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1 Hipopituitarismo A hipófise é uma glândula formada por vários tipos celulares, cujo hormônios que ela secreta estimulam outras glândulas endócrinas periféricas a sintetizar outros hormônios envolvidos em várias funções como: crescimento, desenvolvimento psicomotor, maturação sexual, fertilidade, controle do gasto energético, regulação do metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas, manutenção do balanço hidroeletrolítico. A secreção hormonal hipofisária como um todo é regulada por outros hormônios hipotalâmicos e pelos hormônios produzidos pelas glândulas endócrinas periféricas. A adenohipófise é de origem ectodérmica e produz os seguintes hormônios: hormônio do crescimento (GH), as gonadotrofinas (LH e FSH), o hormônio estimulador da tireoide (TSH), o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e a prolactina (PRL). A deficiência na produção ou na ação de qualquer um dos hormônios da adenohipófise é denominada hipopituitarismo, e quando ocorre deficiência de mais de um hormônio é chamado de pan-hipopituitarismo. O hipopituitarismo é um evento primário causado pela destruição da adenohipófise ou um fenômeno secundário, resultante da deficiência de fatores estimulantes hipotalâmicos que normalmente atuam sobre a hipófise. Etiologia Hipopituitarismo congênito: Ocorre a partir de anomalias estruturais da hipófise ou de distúrbios hereditários que levem a problemas na secreção de hormônios. - Anomalias estruturais: são raras e manifestas por aplasia (ausência), hipoplasia parcial ou tecidos hipofisários rudimentares ectópicos. Os aspectos anatômicos típicos de hipopituitarismo congênito são: glândula de volume diminuído, sela parcial ou completamente vazia, sela túrcica com formato alterado, haste hipofisária ausente ou transeccionada e sinal brilhante da hipófise ausente ou ectópico. - Distúrbios hereditários: para diferenciação e proliferação das células da hipófise que secretam e produzem hormônios é preciso ter a ação de vários fatores de transcrição. Mutações nos genes que codificam esses fatores, hormônios ou receptores podem levar a deficiência de um ou mais desses hormônios hipofisários. ➢ Mutações no POU1F1: esse gene regula a expressão dos genes do GH, da PRL, do TSH e do receptor do GHRH, sendo responsável pelo desenvolvimento e proliferação dos somatotrofos (GH), lactotrofos (PRL) e tireotrofos (TSH). ➢ Mutações no PROP1 | Profeta do PIT-1: esse gene é necessário para ativação do Pit-1 e tem função na diferenciação dos somatotrofos (GH), lactotrofos (PRL), tireotrofos 2 (TSH) e gonadotrofos (FSH e LH). Expressão tardia ou inadequada desse fator de transcrição pode levar a alterações no desenvolvimento hipofisário. ➢ Mutações no HESX1: esse gene regula os estágios iniciais do desenvolvimento hipofisário, e sua expressão está restrita ao diencéfalo ventral. Todos os hormônios da adenohipófise vão estar deficientes. ➢ Mutações no LHX3: a expressão desse gene é detectada desde o início da formação da hipófise até ela desenvolvida. Mutações nesse gene vão ser expressas por deficiência de GH, gonadotrofinas, TSH e PRL, preservando a função dos corticotrofos. ➢ Mutações no LHX4: exerce papel fundamental na proliferação da linhagem precursora das células hipofisárias, além de regular a expressão do gene POU1F1. Logo, mutações nesse gene envolvem deficiência de GH, TSH, LH, FSH e ACTH. ➢ Mutações no TPIT: mutações nesse gene irão causar deficiência de ACTH isolada e hipocortisolismo de início precoce. Doenças congênitas que causam hipopituitarismo: - Síndrome de Kallmann - Síndrome de Prader-Willi - Síndrome de Laurence-Moon-Biedl Hipopituitarismo adquirido: As condições que comprometem a hipófise e/ou o hipotálamo causando hipopituitarismo são: tumor hipofisário ou consequência de seu tratamento, traumatismos, tumor extra hipofisário, idiopático, doenças inflamatórias e infiltrativas, síndrome de Sheehan. - Tumor hipofisário: grandes adenomas hipofisários causam hipopituitarismo por destruição da hipófise ou núcleos hipotalâmicos, ou ainda interrompendo a comunicação entre hipotálamo e hipófise. Os microadenomas não causam insuficiência hipofisária diretamente. - Doenças vasculares: a apoplexia hipofisária é um distúrbio que resulta de destruição abrupta do tecido hipofisário, devido a infarto agudo ou hemorragia da glândula. Em geral, está associada à tumores hipofisários. Contudo, pode aparecer espontaneamente em uma glândula normal após hemorragia obstétrica (Síndrome de Sheehan), em hipertensão intracraniana, em complicações de anticoagulação sistêmica, na HAS, no DM, na gravidez, etc. - A sarcoidose é uma doença granulomatosa multissistêmica que raramente é combinada com a deficiência na adenohipófise, decorrendo de processo infiltrativos no hipotálamo, reduzindo assim a secreção dos regulares da adenohipófise. - Traumatismo cranioencefálico: lesão traumática no cérebro tem emergido como uma das causas mais importantes de hipopituitarismo. - Doenças infecciosas: algumas doenças infecciosas podem acometer a região hipotalâmico-hipofisária e provocar 3 inflamação, seguida de necrose, hemorragia e fibrose. Ex: neurocisticercose, tuberculoma intrasselar, sífilis e infecções fúngicas. - Doenças autoimunes: a hipofisite linfocítica é uma doença rara, caracterizada por infiltração difusa de linfócitos e plasmócitos, mais comum em mulheres associadas à gestação. Manifestações Clínicas Pacientes com lesões hipotalâmico- hipofisárias podem apresentar sintomas compressivos, caracterizados por cefaleia (compressão da dura-máter ou hipertensão intracraniana), alterações no campo visual (compressão do nervo óptico), paralisias de nervos periféricos (extensão lateral da lesão) ou relativos à deficiência hormonal. Deficiência de GH: (DGH) A DGH é a deficiência mais comum no hipopituitarismo. Na criança se manifesta por diminuição na velocidade de crescimento, baixa estatura, implantação anômala dos dentes, micropênis, hipoglicemia, lipodistrofia abdominal, hipotrofia muscular, icterícia conjugada prolongada, nistagmo, voz aguda e nariz em sela. No adulto se manifesta por fadiga fácil, distúrbios do sono, depressão, ansiedade, labilidade emocional, osteoporose, redução da massa magra e aumento da gorda (com distribuição predominante no tronco), aumento do LDL e do risco de doenças cardiovasculares. Deficiência de gonadotrofinas: Quando surge antes da puberdade ocorre ausência de desenvolvimento puberal, atraso na maturação óssea e nos meninos, micropênis e criptorquidia. Nas mulheres adultas, se manifesta por amenorreia, diminuição da libido, dispareunia, atrofia mamária, infertilidade, distúrbios do sono, perda de massa muscular e óssea e hiperlipidemia. Nos homens, ocorre diminuição da libido, impotência, infertilidade, hiperlipidemia, distúrbios do sono, perda de massa muscular e óssea, depressão e anemia. Deficiência de TSH: Também chamado de hipotireoidismo central é causada por redução da capacidade de produção de TSH pelos tireotrofos hipofisários ou pela redução da secreção de hormônio regulador de tireotrofina (TRH). Os sintomas mais frequentes são fadiga, sonolência, indisposição, intolerância ao frio, pele ressecada, constipação, rouquidão, ganho de peso, anemia, parada de crescimento, astenia, voz arrastada e hiporreflexia profunda. Deficiência de ACTH: Essa deficiência leva à perda da estimulação das camadas fasciculada e reticular da adrenal, o que prejudica a secreção de glicocorticoides e androgênios. Os principais sinais e sintomas são: anorexia, náuseas, vômitos, perda de peso, astenia, cefaleia, dor abdominal, hipotensãopostural, palidez cutânea, hipopigmentação da aréola mamária, diminuição de pelos axilares e pubianos, hiponatremia. Deficiência de prolactina: É muito rara e só ocorre quando a adehiposife é completamente destruída ou em pacientes com deficiência congênita de PRL. O principal sinal clinico é a incapacidade de lactação. 4 Diagnóstico A avaliação diagnóstica deve conter: a presença, o tipo e o grau de deficiência hormonal; a etiologia; e a presença de alterações visuais. - Deficiência de GH: GH basal, IGF-1 e IGF-BP3 baixos ou normais. Realiza o Teste de tolerância à insulina (ITT), se o pico de GH for <5ng/ml em crianças e < 3 ng/ml em adultos confirma diagnóstico de hipopituitarismo. A idade óssea está atrasada em pacientes com DGH de longa duração. Na ressonância magnética, o paciente apresenta alteração anatômica a região hipotalâmica-hipofisária. Ocorre também, colesterol total, LDL e triglicerídeos aumentados, bem como fatores trombogênicos, como o fibrinogênio e o PAI-1. - Deficiência de ACTH: ACTH basal: baixo ou normal (< 10 pg/ml). Cortisol basal < 3 μg/dl. Durante ITT, pico de cortisol < 18 mg/dl. O ITT tem por objetivo provocar um estresse (hipoglicemia) e observar a elevação do cortisol sérico. - Deficiência de TSH: T4 livre sérico baixo ou no limite inferior da normalidade. T3 normal ou baixo. TSH pode estar normal, baixo ou discretamente elevado. - Deficiência de gonadotrofinas: LH e FSH basais: baixos ou normais. Testosterona baixa em homens e estradiol baixo em mulheres. Padrão ouro: teste de estimulo com infusão endovenosa de GnRH. No hipopit a reposta de LH, principalmente, está diminuída, diferenciando se a etiologia é de origem hipofisária ou hipotalâmica. No exame físico nota-se o paciente acima do peso, com pele fina, lisa, pálida com finas rugas na face. A pilificação corporal pode ser deficiente ou ausente, pode ocorrer hipotensão postural, bradicardia, redução da força muscular e reflexos profundos tendíneos retardados. Tratamento Os principais objetivos da terapia do hipopituitarismo são o alívio dos sintomas, a melhoras nos diferentes aspectos relacionados à qualidade de vida, e a normalização ou redução das comorbidades e da taxa de mortalidade. Deficiência de GH O objetivo do tratamento é corrigir as alterações clínicas, usando os níveis de IGF-1 como marcador de tratamento. Indicação: a terapia de reposição de GH está indicada para pacientes com evidencia de comprometimento da região hipotálamo- hipofisária. Dose: nos adultos, a dose inicial de rhGH é de 0,1 a 0,3 mg/dia, via subcutânea ao deitar. A dose é reajustada a cada 4 a 6 semanas. Cuidados especiais: no hipopituitarismo com deficiência de mais de 1 hormônio, o ideal é começar a reposição com rhGH só quando os outros déficits estiverem tratados. Benefícios do rhGH: a terapia de reposição possibilita melhora na qualidade de vida, no perfil lipídico e na função cardíaca. No entanto, ele tende a piorar a sensibilidade insulínica. 5 Efeitos colaterais: cefaleia, artralgias, mialgias, síndrome do túnel do carpo, edema de extremidades, retinopatia, hipertensão intracraniana benigna e ginecomastia. Deficiência de ACTH O objetivo do tratamento é repor de modo mais fisiológico possível a menor dose de glicocorticoides que mantenha o paciente livre dos sintomas de insuficiência adrenal e sem os riscos de hipercortisolismo. Indicados para casos agudos como apoplexia hipofisária, com hidrocortisona via intravenosa para prevenir a morte por crise adrenal. Em casos mais leves, a reposição pode ser feita só em situações de estresse. Dose: mais comumente utilizado é com hidrocortisona por via oral na dose de 20 mg administrada da seguinte maneira: 10 mg ao acordar pela manhã, 5 mg ao meio-dia e 5 mg ao fim da tarde. Deficiência de TSH. - Consiste na administração de levotiroxina (L- T4) em dose única ao acordar, pelo menos 30 a 60 minutos antes de se alimentar. Dose: iniciar o tratamento com doses variando entre 50 e 100 μg/dia. Deficiência de FSH e LH. - Nos homens o tratamento do hipogonadismo central consiste na reposição de testosterona. Nas mulheres ocorre a reposição estroprogestogênica, incluindo estrogênios naturais (estradiol, 17βestradiol e estrogênios conjugados), estrogênios sintéticos (etinilestradiol) e progestógenos.
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