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1 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC HEMATOLOGIA JULIANA OLIVEIRA HEMOGRAMA DEFINIÇÃO O hemograma é composto por três partes: eritrograma, leucograma e o plaquetograma. ERITROGRAMA A primeira coisa que devemos fazer ao analisar o eritograma é olhar as hemoglobinas e observar se seu valor está adequado para a faixa etária do paciente. VCM (volume corpuscular médio), HCM (pode variar em relação ao volume da célula) e CHCM (medida de concentração de hb dentro da hemácia) são chamados de índices hematimétricos, os quais vão medir o volume da hemácia e a concentração de hemoglobina dentro dela. Tem-se ainda o RDW que é o índice de anisocitose, medindo a variação de tamanho das hemácias. Um exemplo de pacientes que tem Rdw elevado são p.ex. os pctes com anemia hemolítica, anemia ferropriva (qntidade de ferro aumentada ou diminuída) e anemia aguda. Atenção! Para produzir normalmente as hemácias é necessário que se tenha: ▪ Progenitores hamatopoiéticos da medula saudáveis produzindo células. ▪ Ferro ▪ Citocinas → eritropoietina produzida pelo rim. ▪ Vitaminas ▪ Microambiente medular Quando suspeitar de anemia? Valores de hemoglobina < 13,5 para homens e > 12,5 para mulheres. Uma vez que estabelecemos que é anemia, devemos definir se ela é hipocrômica ou microcítica e isso é definido através do valor de VCM e HCM. Sendo assim: - VCM < 80 tem-se uma microcitose. > 100 tem-se uma macrocitose. - CHCM < 31 tem-se uma hipocromia. - Rdw: Anisocitose. Sempre ao dizer que o paciente tem anemia, deve ser feita uma classificação: Hipo x hiperproliferativa. Microcitose x macrocitose. Hipocromia x normocromia. Já os reticulócitos definem se eu tenho uma anemia hiperproliferativa ou hipoproliferativa, visto que: - reticulócitos: A medula não está produzindo de acordo com a necessidade do organismo, logo, tem-se uma anemia hipoproliferativa. - reticulócitos: A medula está tentando compensar a perda, seja lá qual o motivo, logo, tem-se uma anemia hiperproliferativa. E quando se tiver os valores de Hb acima do normal? Tem-se um quadro de policitemia, o qual é o oposto da anemia. - Hb > 16,5 H ou > 16 M - Ht > 49% H ou > 48% M Existem duas classificações, sendo a primeira delas a policitemia primária, a qual ocorre devido a um problema que está na medula óssea, um defeito chamado de “policitemia vera”, de modo que se tem uma produção exacerbada de hemácias, a outra classificação é a policitemia secundária, à qual é uma resposta do organismo à algum mecanismo de hipoxemia, p.ex. pctes com DPOC. LEUCOGRAMA A célula que deve aparecer em maioria no leucograma de um adulto são os neutrófilos (40-70%), para que se diga que está normal. A primeira coisa que se deve fazer ao olhar o leucograma é olhar os valores absolutos, as porcentagens relativas para ver se está dentro do padrão esperado, pois, o que define se uma célula está aumentada ou abaixo do normal é o valor absoluto, logo, para dizer se o paciente tem neutropenia ou não se deve olhar o valor absoluto e não o valor referencial relativo à porcentagem. ▪ Leucopenia < 3500 ▪ Leucocitose > 10 – 11 mil Mas isso se dá as custas de que célula? Quais células estão aumentadas na leucocitose? Foi linfócito? Está aparecendo algum blasto? Foi eosinófilo? A informação deve ser dada de forma completa, p.ex. paciente com leucopenia as custas de neutropenia e linfopenia associados. ➔ Neutropenia: 2 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC HEMATOLOGIA JULIANA OLIVEIRA ▪ < 1500 neutrófilos. ▪ Leucócitos: 4.400 a 11.000 cels/microL ▪ 40 a 70% de neutrófilos Tem-se uma neutrofilia quando se tem um valor de neutrófilos > 7.700 neutros/microL. Nem toda neutrofilia é por conta de algum problema na medula como as doenças mieloproliferativas crônicas, pode-se ter uma neutrofilia em razão do uso de corticoides, cirurgia de remoção do baço, tabagismo, processo infeccioso inflamatório, IAM. Logo, qualquer processo inflamatório pode levar a uma neutrofilia. ➔ Reação leucemóide: ▪ Refere-se a um aumento dos leucócitos similar a leucemia, mas sem que seja uma leucemia. ▪ Leucograma alto > 50.000 cel/microL, mas não há descrição de blastos no hemograma. ▪ A maioria das reações leucemóides contem neutrófilos + células imaturas não blásticas. ▪ Pode ser induzida por infecções, ATRA e hipoesplenia. O que é “desvio à esquerda?” Na medula tem-se as formas mais imaturas das células de defesa, as quais vão condensando o núcleo, a cromatina, atendendo ao processo de maturação normal, desse modo, as formas mais imaturas em uma medula normal vão estar dentro da medula e as formas mais maduras estarão no sangue periférico. Desse modo, toda vez que no sangue periférico aparecer formas imaturas isso significa que há um desvio à esquerda. Em um hemograma normal a maior parte das células vai ser de neutrófilos e pode se ter um pouco de bastões (<5%), no entanto, caso os bastões aparecem acima de 5-10% e além deles surjam metamielócitos, mielócitos, promielócitos ou mieloblastos, tem-se um desvio à esquerda. Toda vez que se tem células imaturas no hemograma e descrições de granulações tóxicas, vacuolizações no citoplasma do neutrófilo e corpos de Dohle que são restos de fragmentos no núcleo, isso corresponde à um neutrófilo que está respondendo a um processo infeccioso. O que é desvio à esquerda escalonado ou não escalonado? P.ex. tem-se um paciente com neutrófilo de 20 mil, desses 20 mil, 10% são de bastonetes, 6% de metamielócitos, 2% de mielócitos. As formas imaturas estão aparecendo, mas em menor quantidade, logo, estão obedecendo a hierarquia, de modo que os bastonetes estão em maior quantidade. Logo, quando se diz que é um desvio à esquerda escalonado, a medula está obedecendo uma ordem, de modo que se tem as células maduras em maior quantidade e as células imaturas em menor quantidade. No entanto, quando se fala de desvio à esquerda não escalonado traduz fisiopatologicamente a liberação de granulócitos jovens em processo de produção não- hierarquizado, ou seja, há uma maior liberação de células imaturas e uma menor liberação de células maduras, logo, esse processo está associado à disfunção da medula óssea. ➔ Linfocitose: ▪ Linfócitos > 4.000 linf/microL ▪ Infecções por vírus fazem muita linfocitose p.ex. Mononucleose (EBV), CMV, toxoplasmose. ▪ DRESS – uso de corticoide causando linfocitose associada. ▪ Stress: Trauma, emergências cardíacas p.ex. IAM. ▪ LLC – falha medular. O que chama atenção para que eu possa dizer se é uma linfocitose reacional ou uma linfocitose de uma doença como p.ex. de uma leucemia linfocítica crônica é a quantidade de células. Na linfocitose reacional o valor de linfócitos é alto, mas fica em torno de 10 – 20 mil, nos problemas relacionados à medula óssea esses valores vão ser muito maiores ficando em torno de 50 – 80 mil. Tem-se linfopenia quando se tem valores de linfócitos < 1.000 linf/microL. Esse quadro pode ser desencadeadopor HIV, SARS-COV2, influenza, desnutrição, uso de corticosteróides e imunodeficiência. ➔ Eosinofilia: ▪ Eosinófilos > 500/microL ▪ Hipereosinofilia > 1500 /microL ▪ Pacientes com asma, rinite, dermatite atópica, podem manifestar mais facilmente a eosinofilia. ▪ Infecções por parasitas podem apresentar mais facilmente a eosinofilia. ▪ Pacientes com doenças reumatológicas e CA, podem apresentar eosinofilia também mais facilmente. ➔ Monocitose: ▪ Monócitos > 1000/microL. ▪ Pode ser benigno ou secundário a doenças malignas da medula óssea como p.ex. LMMC ou LMC. 3 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC HEMATOLOGIA JULIANA OLIVEIRA ▪ Pode-se ter monocitose em doenças reumatológicas, sec ao uso de corticosteroides, sec a infecções, a gravidez ou ainda a asplenia. PLAQUETOGRAMA ➔ Métodos de contagem das plaquetas: ▪ Contagem automatizada: As plaquetas são contadas apenas pela máquina. ▪ Contagem pelo fônio: Contagem manual. ▪ Descrição de macroplaquetas. Por que é importante saber isso? A máquina é programada para reconhecer plaquetas do tamanho x e do tamanho y, se a plaqueta tá maior que esses dois tamanhos a máquina não vai contar aquela célula, logo, se eu tenho macroplaquetas e aquela contagem foi automatizada o valor de plaquetas vai ser menor que o real. Logo, sempre que houver dúvida acerca da contagem pela máquina deve-se solicitar a contagem pelo fônio. ▪ Trombocitopenia < 150.000 ▪ Trombocitose > 450.000 ▪ Pseudotrombocitopenia. Toda vez que se deparar com uma baixa contagem de plaquetas deve-se checar o método de mensuração para avaliar se houve uma contagem incorreta. HEMOGRAMA NAS DOENÇAS HEMATOLÓGICAS ➔ Reação inflamatória com desvio à esquerda ➔ LMA (leucemia mieloide aguda): Sempre que houver leucemias agudas tem-se blastos (pelo menos 20%) circulando em grande quantidade no sangue periférico ou medula (se é mieloide ou linfóide depende do tipo de blasto). Quadro clínico: - Sintomas relacionados à pancitopenia. - Infecções. - Fadiga, palidez. - Fenômenos hemorrágicos p.ex. epistaxe, gengivorragia e equimoses. - Dor óssea é pouco frequente na leucemia mieloide, é mais comum na linfóide. - Os pacientes podem abrir um quadro de leucemia a partir de uma artralgia. - Infiltração na pele por blastos. - Sarcoma granulocítico em órbita. - Hipertrofia de gengiva. Achados no hemograma: Toda vez que se tem uma leucemia aguda, a medula óssea está sendo ocupada por células que não deveriam estar lá, logo, se houver blastos em grandes quantidades tem-se uma queda das células normais. - Anemia normocítica/normocrômica. - Contagem de reticulócitos baixa. - 75% plaquetas < 100.000 ao diagnóstico. - 20% leucócitos > 20.000 - 25 a 40% leucócitos < 5.000 - Bastonetes de Auer na periferia é patognomônico de leucemia mieloide aguda. Toda pancitopenia merece uma investigação à nível medular. ➔ LLA: Quadro clínico: - Sintomas relacionados à pancitopenia. - Infecções. - Fadiga, palidez. - Fenômenos hemorrágicos p.ex. epistaxe, gengivorragia e equimoses. - Dor óssea é muito frequente. - Visceromegalias são muito frequentes. - As células linfóides são menores que as células mieloides, logo, possuem uma tendência a passarem a BHE e se infiltrarem nos testículos → requer atenção. - Atenção ao SNC para evitar recidiva. Paciente tem cefaleia? Turvação visual? Paralisia de pares cranianos? Alterações motoras? Alterações de equilíbrio? - Infiltração na pele por blastos. - Sarcoma granulocítico em órbita. - Hipertrofia de gengiva Achados ao hemograma: - Anemia normocítica/normocrômica. - Contagem de reticulócitos baixa. - Leucograma normal, baixo ou acentuadamente elevado. ➔ LMC: (teremos uma aula só disso)!! ➔ LLC: Quadro clínico: - Normalmente sem sintomas, que fez o hemograma por algum motivo e apresentou leucocitose. - Linfonodomegalias em cadeia cervical. Esses linfonodos podem aparecer e sumir. - 5 a 10% podem ter sintomas B: Febre, sudorese a noite e perda de 10% do peso nos últimos 3 a 6 meses. - Infecções visto que os neutrófilos não funcionam direito apesar de estarem “normais”. - Anemia hemolítica auto-imune ou plaquetopenia abrupta. - Visceromegalias. Achados ao hemograma: - Linfocitose com 100.000 mil, ou seja, chama muito à atenção. - Contagem absoluta de linfócitos > 5.000/microL. - Hiperviscosidade se > 250.000 - Anemia, neutropenia, plaquetopenia. - 10% manifestações hemolíticas auto-imune. (coombs direto positivo → pega a hemácia e reage com o soro a fim de detectar se na superfície da hemácia do pcte existem 4 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC HEMATOLOGIA JULIANA OLIVEIRA auto anticorpos aderido, quando existem, diz-se que esse teste é positivo.) Quando diz coombs indireto utiliza-se o soro do paciente com hemácias do laboratório, a fim de provar que o auto anticorpo está no plasma. - 3% plaquetopenia auto-imune. ➔ Imunodeficiências: - São muitas entidades e pode-se mesclar o tipo de imunodeficiência. O que é mais importante saber sobre imunodeficiências primárias? - Infecções de repetição: Desde quando? Quais os sítios de infecção? P.ex. Imunidade humoral afetada: Otite média, sinusite, pneumonia, Encapsulados: Haemophilus. streptococcus. Diarreia crônica: Salmonaella, giárdia, campylobacter. P.ex. Deficiência na produção de neutrófilos: Infecções invasivas em pele e partes moles e são sempre internados por vírus e fungos → internam sempre com celulites e granulomas. Toda vez que o problema é na célula as infecções não são simples p.ex. CMV, EBV, herpes vírus e mycobacteria. Chamam atenção pelo grau da infecção. Alterações no hemograma: - Pode ser normal, mas o paciente tem histórico de infecções de repetição, e deve-se solicitar as imunoglobulinas, as quais vão demonstrar anticorpos baixos. - Infecções de repetição + neutropenia + linfopenia → parte celular. Deve-se sempre chegar os hemogramas antigos e solicitar novos hemogramas para ver as mudanças e imunoglobulinas e com base nisso encaminha o paciente para o infectologista.