Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Lógica 2 Lógica IBETEL Site: www.ibetel.com.br E-mail: faculdadeibetel@ibetel.com.br Telefax: (11) 4743.1964 - Fone: (11) 4743.1826 R. Gal. Fco. Glicério, 1412 – Centro – Suzano/SP – Cep 08674-003 3 Lógica (Org.) Profº. Pr. VICENTE PAULA LEITE Lógica 4 Apresentação Estávamos em um culto de doutrina, numa sexta-feira destas quentes do verão daqui de São Paulo e a congregação lotada até pelos corredores externos. Ouvíamos atentamente o ensino doutrinário ministrado pelo Pastor Vicente Paula Leite, quando do céu me veio uma mensagem profética e o Espírito me disse “fale com o pastor Vicente no final do culto”. Falei: - Jesus te chama para uma grande obra de ensino teológico para revolucionar a apresentação e metodologia empregada no desenvolvimento da Educação Cristã. Hoje com imensurável alegria, vejo esta profecia cumprida e o IBETEL Centro Educacional transbordando como uma fonte que aciona apressuradamente com eficácia o processo da educação teológico-cristã. A experiência acumulada do IBETEL Centro Educacional nessa década de ensino teológico transforma hoje suas apostilas, produtos de intensas pesquisas e eloqüente redação, em noites não dormidas, em livros didáticos da literatura cristã com uma preciosíssima contribuição ao pensamento cristão hodierno e aplicação didática produtiva. Esta correção didática usando uma metodologia eficaz que aponta as veredas que leva ao único caminho, a saber, o SENHOR e Salvador Jesus Cristo, chega as nossas mãos com os aromas do nardo, da mirra, dos aloés, da qual você pode fazer uso de irrefutável valor pedagógico-prático para a revolução proposta na gênese de todo trabalho. E com certeza debaixo das mãos poderosas do SENHOR ser um motor propulsor permanentemente do mandamento bíblico: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor...”. Por certo esta semente frutificará na terra boa do seu coração para alcançar preciosas almas compradas pelo Senhor Jesus. Dr. Messias José da Silva In memorian 5 Lógica Prefácio Este Livro de Introdução à Lógica, parte de uma série que compõe a grade curricular do curso em Teologia da nossa Faculdade, se propõe a ser um instrumento de pesquisa e estudo. Embora de forma concisa, objetiva fornecer informações introdutórias acerca dos seguintes pontos: É Lógico & Lógica!; Origem, objeto e desenvolvimento da Lógica; Lógica Formal; As Condições da Certeza. Esta obra teológica destina-se a pastores, evangelistas, pregadores, professores da escola bíblica dominical, obreiros, cristãos em geral e aos alunos do Curso em Teologia do IBETEL Centro Educacional, podendo, outrossim, ser utilizado com grande préstimo por pessoas interessadas numa introdução à Lógica Finalmente, exprimo meu reconhecimento e gratidão aos professores que participaram de minha formação, que me expuseram a teologia bíblica enquanto discípulo e aos meus alunos que contribuíram estimulando debates e pesquisas. Não posso deixar de agradecer também àqueles que executaram serviços de digitação e tarefas congêneres, colaborando, assim, para a concretização desta obra. Profº. Pr. Vicente Leite Diretor Presidente IBETEL 6 Declaração de fé O que é doutrina? À luz da Bíblia, doutrina é o ensino bíblico normativo, terminante, final, derivado das Sagradas Escrituras, como regra de fé e prática de vida, para a igreja, para seus membros. Ela é vista na Bíblia como expressão prática na vida do crente. As doutrinas da Palavra de Deus são santas, divinas, universais e imutáveis. A palavra “doutrina” vem do latim doctrina, que significa “ensino” ou “instrução”, e se refere às crenças de um grupo particular de crentes ou mesmo de partidários. O Velho Testamento usa a palavra leqach, que vem do verbo laqach, “receber”. O sentido primário é “o recebido”. Aparece com o sentido de “doutrina” ou “ensinamento”, como lemos “Goteje a minha doutrina como a chuva” (Dt 32.2); “A minha doutrina épura” (Jó 11.4); “Pois vos dou boa doutrina; não deixeis a minha lei” (Pv 4.2). Com o passar do tempo a palavra veio significar o ensino de Moisés que se encontra no Pentateuco. As palavras gregas para “doutrina”, no Novo Testamento, são didaque e didaskalia, que significam “ensino”. Essas palavras transmitem a idéia tanto do ato de ensinar como da substância do ensino. A primeira aparece para indicar os ensinos gerais de Jesus: “E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina” (Mt 7.28). “Jesus respondeu e disse-lhes: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus ou se eu falo de mim mesmo” (Jo 7.16,17). A mesma palavra aparece para “doutrina dos apóstolos” (At 2.42), que parece ser uma indicação das crenças dos apóstolos. A segunda tem o mesmo sentido e aparece em Mateus 15.9 e Marcos 7.7. É, portanto, nas epístolas pastorais que elas aparecem com o sentido mais rígido de crenças ou corpo doutrinal da igreja - a Teologia propriamente dita. O que é Credo? Credo vem do latim e significa “creio”, e desde muito cedo na história do Cristianismo é mais que um conjunto de crenças. É uma confissão de fé. Ele tem como objetivo sintetizar as doutrinas essenciais do cristianismo para facilitar as confissões públicas, conservar a doutrina contra as heresias e manter a unidade doutrinária. Encontramos no Novo Testamento algumas declarações rudimentares de confissões fé: A confissão de Natanael (Jo 1.50); a confissão de Pedro (Mt 16.16; Jo 6.68); a confissão de Tomé (Jo 20.28); a confissão do Eunuco (At 8.37); e artigos elementares de fé (Hb 6.1- 2). 7 Lógica O Centro Educacional IBETEL crê: O IBETEL Centro Educacional professa fé pentecostal alicerçada fundamentalmente no que se segue: Cremos em um só Deus eternamente subsistente em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29). Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão (2Tm 3.14-17). No nascimento virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal dentre os mortos e sua ascensão vitoriosa aos céus (Is 7.14; Rm 8.34; At 1.9). Na pecaminosidade do homem que o destituiu da glória de Deus, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que o pode restaurar a Deus (Rm 3.23; At 3.19). Na necessidade absoluta no novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do reino dos céus (Jo 3.3-8). No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente na fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor (At 10.43; Rm 10.13; 3.24-26; Hb 7.25; 5.9). No batismo bíblico efetuado por imersão do corpo inteiro uma só vez em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo (Mt 28.19; Rm 6.1-6; Cl 2.12). Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa mediante a obra expiatória e redentora de Jesus no Calvário, através do poder regenerador, inspirador e santificador do Espírito Santo, que nos capacita a viver como fiéis testemunhas do poder de Jesus Cristo (Hb 9.14; 1Pe 1.15). No batismo bíblico com o Espírito Santo que nos é dado por Deus mediante a intercessão de Cristo, com a evidência inicial de falar em outras línguas, conforme a sua vontade (At 1.5; 2.4; 10.44-46; 19.1-7). Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja para sua edificação conforme a sua soberana vontade (1Co 12.1-12). Na segunda vinda premilenar de Cristo em duas fases distintas. Primeira - invisível ao mundo, para arrebatara sua Igreja fiel da terra, antes da grande tribulação; Segunda - visível e corporal, com sua Igreja glorificada, para reinar 8 sobre o mundo durante mil anos (1Ts 4.16.17; 1Co 15.51-54; Ap 20.4; Zc 14.5; Jd 14). Que todos os cristãos comparecerão ante ao tribunal de Cristo para receber a recompensa dos seus feitos em favor da causa de Cristo, na terra (2Co 5.10). No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis, (Ap 20.11-15). E na vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis e de tristeza e tormento eterno para os infiéis (Mt 25.46). 9 Lógica Sumário Apresentação Prefácio Declaração de fé Capítulo 1 É Lógico & Lógica! 1.1. Origens Capítulo 2 Origem, objeto e desenvolvimento da Lógica 2.1. Objeto da Lógica 2.2. Lógica na Idade Média 2.3. Lógica no Renascimento 2.4. Lógica moderna 2.5. Lógica no século XX Capítulo 3 Lógica Formal 3.1. A apreensão e o termo 3.2. Compreensão e extensão 3.3. O juízo e a proposição 3.4. O Raciocínio e o Argumento 3.5. A Definição 3.6. A Divisão 3.7. O Silogismo 3.8. A indução e dedução Capítulo 4 As Condições da Certeza 4.1. A Verdade e O Erro 4.2. Os Sofismas 4.3. O Critério da Certeza 4.4. Noção da Ciência Referências 10 Capítulo 1 É Lógico & Lógica! “É lógico que eu vou!”. Quando dizemos frases como esta, indica para nós e para a pessoa com quem estamos falando, que se trata de alguma coisa evidente. A expressão aparece como se fosse a conclusão de um raciocínio implícito, compartilhado pelos interlocutores do discurso. Ao dizer “É lógico que eu vou!”, estou supondo que quem me ouve sabe, sem que isso seja dito explicitamente, que também estou afirmando: “Você me conhece, sabe o que penso, gosto ou quero, sabe o que vai acontecer no lugar x e na hora y e, portanto, não há dúvida de que irei até lá”. Neste caso, estamos tirando uma conclusão que nos parece óbvia, e dizer “é lógico que” seria o mesmo que dizer: “é claro que” ou “não há dúvida de que”. Em certas ocasiões, ouvimos, lemos, vemos alguma coisa e nossa reação é dizer: “Não. Não pode ser assim. Isso não tem lógica!”. Ou, então: “Isso não é lógico!”. Essas duas expressões indicam uma situação oposta às anteriores, ou seja, agora uma conclusão foi tirada por alguém, mas o que já sabemos (de uma pessoa, de um fato, de uma idéia, de um livro) nos faz julgar que a conclusão é indevida, está errada, deveria ser outra. Nestes exemplos, podemos perceber que as palavras lógica e lógico são usadas por nós para significar: a) ou uma ingerência visto que conheço x, disso posso concluir y como conseqüência; b) ou a exigência de coerência: visto que x é assim, então é preciso que y seja assim; c) ou a exigência de que não haja contradição entre o que sabemos de x e a conclusão y a que chegamos; d) ou a exigência de que, para entender a conclusão y, precisamos saber o suficiente sobre x para conhecer por que se chegou a y. Inferência, coerência, conclusão sem contradições, conclusão a partir de conhecimentos suficientes são algumas noções implicitamente pressupostas por nós toda vez que afirmamos que algo é lógico ou ilógico. 11 Lógica Ao usarmos as palavras lógica e lógico estamos participando de uma tradição de pensamento que se origina da Filosofia grega, quando a palavra logos – significando linguagem-discurso e pensamento-conhecimento – conduziu os filósofos a indagar se o logos obedecia ou não a regras, possuía ou não normas, princípios e critérios para seu uso e funcionamento. 1.1. Origens A lógica foi desenvolvida de forma independente e chegou a certo grau de sistematização na China, entre os séculos V e III a.C., e na Índia, do século V a.C. até os séculos XVI e XVII da era cristã. Na forma como é conhecida no Ocidente, tem origem na Grécia. O mais remoto precursor da lógica formal é Parmênides de Eléia, que formulou pela primeira vez o princípio de identidade e de não contradição. Seu discípulo Zenão foi o fundador da dialética, segundo Aristóteles, por ter empregado a argumentação erística (arte da disputa ou da discussão) para refutar quem contestasse as teses referentes à unidade e à imobilidade do ser. Os sofistas, mestres da arte de debater contra ou a favor de qualquer opinião com argumentos que envolviam falácias e sofismas, também contribuíram para a evolução da lógica, pois foram os primeiros a analisar a estrutura e as formas da linguagem. Foi sobretudo em vista do emprego vicioso do raciocínio pelos sofistas que o antecederam que Aristóteles foi levado a sistematizar a lógica. Sócrates definiu o universal, ou essência das coisas, como o objeto do conhecimento científico e, com isso, preparou a doutrina platônica das idéias. Ao empregar o diálogo como método de procura e descobrimento das essências, antecipou a dialética platônica, bem como a divisão dos universais em gêneros e espécies (e das espécies em subespécies), o que permitiu situar ou incluir cada objeto ou essência no lugar lógico correspondente. 12 Capítulo 2 Origem, objeto e desenvolvimento da Lógica 2.1. Objeto da Lógica Lógica é a ciência que tem por objeto determinar, entre as operações intelectuais orientadas para o conhecimento da verdade, as que são válidas e as que não são. Estuda os processos e as condições de verdade de todo e qualquer raciocínio. O conhecimento só é científico quando, além de universal, é metódico e sistemático, ou seja, lógico. Assim, a lógica se entende como método, ou caminho que as ciências trilham para determinar e conhecer seu objeto, e como característica geral do conhecimento científico. Do ponto de vista didático, a lógica se alinha com a metafísica, a ética, a estética etc. como disciplina da filosofia. Assim entendida, chama-se mais propriamente lógica formal, pois não se aplica ao conteúdo do que enuncia, mas unicamente aos conceitos, aos juízos e raciocínios. O termo “lógica” vem de uma palavra grega que significa razão. A lógica é, de fato, a ciência das leis ideais do pensamento, e a arte de as aplicar corretamente à procura e à demonstração da verdade. a) A Lógica é uma Ciência, isto é, um sistema de conhecimentos certos, fundados sobre princípios universais. b) Ciência das Leis ideais do pensamento, a lógica pertence por isto à filosofia normativa, porque não tem por fim definir o que é, mas o que deve ser, a saber: o que devem ser as operações intelectuais para satisfazer às exigências de um pensamento correto. c) A Lógica é também uma Arte, isto é, um método que permite bem fazer uma obra segundo certas regras. A Lógica, de fato, ao mesmo tempo em que define as leis ideais do pensamento, estabelece as regras do pensamento correto, cujo conjunto constitui uma arte de pensar. d) A lógica tem por fim a Procura e a Demonstração da Verdade, porque a procura e a demonstração da verdade são o fim da inteligência e, por conseguinte, da lógica, enquanto define as condições de validade das operações do espírito. 13 Lógica No século II da era cristã, as obras de Aristóteles sobre lógica foram reunidas por Alexandre de Afrodísia sob a designação geral de Órganon. Inclui seis tratados, cuja seqüência corresponde à divisão do objeto da lógica. Estuda as três operações da inteligência: o conceito, o juízo e o raciocínio. a) Conceito é a mera representação mental do objeto; b) Juízo é um ato mental de afirmação ou de negação de uma idéia a respeito de outra, isto é, da coexistência de um sujeito e um predicado; c) Raciocínio é a articulação de vários juízos. O objeto próprio da lógica não é o conceito nem o juízo, mas o raciocínio, que permite a progressão do pensamento. Em outras palavras, não há pensamento estruturadoquando se consideram idéias isoladas. Em Perí hermeneías (Da interpretação), um dos tratados do Órganon, Aristóteles estuda a proposição, que é a expressão verbal do juízo. O juízo é verdadeiro quando une na proposição o que está unido na realidade, ou separa, na proposição, o que está realmente separado. A verdade é, assim, a adequação ou a correspondência entre o juízo e a realidade. Esse tratado procura principalmente determinar as oposições possíveis entre as proposições. A partir do juízo de existência ou de realidade, considerado primordial, Aristóteles estabelece as seguintes modalidades de oposição e de negação: o animal é; o animal não é; o não-animal é; o não-animal não é. As proposições simples apresentam as mesmas modalidades. Outro tipo de proposições admite maior número de modalidades: o homem é mortal; o homem não é mortal; o homem é não-mortal; o homem não é não-mortal; o não-homem é mortal; o não-homem não é mortal etc. Os juízos se dividem de acordo com a qualidade, a quantidade, a relação e a modalidade. Quanto à qualidade, podem ser afirmativos ou negativos. Os afirmativos sustentam a conveniência do predicado ao sujeito (o homem é racional), enquanto os negativos sustentam a não conveniência entre eles (o homem não é imortal). De acordo com a quantidade, os juízos podem ser de três tipos: universais, quando o sujeito é tomado em toda sua extensão (todo homem é mortal); particulares, quando o sujeito é tomado em parte de sua extensão (alguns homens são brasileiros); e individuais ou singulares, situações em que o sujeito é tomado no mínimo de sua extensão (Aristóteles é filósofo). Com relação à quantificação do sujeito, distingue-se a compreensão, que é o conteúdo do conceito, e a extensão, que indica a quantidade de objetos aos quais o conceito se aplica. Quanto maior for o conteúdo, ou conjunto de 14 atributos característicos do conceito, menor será a extensão. Por exemplo, o conceito "mesa" abrange todos os membros da classe. Quando se acrescenta o atributo "branca", aumenta-se a compreensão, mas limita-se a quantidade de mesas individuais a que se refere e diminui-se a extensão. Do ponto de vista da relação, os juízos se distinguem em categóricos, hipotéticos e disjuntivos. No juízo categórico, o enunciado independe de condições (Aristóteles é grego); no hipotético, é condicional (se fizer bom tempo, sairemos); no disjuntivo, também condicional, a condição está na própria predicação (o objeto real é físico ou psíquico). De acordo com a modalidade, os juízos podem ser assertóricos, problemáticos e apodícticos. a) No juízo assertórico, a validade do enunciado é de fato e não de direito (o livro está aberto, mas poderia estar fechado); b) no problemático, a validade é apenas possível (talvez as injustiças sejam reparadas); c) no apodíctico a validade é necessária e de direito, e não de fato (dois mais dois são quatro). Raciocinar, em lógica, significa estabelecer uma relação necessária entre duas proposições ou enunciados. No tratado Analysis próté (Primeiras analíticas), terceira parte do Órganon, Aristóteles estuda o silogismo, cuja doutrina criou, para estabelecer as condições fundamentais do conhecimento científico. O silogismo é "um argumento do qual, admitidas certas coisas, algo diferente resulta necessariamente de sua verdade, sem que se precise de qualquer outro termo". Aristóteles distingue o silogismo, ou dedução, da indução. A dedução vai do universal ao particular, e a indução do particular ao universal. Mesmo assim, compreende que a indução é no fundo silogística. No tratado do Órganon intitulado Análysis deutera (Segundas analíticas), Aristóteles estuda a demonstração e a definição. A propósito, indica os temas possíveis da investigação científica: a) o que a palavra significa; b) o que o objeto correspondente é; c) qual a essência desse objeto; d) quais são suas propriedades; e) por que tem essas propriedades. Assim, o método científico começa com a determinação de um objeto conhecido apenas pelo nome, e prossegue com a determinação da essência e da existência do objeto. 15 Lógica A demonstração é um silogismo científico cujas premissas devem ser verdadeiras, primeiras, indemonstráveis e mais inteligíveis do que a conclusão e a causa da conclusão. Os princípios, ou pontos de partida do conhecimento científico, são os axiomas e as teses das diversas ciências, subdivididas em hipóteses e definições. Acrescentam-se ainda os postulados que, ao contrário dos tipos de proposição mencionados, só devem ser admitidos depois de demonstrados. A ciência consiste no encadeamento lógico das proposições que, tomadas isoladamente, não poderiam ser conhecidas como verdadeiras. A rigor, a demonstração trata de evidenciar, por meio de mediações sucessivas, o que é inicialmente admitido como simples hipótese ou suposição. Além da demonstração ou da prova, Aristóteles admite, como forma de conhecimento, os primeiros princípios, que excluem a demonstração. Perguntar o que é alguma coisa é perguntar qual é a essência dessa coisa, e responder à pergunta é expor essa essência em sua definição. Aristóteles classifica três espécies de definição: a indemonstrável (a unidade em aritmética, por exemplo); a definição causal ou real; e a definição nominal. A propósito da definição da espécie, recomenda: a) só tomar como características de espécie os atributos que pertencem a sua essência; b) apresentar os atributos em ordem, do determinável ao determinando; c) dar as indicações necessárias para distinguir o definido de tudo o que dele difere. A obediência a essas regras permitirá definir, pela indicação do gênero próximo e da diferença específica, determinações que, por hipótese, devem conter a essência do objeto definido. Por consistir numa redução à evidência, a demonstração implica a apreensão dos primeiros princípios, indemonstráveis. No processo que conduz da percepção à ciência, Aristóteles vê que o primeiro momento é a memória ("persistência da percepção") e o seguinte é a experiência, que é a lembrança das percepções dos mesmos objetos e a abstração daquilo que apresentam em comum. A passagem do particular ao universal é possível porque o que se percebe no objeto particular não é o que o particulariza, mas os caracteres que tem em comum com objetos semelhantes. Ao ascender a universais cada vez mais extensos, chega-se, pela razão intuitiva, aos primeiros princípios da ciência, os axiomas, as definições, os postulados e as 16 hipóteses. Segundo Aristóteles, é por indução que se aprendem os primeiros princípios, pois é assim que a percepção produz o universal. 2.2. Lógica na Idade Média Traduzidos para o latim por Boécio, alguns tratados da obra de Aristóteles passaram a ser usados, na Idade Média, no ensino da lógica, incluída nas disciplinas dos cursos de direito e teologia. A esterilidade criativa que predominou durante cerca de cinco séculos só foi interrompida no século XII com a dialética de Abelardo, teólogo eminente e controvertido, autor de Sic et non (Sim e não). Durante o século XII, traduções complementares do Órganon de Aristóteles acrescentaram tópicos desconhecidos da "velha lógica" que foram agrupados sob o nome geral de "nova lógica". No século XIII, houve uma cisão entre os lógicos: alguns aderiram à ortodoxia aristotélica, enquanto outros adotaram uma visão mais liberal e, nas escolas de artes e nas recém-criadas universidades, propuseram a lógica moderna. Guilherme de Sherwood e seu discípulo Pedro Hispano (posteriormente papa João XXI), autor do livro sobre lógica mais utilizado nos 300 anos que se seguiram, foram os principais representantes dessa nova tendência. Entre os lógicos do século XIV, deve-se pelo menos mencionar Guilherme de Occam, além de Jean Buridan e seu aluno Alberto da Saxônia. No século seguinte, Paulo Vêneto, teólogoagostiniano, produziu uma extensa obra intitulada Logica magna, usada como livro didático durante os séculos XV e XVI. No mundo grego, a tradição de parafrasear e comentar os tratados lógicos de Aristóteles teve continuidade nas obras de João Filopono e Estêvão de Alexandria, neoplatonista do século VII, entre outros. Nos séculos XI e XIII, foram produzidos vários compêndios de lógica. Os árabes também cultivaram a lógica e, no início do século IX, já contavam com traduções de alguns tratados do Órganon de Aristóteles. Entretanto, a produção dos representantes da escola de Bagdá, surgida no século seguinte, quase toda perdida, foi criticada pelo filósofo Avicena, que a considerava exageradamente servil à doutrina de Aristóteles. Avicena defendeu uma linha mais independente e expressou seu conceito de lógica no livro Kitab al-shifa (O livro da cura). O valor da contribuição árabe ao desenvolvimento da lógica não é muito grande, exceto pelo fato de ter mantido vivo o interesse na lógica aristotélica numa época em que, no Ocidente, era pouco divulgada. No mundo medieval, em que houve a lógica bizantina, a árabe e a escolástica, a vertente escolástica parece ter trazido as maiores contribuições. 17 Lógica 2.3. Lógica no Renascimento A tradição da lógica medieval sobreviveu por mais três séculos após ter atingido a maturidade no século XIV. Entretanto, o clima intelectual que se estabeleceu no Ocidente com o advento do Renascimento e do humanismo não estimulava o estudo da lógica. O crescimento das ciências naturais também contribuiu para o abandono da lógica que, como disciplina dedutiva, cedeu lugar às pesquisas metodológicas. Uma nova atitude em relação à lógica surgiu no século XVI com Petrus Ramus (Pierre de La Ramée), lógico antiaristotélico e reformador educacional. Ramus descreveu a lógica como a "arte de discutir" e distinguiu- a da gramática e da retórica que, a seu ver, concentravam-se nas questões relativas ao estilo. De acordo com Ramus, a lógica deveria tratar de conceitos, juízos, inferências e provas, nessa ordem de prioridade. Entre as inferências, incluía os silogismos categóricos e hipotéticos. As divisões da lógica sugeridas por Ramus foram adotadas pelos jansenistas Antoine Arnauld e Pierre Nicole, autores de La Logique: ou l'art de penser (1662), traduzido e publicado em inglês em 1851 sob o título The Port-Royal Logic (A lógica de Port-Royal). As duas primeiras de suas quatro partes trazem poucas contribuições originais, muito mais no campo da epistemologia que da lógica. A terceira, sobre o raciocínio, trata da validade dos silogismos. Na quarta parte, sobre o método, a obra Elementos de Euclides é recomendada como modelo do método científico. Como René Descartes, fundador da filosofia moderna, os autores insistiam que, em qualquer investigação científica, termos obscuros ou equívocos devem ser definidos; que somente termos perfeitamente conhecidos devem ser usados em definições; que somente verdades auto-evidentes devem ser usadas como axiomas; e que todas as proposições que não são auto-evidentes devem ser confirmadas com o auxílio de axiomas, definições e proposições já comprovados. Apesar de competir com uma concepção inteiramente nova da lógica apresentada por Leibniz, racionalista alemão, as idéias expostas pela lógica de Port-Royal mantiveram sua reputação durante o século XIX. 2.4. Lógica moderna Com Leibniz, no século XVII, teve início a lógica moderna, que se desenvolveu em cooperação com a matemática. Leibniz influenciou seus contemporâneos e sucessores com um ambicioso plano para a lógica, que para ele deixava de ser "uma diversão para acadêmicos" e começava a tomar a forma de uma "matemática universal". Seu plano propunha uma linguagem universal baseada num alfabeto do pensamento (ou characteristica universalis), um cálculo geral do raciocínio e uma metodologia geral. 18 A linguagem universal, na visão de Leibniz, seria como a álgebra ou como uma versão de ideogramas chineses, formada de sinais básicos representativos de noções não analisáveis. Noções complexas seriam representadas por conjuntos apropriados de sinais que, por sua vez, representariam a estrutura de noções complexas e, em última análise, a noção de realidade. Uma das contribuições mais positivas de Leibniz para o desenvolvimento da lógica foi a aplicação bem-sucedida dos métodos matemáticos à interpretação da silogística aristotélica. Outra foi sua proposta de um "cálculo de adição real", em que demonstra que partes da álgebra são passíveis de interpretação não aritmética. Sua forma de interpretação se comprovaria adequada mesmo à intrincada regra da rejeição proposta para os silogismos pelo polonês Jerzy Stupecki, da escola de lógica de Varsóvia, na década de 1940. Na segunda metade do século XIX, foram lançados os alicerces para os mais notáveis progressos da história da lógica. Merece menção a obra do matemático francês Joseph-Diez Gergonne, cuja grande inovação foi a expansão do vocabulário do silogismo e a proposição de novos tipos de inferência baseados na expansão. A axiomatização de seu trabalho, no entanto, coube ao lógico John Acheson Faris, de Belfast. Também trouxeram contribuições importantes o metafísico escocês William Hamilton e os ingleses George Bentham, botânico, e Augustus De Morgan. Ainda no século XIX, as novas idéias de George Boole, matemático autodidata, representaram um grande progresso para a lógica. A chamada álgebra de Boole foi aprimorada por vários pesquisadores, entre eles o economista e lógico britânico William Stanley Jevons; o lógico, engenheiro e filósofo americano Charles Sanders Peirce; e o lógico e matemático alemão Ernst Schröder. Coube, porém, ao matemático e filósofo alemão Gottlob Frege estabelecer a relação entre os dois sistemas lógicos tratados por Boole, e outros importantes estudos relativos à teoria da linguagem e à redução da aritmética à lógica. Outra tendência no estudo da lógica e dos fundamentos da matemática foi introduzida pelo matemático e filósofo alemão Georg Cantor. 2.5. Lógica no século XX Quando, no início do século XX, Bertrand Russell se dispôs a mostrar que a aritmética era uma extensão da lógica, foi beneficiado pelas pesquisas anteriores de Giuseppe Peano, matemático e lógico italiano que, no fim do século XIX e início do XX, questionara noções primárias da aritmética. Após escrever The Principles of Mathematics (1903; Princípios da matemática), Russell produziu, em cooperação com o também britânico Alfred North 19 Lógica Whitehead, a monumental Principia Mathematica (1910-1913), que se tornou um clássico da lógica. A obra, em três volumes, reuniu os resultados das pesquisas sobre lógica e fundamentos da matemática que vinham sendo realizadas desde a época de Leibniz e tornou-se o ponto de partida para a evolução da lógica no século XX. A visão da matemática como continuação da lógica, sem uma linha delimitadora clara entre as duas disciplinas, como defendeu Russell, chamou- se logicismo. A essa abordagem se opõem o intuicionismo, associado aos nomes de Luitzen Egbertus Jan Brouwer, matemático holandês, e seu discípulo Arend Heyting, e o formalismo, fundado por David Hilbert. Bertrand Russell afirmou que há duas vertentes da pesquisa em matemática: uma visa à expansão, e a outra explora os fundamentos. O mesmo se pode dizer sobre qualquer outra disciplina, mas na exploração dos fundamentos de uma ciência o pesquisador volta a encontrar a lógica, pois todas as ciências que pretendem descrever e comprovar algum aspecto da realidade fazem uso do vocabulário lógico. Isso quer dizer que a lógica, localizada no ponto mais alto de uma hierarquia de ciências, pode ser entendida como a mais abstrata e mais geral descrição da realidade. 20 Capítulo 3 Lógica Formal Lógica Formal é a parte da Lógicaque estabelece a forma correta das operações intelectuais, ou melhor, que assegura o acordo do pensamento consigo mesmo, de tal maneira que os princípios que descobre e as regras que formula, se aplicam a todos os objetos do pensamento, quaisquer que sejam. Ora, como as operações do espírito são em número de três, a saber: a apreensão, o juízo e o raciocínio. A Lógica formal compreende normalmente três partes, que tratam da apreensão e da idéia, do juízo e da proposição, do raciocínio e da argumentação. A Lógica estuda três operações em si mesmas, enquanto elas são atos do espírito, e nas suas expressões verbais, que são: para a apreensão, o termo; para o juízo, a proposição; para o raciocínio, o argumento. 3.1. A apreensão e o termo a) Apreender significa apanhar, prender, e a apreensão, do ponto de vista lógico, é o ato pelo qual o espírito concebe uma idéia, sem nada afirmar ou negar. A apreensão difere então do juízo, que consiste em afirmar ou negar uma coisa de uma outra; b) A Idéia, ou conceito é a simples representação intelectual de um objeto. Ela difere essencialmente da imagem, que é a representação determinada de um objeto sensível; c) O Termo é a expressão verbal da idéia. Do ponto de vista lógico, é necessário distinguir o termo da palavra. O termo pode de fato comportar várias palavras (por exemplo: o bom Deus, alguns homens, uma ação de estrondo), que não formam, contudo, mais do que uma idéia lógica. 3.2. Compreensão e extensão Pode-se considerar uma idéia, e assim também um termo, do ponto de vista da compreensão e do ponto de vista da extensão. Esta distinção é de uma importância capital para toda a lógica formal. 21 Lógica a) A Compreensão é o conteúdo de uma idéia, isto é, o conjunto de elementos de que uma idéia se compõe. Assim, a compreensão da idéia de homem implica os elementos seguintes: ser, vivente, sensível e racional; b) A Extensão é o conjunto de sujeitos a que a idéia convém. É assim que a idéia de homem convém: aos canadenses, aos franceses, aos negros, aos brancos, a Pedro, a Tiago, etc. A compreensão de uma idéia está em razão inversa de sua extensão. A idéia de ser, que é a menos rica de todas, é também a mais universal; a idéia de homem, implicando elementos mais numerosos, não se aplica mais do que a uma parte dos seres, e a idéia de francês, que acrescenta à idéia de homem novos elementos, é ainda mais restrita; enfim, a idéia de tal indivíduo Pedro, Paulo, de que a compreensão é a mais rica, é também a mais limitada quanto à extensão. 3.3. O juízo e a proposição O juízo é o ato pelo qual o espírito afirma alguma coisa de outra; “Deus é bom”, o “homem não é imortal”, são juízos, enquanto um afirma de Deus a bondade, o outro nega do homem a imortalidade; O juízo comporta então necessariamente três elementos, a saber: um sujeito, que é o ser de que se afirma ou nega alguma coisa; um atributo ou predicado: é o que se afirma ou nega do sujeito; uma afirmação ou uma negação. O sujeito e o atributo compõem a matéria do juízo e a forma do juízo resulta da afirmação ou da negação. A proposição é a expressão verbal do juízo. Ela se compõe, como o juízo, de dois termos, sujeito e predicado, e de um verbo, chamado cópula (isto é, elo), pois liga ou desliga os dois termos; O verbo da proposição lógica é sempre o verbo ser, tomado no sentido copulativo ou relativo, como nesta proposição: “Deus é bom”, e não no sentido absoluto, em que ele significa existir, como nesta proposição: “Deus é”. Muitas vezes, o verbo gramatical compreende a um tempo o verbo lógico e o atributo. Assim, esta proposição: “Eu falo” se decompõe, do ponto de vista lógico, nesta: “Eu sou falante”. Da mesma forma “Deus existe” se decompõe assim: “Deus é existente”. 22 3.4. O Raciocínio e o Argumento a) Raciocínio, em geral, é a operação pela qual o espírito, de duas ou mais relações conhecidas, conclui uma outra relação que decorre desta logicamente. Como, por outro lado, as relações são expressas pelos juízos, o raciocínio pode também definir-se como a operação que consiste em tirar de dois ou mais juízos um outro juízo contido logicamente nos primeiros; b) O raciocínio é então uma passagem do conhecido para o desconhecido; c) O Argumento é a expressão verbal do raciocínio; d) O raciocínio divide-se em raciocínio dedutivo e raciocínio indutivo. O raciocínio dedutivo. Movimento de pensamento que vai de uma verdade universal a uma outra verdade menos universal (ou singular). Por exemplo: a) Tudo o que é espiritual é incorruptível; b) Ora, a alma humana é espiritual; c) Logo, a alma humana é incorruptível. “A alma humana é incorruptível” é uma verdade menos geral do que a que enuncia que “tudo o que é espiritual é incorruptível”. A expressão principal deste raciocínio é o silogismo. a) O raciocínio indutivo. Movimento de pensamento que vai de uma ou várias verdades singulares a uma verdade universal. Sua forma geral é a seguinte: 1) O calor dilata o ferro, o cobre, o bronze, o aço; 2) Logo, o calor dilata todos os metais. 3.5. A Definição 3.5.1. Noção a) Definir, segundo o sentido etimológico, é delimitar. A definição lógica consiste de fato em circunscrever exatamente a compreensão de um objeto, ou, em outros termos, em dizer o que uma coisa é. 3.5.2. Divisão a) Distinguem-se: 23 Lógica 1) A definição nominal, que exprime o sentido de uma palavra. Assim, dizer que a palavra “definir” significa “delimitar” é dar definição nominal. 2) A definição real, que exprime a natureza da coisa mesma. A definição real pode ser: 3.5.2.1. Essencial É a que se faz pelo gênero próximo e a diferença específica. Define-se, assim, o homem: um animal racional, animal sendo o gênero próximo, isto é, a idéia imediatamente superior, quanto à extensão, à idéia de homem, e racional sendo a diferença específica, isto é, a qualidade que, acrescentada a um gênero, constitui uma espécie, distinta como tal de todas as espécies do mesmo gênero. 3.5.2.2. Descritiva É a que, em falta dos caracteres essenciais (gênero próximo e diferença específica), enumera os caracteres exteriores mais marcados de uma coisa, para permitir distingui-la de todas as outras. (O carneiro é um animal ruminante de cabeça alongada, de nariz convexo, olho terno, etc.) É a definição em uso nas ciências naturais. 3.6. A Divisão Dividir é distribuir um todo em suas partes. Há, então, tantas sortes de divisões quantas de todos. 3.6.1. Espécies de divisão Chama-se todo o que pode ser subdividido fisicamente, ou ao menos idealmente, em muitos elementos. Donde três sortes de todo: físico, lógico e moral. 3.6.1.1. Físico O todo físico é aquele cujas partes são realmente distintas. Este todo pode ser: quantitativo, enquanto composto de partes homogêneas: um bloco de mármore; essencial, enquanto formando uma essência completa: o homem; potencial, enquanto composto de diferentes faculdades: a alma humana como composto de inteligência e de vontade; acidental, enquanto composto de partes unidas pelo exterior: uma mesa, um monte de seixos; 24 3.6.1.2. Lógico (ou metafísico) O todo lógico é aquele em que as partes se distinguem apenas pela razão. Exprime-se por uma noção universal, que contém outras a título de partes subjetivas. Assim, o gênero contém suas espécies: tal idéia de metal em relação aos diferentes metais (ferro, estanho, cobre, zinco, etc.) ou ainda a idéia de animal em relação a animal racional (homem) e a animal não racional (bruto); 3.6.1.3. Moral O todo moral é o em que as partes, atualmente distintas e separadas, são unidas pelo elo moral de um mesmo fim: uma nação, uma armada, uma escola, uma família, dois amigos, etc. É expresso por um conceito coletivo. 3.7. O Silogismo Silogismo, segundo a definição de Aristóteles, é uma expressão proposicionalna qual, admitidas certas premissas, delas resultará, apenas por serem o que são, outra proposição diferente das estabelecidas anteriormente. O termo vem do grego syllogismós, que significa argumento ou raciocínio. Posteriormente, a terminologia tradicional passou a definir essa operação lógica como um argumento formado de três proposições -- duas premissas e uma conclusão -- que apresentam a forma "sujeito-predicado". Indubitavelmente, o silogismo é a forma mais simples de demonstração ou de argumento inferencial. É sempre precedido de uma pergunta: quer-se saber se um dado predicado convém ou não, necessariamente, a um sujeito. A resposta, quando está de acordo com as regras do silogismo, é rigorosa e necessariamente certa. O exemplo mais clássico é o seguinte: "Todo animal é mortal; todo homem é animal; logo, todo homem é mortal." As duas premissas, estruturadas segundo a fórmula "sujeito-predicado", são denominadas maior e menor. Por meio delas, dois termos (maior e menor) são postos em relação com um terceiro (médio). No exemplo citado, "mortal" é o termo de maior extensão, e portanto o termo maior. O termo de menor extensão, chamado termo menor, é "homem". O termo médio, que contém ambos, é "animal". Por ser afirmativo, esse tipo de silogismo é chamado categórico e se baseia na lei de generalização do universal para o particular. Os termos que compõem cada premissa são sempre os mesmos -- maior e médio na premissa maior, menor e médio na premissa menor -- mas sua 25 Lógica ordem pode mudar. O termo médio pode assumir quatro posições diferentes, segundo as quais se definem as quatro "figuras" do silogismo. Tais figuras, em função do caráter e das combinações de suas proposições (universais ou particulares, afirmativas ou negativas) dão lugar aos 23 tipos de silogismo conhecidos como silogismos modais. Os chamados silogismos hipotéticos são mais complexos que os categóricos e os modais, ainda que derivem das mesmas leis. A denominação se explica devido à ocorrência de premissas hipotéticas, que de acordo com sua forma podem ser condicionais ou disjuntivas. Uma formulação clássica de silogismo hipotético condicional seria, por exemplo: se P então Q; se Q então não R; logo, se P então não R. A teoria silogística teve grande desenvolvimento durante a Idade Média. A distinção entre os termos maior, menor e médio foi elaborada pelos pensadores escolásticos, que distinguiam três espécies de silogismo: regulares, irregulares e compostos. Os regulares se constituem dos três termos clássicos. Os irregulares e os compostos se caracterizam por terem termos implícitos (ocultos), ou por terem mais de três proposições. Um exemplo de silogismo irregular, conhecido como entimema, expressa-se na frase "penso, logo existo", na qual está subentendida a premissa maior, que poderia ser "tudo o que pensa existe". Os pensadores renascentistas, no entanto, assim como os racionalistas do século XVII, criticaram o silogismo como insuficiente e tautológico. Para eles, todas as conclusões se encontram implícitas nas premissas e portanto nada acrescentam ao conhecimento. A moderna lógica formal, contudo, reconheceu o valor histórico do silogismo como instrumento de formalização e integrou os antigos esquemas silogísticos à lógica quantificativa e à lógica de classes. 3.7.1. Regras do Silogismo Podem ser reduzidas a três regras principais, a saber: 3.7.1.1. Primeira Regra O silogismo não deve ter senão três termos. 1) Peca-se muitas vezes contra esta regra dando ao termo médio duas extensões (e, por conseguinte, duas significações) diferentes, o que eqüivale a introduzir um quarto termo no silogismo. No exemplo seguinte: 26 • O cão uiva; • Ora, o cão é uma constelação; • Logo, uma constelação uiva. O termo médio cão é tomado num sentido, na maior, e num outro, na menor. Existem, então, quatro termos. 2) Peca-se ainda contra esta regra, tomando duas vezes o termo médio particularmente. Por exemplo, no silogismo: • Alguns homens são santos; • Ora, os criminosos são homens; • Logo, os criminosos são santos. O termo médio homens, sendo particular nas duas premissas, é tomado, numa, em parte de sua extensão, e noutra, numa outra parte de sua extensão, o que dá quatro termos. 3) Peca-se, enfim, contra a mesma regra dando ao termo menor uma extensão maior na conclusão do que nas premissas. Seja o silogismo: • Os etíopes são negros; • Ora, todo etíope é homem; • Logo, todo homem é negro. Este silogismo tem quatro termos, porque homem é tomado particularmente na menor e universalmente na conclusão. Para que o silogismo fosse correto, dever-se-ia concluir: “Logo, algum homem é negro”. 3.7.1.2. Segunda regra De duas premissas negativas, não se pode nada concluir. Se, de fato, nem o termo menor, nem o termo maior são idênticos ao médio, não há relação entre eles, e nenhuma conclusão é possível. É assim que nada se segue destas premissas: O homem não é um puro espírito. Ora, um puro espírito não é mortal, Logo ............................................. 3.7.1.3. Terceira regra De duas premissas particulares, nada se pode concluir. De fato, neste caso, três hipóteses são possíveis: 27 Lógica 1) As duas premissas são afirmativas. O termo médio é, então, tomado duas vezes particularmente (pois, nas particulares afirmativas, o sujeito e o predicado são ambos particulares), e o silogismo tem quatro termos; 2) As duas premissas são negativas. Peca-se, então, contra a segunda regra; 3) Uma premissa é afirmativa, a outra negativa. O médio deve então ser atributo da negativa que é o único termo universal das premissas. Mas, como a conclusão será particular negativa, o termo maior que é seu predicado será tomado universalmente, e terá, por conseguinte maior extensão do que nas premissas, e o silogismo terá quatro termos. Nada se pode concluir de duas premissas particulares, sem violar uma das regras do silogismo. 3.8. A indução e dedução Indução no campo da lógica é o processo no qual se raciocina do particular para o geral. Parte da suposição que, se algo está certo em algumas ocasiões, também estará em situações similares, embora estas ainda não tenham sido analisadas. Foi desenvolvida por filósofos como Francis Bacon e David Hume. Portanto, indução é um raciocínio pelo qual o espírito, de dados singulares suficientes, infere uma verdade universal. Exemplo: • O ferro conduz a eletricidade, o cobre, também, o zinco também. • Ora, o ferro, o cobre, o zinco são metais. • Logo, o metal conduz a eletricidade. Dedução, em lógica, é a forma de raciocínio onde se infere uma conclusão a partir de uma ou várias premissas. Normalmente, se expressa sob a forma de silogismo. As definições que precedem, nos permite compreender que a indução difere essencialmente da dedução. De fato, no raciocínio dedutivo, a conclusão é contida nas premissas como a parte no todo, enquanto que no raciocínio indutivo, a conclusão está para as premissas na relação do todo às partes. É isto que é fácil de ver comparando os exemplos seguintes: 28 O metal conduz a eletricidade. Dedução Ora, o ferro é um metal. Logo, o ferro conduz a eletricidade. O ferro, o cobre, o zinco... conduzem a eletricidade. Indução Ora, o ferro, o cobre, o zinco... são metais. Logo, o metal conduz a eletricidade. 29 Lógica Capítulo 4 As Condições da Certeza Estudamos até aqui os princípios e estabelecemos as regras do raciocínio correto. Mas, apesar do conhecimento deste princípios e o uso destas regras, o homem está sujeito a erro, e de fato se engana muitas vezes, tomando o falso por verdadeiro. É necessário, também,definir a verdade e o erro, conhecer os procedimentos sofísticos pelos quais o erro se apresenta com as aparências da verdade e determinar que sinais permitem, de direito, distinguir a verdade do erro. 4.1. A Verdade e O Erro 4.1.1. A verdade Ora falamos de “vinho legítimo”, de “ouro verdadeiro”, ora dizemos: “Este vinho é bom”, “este ouro é puro”, este quadro é belo”. Nos dois casos, queremos afirmar que o que é, é. E é nisto mesmo em que consiste a verdade em geral. Mas existe, contudo, uma diferença entre os dois gêneros de expressões que acabamos de citar. A primeira exprime uma verdade ontológica, a segunda uma verdade lógica. a) A Verdade Ontológica exprime o ser das coisas, enquanto ele responde exatamente ao nome que se lhe dá, enquanto, por conseguinte, é conforme à idéia divina de que procede. As coisas, de fato, são verdadeiras enquanto são conformes às idéias segundo as quais foram feitas. Conhecer esta verdade, quer dizer, conhecer as coisas tais quais são, é a tarefa de nossa inteligência.; b) A Verdade Lógica exprime a conformidade do espírito às coisas, isto é, à verdade ontológica. Desde que eu afirme: “Este ouro é puro”, enuncio uma verdade, se verdadeiramente a pureza pertence a este ouro, isto é, se meu julgamento está conforme ao que é. Segue-se daí que a verdade lógica só existe no juízo, e jamais na simples apreensão. A noção “ouro puro” não exprime nem verdade nem erro. Não pode existir verdade sobre isto, a não ser que o espírito, afirmando uma coisa 30 de uma outra, conhece seu ato e sua conformidade ao objeto, o que se produz unicamente no juízo. 4.1.2. Os Diversos estados de espírito em presença do verdadeiro O espírito, em relação ao verdadeiro, pode se encontrar em quatro estados diferentes: o verdadeiro pode ser para ele como não existente: é o estado de ignorância; o verdadeiro pode aparecer-lhe como simplesmente possível: é o estado da dúvida; o verdadeiro pode aparecer-lhe como provável: é o estado de opinião; enfim, o verdadeiro pode aparecer-lhe como evidente: é o estado de certeza. 4.1.2.1. A ignorância A ignorância é um estado puramente negativo, que consiste na ausência de todo conhecimento relativo a qualquer objeto. A ignorância pode ser: vencível ou invencível, segundo esteja ou não em nosso poder fazê-la desaparecer; culpável ou desculpável, segundo seja ou não nosso dever fazê-la desaparecer. 4.1.2.2. A dúvida A dúvida é um estado de equilíbrio entre a afirmação e a negação, resultando daí que os motivos de afirmar contrabalançam os motivos de negar. A dúvida pode ser: Espontânea, isto é, que consiste na abstenção do espírito por falta de exame do pró e do contra; Refletida, isto é, resultante dos exames das razões pró e contra; Metódica, isto é, consistindo na suspensão fictícia ou real, mas sempre provisória, do assentimento a uma asserção tida até então por certa, a fim de lhe controlar o valor; Universal, isto é, que consiste em considerar toda asserção como incerta. É a dúvida dos céticos. 4.1.2.3. A opinião A opinião é o estado do espírito que afirma com temor de se enganar. Contrariamente à dúvida, que é uma suspensão do juízo, a opinião consiste, pois, em afirmar, mas de tal maneira que as razões de negar não sejam 31 Lógica iluminadas com uma certeza total. 4.1.2.4. Divisão da Probabilidade 4.1.2.4.1. Probabilidade matemática É aquela em que todos os casos possíveis sendo da mesma natureza, em número finito, e conhecidos de antemão, seu grau de probabilidade pode ser avaliado sob forma fracionária. 4.1.2.4.2. Probabilidade moral É aquela que se aplica aos acontecimentos em que intervém em qualquer grau a liberdade humana. 4.1.2.5. A certeza e a evidência A certeza é o estado de espírito que consiste na adesão firme a uma verdade conhecida, sem temer enganar-se. A evidência é o que funda a certeza. 4.1.3. O Erro 4.1.3.1. Natureza do Erro Se a verdade lógica é a conformidade da inteligência com as coisas, o erro, que é seu contrário, deverá ser definido como a não-conformidade do juízo com as coisas. Enganar-se não é ignorar pura e simplesmente. A ignorância consiste propriamente em nada saber e em nada afirmar, enquanto que o erro consiste em não saber e afirmar acreditando saber. É uma ignorância que se ignora. 4.1.3.2. Causas do Erro O erro tem causas lógicas e causas morais: 4.1.3.2.1. Causas lógicas Elas provêm da fraqueza natural do nosso espírito: defeito de penetração; defeito de atenção; defeito de memória. 32 4.1.3.2.2. Causas morais Podemos reduzi-las a três principais, que são: a vaidade, pela qual nós nos fiamos muito nas nossas luzes pessoais; o interesse, pelo qual nós preferimos as asserções que nos são favoráveis; a preguiça, pela qual nós recuamos ante a informação e o trabalho necessários aceitando sem controle os juízos preconcebidos habituais, a autoridade dos falsos sábios, as aparências superficiais, os equívocos da linguagem, etc. 4.1.3.3. Os Remédios Contra o Erro Se o erro tem causas lógicas e causas morais, devemos combatê-lo por remédios lógicos e remédios morais. 4.1.3.3.1. Remédios lógicos Eles constituem uma sorte de higiene intelectual, e tendem a desenvolver a retidão, e o vigor do espírito, pela aplicação metódica das regras lógicas, pelo controle da imaginação, o desenvolvimento da memória. 4.1.3.3.2. Remédios morais Aí estão naturalmente os mais importantes. Eles se resumem no amor da verdade que nos inclina a desconfiar de nós mesmos, a julgar com uma perfeita imparcialidade, a proceder com paciência, circunspeção e perseverança na procura da verdade. 4.2. Os Sofismas 4.2.1. Definições Dá-se o nome de sofisma a um raciocínio errado que se apresenta com as aparências da verdade. Se o sofisma é cometido de boa fé e sem intenção de enganar, nós o chamamos ainda paralogismo. Mas, esta distinção, segundo a boa ou má fé, evoca o moralista. Para o lógico, sofisma e paralogismo são uma única e a mesma coisa. 4.2.1.1. Divisão O erro pode ter duas espécies de causas: ou bem o erro provém da linguagem, ou bem provém das idéias de que se compõe o raciocínio. Donde as duas classes de sofismas: os sofismas de palavras e os sofismas de coisas ou idéias. 33 Lógica 4.2.1.2. Os Sofismas de Palavras Os sofismas verbais são fundados sobre a identidade aparente de certas palavras. Os principais são: O equívoco, que consiste em tomar, no raciocínio, uma mesma palavra em vários sentidos diferentes. Tal é o raciocínio seguinte: O cão ladra. Ora, o cão é uma constelação. Logo, uma constelação ladra. A Confusão do Sentido Composto e do Sentido Dividido que tem lugar quando se reúne no discurso, isto é, quando se toma coletivamente o que é dividido em realidade, ou que se divide no discurso, isto é, que se toma separadamente o que em realidade não é mais do que um. Tal é o argumento do pródigo: Esta despesa não me arruinará. Nem esta segunda, nem esta terceira. Logo, todas estas despesas não me arruinarão. Ou então, em sentido oposto, este argumento: Quatro e dois fazem seis. Logo, quatro fazem seis e dois fazem seis. A Metáfora, que consiste em tomar a figura pela realidade. Este gênero de sofisma é freqüente, principalmente quando se fala de coisas espirituais: como devemos servir-nos de imagens sensíveis para exprimi-las, facilmente a imagem se substitui à coisa e torna-se uma fonte de erros. 4.2.1.3. Sofismas de Idéias ou de Coisas Estes sofismas provêm não da própria expressão, porém da idéia que é expressa, e portanto referem-se às coisas. Dividem-se em sofismas de indução e em sofismas de dedução, conforme resultem de uma indução ilegítima ou de uma dedução ilegítima. 34 Sofismas de Indução: Sofisma do Acidente Consiste em tomar por essencial ou habitualo que só é acidental e inversamente. Tal é o argumento: Este remédio não fez efeito. Logo, os remédios não servem para nada. Sofisma da Ignorância da Causa Consiste em tomar por causa um simples antecedente ou alguma circunstância acidental. Exemplo: Uma lesão cerebral produz perturbações intelectuais. Logo, o pensamento é um produto do cérebro. Sofisma do Arrolamento Imperfeito Consiste em tirar uma conclusão geral de um arrolamento insuficiente. Tal seria o raciocínio: Tal juiz é venal. Tal outro também o é. Logo, todos os juizes são venais. Sofisma da Falsa Analogia Consiste em concluir o que é um objeto pelo que é um outro, apesar de sua diferença essencial, apoiando-se sobre uma de suas semelhanças. Tal é o argumento: A lua é um planeta como a terra. Ora, a terra é habitada. Logo, a lua também o é. 35 Lógica Sofismas de Dedução Falsa Conversão e Oposição Ilegítima (reportar-se à Lógica formal, no que concerne à conversão e oposição das proposições). Ignorância do Assunto Este sofisma consiste ou em provar uma coisa fora de questão, ou, tratando da questão, provar de mais ou de menos. Tal seria o raciocínio que quisesse provar que o Soberano Pontífice, do ponto de vista católico, não é infalível porque pode pecar. Petição de Princípio Este sofisma consiste em tomar como princípio do argumento aquilo que está em questão. Tal é o argumento seguinte: O pensamento é um produto do cérebro. Logo, o pensamento é um atributo da matéria orgânica. Círculo vicioso Este sofisma consiste em demonstrar uma pela outra duas proposições que têm igualmente necessidade de serem demonstradas. Tal seria o argumento que provasse a ordem do mundo pela sabedoria divina e a sabedoria divina pela ordem do mundo. 4.3. O Critério da Certeza 4.3.1. Definição Chama-se critério o sinal graças ao qual reconhece-se uma coisa e a distinguimos de todas as outras. Ora, já que opomos constantemente a verdade ao erro, dizendo, “isto é verdadeiro, isto é falso”, devemos possuir algum sinal ou critério pelo qual nós reconhecemos a verdade. É este sinal que nós chamamos critério da verdade, e, como é por este sinal que devemos possuir a certeza, chama-se também, colocando-nos no ponto de vista, não mais do objeto que aparece, mas do espírito que conhece, o critério da certeza. 36 4.4. Noção da Ciência 4.4.1. Conceito O termo ciência se diz de um ponto de vista objetivo e de um ponto vista subjetivo. Objetivamente, a ciência é um conjunto de verdades certas e logicamente encadeadas entre si, de maneira a formar um sistema coerente. Sob este aspecto, a filosofia é uma ciência, tanto quanto a física e a química. Num mesmo sentido, é necessário dizer que ela responde melhor, de direito, a uma idéia da ciência do que as ciências da natureza, porque usa princípios mais universais e se esforça por descobrir a razão universal de todo o real. Subjetivamente, a ciência é o conhecimento certo das coisas por suas causas ou por suas leis. A pesquisa das causas propriamente dita (ou do porquê das coisas) convém principalmente à filosofia. As ciências da natureza se limitam a pesquisar as leis que governam a coexistência ou a sucessão dos fenômenos (ou pesquisa do como). 4.4.2. Só existe ciência do geral e do necessário A ciência tem por objeto o geral. Toda ciência tendo por objeto descobrir as causas e as leis é, por isto mesmo, conhecimento do que existe no real de mais geral. O indivíduo e o individual, como tal, não é e não pode ser objeto da ciência propriamente dita, mas unicamente do conhecimento intuitivo, sensível ou intelectual. A ciência tem por objeto o necessário, no sentido de que as causas e as leis que atinge são realidades ou relações que são metafisicamente, fisicamente ou moralmente necessárias, isto é, tais que o real metafísico, físico ou moral seria ininteligível sem elas. Deste ponto de vista, além disto, não existe ciência do individual, uma vez que o individual, como tal, é contingente (isto é, poderia não ser). 4.4.3. Glossário Argumento (FILOSOFIA). Em lógica, raciocínio que visa provar ou refutar uma conclusão. 4.4.4. Axioma Proposição ou enunciado tão evidente em si mesmo que dispensa demonstração. Princípio que serve para enunciar um sistema. 37 Lógica 4.4.5. Ceticismo Doutrina filosófica que prega a impossibilidade de se conhecer ou de se transmitir a verdade. Nascida na antiguidade, influenciou diferentes pensadores de todos os tempos. 4.4.6. Conceito Termo que designa, em filosofia da ciência, com várias acepções, a representação de um objeto pelo pensamento, por meio de suas características gerais. 4.4.7. Dialética Termo utilizado em filosofia, com diferentes significados, conforme o momento histórico. Originalmente, forma de argumentação baseada no confronto de perguntas e respostas antagônicas. 4.4.8. Didática Estudo dos métodos e técnicas que intervêm nos processos de ensino e aprendizagem. Termo cunhado em 1629 por Wolfgang Ratke. 4.4.9. Erística Termo em filosofia referente à escola de Mégara, caracterizada pela prática da retórica vazia, que tinha por objetivo vencer uma disputa a a qualquer custo, ainda que sem razão. 4.4.10. Inferência Ato mental que consiste em derivar um juízo ou uma sentença de um ou mais juízos e sentenças. Significa também conclusão lógica tirada de fatos, evidências, suspeitas e crenças. 4.4.11. Ingerência Influência, Intervenção. 4.4.12. Intuicionismo Escola segundo a qual a matemática deve ser concebida como atividade intelectual consistente por si mesma e que lida com construções mentais governadas por leis auto-evidentes. 38 4.4.13. Juízo (FILOSOFIA) Termo que designa, em lógica, ato exteriorizado de entendimento pelo qual se afirma a conveniência de duas idéias ou a relação de fatos. 4.4.14. Metafísica Divisão da filosofia que se ocupa de tudo o que transcende o mundo físico ou natural. Cultivada desde Aristóteles e, com especial interesse, pela escolástica medieval. 4.4.15. Ontologia Ramo da filosofia que estuda o ser como ser, por oposição ao estudo das aparências ou atributos. Disciplina formal desde o século XVII. 4.4.16. Órganon Nome dado por Alexandre de Afrodisia ao conjunto dos textos sobre lógica escritos por Aristóteles. O termo, que significa instrumento, foi escolhido para indicar que a lógica é apenas um instrumento da ciência. 4.4.17. Pragmatismo Movimento filosófico que propunha como critério de verdade a utilidade e as conseqüências práticas das idéias. Surgido nos EUA em fins do século XIX.. 4.4.18. Raciocínio Operação mental, lógica e discursiva, que usa uma ou mais proposições para concluir se outra proposição é verdadeira, falsa ou provável. 4.4.19. Silogismo Operação lógico-dedutiva formada por três proposições, denominadas premissa maior, premissa menor e conclusão. Desenvolvida no século IV a.C. pelo filósofo grego Aristóteles. 4.4.20. Sofisma Termo que designa, em filosofia, o argumento que, a partir de premissas verdadeiras, ou assim consideradas, chega a uma conclusão inadmissível, que não pode enganar a ninguém, mas que parece conforme às regras formais do raciocínio e que não se sabe como refutar. 39 Lógica Referências CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 7ª. ed. São Paulo: Ática, 1996. Encyclopaedia Britannica do Brasil. Publicações Ltda. ABRIL, Almanaque. Abril multimídia. 1997. PILETTI, Claudino; PILETTI, Nelson. Filosofia e História da Educação. São Paulo: Ática. ABBAGNANO, N.; VISALBERGHI, A. História de la Pedagogía. México: Fondo de Cultura Económica, 1964. AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira. 5ª. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1971. JOLIVET, Régis. Curso de Filosofia. 3ª. ed. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1957. CUVILLIER,A. Manual de Filosofia. 1ª. ed. Porto: Educação Nacional de Adolfo Machado, 1948.
Compartilhar