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PENSAMENTO E LINGUAGEM

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Psicologia do Pensamento e da Linguagem
Prof. Dr. Richard Couto
O estudo dos aspectos psicológicos do pensamento e da linguagem é recente, pois teve seu início no Século XX.
Até o início do Século XX, o pensamento e a linguagem foram objetos de estudo e questionamento de campos do conhecimento distintos: a filosofia, a linguística, a lógica.
Os estudos mais antigos sobre o pensamento e a linguagem podem ser atribuídos aos gregos. 
Dentre tais estudos podemos citar:
Platão (428/427 a 348/447, ac): o diálogo Crátilo é considerado como a obra inaugural da filosofia da linguagem. Há outros diálogos platônicos importantes: Sofista, Górgias, Fedro.
Aristóteles (384 a 322, ac): Tratado da Interpretação, Poética, Retórica.
Na idade média, o filósofo que se destaca é Santo Agostinho (13/11/354 a 28/08/430), a obra que versa a linguagem é o diálogo O Mestre.
Para a nossa disciplina, o filósofo que merece destaque é René Descartes (1596 a 1650), nascido em Haye na Bretanha, França. Descartes é considerado o pai da filosofia moderna, bem como o fundamentador da ciência moderna, pois é ele quem lançou as bases do método científico com o cogito cartesiano – penso, logo sou.
	“O homem, que em um primeiro momento do Cogito ganha o estatuto do ser porque pensa, disso não podendo duvidar, como duvidou de todas as demais coisas, ou seja, este homem que acedeu à condição ontológica por uma operação do pensamento, que se constitui, no plano subjetivo, como a certeza que sucede a dúvida, passa, a partir deste ato, a poder também existir, porque é passível de uma inscrição no mundo do simbólico. Descartes distinguiu um mundo em que as coisas existem através de sua representação conceitual, deixando de fora outro mundo, onde as coisas não são conceituadas. Era, então, a criação de um novo discurso: o da ciência” (Alberti e Elia, 2008). 
Com Descartes, o pensamento é posto como referência para a existência e para o estabelecimento de um sujeito, um sujeito sustentado pelo pensamento, fazendo surgir um sujeito do conhecimento: “concepção de um sujeito de conhecimento como uma unidade soberana que seria não só o fundamento, como também o núcleo central de todo o conhecimento: “Há dois ou três séculos, a filosofia ocidental postulava, explícita ou implicitamente, o sujeito como fundamento, como núcleo central de todo o conhecimento, como aquilo em que, e a partir de que, a liberdade se revelava e a verdade podia explodir” (Foucault, 1973 [2003], p. 10). O sujeito, nesse caso, seria o portador, agenciador do conhecimento, referência principal do ato de conhecer, pois a ele caberia adequar as coisas ao conhecimento” (Couto, 2012).
A partir de Descartes podemos estabelecer uma linguagem conceitual: os objetos, as coisas, podem ser elevadas ao plano conceitual, ganham condição de existente conceitualmente. Sendo tal condição que vai possibilitar a concretização da dicotomia sujeito e objeto pela Ciência moderna. Há, então, uma cisão entre o objeto real (a estrela no céu) e o objeto da ciência (a estrela formulada pelo astrônomo com o cálculo matemático).
Assim, Descartes vai postular que a linguagem tem como principal função expressar o pensamento: a linguagem é somente a expressão do pensamento. Logo, a linguagem é um sinal da razão e atributo exclusivo dos homens. Para Descartes, só os homens são portadores da linguagem, não há linguagem para os animais. 
Descartes influenciou a lógica de Port-Royal e mais tarde Noam Chomsky.
Dentro do campo da linguística temos Ferdinand de Saussure (1857 a 1913), linguista suíço que criou o estruturalismo linguístico e influenciou Claude Lévi-Strauss, Tzvetan Todorov e Jacques Lacan. Para Saussure, há uma divisão entre língua (sistema de signos) e fala (ato individual, que inclui elementos fisiológicos e acústico - fonemas).
Definição de signo: “o signo linguístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem acústica”. 
Logo, o signo é constituído pelo significado e pelo significante. O que faz com que todo signo linguístico seja arbitrário:
Significante: a imagem acústica.
Significado: a estrutura conceitual.
O fenômeno linguístico apresenta sempre duas faces, tal como uma folha de papel, pelas seguintes razões:
1ª. As sílabas são impressões acústicas percebidas pelo ouvido, mas os sons não existiriam sem os órgãos vocais. (...) Não se pode reduzir a língua ao som da articulação, por outro lado, os movimentos dos órgãos vocais só são definidos pela abstração da imagem acústica.
2ª. É o som que faz a linguagem? Não, o som não passa de instrumento do pensamento e não existe por si mesmo. Emerge daí uma nova correspondência: o som, unidade complexa acústico-vocal, forma por sua vez, com a ideia, uma unidade complexa, fisiológica, mental.
3ª. A linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o outro. 
4ª. A cada instante, a linguagem implica ao mesmo tempo um sistema estabelecido e uma evolução: a cada instante, ela é uma instituição atual e um produto do passado.
A língua, a linguagem, a fala. Para Saussure, a língua é uma estrutura que comporta um sistema de elementos diferentes, relacionados entre si, cuja forma homogênea, abstrata, mental e psíquica o falante registra passivamente. Essa forma só está completa na massa de falantes. Além disso, é a língua que vai forçar o pensamento, caótico por natureza, a precisar-se ao se decompor, pois “nada é distinto antes do aparecimento da língua”. Ela funciona como um princípio de classificação, um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos. 
A linguagem é multiforme e heteróclita, pertence tanto ao domínio individual quanto ao social; não se deixa classificar em nenhuma categoria dos fatos humanos, pois não se sabe como inferir sua unidade. Não é a linguagem que é natural ao homem, mas a faculdade de constituir uma língua, ou seja, a língua é um produto social da faculdade da linguagem. Já a fala (discurso), ao contrário, é individual e voluntária.
A sincronia e a diacronia. Para Saussure, a diacronia pode ser associada à fala, sempre dinâmica, que se produz dentro de um determinado espaço de tempo, no âmbito das sucessividades (tem princípio, meio e fim), análoga a uma visão linear da história dos acontecimentos. A fala, dinâmica e fonte de todas as mudanças, é da ordem da diacronia.
Quanto à sincronia, Saussure a associa à estática, visto que exclui o fator tempo. Eliminado o tempo, é possível apreciar os fatos co-ocorrentes da língua e analisá-la como uma teia de relações simultâneas num determinado estado de língua.
Noam Chomsky (1928-) é um dos mais importantes teóricos da linguagem da atualidade, tem uma grande influência de Descartes, principalmente por conceber que a linguagem é um atributo dos humanos, não há linguagem nos animais.
Chomsky tem relevância para a psicologia porque empreendeu uma crítica contundente a algumas concepções que consideravam o pensamento e a linguagem como independentes um do outro. Para Chomsky, falar e pensar constituem-se num único processo.
Chomsky demonstrou, através de uma análise crítica, as limitações da concepção sobre a linguagem de B. F. Skinner. Para Skinner, o desenvolvimento da linguagem se faz através do processo de aprendizagem estímulo-resposta.
Para Chomsky, essa concepção não é capaz de explicitar uma das características do modo como a linguagem se desenvolve no ser humano: a criatividade, isto é, a capacidade humana de produzir ou gerar novas sentenças a partir de uma base finita de conhecimentos.
Noam Chomsky - a aquisição da linguagem é inata, a linguagem é uma herança genética da nossa espécie, o ser humano possui uma gramática gerativa. O homem nasce equipado com a gramática na qual se encontram todas as regras de todas as línguas.
“Precisamente, o estudo da linguagem humana conduziu-me a considerar que uma capacidade de linguagem geneticamente determinada, que é umcomponente do espírito humano, especifica uma certa classe de ‘gramáticas humanamente acessíveis’. A criança adquire uma dessas gramáticas (...) a partir de dados limitados que lhe sejam acessíveis. No seio de uma certa comunidade linguística, crianças cujas experiências pessoais variam, adquirem gramáticas comparáveis largamente e subdeterminadas por dados que lhes são acessíveis. Pode-se entrever uma gramática representada de uma maneira ou de outra no espírito como um sistema que especifica as propriedades fonéticas, sintáticas e semânticas de uma classe infinita de frases possíveis. A criança conhece a língua assim determinada pela gramática que ela adquire. Essa gramática é uma representação de sua competência linguística. Com a aquisição da linguagem, a criança desenvolve, igualmente, sistemas de desempenhos para efeito de pôr em obra esse saber (por ex. estratégias de produção e de percepção)” (Chomsky, 1979).
Chomsky (1965) afirma que “cada criança nasceria com uma fechadura, pronta para receber uma chave. Cada chave acionaria a aquisição de uma língua diferente; daí todas nasceriam com a mesma capacidade e poderiam adquirir as mais diferentes línguas”.
DAL (Dispositivo de Aquisição da Linguagem) - funciona como um computador que recebe dados linguísticos do ambiente, permite a aquisição de qualquer linguagem, DAL corresponderia à capacidade humana de adquirir qualquer linguagem. Tal dispositivo, comum a todos os humanos, está sujeitado à maturação do organismo e é ele que permite à criança identificar o tipo de língua à qual deve se adaptar. 
Sobre o debate que houve entre Chomsky e alguns autores da psicologia, devemos ressaltar o debate com Jean Piaget. Piaget nasceu na Suíça em 1896 e faleceu em Genebra em 1980. Piaget não se considerava um psicólogo e sim um epistemólogo. Biólogo de formação, estudou o desenvolvimento das funções cognitivas (da inteligência) e da moralidade (da capacidade de julgar e se comportar moralmente) pelo chamado “método clínico”. Piaget observava o comportamento das crianças e pedia a elas que descrevessem o que estavam fazendo, solicitando, também, que justificassem o que e como estavam fazendo, fazia a elas propostas de algumas tarefas para desenvolverem, sempre as observando e conversando com elas. 
Seu objetivo é, acima de tudo, tentar entender a experiência imediata das crianças, como elas “vivem”, percebem e pensam sobre o mundo.
De acordo com Piaget, a linguagem constitui um sistemas ou uma das formas assumidas pela atividade semiótica (representação, signos). A aquisição da linguagem, para Piaget, ocorreria durante o segundo ano de vida, quando aparece como forma de evocação representativa de um objeto ou de um acontecimento ausente.
Dos sistemas ou formas semióticas, a linguagem, para Piaget, é a última a se constituir devido ao seu caráter social. A linguagem é totalmente elaborada pela sociedade, tendo um conjunto de instrumentos cognitivos (relações, classificações) a serviço do pensamento. 
1º. Enquanto as condutas sensório-motoras são obrigadas a seguirem os acontecimentos sem poder ultrapassar as ações, as condutas verbais, graças ao relato e às evocações de todos os gêneros, podem introduzir ligações a uma rapidez bem superior.
2º. Enquanto as adaptações sensório-motoras são limitadas ao espaço e ao tempo próximo, a linguagem possibilitaria ao pensamento ultrapassar tanto o espaço próximo quanto o tempo imediato, libertando-se do urgente.
3º. Enquanto a inteligência sensório-motora procede por ações sucessivas e de próximo em próximo, o pensamento alcança, graças à linguagem em particular, a representação de conjuntos simultâneos. 
Na verdade, para Piaget, a linguagem é o instrumento essencial de adaptação social que não é inventado pela criança, mas que lhe é transmitido sob formas prontas, acabadas, obrigatórias e de natureza coletiva.
O debate entre Piaget e Chomsky se deu em 1979 no Centro Royaumont por uma Ciência do Homem. O texto de Piaget tem o título de “A Psicogênese dos conhecimentos e sua significação epistemológica” e a resposta de Chomsky se intitulou “A propósito das Estruturas Cognitivas e de seu desenvolvimento”.
O que Chomsky diz de Piaget: a aquisição da linguagem pela criança está ancorada em três posições:
1. a que se propõe fundamentada no empirismo;
2. a que se apresenta como fundada no inatismo;
3. e a que é proposta pelo próprio Piaget, ou seja, que se define como construtivista.
Os argumentos de Piaget contra Chomsky:
1. o de que as mutações próprias à espécie humana que poderiam dar lugar a estruturas inatas seriam biologicamente inexplicáveis;
2. o que se poderia explicar em função da hipótese de estruturas inatas pode ser também explicado como sendo o resultado “necessário” de construções próprias da inteligência sensório-motora.
Chomsky e Piaget concordam em um ponto: a linguagem se constitui como produto da inteligência e/ou da razão e não como aprendizagem, tal como conceituado pelos behavioristas. 
“Com o aparecimento da linguagem, as condutas são profundamente modificadas no aspecto afetivo e intelectual. (...) Daí resultam três consequências essenciais para o desenvolvimento mental: uma possível troca entre indivíduos, ou seja, o início da socialização da ação: uma interiorização da palavra, isto é, a aparição do pensamento propriamente dito, que tem como a base a linguagem interior e os sistema de signos, e, finalmente, uma interiorização da ação como tal, que, puramente perceptiva e motora que era até então, pode daí em diante se reconstituir no plano intuitivo das imagens e das ‘experiências mentais’. Do ponto de vista afetivo, segue-se uma série de transformações paralelas, desenvolvimento de sentimentos interindividuais (simpatias e antipatias, respeito, etc.) e de uma afetividade interior organizando-se de maneira mais estável do que no curso dos primeiros estágios” (Piaget, 1964 [1980], p. 23-24).
A contribuição de B. F. Skinner (1904 a 1990): o comportamento verbal.
Os trabalhos de Skinner estão sob a nomenclatura do comportamentalismo, contudo o projeto de Skinner é bem diferente do projeto de Watson. Skinner contribuiu de forma decisiva para o estudo das interações entre organismos vivos e seus ambientes e, para tanto, adotou de maneira rigorosa os procedimentos experimentais. 
Além dos estudos sobre o comportamento dos organismos, Skinner contribuiu para psicologia quando iniciou uma elaboração sobre a subjetividade: o mundo “privado” das sensações, dos pensamentos, das imagens, etc. Para Skinner, não há dúvida que os homens sintam seus sentimentos sem expressá-los, tenham ilusões, alucinações, possam refletir sobre as coisas do mundo e sobre si, tenham medos, aspirações e desejos. Mas, sua posição é que se deve investigar em quais condições a vida subjetiva privatizada se desenvolve. 
A resposta de Skinner é que tudo isto se desenvolve nas relações sociais. É em sociedade que se aprende a falar e uma parte da fala pode se referir ao próprio corpo e ao próprio comportamento do sujeito.
Porém, a capacidade de falar de si é aprendida na convivência com os outros.
Toda linguagem é, assim, social, mesmo quando se refere ao “mundo privado”. Por isso mesmo, o mundo privado de cada um é uma construção social.
A obra mais importante de Skinner para a psicologia do pensamento e da linguagem é Verbal Behavior (1957). Na referida obra encontramos o conceito de comportamento verbal: O comportamento verbal é essencialmente definido pelo efeito sobre o comportamento do outro e, portanto pelo seu caráter relacional (no caso, uma relação social). Pode-se dizer que o comportamento verbal é basicamente uma relação entre o ambiente social, representado pelo outro, o ouvinte, e um organismo vivo, o emitente. O ouvinte atua como um estímulo discriminativo na presença do qual verbalizações ocorrem (assim como também, provavelmente, outras formas de comportamento, que, no entanto, ocorrem também em outros ambientes, ao contrário do verbal).
Como exemplos de comportamento verbal temosos seguintes operantes: falar, escrever, gesticular, datilografar, compor com tipos, usar códigos (como Morse, ou a linguagem das flores, etc.) ou expressões faciais. Como exemplos de comportamentos não-verbais temos tanto não-operantes (roncar, chiar, produzir sons em situação de cansaço, stress, dor, enfado, como Anagh, Fuuu, Chiii, Oh) como operantes. Entre estes últimos temos respostas abertas (controlar, assobiar, garatujar) e encobertas (visualizar, imaginar) que, por acompanharem frequentemente a emissão de verbais denominados pensar, são confundidas com essa classe
Skinner estabelece algumas categorias para o comportamento verbal:
1. Ecoar (echoic behavior). É controlado por discriminativos sonoros, em geral palavras ditas por pessoas; a resposta é vocal; e a consequência é social, por exemplo, a aprovação dos outros. Supõe um grau de identidade estrutural entre as características acústicas e/ou sonoras do antecedente e da resposta. Ex. tendo alguém dito a palavra cavalo, o emitente diz a palavra cavalo.
2. Mandar (mand behavior). Os antecedentes controlados são eventos encobertos ligados a estados motivacionais ou afetivos; a resposta pode ser vocal ou motora (palavras ditas ou escritas, gestos) e explicita a natureza da ação do outro (ouvinte); e a consequência é social apenas no sentido estrito, pois deve imediatamente ser seguida de mudanças no ambiente relacionadas aos estados privados. Supõe uma identidade funcional entre a resposta verbal emitida e a ação social produzida (e nesse sentido supõe que o ouvinte partilhe do quadro de equivalências), e supõe relações estruturais entre a natureza dos eventos antecedentes encobertos (no emitente) e a natureza dos efeitos da ação (consequente) do ouvinte. O estudo dos mandos é diretamente pertinente ao estudo dos comportamentos controlados por regras
3. Tatear (tact behavior). Os discriminativos controlados podem ser objetos, pessoas, acontecimentos, sensações, lembranças, isto é, mudanças no campo sensorial (visual, auditivo, tátil, proprioceptivo, interoceptivo, etc.) do emitente. A resposta pode ser vocal ou motora (palavras ditas ou escritas, gestos), e a consequência é social, porém sui generis. Supõe uma identidade funcional entre as características da situação em que ocorre e as características da resposta; supõe que o ouvinte partilhe desse quadro de equivalências. A consequência social ocorre aqui, não porque estamos diante de uma situação didática, digamos assim, mas porque principalmente o ouvinte se beneficia pelo tatear do emitente. 
4. Copiar (copy behavior). É controlado por discriminativos visuais, em geral palavras escritas; a resposta é motora; e a consequência é social. Supõe uma identidade estrutural (que pode ser bastante frouxa, quase simbólica, e portanto funcional) entre as características visuais/gráficas do antecedentes e as do produto da resposta. Ex. tendo alguém escrito a mão em minúsculas a palavra cavalo, o emitente escreve a mão ou a máquina, em maiúsculas ou minúsculas, etc., a palavra cavalo.
5. Ler (textual behavior), também denominado pré-ler, pois embora envolva nomeação oral do estímulo palavra escrita (e nesse sentido textuais são tatos), não necessariamente envolve um repertório maior de pareamento com objetos, desenhos, situações e eventos (compreensão). Os discriminativos controladores são visuais, palavras escritas, e as consequências são sociais. Quanto à resposta caberia aqui uma distinção preliminar entre oralizar um texto ou compreender um texto. 
6. Intraverbalizar (intraverbal behavior). Um intraverbal é qualquer operante verbal cuja variável controladora seja o próprio comportamento verbal anterior do emitente (na verdade pode ser o comportamento verbal de uma outra pessoa, que o sujeito acompanha, ouvindo ou lendo). Exemplos são muitos: recitar um poema, derivar uma fórmula, enunciar um silogismo ou qualquer forma de raciocínio, ou até conversar fiado. Um intraverbalizador típico é o contador de causos, que está mais sob controle do próprio contar do que do evento que o originou
Por mais que Verbal Behavior tenha sido um trabalho profundo, ainda restou uma falha, pontuada por Chomsky, uma explicação sobre a criatividade. 
Vygotsky e o sociointeracionismo
Vygotsky nasceu em 1896 na Bielo-Rússia, que depois (em 1917) ficou incorporada à União Soviética, e mais recentemente voltou a ser Bielo-Rússia. Nasceu no mesmo ano que Piaget (coincidência?!), mas viveu muitíssimo menos que este último, pois morreu de tuberculose em 1934, antes de completar 38 anos.
O teórico pretendia uma abordagem que buscasse a síntese do homem como ser biológico, histórico e social. Ele sempre considerou o homem inserido na sociedade e, sendo assim, sua abordagem sempre foi orientada para os processos de desenvolvimento do ser humano com ênfase da dimensão sócio-histórica e na interação do homem com o outro no espaço social. Sua abordagem sócio-interacionista buscava caracterizar os aspectos tipicamente humanos do comportamento e elaborar hipóteses de como as características humanas se formam ao longo da história do indivíduo (Vygotsky, 1996). 
Para Vygotsky (1996), Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), é a distância entre o nível de desenvolvimento real, ou seja, determinado pela capacidade de resolver problemas independentemente, e o nível de desenvolvimento proximal, demarcado pela capacidade de solucionar problemas com ajuda de um parceiro mais experiente. São as aprendizagens que ocorrem na ZDP que fazem com que a criança se desenvolva ainda mais, ou seja, desenvolvimento com aprendizagem na ZDP leva a mais desenvolvimento,por isso dizemos que, para Vygotsky, tais processos são indissociáveis. 
Ele considera o meio social que a criança vive. Para Vygotsky pensamento e linguagem são simultâneos, desenvolvimento e aprendizagem também. O sujeito desenvolve a linguagem a partir da troca com o meio. Para Vygotsky, não adianta o aparato biológico maturado se não houver interação social, a criança não irá se desenvolver se não interagir com o outro. É importante que a criança seja exposta ao ambiente social para que conviva com outros falantes de sua língua.
A linguagem é, antes de tudo, social. Portanto, sua função inicial é a comunicação, expressão e compreensão. Essa função comunicativa está estreitamente combinada com o pensamento. A comunicação é uma espécie de função básica porque permite a interação social e, ao mesmo tempo, organiza o pensamento. 
Para Vygotsky, a aquisição da linguagem passa por três fases: a linguagem social, que seria esta que tem por função denominar e comunicar, e seria a primeira linguagem que surge. Depois teríamos a linguagem egocêntrica e a linguagem interior, intimamente ligada ao pensamento.   
Fala egocêntrica: A progressão da fala social para a fala interna, ou seja, o processamento de perguntas e respostas dentro de nós mesmos – o que estaria bem próximo ao pensamento, representa a transição da função comunicativa para a função intelectual. Nesta transição, surge a chamada fala egocêntrica. Trata-se da fala que a criança emite para si mesmo, em voz baixa, enquanto está concentrado em alguma atividade. Esta fala, além de acompanhar a atividade infantil, é um instrumento para pensar em sentido estrito, isto é, planejar uma resolução para a tarefa durante a atividade na qual a criança está entretida (Ribeiro, 2005). 
Uma contribuição importante de Vygotsky e seus colaboradores, descrita no livro Pensamento e Linguagem (1998), do mesmo autor, é o fato de que, por volta dos dois anos de idade, o desenvolvimento do pensamento e da linguagem – que até então eram estudados em separado – se fundem, criando uma nova forma de comportamento.
Este momento crucial, quando a linguagem começa a servir o intelecto e os pensamentos começam a oralizar-se – a fase da fala egocêntrica – é marcado pela curiosidade da criança pelas palavras, por perguntas acerca de todas as coisas novas (“o que é isso?”) e pelo enriquecimento do vocabulário.
O declínio da vocalizaçãoegocêntrica é sinal de que a criança progressivamente abstrai o som, adquirindo capacidade de “pensar as palavras”, sem precisar dizê-las.
Discurso interior e Pensamento
O discurso interior é uma fase posterior à fala egocêntrica. É quando as palavras passam a ser pensadas, sem que necessariamente sejam faladas. É um pensamento em palavras. Já o pensamento é um plano mais profundo do discurso interior, que tem por função criar conexões e resolver problemas, o que não é, necessariamente, feito em palavras. É algo feito de ideias, que muitas vezes nem conseguimos verbalizar, ou demoramos ainda um tempo para achar as palavras certas para exprimir um pensamento. 
O pensamento não coincide de forma exata com os significados das palavras. O pensamento vai além, porque capta as relações entre as palavras de uma forma mais complexa e completa que a gramática faz na linguagem escrita e falada. Para a expressão verbal do pensamento, às vezes é preciso um esforço grande para concentrar todo o conteúdo de uma reflexão em uma frase ou em um discurso. Portanto, podemos concluir que o pensamento não se reflete na palavra; realiza-se nela, a medida em que é a linguagem que permite a transmissão do seu pensamento para outra pessoa (Vygotsky, 1998). 
Finalmente, cabe destacar que o pensamento não é o último plano analisável da linguagem. Podemos encontrar um último plano interior: a motivação do pensamento, a esfera motivacional de nossa consciência, que abrange nossas inclinações e necessidades, nossos interesses e impulsos, nossos afetos e emoções. Tudo isso vai refletir imensamente na nossa fala e no nosso pensamento. (Vygotsky 1998).
Pensar é conceber, fragmentar e sequenciar – ao mesmo tempo – uma dada situação. As palavras são mediadores entre pensamento e mundo externo. 
A psicanálise e a linguagem
A linguagem e a psicanálise são domínios tão contíguos que não é tarefa simples estabelecer um limite entre os dois campos, separados pela mais porosa das fronteiras. A passagem de uma para outra está sempre aberta, basta seguir as fendas do caminho. É o que faremos aqui. 
A linguagem humana é o termo entre o eu e o outro. Entre o sujeito que fala e seu ouvinte existe um anteparo, uma proteção, uma espécie de muralha que se ergue, mesmo quando há silêncio. Entre dois seres humanos existe sempre a muralha da linguagem. 
Nada há no mundo que não participe da linguagem: a realidade se expressa na palavra e só existe na medida em que se possa dizê-la. A linguagem tem uma existência dinâmica, está em permanente processo de criação por sua multidão de falantes — as forças vivas dos sujeitos que reagem contra a coisificação da linguagem. Essas forças não estão presentes apenas nos poetas, estão enraizadas nas falas de todos. 
A língua, a linguagem, o símbolo. O homem, desde sempre, foi obrigado a alojar sua fala e seu pensamento na linguagem. Entretanto, pensamento e linguagem são matérias de ordens diferentes. 
A capacidade humana para criar a linguagem se realiza na língua de uma comunidade linguística específica. O sujeito utiliza essa língua em sua fala (ou discurso) individual. Dada sua origem “comunitária”, a fala de um sujeito é necessariamente vascularizada pelas vozes da cultura de que faz parte, dentro de uma sincronia em constante mutação, sem jamais atingir o “equilíbrio” ou o “ponto ideal” — que só poderia ser mítico. 
A linguagem é sempre descontínua em relação à realidade, não é uma entidade geradora de significados definitivos. Além disso, o sujeito que a produz é um efeito de linguagem, uma reverberação, um precipitado na ordem do discurso, do qual não é mestre. Nas palavras de Jacques Lacan, “enquanto é linguagem humana, nunca há univocidade do símbolo ... a linguagem não é feita para designar coisas ... há um logro estrutural da linguagem humana, neste logro está fundada a verificação de toda a verdade”. 
O “logro estrutural” da linguagem humana consiste em sua estrutura de rombo, análoga à do sujeito que a criou. Por isso mesmo, na constituição das chamadas línguas naturais (português, francês, inglês etc.) há sempre três elementos: EU (o sujeito que fala), TU (seu ouvinte) e ELE (o assunto de que se fala). Este último aponta para a simbolização inerente à existência da linguagem; a simbolização que está no lugar de uma ausência, da falta que também é do sujeito que fala.
Analogamente, a ordem unária é a do registro do inconsciente, tal como descrito por Freud: no inconsciente, tudo é possível, não existe contradição, é tautológico, não há diferença entre verdadeiro e falso; o inconsciente conserva o termo que exclui, é autoreferencial e irrompe nas formações do inconsciente que aparecem no consciente (atos falhos, chistes, sonhos e sintoma). Os enunciados do unário não são organizados como alteridade e como relação de causa e efeito. Como faltam dados à “explicação” linear causal, surge o não-senso; por isso os temas do inconsciente sempre se repetem. A ordem do unário é a lógica do não-saber, do paradoxo, da errância da verdade e de qualquer simetria. O unário, contraditório por princípio, se configurará privilegiadamente na arte. Ele funciona na lógica da multiplicidade, campo da conjunção aditiva inclusiva, do ser e não ser simultaneamente, na possibilidade de transição de um lado a outro — esse é o campo do simbólico inconsciente. 
A psicanálise revela que a linguagem não é apenas uma ferramenta para representar a realidade e dizer coisas, mas é a própria estrutura da realidade.
O pensamento, ao contrário da inteligência, não vive de plantão. Ele é uma faculdade que nos “acontece” tão-somente quando é provocado, quando há um estranhamento em relação ao mundo, quando os dados da realidade produzem equívoco e desconcerto. Caso a falsa conexão produzida pela inteligência não causar estranhamento, o pensamento não é ativado. O pensamento surge do caos, da desorganização que provoca desconforto. Por isso mesmo, para o pensamento poder pensar o caos, ele precisa recusar a organização da inteligência. O pensamento e a linguagem são diferentes. Contudo, é na linguagem que o homem encontra as significações, embora precárias, que o protegerão contra o excesso de realidade de um mundo que existe antes da linguagem, pois o mundo e a natureza são estranhos e absurdos para o homem, até que possam se aproximar de nós pela mediação simbólica da linguagem que irá, então, modelar de sentido a realidade.
A natureza e os animais não exigem sentido. O homem, ser de linguagem, o exige, ainda que falso. Pouco importa. Por meio da linguagem, a pressão pela significação encontra ancoramento: a urgência do sentido tem como corolário a criação de inúmeros sistemas simbólicos, fazendo da linguagem a forma mais humana de apreensão do mundo. Desta forma, o homem pode dar corpo às suas fantasias, sonhos e medos, e se aproxima do conhecimento de si mesmo, para o qual é incessantemente convocado. Portanto, a reflexão sobre a linguagem — e sobre o discurso — que lança luz e redimensiona continuamente o conhecimento do homem.
A aquisição da linguagem: a via da comunicação simbólica. O homem, hoje se sabe, é programado geneticamente para a aquisição da linguagem (para a simbolização) e para o aprendizado de uma língua — ou mais línguas, se for necessário, se ele desejar etc. Ao chegar ao mundo, a criança “pega o bonde andando” em relação à linguagem: todos falam à sua volta, entre si e com a própria criança, e sua aprendizagem da língua se dá sem nenhum método especial, sem nenhuma organização ou hierarquia de dificuldades. Há quebras de ritmos, interrupções, mudanças de plano e assunto, mas basta ouvir a língua falada por algum tempo que ela aprende a falar. 
Quando da aprendizagem da língua materna (i.e., a primeira língua que se aprende), com a simples exposição à língua, um mecanismo já “programado” antes de a criança nascer é acionado e o complexo processo de aquisição da linguagem acontece “naturalmente”, sem que a criança se dê conta. E, como o homem é vocacionado para a linguagem, a aprendizagemda língua independe de maior ou menor inteligência por parte do aprendiz. 
Sem exposição a alguma língua, não aprendemos a falar. As crianças surdas, simbólicas que são, comunicam-se por meio de outros sistemas — a linguagem dos sinais, por exemplo —, mas nada as impede de, mais tarde, ao aprenderem a linguagem verbal, produzirem sons e assim se comunicarem com os falantes que não conhecem a linguagem dos sinais. (Há crianças que, expostas desde muito cedo a duas ou mais línguas, aprendem-nas simultaneamente; por outro lado, há crianças que, igualmente expostas, não conseguem fazer isso, por uma razão ou por outra. Não desenvolveremos esse tema por fugir ao escopo do trabalho.) 
Cada língua é um universo diferente. Aprender uma língua envolve a aquisição e a compreensão de uma forma específica de ver, nomear e organizar o mundo. Por exemplo, em português, a cor azul, além da própria cor, tem seu sentido ligado a sensações positivas, alegres. Quando alguém pergunta “Tudo azul com você?”, certamente não pergunta sobre suas tristezas. Mas, em inglês, não é bem assim. O sentido da cor azul (blue) está associado à tristeza, a tal ponto que a música de lamento criada pelos afro-americanos, cujas letras relatam suas dores e tristezas, chama-se blues. 
No entanto, a linguagem é resultante da faculdade simbólica do homem. O símbolo é o que representa alguma coisa ausente. Por exemplo, se o presidente de uma empresa precisa faltar a uma solenidade, seu lugar ficará vazio. Para isso não acontecer, ele envia um representante para suprir sua ausência. O “representante” não é o presidente, está apenas em seu lugar. Esta é a função do símbolo: representa a coisa (ou pessoa), mas não é a coisa (ou pessoa) representada. 
A possibilidade de simbolizar é praticamente inexistente nos animais.
A verdade de nossa linguagem é inacabada e inominável — é inatingível. À linguagem humana falta verdade eterna. Por isso mesmo, a palavra, se nos revela, também nos oculta em sua opacidade. Resta ao homem se esgarçar no espaço da linguagem
A psicanálise nasce com o propósito — uma insistência de Freud — de desrecalcamento que advirá pela fala. Esta põe em exercício o mecanismo que rege o funcionamento da linguagem, em tudo similar ao dos sonhos: a condensação (a metáfora) e o deslocamento (a metonímia), tal como descritos na Interpretação dos sonhos (1900), em que Freud revela ao mundo a existência de uma instância mental sobre a qual o homem não tem controle e afirma que “o homem não é senhor de sua casa” porque está submetido às leis do inconsciente.
O deslocamento e a condensação. Linguisticamente, a metáfora e a metonímia são figuras de linguagem, alvo de interesse do homem desde sempre. Na Retórica, Aristóteles (século IV a.C.) descreve o funcionamento dessas figuras, entre outras, produzidas na linguagem.
O processo primário caracteriza o sistema inconsciente, no qual a energia escoa livremente, passa de uma representação para outra, segundo os mecanismos de condensação e deslocamento que aí são simultâneos; a energia, livre, reinveste plenamente as representações de desejo. Já no processo secundário, que caracteriza os sistemas pré-consciente e consciente, a energia está atenta antes de escoar de forma descontrolada; as representações são investidas de modo estável; a satisfação é adiada, permitindo experiências mentais que levam a diferentes caminhos de satisfação; finalmente, os mecanismos de deslocamento e condensação produzem-se um de cada vez. Como se vê, a linguagem é a condição do inconsciente ou o inconsciente é a condição da linguagem. A linguagem existe porque existe o inconsciente, ou vice-versa. É difícil determinar alguma anterioridade, e provavelmente desnecessário.
O sonho. É por meio dos sonhos — ora tão enigmáticos, ora tão iluminadores, ora apenas um recolho dos “restos do dia” — que Freud abre as portas para o inconsciente. Nas formações do inconsciente — sonhos, chistes, atos falhos e sintomas — o recalque vai-se manifestar. É fato que o sonho é a realização do desejo inconsciente. Mas o desejo nem sempre se apresenta claro: muitas vezes de modo inverso, contraditório e enigmático. Ele clama por investigação e decifração. 
Sonhos são atos psíquicos que têm sentido e intenção para o sonhador, apesar de parecerem estranhos, incoerentes ou absurdos. Isto acontece porque a linguagem dos sonhos é arcaica: os contrários podem ser representados pelo mesmo elemento, a sequência temporal da vigília não existe, os conceitos são ambivalentes e podem englobar significados opostos. 
Nos sonhos, há certos elementos que não devem ser interpretados, pois têm a função de estabelecer o significado de algum outro. Em suma, a linguagem dos sonhos é o método pelo qual a atividade mental inconsciente se expressa. O inconsciente, porém, fala um dialeto próprio e cabe ao sonhador decifrá-lo. 
As parapraxias. Falando sobre a linguagem em “O interesse científico da psicanálise” (1913), Freud insiste no tema e estende o sentido da fala: observa que ela significa a expressão do pensamento por palavras, gestos, escrita, enfim, todos os métodos pelos quais a atividade mental pode ser expressa. Afirma que a psicanálise faz interseção com vários campos do conhecimento e pode revelar inesperadas relações entre essas áreas e a patologia da vida mental. Há, por exemplo, fenômenos que podem ser observados em pessoas normais, como os sonhos, que vimos acima, e as parapraxias. 
Falhas no aparelho psíquico em pessoas normais, as parapraxias são o esquecimento de palavras, de nomes, do que se pretendia fazer, lapsos de língua e escrita; guardar objetos em lugares errados e ser incapaz de encontrá-los; perder objetos e cometer enganos em assuntos que conhecemos bem. Para Freud, são fenômenos que têm significado e intenção. Apesar de aparentemente involuntários, têm motivos válidos que podem ser descobertos sob investigação analítica. 
Nos lapsos de língua, por exemplo, sucumbimos à transposição de fonemas (dizer “ivorregável” em vez de “irrevogável”, por exemplo), amalgamação (isto é, mesclar sílabas: o falante quer dizer “creme” e diz “cleme”, mesclando as palavras “creme” e “clima”, por exemplo) e distorções (dizer “pêsames” quando deve dizer “parabéns”). A formação de substituições e contaminações nos lapsos de língua é o começo do trabalho de condensação encontrado em atividade febril no sonho. O lapso de língua, que se aproxima do chiste, tem efeito revelador: pode trair o falante ou dar ao ouvinte uma orientação quanto ao sentido real do que o falante diz, pois, por caminhos incomuns, por meio de associações externas, os pensamentos inconscientes acabam encontrando sua via de escoamento.
Os chistes. A importância que Freud atribui aos chistes o fez dedicar a eles um volume inteiro de sua obra: Os chistes e sua relação com o inconsciente (1905). Busca, com o auxílio dos teóricos conhecidos até então, definir o chiste de várias formas. Eis algumas definições: “O chiste é um juízo lúdico” (Fischer); “Fazer chistes é simplesmente jogar com ideias” e “A habilidade de encontrar similaridades entre coisas dessemelhantes” (Jean Paul); “A habilidade de fundir, com surpreendente rapidez, várias ideias, de fato diversas umas das outras, tanto em seu conteúdo interno quanto no nexo com aquilo a que pertencem” (Fischer). É bem verdade que, em grande número de juízos chistosos, encontram-se mais diferenças do que similaridades — e essas definições relacionam-se mais com a habilidade do piadista que com os chistes que faz. 
 Eis o processo psicológico, sobre o qual repousa o cômico, que o comentário chistoso provoca: a transição imediata da atribuição de sentido, dessa descoberta da verdade e de suas consequências — a consciência ou impressão de nulidade. 
Finalmente, o chiste é um triunfo público do sujeito do inconsciente em relação ao recalcamento, o qual fica suspenso por alguns segundos. Diferente das outras formações do inconsciente (atos falhos, sonhos, sintomas), que são privativas do sujeito, o chiste é partilhadosocialmente, é a única expressão social do sujeito do inconsciente. Sem mencionar o momento de relaxamento e enorme prazer que o chiste provoca em todos; um prazer compartilhado pelo riso e pelo alívio das tensões por parte de quem faz e de quem ouve e entende.
Assim, as diversas maneiras de refutar a frase “eu (um homem), lhe amo (ele, um homem) permitem engendrar as principais formas da paranoia; nessa geração formal, Freud se apoia explicitamente numa análise estritamente gramatical do tipo sujeito-verbo-objeto (“Observações psicanalíticas sobre a autobiografia de um caso de paranoia [Dementia paranoides]”). Encontram-se procedimentos semelhantes no tocante à fantasia da criança espancada (“Uma criança é espancada”), pela análise da pulsão escópica (que repousa essencialmente sobre a simetria de língua entre “observar” e “ser observado”; cf. “Pulsão e destino das pulsões”). De forma mais geral, pode-se assinalar que essas analogias colocam especialmente em causa duas noções oriundas do estudo das línguas: a oposição ativo/passivo, por um lado; a noção de frase, por outro (Idem, p. 04).
“Sabe-se o quanto a oposição ativo/passivo tem um papel importante na construção freudiana. Tirante os exemplos que citamos, ela funda um número bastante grande de conceitos essenciais da teoria. Essa oposição, todavia, se deixa bem definir apenas em certas tradições gramaticais. Todo uso que pode lhe ser feito repousa, pois, em última instância, numa analogia com línguas particulares. Quanto à noção de frase, tomada em sua generalidade, parece que ela também funda analogias decisivas na teoria freudiana, especialmente a propósito da fantasia” Idem, p. 05).
“Reduzir a fantasia à forma de uma frase simples do tipo sujeito-verbo-complemento: tal é o intuito a que a análise deve aparentemente se propor. A noção de frase poderia parecer, é verdade, uma facilidade de exposição sem consequências. Mas, de fato, toda noção gramatical, por mais elementar que seja, estenografa, no tocante às línguas naturais, um conjunto de proposições teóricas das quais nenhuma é trivial – a noção de frase não faz exceção. O fato de a psicanálise ter podido, sem ser diretamente desmentida pelos dados, impor ao seu modelo teórico uma coação do tipo “toda fantasia tem a estrutura de uma frase” supõe, pois, uma analogia estrutural profunda” (Idem, p. 04).
“Freud, a partir do estudo do sonho, havia sido levado a aventar que o inconsciente não conhecia a contradição. Não se deve minimizar o caráter exorbitante que essa proposição tomava: quando o inconsciente é fundamentalmente definido por Freud como um conjunto de pensamentos, essa proposição torna, com efeito, a excetuar os processos primários de uma lei fundamental do pensamento. Era, pois, urgente estabelecer se acaso não se podia corroborar uma hipótese tão forte por vias independentes. Ora, é justamente o que o estudo de Abel permite fazer. Se ele tem razão, com efeito, a observação da linguagem confirma, independentemente da existência da psicanálise, que o princípio da contradição pode não ser sempre válido no pensamento” (Idem, p. 06).
“Acrescentemos que Freud promove uma concepção cronológica do inconsciente – o inconsciente do sujeito é determinado por seu passado individual. Ora, as línguas são, também elas, resultado de um passado; e as palavras que as constituem têm notadamente uma longa história, tão esquecida pelos sujeitos falantes quanto podem ser esquecidos certos episódios de sua infância. O processo de formação de palavras	 pode, portanto, ser suposto a lançar uma luz sobre esse passado, anterior a toda memória e, hoje, inacessível. As línguas (e especialmente uma língua antiga como o egípcio) são, então, como que sedimentações geológicas em que se encontrariam, fossilizados, os vestígios daquilo que houve. Nesse caso, a descrição de um dado de língua permite o acesso a um funcionamento desconhecido, análogo, ou até mesmo, idêntico ao funcionamento inconsciente” (Idem, p. 05).
Lacan e o inconsciente estruturado como uma linguagem
Jacques Lacan nasceu em Paris em 13 de abril de 1901, faleceu em 09 de setembro de 1981. formou-se em medicina, indo para psiquiatria e foi discípulo de Gatian de Clérambault. Em 1932 defende sua tese em psiquiatria na Faculdade de Medicina de Paris: Da psicose paranoica em sua relação com a personalidade. É através da clínica da psicose e das questões suscitadas pela psicose, em especial a paranoia, que Lacan entra em contato com a obra de Freud. Em especial o trabalho Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia (“O caso Schreber”) (1911).
Além de Freud, Lacan recebeu influências de outros grande pensadores como Ferdinand de Saussure, Alexandre Kojeve, Claude Lévi-Strauss, Alexandre Koyré, Hegel e Marx.
Em 1950 inicia seu projeto de retorno aos textos freudianos, o seu conhecido retorno a Freud.
O que nos interessa aqui é sua teoria da linguagem e sua influência em outro campos do saber. Lacan se utilizou muito da linguística de Saussure, mas a subverteu.
Entendemos que primeiramente o Grande Outro é o Outro da linguagem, onde se encontram todas as palavras e expressões de uma língua, onde o sujeito busca uma alteridade para sua constituição, um Outro que já está estabelecido, pois: 
“Nascemos num mundo de discurso, de discurso ou linguagem anteriores ao nascimento e que continua após a morte. Muito antes de uma criança nascer, um lugar já está preparado para ela no universo linguístico dos pais: os pais falam da criança que vai nascer, tentam escolher o nome perfeito para ela, preparam-lhe o quarto, e começam a imaginar como suas vidas serão com uma pessoa a mais no lar.
As palavras que usam para falar da criança têm sido usadas, com frequência, por décadas, se não séculos e, geralmente, os pais nem as definiram e nem as redefiniram, apesar dos muitos anos de uso. Essas palavras lhes são conferidas por séculos de tradição: elas constituem o Outro da linguagem, como Lacan chama em francês (l’Autre du langage), mas que podemos tentar converter em outro da linguística, ou o Outro como linguagem. (Fink, 1998, p. 21, grifos do autor).
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Vamos primeiro entender o que é o significante para Lacan. Nas palavras de Lacan: "é o que representa um sujeito para outro significante" (1998). Fórmula enigmática, mas não ininteligível. Primeiro, o significante não está eternamente aprisionado ao significado. Na linguagem ele pode se movimentar de acordo com o uso que se faz dele. Segundo, não existe significante isolado, para haver significação é necessário, no mínimo, dois significantes. 
Nesse ponto se vê todo o poder da linguagem, ela pode marcar um sujeito com um "tu és isso" para toda vida ou pode lhe oferecer meios de ele deslizar por outros significantes, se preferirem, por outras palavras. O que importa na análise, e mesmo para constituição de um sujeito, não é o significado determinado pelo dicionário, mas como aquele significante representa esse sujeito para outro significante, qual a relação que o significante tem na economia libidinal e na história de cada sujeito.
O grande Outro como depositário dos significantes, é o lugar de onde um sujeito receberá um significante que lhe fará surgir e a partir desse momento, deslizará na cadeia com outros significantes. Fala-se para isso, para receber do Outro mais significantes, e não ficar somente aprisionado a um. Para clarificar nossos postulados, utilizamos o seguinte exemplo: 
“Um 'menino mau', é representado como menino mau em relação ao ideal de sua mãe. Logo 'menino mau' (ou qualquer outra identificação que serviu, num tempo, como significante-mestre) funciona para o sujeito como uma linha mestra durante a vida toda. Ele é definido como tal e se comporta como tal. No próprio momento em que o sujeito se identifica com esse significante, fica petrificado” (Laurent, 1995: 38). 
O problema se instaura para o sujeito se o Outro, representado pela mãe, não ofertar a ele um outro significante, ele pode ser um menino mau, mas pode ser outras coisastambém, desde que o significante “menino mau” não se fixe, o que proporciona o deslizamento da cadeia significante. Isto é, possibilitando a formação da cadeia significante, pois para o significante, para produzir significação, é preciso um outro significante. 
“O significante produzido no campo do Outro faz surgir o sujeito de sua significação. Mas ele só funciona como significante reduzindo o sujeito em instância a não ser mais do que um significante, petrificando-o pelo mesmo movimento com o que chama a funcionar, a falar, como sujeito” (Lacan, 1998, p. 197). 
Somente aceitando esse significante que a criança tem a possibilidade de advir enquanto sujeito. Por permitir que esta criança tenha sua entrada na linguagem “formalizada”, o significante homologa esta entrada. Pode-se pensar no significante um tanto comum como “o filhinho da mamãe”, na maioria das famílias é conhecida a forma de agir desse “filhinho da mamãe”, fazendo de tudo para agradá-la, pois é dessa posição que ele responde ao desejo materno para satisfazer não só à mãe, mas também a si.

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