Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Absorção - Parte 2 1 Absorção - Parte 2 Processos físicos envolvidos na translocação de moléculas do fármaco As moléculas de fármaco se movem pelo organismo de duas maneiras: fluxo de massa e difusão. No fluxo de massa, a natureza química do fármaco não importa, visto que o sistema cardiovascular é capaz de conduzir as moléculas por longas distâncias dentro do organismo. Porém, a natureza química dos fármacos interfere na difusão como, por exemplo, a capacidade de atravessar barreiras hidrofóbicas e o tamanho molecular MOVIMENTO DAS MOLÉCULAS DE FÁRMACOS ATRAVÉS DAS BARREIRAS CELULARES Separando os compartimentos aquosos há membranas celulares. O endotélio vascular é a camada que separa o plasma das células e a sua disposição anatômica varia entre os tecidos. Por exemplo, no fígado, o endotélio não é contínuo aumentando a permeabilidade do local. Já na barreira hematoencefálica e na placenta, o endotélio é contínuo, o que impede a passagem de muitas moléculas. Essas características interferem na distribuição e ação dos fármacos. As moléculas pequenas atravessam as membranas celulares de quatro maneiras principais: Difusão lipídica Absorção - Parte 2 2 As moléculas apolares (nas quais os elétrons estão distribuídos uniformemente) dissolvem-se livremente na camada lipídica da membrana, difundindo-se prontamente através das membranas celulares. O número de moléculas que atravessam a membrana por unidade de área na unidade de tempo é determinado pelo: Coeficiente de permeabilidade (P): fatores que contribuem é a solubilidade da membrana e o coeficiente de difusão. Captura iônica A ionização e a permeabilidade membranar afetam não só a velocidade na qual os fármacos atravessam a membrana, mas também a distribuição em fase de equilíbrio das moléculas de fármacos entre os compartimentos aquosos. Moléculas lipossolúveis → difundem para dentro da célula → metabolizadas → podem liberar um metabólito carregado → fica preso na célula (importante para fármacos com ação intracelular) pH e ionização Um fator complicador importante com relação à permeação da membrana é o fato de que muitos fármacos são ácidos ou bases fracas, existindo, portanto, tanto na forma não ionizada quanto na ionizada; a razão entre as duas formas varia com o pH. Para uma base fraca, B, a reação de ionização é: Em ambos os casos, a forma ionizada possui uma lipossolubilidade muito baixa e não passam pela membrana plasmática, exceto quando há mecanismos de transporte específicos. A lipossolubilidade de uma espécie sem carga, B ou AH, depende da natureza química do fármaco; para muitos fármacos, a espécie sem carga é suficientemente lipossolúvel para permitir uma rápida difusão através da membrana, mas existem exceções (p. ex., antibióticos aminoglicosídios) em que mesmo a molécula sem carga é insuficientemente lipossolúvel, não apresentando difusão de monta. Em geral, isso se deve aos grupos ligantes de hidrogênio (como as hidroxilas do componente açúcar dos aminoglicosídios) que fazem com que a molécula sem carga fique hidrofílica. Absorção - Parte 2 3 Constante de dissociação (pKa): quanto menor, mais forte é o ácido. Em outras palavras, é o pH onde as concentrações ionizadas e não ionizadas de um fármaco são iguais Partição pelo pH e aprisionamento iônico Partição teórica de um ácido fraco (ácido acetilsalicílico) e uma base fraca (petidina) entre compartimentos aquosos (urina, plasma e suco gástrico) de acordo com a diferença de pH entre eles. Os números representam concentrações relativas (concentração plasmática total = 100). Presume-se que a forma não carregada em cada caso possa atravessar a barreira celular que separa os compartimentos, atingindo, assim, a mesma concentração em todos os três. Variações na ionização fracional em função do pH dão origem a grandes diferenças na concentração total em relação ao plasma. Partição pelo pH significa que ácidos fracos se concentram em compartimentos com pH alcalinos e bases fracas, em pH ácido. Portanto: Droga ácida + meio ácido = não ioniza favorecendo a absorção Absorção - Parte 2 4 Droga ácida + meio básico = ioniza e dificultando absorção = acúmulo no local Droga básica + meio ácido = dissocia dificultando a absorção = acúmulo no local Droga básica + meio básico = não dissocia favorecendo absorção Consequências da partição pelo pH: O aprisionamento da base livre de alguns fármacos antimaláricos no ambiente ácido do vacúolo alimentar do parasito da malária contribui para a interrupção da via de digestão da hemoglobina que é a base do seu efeito tóxico sobre o parasito. Acidificação da urina: base fracas → dissocia e fica presa no lúmen tubular → acelera eliminação ácidos fracos → aumenta concentração da forma molecular → acelera reabsorção → retarda eliminação. alcalinização: bases fracas → aumenta concentração da forma molecular → acelera reabsorção → retarda eliminação ácidos fracos → aumenta ionização → retido no lúmen tubular → acelera eliminação. O aumento do pH do plasma (p. ex., pela administração de bicarbonato de sódio) faz com que ácidos fracos sejam extraídos do SNC para o plasma. O oposto é verdadeiro, ou seja, a redução do pH do plasma (p. ex., pela administração de um inibidor da anidrase carbônica, como a acetazolamida) faz com que ácidos fracos sejam concentrados no SNC, potencialmente aumentando sua neurotoxicidade. Esse conhecimento tem consequências práticas na escolha do método de alcalinização da urina para o tratamento de uma superdosagem de ácido acetilsalicílico: o bicarbonato e a acetazolamida aumentam o pH urinário e, portanto, facilitam a eliminação dos salicilatos. Por outro lado, o bicarbonato reduz a distribuição de salicilatos no SNC, enquanto a acetazolamida a aumenta. Transporte mediado por transportadores Proteínas integrais, glicoproteína P, proteínas carreadoras. De um ponto de vista farmacocinético geral, os principais locais em que os SLC (incluindo OCT e OAT) são expressos, e o transporte de fármacos mediado por transportadores é importante, são: Barreira hematencefálica Absorção - Parte 2 5 Trato gastrintestinal Túbulo renal Trato biliar Placenta. OCT: transportadores de cátion orgânicos OAT: transportadores de ânions orgânicos. Glicoproteína-P Estão presentes nas membranas ciliadas dos túbulos renais, no canalículo biliar, nos processos basais de astrócitos nos microvasos cerebrais1 e no trato gastrintestinal. Desempenham papel importante em absorção, distribuição e eliminação de muitos fármacos, e frequentemente colocalizam-se junto com os transportadores SLC de fármacos, de modo que um fármaco que tenha sido concentrado, por exemplo, por um transportador OAT na membrana basolateral de uma célula tubular renal possa então ser bombeado para fora da célula por uma P- gp na membrana luminal. A competição entre fármacos para o mesmo transportador provoca interações fármaco-fármaco. Ligação de fármacos a proteínas plasmáticas A proteína plasmática mais importante no que se refere à ligação de fármacos consiste em albumina, que liga muitos fármacos ácidos (p. ex., varfarina, anti- inflamatórios não esteroides, sulfonamidas), e um pequeno número de fármacos básicos (p. ex., antidepressivos tricíclicos e clorpromazina). Outras proteínas plasmáticas, incluindo a β-globulina e uma glicoproteína ácida cujo nível aumenta nas doenças inflamatórias, também foram implicadas na ligação de determinados fármacos básicos, como a quinina. A quantidade de ligação de um fármaco a proteínas depende de três fatores: a concentração de fármaco livre, sua afinidade pelos locais de ligação e a concentração de proteínas. A albumina plasmática liga muitos fármacos diferentes, podendo, então, haver competição entre eles. Se dois fármacos (A e B) assim competirem, a administração do fármaco B pode reduzir a ligação proteica do fármaco A, aumentando a concentração plasmática da sua forma livre. Para que isso ocorra, o fármaco B precisa ocuparuma fração apreciável dos pontos de ligação Absorção - Parte 2 6 Partição água/óleo Afinidade que a droga tem em água e óleo Membrana bicamada lipídica: drogas lipossolúveis são mais facilmente absorvidas. Entretanto, as drogas polares necessitam da ajuda de proteínas transportadoras para poder atravessar e a absorção é mais lenta e parte desta fração e uma parte da quantidade de fármaco acaba não sendo absorvida. Vale ressaltar que o tecido adiposo, apesar de ser um grande compartimento apolar, o acúmulo de fármaco neste local é limitado, visto que só 2% do débito cardíaco chega neste local tornando a distribuição lenta.
Compartilhar