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Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) Referência: KUMAR, V.; ABBAS, A. K.; ASTER, J. C. Robbins & Cotran Patologia – Bases Patológicas das Doenças, 9ª Ed, Rio de Janeiro: Elsevier, 2016 Wathyson Alex de Mendonça Santos AIDS: doença causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), um retrovírus, e caracteriza-se por profunda imunossupressão que leva a infecções oportunistas, neoplasias secundárias e manifestações neurológicas. EPIDEMIOLOGIA Até 2011: 60 milhões de pessoas infectadas em todo o mundo e quase 30 milhões de adultos e crianças tinham morrido da doença. Vivendo com a doença: cerca de 34 milhões de pessoas, das quais 70% estão na África e mais de 20% na Ásia; a taxa de prevalência da infecção em adultos de países da África subsaariana fica acima de 8% No Brasil: de 1980 – 2014 → registrados 757.042 casos de AIDS; concentração dos casos nas Regiões Sudeste e Sul, correspondendo a 54,4% e 20,0% do total de casos identificados. Nos últimos 5 anos, o Brasil tem registrado uma média de 39.700 casos de AIDS. • Em 2014: aproximadamente 734 mil pessoas vivendo com HIV/AIDS, o que corresponde a uma prevalência de 0,4%. • De 1980 – 2014: identificados 278.306 óbitos tendo como causa básica a AIDS, sendo a maioria na Região Sudeste (61,8%). • Coeficiente de mortalidade: de 6,1 óbitos para cada 100 mil habitantes, em 2004, para 5,7 em 2013, com queda de 6,6%. 5 grandes grupos de adultos possuem risco elevado para desenvolver AIDS 1. Homens homossexuais ou bissexuais: + de 50% dos casos relatados (incluindo usuários de drogas intravenosas). A transmissão nessa categoria aparenta estar em declínio 2. Usuários de drogas intravenosas (não homo): cerca de 20% dos indivíduos infectados 3. Hemofílicos: 0,5% dos casos. Em especial queles que receberam grandes quantidades de concentrados de fator VIII ou fator IX antes de 1985 4. Receptores de sangue e componentes do sangue (não hemofílicos): cerca de 1% 5. Contactantes heterossexuais (+ usuários de drogas): 30% dos novos casos foram atribuídos a esse grupo. ➢ Globalmente o modo mais comum de transmissão • HIV nos pediátricos: 2% de todos os casos ocorrem na população pediátrica (< de 13 anos). Nesse grupo a maioria adquiriu a infecção do vírus pela mãe 3 principais vias de infecção • Transmissão sexual: + de 75% dos casos. ➢ O vírus é carregado no sêmen e entra no corpo do receptor através de abrasões na mucosa retal ou oral ou por contato direto com as células de revestimento das mucosas. Há evidências da transmissão da mulher para o homem. ➢ A transmissão ocorre de duas formas: 1. Inoculação direta nos vasos sanguíneos que foram violados pelo trauma 2. Infecção das células dendríticas ou células CD4+ no interior da mucosa. ➢ A transmissão sexual do HIV é elevada por DST coexistentes: em especial as associadas a ulceração genital. ❖ EX: sífilis, cancroide e herpes. Gonorreia e clamídia também são cofatores porque nesse estado inflamatório genital há maior concentração do vírus (aumento do número de células) • Transmissão parenteral: ocorre em três grupos de indivíduos → 1. Usuários de drogas intravenosas (maior grupo); 2. Hemofílicos que receberam concentrados de fator VIII e IX (não ocorre para concentrados liofilizados) e 3. Receptores de transfusão sanguínea. ➢ Usuários: compartilhamento de seringas e agulhas contaminadas • Transmissão vertical: por três vias 1. Intraútero por propagação transplacentária 2. Pelo canal do parto infectado (mais comum) 3. Ingestão do leite materno. ➢ O risco de transmissão mais alto se associa à alta carga viral materna, às baixas contagens de células T CD4+ e à corioamnionite ➢ A terapia antirretroviral a mulher gestante eliminou a transmissão materna ETIOLOGIA O HIV é um retrovírus humano não transformador que pertence à família dos lentivírus • HIV-1: tipo mais comumente associado à AIDS nos EUA, Europa e África Central • HIV-2: causa uma doença semelhante principalmente no oeste da África e na Índia Estrutura do HIV: o vírion do HIV-1 é esférico e contém um centro elétron-denso e em forma de cone cercado por um envoltório lipídico derivado da membrana celular do hospedeiro • O centro do vírus contem 1. A principal proteína do capsídeo p24; 2. A proteína do nucleocapsídeo p7/p9; 3. Duas cópias do RNA genômico do vírus; 4. Três enzimas virais (protease, transcriptase reversa e integrase) • p24: antígeno viral mais abundante e é detectado por um teste imunoabsorvente ligado à enzima que é amplamente utilizado para o diagnóstico da infecção pelo HIV • p17: proteína de matriz situada sob o envelope do virion que cerca o centro do vírus • gp120 e gp41: glicoproteínas virais que estão presentes no envelope viral ➢ Críticas para a infecção viral • O RNA genômico do HIV-1 contém os genes gag, pol e env: típicos dos retrovírus ➢ Genes gag, pol e env: seus produtos são proteínas precursoras que são clivadas pela protease viral → proteínas maduras. ➢ Genes tat, rev, vif, nef, vpr e vpu: regulam a síntese e montagem das partículas virais infecciosas e a patogenicidade do vírus ❖ EX: o produto do gene tat causa um aumento de 1000x na transcrição dos genes virais – essencial para a replicação viral. • A maioria das variações se agrupa em regiões das glicoproteínas do envelope ➢ A resposta imunológica humoral contra o HIV-1 é direcionada contra seu envelope, tornando-se difícil o desenvolvimento de uma vacina com antígeno único devido tal variabilidade. • Geneticamente, o HIV-1 pode ser dividido em 3 subgrupos: 1. M (principal/major): os mais comuns no mundo e são subdivididos em vários subtipos, ou clades, de A a K ❖ B: mais comum na Europa O. e EUA; E: comum na Tailândia; C: que se propaga mais rapidamente, presente na Índia, Etiópia e Sul da África. 2. O (isolado/outlier]) 3. N (not M/not O). PATOGENIA DA INFECÇÃO PELO HIV E DA AIDS Os dois maiores alvos da infecção pelo HIV são: sistema imunológico e SNC • Imunodeficiência profunda: afetando primariamente a imunidade mediada por células, caracteriza a AIDS ➢ Infecção e posterior perda de células T CD4+, e prejuízo na função das T Helper sobreviventes ➢ Os macrófagos e células dendríticas também são alvos • O HIV entra no corpo através das mucosas e do sangue e infecta primeiro as células T, macrófagos e células dendríticas. ➢ A infecção se estabelece nos tecidos linfoides, onde o vírus pode permanecer latente por longos períodos. ➢ A replicação viral ativa → maior infecção das células e progressão para a AIDS Ciclo de Vida do HIV: consiste na infecção das células, integração do provírus ao genoma das células do hospedeiro, ativação da replicação viral e produção e liberação dos vírus infecctivos Infecção das Células pelo HIV: O HIV infecta as células usando a molécula CD4 como receptor e vários receptores de quimiocinas como correceptores • A necessidade de ligação ao CD4 explica o tropismo seletivo do vírus por células T CD4+ e outras células CD4+ (monócitos, macrófagos e DC) • A ligação ao CD4 não é suficiente: logo, a gp120 se liga a correceptores na superfície celular ➢ EX de Receptores: CCR5 CXCR4 (receptores de quimocinas) ❖ Cepas R5 – CCR5 (M-trópicas → tropismo por monócitos e macrófagos); em 90% dos casos essa cepa é dominante na infecção aguda e na evolução inicial ❖ Cepas X4 – CXCR4 (T-trópicas → tropismo por células T); comuns ao longo do curso da infecção, acumulando-se. São intensamente virulentos devido infectar muitas células T e até precursores tímicos. ❖ Algumas Cepas R5X4 – os dois • Glicoproteínas envelopais: gp120 da superfície se liga de modo não covalente a proteína transmembrana gp41 ➢ Processo de infecção: ligação da gp120 às moléculas de CD4, resultando em uma mudança conformacional que leva à formaçãode um novo local de reconhecimento na gp120 para os correceptores CCR5 ou CXCR4 ❖ Gp120 se liga a CD4 → mudança conformacional na gp120, habilitando um novo local onde se ligará ao CCR5 e CXCR4 ➢ Ligação aos correceptores: essa ligação induz mudanças de conformação na gp41, resultando na exposição de uma região hidrofóbica na extremidade (peptídeo de fusão) ❖ Esse peptídeo insere-se na membrana celular e nas células-alvo (macrófagos ou células T), resultando na fusão do vírus com a célula do hospedeiro ❖ A importância da ligação a esses correceptores de quiomiocina: as quimiocinas impedem a infecção, logo, utilizando seus receptores, tem-se uma diminuição dessa proteção. ❖ Polimorfismos no gene que codifica o CCR5 se associam a suscetibilidade diferente à infecção pelo HIV (EX: americanos podem herdar duas copias defeituosas do gene CCR5, estando mais resistentes à infecção pelo HIV) ➢ Após a fusão: o centro do vírus contendo o genoma do HIV entra no citosplama da célula Replicação Viral Uma vez internalizado, o RNA genômico do vírus sofre transcrição reversa, levando à síntese do DNA complementar de dupla fita (cDNA; DNA proviral) • Células T em repouso: cDNA do HIV pode continuar no citoplasma em uma forma epissomal linear • Células T se dividindo: cDNA torna-se circular, entra no núcleo e é então integrado ao genoma do hospedeiro ➢ O provirus pode se manter latente por muito tempo após a integração • O HIV infecta células T de memória e ativadas, mas não é eficiente em infectar produtivamente as células T naive (não ativadas) ➢ T naive: contêm a forma ativa de uma enzima que introduz mutações no genoma do HIV. ❖ APOBEC3G: polipeptídio tipo 3G, enzima catalítica, apolipoproteína B que modifica mRNA. ❖ Promove mutações que impedem a replicação do DNA viral ❖ Ptn viral Vif: liga-se a APOBEC3G e promove sua degradação por proteases. • Finalização do ciclo de vida viral em células infectadas de forma latente ocorre somente depois da ativação celular e essa resulta em lise celular, no caso das T CD4+ • Células T ativas: por antígenos ou citocinas → transcrição de NF-kB → estimulação da transcrição de genes que codificam IL-2 e seu receptor. • Células T em repouso: NF-kB mantem-se inativo no citoplasma em um complexo com a proteína inibidora de kB (NF-kB + IkB) → a ativação celular fosforila essa proteína (NF-kB / IkB) → esse fator vai até o núcleo e liga-se a regiões promotoras de vários genes, incluindo as de citocinas ➢ As sequências que ficam ao lado do genoma do HIV também contêm locais de ligação do NF-κB que podem ser estimulados pelos mesmos fatores de transcrição. ❖ Célula CD4+ com infecção latente pelo HIV: A indução do NF-κB nessa célula (fisiológico) ativa a transcrição de DNA proviral do HIV (patológico) e leva à produção de virions e à lise da célula (último caso) ❖ TNF + citocinas produzidas por macrófagos ativados também estimulam a atividade de NF-κB → produção do RNA do HIV MECANISMO DA DEPLEÇÃO DE CÉLULAS T NA INFECÇÃO PELO HIV A perda de células T CD4+ ocorre principalmente devido à infecção das células e aos efeitos citopáticos diretos do vírus em replicação • Indivíduos infectados: 100 bilhões de novas partículas virais são produzidas/dia; 1 ou 2 bilhões de células T CD4+ morrem/dia • Inicialmente o sistema imunológico pode substituir as células T que morrem: baixa taxa de perda de linfócitos T. O mesmo não ocorre com a evolução da doença • Mecanismos pelos quais os vírus matam as células: ➢ Aumento de permeabilidade da membrana citoplasmática associado ao brotamento de partículas virais a partir das células infectadas e a replicação do vírus interferindo na síntese de proteínas ➢ Ativação crônica de células não infectadas: em resposta ao HIV por si só ou a outras infecções que são comuns em indivíduos com AIDS, resulta na apoptose dessas células através do processo de morte celular induzida pela ativação ❖ Morre mais células T CD4+ do que células infectadas ➢ A infecção não citopática pelo HIV ativa a via do inflamassomo → morte celular do tipo piroptose ➢ O HIV infecta células nos órgãos linfoides, podendo causar destruição progressiva da arquitetura e composição celular desses tecidos ➢ Perda de precursores imaturos das células T CD4+: por infecção direta ou por infecção de células acessórias que secretam citocinas essenciais para a maturação das células T CD4+. ➢ Fusão entre células infectadas e não infectadas → formação de sincícios (células gigantes): gp120 expressa em células infectadas liga-se a moléculas de CD4 em células T não infectadas → fusão celular → células fusionadas morrem ➢ Redução da proliferação de células T induzida por antígenos → diminuição das respostas tipo TH1, defeitos de sinalização intracelular • O provírus integrado, sem a expressão dos genes virais (infecção latente), pode permanecer nas células por meses a anos ➢ O vírus se esconde nas células T CD4+ nos linfonodos ➢ A maioria dessas células é constituída por células de memória, logo, possuem vida longa → reservatório persistente do vírus. Principais Anormalidades da Função Imunológica na AIDS Linfopenia Redução da produção de IL-2 e IFN-γ Predominantemente causada pela perda seletiva do subgrupo de células T auxiliares CD4+ Ativação Policlonal das Células B Queda na Função das Células T In Vivo Hipergmaglobulinemia e imunocomplexos circulantes Perda preferencial de células T ativadas e de memória Incapacidade de criar uma nova resposta de anticorpos para novos antígenos Redução da hipersensibilidade do tipo tardia Respostas de má qualidade para sinais normais de ativação de células B in vitro Suscetibilidade a infecções oportunistas Alteração nas Funções de Monócitos ou Macrófagos Suscetibilidade a neoplasias Redução da quimiotaxia e fagocitose Alteração na Função das Células T In Vitro Redução da expressão do HLA classe II Redução da resposta proliferativa a mitógenos, aloantígenos e antígenos solúveis Diminuição da capacidade de apresentar antígenos às células T Redução da citotoxidade Redução da função auxiliar para a produção de anticorpos pelas células B INFECÇÃO DAS CÉLULAS NÃO T PELO HIV Em certos tecidos, como os pulmões e o cérebro, 10% a 50% dos macrófagos estão infectados • A divisão celular é necessária para a entrada do vírus no núcleo e replicação (característica de retrovírus): o HIV-1 pode infectar e multiplicar-se em macrófagos que estão no final da diferenciação e não se dividem, graças a seu gene viral vpr ➢ Vpr: permite que o complexo pré-integração do HIV tenha o núcleo como alvo através do poro nuclear. • Macrófagos infectados fazem brotar quantidades pequenas de vírus da superfície celular, mas essas células contêm grande número de partículas virais localizadas em vacúolos intracelulares ➢ Os macrófagos são mais resistentes aos efeitos citopáticos do vírus, diferente das células T CD4+ ➢ Podem ser reservatórios cuja produção mantem-se protegida da defesa imune • Macrófagos agem como portais de infecção: 90% dos casos, a infecção aguda caracteriza-se por cepas M-trópicas circulantes • Monócitos não infectados também apresentam defeitos funcionais inexplicáveis: comprometimento da atividade microbicida, diminuição da quimiotaxia e da secreção de IL-1, secreção imprópria do TNF e pouca capacidade de apresentar antígenos às células T • Células dendríticas da mucosa e foliculares: as células dendríticas da mucosa sejam infectadas pelo vírus, podendo transportá-lo para os linfonodos regionais, onde o vírus é transmitido para as células T CD4+. ➢ Essas DC possuem um receptor tipo lectina → liga ao HIV e o exibe em forma intacta e infectiva às células T. ➢ As células dendríticas foliculares nos centros germinativos dos linfonodos são potenciais reservatórios para o HIV A Função das Células Bna Infecção pelo HIV: há ativação policlonal das células B, resultando em hiperplasia das células B dos centros germinativos (fase aguda), plasmocitose na medula óssea, hipergamaglobulinemia e formação de imunocomplexos circulantes • Essa ativação pode resultar de(a): 1. Reativação ou reinfecção com o citomegalovírus e o EBV (ativadores policlonais das células B); 2. gp41 pode promover crescimento e diferenciação das células B; 3. macrófagos infectados pelo HIV produzem quantidades aumentadas de IL-6 → proliferação de células B • Não conseguem produzir anticorpos contra os antígenos novos encontrados, tanto de forma independente quanto de forma dependente das células T (comprometidas) • O comprometimento da imunidade humoral torna esses propensos a infecções disseminadas, causadas por bactérias encapsuladas: S. pneumoniae e o H. influenzae PATOGENIA DO ENVOLVIMENTO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Os macrófagos e a micróglia são os tipos celulares mais comumente infectados pelo HIV • O HIV é carregado para o cérebro por monócitos infectados • Os vírus do HIV isolados do cérebro são quase exclusivamente M-trópicos • Neurônios não são infectados: acredita-se que o déficit neurológico seja causado indiretamente por produtos virais e fatores solúveis produzidos pela micróglia infectada ➢ EX de Fatores: IL-1, o TNF e a IL-6. Óxido nítrico, induzido nos neurônios pela gp41. Lesão direta dos neurônios pela gp120 solúvel. HISTÓRIA NATURAL DA INFECÇÃO PELO HIV O vírus tipicamente entra pelos epitélios das mucosas. As manifestações clínicas e patológicas podem ser divididas em várias fases. 1. Síndrome retroviral aguda; 2. Fase Média Crônica (maioria assintomático) e 3. AIDS Clínica. Infecção Primária, Disseminação do Vírus e a Síndrome Retroviral Aguda Infecção aguda: infecção das células T de memória CD4+ (expressam CCR5) nos tecidos linfoides das mucosas e morte de muitas células infectadas • Mucosa: maior reservatório de células T do corpo e o principal local de residência das células T de memória → tal perda diminui muito os linfócitos Inicialmente: infecção primária → disseminação do vírus → desenvolvimento de uma resposta imunológica ao HIV → síndrome viral aguda. Período de latência clínica: replicação viral continua → ▼ de células T CD4+ até um nível crítico → risco substancial de doenças relacionadas à AIDS. 2-3 Semanas: resposta de linfócitos T citotóxicos, com pico da 9 à 12ª semana → expansão marcada de clones de células T CD8+ específicas contra o vírus. Até 10% dos CTLs podem ser específicos contra o HIV na 12ª semana. A resposta humoral contra o HIV tem seu pico em 12 semanas • A infecção das mucosas é comumente associada: a lesão epitelial, defeitos nas funções de barreira da mucosa e a translocação de microrganismos através do epitélio. • Infecção das mucosas → disseminação viral e desenvolvimento de respostas imunológicas do hospedeiro → captura do vírus pelas DC nos epitélios e migração para os linfonodos → as DC passam o vírus para as células T pelo contato célula- célula → dias depois a replicação viral é detectada nos linfonodos → viremia, estando uma grande quantidade de vírus no sangue do paciente → disseminação pelo corpo e infecção das T Helper, macrófagos e DC dos tecidos linfoides periféricos. • Infecção disseminada promove resposta imunológica antiviral humoral e celular evidenciadas pela soroconversão entre 3 e 7 semanas da exposição presumida e através do desenvolvimento de células T citotóxicas CD8+ específicas para o vírus. • As células T CD8+ específicas são detectadas no sangue no momento em que os títulos virais começam a cair e são responsáveis pela contenção inicial da infecção ➢ Essas respostas controlam parcialmente, refletindo numa queda da viremia • Síndrome Retroviral Aguda: apresentação clínica da disseminação inicial do vírus e da resposta do hospedeiro ➢ 40% a 90% dos indivíduos que adquirem uma infecção primária desenvolvem. ➢ Ocorre 3 a 6 semanas depois da infecção e resolve-se em 2 a 4 semanas ➢ Fase autolimitada com sintomas inespecíficos: faringite, mialgias, febre, perda de peso e fadiga (semelhante a uma síndrome gripal) • A extensão da viremia, medida pelos níveis de RNA do HIV-1 no sangue, é um marcador útil da progressão da doença pelo HIV e possui valor clínico no tratamento de pessoas com infecção pelo HIV. ➢ A carga viral ao final da fase aguda reflete a resposta do hospedeiro ➢ Para a conduta clínica, as contagens de células T CD4+, e não a carga viral, talvez sejam o indicador de curto prazo mais confiável de progressão da doença e determinar um tratamento adequado. Categorias Clínicas Categorias das Células T CD4+ 1 2 3 ≥ 500 Células/µl 200-499 Células/µl < 200 Células/µl A. Assintomático, HIV agudo ou linfadenopatia generalizada persistente A1 A2 A3 B. Sintomático, condições não A ou C B1 B2 B3 C. Condições indicadoras da AIDS: incluindo doença constitucional, neurologia ou displasia Infecção Crônica: Fase de Latência Clínica • Os linfonodos e o baço são locais de replicação do HIV e destruição celular contínuas • Presentes poucas ou nenhuma manifestação clínica da infecção pelo HIV • + de 90% das aproximadamente 1012 células T do corpo são normalmente encontradas nos tecidos linfoides e estima-se que o HIV destrua até 1 × 109 a 2 × 109 células T CD4+ todos os dias. • Até 10% das células T CD4+ nos órgãos linfoides estão infectadas, mas a frequência de células T CD4+ circulantes infectadas podem chegar a ser inferior a 0,1% do total • Ao longo dos anos: o ciclo contínuo de infecção viral, a morte das células T e a nova infecção levam a um declínio constante do número de células T CD4+ nos tecidos linfoides e na circulação. • As defesas do hospedeiro começam a diminuir e aumenta a proporção de células CD4+ sobreviventes infectadas pelo HIV, assim como a carga viral por célula CD4+ • Podem desenvolver infecções oportunistas menores: candidíase oral (sapinho), a candidíase vaginal, o herpes-zóster e a tuberculose. Também pode ser observada trombocitopenia autoimune AIDS A fase final é a progressão para a AIDS: caracterizada por colapso das defesas do hospedeiro, aumento dramático do vírus no plasma e doença clínica grave • O paciente apresenta: febre de longa duração (mais de 1 mês), fadiga, perda de peso e diarreia • Infecções oportunistas graves, neoplasias secundárias ou doenças neurológicas clínicas emergem → paciente desenvolveu AIDS. • Na ausência de tratamento: a maioria dos pacientes com infecção pelo HIV evolui para AIDS depois de uma fase crônica que dura 7 a 10 anos ➢ Exceções a essa evolução típica são exemplificadas pelos progressores rápidos e os não progressores em longo prazo. ❖ Progressores rápidos: a fase crônica é encurtada para 2 a 3 anos depois da infecção primária. ❖ Não progressores em longo prazo (entre 5 e 15%): indivíduos não tratados e infectados pelo HIV-1 que continuam assintomáticos por 10 anos ou mais, com contagens estáveis de células T CD4+ e baixos níveis de viremia plasmática (menos de 500 cópias de RNA viral/ml) ❖ Controladores de elite: cerca de 1% dos indivíduos infectados tem vírus indetectável no plasma (<50-75 cópias de RNA/mL) ASPECTOS CLÍNICOS DA AIDS Infecções por Protozoários e Helmintos Infecções Bacterianas Criptosporidiose ou isosporidiose (enterite/diarreia persistente) Pneumocistose (pneumonia ou infecção disseminada) Micobacterioses (“atípica”; EX: Mycobacterium avium- intracellulare, disseminada ou extrapulmonar); Mycobacterium tuberculosis, pulmonar ou extrapulmonar Nocardiose (pneumonia, meningite, disseminada) Toxoplasmose (pneumonia ou infecção do SNC) Infecções por Salmonella, disseminada Infecções Fúngicas Infecções Virais Candidíase (noesôfago, traqueia ou pulmão) Citomegalovírus (infecções pulmonares, intestinal, retinite ou do SNC) Criptococose (infecção do SNC) Vírus Herpes Simples (infecção localizada ou disseminada) Coccidioidomicose (disseminada) Vírus Varicela-zóster (infecção localizada ou disseminada) Histoplasmose (disseminada) Leucoencefalopatia multifocal progressiva Neoplasias Sarcoma de Kaposi Linfoma primário do cérebro Câncer invasivo do colo do útero Infecções Oportunísticas: responsáveis pela maioria dos óbitos nos pacientes com AIDS não tratados. Muitas representam reativação de infecções latentes, mantidas sob controle. Essas infecções tem reduzido sua incidência com o advento das terapias antirretrovirais altamente efetivas (HAART, do inglês, highly active antiretroviral therapy - combinação de três ou quatro medicamentos que bloqueiam diferentes passos do ciclo de vida do HIV) • Pneumonia: 15% a 30% das pessoas infectadas pelo HIV não tratadas desenvolvem pneumonia, em algum momento durante a evolução da doença, causada pelo fungo Pneumocystis jiroveci (reativação de uma infecção latente prévia) • Candidíase: infecção fúngica mais comum nos pacientes com AIDS, e a infecção da cavidade oral, da vagina e do esôfago é a sua manifestação clínica mais comum ➢ a candidíase oral é um sinal de descompensação imunológica e costuma anunciar a transição para a AIDS • Citomegalovírus: mais comumente, afeta o olho e o trato gastrointestinal. • Infecção por micobactéria atípica (Mycobacterium avium intracellulare) ➢ Os pacientes com AIDS têm reativação da doença pulmonar latente, bem como eclosão de infecção primária. ➢ Manifesta-se cedo na evolução da AIDS. • Criptococose: 10% dos pacientes com AIDS; meningite é a principal manifestação clínica da criptococose. O Toxoplasma gondii, outro invasor frequente do sistema nervoso central na AIDS, causa encefalite e é responsável por 50% de todos os processos expansivos no sistema nervoso central. • Vírus JC: papovavírus humano; causa importante de infecções no sistema nervoso central. Causa leucoencefalopatia multifocal progressiva. Tumores • 1. Sarcoma de Kaposi (SK); 2. Linfoma de células B 3. Câncer do colo do útero (mulheres) e Câncer anal (homens) • Entre 25% e 40% dos indivíduos não tratados irão desenvolver uma neoplasia maligna • Causadas por vírus de DNA oncogênicos: o herpesvírus do sarcoma de Kaposi (sarcoma de Kaposi), EBV (linfoma de células B) e papilomavírus humano (carcinomas cervicais e anal). • Sarcoma de Kaposi: ➢ tumor vascular; ➢ mais comum em homossexuais e homens bissexuais; ➢ lesões podem se desenvolver de forma precoce, antes do sistema imune ser debilitado (as que afetam pacientes com AIDS são multicêntricas e tendem a ser mais agressivas; podem afetar pele, mucosas, TGI, linfonodos e pulmões); ➢ lesões contêm células fusiformes que têm características em comum com as células endoteliais e musculares lisas; ➢ causado por um herpesvírus denominado sarcoma de Kaposi vírus (KSHV) ou herpesvírus humano 8 (HHV-8); • Linfomas não Hodgkin das células B ➢ altamente agressivos, afetam com mais frequência pacientes com imunossupressão grave e envolvem muitos locais extranodais; ➢ cérebro é o local mais afetado (o linfoma primário do cérebro é considerado uma condição que define a presença de AIDS); ➢ todos esses linfomas cerebrais são EBV-relacionados; Efeitos da Terapia Devido à redução da mortalidade, mais pessoas estão vivendo com o HIV, e uma vez que elas não estão livres do vírus, há o temor de que o risco de propagação da infecção possa aumentar caso diminua a vigilância. Há evidências de que até os pacientes tratados que permanecem assintomáticos, com o vírus indetectável no plasma por anos, desenvolvem infecção ativa se interromperem o tratamento.
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