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Anemia Infecciosa Equina ANA LUISA ARRABAL DE ALMEIDA – DOENÇAS VIRAIS -Doença de notificação imediata de qualquer caso suspeito e abate sanitário por vezes é necessário. -Doença sem sinal clínico aparente e sem cura, indivíduo se torna portador para toda a vida. -Doença descrita na França no século XX e no Brasil somente na década de 60. No Brasil, doença foi descrita no Jockey Club do RJ. -Importância: ocasiona perdas econômicas significativas pela diminuição da capacidade de trabalho dos animais. Animais que não são positivos trabalham 40% a mais que animais positivos. Esses animais também são proibidos de participarem de eventos. Embargo na importação e exportação e eutanásia ou morte de equídeos acometidos. -Perdas são tão significativas que foi necessário uma forma de identificar os animais positivos, já que os sinais clínicos são discretos. Instrução normativa determina o isolamento e marcação desses animais. -Equideocultura tem grande movimentação financeira no país. -Etiologia: é um retrovírus com capacidade de realizar transcrição reversa. Gênero lentivírus (“lentidão”). -Lentivírus: complexo enzimático transcriptase reversa/ integrase. Ao longo da evolução, esse vírus adquiriu capacidade de inserir o seu material genético no DNA do hospedeiro. Análises moleculares encontram traços de DNA virais no material genético do hospedeiro, tornando-o infectado para toda a vida. -Classificação de Baltimore: vírus de RNA cadeia simples com DNA intermediário. Possui duas fitas simples de RNA (não é fita dupla). A razão pela qual existe uma segunda fita de RNA é desconhecida. 1. Síntese da cópia de DNA (provírus) a partir do genoma e transporte do DNA proviral até o núcleo para integração ao DNA da célula hospedeira. 2. Síntese e processamento de mRNA e síntese de proteínas virais. -Esse vírus também tem alta capacidade de sofrer mutação, dificultando inclusiva a criação de vacinas. 1. Adsorção e penetração: as glicoproteínas da superfície (gp90) e transmembrana (gp45) se ligam ao receptor ainda desconhecido em células do hospedeiro. O envelope viral se funde à membrana plasmática, liberando o capsídeo do hospedeiro. 2. Transcrição reversa: inicia-se a síntese do DNA proviral pelo sítio de ligação do primer pela transcriptase reversa que irá formar uma fita dupla de DNA (provírus). O provírus é então transportado para o núcleo da célula onde é inserido no cromossomo pela integrase. Obs.: provírus é uma forma do material genético viral que é incorporada ao genoma do hospedeiro durante o ciclo de replicação viral. 3. Transcrição: o provírus DNA já integrado é transcrito pela RNA polimerase II celular em RNAm de toda sua extensão. 4. Tradução: uma parte é exportada para o citoplasma onde é traduzida em poli proteínas dos genes Gag e Pol, precursoras de outras proteínas virais. Outa parte é exportada como RNA genômico para a progênie viral. 5. Encapsidamento: em fase tardia, alguns transcritos servirão como RNAm para a tradução de poli proteína (env) que é levada para a membrana plasmática e clivada em glicoproteínas de envelope. Os mRNAs do genoma inteiro são encapsidados em nucleocapsídeo pelas proteínas NC e CA. 6. Brotamento: na membrana plasmática as poli proteínas interagem como o RNA genômico formando o nucleocapsídeo. As novas partículas virais imaturas brotam pela membrana plasmática e maturam no meio extracelular. -Os vírions são termorresistentes (não inativado em 100oC por 15 minutos). A resistência no ambiente varia com grau de proteção (matéria orgânica). São sensíveis a detergentes e solventes lipícidos como éter, clorofórmio, álcool, formaldeídos, fenol e hipoclorito de sódio. -Há menor ocorrência de casos clínicos em asininos quando comparados aos equinos. -Transmissão: material com células sanguíneas infectadas, iatrogênica (agulhas, instrumentos cirúrgicos, sêmen positivo, tralha da tropa), tabanídeos. Em relação a tabanídeos, não há replicação no animal, não sendo classificado como arbovírus. Pelo diâmetro da probóscide, ela consegue transportar mais células até o próximo animal, semelhantemente a uma agulha. Existem relatos de transmissão intrauterina e mamária. -Período de incubação: 2 a 70 dias. Multiplicação viral em tecidos com macrófagos em abundância como fígado, baço, medula óssea, linfonodos, rins e pulmões. Viremia que acompanha sinais clínicos como a febre. Sinais clínicos se resolvem e a viremia se mantém em baixos níveis por toda a vida do animal. -Patogenia e sinais clínicos (atribuídos a resposta imune exacerbada): podem apresentar recidivas, quando a viremia volta a aumentar. Picos de carga viral através de replicação. -Desvio antigênico: características antigênicas de gp45 e gp90 distintas da que originou a infecção, o que se atribui o escape da resposta imune e consequente recidiva. Os anticorpos gp45 e gp90 não neutralizam o EIAV levando a formação do complexo vírus- anticorpo associado a proteína C3 do sistema complemento. Lesões e sinais clínicos são atribuídos à resposta imune exacerbada. -Quadro clínico: 1. Fase aguda: sinais pouco específicos, como febre, hemorragias, letargia, trombocitopenia, viremia, neuropatologia. a. Febre até 41 oC, debilidade geral, anorexia, petéquias em mucosas, soronegativos por até 60 dias. b. 95% evolui para fase crônica e <5% para caso grave e fatal. 2. Fase crônica: febre, anorexia, edema, letargia, anemia, trombocitopenia, leucopenia, presença de anticorpos, viremia, neuropatologia. a. Meses até ano. Ciclos recorrentes de 3 a 5 dias, febre, anorexia, letargia, intolerância ao exercício, emagrecimento, anemia, trombocitopenia e leucopenia, hemorragia, diarreia, depressão, linfadenopatia, icterícia, edema, ataxia, abortos. 3. Fase de infecção inaparente (maioria das infecções): presença de anticorpos – forma de detecção de exposição. Animais infectados muitas vezes não são percebidos. Há baixa viremia, recrudescimento de sinais e morte súbita por esforço. -Lesões anatomopatológicas – achados post-mortem incluem: • Linfadenopatia; • Hepatoespenomegalia; • Hepatite não supurativa; • Edema subcutâneo; • Hiperplasia de medula óssea; • Meningite não supurativa; • Líquido sero-sanguinolento em cavidades. -Epizootiologia: distribuição mundial. Em asininos ferais no nordeste tem prevalência mais baixa. -Diagnóstico: -Presuntivo (clínico): intolerância ao exercício, edema, emagrecimento. -Presuntivo (epizootiológico): chegada de novos animais na propriedade, manejo que favoreça a transmissão. -Presuntivo (hematológico): anemia, leucopenia, trombocitopenia. -Para diagnóstico laboratorial, amostra de sangue, soro ou plasma são coletadas. São utilizadas para pesquisa de anticorpos preferencialmente em teste de imunodifusão em gel de ágar (IDGA) com proteína do capsídeo p26. O IDGA é internacionalmente reconhecido como teste sorológico “gold standard” para o diagnóstico de AIE. -ELISA também é utilizado para detecção de anticorpos. -Para detecção de RNA viral ou do provírus, é utilizado PCR ou RT- PCR. -Prevenção e controle: 1. Não existem vacinas disponíveis comercialmente. 2. Teste sorológico periódico para identificação de animais positivos e testar animais que irão chegar ou quarentena (baias teladas e com dois testes de IDGA consecutivos intercalados com 30 dias até que se confirme ser soronegativo). 3. Notificação imediata dos animais positivos ao Serviço de Defesa animal seguida de interdição do trânsito de equídeos da propriedade. 4. Marcação dos animais positivos seguida de abate sanitário ou destruição sanitária em até 30 dias. 5. Controle para evitar contato entre soropositivos e soronegativos. 6. Em rebanhos com animais soropositivos usar agulhase luvas individualmente. 7. Separação de animais soropositivos sem abate ou destruição (exclusivo em área de alto risco, como o Pantanal). 8. Lavagem, desinfecção e fervura de material e equipamentos. 9. Distância mínima de ~200 metros entre animais positivos e negativos no Pantanal (autonomia de voo de tabanídeos). 10. Inseminação artificial para reduzir risco de infecção na monta. 11. Potros de mães positivas devem ser testados e considerados negativos até 8 meses de idade pelos anticorpos maternos. -Uma distância de 200 metros entre um animal infectado e não infectado é suficiente para que a mutuca não aja como transmissor.
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