúvico, pectinas, dextrinas e quantidades ainda menores de derivados de carboidratos da carne. A dieta contém ainda grande quantidade de celulose que é carboidrato. Entretanto, nenhuma enzima capaz de hidrolizar a celulosa é secretada no trato digestivo humano. Consequentemente, a celulose não pode ser considerada alimento para os seres humanos. Quando o alimento é mastigado, ele se mistura com a saliva, contendo a enzima digestiva ptialina uma alfa- amilase), secretada, em sua maior parte, pelas glândulas parótidas. Essa enzima hidrolisa o amido no dissacarídeo maltose e em outros pequenos polímeros de glicose, contendo três a nove moléculas. O alimento, porém, permanece na boca apenas por curto período de tempo, de modo que não mais do que 5% dos amidos terão sido hidrolisados, até a deglutição do alimento. Entretanto, a digestão do amido, continua no corpo e no fundo do estômago por até 1 hora, antes de o alimento ser misturado às secreções gástricas. Então a atividade da amilase salivar é bloqueada pelo ácido das secreções gástricas, já que a amilase salivar é essencialmente inativa como enzima, quando o pH do meio cai abaixo de 4,0. Contudo, em média, antes de o alimento e a saliva estarem completamente misturados com as secreções gástricas, até 30% a 40% dos amidos terão sido hidrolisados para formar maltose. Digestão por Amilase Pancreática: A secreção pancreática, como a saliva, contém grande quantidade de alfa-amilase, que é quase idêntica em termos de função à alfa-amilase da saliva, mas muitas vezes mais potente. Portanto, 15 a 30 minutos depois do quimo ser transferido do estômago para o duodeno e misturar-se com o suco pancreático, praticamente todos os carboidratos terão sido digeridos. Em geral, os carboidratos são quase totalmente convertidos em maltose e/ou outros pequenos polímeros de glicose, antes de passar além do duodeno ou do jejuno superior. Hidrólise de Dissacarídeos e de Pequenos Polímeros de Glicose em Monossacarídeos por Enzimas do Epitélio Intestinal: Os enterócitos que revestem as vilosidades do intestino delgado contêm quatro enzimas (lactase, sacarase, maltase e alfa-dextrinase), que são capazes de clivar os dissacarídeos lactose, sacarose e maltose, mais outros pequenos polímeros de glicose nos seus monossacarídeos constituintes. Essas enzimas ficam localizadas nos enterócitos que forram a borda em escova das microvilosidades intestinais, de maneira que os dissacarídeos são digeridos, quando entram em contato com esse enterócitos. A lactose se divide em molécula de galactose e em molécula de glicose. A sacarose se divide em molécula de frutose e molécula de glicose. A maltose e outros polímeros pequenos de glicose se dividem em múltiplas moléculas de glicose. Assim, os produtos finais da digestão dos carboidratos são todos monossacarídeos hidrossolúveis absorvidos imediatamente para o sangue porta. Na dieta comum, contendo muito mais amidos do que todos os outros carboidratos combinados, a glicose representa mais de 80% dos produtos finais da digestão de carboidratos, enquanto a fração de galactose ou frutose raramente ultrapassa 10%. Essencialmente todos os carboidratos nos alimentos são absorvidos sob a forma de monossacarídeos; apenas pequena fração é absorvida como dissacarídeos e quase nada como carboidratos maiores. O mais abundante dos monossacarídeos absorvidos é a glicose, normalmente responsável por mais de 80% das calorias absorvidas sob a forma de carboidratos. A razão dessa elevada porcentagem é que a glicose é o produto final da digestão do carboidrato mais abundante na dieta, o amido. Os outros 20% dos monossacarídeos absorvidos são compostos quase inteiramente por galactose e por frutose; a galactose é derivada do leite e a frutose é um dos monossacarídeos do açúcar de cana. Praticamente, todos os monossacarídeos são absorvidos por processo de transporte ativo secundário. Discutiremos primeiro a absorção de glicose. A glicose é transportada por mecanismo de Cotransporte com o Sódio. Na ausência de transporte de sódio, através da membrana intestinal, quase nenhuma glicose é absorvida, uma vez que a absorção de glicose ocorre por processo de cotransporte com o sódio. Existem dois estágios no transporte de sódio através da membrana intestinal. O primeiro é o transporte ativo de íons sódio pelas membranas basolaterais das células epiteliais intestinais para o líquido intersticial, que reduz a concentração de sódio nas células epiteliais. Em segundo lugar, essa diferença de concentração promove o fluxo de sódio do lúmen intestinal através da borda em escova das células epiteliais para o interior da célula, por processo de transporte ativo secundário. Isto é, o íon sódio se combina com proteína transportadora, mas essa proteína transportadora não transportará o sódio para o interior da célula, sem que outras substâncias, como por exemplo a glicose, também se liguem ao transportador. Com a ligação do sódio e da glicose, o transportador transporta ambos simultaneamente para o interior da célula. Assim, a baixa concentração intracelular de sódio literalmente “arrasta” o sódio para o interior da célula, levando com ele ao mesmo tempo a glicose. Uma vez na célula epitelial, outras proteínas transportadoras facilitam a difusão da glicose através da membrana basolateral para o espaço extracelular e, daí, para o sangue. Em suma, é o transporte ativo de sódio através das membranas basolaterais das células do epitélio intestinal pela bomba de Na+-K+, que proporciona a força motriz para mover a glicose também através das membranas. A galactose é transportada por mecanismo exatamente igual ao da glicose. O transporte de frutose não ocorre pelo mecanismo de cotransporte com sódio. A frutose é transportada por difusão facilitada, não acoplada ao sódio através do epitélio intestinal. Grande parte da frutose, ao entrar na célula, é fosforilada. Posteriormente é convertida a glicose e, como glicose, é transportada para o sangue. A intensidade do transporte da frutose é de cerca da metade da intensidade do transporte da glicose ou da galactose. Ocorre por difusão facilitada atraves dos transportadores GLUT. GLUT 1, 3: Presente no tecido nervoso e eritrocitos. Alta especificidade por Glicose glicose entra no tecido inclusive em hipoglicemia; Independente de insulina GLUT 2: Presente nos hepatócitos e no rim; baixa afinidade por glicose glicose só entra nos tecido em hiperglicemia; é bidirecional.; independente de Insulina. GLUT 4: Presente no tecido adiposo e músculo esquelético; Depende da ação da insulina para que se transporte desde vesiculas no citosol, até asua união na membrana plasmática, permitindo a entrada da glicose nos tecidos. O metabolismo, a soma de todas as transformações químicas que ocorrem em um organismo, é uma atividade celular altamente coordenada, em que muitos sistemas multienzimáticos (vias metabólicas) cooperam para desempenhar suas funções básicas. O metabolismo pode ser dividido em estágios que refletem o grau de complexidade ou tamanho das moléculas geradas. No nível 1, temos as reações químicas de conversão de metabólitos poliméricos, em seus constituintes monoméricos. No nível 2, esses monômeros são quebrados em intermediários simples. No nível 3, em organismos aeróbicos, a principal via e o ciclo de Krebs, onde os intermediários do nível 2 são degradados completamente a CO2 e H2O. Qualquer participante de uma reação metabólica, seja ele substrato, intermediário ou produto, é chamado de metabólito, e as moléculas que não podem ser mais utilizadas pelo organismo e, portanto, devem ser eliminadas são denominadas catabólitos. O metabolismo pode ainda ser dividido em duas principais categorias: • Anabolismo (ou biossíntese): Processos que envolvem primariamente a síntese de moléculas orgânicas complexas a partir de precursores pequenos e simples. Esses processos necessitam de energia, geralmente na forma de potencial de transferência do ATP e do poder redutor de transportadores de elétrons e baseiam – se na redução de moléculas (ganho de elétrons). • Catabolismo: Processos relacionados à degradação de substâncias complexas com concomitante geração de energia. Parte dessa energia é conservada na forma de ATP e de transportadores de elétrons reduzidos; o restante é perdido como calor. Baseiam – se na oxidação de moléculas (Perda de elétrons). Ps.: muitos substratos das vias anabólicas são formados como intermediários nos processos catabólicos e vice- versa. Algumas vias metabólicas são lineares e algumas são ramificadas, gerando múltiplos produtos a partir de um único precursor (divergente) ou convertendo vários precursores em um único produto (convergente). Algumas vias são cíclicas: um composto inicial da via é regenerado em uma série de reações que converte outro componente inicial em um produto. No nosso organismo, existem moléculas que auxiliam algumas enzimas nos processos de óxido-redução e, portanto, são denominadas coenzimas. São exemplos de coenzimas a nicotina adenina di-nucleotídeo (NAD) e a flavino-adenino dinucleotídeo (FAD), moléculas especializadas no transporte de hidrogênio. Quando essas coenzimas estão associadas ao hidrogênio, encontram-se “reduzidas” e quando perdem esses hidrogênios,são ditas “oxidadas”. Por meio do armazenamento da glicose na forma de polímero de alta massa molecular, como o amido e o glicogênio, a célula pode estocar grandes quantidades da glicose, enquanto mantém a osmolaridade citosólica relativamente baixa. Quando a demanda de energia aumenta, a glicose pode ser liberada desses polímeros e utilizada para produzir ATP de maneira aeróbia ou anaeróbia. Em animais e em vegetais, a glicose tem quatro destinos principais: (1) pode ser usada na síntese de polissacarídeos complexos direcionados ao espaço extracelular; (2) ser armazenada nas células; (3) ser oxidada a compostos de três átomos de carbonos por meio da glicólise para fornecer ATP e intermediários metabólicas; (4) ser oxidada pela via das pentoses- fosfato produzindo ribose-5-fosfato para a síntese de ácidos nucleicos e NADPH. Antes que a glicose possa ser utilizada pelas células dos tecidos do corpo, ela deve ser transportada através da membrana para o citoplasma celular. No entanto, a glicose não pode se difundir facilmente pelos poros da membrana celular, porque o peso molecular máximo das partículas com difusão imediata se situa em torno de 100, e a glicose apresenta peso molecular de 180. Ainda assim, a glicose chega ao interior das células com certo grau de facilidade, devido ao mecanismo de difusão facilitada. Basicamente, são os expostos a seguir. Permeando a matriz lipídica da membrana celular existe grande quantidade de moléculas de proteínas carreadoras, que podem se ligar à glicose. A glicose nessa forma ligada pode ser transportada pelo carreador, de um lado para o outro da membrana, quando é então liberada. Consequentemente, se a concentração de glicose for maior de um lado da membrana do que do outro lado, mais glicose vai ser transportada a partir da área de alta concentração para a área de baixa concentração do que na direção oposta. O transporte de glicose através das membranas da maioria das células é bem diferente do que ocorre através da membrana gastrointestinal ou através do epitélio dos túbulos renais. Nesses dois casos, a glicose é transportada pelo mecanismo de cotransporte ativo de sódio e glicose, em que o transporte ativo do sódio fornece energia para absorver a glicose contra diferença de concentração. Esse mecanismo de cotransporte de sódio-glicose só funciona em algumas células epiteliais especiais que são especificamente adaptadas para a absorção ativa de glicose. Em outras membranas celulares, a glicose só é transportada da concentração mais elevada para concentração inferior por meio de difusão facilitada, tornada possível pelas propriedades especiais de ligação da membrana da proteína carreadora de glicose. A intensidade do transporte da glicose, assim como o transporte de outros monossacarídeos, aumenta muito devido à insulina. Quando o pâncreas secreta grandes quantidades de insulina, o transporte de glicose na maioria das células aumenta por 10 ou mais vezes, relativamente ao valor medido na ausência de secreção da insulina. Por outro lado, a quantidade de glicose que pode se difundir para o interior da maioria das células do organismo na ausência de insulina, com exceção das células hepáticas e cerebrais, é muito pequena para fornecer a quantidade de glicose normalmente necessária para o metabolismo energético. De fato, a utilização de carboidratos pela maioria das células é controlada pela secreção de insulina pelo pâncreas e a sensibilidade dos diferentes tecidos aos efeitos da insulina no transporte de glicose. Logo após sua entrada nas células, a glicose se liga a um radical fosfato segundo a reação seguinte: Essa fosforilação é promovida principalmente pela enzima glicocinase no fígado e pela hexocinase, na maioria das outras células. A fosforilação da glicose é quase inteiramente irreversível, exceto nas células hepáticas, nas células do epitélio tubular renal e do epitélio intestinal; nessas células existe outra enzima, a glicose fosfatase, que, quando é ativada, é capaz de reverter a reação. Na maioria dos tecidos do corpo, a fosforilação tem como finalidade manter a glicose no interior das células. Isso ocorre devido à ligação quase instantânea da glicose com fosfato, que impede sua difusão de volta para fora, exceto nas células especiais, principalmente, nas células hepáticas que contêm a fosfatase. Depois de sua captação para o interior da célula, a glicose pode ser usada imediatamente para liberar energia ou pode ser armazenada sob a forma de glicogênio, que é um grande polímero da glicose. Todas as células do corpo são capazes de armazenar pelo menos algum glicogênio, mas algumas células são capazes de armazená-lo em grande quantidade, especialmente as células hepáticas, que podem acumular até 5% a 8% de seu peso sob a forma de glicogênio, e as células musculares, que podem armazenar entre 1% e 3% de glicogênio. A glicose é fosforilada a glicose-6-fosfato, catalisada pela hexocinase nos músculos e pela glicocinase no fígado. A glicose-6-fosfato é isomerizada a glicose-1-fosfato pela fosfoglicomutase. A própria enzima é fosforilada, e o grupamento fosfatoparticipa de uma reação reversível em que a glicose-1,6-bisfosfato é um intermediário. A seguir, a glicose-1-fosfato reage com o trifosfato de uridina (UTP) formando o nucleotídeo ativo uridinadifosfatoglicose (UDPGlc) e pirofosfato, catalisada pela UDPGlcpirofosforilase. A reação ocorre na direção da formação de UDPGlc, pois a pirofosfatase catalisa a hidrólise do pirofosfato a 2 × fosfato, removendo, assim, um dos produtos da reação. A UDPGlc-pirofosforilase tem uma Km baixa para glicose-1-fosfato e está presente em quantidades relativamente grandes, de forma que não é uma etapa reguladora na síntese de glicogênio. As etapas iniciais na síntese de glicogênio envolvem a proteína glicogenina, uma proteína de 37 kDa que é glicosilada em um resíduo de tirosina específico pela UDPGlc. A glicogenina catalisa a transferência de mais sete resíduos de glicose da UDPGlc, em uma ligação 1 → 4, formando um primer de glicogênio, que é o substrato para a glicogênio-sintase. A glicogenina permanece no núcleo do grânulo de glicogênio. A glicogênio-sintase catalisa a formação de uma ligação glicosídica entre o C- 1 da glicose da UDPGlc e o C-4 de um resíduo terminal de glicose do glicogênio, liberando difosfato de uridina (UDP). A adição de um resíduo de glicose a uma cadeia de glicogênio preexistente, ou “iniciador”, ocorre na extremidade externa não redutora da molécula, com consequente alongamento dos ramos da molécula de glicogênio à medida que são formadas as ligações 1 → 4 sucessivas. A insulina é o principal hormônio que vai atuar a nível da glicogênese hepática, estimulando a ação da Glicogênio- sintase, a qual estimulará a síntese de glicogênio. Ao mesmo tempo vai inibir a ação da glicogênio-fosforilase (que atua da degradação do glicogênio). Glicogenólise significa a ruptura do glicogênio celular armazenado para formar novamente glicose nas células. A glicose pode então ser utilizada de modo a fornecer energia. A glicogenólise não ocorre pela reversão das mesmas reações químicas que formam o glicogênio; ao contrário, cada molécula de glicose sucessiva em cada ramo do polímero de glicogênio se divide por meio de fosforilação catalisada pela enzima fosforilase. Em condições de repouso, a fosforilase está na forma inativa, de modo que o glicogênio permanece armazenado. Quando ocorre necessidade de formar novamente glicose a partir do glicogênio, a fosforilase deve primeiro ser ativada. Essa ativação pode ocorrer de diversas formas, que incluem a ativação pela adrenalina e pelo glucagon. A glicogênio-fosforilase catalisa a etapa limitadora da velocidade da glicogenólise – a clivagem fosforolítica (fosforólise; comparar com hidrólise) das ligações 1 → 4 do glicogênio, produzindo glicose-1-fosfato. Existem diferentes isoenzimas da glicogênio fosforilase no fígado, no músculo e no encéfalo, codificadas por diferentes genes. A glicogênio-fosforilase requer a presença de piridoxal-fosfato como coenzima. Ao contrário das reações do metabolismo dos aminoácidos, em que o grupamento aldeído da coenzima é o grupo reativo, na fosforilase, é o grupamento fosfato que é cataliticamente ativo. Os resíduos glicosil terminais das cadeias mais externas da molécula de glicogênio são removidos de modo sequencial até restarem aproximadamente quatro resíduos de glicose em cada um dos lados de uma ramificação 1 → 6 .A enzima desramificadora possui dois sítios catalíticos distintos em uma única cadeia polipeptídica. Um deles é uma glicano-transferase, que transfere uma unidade trissacarídica de uma ramificação para outra, expondo o ponto de ramificação 1 → 6. O outro é uma 1,6-glicosidase, que catalisa a hidrólise da ligação glicosídica 1 → 6, com liberação de glicose livre. Então, a ação subsequente da fosforilase pode ocorrer. A ação combinada da fosforilase e dessas outras enzimas leva à degradação completa do glicogênio. A reação catalisada pela fosfoglicomutase é reversível, de modo que a glicose-6-fosfato pode ser formada a partir de glicose-1-fosfato. No fígado, mas não nos músculos, a glicose-6- fosfatase catalisa a hidrólise de glicose-6-fosfato, formando glicose, que é exportada, levando ao aumento da concentração de glicose sanguínea. A glicose-6-fosfatase está no lúmen do retículo endoplasmático liso, e defeitos genéticos do transportador de glicose-6-fosfato podem causar uma variante da doença de armazenamento de glicogênio tipo I. Os grânulos de glicogênio também podem ser englobados por lisossomos, onde a maltase ácida catalisa a hidrólise do glicogênio em glicose. Isso pode ser especialmente importante na homeostasia da glicose em recém- nascidos. A falha genética da maltase ácida lisossomal causa a doença de armazenamento de glicogênio tipo. O catabolismo lisossomal do glicogênio encontra-se sob controle hormonal. As principais enzimas que controlam o metabolismo do glicogênio – a glicogênio-fosforilase e a glicogênio-sintase – são reguladas em direções opostas por mecanismos alostéricos e modificações covalentes por fosforilação e desfosforilação reversíveis da enzima em resposta à ação hormonal. A fosforilação da glicogênio-fosforilase aumenta a sua atividade ao passo que a fosforilação da glicogênio-sintase reduz sua atividade. A fosforilação aumenta em resposta ao monofosfato de adenosina cíclico (cAMP) formado a partir do ATP pela adenilato-ciclase, localizada na superfície interna das membranas celulares, em resposta a hormônios como epinefrina, norepinefrina e glucagon. O cAMP é hidrolisado pela fosfodiesterase, interrompendo, assim, a ação hormonal; no fígado, a insulina aumenta a atividade da fosfodiesterase. A fosforilase-cinase é ativada em resposta ao cAMP. O aumento da concentração de cAMP ativa a proteína- cinase dependente de cAMP, que catalisa a fosforilação pelo ATP da fosforilase-cinase b inativa à fosforilase- cinase a ativa, a qual, por sua vez, fosforila a fosforilase b para formar fosforilase a. No fígado, ocorre formação de cAMP em resposta ao glucagon, que é secretado em resposta à queda da glicemia. O músculo é insensível ao glucagon; no músculo, o sinal para a formação aumentada de cAMP é a ação da norepinefrina, que é secretada em resposta ao medo ou pavor, quando existe a necessidade de aumentar a glicogenólise para possibilitar uma rápida atividade muscular. Dois hormônios, a epinefrina e o glucagon, são capazes de ativar a fosforilase e, assim, causar glicogenólise rápida. O efeito inicial de cada um desses hormônios é o de promover a formação do AMP cíclico nas células, que então dão início à cascata de reações químicas que ativa a fosforilase. A epinefrina é liberada pela medula da glândula adrenal, quando o sistema nervoso simpático é estimulado. Consequentemente, uma das funções do sistema nervoso simpático é a de aumentar a disponibilidade da glicose para o metabolismo energético rápido. Essa função da epinefrina ocorre de forma acentuada nas células musculares, contribuindo com outros efeitos do estímulo simpático para o preparo do corpo para ação. O glucagon é o hormônio secretado pelas células alfa do pâncreas, quando a concentração sérica da glicose está excessivamente baixa. Ele estimula a formação do AMP cíclico, principalmente pelas células hepáticas que, por sua vez, promove a conversão do glicogênio hepático em glicose e sua liberação para o sangue, elevando, desse modo, a concentração sanguínea de glicose. Como a oxidação completa de uma molécula-grama de glicose libera 686.000 calorias de energia e apenas 12.000 calorias de energia são necessárias para formar uma molécula-grama de ATP, haveria desperdício de energia se a glicose fosse decomposta de uma só vez em água e dióxido de carbono, enquanto formasse uma só molécula de ATP. Felizmente, todas as células do corpocontêm enzimas especiais que efetuam o metabolismo da molécula de glicose em várias etapas sucessivas, de modo que a energia seja liberada em pequenas quantidades para formar uma só molécula-grama de ATP a cada vez, formando o total de 38 moles de ATP para cada mol de glicose metabolizado pelas células. Quando as reservas de carboidratos do organismo caem abaixo do normal, quantidades moderadas de glicose podem ser formadas a partir de aminoácidos e da porção glicerol dos lipídios. Esse processo é chamado gliconeogênese. A gliconeogênese é especialmente importante na prevenção de redução excessiva da concentração de glicose no sangue durante o jejum. A glicose é o substrato primário de energia, em tecidos como o cérebro, as hemácias, testículos, medula renal, etc., e quantidades adequadas de glicose devem estar presentes no sangue por diversas horas, entre as refeições. O fígado desempenha papel fundamental na manutenção dos níveis de glicose sanguínea durante o jejum ao converter seu glicogênio armazenado em glicose (glicogenólise) e ao sintetizar a glicose, principalmente a partir do lactato e de aminoácidos (gliconeogênese). Aproximadamente 25% da produção de glicose hepática derivam da gliconeogênese, ajudando a manter o fornecimento estável de glicose para o cérebro. Durante jejum prolongado, os rins também sintetizam quantidades consideráveis de glicose, a partir de aminoácidos e de outros precursores. Com exceção da lisina e leucina, todos os aminoácidos podem originar glicose. Os aminoácidos são provenientes de degradação de proteínas endógenas, principalmente as musculares, durante o jejum. Ainda no músculo, são convertidos a alanina, a forma de transporte dessas moléculas para o fígado. Já o lactato origina-se nos músculos submetidos a contração intensa e de outras células que degradam glicose de forma anaeróbia, a fermentação lática. Então, o lactato produzido é liberado para a corrente sanguínea e transportado para o fígado onde é convertido em glicose. A glicose é então novamente liberada no sangue, para utilização pelo músculo como fonte de energia. Este é o chamado ciclo de Cori. Por fim, o glicerol é derivado da hidrólise de triacilgliceróis do tecido adiposo durante o jejum e tem pouca importância quantitativa na gliconeogênese. A gliconeogênese e a glicólise não são vias idênticas ocorrendo em direções opostas, embora compartilhem de várias etapas – sete das reações enzimáticas da gliconeogênese são o inverso das reações glicolíticas. No entanto, as outras três reações da glicólise são irreversíveis e não podem ser utilizadas na gliconeogênese: a fosforilação da glicose catalisada pela hexoquinase (1), a fosforilação da frutose- 6-fosfato pela glicoquinase (3) e a conversão de fosfoenolpiruvato em piruvato pela piruvato quinase (10). Na gliconeogênese, essas três reações são contornadas por um grupo distinto de enzimas, catalisando reações suficientemente exergônicas para serem efetivamente irreversíveis no sentido de síntese da glicose. A transformação de alanina e lactato inicia-se por sua conversão a piruvato. A alanina origina piruvato por ação da alanina aminotransferase; o lactato é convertido a piruvato por ação da lactato desidrogenase. A transformação de glicose pela gliconeogênese processa- se no sentido oposto ao da glicólise, utilizando quase todas as suas enzimas, com exceção das que foram citadas anteriormente. CONVERSÃO DE PIRUVATO A FOSFOENOLPIRUVATO (PEP) A reação catalisada pela piruvato quinase é substituída por duas reações. Na primeira reação, o piruvato é convertido em oxaloacetato, através da sua carboxilação, catalisada pela enzima piruvato carboxilase. Na segunda reação, o oxaloacetato é convertido a fosfoenolpiruvato, por ação da enzima fosfoenolpiruvato carboxiquinase (PEPCK). É importante observar que o CO2 utilizado na formação do oxaloacetato é, em seguida, eliminado na formação de PEP. Isso aparenta um desperdício, mas, na verdade, é uma forma de “ativação” do piruvato para que seja possível sua conversão em um composto de mais alta energia, o PEP. Essa ativação se dá à custa da hidrólise de um ATP. A conversão do oxaloacetato em PEP requer a hidrólise de um GTP, com incorporação do fosfato à molécula do PEP. A hidrólise de um GTP equivale à hidrólise de um ATP, uma vez que essas moléculas se interconvertem. Dessa forma, para que seja contornada a reação da piruvato quinase são gastas duas moléculas de ATP. A piruvato carboxilase é uma enzima de localização essencialmente mitocondrial, de modo que a formação do oxaloacetato ocorre dentro da mitocôndria. A localização da PEPCK varia de acordo com as diferentes espécies. Em humanos, ela é igualmente distribuída no citosol e na mitocôndria das células hepáticas. Quando a PEPCK é usada na mitocôndria, o oxaloacetato pode ser diretamente convertido a PEP dentro da mitocôndria e depois translocado para o citosol. Quando a PEPCK é usada no citosol, o oxaloacetato deve ser, primeiramente, transportado para o citosol. O fosfoenolpiruvato produzido nesta etapa é transformado em frutose-1,- 6-bifosfato pelas enzimas que também compõem a glicólise, que, como catalisam reações reversíveis, podem operar no sentido inverso da via. CONVERSÃO DE FRUTOSE-1,6- BIFOSFATO A FRUTOSE-6-FOSFATO A reação irreversível catalisada pela fosfofrutoquinase é substituída por uma reação de hidrólise do grupo fosfato do carbono 1, catalisada pela frutose – 1,6, - bifosfatase. Em seguida a frutose – 6 – fosfato pode ser isomerizada a glicose – 6- fosfato pela fosfoglicoisomerase. Frutose 1,6-bifosfato + H2O -------> Frutose-6-fosfato + Pi CONVERSÃO DE GLICOSE-6-FOSFATO A GLICOSE Para comparar a irreversibilidade da reação catalisada pela glicoquinase, esta reação é substituída por uma reação de hidrólise do grupo fosfato ligado ao carbono 6, catalisada pela glicose-6-fosfatase. Glicose-6-fosfato + H2O -------------> Glicose + Pi O produto da reação, a glicose, ao contrário da glicose fosforilada, pode atravessar livremente a membrana plasmática. A glicose-6-fosfatase é exclusiva do fígado e dos rins, e é graças à sua presença que estes órgãos, principalmente o fígado, podem exportar glicose para corrigir a glicemia. Balanço energético da gliconeogênese: Para cada molécula de glicose formada a partir de duas moléculas de piruvato são necessários 6 ATP, utilizados nas reações catalisadas por piruvato carboxilase, fosfoenolpiruvato carboxiquinase (que, na verdade, usa GTP mas, para o balanço energético, pode ser computado como ATP) e fosfoglicerato quinase. A equação geral da gliconeogênese a partir de piruvato é: 2 piruvato + 6 ATP + 6 H2O + 2 NADH ----> Glicose + 6 ADP + 6 Pi + 2 NAD+ + 2H+ A diminuição do nível celular dos carboidratos e da glicose sanguínea são os estímulos básicos que aumentam a intensidade da gliconeogênese. A diminuição dos carboidratos pode reverter diretamente muitas das reações glicolíticas e de fosfogluconato, permitindo assim a conversão de aminoácidos desaminados e glicerol em carboidratos. Além disso, o hormônio cortisol é especialmente importante nessa regulação. Quando quantidades normais de carboidratos não estão disponíveis para as células, a adeno-hipófise, por motivos que ainda não foram completamente esclarecidos, começa a secretar quantidades aumentadas do hormônio corticotropina. Essa secreção leva o córtex adrenal a produzir grandes quantidades de hormônios glicocorticoides, em especial o cortisol. Por sua vez, o cortisol mobiliza proteínas essencialmente de todas as células do organismo, disponibilizando-as sob a forma de aminoácidos nos líquidos corporais. Elevada proporção desses aminoácidos é de imediato desaminada no fígado e fornece substratos ideais para a conversão em glicose.Assim, um dos métodos mais importantes para promoção da gliconeogênese é a liberação de glicocorticoides do córtex adrenal. Nas células aeróbias, o piruvato é subsequentemente oxidado, trazendo, naturalmente, um enorme ganho na produção de ATP. Também chamada de via glicolítica, a glicólise ocorre no citosol e consiste na quebra de uma molécula de glicose, produzindo duas moléculas de três carbonos denominadas piruvato. É um processo oxidativo no qual duas moléculas de NAD+ são reduzidas a duas moléculas de NADH + H+. A glicólise ocorre em 10 etapas, sendo que as 5 primeiras constituem a fase preparatória, na qual ocorre a conversão da molécula de glicose em duas de gliceraldeído-3-fosfato com gasto de duas moléculas de ATP. Já as 5 últimas etapas, constituem a fase oxidativa (ou de pagamento da glicólise), na qual as duas moléculas de gliceraldeído-3-fosfato são convertidas em piruvato com a formação de ATP. Nessa fase ocorre a fosforilação da glicose, na hidroxila do carbono 6, formando uma molécula de glicose-6- fosfato, com o gasto de uma molécula de ATP (ATP ADP). Esta reação é catalisada pela enzima hexoquinase. Ps.: nas células do parênquima hepático e nas ilhotas pancreáticas, tal reação é catalisada pela glicoquinase. Ao ser fosforilada, a glicose não pode mais sair das células, pois os mecanismos de transporte dessa molécula não servem para sua forma fosforilada. Isto mantém o nível de glicose, na célula, sempre baixo em relação à concentração extracelular. Como o transporte de glicose depende da concentração, a tendência da glicose é sempre entrar na célula. Além disso, essa reação indica o caminho metabólico que a glicose vai seguir, haja vista que a fosforilação do carbono 6 funciona como uma “etiqueta”, demarcando que a glicose será degradada na via glicolítica. CONVERSÃO DA GLICOSE EM FRUTOSE É uma reação reversível do tipo isomerização aldose- cetose e é catalisada por uma fosfo-hexoisomerase. FOSFORILAÇÃO DA FRUTOSE-6-FOSFATO Na hidroxila do carbono 1, formando uma molécula de frutose1,6-bifosfato. É uma reação irreversível dependente da energia de ATP e é catalisada pela enzima fosfofrutoquinase-1 (PFK-1). A atividade dessa enzima é o ponto de regulação da velocidade da via glicolítica. CLIVAGEM DA FRUTOSE 1,6-BIFOSFATO Pela ação da enzima adolase, frutose 1,6-bifosfato é quebrada gerando duas moléculas isômeras, que possuem três carbonos: gliceraldeído-3-fosfato (G3P) e diidroxiacetona-3-fosfato (DHAP). INTERCONVERSÃO DAS TRIOSES-FOSFATO Pela ação da triose-isomerase específica, a diidroxiacetona-3-fosfato é convertida em gliceraldeído- 3-fosfato. Até este momento, uma molécula de glicose (6C) foi parcialmente quebrada em duas moléculas de gliceraldeído- 3-fosfato (3C), mas não houve síntese de ATP, apenas gasto de duas moléculas de ATP. Por este motivo, essa é a fase preparatória ou de investimento. OXIDAÇÃO E FOSFORILAÇÃO DO GLICERALDEÍDO- 3-FOSFATO Formando uma molécula de 1,3-bisfosfoglicerato, com ação da enzima gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase. Nessa etapa, a fosforilação ocorre por incorporação de uma molécula de fosfato inorgânico (Pi) à molécula de G3P, sem que haja consumo de qualquer molécula de ATP. Nesta reação, uma molécula de NAD+ é reduzida a NADH + H+. TRANSFERÊNCIA DE UM GRUPO FOSFATO DO 1,3- BIFOSFOGLICERATO Na reação anterior, parte da energia liberada no processo oxidativo foi conservada na formação da molécula de 1,3-bisfosfoglicerato. Assim, a energia conservada será utilizada na formação de uma molécula de ATP. Esta reação é catalisada pela enzima fosfoglicerato quinase. DESLOCAMENTO DO GRUPO FOSFATO DO GLICERATO Pela ação da fosfoglicerato mutase, o 3PG será convertido em 2-fosfoglicerato. DESIDRATAÇÃO DO 2-FOSFOGLICERATO Em uma reação catalisada pela enolase, ocorre a desidratação e redistribuição da energia dentro da molécula. A proximidade do grupamento funcional hidroxila com o íon fosfato favorece a formação do fosfoenolpiruvato (PEP), que é também considerado um composto de alta energia. FORMAÇÃO DO PIRUVATO Fosforilação em nível do substrato com formação de ATP em uma reação catalisada pela piruvato quinase. Em resumo, nessa segunda fase, começamos com duas moléculas de gliceraldeído-3-fosfato e formamos duas moléculas de piruvato, duas de NADH + H+ e quatro moléculas de ATP. Ps.: O rendimento energético da glicólise é de 2 ATP haja vista que foram gastas duas moléculas na primeira fase da via e quatro foram sintetizadas na segunda fase. Saldo final: 2 ATP; 2 NADH, 2 H2O, 2 PIRUVATOS, 2 H+ Com exceção de algumas variações entre as bactérias, o piruvato formado na glicólise pode ser metabolizado por três rotas catabólicas Em condições anaeróbicas, o NADH gerado pela glicólise não pode ser reoxidado pelo O2. A falha na regeneração de NAD+ deixaria a célula carente de aceptor de elétrons para a oxidação de gliceraldeído-3-fosfato, e as reações geradoras de energia da glicólise cessariam. Portanto, NAD+ deve ser regenerado de outra forma. 1º DESTINO: FERMENTAÇÃO LÁTICA Quando tecidos animais não podem ser supridos com oxigênio suficiente para realização oxidação aeróbia do piruvato e do NADH, como é o caso dos músculos esqueléticos muito ativos, ou em alguns microrganismos anaeróbicos, o NAD+ é regenerado pela redução do piruvato a lactato. Alguns tecidos e tipos celular como as hemácias produzem lactato a partir de glicose mesmo em condições aeróbias. A redução do piruvato por essa via é catalisada pela lactato-desidrogenase. O lactato formado pelo músculo esquelético em atividade (ou pelas hemácias) pode ser reciclado; ele é transportado pelo sangue até o fígado, onde é convertido em glicose durante a recuperação da atividade muscular exaustiva. Quando o lactato é produzido em grande quantidade durante a contração muscular vigorosa, a acidificação resultante da ionização do ácido láctico nos músculos e no sangue limite o período de atividade vigorosa. 2º DESTINO: FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA Leveduras e outros microrganismos fermentam glicose em etanol e CO2, em vez de lactato, em um processo de duas etapas. Primeiro, ocorre a descarboxilação do piruvato em uma reação catalisada pela piruvato- descarboxilase. Na segunda etapa, o acetaldeído formado é reduzido a etanol pela ação da álcool-desidrogenase, com o poder redutor fornecido pelo NADH. 3º DESTINO: CONVERSÃO EM ACETIL-COA Em organismos aeróbios ou em tecidos em condições aeróbias, a glicólise é apenas o primeiro estágio da degradação completa da glicose. O piruvato é oxidado com a perda de seu grupo carboxil na forma de CO2 para gerar o grupo acetil da acetil-coenzima A; o grupo acetil é então completamente oxidado a CO2 no ciclo do ácido cítrico. Os elétrons gerados nesse ciclo são transferidos ao O2 por uma cadeia transportadora de elétron na mitocôndria, formando H2O e liberando energia para a síntese de 32 a 36 moléculas de ATP. Nas células eucarióticas, o piruvato entra na mitocôndria, através de uma translocase específica, e é transformado em acetil-CoA, através de uma descarboxilação oxidativa, de acordo com a reação: O ciclo do ácido cítrico (ciclo de Krebs ou ciclo do ácido tricarboxílico) consiste em uma sequência de reações na mitocôndria que oxida a porção acetil da acetil-CoA a CO2 e reduz coenzimas que são reoxidadas por meio da cadeia de transporte de elétrons, ligada à formação de ATP. Tal ciclo fornece substratos para a cadeia respiratória. O ciclo começa com a reação entre a porção acetil da acetil-CoA e o oxalacetato, um ácido dicarboxílico de 4 carbonos, formando um ácido tricarboxílico de 6 carbonos, o citrato. Nas reações subsequentes, são liberadas 2 moléculas de CO2, e o oxalacetato é regenerado; pode-seconsiderar que o oxalacetato desempenha papel catalítico, uma vez que é regenerado no fim do ciclo. O ciclo do ácido cítrico é a principal via para a formação de ATP ligado à oxidação de combustíveis metabólicos. Durante a oxidação de acetil-CoA, as coenzimas são reduzidas e subsequentemente reoxidadas na cadeia respiratória, em um processo ligado à formação de ATP. Esse processo é aeróbio, exigindo a presença de oxigênio como oxidante final das coenzimas reduzidas. As enzimas do ciclo do ácido cítrico localizam-se na matriz mitocondrial, na forma livre ou ancoradas à membrana mitocondrial interna e à membrana das cristas, onde também são encontradas as enzimas e as coenzimas da cadeia respiratória. A reação inicial entre a acetil-CoA e o oxalacetato para formar citrato é catalisada pela citrato-sintase, que forma uma ligação carbono-carbono entre o carbono metil da acetil-CoA e o carbono carbonil do oxalacetato. O citrato sofre isomerização a isocitrato pela enzima aconitase (aconitato-hidratase). A reação ocorre em duas etapas: a desidratação a cis-aconitato e a reidratação a isocitrato. Embora o citrato seja uma molécula simétrica, a aconitase reage de modo assimétrico com o citrato, de modo que os 2 átomos de carbono que são perdidos em reações subsequentes do ciclo não são aqueles que foram acrescentados a partir da acetil-CoA. Esse comportamento assimétrico resulta do processo de canalização – a transferência direta do produto da citrato sintase para o sítio ativo da aconitase, sem necessidade de entrar em solução livre. A canalização possibilita a integração da atividade do ciclo do ácido cítrico com o fornecimento de citrato no citosol como fonte de acetil-CoA para a síntese de ácidos graxos. O citrato só está disponível, livre em solução, para ser transportado das mitocôndrias até o citosol para a síntese de ácidos graxos, quando a aconitase é inibida pelo acúmulo de seu produto, o isocitrato. O isocitrato sofre desidrogenação catalisada pela isocitrato-desidrogenase, formando, inicialmente, oxalossuccinato, que permanece ligado à enzima e sofre descarboxilação a α -cetoglutarato. A descarboxilação requer a presença de íons Mg2+ ou Mn2+. Existem três isoenzimas da isocitrato-desidrogenase. Uma delas, que utiliza o NAD+, é encontrada apenas nas mitocôndrias. As outras duas utilizam o NADP+ e são encontradas nas mitocôndrias e no citosol. A oxidação do isocitrato ligada à cadeia respiratória ocorre por meio da enzima dependente de NAD+. O α-cetoglutarato sofre descarboxilação oxidativa em uma reação catalisada por um complexo multienzimático semelhante ao complexo envolvido na descarboxilação oxidativa do piruvato. O complexo da α-cetoglutarato- desidrogenase requer os mesmos cofatores que o complexo da piruvato-desidrogenase – tiamina-difosfato, lipoato, NAD+, FAD e CoA – e resulta na formação de succinil- -CoA. O equilíbrio dessa reação favorece tanto a formação de succinil-CoA, que ela deve ser considerada fisiologicamente como unidirecional. Como no caso da oxidação do piruvato, o arsenito inibe a reação, causando acúmulo do substrato, o α-cetoglutarato. A presença de amônia em altas concentrações inibe a α-cetoglutarato desidrogenase. A succinil-CoA é convertida em succinato pela enzima succinato-tiocinase (succinil-CoA-sintase). Trata-se do único exemplo de fosforilação em nível do substrato no ciclo do ácido cítrico. Os tecidos onde ocorre gliconeogênese (fígado e rim) contêm duas isoenzimas da succinato-tiocinase, uma específica para o GDP, e a outra, para o ADP. O GTP formado é utilizado na descarboxilação do oxalacetato em fosfoenolpiruvato na gliconeogênese e estabelece uma ligação reguladora entre a atividade do ciclo do ácido cítrico e a retirada de oxalacetato para a gliconeogênese. Os tecidos não gliconeogênicos possuem apenas a isoenzima que fosforila ADP. Quando os corpos cetônicos estão sendo metabolizados nos tecidos extra-hepáticos, ocorre uma reação alternativa catalisada pela succinil-CoA-acetacetato-CoA- transferase (tioforase), envolvendo a transferência de CoA da succinil-CoA para o acetacetato, com formação de acetoacetil-CoA e succinato. O metabolismo subsequente do succinato, que leva à regeneração do oxalacetato, segue a mesma sequência de reações químicas que ocorrem na β-oxidação dos ácidos graxos: desidrogenação para formar uma ligação dupla carbono-carbono, adição de água para formar um grupamento hidroxil e desidrogenação adicional para produzir o grupo oxo do oxalacetato. A primeira reação de desidrogenação, que forma o fumarato, é catalisada pela succinato-desidrogenase, que está ligada à superfície interna da membrana mitocondrial interna. A enzima contém FAD e proteína ferro-enxofre (Fe-S), reduzindo diretamente ubiquinona na cadeia de transporte de elétrons. A fumarase (fumarato-hidratase) catalisa a adição de água por meio da ligação dupla do fumarato, dando origem ao malato. O malato é oxidado a oxalacetato pela malato- desidrogenase, ligada à redução de NAD+. Embora o equilíbrio dessa reação favoreça fortemente o malato, o fluxo efetivo ocorre em direção ao oxalacetato, devido à remoção contínua de oxalacetato (para formar citrato, como substrato para a gliconeogênese, ou para sofrer transaminação a aspartato) e também devido à reoxidação contínua do NADH. Como resultados das oxidações catalisadas pelas desidrogenases do ciclo do ácido cítrico, são produzidas três moléculas de NADH e uma de FADH2 para cada molécula de acetil-CoA catabolizada em uma volta do ciclo. Esses equivalentes redutores são transferidos para a cadeia respiratória, onde a reoxidação de cada NADH resulta na formação de cerca de 2,5 moléculas de ATP, e a reoxidação do FADH2 forma cerca de 1,5 molécula de ATP. Além disso, 1 molécula de ATP (ou GTP) é formada por fosforilação em nível do substrato, catalisada pela succinato-tiocinase.
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