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1 Aleitamento Materno DESAFIO PARA O PROFISSIONAL DE SAÚDE: →Amamentar é muito mais que alimentar a criança. Envolve interação complexa, multifatorial, entre duas pessoas, que interfere no estado nutricional da criança, em sua habilidade de se defender de infecções, em sua fisiologia, no seu desenvolvimento cognitivo e emocional e em sua saúde no longo prazo. Envolve também aspectos relacionados à saúde física e psíquica da mãe. *Alimenta para o futuro. ATRIBUTOS DO PROFISSIONAL: Atitude; Conhecimento; Habilidades – competência técnica. ATITUDE: →Acolhimento Postura do profissional: Ser empático Aceitar os sentimentos do outro Não julgar Elogiar Ouvir -Visão ampliada do AM Não exagerar no volume de informações; Aconselhar – não dizer o que a mãe deve fazer; ajudá-la a tomar decisões. *Aconselhar, mas não determinar/impor. CONHECIMENTO: • Importância da amamentação • Recomendações atuais • Anatomia e fisiologia da lactação • Características do leite materno • Técnica da amamentação • Desmame FATORES COMUMENTE ASSOCIADOS COM MENOR DURAÇÃO DO AME: Primigesta – inexperiência; Uso de chupeta – confusão de bicos; Prematuridade e/ou baixo peso ao nascimento – reflexo da sucção/dificuldade para sugar; Gemelaridade; Experiência prévia desfavorável com amamentação; Menor escolaridade materna; Trabalho materno fora de casa; Falta de informação adequada; Mães adolescentes. BENEFÍCIOS DO AME – RN: • Reduz a mortalidade em crianças menores de 5 anos; • Reduz a incidência e a gravidade de infecções como diarreia e infecções respiratórias; • Reduz a morbidade por otite média aguda, rinite alérgica, asma e sibilância; • Reduz a probabilidade de sobrepeso/obesidade, diabetes tipo 1 e 2 e leucemia; • Promove o desenvolvimento orofacial adequado, reduzindo a probabilidade de mal oclusão dental, problemas na mastigação e deglutição, e respiração oral; • Promove o desenvolvimento cognitivo; • Promove uma microbiota intestinal saudável, com reflexos positivos em diversos órgãos, inclusive o cérebro. BENEFÍCIOS DO AME- MULHER: • Aumenta o período de amenorreia lactacional; • Reduz a probabilidade de câncer de mama, ovário e endométrio, diabetes tipo 2 e depressão pós-parto; PARA A FAMÍLIA: 2 Aleitamento Materno • Reduz gastos da família com a compra dos “substitutos” do leite materno, doenças da criança e falta dos pais ao trabalho; • Promove o vínculo afetivo mãe-filho, com reflexos positivos para toda a família. *Leite de vaca no primeiro ano não é indicado. PARA O ESTADO: • Reduz os gastos com fórmulas infantis nas maternidades; • Reduz os gastos associados a doenças da criança: consultas, medicamentos, internações, absenteísmo dos pais no trabalho. PARA O MEIO AMBIENTE: • Protege o meio ambiente: o leite materno é um alimento natural, sustentável, produzido e levado ao consumidor sem desperdício, desmatamento, efeito estufa, poluição do ar e das águas e produção de lixo. SBP – DEZ PASSOS PARA O PEDIATRA FAZER A DIFERENÇA NO ALEITAMENTO MATERNO: -Mês de agosto – agosto dourado. Passo 1: →Reconhecer que o aleitamento materno é a melhor forma de alimentação da criança pequena, sendo inigualável. Todas as evidências científicas apontam para a superioridade do leite materno sobre qualquer outro leite. O leite humano é uma substância viva, “personalizada”, que nutre e protege a criança contra doenças; e o ato de amamentar promove o vínculo afetivo entre mãe e filho. Passo 2: →Ter uma visão ampliada do aleitamento materno, acreditando que amamentar é muito mais que alimentar a criança. →A amamentação deve ser vista como um processo inserido em um contexto, em que atuam diferentes fatores de ordem estrutural (socioculturais e mercadológicos), ambiental (sistema e serviços de saúde, família e comunidade, e trabalho materno) e individual (atributos da mãe e da criança e a relação entre elas), exercendo diferentes níveis de influência. Passo 3: →Praticar o aconselhamento em todas as consultas envolvendo o aleitamento materno, auxiliando mulheres e famílias a tomarem decisões informadas. →O aconselhamento em aleitamento materno (que não significa dar conselhos) favorece uma boa comunicação, indispensável para um atendimento eficiente. São técnicas utilizadas no aconselhamento, entre outras: ouvir muito, mostrar empatia, não julgar, aceitar e respeitar os sentimentos e opiniões de outros, dar sugestões em vez de ordens e elogiar. Passo 4: • Respeitar e apoiar as opções das mulheres; • Cabe à mulher tomar as suas decisões; cabe ao profissional empondera-la, fornecendo elementos para que ela adote as melhores opções. As decisões devem ser respeitadas e apoiadas, inclusive às relacionadas ao desmame. Passo 5: →Acolher e confortar as mulheres que, por alguma razão, não amamentam ou amamentam menos do que o recomendado. →Em vez de serem julgadas, essas mulheres merecem ser compreendidas e confortadas, para que continuem exercendo a maternidade da melhor forma possível. Manter-se atualizado, adotando práticas baseadas nas melhores evidências científicas disponíveis. O avanço científico sobre vários aspectos do aleitamento materno fez com que muitas práticas adotadas por muito tempo se tornassem obsoletas. É dever do pediatra manter-se atualizado para exercitar as boas práticas vigentes. Passo 6: →Manter-se atualizado, adotando práticas baseadas nas melhores evidências científicas disponíveis. →O avanço científico sobre vários aspectos do aleitamento materno fez com que muitas práticas adotadas por muito tempo se tornassem obsoletas. É dever do pediatra manter-se atualizado para exercitar as boas práticas vigentes. Passo 7: →Ter habilidades clínicas necessárias para apoiar as mulheres nas dificuldades relacionadas à amamentação; →Além de conhecimento sobre anatomia e fisiologia da lactação e fisiopatologia das doenças relacionadas a esse processo, é preciso ter habilidades específicas para poder apoiar uma mulher com dificuldades na amamentação. Por exemplo, saber observar uma mamada para verificar se a técnica está adequada, saber avaliar o frênulo lingual de um recém-nascido e saber extrair manualmente o leite da mama. Passo 8: Adotar as boas práticas hospitalares em amamentação, compatíveis com os “Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento Materno” da Iniciativa Hospital Amigo da Criança. O início da amamentação na maternidade é muito importante para o seu sucesso. O uso de fórmulas infantis nesse período deve ser muito criterioso, pois afeta negativamente a amamentação. Mesmo que o hospital não seja credenciado na Iniciativa Hospital Amigo da Criança, cabe ao pediatra atuar de acordo com os Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento Materno, ou seja: auxiliar no treinamento de toda a equipe de cuidados de saúde, capacitando-a para executar as rotinas que favorecem a amamentação; ajudar as mães a fazer o contato pele a pele com o seu recém-nascido e iniciar o aleitamento materno na primeira hora após o nascimento; Mostrar às mães como amamentar e como manter a lactação, mesmo se vierem a ser separadas de seus filhos; não prescrever a recém-nascidos nenhum outro alimento ou bebida além do leite materno, a 3 Aleitamento Materno não ser que tal procedimento tenha indicação médica; incentivar o alojamento conjunto, permitindo que mães e bebês permaneçam juntos 24 horas por dia; encorajar o aleitamento materno sob livre demanda *não existe berçário, o bebê fica junto da mãe, para facilitar o aleitamento materno, que deve ser de livre demanda; não dar bicos artificiais ou chupetas a crianças amamentadas *copinho; e, encorajar o estabelecimento de grupos de apoio ao aleitamento, para onde as mães deverão ser encaminhadas por ocasião da alta, no hospital ou ambulatório. →Leite ordenhado: pode ser armazenado na geladeira 24h, pode ser congelado durante 15 dias; na hora deoferecer à criança, aquecer em banho maria, não devendo colocar no micro-ondas, nem ferver. -Banco de leite – pasteurizado. Passo 9: →Conhecer e cumprir a Lei Nº 11.265/NBCAL, que protege a amamentação contra o marketing abusivo dos “substitutos” do leite materno, e outras leis de proteção da amamentação. →Existem várias leis no Brasil que, direta ou indiretamente, protegem a amamentação. • Estabilidade de emprego, desde a concepção até a criança completar 5 meses de idade. • Licença-maternidade de 120 dias para todas as trabalhadoras, e expandida para 6 meses para servidoras públicas federais (optativa para servidoras estaduais e municipais) e trabalhadoras de empresas do setor privado que fazem parte do “Empresa Cidadã”. • Licença-paternidade de 5 dias para todos os pais, e expandida para 20 dias para servidores públicos federais e trabalhadores de empresas do setor privado que fazem parte do “Empresa Cidadã”. • Garantia de local/creche para deixar seu filho para trabalhadoras de empresas com mais de 30 mulheres com mais de 16 anos. • Dois intervalos de 30 minutos no seu horário de trabalho até 6 meses após o parto. Esse período poderá ser dilatado mediante justificativa médica relacionada à saúde da criança. • Salas de apoio à amamentação no local de trabalho, o que é facultativo. • Lei nº 11.265/2006, também conhecida como NBCAL (Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras), que regula a promoção comercial e a rotulagem de alimentos e produtos destinados a recém nascidos e crianças até 3 anos de idade, como leites, papinhas, bicos, chupetas e mamadeiras. • É um importante instrumento de controle da publicidade indiscriminada dos alimentos e produtos de puericultura que podem interferir negativamente na amamentação. Atualmente, é composta pelos seguintes atos normativos: Portaria MS no. 2051, de 8/11/2001, Resolução RDC no. 221, de 5/08/2002, Resolução RDC no. 222, de 08/2002, Lei no.11.265, de 3/01/2006, e Decreto no. 9.579, de 22/11/2018. →Essa lei proíbe: 1. promoção comercial em qualquer meio de comunicação, incluindo merchandising, divulgação por meios eletrônicos, escritos, auditivos e visuais; 2. estratégias de marketing para induzir vendas ao consumidor no varejo, tais como exposições especiais, cupons de descontos, preços abaixo dos custos, destaque de preço, prêmios, brindes, vendas vinculadas e apresentações especiais; 3. atuação de representantes comerciais nas unidades de saúde, salvo para a comunicação de aspectos técnico-científicos dos produtos aos pediatras e nutricionistas; 4. fornecimento de amostra (uma unidade), exceto por ocasião do lançamento do produto, e apenas a pediatras e nutricionistas; 5. distribuição de amostras de mamadeiras, bicos, chupetas e suplementos nutricionais indicados para recém-nascidos de alto risco, sem exceção; 6. conceder patrocínios financeiros e/ou materiais a pessoas físicas. Passo 10: • Acreditar que a amamentação é um processo que precisa ser compartilhado, valorizando a rede de apoio da mulher (família, trabalho, profissionais de saúde etc.). • A rede de apoio é fundamental para o sucesso do aleitamento materno. Fazem parte da rede de apoio: a família ou pessoas que convivem com a família, compartilhando as tarefas domésticas e cuidando da saúde física e mental da mulher; os profissionais de saúde; o chefe e os colegas de trabalho ou escola; os profissionais das creches; o Estado, propondo e implementando leis que protegem a amamentação. →O aleitamento materno é responsabilidade de todos. RECOMENDAÇÃO ATUAL: →O aleitamento materno (AM): é fundamental, pois atende às necessidades nutricionais, metabólicas e imunológicas do bebê →Recomendações do Ministério da Saúde e da OMS são: AME até 6 meses de vida, AMC após 6 meses e mantendo o AM até os 2 anos de idade. TERMINOLOGIAS: ➢ AME: aleitamento materno exclusivo; 4 Aleitamento Materno ➢ AMP: aleitamento materno predominante (+ água, chá, fórmula); ➢ AMC: aleitamento materno complementar (+ água, frutas, papinha salgada); ➢ AMM: aleitamento materno misto ou parcial (+ fórmula ou outros leites). FISIOPATOLOGIA DA LACTAÇÃO: • A produção de leite materno decorre de complexa interação neuro-psico-endócrina; • O que promove produção láctea é a sucção; • Terminações nervosas alveolares levam estímulos para a adeno-hipófise que secreta prolactina, que atuará nas células alveolares mamárias produzindo o leite; • A ocitocina liberada na hipófise posterior em vigência do estimulo de sucção é responsável pelo reflexo de descida do leite. *Os ductos ficam localizados na aréola, por isso é importante quando o bebê estiver sugando, ele abocanhar toda a aréola, para comprimir os ductos, para que esse leite seja ejetado. -As células alveolares são “abraçadas” pelas células mioepiteliais. A ocitocina faz com que as células mioepiteliais se contraiam e essa contração aperta o alvéolo, fazendo com que o leite seja ejetado. A PRODUÇÃO DE LEITE MATERNO DEPENDE DE: →Níveis hormonais adequados. ➢ PROLACTINA – produzida pela hipófise anterior. ➢ OCITOCINA – produzida pela hipófise posterior. →Esvaziamento completo ou adequado das mamas. *Importante quando a mãe volta trabalhar que, a cada 3h, ela vá ordenhar leite, esse leite é armazenado em um local próprio e depois transportado em um recipiente térmico, para que essa produção se mantenha. PROLACTINA: Os níveis sobem cerca de 20 minutos após o início da sucção do bebê, levando à produção de leite para a próxima mamada; Os níveis devem ser mantidos altos para que os alvéolos produzam leite. →A prolactina inibe a ovulação, por isso a mulher que amamenta apresenta esse efeito anticoncepcional. →Prolactina é mais produzida no período noturno, por isso à noite as mães têm mais leite. 5 Aleitamento Materno →Contração das células mioepiteliais e contração do útero. *Diminui a hemorragia pós parto. Quando está amamentando sente uma cólica, que é a ocitocina agindo no útero/contraindo. REFLEXO DE EJEÇÃO OU DESCIDA DE LEITE: →A ocitocina contrai as células ao redor dos alvéolos e faz o leite descer pelos ductos até os seios lactíferos, onde ficará armazenado. Fatores que podem inibir a liberação de ocitocina: • Dor, estresse; • Dúvida, vergonha ou ansiedade; • Nicotina, álcool e alguns medicamentos. Fatores que podem estimular a liberação de ocitocina: • Relaxar e acomodar-se confortavelmente para amamentar; • Evitar situações embaraçosas ou estressantes durante a mamada; • Realizar expressão de um pouco de leite, estimulando suavemente o mamilo; • Massagear a parte superior das costas. FISIOLOGIA DA LACTAÇÃO: →Lactogênese I (metade da gravidez até 2 dias pós- parto): • Início da síntese do leite; • Diferenciação das células alveolares em secretoras; • Prolactina estimula a produção de leite. →Lactogênese II (dias 3 a 8 pós-parto): • Início da produção abundante de leite; • Mudança do controle endócrino para autócrino – a produção depende da sucção. →Galactopoese (dia 9 até o final da lactação): • Manutenção da secreção do leite; • Controle por sistema autócrino (produção-demanda). COMPOSIÇÃO: -Leite materno: é um fluido biológico complexo, dinâmico, espécie-específico, adaptado para satisfazer às necessidades nutricionais, garantir o crescimento e desenvolvimento adequado de seres humanos em curto e longo prazo. -O leite materno não é uniforme em sua constituição. Cada mãe produz um leite especial para seu filho. -O conteúdo de gordura é maior no final da mamada, sendo fundamental para o ganho calórico do lactente. O leite posterior é 2-3x mais rico em lipídeos que o leite anterior permitindo que o lactente fique mais saciado, aumente o intervalo entre as mamadas e chore menos *por isso, orienta-se que aoamamentar, deve-se deixar o máximo de tempo possível em uma mama, p/ depois passar para outra – vai estar oferecendo dessa forma o primeiro leite que é o anterior (que se acumulou de uma mamada para outra) e o segundo leite, que é o que vai dar saciedade, que faz com que o recém-nascido ganhe peso. -Isto também acontece no decorrer do dia: à tarde e à noite o teor de gordura é maior do que pela manhã. -Depende da fase de lactação, da dieta materna, idade do bebê, idade gestacional, idade materna e estado nutricional materno. FASES DA LACTAÇÃO: →COLOSTRO →LEITE DE TRANSIÇÃO (7 a 21 dias) →LEITE MADURO COLOSTRO: ✓ Secretado nos 1º - 5º dias após o parto; ✓ Valor energético: 67-70Kcal/100ml (leite maduro); ✓ Composição: em relação ao leite maduro apresenta maior conteúdo de eletrólitos, proteínas, vitaminas lipossolúveis (vit. A dá coloração amarelada), minerais e imunoglobulinas (IgA, lactoferrina), por outro lado possui menos gordura, lactose e vitaminas hidrossolúveis que o leite maduro; ✓ Basicamente é um exsudato plasmático; ✓ Facilita a eliminação do mecônio; ✓ Nos 1º dias de vida e facilita a proliferação de lactobacilos bífidus intestinais ✓ Produzido pela glândula mamaria nos primeiros dias após o parto; ✓ Comparado ao leite maduro, possui maior concentração de proteínas, minerais e vitaminas lipossolúveis. Maior quantidade de IGA, oligossacarídeos, citocinas, lactoferrina e outros fatores antibacterianos; ✓ Rico em fatores de crescimento que estimulam o amadurecimento do sistema digestivo do lactente. 6 Aleitamento Materno LEITE DE TRANSIÇÃO: →Produzido aproximadamente do 6º dia até a segunda semana após o parto. LEITE DE MADURO: • Produzido a partir da segunda quinzena pós-parto. • Maior quantidade de lipídios e lactose e menor de proteínas. • O leite anterior é ralo e doce (solução), ocorrendo predomínio de proteínas do soro e lactose. No meio da mamada é maior a quantidade de caseína (suspensão). O leite posterior tem grande quantidade de gordura (emulsão). MACRO E MICRONUTRIENTES DO LEITE HUMANO: ✓ Proteínas; ✓ Carboidratos; ✓ Lactose; ✓ Oligossacarídeos; ✓ Galactose; ✓ LF pufas; ✓ Minerais e vitaminas; ✓ Cálcio e fósforo; ✓ Vitamina D; ✓ Micronutriente – ferro, zinco, taurina. *A proteína que prevalece no leite de vaca é a caseína, já a proteína que prevalece no leite humano é a proteína do soro → lactoalbumina. A lactoglobulina, presente no leite de vaca, mas não no leite humano, é a proteína envolvida nos processos alérgicos. No leite humano tem ainda a lisozima, não presente no leite de vaca, e a lactoferrina – importantes na imunidade. FATORES PROTETORES DO LEITE MATERNO: Oligossacarídeos: ➢ São encontrados mais de 200 oligossacarídeos; ➢ Alimenta a microbiota (bifidobactérias); ➢ Estimulam as células intestinais a produzir proteínas que “selam” o intestino e anti-inflamatórios que calibram o sistema imunológico; ➢ Protegem contra bactérias patológicas; ➢ Liberam metabólitos que nutrem a célula intestinal; ➢ B. infantis faz parte do leite humano, embora não seja fabricado pela mama (David Mills); ➢ Está implicado no desenvolvimento cerebral. *O leite materno é insubstituível. IGA secretória: ➢ Não é digerida pelas secreções gástricas e intestinais, portanto não é absorvida. Atua contra patógenos os quais a mãe é exposta. Reveste a mucosa intestinal impedindo a agressão por bactérias, toxinas e antígenos estranhos. É uma imunidade natural passiva. Lisozima: ➢ É produzida por macrófagos e neutrófilos e age através da lise da parede celular de bactérias Gram - e +. Lactoferrina: ➢ É uma proteína carreadora de ferro que, por quelação, diminui a biodisponibilidade de ferro para os patógenos e aumenta para o RN. Lactobacilos bifidus: ➢ Fator bífido: é um carboidrato nitrogenado, substrato para o crescimento do Lactobacillus bífidus, bacilos anaeróbios que compõem a microbiota intestinal, presente em crianças em AME. São flora saprófita que impede a proliferação de microrganismos patogênicos. BIOQUÍMICA DO LEITE MATERNO: ✓ A concentração proteica <LV, o que é adequado para o crescimento normal do lactente e não provoca sobrecarga renal; ✓ A relação caseína/proteínas do soro do LV é cerca de 80/20, ocorrendo a formação de um coalho mais duro, dificultando a digestão e aumentando o tempo de esvaziamento gástrico *sensação de que o leite de vaca sustenta porque a criança mama e demora a querer mamar de novo, porque a digestibilidade é mais lenta; ✓ O LM > digestibilidade, pois tem lipase ativada com os sais biliares no duodeno; ✓ A proteína do soro com maior concentração no LM é a alfa-lactoalbumina humana, com potencial alergênico praticamente nulo (LV é beta- lactoalbumina); ✓ Contém ácidos graxos de cadeia longa que têm ação primordial no desenvolvimento neuropsicomotor e na formação da retina; 7 Aleitamento Materno ✓ A lactose é o principal CHO do LM que por hidrólise fornece glicose e galactose, importante para formação dos cerebrosídeos; ✓ A < concentração de sódio no LM impede sobrecarga renal e diminui o risco de desidratação hipertônica frente a qualquer tipo de agravo; ✓ O ferro está em baixa concentração em ambos os leites, mas a biodisponibilidade do ferro do LM alcança 50%, sendo apenas 10% do ferro do LV absorvido. PREPARO DA MAMA PARA AMAMENTAÇÃO: →Evitar sabonetes nos mamilos para evitar rachaduras e retirada da oleosidade natural da pele ainda no pré- natal; →Expor a mama ao sol pode diminuir a sensibilidade do mamilo; →Para mamilos planos ou invertidos, um orifício no sutiã, durante o terceiro trimestre, facilita a protusão. TIPOS DE MAMILO: • Mamilos protuso – saliente, apresenta delimitação marcante entre mamilo e mama; • Mamilo invertido ou umbilicado – malformado, após o estímulo não se exterioriza; • Mamilo pseudo-invertido – quando estimulado é exteriorizado possibilitando a amamentação; • Mamilo Plano/semi-protuso – pouco saliente e não há delimitação precisa entre mamilo e aréola. PONTOS CHAVES DA AMAMENTAÇÃO: SINAIS INDICATIVOS DE TÉCNICA INADEQUADA: ➢ Bochechas encovadas em cada sucção; ➢ Ruídos da língua; ➢ Mamas aparentando estar esticadas ou deformadas durante a mamada; ➢ Mamilos com estrias vermelhas ou áreas esbranquiçadas ou achatadas quando o bebê solta a mama; ➢ Dor na amamentação (nos primeiros dias, é comum ter dor, mas depois quando a mãe continua tendo dor, é sinal de que está havendo alguma complicação). PEGA ADEQUADA: -Bebê abocanha além do mamilo parte da aréola (pressão nos ductos lactíferos); -Pode-se observar mais aréola acima do que abaixo da boca do bebê; -Lábios do bebê evertidos – boca de peixe; -O mamilo e parte da aréola são comprimidos e alongados pela língua e levados até a região do palato duro; -A língua eleva suas bordas provocando um vedamento e formando um canal central (canolamento); -Queixo encosta na mama. REFLEXO DA BUSCA E APREENSÃO: -O recém-nascido apresenta os reflexos da sobrevivência. Não é a mãe que vai no bebê, é o bebê que vem na mãe. →Quando encosta próximo ao lábio, abocanha. 8 Aleitamento Materno REFLEXO DA SUCÇÃO: →Quando algo toca em seu palato suga. REFLEXO DA DEGLUTIÇÃ0: →Quando o leite está em sua boca, engole. POSIÇÕES DE AMAMENTAÇÃO: Errado. Certo. 9 Aleitamento Materno TÉCNICA INADEQUADA: Dor; Ingurgitamento mamário; Fissura mamária; Mastite; Baixo ganho ponderal; Diminuição da produção de leite; Desmame precoce. *Pega incorreta e posição incorreta → levam ao desmame precoce. DOR NA AMAMENTAÇÃO: Muito frequente na 1º semana (79%); Persistente/aumentada após a 1ºsem. Anormal; Importante causa de desmame precoce; Frequente razão de busca de ajuda no AM; Experiência sensorial e emocional desagradável; Efeitos para além do AM (MUDANÇA DE HUMOR,ALTERAÇÃO DE SONO, INTERFERÊNCIA COM ATIVIDADES DIÁRIAS E DEPRESSÃO); Deve-se identificar a causa, gerenciar a dor e acelerar a cura. INGURGITAMENTO MAMÁRIO: • Congestão vascular + quantidade de leite retido na mama – quando não consegue extrair todo o leite produzido; • Clínica: mamas quentes, dolorosas, brilhantes e pode ocorrer febre; • Orientações: massagem e ordenha, compressas frias; • Fatores causais: má posição, higiene desnecessária e principalmente da técnica incorreta de sucção. • Intumescimento das mamas na fase da lactogêne II – ativação secretória; • Maior volume de LM produzido que o demandado pelo bebê; • Estase láctea e /ou edema; • Dificuldade nas mamadas • Dor; • Febre baixa na nutriz. “Peito empedrado”. Fatores de risco: Início tardio do AM; Pega incorreta; Mamadas pouco frequentes; Ausência de mamadas noturnas; Curta duração das mamadas; Excesso de fluidos EV. FISSURA MAMÁRIA: Prevenção: • Boa pega e posicionamento ao seio adequado; • Exposição dos mamilos ao sol; • Aumentar frequência das mamadas. MASTITE: • Processo inflamatório de um ou mais segmentos da mama; • Mastite infecciosa: Staphylococcus aureus. *Antibiótico. ABSCESSO MAMÁRIO: -Evolução da mastite. *Não pode amamentar durante este processo infeccioso ativo. PATOLOGIAS MATERNAS E AM: 10 Aleitamento Materno ➢ HANSENÍASE: LM adiado em mães com hanseníase virchowiana (em que há transmissão do bacilo pelo LM), Mães não tratadas ou tratadas c/<3 m com sulfona. ➢ HERPES SIMPLES: LM adiado se vesículas na mama, se apenas nos lábios indicado uso de máscara. ➢ VARICELA: se início 5 dias antes do parto ou até 2 dias depois deverão ser isoladas do RN durante a fase contagiante, pois este poderá desenvolver forma grave de varicela. O leite deverá ser ordenhado e oferecido ao bebê. O contato mãe/filho deve ocorrer apenas na fase de crostas. Deve-se administrar imunoglobulina específica (VZIG)ao RN. ➢ TUBERCULOSE: LM é liberado, pois o BK não é excretado no leite. Se TB pulmonar em atividade a mãe bacilífera deve amamentar com máscara em ambiente arejado. Deve ser administrada quimioprofilaxia primária no RN (isoniazida 10 mg/kg/dia) e não realizar a vacinação com BCG. Aos 3 m realiza-se o teste tuberculínico (PPD), para avaliar a possibilidade de infecção. Se o PPD for NR, o lactente não foi infectado, logo se interrompe o uso de isoniazida e vacina-se a criança com BCG. Se o PPD for reator (> 5 mm), deve-se procurar por sinais de adoecimento, pois a criança, muito provavelmente, foi infectada. Se assintomática, o uso de isoniazida deve continuar até os 6m. ➢ DOENÇA DE CHAGAS: o LM será suspenso apenas na fase aguda da doença (alta parasitemia) OU se houver lesões sangrantes na pele do mamilo. ➢ LEPTOSPIROSE, BRUCELOSE, LISTERIOSE: lactantes na fase aguda da doença poderão transmitir estes agentes bacterianos à criança, e, portanto, recomenda-se que neste período o leite seja ordenhado e pasteurizado. ➢ COVID-19: mães positivas podem amamentar desde que o estado geral permita. O vírus não foi encontrado no leite materno. Amamentar com máscara*. CONTRAINDICAÇÕES LM/BEBÊ: 1. GALACTOSSEMIA – doença autossômica recessiva. 1/40 .000 – 1/85 000. Alteração no metabolismo da galactose-1-fosfato. 2. SÍNDROME DO XAROPE DE BORDO OU LEUCINOSE – não degrada leucina, valina e isoleucina. Deficiência da enzima hepática alfa-cetoácido- desidrogenase. *Teste do pezinho ampliado. 3. FENILCETONÚRIA – deficiência da fenilalanina. Hidroxilase que converte a fenilalanina em tirosina. 1/15000. Se a dosagem da fenilalanina for > 17 mg/dl o leite materno deve ser substituído por fórmulas isenta de fenilalanina por 5 dias. 10 – 17 mg/dl. LM livre demanda+ 30 ml de fórmula 5x dia. 6-10 mg/dl. LM livre demanda + 30 ml de fórmula isenta de fenilalanina 3x/dia. POSSÍVEIS DEFICIÊNCIAS: ✓ Vitamina K (baixa concentração no LM, porém vit. K injetável ao nascer); ✓ Vitamina D (baixa concentração LM, SBP orienta reposição do nascimento ao 2º ano de vida 400 ui/dia); ✓ Ferro (maior biodisponibilidade no LM, porém ainda em baixa concentração, SBP recomenda reposição após 3m de vida até 2 anos de 1mg/kg/dia). Seja um defensor!
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