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1 Parvovirose canina Profa: Dra Aline Santana da Hora Resumo por: Denise Ramos Pacheco Medicina Veterinária - UFU Definição Doença entérica hemorrágica grave altamente contagiosa, de elevada incidência mundial e frequentemente fatal. Etiologia Qualquer parvovírus pode infectar os gatos e causar panleucopenia felina ● 3 cepas que apresentam diferenças quanto à virulência ● CPV-2a ● CPV-2b ● CPV-2c - atualmente a cepa mais prevalente no sul do país ▪ Outras regiões? ▪ Mundo: frequentemente observada ▪ Capaz de infectar gatos ● Vacinais atuais: cepas 2a e 2b. • Conferem proteção frente 2c? Ainda não se sabe se realmente a vacina feita com as cepas 2a e 2b protegem os cães contra a 2c, a tendência é que pode ter proteção cruzada, mas ainda é algo que está em estudo. o A cepa 2c difere em um importante epítopo do CPV que é responsável por induzir Ac e na ligação com receptores cl- o Depende muito do animal ter sido vacinado adequadamente (protocolos vacinais) → provavelmente é esse o motivo das infecções pela cepa 2c estarem crescendo. Etiologia ● Família Parvoviridae ● Sub-família: Parvovirinae ● Gênero Protoparvovirus ● Espécie Carnivore protoparvovirus 1 ● DNA fita simples ● Não envelopado ● Aprox 5kpb ● Depende de cls no ciclo S para a replicação => depende da maquinaria celular para a síntese de DNA e replicação do genoma viral pelo número restrito de genes ● Tropismo do parvovírus: órgãos que apresentam células em multiplicação: medula óssea, células precursoras do epitélio intestinal (criptas intestinais), tecido linfoide ● Nome oficial: Protoparvovirus dos carnívoros tipo 1 ● O nome usual é Parvovírus canino ● Tem 5.000 bases (nucleotídeos) em seu genoma → no coronavírus felino, tem 29.000 bases em seu genoma, então o parvovírus canino é bem menor. Por ele ser pequeno, depende das células do hospedeiro estarem na fase S 2 da replicação. Fonte: Aline da Hora. Epidemiologia - Suscetíveis ● Cães entre 6 semanas e 6 meses de idade o Cães de qualquer idade podem ser acometidos ● Raças Doberman, Rottweiler, Labrador, Pastor Alemão, Pitbull: apresentam a forma mais grave da doença ● Ferrets, gatos ● Coiotes, lobos, raccons ● Janela de susceptibilidade: Ac maternos são insuficientes para proteger das doenças, mas bloqueiam a resposta imune decorrente das vacinas ● Há aumento da frequência de animais adultos com a doença (cepa 2c vs vacinação?) ● Não vacinados Fonte: Aline da Hora. Ambiente: ● Pode permanecer por mais de 6 meses no ambiente ou nos pelos dos animais ● Veículos de propagação: pessoas, equipamentos veterinários, insetos e roedores Patogenia ● Fezes contaminadas, fômites e ambientes contaminados → exposição oronasal → replicação orofaringe tecidos linfóides → corrente sanguínea → células de rápida divisão celular → medula óssea, células precursoras do epitélio intestinal (criptas intestinais - jejuno e íleo), tecido linfóide 3 ● PI: 2-14 dias ● Excreção viral inicia 3-4 dias pós-infecção → pode ser antes do aparecimento dos sinais clínicos ● Duração da disseminação viral → várias semanas pós-infecção Fonte: Aline da Hora. ● Viremia intensa 1 – 5 dias, depois os Ac neutralizantes estão presentes no soro ● Excreção viral nas fezes 3-4 dias PI e intensifica com o surgimento da doença, e é excretado até 54d PI (pós-infecção) ● Imunidade parcial: animais podem ter infecção subclínica ou formas clínicas brandas Patogenia ● Intestino delgado → mais acometido ● Perda da integridade do epitélio → penetração de bactérias e toxinas (translocação bacteriana) que é facilitada pela leucopenia ● Replicação do vírus na medula óssea e células linfóides => neutropenia e linfopenia => infecções secundárias (vírus, bactérias, protozoários) => agravamento sinais clínicos => sepse 4 Fonte: Aline da Hora. • Amarelo: células da cripta intestinal (secretórias, produção de secreção para o lúmen intestinal). Com o tempo se diferenciam e migram para o ápice da microvilosidade. Essas células do ápice vão sendo sempre renovadas (células de absorção). • Na vilosidade com parvovírus, o vírus preferem células da cripta em replicação, principalmente em INTESTINO DELGADO. Ao lesionar células da cripta, reduz secreção normal para o lúmen intestinal, e toda a vilosidade entra em colapso pois não tem células saudáveis para repor as células do ápice da vilosidade → diminui permeabilidade e absorção de nutrientes → leva à DIARREIA. • Também ocorre: • Necrose das vilosidades → destruição dos capilares → hemorragia → anemia • Perda de proteínas para a luz intestinal → hipoproteinemia (também perde albumina!) • Participação do microbioma intestinal → microrganismos do lúmen intestinal (bactérias, vírus, fungos, protozoários) → agrava os sinais clínicos • Perda da integridade do epitélio → penetração de bactérias e toxinas (translocação bacteriana), que é facilitada pela leucopenia. Fonte: Aline da Hora. Sinais Clínicos ● Filhotes com Ac maternos => infecção inaparente ou sinais clínicos leves ● Potencialização dos sinais clínicos: afecções associadas (helmintos, protozoários, bactérias, vírus) ● Enterite grave com progressão rápida → iniciar o tratamento o mais rápido possível! ● Letargia, inapetência ● Hipertermia (40-41°C) ● Anorexia ● Vômitos ● Diarreia variável: pastosa a mucoide a líquida e hemorrágica o Infecção por variante 2c: às vezes não tem sangue, diarreia branda coloração amarelada, alaranjada ou amarronzada, levando a diagnóstico clínico equivocado de diarreia por protozoários. ● Desidratação ● Choque => sepse e/ou CID => Morte (pode ocorrer 2 dias após sinais 5 clínicos) ● Animais podem apresentar hipoglicemia e até mesmo convulsionar. Sinais neurológicos ● Causas: o Pelo próprio vírus no SNC => hipoplasia cerebelar => mais comum em gatos com FPLV (vírus da panleucopenia felina) o CID => trombos o Hipoglicemia o Sepse o Alterações em eletrólitos, ácido, base o Infecção concomitante com CDV (vírus da cinomose) ● Tropismo por alguns outros órgãos como fígado, rins, e no caso dos neonatos pode ser encontrado no SNC, coração (pois as células estão se multiplicando nessa fase). ● Não é comum, mas pode ocorrer. Complicações ● Intussuscepção (comum) → por conta do aumento do peristaltismo intestinal (EMERGÊNCIA CIRÚRGICA, diagnóstico por US) ● Bacteriúria: contaminação fecal uretra + neutropenia => infecção urinária crônica se não tratada o Sempre solicitar exame de urina e cultura urinária, para o acompanhamento do paciente!!! ● Infecção do cateter por bactérias fecais, principalmente Gram- ● Indicado: cateter jugular (distante de membros em contato com a diarreia) ● Pneumonia aspirativa ● Hipoglicemia ● Hipoalbuminemia → edema Alterações macroscópicas ● Enterite necrosante segmentar ● Mucosa intestinal congesta, hemorrágica e frequentemente recoberta por pseudomembrana ● Placas de Peyer atrofiadas ● Medula óssea liquefeita e hiperêmica Micro: ● Necrose epitelial, colapso das vilosidades, aumento do infiltrado inflamatório na lâmina própria ● Aplasia medular Diagnóstico • Histórico (filhote ou jovem, paciente não vacinado, não terminou esquema vacinal, vacina de origem duvidosa, acesso à rua, contato com outros animais, etc) + sinais clínicos. ● Sinais clínicos 6 ● Leucopenia (neutropenia e linfopenia) => quanto mais intenso, pior o prognóstico o Cães com prognóstico bastante desfavorável, com possível evolução para morte (persistente por mais de 3 dias): ▪ Leucócitos ≤ 1.030 cls/uL ▪ Linfopenia ▪ Monocitopenia ▪ Eosinopenia ● Albumina < 2g/dL → hipoalbuminemia (também indica prognóstico ruim) ● ELISA/imunocromatográfico (teste rápido): Ag virais nas fezes o Capaz de detectar o vírus nos dias iniciais de sinais clínicos▪ No máximo 10-12 dias PI (pós-infecção) o Baixa sensibilidade (se for negativo não pode descartar) e alta especificidade o Não há interferência no resultado de acordo com a cepa o FP (falso positivo): após vacinação (4-8 dias) com VVM (vírus vivo modificado) o Resultado negativo => NÃO pode descartar a infecção ▪ Ac sequestram Ag no lúmen intestinal => impedindo detecção pelo teste (amostra de fezes) ▪ Eliminação intermitente PCR o Pode detectar até 54 dias PI => amplificação => elevada sensibilidade o Teste confirmatório em casos FN (falso negativo) no ELISA/imunocromatográfico o Após 2 semanas pós vacinação => pode obter resultado FP (falso positivo) o Viremia duradoura (pode fazer PCR de amostra de sangue). ● qPCR: em tempo real o Capaz de diferenciar vírus vacinal de infecção natural o Infecção natural: títulos virais mais altos o Marcadores genéticos que diferenciam cepas vacinais de cepas de campo 7 Fonte: Aline da Hora. PCR: tempo maior de detecção pós-infecção ME: microscopia eletrônica IV: isolamento viral HA: hemaglutinação Tratamento ● Suporte: reposição de fluidos e eletrólitos • Soro hiperimune → ainda em estudo; é importante administrar precocemente; imunização passiva. ● Corrigir hipoglicemia e hipocalemia (K) ● Controle de vômito: ondasentrona, maropitant ● Protetores gástricos: subsalicilato de bismuto, ranitidina, omeprazol ● Não parar a alimentação => se necessário usar sonda nasogástrica • 12h de jejum?! NÃO É INDICADO (as células - enterócitos precisam ser nutridos constantemente). • Alimentação microenteral, quando necessário (paciente sem comer) ● Transfusão de sangue ou plasma (anemia/hipoproteinemia/hipoalbuminemia) ● Analgesia e antipirético: dipirona, butorfanol, buprenorfina ou fentanil ● Probióticos também é importante utilizar, porém não tem nenhum trabalho ainda dizendo que ajuda, mas vale a pena tentar utilizar (inclusive Yakult) ● ATB amplo espectro => combater infecção secundária o Penicilina + aminoglicosídeo (nefrotóxico=> paciente tem que estar bem hidratado) OU o Penicilina ou Cefalosporina de 3ª geração ● Filhotes que sobrevivem os primeiros 3-4 dias => bom prognóstico (recuperação em aprox. 1 semana) ● Antiparasitário: devido a verminoses oportunistas. 8 Fonte: Aline da Hora. *Ideal: fazer coproparasitológico Prognóstico: • Depende da gravidade dos sinais clínicos no momento em que a terapia é iniciada; • Hipovolemia, baixa perfusão, febre, linfopenia < 1000/uL e hipoalbuminemia → mortalidade aumentada; • Coinfecções (CCoV e/ou parasitismo gastrointestinal e/ou CDV) → aumentam morbidade e mortalidade; • Filhotes que sobrevivem aos primeiros 3-4 dias → bom prognóstico (recuperação em aproximadamente 1 semana); • Restrições financeiras → o animal TEM QUE FICAR INTERNADO! • Sem tratamento > 90% de mortalidade. • Até é possível fazer medicações e hidratação subcutânea, além de aporte nutricional em casa, é possível fazer com que o animal sobreviva, desde que seja tudo muito bem explicado ao tutor. Vacinação Vacina contra CPV é vacina essencial! ● Primovacinação de filhotes: o 1ª dose: 6-8 sem + doses reforços (cada 4 sem até 16 sem de idade) o 4ª dose com 6 meses (preferível) OU o Reforço com 1 ano de idade o Reforço com 26 ou 52 semanas, após isso, reforço trienal. o Isolamento dos filhotes até completar a imunização ● Primovacinação de adultos: o 2 doses com intervalos de 4 sem (vírus inativado) OU o 1 dose com VVM (vírus vivo modificado) o Em abrigos independente de ser VVM, melhor 2 doses ● Revacinação: o Sorologia o Trienal 9 Controle ● CPV é um dos vírus de cães mais resistentes => até 1 ano. ● NÃO colocar um animal NÃO vacinado em um ambiente contaminado ● Isolamento ● Período de disseminação viral: o 4-5 dias do início da doença o PCR: 54 dias (infeccioso?) ● Hipoclorito de sódio (1 parte + 29 partes de água) o Tempo de contato 10 minutos no mínimo o Corrosivo ● Resiste a 70°C por 30 minutos ● Limpeza a vapor ou vassoura de fogo em superfícies metálicas ● Luz UV: 20-30 minutos para eliminar o vírus.