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1 Diagnóstico de Tuberculose Diagnóstico de Tuberculose A tuberculose é uma doença granulomatosa crônica contagiosa, causada pelo complexo Mycobacterium tuberculosis. Comumente, acomete os pulmões, mas pode afetar qualquer órgão ou tecido. Tipicamente, os centros dos granulomas tuberculosos são caracterizados por necrose de caseificação. Epidemiologia A tuberculose permanece a principal causa de óbitos ao redor do mundo em pessoas privadas em termos econômicos e de saúde. Estima-se que 1,7 bilhão de pessoas estejam infectadas ao redor do mundo, sendo 8-10 milhões de novos casos e três milhões de óbitos por ano. As condições infecção e doença devem ser diferenciadas. A infecção representa a nidação de um foco com microrganismos que podem ou não causar dano tecidual clinicamente significativo (isto é, doença). Embora outras vias de transmissão possam estar envolvidas, a maioria das infecções é adquirida diretamente de pessoa a pessoa através de gotículas oriundas de uma pessoa ativa para hospedeiros suscetíveis e dispersas no ar. Na maioria das pessoas ocorre um foco assintomático e autolimitante de infecção pulmonar; embora incomum, pode ocorrer tuberculose primária e desenvolvimento de febre e efusão pleural. Geralmente, a única evidência de infecção, se presente, é um minúsculo nódulo fibrocalcífico no local da infecção. Microrganismos podem permanecer viáveis em tais focos por décadas e, possivelmente, durante a vida do hospedeiro. Tais pacientes estão infectados, porém não apresentam doença ativa, e portanto não podem transmitir microrganismos a outras pessoas. Ainda assim, quando há debilidade do sistema imunológico pode haver reativação da infecção, com risco de tornar- se comunicável e, finalmente, da doença com risco de morte. Etiologia As micobactérias são bacilos delgados, álcool- ácido resistentes (isto é, possuem alto conteúdo de lipídios complexos que prontamente coram-se pela técnica de Ziehl-Neelsen [fucsina carbol] e subsequentemente resistem à descoloração). ● O M. tuberculosis hominis é o responsável pela maioria dos casos de tuberculose; o reservatório da doença é tipicamente encontrado em pessoas com doença pulmonar ativa. A trasmissão usualmente é direta e por inalação de microrganismos aerossolizados gerados por expectoração ou exposição a secreções contaminadas oriundas de pessoas infectadas. ● A tuberculose orofaríngea e intestinal adquirida pela ingestão de leite contaminado com Mycobacterium bovis é rara em nações desenvolvidas, porém ainda é observada em países portadores de bovinos leiteiros tuberculosos e naqueles com venda de leite não pasteurizado. Patogenia A patogenia da tuberculose nas pessoas imunocompetentes e não expostas está relacionada com o desenvolvimento de imunidade mediada por células que confere resistência ao organismo e resulta no desenvolvimento de hipersensibilidade tecidual aos antígenos tuberculares. As características patológicas da tuberculose, como os granulomas caseosos e as cavitações, são resultantes da hipersensibilidade destrutiva tecidual que faz parte da resposta imune parcial do hospedeiro. A sequência de eventos desde a inalação do inóculo infeccioso até a nidação do foco primário acontece assim: ● Uma vez que uma cepa virulenta de micobactéria ganha acesso aos endossomos dos macrófagos, o microrganismo é capaz de inibir as respostas microbicidas normais, prevenindo a fusão dos lisossomos com os vacúolos fagocíticos. A prevenção da formação dos fagossomos permite a proliferação micobacteriana não controlada. Portanto, a fase mais precoce da tuberculose (primeiras três semanas) no paciente não sensibilizado é caracterizada por proliferação bacilar no interior dos macrófagos alveolares e espaços aéreos com bacteremia e nidação de múltiplos 2 Diagnóstico de Tuberculose locais. Apesar da bacteremia, a maioria das pessoas nessa fase é assintomática ou apresenta doença similar a uma gripe discreta. ● O perfil genético do paciente pode influenciar a evolução da doença. Em algumas pessoas com polimorfismo do gene NRAMP1 (natural resistance- associated macrophage protein 1), a doença pode progredir desse ponto sem, no entanto, uma resposta imune efetiva. ● O desenvolvimento de imunidade mediada por células ocorre aproximadamente três semanas após a exposição. Os antígenos micobacterianos processados alcançam os linfonodos de drenagem e são apresentados a linfócitos T CD4 pelas células dendríticas e macrófagos. Linfócitos T CD4+ do subtipo TH1 capazes de secretar IFN-g são gerados sob influência da IL-12 secretada de macrófagos. ● O IFN-g liberado pelos linfócitos T CD4+ do subtipo TH1 é crucial na ativação de macrófagos. Os macrófagos ativados, por sua vez, liberam uma variedade de mediadores e superexpressam genes com importantes efeitos inibitórios, incluindo ○ TNF, que é responsável pelo recrutamento de monócitos que sofrem ativação e diferenciação em “histiócitos epitelioides” que caracterizam a resposta granulomatosa; ○ Expressão do gene de óxido nítrico sintetase induzível (iNOS), que eleva os níveis de óxido nítrico e a atividade antibacteriana no local da infecção; ○ Geração de espécies reativas de oxigênio que podem ter atividade antibacteriana. ● Defeitos em qualquer um dos passos da resposta TH1 resultam em granulomas pobremente formados, ausência de resistência e progressão da doença. Pessoas com mutações herdadas em qualquer componente da via TH1 são extremamente suscetíveis a infecções por micobactéria. Resumo: A imunidade à infecção tuberculosa é primariamente mediada por células TH1 que estimulam a atividade bactericida dos macrófagos → A resposta imune, se amplamente efetiva, apresenta hipersensibilidade e destruição tecidual → resulta em mobilização rápida da reação defensiva, porém também aumenta a necrose tecidual → a perda da hipersensibilidade pode constituir um sinal ominoso do enfraquecimento da resistência ao microrganismo. Tuberculose primária A tuberculose primária é uma forma de doença que se desenvolve em pacientes não expostos e, portanto, não sensibilizados. Pessoas idosas e pacientes profundamente imunossuprimidos podem perder a sensibilidade ao bacilo da tuberculose e desenvolver tuberculose primária mais de uma vez. Cerca de 5% desses pacientes novamente infectados adquirem doença significativa. As principais consequências da tuberculose primária 1. Estão relacionadas com a indução de hipersensibilidade e aumento da resistência; 2. Os focos de cicatrização podem portar bacilos viáveis por anos, talvez por toda a vida, e portanto constituir o ninho para a reativação posterior em condições de comprometimento da função imune do hospedeiro; 3. Incomumente, pode levar à tuberculose primária progressiva. Essa complicação ocorre em pacientes imunocomprometidos ou com diminuição inespecífica das defesas do hospedeiro, como a má nutrição em crianças e a idade em idosos. 4. A incidência de tuberculose primária progressiva é particularmente alta em pacientes HIV-positivos com grau avançado de imunossupressão. A imunossupressão resulta em inabilidade de 3 Diagnóstico de Tuberculose montar uma reação imunológica mediada por linfócitos T CD4+ capaz de conter o foco primário; uma vez que a hipersensibilidade e a resistência são quase sempre fatores concomitantes, a ausência de reação de hipersensibilidade tecidual resulta na ausência dos granulomas caseosos característicos (tuberculose não reativa). Tuberculose Secundária (Tuberculose Reativada) A tuberculose secundária é um padrão de doença que surge em hospedeiros previamente sensibilizados. A tuberculose secundária pode surgir logo após a primária,porém, mais comumente, surge da reativação de lesões primárias dormentes muitas décadas após a infecção inicial, particularmente quando há queda na resistência do hospedeiro. Também pode surgir após a reinfecção exógena devido à queda na proteção proporcionada pela doença primária ou devido à inoculação de um grande inóculo de bacilos virulentos. ● Classicamente, a tuberculose pulmonar secundária localiza-se no ápice de um ou ambos os lobos superiores. Como resultado dessa localização, os linfonodos regionais apresentam envolvimento menor nos estágios iniciais da doença quando comparada à tuberculose primária. ● A cavitação na forma secundária é rápida, induzindo à erosão das vias aéreas e disseminação aerógena. Tais alterações tornam-se uma importante fonte de infecção, uma vez que agora o paciente produz esputo com bacilos. Morfologia A lesão inicial, geralmente, é um pequeno foco de consolidação, menor que 2 cm de diâmetro, com 1-2 cm abaixo da pleura apical. Tais focos são nitidamente circunscritos, firmes, branco-acinzentados a amarelados, com quantidade variável de caseificação central e fibrose periférica. Em casos favoráveis, o foco inicial do parênquima sofre encapsulamento fibroso progressivo, deixando apenas cicatrizes fibrocalcificadas. Histologicamente, as lesões ativas mostram tubérculos característicos coalescentes com caseificação central. ● A tuberculose pulmonar secundária, apical, localizada, pode curar espontaneamente ou depois da terapia, resultando em fibrose, ou a doença pode progredir e se estender por várias vias diferentes. A erosão em um brônquio evacua um centro caseoso, criando uma irregularidade, a cavidade irregular é forrada por material caseoso e grosseiramente circundada por tecido fibroso. A erosão de vasos sanguíneos resulta em hemoptise. Com o tratamento adequado, o processo pode ser debelado, embora a cura por fibrose frequentemente deforme a arquitetura pulmonar. ● Doença pulmonar miliar ocorre quando o organismo é drenado através dos ductos linfáticos, que desembocam no retorno venoso para o lado direito do coração e daí para as artérias pulmonares. ● Com a tuberculose pulmonar progressiva, a cavidade pleural está 4 Diagnóstico de Tuberculose invariavelmente envolvida e pode desenvolver efusões pleurais serosas, empiema tuberculoso ou pleurite fibrosa obliterante. ● Tuberculose laríngea, endotraqueal e endobrônquica pode se desenvolver quando material infeccioso é disseminado através dos canais linfáticos ou é expectorado. O revestimento mucoso pode ser avaliado minuciosamente, mas às vezes as lesões somente aparecem no exame microscópico. ● Tuberculose miliar sistêmica segue-se quando os organismos se disseminam através do sistema arterial sistêmico para quase todos os órgãos do corpo. Os granulomas são os mesmos dos pulmões. A tuberculose miliar é mais proeminente no fígado, medula óssea, baço, suprarrenais, meninges, rins, tubas uterinas e epidídimo. ● A tuberculose em órgão isolado pode aparecer em qualquer órgão ou tecido semeado hematogenicamente e ser a única manifestação apresentada na tuberculose. Os órgãos tipicamente envolvidos incluem meninges (meningite tuberculosa), rins (tuberculose renal), suprarrenais, ossos (osteomielite) e tubas uterinas (salpingite). Linfadenite é a mais frequente forma de tuberculose extrapulmonar, geralmente ocorrendo na região cervical. A linfadenopatia tende a ser unifocal, e a maioria dos pacientes não tem doença extranodal concorrente. Pacientes HIV-positivos, entretanto, quase sempre têm doença multifocal, sintomas sistêmicos e envolvimento pulmonar ou em outro órgão pela tuberculose ativa. Características Clínicas A tuberculose secundária localizada pode ser assintomática. Quando as manifestações aparecem, elas são geralmente insidiosas no começo, com desenvolvimento gradual de sinais e sintomas sistêmicos e locais. Manifestações sistêmicas provavelmente relacionadas com a liberação de citocinas por macrófagos ativos (p. ex., TNF e IL-1) frequentemente aparecem cedo no curso da doença e incluem mal-estar, anorexia, perda de peso e febre. Comumente, ocorre febre de baixo grau. Com o envolvimento pulmonar progressivo, aumenta a quantidade de escarros, que inicialmente se apresenta mucoide e mais tarde purulento. Quando a cavitação está presente, o escarro contém bacilos tuberculosos. Alguns graus de hemoptise estão presentes em cerca da metade de todos os casos de tuberculose pulmonar. A dor pleurítica pode resultar da extensão de infecções das superfícies pleurais. Manifestações extrapulmonares de tuberculose dependem do sistema do órgão envolvido (p. ex., salpigite tuberculosa pode se manifestar com infertilidade, meningite tuberculosa com dor de cabeça e déficits neurológicos, doença de Pott com dor nas costas e paraplegia). O diagnóstico de doença pulmonar é baseado, em parte, no histórico e nos achados radiográficos e físicos de consolidação ou cavitação nos ápices dos pulmões. Ultimamente, entretanto, bacilos tuberculosos podem ser identificados. O prognóstico para pacientes com tuberculose geralmente é favorável se a infecção está localizada nos pulmões, mas é significativamente pior quando a doença ocorre em pessoas idosas, debilitadas ou imunossuprimidas, que possuem alto fator de risco para o desenvolvimento de tuberculose miliar, e naquelas com tuberculose multirresistente a drogas. Amiloidose pode se desenvolver em casos persistentes.
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