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TRANSTORNO BIPOLAR tipo I e tipo II. Os transtornos bipolares são classificados como • Transtorno bipolar I: definido como a presença de pelo menos um episódio maniáco completo (comprometendo a função ocupacional e social normal) e, quase sempre, episódios depressivos • Transtorno bipolar II: definido pela presença de episódios depressivos maiores com pelo menos um episódio hipomaníaco, mas sem episódios maníacos evidentes. • Transtorno bipolar inespecífico: transtornos com características bipolares claras, porém que não preenchem os critérios específicos para outros transtornos bipolares No transtorno ciclotímico, pacientes têm períodos prolongados (> 2 anos) que incluem tanto episódios hipomaníacos como depressivos; mas esses episódios não atendem os critérios específicos para transtorno bipolar. ETIOLOGIA A causa exata do transtorno bipolar é desconhecida. A hereditariedade tem papel significativo. Também há evidências de desregulação de serotonina, noradrenalina e dopamina. Fatores psicossociais também podem estar envolvidos. Eventos de vida estressantes estão muitas vezes associados ao desenvolvimento inicial dos sintomas e exacerbações posteriores, ainda que causa e efeito não tenham sido estabelecidos. Alguns fármacos podem desencadear exacerbações em alguns pacientes com transtorno bipolar; esses fármacos incluem • Simpatomiméticos (p. ex., cocaína , anfetaminas ) • Álcool • Certos antidepressivos [p. ex., antidepressivos tricíclicos, inibidores da monoamina oxidase (IMAOs)] SINAIS E SINTOMAS Os transtornos bipolares se iniciam com uma fase aguda de sintomas a que se segue um curso de recaídas e remissões repetidas. Remissões são frequentemente completas, mas muitos pacientes têm sintomas residuais e, para alguns, a capacidade de funcionar no trabalho é gravemente prejudicada. As recaídas são episódios marcantes de sintomas mais intensos que são maníacos, depressivos, hipomaníacos ou uma mistura de características depressivas e maníacas. Os episódios duram entre algumas semanas até 3 a 6 meses: episódios depressivos têm maior duração do que episódios maníacos. Os ciclos — o tempo a partir do início de um episódio até o início do próximo — variam em duração entre os pacientes. Alguns pacientes apresentam episódios infrequentes, talvez, apenas alguns ao longo de toda a vida, enquanto outros manifestam formas de ciclagem rápida (geralmente definida como ≥ 4 episódios/ano). Apenas uma minoria alterna entre mania e depressão em cada ciclo; na maioria, um ou outro predomina em alguma extensão. Pacientes podem tentar ou cometer suicídio . Estima-se que a incidência ao longo da vida do suicídio em pacientes com transtorno bipolar seja pelo menos 15 vezes maior do que na população em geral. MANIA Um episódio maníaco é definido como um período de ≥ 1 semana de humor persistentemente elevado, expansivo ou humor irritável e atividade direcionada a objetivos ou energia aumentada mais ≥ 3 sintomas adicionais: • Autoestima inflada ou grandiosidade • Diminuição da necessidade de sono • Falar mais do que o habitual • Fuga de ideias ou pensamentos acelerados • Facilidade em se distrair • Aumento das atividades direcionadas a objetivos • Envolvimento excessivo em atividades com alto potencial para consequências negativas (p. ex., gastar em festanças, investimentos financeiros tolos) Os pacientes maníacos podem ficar incansáveis, excessiva e impulsivamente envolvidos em diversas atividades prazerosas com alto risco (p. ex., jogos, esportes perigosos, atividade sexual promíscua) sem crítica sobre o possível risco. Os sintomas são tão graves que os pacientes não podem desempenhar seus papéis primários (ocupação, escola, tarefas domésticas). Investimentos insensatos, farras caras e outras escolhas pessoais podem ter consequências irreparáveis. Pacientes em episódios maníacos podem usar roupas exuberantes, extravagantes ou coloridas e frequentemente têm posturas autoritárias com fluxo de fala rápido e sem interrupções. Os pacientes podem fazer associações pela sonoridade (novos pensamentos são desencadeados pelo som das palavras e não pelo significado). Distraídos com facilidade, os pacientes podem constantemente mudar de um tema para outro ou de uma empreitada para outra. Entretanto, eles tendem a acreditar que estão em seu melhor estado mental. Perda da crítica e aumento na capacidade de atividade, muitas vezes, acarretam comportamentos intrusivos, podendo ser uma combinação perigosa. Disso resultam atritos interpessoais que podem levar os pacientes a sentir que estão sendo tratados injustamente ou perseguidos. Como resultado, os pacientes podem se tornar um perigo para si mesmos e para as outras pessoas. A atividade mental acelerada é experimentada como uma corrida de pensamentos pelos pacientes e é observada como fuga de ideias pelo médico. Mania psicótica é a manifestação mais extrema, com sintomas psicóticos que podem ser difíceis de distinguir da esquizofrenia . Os pacientes podem ter delírios extremamente grandiosos ou persecutórios (p. ex., de ser Jesus, de ser perseguido pelo Federal Bureau of Investigation FBI]), às vezes, com alucinações. O nível de atividade aumenta marcadamente; os pacientes podem correr e gritar, xingar ou cantar. A labilidade de humor aumenta, com frequência, com irritabilidade crescente. Delirium completo (mania delirante) pode surgir, com perda completa do pensamento e comportamento coerentes. HIPOMANIA Um episódio hipomaníaco é uma variante menos extrema de mania representado por um episódio evidente que dura ≥ 4 dias com um comportamento claramente diferente do comportamento habitual do paciente quando não está deprimido com ≥ 3 dos sinais e sintomas adicionais listados acima na rubrica mania. Durante o período hipomaníaco, o humor se eleva, a necessidade de sono diminui e a atividade psicomotora acelera. Para alguns pacientes, períodos hipomaníacos são adaptativos, pois produzem alta energia, criatividade, confiança e funcionamento social supernormal. Muitos não desejam deixar o estado eufórico prazeroso. Alguns funcionam muito bem e, na maioria, o funcionamento não está notavelmente comprometido. No entanto, em alguns pacientes, a hipomania se manifesta como distrair-se facilmente, irritabilidade e humor lábil, que o paciente e os outros acham menos atraente. DEPRESSÃO Um episódio depressivo tem características típicas de depressão maior ; o episódio deve incluir ≥ 5 dos seguintes durante o mesmo período de 2 semanas, e um deles deve ser humor deprimido ou perda de interesse ou prazer: • Humor deprimido durante a maior parte do dia • Diminuição acentuada do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades durante a maior parte do dia • Ganho ou perda ponderal significativo (> 5%) ou diminuição ou aumento do apetite • Insônia (muitas vezes insônia de manutenção do sono) ou hipersonia • Agitação ou atraso psicomotor observado por outros (não autorrelatado) • Fadiga ou perda de energia • Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada • Capacidade diminuída de pensar, concentrar-se ou indecisão • Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio, tentativa de suicídio ou plano específico para o suicídio As características psicóticas são mais comuns na depressão bipolar do que na depressão unipolar. CARACTERÍSTICAS MISTAS Um episódio de mania ou hipomania é designado como tendo características mistas se ≥ 3 sintomas depressivos estão presentes quase em todos os dias do episódio. Essa condição é muitas vezes difícil de diagnosticar e pode se ocultar em um estado cíclico contínuo; o prognóstico é pior do que em um estado puro de mania ou hipomania. O risco de suicídio durante episódios mistos é particularmente alto. DIAGNOSTICOTRATAMENTO USO E SELEÇÃO DO FÁRMACO A escolha do fármaco pode ser difícil, pois todos os fármacos possuem efeitos adversos significantes, interações medicamentosas são comuns e nenhum fármaco é universalmente eficaz. A seleção deve se basear no que foi eficaz e bem tolerado previamente para determinado paciente. Caso não haja experiência anterior (ou ela seja desconhecida), a escolha se baseia na história médica do paciente (tendo em vista os efeitos adversos do estabilizador de humor específico) e a gravidade dos sintomas. Para a mania psicótica grave, na qual a segurança imediata do paciente e o manejo estejam comprometidos, o controle comportamental urgente geralmente exige um antipsicótico de 2ª geração sedativo, algumas vezes suplementado inicialmente com um benzodiazepínico, como lorazepam ou clonazepam 2 a 4 mg IM ou por via oral 3 vezes/dia. Para episódios agudos menos graves em pacientes sem contraindicações (p. ex., distúrbios renais), o lítio é uma boa primeira escolha tanto para episódios maníacos como depressivos. Como seu início de ação é lento (4 a 10 dias), os pacientes com sintomas significativos também podem receber um anticonvulsivante ou um antipsicótico de 2ª geração. Para aqueles com depressão, lamotrigina pode ser uma boa escolha de anticonvulsivante. Para depressão bipolar, a melhor evidência sugere o uso de quetiapina ou lurasidona isoladamente ou a combinação de fluoxetina e olanzapina. Depois de alcançar a remissão, indica-se o tratamento preventivo com estabilizadores do humor para todos os pacientes com transtorno bipolar I (bipolar I é definido pela presença de pelo menos um episódio maníaco completo e geralmente de episódios depressivos). Caso os episódios recorram durante o tratamento de manutenção, o médico deve determinar se a adesão é ruim e, se for o caso, se a não adesão precedeu ou se seguiu à recorrência. As razões para a não adesão devem ser exploradas para determinar se mudança no tipo de estabilizador de humor ou na dose tornaria o tratamento mais aceitável. LÍTIO Dois terços dos pacientes com transtorno bipolar não complicado respondem ao lítio, que atenua as mudanças de humor bipolares, mas não tem efeito no humor normal. Ao usar lítio ou outro estabilizador do humor, as alterações do humor são mais prováveis em pacientes que apresentam estados mistos , formas de ciclagem rápida do transtorno bipolar, (geralmente definido como ≥ 4 episódios/ano), ansiedade comorbida, transtorno por uso de substâncias ou doença neurológica. O carbonato de lítio é iniciado com 300 mg por via oral 2 ou 3 vezes/dia e aumentado, com base nos níveis sanguíneos de equilíbrio e na tolerância, até níveis de 0,8 a 1,2 mEq/L (0,8 a 1,2 mmol/L). Os níveis devem ser determinados após 5 dias de uma dose estável e 12 h após a última dose. Os níveis alvo do fármaco para manutenção são menores, cerca de 0,6 a 0,7 mEq/L (0,6 a 0,7 mmol/L). Níveis de manutenção mais altos são protetores contra episódios de mania (mas não de depressão), porém têm mais efeitos colaterais. Adolescentes, cuja função glomerular é excelente, precisam de doses mais altas de lítio; pacientes idosos precisam de doses mais baixas. O lítio pode causar sedação e comprometimento cognitivo direta ou indiretamente (ao ocasionar hipotireoidismo ) e frequentemente agrava acne e psoríase . Os efeitos adversos agudos e leves mais comuns são tremores finos, fasciculação, náuseas, diarreia, poliúria, sede, polidipsia e ganho de peso (parcialmente atribuído à ingestão de bebidas muito calóricas). Tais efeitos são quase sempre transitórios e, muitas vezes, respondem à pequena redução na dose, à divisão da dose (p. ex., 3 vezes/dia) ou com a utilização de formas de liberação lenta. Uma vez que a dose é estabelecida, toda a dose deve ser administrada após a refeição da noite. Esse esquema pode melhorar a adesão. Um betabloqueador (p. ex., atenolol, 25 a 50 mg por via oral uma vez ao dia) pode controlar tremor grave; mas alguns betabloqueadores (p. ex., propranolol) podem agravar a depressão. A toxicidade aguda do lítio se manifesta inicialmente por tremor grosseiro, aumento dos reflexos tendíneos profundos, cefaleia persistente, vômitos e confusão, podendo progredir para estupor, convulsões e arritmias. A toxicidade é mais provável em: • Pacientes idosos • Pacientes com depuração de creatinina diminuído • Aqueles com perda de sódio (p. ex., por causa de febre, vômitos, diarreia ou uso de diuréticos) Diuréticos tiazídicos, Inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA) e AINEs, que não o ácido acetilsalicílico, podem contribuir para hiperlitemia. Níveis sanguíneos de lítio devem ser medidos a cada 6 meses e toda vez que a dose for modificada. Os efeitos adversos a longo prazo do lítio incluem • Hipotireoidismo , particularmente quando existe história familiar de hipotiroidismo • Lesões renais comprometendo o túbulo distal que aparecem depois de ≥ 15 anos de tratamento com lítio Dessa forma, os níveis de TSH (thyroid-stimulating hormone) TSH devem ser monitorados quando o lítio for iniciado e anualmente caso haja história familiar e ano sim, ano não para todos os outros pacientes. Os níveis também devem ser medidos caso os sintomas sugiram disfunção tireoidiana (inclusive quando a mania recorrer), pois o hipotireoidismo pode diminuir o efeito dos estabilizadores de humor. Ureia e creatinina devem ser medidas na linha de base, 2 ou 3 vezes durante os primeiros 6 meses e, depois, uma ou 2 vezes por ano. A dose cumulativa é fator de risco de lesão renal, portanto deve-se usar a dose mínima necessária para uma profilaxia eficaz. ANTICONVULSIVANTES Os anticonvulsivantes que atuam como estabilizadores do humor, sobretudo valproato e carbamazepina, são frequentemente usados para tratar mania aguda e estados mistos (mania e depressão). A lamotrigina é eficaz para ciclagem de humor e depressão. O mecanismo de ação preciso dos anticonvulsivantes no transtorno bipolar é desconhecido, mas pode envolver mecanismos com GABA e, no final, sistemas de sinalização de proteína G. Suas principais vantagens sobre o lítio incluem maior margem terapêutica e ausência de toxicidade renal. Para o valproato, é dada uma dose de ataque de 20 a 30 mg/kg, então 250 a 500 mg por via oral 3 vezes/dia (formulações de liberação estendida podem ser utilizadas); os níveis sanguíneos alvos são de 50 e 125 μg/mL (347 e 867 micromol/L). Essa abordagem não resulta em mais efeitos adversos do que a titulação gradual. Efeitos adversos incluem náuseas, cefaleia, sedação, tontura e ganho de peso; efeitos sérios raros compreendem hepatotoxicidade e pancreatite. A carbamazepina não deve ter dose de ataque; a dose inicial deve ser de 200 mg por via oral duas vezes ao dia e pode ser aumentada gradualmente com elevações de 200 mg/dia até níveis alvos de 4 a 12 μg/mL (17 e 51 micromol/L; máximo de 800 mg duas vezes ao dia). Os efeitos adversos incluem náuseas, tontura, sedação e desequilíbrio. Efeitos muito graves incluem anemia aplásica e agranulocitose. A lamotrigina é iniciada com 25 mg por via oral uma vez ao dia por 2 semanas, então, 50 mg por via oral uma vez ao dia por 2 semanas, então, 100 mg/dia por 1 semana e, então, pode ser aumentada em 50 mg a cada semana conforme necessário até 200 mg uma vez ao dia. A dosagem é menor para pacientes tomando valproato e maior para pacientes tomando carbamazepina. A lamotrigina pode provocar exantema e, raramente, a síndrome de Stevens-Johnson potencialmente fatal, sobretudo se a dose for elevada mais rápido do que o recomendado. Enquanto tomarem a lamotrigina, os pacientes devem ser encorajados a relatar qualquer nova exantema, urticárias, febre, edemas de glândulas, dores na boca e nos olhos e edema nos lábios ou na língua. ANTIPSICÓTICOS Psicose maníaca aguda é cada vez mais tratada com antipsicóticos de 2ª geração, como • Risperidona (normalmente 2 a 3 mg por via oral duas vezes ao dia) • Olanzapina (normalmente 5 a 10 mg por via oral duas vezes ao dia) • Quetiapina (200 a 400 mg por via oral duas vezes ao dia) • Ziprasidona (40 a 80 mg por via oral duas vezes ao dia) • Aripiprazol (10 a 30 mg por via oral uma vez ao dia) • Cariprazina (1,5 a 3,0 mg, uma vez ao dia) • Lurasidona (20 a 120 mg, uma vez ao dia) Além disso, evidências sugerem que esses fármacos podem aumentar os efeitos dos estabilizadores do humor após a fase aguda. Embora muitas desses fármacos possam ter efeitos adversos extrapiramidais e causar acatisia, o risco é menor com fármacos mais sedativos, como quetiapina e olanzapina. Efeitos adversos menos imediatos incluem ganho de peso substancial e desenvolvimento de síndrome metabólica (abrangendo ganho de peso, excesso de gordura abdominal, resistência à insulina e dislipidemia); o risco pode ser menor com os antipsicóticos de 2ª geração menos sedativos, ziprasidona e aripiprazol. Para pacientes psicóticos extremamente hiperativos com baixa ingestão de líquidos e alimentos, um antipsicótico administrado por via intramuscular com cuidados de suporte em acréscimo ao lítio ou um anticonvulsivante pode ser apropriado. ANTIDEPRESSIVOS Antidepressivos específicos [p. ex., inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS)] às vezes são adicionados para a depressão grave, mas sua eficácia é controversa; eles geralmente não são recomendados como terapia única para episódios depressivos, embora haja evidências de que um ISRS (especificamente a sertralina) possa ser seguro e eficaz como monoterapia para a depressão bipolar tipo 2 (1) .
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