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História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico História e Patrimônio Unidade Nº 1 - A concepção do Patrimônio Cultural e do Monumento Histórico Christiane Alves Faria História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico Introdução Quem nunca teve vontade de viajar para fora de sua cidade? Conhecer lugares novos, visitar pontos históricos durante as férias? Seja no próprio país ou fora? A vontade de conhecer culturas e lugares diferentes de onde nascemos faz parte do sonho de muitos. Porém, nem todos têm ideia de como se programar para uma viagem, pois não têm conhecimento da cultura local e, para isso, já existem empresas especializadas que ajudam os clientes com seus pacotes de turismo. E é nesse pacote que você faz o famoso tour pela cidade, conhecendo os pontos turísticos, as festas populares e os patrimônios históricos do local visitado. Durante a viagem, o guia conta a história ou uma lenda do local visitado, a fim de entreter os visitantes. É sobre essa questão, conhecer o que é a história do lugar e o que é patrimônio cultural, que estudaremos nesta unidade, partindo do princípio do quão importante é esse conhecimento para o homem enquanto cidadão, mesmo que seja para enriquecer uma viagem de férias. Nesta unidade, buscaremos compreender sobre o que é um patrimônio cultura e, com ele, a noção de cultura, patrimônio material e imaterial, sua história, seu valor para a humanidade através de sua existência. Quando tratamos de Patrimônio Cultural estamos falando do que nos foi deixado pelos nossos antepassados, seja através de monumentos, festividades, culinária, etc. Ao estudarmos o conceito de patrimônio cultural, devemos nos focar na história da construção desse patrimônio, de como se deu essa época e da história que se fez em torno dos elementos construtivos. História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico A partir dos estudos e das abordagens da disciplina, questione-se sobre a época em que se construíram os prédios, hoje tombados, sobre os parques, as festas anuais, e o que levou aquele lugar ou festividade a ser considerado tão valioso para a nossa história a ponto de ser preservado. Estude a apostila, acesse o material complementar para o melhor desenvolvimento e compreensão da disciplina e execução dos exercícios. Esse conhecimento será essencial para entendermos as diferenças entre as culturas, as influências e as relações étnico-raciais formadoras de nosso país e avaliar melhor a estrutura turística de um local. Bons estudos! 1. Entender o Patrimônio Cultural A palavra Patrimônio vem do latim patrimoniu (junção de patri, pai + monium, recebido). O termo está, historicamente, ligado ao conceito de herança; já em seu significado mais primitivo, a palavra patrimônio tem origem relacionada ao termo grego pater, que significa “pai” ou “paterno”. “A história é a ciência que estuda o passado através dos vestígios humanos. Esses vestígios podem ser tangíveis ou intangíveis. Mas, o que é certo é que não há história sem homens. Ao longo dos séculos o homem, em contato com o meio ambiente, produziu artefatos nos quais se abrigou, inventou signos para a sua comunicação, templos para a sua fé. Tanto os artefatos, como o modo de projetá-los e fazê-los, assim como os materiais utilizados para a confecção dos mesmos pode ser considerado patrimônio cultural. (Patrimônio Cultural: Conceitos e trajetória- Série Bibliográfica Unit, p.19)” O atual conceito de patrimônio criou duas categorias distintas sobre o mesmo. Uma antiga e tradicional, que se refere a patrimônio material, onde temos as construções, esculturas, acervos de documentos e itens das belas-artes. Em paralelo, temos o patrimônio imaterial, que engloba as regiões, comidas e bebidas típicas, danças, manifestações religiosas e festividades tradicionais, ou seja, tudo o que História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico criamos e produzimos com as mãos, as ideias e a fantasia pode fazer parte de um patrimônio. Na sociedade, pode também ser fruto de uma escolha, que através de políticas públicas, tem a participação do Estado por meio de leis, instituições e políticas específicas. Essa escolha é feita sobre o que a sociedade considera mais importante, o que representa sua história, sua cultura. São os valores, os significados atribuídos pelas pessoas a objetos, lugares ou práticas culturais que os tornam patrimônio de uma coletividade (ou patrimônio coletivo). O papel da História é muito importante como mediadora de todas essas questões do presente. O historiador tem um papel muito importante na sociedade, na medida que identifica os elementos relevantes do passado, as tendências e o problemas. É a história que vai esclarecer a importância das coisas, na medida em que esclarece o mundo, traça as trajetórias de tudo que existe. É a história que vai confirmar ou não o tombamento de uma cidade, por exemplo, por que a mesma é importante, de que maneira ela seria testemunho de um passado relevante. (Eric Hobsbawm (2009). 1.1 Características estruturais e culturais dos Monumentos edificados na Antiguidade. Existem monumentos que são tombados como patrimônio cultural pela UNESCO devido ao seu valor de referência para o início da civilização humana e sua evolução. Essas características são baseadas em estudos arqueológicos, em conjunto com historiadores e diversos profissionais que estudam diariamente para explicar como e quando determinado monumento foi construído e seu significado. Os monumentos servem para nos lembrar e refletir sobre a história ali ocorrida, seja ela social, econômica, religiosa de uma determinada época. Cada monumento tem seu significado para a região e povo em que ele foi erguido, e conta a história desse povo. Um exemplo desses monumentos são as pirâmides de Gizé (localizada no Cairo). Construídas no Antigo Egito a aproximadamente 4.500 anos, as pirâmides serviram de História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico tumba para 3 faraós: Quéops, Quéfren e Miquerinos. Devido a sua magnitude, calcula- se que foram necessários mais de 10.000 homens (escravos) para a sua construção, que levou um tempo médio de 30 anos para ser finalizada. Imagem 1 - As pirâmides de Gizé. Fonte: Site Só História – (Pirâmides...2009).Disponível em: https://www.sohistoria.com.br/ef2/egito/piramides.php. Um outro grande monumento também conhecido por sua grandeza é a Muralha da China, ou como também é conhecida a Grande Muralha. Foi construída por volta de 220 a.C e terminada no século XV durante a Dinastia Ming. Sua construção teve como objetivo militar: proteger a China contra a invasão dos povos do Norte. É um Patrimônio Mundial da Unesco e o maior ponto de turismo cultural no Oriente. Imagem 2 - A Grande Muralha da China Fonte: Site Só História (A Grande..., 2009). Imagem. Disponível em: https://www.sohistoria.com.br/ef2/china/p6.php. História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico Em ambos os exemplos acima, temos que entender que a importância dessas construções está não somente na construção em si, mas na história que está por trás desse patrimônio. Existe o trabalho de um povo, que tinha hábitos, conhecimento, formas de lazer, comidas da época que os sustentavam na sua jornada até a construção e finalização do projeto em si. Portanto, a importância de um patrimônio ser uma atração turística, quando bem conservado e respeitado, aumenta seu valor históricopara a humanidade. 1.2 Atratividade turística do Patrimônio Cultural Desde que o ser humano existe, ele se desloca de um lugar para outro, seja por necessidade ou por vontade, o homem sempre procura se deslocar e viajar. Trata-se de uma expressão utilizada em todas as sociedades e pode ser considerada uma forma de expressão cultural. Toda viagem turística é, na verdade, uma experiência cultural pois o turista entra em contato com uma sociedade, de costumes e culturas diferentes da dele. O que define uma viagem cultural? Pois nem todos viajam com esse intuito. O que atrai uma pessoa para um determinado lugar? Conhecer Machu Picchu, no Peru, ou o Pelourinho, em Salvador, requer planejamento para aproveitar tudo o que o local oferece. É nesse ponto que o patrimônio cultural da cidade, estado ou país se torna uma fonte de renda para muitos daquele local. A atratividade turística se dá quando o local recebe os devidos cuidados do poder público. Essa manutenção e cuidado também requer atenção dos cidadãos do local. Você sabia? Existe na Amazônia um museu vivo na cidade de Manaus. MUSA: Museu da Amazônia, descubra as maravilhas desse lugar histórico que hoje já é um ponto turístico de referência para quem faz eco-turismo. Acesse o site aqui. http://museudaamazonia.org.br/pt/ História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico Seja em uma grande cidade ou no interior, os roteiros turísticos têm um papel estratégico para o desenvolvimento regional, porque descentraliza o fluxo turístico, estimula a visita entre vários pontos e, desta forma, gera negócios para o comércio (bares, restaurantes, pousadas), com impactos positivos na economia. Conhecer o que seu local tem a oferecer com o turismo faz com que você reconheça o valor dos monumentos, festividades locais, músicas, comidas e bebidas típicas. Atualmente, este é um fator determinante para a economia de quem vive do turismo. Para se entender essa questão devemos entender como se originou o interesse por monumentos ou pela cultura diferente da sua. O próximo tema aborda justamente a história da viagem voltada para o conhecimento histórico e cultural. 2. Da Antiguidade ao Grand Tour, o conceito de monumento e monumento histórico As viagens culturais se iniciaram na Europa no apogeu do Renascimento italiano. Foi nesse período que a aristocracia se deslocava pela Europa com destino predestinado muitas vezes para conhecer sítios arqueológicos de cidades europeias consideradas o berço da civilização humana. Para a aristocracia o Grand Tour era como um rito de passagem, que poderia durar meses ou anos. Quando voltava dessa viagem, a pessoa já estava formalmente culta devido ao contato com obras de arte, peças musicais. Para o jornalista e filósofo Andrade: “O Grand Tour, sob o imponente e respeitável rótulo de “viagem de estudo”, assumia o valor de um diploma que lhes conferia significativo status social, embora – na realidade – a programação se fundamenta em grandes passeios de excelente qualidade e repletos de atrativos prazerosos (...). Os ingleses, importantes e ricos, consideravam detentos de cultura apenas quem tivesse sua educação ou formação profissional coroada por um Grand Tour através da Europa (...)” ANDRADE,7 ed. p. 9. História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico Devemos entender que, mesmo que seja para poucos, nessa época o homem já mostrava a importância de se ter conhecimento cultural, ou seja, desde antigamente, a cultura é um dos principais motivos de viagens em todo o mundo. A importância dos monumentos para quem faz uma viagem cultural se explica, pois o monumento é construído por motivos simbólicos ou comemorativos. Ou ainda, são construídos com duplo propósito: comemorar um importante acontecimento, ou homenagear uma pessoa ilustre. Com isso, é criado um objeto artístico que valorizaria o aspecto de uma cidade ou local. “O monumento, em seu momento fundador, portanto, tem a função de memorizar o passado ou de informar sobre o presente. Como mediação da memória ou da história ou, simplesmente, como objeto de estímulo à nossa sensibilidade artística, à nossa fome de arte, ele continua a ser construído e a desempenhar seu papel educador, exaltando o passado ou monumentalizando o presente” (Meneses, 2006, p.32 e 33). Segundo José N. C. Meneses, a construção da ideia de monumento histórico é baseada na valorização da arte, ideia romântica de identidade e revelação dos saberes e fazeres humanos. Com a evolução da indústria (Revolução Industrial), para o homem moderno do século XIX, a percepção da mudança de tempo devia ser cronológica, dando ênfase ao que ocorreu no passado para se apreciar o que ainda virá no futuro. “A dicotomia entre o antigo e o novo, entre o pitoresco e o moderno tem no monumento histórico seu mediador essencial. Se para o homem renascentista a construção da cultura da antiguidade clássica é modelo inspirador para a construção de coisas iguais ou melhores, para o romântico do século XIX, as construções do passado são obras insubstituíveis. Perdê-las seria um dano irreparável para a história da humanidade”. (Meneses, 2006, p.35). Partindo destes conceitos, podemos identificar que, mesmo não sendo tombado, os monumentos agregam um grande valor para a história da humanidade, pois, além de manter firme a memória histórica do lugar em que foi construído, História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico também tem como por si, ser o principal atrativo turístico e motivos para as viagens, sejam elas para fins culturais ou não. 2.1 Viagem e cultura O turismo moderno, assim, emerge, também, de um ambiente romântico de descobertas e de construção de valores que buscam memorizar o passado, lembra-lo, aprendê-lo, guardá-lo, comemorá-lo. Uma complexa origem histórica – Revolução Industrial, Revolução Francesa, Romantismo – enquadra o turismo moderno em um contexto que o faz nascer, essencialmente, como um turismo cultural. A atividade turística assim permanece por muito tempo, e hoje, a despeito de uma setorização maior e mais ampliada, o atrativo artístico-histórico-cultural é, ainda, substrato essencial para o setor turístico. (Meneses, 2006, p.39). A aproximação entre indústria turística e o patrimônio foi anterior à aproximação deste com a memória. A partir de 1964, crescerá a intervenção do Estado brasileiro na cultura e, três anos depois em 1967, o Departamento de Assuntos Culturais da Organização do Estados Americanos (OEA) promoveu um encontro no Equador, do qual resultou um documento assinado pelos países participantes, inclusive o Brasil: a Carta de Quito. (Meneses, 2006, p.18). Essa carta recomendava que os projetos de valorização dos patrimônios fossem parte do plano de desenvolvimento nacional, e que fossem realizados junto com a disponibilidade dos recursos turísticos das regiões envolvidas, e também que houvesse cooperação entre o interesse privado e a opinião pública. Somente a partir de 1980, aumentou-se o número de leis que tratavam da preservação de bens culturais, porém o tombamento continua sendo a forma predominante, mesmo não atendendo a demanda. História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico Com a ação do IPHAN, de acordo com a Carta de Atenas (documento internacional de 1931), passou a proteger monumento de grande valor destacando as obras Barroca que foi considerado a essência da brasilidade na época. A carta de Atenas foi uma grande propulsora para a defesa e criação de patrimônios, pois, ao seguir as orientações que constam nessa carta, o arquiteto, artista ou engenheiro consegue criar uma verdadeira obra de arte. Como exemplo, temos a cidade de Brasília, cujo projetofoi baseado nas orientações que constam na Carta de Atenas e hoje é uma cidade considerada modelo e patrimônio. 2.2. Razões culturais da viagem O turista é definido, contemporaneamente, como alguém que se desloca para fugir do cotidiano em busca de lazer, prazer, conhecimento e contato com ambientes culturais distintos do seu, se distanciando daqueles viajantes do século passado, principalmente quando se considera a questão da busca por lazer. (Meneses, 2006, p.99). Você quer ler? Já ouviu falar no livro Comer, Rezar e Amar? Escrito com ironia, humor e inteligência, o best-seller de Elizabeth Gilbert trata da busca de uma mulher por todas as coisas da vida na Itália, na Índia e na Indonésia. É uma boa oportunidade para conhecer de forma descontraída as culturas desses três países em um único livro. Os viajantes antigos que desbravaram o país ou outras culturas talvez tenham sido, de forma sistemática, os primeiros interpretadores de patrimônio cultural em seus diários de viagens, registrando tudo de forma mais detalhada possível, criando dessa forma, documentos que se tornaram documentos históricos. (Meneses, 2006, p.101). História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico Vista como um processo de adicionar valor à experiência de um lugar, por meio da provisão de informações que realcem a história e suas características culturais e ambientais, a interpretação de um patrimônio constitui a essência de um planejamento turístico que queira ser sustentável. O turismo cultural, no sentido mais amplo, seria aquele que não tem como atrativo principal um recurso natural. As coisas feitas pelo homem constituem a oferta cultural, portanto turismo cultural seria aquele que tem como objetivo conhecer os bens materiais e imateriais produzidos pelo homem (BARRETTO,1998,p.21). 3. Patrimônio Cultural: atratividade da viagem A valorização turística do patrimônio já se mostrará eficiente em outros países e, além disso, possibilita a manipulação de um universo simbólico de considerável importância para o reforço do civismo. A propaganda dos "monumentos históricos", juntamente com a das "festas típicas" e das "belezas naturais", poderia promover aos olhos do mundo, e dos brasileiros, a imagem de um país com tradição e potencialidade para enfrentar o futuro. (Rodrigues, 2001, p.19). No Brasil, a Unesco reconheceu como patrimônios da humanidade os centros históricos de Ouro Preto (1980), Olinda (1982), Salvador (1985), São Luís (1997) e Diamantina (1999); o Parque Nacional da Serra da Capivara (1991); a Costa do Descobrimento (1999); o Santuário de Bom Jesus de Matozinhos (1985); o Plano Piloto de Brasília(1987); as Ruínas de Jesuítico-Guaranis de São Miguel das Missões (1984); a Reserva da Mata Atlântica de São Paulo e Paraná (1999) e o Parque Nacional do Iguaçu (1986). Qualquer turista que visita a Igreja do Carmo, em Diamantina, ouve de guias turísticos da cidade, ou mesmo dos nativos, as diversas versões populares que dão significado à torre da igreja que se funda na torre posterior do edifício, ligando essa História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico ocorrência às vontades da ex-escrava Chica da Silva ou ao artifício dos escravos para chegarem próximo ao altar-mor. (Meneses, 2006, p.84). Imagem 3 - A Torre da Igreja do Carmo, em Diamantina Fonte: (MENESES, 2006, p.87). Mas se engana quem pensa que a visita à igreja ocorre na maioria das vezes pela arquitetura ou pela obra em si. Na verdade, a visita geralmente é em torno das histórias contadas sobre a ex-escrava Chica da Silva, que é um dos atrativos locais. “História, memória, mito e ficção, como se vê, são pilares que fundamentam uma possível interpretação da forra Chica para a fruição do turista”. (Meneses, 2006, p.86). História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico Imagem 4 – A Luxúria Fonte: (MENESES, 2006, p.87) O crescimento dos centros urbanos, a partir do século XIX, e a revitalização das cidades trouxeram um novo olhar sobre as mesmas. O homem não vê mais a cidade apenas como um espaço de concentração de cultura, mas sim como um cenário que mostra e ao mesmo tempo resguarda a memória das mudanças do tempo. A cidade começa a ser vista como construção histórico-cultural e como um patrimônio de seus moradores, ou seja, ela se torna um monumento, um documento construído. A cidade passa a ser mais que espaço físico, sendo a continuidade da cultura local, onde natureza, construção material, símbolos e representações se constroem em diversidade e harmonia. Interpretar o patrimônio das culturas regionais, simples e ricas, rotineiras e diversas e, por outro lado, percebê-lo como potencialmente atrativo para a visitação de turistas torna-se, assim, uma tarefa que envolve responsabilidade e complexidades ampliada. (Meneses, 2006, p.100). O cuidado em se compreender o que é essa continuidade está nos bens culturais que, ao longo da história, são produzidos pelo ser humano. 3.1. A importância dos bens culturais História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico A partir do final da década de 1970, verificou-se a valorização do patrimônio cultural como um fator de memórias das sociedades. Hoje entendemos que, além de servir ao conhecimento do passado, os remanescentes materiais de cultura são testemunhos de experiências vividas, coletiva ou individualmente, e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaço, de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepção de um conjunto de elementos comuns, que fornecem o sentido de grupo e compõem a identidade coletiva. (Rodrigues, 2001, p.17). Dentro dessas afirmações, temos a identificação da importância dos monumentos históricos. Como exemplo dessa importância temos a Catedral de Notre Dame em Paris, que foi construída no Século XII e está localizada no curso do Rio Sena. A Catedral levou em torno de 200 anos para ser construída e em 2019 tragicamente foi atingida por um incêndio. Logo após a tragédia, o poder público se movimentou para iniciar a recuperação da Catedral e também foram dadas doações para que se iniciasse os reparos imediatamente. No Brasil, também tivemos tragédias iguais, com o incêndio do Museu Nacional do Brasil, que destruiu em quase sua totalidade o acervo histórico e científico acumulado ao longo de 200 anos. Para entendermos um pouco o significado disso, vamos separar o que é patrimônio material e patrimônio imaterial: - Patrimônio cultural material O patrimônio material é constituído de bens culturais móveis e imóveis. No primeiro caso, encontram-se aqueles bens que podem ser transportados, tais como os livros e as obras de artes e, no segundo, os bens estáticos, tais como prédios, cidades, ruas etc. Tais patrimônios possuem instrumento específico de proteção: bens móveis (coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos) e bens imóveis (núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais). História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico - Patrimônio cultural imaterial Em 1998, a Conferência Intergovernamental sobre Políticas Culturais para o Desenvolvimento amplia o conceito de “patrimônio” incluindo também os aspectos imateriais herdados ou criados pela sociedade. A Declaração da UNESCO sobre as Peças Mestras do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade de 2001 define por patrimônio cultural imaterial as “práticas, representações e expressões, os conhecimentos e as técnicas que proporcionam às comunidades, grupos e indivíduos um sentimento de identidade e continuidade”; e também integramo conceito a produção material e seus espaços de realização dessas práticas. (Ministério da Cultura, 2010, p.48 a 51) Dadas essas determinações, podemos trazer a conhecimento pontos históricos sobre a evolução desse conceito na história da humanidade. A construção de monumentos faz parte da evolução de uma sociedade, uma forma de deixar o marco do seu pensar, saber e relação social de um povo. Identificar o significado de cada ponto, como veremos a seguir, é de suma importância para a relação entre bem material e imaterial. As sociedades não podem ser tratadas como relíquias, por mais tradicionais que sejam pois não é possível colocá-las em uma redoma para preservarmos a cultura que queremos. Por isso que são necessários investimentos para a manutenção e preservação do patrimônio. Essa preservação deve ser periódica e é fundamental para que o turismo seja constante gerador de renda local sem prejudicar a história e o avanço do lugar. 3.2. Os impactos do Turismo “Como aproveitar as múltiplas possibilidades das representações do passado sem mutilar a memória da sociedade?” (Rodrigues, 2001, p.24). História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico O turismo pode trazer benefícios ou problemas para uma determinada região. A identificação dos impactos permite o direcionamento dos esforços a fim de que os impactos negativos sejam minimizados e os positivos potencializados. Estes impactos podem se verificar nos níveis econômico, social, ambiental e cultural: - Impactos econômicos que se beneficiam com o turismo é o aumento das receitas, geração de emprego e impostos, aumento de investimento local e redistribuição de renda. Porém, existem impactos negativos com o turismo desenfreado, que também devem ser avaliados, pois, gerando mais renda em uma comunidade de economia frágil, se aumenta a pressão inflacionária, especulação imobiliária (em casos até de perda de imóveis pois famílias mais pobres) que leva a expulsão econômica dos habitantes mais pobres ou até mesmo agricultores deixarem suas atividades para buscarem rendimentos no turismo, pode levar ao desemprego de uma parte da população que depende dessa atividade. - Impactos físicos-ambientais podem ser beneficiados com as medidas de conservação, restauração e a preservação de edifícios e lugares históricos; e também pelo planejamento de iniciativas com o objetivo de manter e controlar a qualidade ambiental. Sendo bem trabalhadas essas medidas o turismo tem impacto positivo em uma região. Porém toda atividade econômica implica em utilização de recursos naturais e muitas vezes não existe o devido aproveitamento do local sem que ele seja afetado. A exemplo disso temos o aumento de comércios, hotéis muitas vezes não se integram com a paisagem local, o que sobrepõe com edifícios arquitetônicos diferentes da região. Ou até mesmo a poluição do solo ou da água, erosões causadas pelos esportes desportivos e até mesmo a pesca ou caça que podem também contribuir para destruir a flora e a fauna. - Impactos socioculturais se dá justamente devido a interação turistas e nativos de uma região. As mudanças podem ser positivas quanto negativas pois se de um lado temos o benefício de ter melhorias na infraestrutura do local, para melhor receber o turista, também existe a possibilidade de nestas interações a cultura local mudar aos História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico poucos para se moldar aos turistas. Mudanças de atitude dos moradores no seu comportamento ou no até mesmo suas festas e atrações serem voltadas apenas para o turismo, deixando de lado o fator mais importante que é a manutenção da cultura do local. Para que seja mantido os devidos cuidados e recursos para a manutenção de um patrimônio cultural, são necessários órgãos especializados que deliberam e façam os devidos planejamentos e orientações para que se preserve um bem cultural, um monumento e patrimônio histórico. No Brasil temos o SPHAN conforme veremos a seguir. 4. O patrimônio histórico e artístico e a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) Quando a Corte portuguesa chegou ao Brasil, foram criados lugares de memórias: a Biblioteca Nacional e o Museu Nacional, que depois da independência reforçou o censo de nacionalidade brasileira. Em 1838 foi criado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o Arquivo Nacional que era responsável por manutenção e criação da história nacional. Você quer ver? Saiba um pouco mais sobre como o Brasil cuida dos nossos patrimônios culturais. Clique aqui e assista. https://www.youtube.com/watch?v=PtE4cROLSpI História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico Mas a preocupação com o patrimônio histórico foi bem depois, a partir de 1910, pois o país passou por uma crise de identidade. Como nesse período o Brasil possuía muitos imigrantes, foi identificado nas expedições pelo Brasil por Oswaldo Cruz que os imigrantes eram ensinados nas escolas através de sua língua materna. Isso causou preocupação pois devidos as disputas da época houve a preocupação em se perder a unidade brasileira e manter a preservação da cultura brasileira, aumentar o crescimento do nacionalismo e valorizar a arte sacra no mercado internacional. A partir de 1920, intelectuais como Mário de Andrade, do arquiteto Lúcio Costa, através da produção de seus trabalhos, buscaram a valorização do que era brasileiro, portanto, foi apresentado após a constatação desses trabalhos, projetos de lei para a criação de órgão de proteção ao patrimônio. Foi no conjunto dos esforços realizados, em especial o dos intelectuais modernistas, de conhecer, compreender e recriar o Brasil, que se desenvolveu a ideia de proteção ao patrimônio. Ela se efetivou no governo de Getúlio Vargas (1939-1945) que, ao consagrar pelo Decreto nº 22.928, de 12 de julho de 1933, Ouro Preto como “monumento nacional”, demonstrou conhecer o potencial simbólico dos bens culturais. (Rodrigues, 2001, p.20). Em 30 de novembro de 1937, Vargas assinou o Decreto-lei nº 25, que teve por base o anteprojeto de Mário de Andrade, criando o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), primeiro órgão federal dedicado à preservação. (Rodrigues, 2001, p.20). O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) foi a primeira denominação do órgão federal de proteção ao patrimônio cultural brasileiro, hoje Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Este órgão é responsável por “promover em todo País de modo permanente, o tombamento, a conservação, o enriquecimento e o conhecimento do patrimônio histórico e artístico nacional” (BRASIL, 1937, art. 46) Em um primeiro momento, o SPHAN teve em sua estrutura apenas um representante (não sendo definido um regimento interno), mas a partir de 1946, a História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico instituição passa a ter um regimento interno, uma Diretoria, e os cargos técnicos foram assumidos, em sua maioria por intelectuais modernistas como Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Paulo Thedim Barreto, Alcides Rocha Miranda, Gilberto Freyre e Godofredo Rebelo de Figueiredo Filho. Essa instituição teve como função, a preservação do patrimônio nacional brasileiro que hoje conhecemos e que ainda geram grandes preocupações pois estamos constantemente em evolução e são necessários recursos para as devidas conservações. 4.1 Brasil: preocupações com a preservação do Patrimônio Cultural “Assim, acreditamos que preservar o patrimônio cultural – objetos, documentos escritos, traçados urbanos, área naturais, paisagens ou edificações – é garantir que a sociedade tenha maiores oportunidades de perceber a si própria.” (Rodrigues, 2001,p.17). Imagem 5 – Estação da Luz Fonte - (BRASILEIRO, 2017) – Disponível em: http://www.ung.br/noticias/patrimonios-historicos-sao- fundamentais-para-cidades-e-o-turismo. História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico São poucos os recursos e incentivos que são oferecidos pelo poder público hoje, para a conservação de bens tombados. O custos são altos para a manutenção de bens mais antigos e, portanto, gera um desgaste que muitas vezes é fatal para o devido bem. Como exemplo, no Brasil mesmo, já houve 3 tragédias que culminaram com a perda de muitas obras de arte e de valor inestimável, não somente aos brasileiros, mas também ao mundo. Os incêndios mais recentes foram no Museu da Língua Portuguesa em 2015, Cinemateca Brasileira em 2016, Museu Nacional do Rio de Janeiro em 2018. A saúde financeira dos bens patrimoniais devem ser constantemente revista e analisada, com seriedade, pois sem essa manutenção perdemos uma memória física da história. É necessária uma administração séria, investimento em projetos de turismo para alavancar as finanças para não termos mais desastres dessa magnitude. Imagem 6 – Museu Nacional do Rio de Janeiro Fonte: (CARNEIRO; MACHADO, 2018) – Imagem. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45391771. Síntese Ao estudarmos de modo simples, já é possível compreender o quão importante é a preservação de nossas memórias. O que a grande maioria não conhece, é a dificuldade de se proteger um bem em prol de mantermos a história viva e visível para as futuras gerações. A existência de entidades que buscam a conservação desses patrimônios, se deve a luta constante e incansável filósofos, historiadores e de estudiosos que, com História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico seus trabalhos e projetos, visam a manutenção e criação de conhecimento sobre cultura, de forma que seja disponível a toda a população. Hoje ainda temos grande dificuldade de preservarmos nossos monumentos pois o consumo desenfreado, não nos permite para pensar na importância desse situação. A pessoa viaja, faz fotos, porém dificilmente interage de forma profunda com a cultura local pois, com a vida corrida que temos hoje o importante é aproveitar o momento e não nos aprofundarmos no conhecimento que esse momento pode nos trazer. É necessário compreender os projetos de recuperação, entender como funciona a distribuição entre as entidades, conhecê-las para saber como cobrar do poder público a conservação de nossos bens. Em parte, a população, quando bem informada e orientada pode também auxiliar neste processo. Pessoas conscientes de seus valores, buscam mais representatividade e por isso, quanto mais essa população se identificar com o local em que vive, sentirá orgulho do mesmo e o protegerá, seja com ações ou cobrando as devidas instituições. Nesta unidade, foi possível, de forma sucinta ensinar sobre: • Conceitos e teoria de Cultura e Patrimônio Cultural e sua História • Identificar elementos constitutivos de um Monumento tombado. • Entender o que é Patrimônio Cultural Material e Imaterial. • Entender o conceito de patrimonialização dos bens culturais. • Perceber e identificar os impactos do turismo e a importância da preservação do Patrimônio e da Cultura de uma localidade; • Entender e buscar conhecer sua própria cultura como parte de sua história • Compreender o conceito de Patrimônio Histórico, Artístico e Arqueológico no Brasil. História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico Bibliografia FUNARI, Pedro Paulo e PINSKY, Jaime (orgs). Turismo e Patrimônio Cultural. SP: Contexto, 2007. Disponível em: Biblioteca Virtual de Consulta; Universidade Anhembi Morumbi. MENESES, José Newton Coelho. História & turismo cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. Disponível em: Biblioteca Virtual de Consulta; Universidade Anhembi Morumbi. VARGAS, Heliana Comin; CASTILHO, Ana Luisa Howard (Orgs.). Intervenções em centros urbanos Objetivos, estratégias e resultados. 2ª edição. Manole: Barueri-SP, 2009. Disponível em: Biblioteca Virtual de Consulta; Universidade Anhembi Morumbi. Bibliografia Complementar CAMARGO, L.O.L. Hospitalidade. São Paulo: ALEPH, 2004. Disponível em: Biblioteca Virtual de Consulta; Universidade Anhembi Morumbi. PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. São Paulo: Contexto, 2007. Disponível em: Biblioteca Virtual de Consulta; Universidade Anhembi Morumbi. PINSKY, C. B.; LUCA, T. R. (org.) O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009. Disponível em: Biblioteca Virtual de Consulta; Universidade Anhembi Morumbi. LASHLEY, Conrad e MORRISON, Alison (orgs.). Em busca da hospitalidade: perspectivas de um mundo globalizado. São Paulo: Manole, 2004. Disponível em: Biblioteca Virtual de Consulta; Universidade Anhembi Morumbi. MARCHETTE, T.D. Educação Patrimonial e políticas públicas de preservação no Brasil. Curitiba: InterSaberes, 2016. Disponível em: Biblioteca Virtual de Consulta; Universidade Anhembi Morumbi. SEIDEL, Mattias, SCHULZ, Regine. Egipto: arte e arquitectura, Dinalivro, 2006, Alemanha Antes das Pirâmides, Christopher Knight e Alan Butler http://www.lojasobrenatural.com.br/produto/detalhar/4213/antes_das_piramides http://www.lojasobrenatural.com.br/produto/detalhar/4213/antes_das_piramides http://www.lojasobrenatural.com.br/produto/detalhar/4213/antes_das_piramides História e Patrimônio - Unidade 1 - Concepção do Patrimônio Cultural e Monumento Histórico LOVELL, Julia. THE GREAT WALL. In: LOVELL, Julia. GRANDE MURALHA: A CHINA CONTRA O MUNDO - 100...D.C. [S. l.]: Record, 2006. PATRIMÔNIO CULTURAL: O QUE É?. Alagoas, 2019. 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