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1 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Dengue É uma doença febril aguda endêmica em várias regiões do mundo, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais. No Brasil, é uma doença de notificação compulsória, devido os inúmeros casos. É uma arbovirose, do gênero flavivírus, transmitida pelas fêmeas do mosquito Aedes aegypti infectadas. OBS: Índice de infestação predial: é um dos indicadores mais utilizados para avaliação de situação de risco para a transmissão da dengue, Chikungunya e zika nos municípios. É uma avaliação feita para análise da presença do vetor de transmissão nas residências e permite uma inferência quantitativa e de distribuição dele. É feita pelos agentes comunitários de saúde e seus resultados têm demonstrado que a densidade de casos de dengue permanecerá elevada no futuro. Aedes Aegypti É um mosquito que apresenta alta densidade. Possui hábitos diurno e vespertino e apresenta capacidade limitada de voo. Ele é preto com listras brancas no tronco, cabeça e pernas, inclusive é menor que os mosquitos comuns e produzem um ruído praticamente inaudível pelos seres humanos. Os machos se alimentam exclusivamente de frutas, as fêmeas, por outro lado, precisam de sangue para amadurecimento dos ovos, os quais serão depositados em água limpa. É importante salientar que o mosquito não é o causador da doença, ele é apenas o vetor. Ou seja, o mosquito não produz o vírus, ele transmite apenas a doença quando está infectado. - A fêmea do mosquito necessita de sangue para se alimentar e maturar seus ovos. Nesse sentido, ao picar um indivíduo portador do vírus da dengue que esteja em fase aguda (viremia), ela será infectada. - Uma vez no mosquito, o vírus será inicialmente instaurado no intestino e depois migrará para as glândulas salivares, a partir daí, quando o mosquito picar outra pessoa, ele liberará saliva infectada, o que estabelece um ciclo de infecção. A saliva contém substâncias analgésicas e que inibem o processo de coagulação rápida do hospedeiro, o que faz com que o sangue seja sugado mais facilmente e que o indivíduo não sinta a picada → Repasto sanguíneo. O vírus O vírus da Dengue pertence à família Flaviviridae, gênero Flavivírus, e é classicamente dividido em 4 sorotipos: DENV1 (mais prevalente), DENV 2 (mais virulento), DENV 3 , DENV 4 e mais recentemente o DENV5. - Promovem diferentes manifestações clínicas. Esses vírus apresenta RNA de filamento único como material genético, o qual é delimitado por um capsídeo proteico e por um envelope lipídico. - Esses envoltórios possuem antígenos que podem ser reconhecidas pelo sistema imune do hospedeiro e são úteis no processo de adsorção à célula alvo. OBS: A ordem de virulência dos sorotipos são: 2 >3 >4 >1, já a prevalência 1>4>3>2, ou seja, quanto mais prevalente, menos virulento. Os sorotipos da dengue apresentam proteção cruzada entre si, ou seja, se um paciente for contaminado pelo DENV1, ele não será reinfectado por esse mesmo sorotipo, mas pode ser contaminado por outro sorotipo, sendo essa segunda infecção geralmente mais grave. Patogênese Após a inoculação viral pela picada do mosquito, as primeiras células infectadas são as células de Langerhans (células dendríticas da pele). Haverá uma replicação inicial nessas células, e posteriormente, o vírus migrará para os linfonodos, monócitos e musculatura esquelética, aonde ele irá se multiplicar, com auxílio da ação dos lisossomos. Posteriormente, o vírus atinge a corrente sanguínea (viremia), e nesse momento, ele pode disseminar por todo o corpo, afetando fígado, baço, linfonodos regionais, medula óssea, além de estimular a produção de citocinas pró- inflamatórias, iniciando a fase febril aguda (fase sintomática da doença). As citocinas vão promover aumento da permeabilidade vascular, o que contribui para o desenvolvimento de hemorragias e formação de edema. 2 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP A gênese dos sintomas sistêmicos da dengue não é bem elucidada, mas acredita-se que ela é decorrente da ativação de células TCD4 e TCD8, da expressão de proteinas na superfície das células dendríticas e macrófagos infectados, bem como da liberação de diferentes citocinas e interleucinas. Resposta Imune Quando o vírus entra no hospedeiro, ele infecta as células da resposta imune inata, através da interação com receptores de reconhecimento padrão (PPRs) dessas células. Desse modo, ele consegue ser internalizado por elas e ser levado para os órgãos linfoides secundários, onde ele será apresentado. Nessa apresentação, haverá um recrutamento quimiotáxico para o tecido em que o patógeno está presente, a fim de auxiliar essas células da resposta imune inata. No entanto, ainda que haja essa montagem de uma resposta imune, o vírus não é destruído, pois ele faz modulação das células infectadas, ou seja, ele atua sobre alguns fatores de transcrição das células de defesa e inibe a produção de INF-1. - O DENV possui proteinas não estruturais tipo Ns, as quais bloqueiam os estímulos dos PPRs para produção de INF-1. Sendo assim, ainda que haja uma resposta imune, o vírus da dengue consegue evadir e continua se proliferando em excesso, provocando aumento do número de células infectadas. Quando a célula apresentadora de antígeno é infectada, ela promove a ativação de linfócitos TCD8 ou linfócitos TCD4, células B e células Nk. Com isso, podemos perceber que a infecção de uma célula da resposta imune pode provocar efeitos em diversas outras células. A ação dessas células de defesa contra os mecanismos de evasão viral provoca danos teciduais. Como consequência disso, haverá uma cascata de coagulação no organismo, envolvendo várias proteinas e plaquetas, a fim de promover hemostasia. No entanto, a perpetuação e intensificação desse processo fará com que a quantidade de plaquetas e os fatores de coagulação produzidos não sejam mais suficientes para conter o extravasamento de sangue para os tecidos. Todo esse quadro irá gerar uma instabilidade nos capilares, isso é chamado de fragilidade capilar. OBS: Desse modo, quanto mais intensa for à resposta imune gerada, maior será a manifestação clínica. Os linfócitos B produzidos promovem a produção de anticorpos, que promovem opsonização dos antígenos virais, facilitando a fagocitose. É importante lembrar que esses anticorpos não são produzidos imediatamente após a infecção, é um processo gradativo. Esse processo imune gera uma memória imunológica, portanto, uma segunda infecção, as células de defesa já conseguem atuar sobre aquele sorotipo e ele não irá produzir um quadro infeccioso. No entanto, se a segunda infecção for por um sorotipo diferentes é possível que exista a infecção, pois como há diferenças morfológicas entre os sorotipos, os anticorpos anteriormente produzidos serão de baixa afinidade para o novo sorotipo, o que não promove a neutralização e permite que o macrófago fagocite o virus, o que gera sua expansão e proliferação. - Esse quadro vai gerar um estímulo antigênico mais exacerbado e uma ativação mais intensa da resposta imune, com isso, teremos um ambiente muito mais inflamatório e consequentemente, um quadro mais grave, por isso que a probabilidade de quadro hemorrágicos da dengue é maior em uma reinfecção por sobreposição de sorotipos diferentes. Quadro clínico O período de incubação do vírus da dengue é de 4 a 10 dias. Em geral, o período de viremia se inicia 1 dia antes do aparecimento da febre e dura até o 5º dia da doença. De maneira simples, a dengue pode ser definida como: quadro febril agudo que dura no máximo 7 dias e que vem acompanhado de pelo menos 2 dos seguintes sintomas: - Dor retro orbitária; - Mialgia; - Prostração; - Cefaleia; - Artralgia; - Exantema. Contudo,os pacientes de dengue podem variar de um quadro assintomático até quadro bastante grave, em que há evidência de choque, por exemplo. Fases da dengue: - Fase febril: corresponde ao período sintomático claro da doença. É marcado por febre alta de início súbito e durante 2-7 dias, sendo associados aos sintomas listados acima. Além disso, o paciente pode apresentar náuseas, vômitos, anorexia e diarreia pouco volumosa. 3 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP - Fase crítica: após a fase febril, grande partes dos pacientes evoluem para recuperação, contudo, uma parte deles entra nessa fase crítica, em que há melhora da febre entre o 3º e o 7º dia de doença e o desenvolvimento de sinais de alarme: Dor abdominal intensa e contínua; Vômitos persistentes; Acúmulo de líquidos; Letargia/irritabilidade; Hipotensão postural/lipotimia; Hepatomegalia; Aumento do hematócrito (principal achado); Sangramento de mucosa; Hipotermia. A presença desses sinais indica que o paciente está deteriorando e tem grande chance de evolui para complicações perigosas, como disfunção de órgãos, hemorragia grave e choque. OBS: Essas complicações costumam acontecer por conta do acometimento vascular e do comprometimento de plaquetas que a dengue pode ocasionar. - Fase de recuperação: evidencia-se melhora progressiva do estado geral, no entanto, é necessário manter vigilância quanto aos sinais de alarme por um tempo. Diagnóstico A suspeita da dengue é clínica e sempre deve ser considerada em locais endêmicos e em períodos epidemiologicamente ativos. Porém, de maneira geral o diagnóstico da dengue é feito com auxilio de exames complementares, cuja escolha depende do tempo de início da doença: o primeiro dia de manifestação dos sintomas – ponto 0. - Até 5 dias: o paciente não terá desenvolvido sorologia para DENV, sendo assim, as possibilidade referem-se à dosagem de partículas do próprio vírus. Podendo ser feito: Pesquisa do antígeno viral (NS1): essa é a melhor opção, pois apresenta alta sensibilidade e especificidade. Porém, é recomendado que ele fosse feito até o 3º dia da doença, pois depois diminui a acurácia; Teste de amplificação genética: PCR; Imuno-histoquimica tecidual; Cultura. - A partir de 5 dias: os métodos diagnósticos citados anteriormente não apresentam mais eficácia, por isso fazemos sorologia. OBS: Prova do laço: esse teste deve ser feito em todos os pacientes com suspeita de dengue que não apresentem sangramento espontâneo. Quando positiva, isto é, se surgirem petéquias no antebraço do paciente em uma área de aproximadamente 6,25 cm² após insuflação do manguito até um valor entre PAS e PAD, indica que o paciente tem fragilidade capilar. No entanto, ele não é patognomômico de dengue. OBS1: Independente do tempo, alguns exames laboratoriais são válidos para os pacientes com suspeita/diagnóstico de dengue: hemograma (avaliar presença de linfócitos atípicos e plaquetopenia) e aqueles que avaliam função orgânica (ureia, creatinina, ECG, TPO, TGP). Diagnóstico diferencial: - Dengue clássica: Rubéola; Sarampo; Gripes. - Dengue hemorrágica: Infecção bacteriana e meningococcemia. Estadiamento Após diagnóstico da dengue, os pacientes precisam ser subdivididos em grupos, a fim de definir a conduta: 4 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP - Grupo A: pacientes com suspeita de dengue, mas sem sinais de alarme ou condições especiais → Acompanhamento ambulatorial; - Grupo B: pacientes com suspeita de dengue e sem sinais de alarme, mas com condições especiais → Acompanhamento em leitos para observação; - Grupo C: pacientes com suspeita de dengue e com sinais de alarme → Internamento em unidade hospitalar; - Grupo D: pacientes com diagnóstico de dengue grave que apresentam choque, hemorragia ou disfunção orgânica → UTI. Prevenção e tratamento Todas as doenças vetoriais têm como ponto principal a prevenção primária: combate aos focos do mosquito e sua proliferação. Em relação ao tratamento, não há uma medicação ou terapia específica para Dengue, por isso, o tratamento é sintomático (hidratação, antitérmicos e antipiréticos). OBS: Não é recomendado o uso de AAS, pois ele aumenta o risco de sangramento. Bem como o uso de dipirona não é indicado. Diagnóstico Diferencial: Dengue, Zika e Chikungunya