Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
Isadora Nunes – Med 101 1 Introdução O que é um fármaco? Uma substancia química de estrutura conhecida, que não seja um nutriente ou um ingrediente essencial da dieta, o qual, quando administrado a um organismo vivo produz um efeito biológico Quando administrado, vai produzir um efeito buscado controverso Fármaco x Medicamento O medicamento é uma preparação química que, em geral, contém um ou mais fármacos, administrados com a intenção de produzir determinado efeito terapêutico Basicamente, o fármaco é a substancia que vai gerar o efeito desejado, enquanto o medicamento vai conter outras substancias que facilitem a ação do fármaco No medicamento pode haver outras substancias que prolongue os efeitos do fármaco, que atue na absorção do fármaco (inibindo ou ativando), entre outros O que é farmacologia? Estudo do efeito dos fármacos no funcionamento dos sistemas vivos Farmacocinética x fármaco dinâmica Farmacodinâmica – o que a droga faz no organismo Farmacocinética – o que o corpo faz com a droga Isadora Nunes – Med 101 2 Farmacocinética É a dinâmica da absorção, distribuição, metabolismo e eliminação dos fármacos Processos da farmacocinética: 1. Absorção 2. Distribuição 3. Metabolismo 4. Eliminação A partir do momento que se ingere uma substancia exógena, ela é reconhecida como substância xenobiótica = substancia estranha - Relembrando - Membrana plasmática: Dupla camada de lipídeos com exterior hidrofílico e interior hidrofóbico Moléculas variam de acordo com o tipo de membrana Proteínas incrustadas (âncoras, receptores, canais iônicos...) que vão facilitar alguns processos de ativação e troca de substâncias Fármacos lipofílicos são absorvidos mais facilmente a nível celular, devido a essa bicamada fosfolipidica Modelos de permeação e transporte: Difusão passiva (predominante) Transporte mediado por carreadores – difusão facilitada e transporte ativo Transporte paracelular (ocorre entre uma célula e outra) – barreira hematoencefálica Endocitose e exocitose – vit. B12 Absorção: É a transferência de um fármaco do local de administração para o compartimento central (líquidos intracelulares) Biodisponibilidade: percentual com que a dose de um fármaco administrado alcança a partir do qual o fármaco tem acesso ao seu local de ação (a droga passa por diversos processos de transformação até chegar no tecido alvo) -> fármacos administrados via oral são absorvidos no intestino, drenado para a veia mesentérica que se une com veia esplênica, formando a veia porta que passa pelo fígado. Logo, o fármaco administrado via oral é metabolizado pelo fígado na tentativa de inativação e expulsão (efeito de primeira passagem) ADME Isadora Nunes – Med 101 3 Vias de administração: enterais e paraenterais Vias enterais Administração oral: Vantagens: Mais comum, conveniente (administrada a nível ambulatorial e em casa), segura e econômica Desvantagens: Absorção limitada (metabolização pelo fígado), colaboração do paciente (paciente tem que estar consciente), efeito de primeira passagem (alguns fármacos precisam desse efeito para ser ativado, mas em geral, é uma desvantagem) Enalapril e capidogrel precisam do efeito de primeira passagem, por exemplo, para ser ativado A absorção é diretamente afetada por: Flora da mucosa intestinal Superfície absortiva – pacientes com diminuição/perda da superfície absortiva tem absorção comprometida de um fármaco administrado via oral (síndrome disabisortiva) Taxa de esvaziamento gástrico (aumento = diminuição da absorção; diminuição = aumento da absorção) Hidrossolubilidade do fármaco (mais lipofílico e não-ionizado é mais absortivo) Variações do Ph (a maioria dos fármacos são bases fracas ou ácidos fracos) – o fato de ser um ácido fraco facilita a absorção. AAS é um ácido fraco e sua ingestão em grande quantidade pode ser tóxico. O pH do estômago é ácido, logo, ao administrar uma base, pode haver um tamponamento e esse fármaco não ser absorvido. Além disso, ácidos fortes podem lesar a mucosa. Fluxo sanguíneo – quanto maior o fluxo sanguíneo, maior a absorção Administração retal: Boa parte não passa pelo fígado (50%) -> a drenagem superior venosa do reto acontece para as veias mesentéricas, veia porta e fígado. A drenagem inferior vai para as veias ilíacas internas, veia ilíaca comum, veia cava inferior e coração (não há efeito de primeira passagem). Logo, não é muito eficiente para medicamentos que precisam do efeito de primeira passagem Absorção pode ser irregular Pode irritar a mucosa (administração repetitiva) Vias paraenterais Efeito de primeira passagem: metabolismo do fármaco antes dele cair na circulação em busca do seu efeito no tecido alvo. O fígado é o principal órgão que realiza o metabolismo dos fármacos (outros órgãos: pulmão, rins). Já no efeito de primeira passagem pode haver eliminação do fármaco Administração oral Administração retal Administração sublingual Injeção parenteral Absorção pulmonar Aplicação tópica Isadora Nunes – Med 101 4 Administração sublingual: Pequena superfície compensada pela drenagem venosa diretamente para a veia cava superior (sem efeito da mucosa do TGI e sem efeito de primeira passagem) O fármaco vai ser absorvido pela mucosa do assoalho da boca, onde tem um plexo venoso rico que absorve a medicação, vai ser drenado para veia cava superior e coração -> medicação lipofílica é absorvida mais rápida Injeção parenteral: Vantagens: Não passam pelo TGI (não há efeito de primeira passagem), biodisponibilidade de ação mais rápida, dose mais precisa. Vantajosa em casos de emergência e em pacientes inconscientes Desvantagens: Dor, necessidade de acesso, dificuldade de auto aplicação, uma vez feita, é difícil de voltar atrás Vias de administração parenteral: Intravenosa Subcutânea Intramuscular Intra-arterial Intratecal Via intravenosa: Vantagens: Elimina os fatores que limitam a absorção Ação rápida – casos de emergência Melhor controle da dose desejada (biodisponibilidade 100%) Desvantagens: Administração cuidadosa Exige um acesso a circulação venosa Monitorização do paciente Complicações: flebite (substâncias hiperosmolares), hematoma (erro de punção) Figura 2: jelco e scalpe Via subcutânea: Velocidade de absorção lenta, objetivando um efeito duradouro – o tecido subcutâneo é menos vascularizado Somente para fármacos que não irritam o tecido Podemos, à critério, acrescentar substâncias vasoconstritoras com objetivo de retardo maior da absorção Ex: insulina, hormônios, anticoagulantes (heparina) Figura 1: Acesso venoso profundo Isadora Nunes – Med 101 5 Via intramuscular: Fármacos em solução aquosa podem ser absorvidos mais rapidamente Fármacos em solução oleosa ou suspenso em veículos de depósito tendem a ter distribuição mais lenta e constante – ex: testosterona Depende da composição corporal e musculo utilizado Músculo vasto lateral da coxa tem um a vascularização mais intensa, permitindo uma absorção mais rápida Glúteo aguenta um volume maior de medicação por ser um músculo mais espesso Deltoide também é uma boa opção Feita com angulação perpendicular a pele Via intra-arterial: Medicações especificas (muitas vezes exclusivas de determinadas especialidades – hemodinâmica, vascular, neurocirurgia) Efeitos diretos nos tecidos ou órgãos Chances de complicações graves se mal utilizada – amputação de membro Via intratecal: Barreira hemato-encefalica (impede a ação no SNC) Injeção diretamente no espaço subaracnóideo, para efeitos diretos e rápidos no SNC Ex: raquianestesia e antibiótico Isadora Nunes – Med 101 6 Absorção pulmonar: Absorção pelo epitélio pulmonar e mucosa do trato respiratório Acesso rápido a circulação Grande superfície Ação direta nas doenças pulmonares Ex: bombinha, nebulização Aplicação tópica: Mucosa: conjuntiva, orofaringe, vagina, colo, uretra, bexiga Olhos: agentes oftálmicos Pele: absorção ampliada por veículos oleosos e na pele não integra. Adesivos transdérmicos Distribuição Tecidos são diferentes entre si e por isso pode deixar a distribuição heterogênea A distribuição ocorre por todo o corpo, não apenas no local onde se deseja que ocorra a ação O DC, o fluxo sanguíneo, a permeabilidade capilar e o volume do órgão afetam a distribuição de um fármaco Paciente chocado tem um fluxo sanguíneo comprometido, diminuído a velocidade de distribuição do medicamento Determinada pela partição do fármaco entre o sangue e os tecidos Muitos fármacos têm substancias que com afinidade pelas proteínas plasmáticas, se ligando a elas para serem carreados. Ao chegar a um tecido e encontrar um receptor com alta finidade, o fármaco se solta da proteína e se liga ao receptor, passando a desempenhar seu efeito farmacológico Fatores que alterem a concentração de proteínas plasmáticas, podem aumentar ou diminuir a ação do fármaco (deve-se ter cuidado com a dose terapêutica) Ligação a proteínas plasmáticas: Fármacos ácidos tem afinidade por albumina e fármacos básicos tem afinidade por glicoproteínas Ligações inespecíficas à algumas outras proteínas Em geral, essas ligações são reversíveis Isadora Nunes – Med 101 7 Fração total do fármaco no plasma ligado à proteínas depende: Da concentração do fármaco (quanto mais fármaco, maior a saturação de proteínas e maior a quantidade de fármacos livres) Da afinidade do fármaco pela proteína (quanto maior afinidade, mais ele se liga) Da concentração de sítios disponíveis (quanto mais proteínas, mais sítios de ligação) Condições clínicas que aumentam a fração livre do fármaco: Hipoalbuminemia (desnutrição, cirrose) Envelhecimento – concentração menor de proteínas Gestação – hemodiluição por aumento da circulação de líquidos Competição entre fármacos – competem pelo mesmo sitio de ligação, sendo que os fármacos com mais afinidade se ligarão a proteína e os com menos afinidade ficarão livres Tecidos: Suscetíveis – sofrem ação do fármaco Ativos – metabolizam o fármaco (fígado, rins, pulmão) Indiferentes – reservatório temporário (tecido gorduroso) Emunctórios – excretam o fármaco (rins, fígado, pulmão) Ligação aos tecidos: SNC Ossos Gordura Ex: midazolam (sedativo) é muito lipofílico e vai para o tecido gorduroso, onde fica armazenado. A medida que o midazolam vai sendo metabolizado pelo fígado, a concentração no sangue vai caindo, entretanto, a concentração nos adipócitos permanece alta. Com a diferença de concentração a tendência é que ele saia do local de maior concentração para o de menor (gordura -> sangue). Ele cai na corrente sanguínea e passa pelo SNC novamente, chamado de processo de redistribuição Barreiras anatômicas: Hematoencefálica Hemato-testicular Placentária Metabolismo (Biotransformação) Xenobióticos – compostos que não são bem-vindos ao organismo O organismo realiza transformações na estrutura do fármaco na tentativa de eliminação ou inativação do fármaco Fígado, pulmões e rins Objetivo do metabolismo: Término da ação do fármaco – o fármaco é metabolizado e eliminado através da bile Facilitar a eliminação Ativação (enalapril, clopidogrel) – enzimas hepáticas ira ativar esses pró-fármacos Isadora Nunes – Med 101 8 Fase 1: Alteram a atividade do fármaco (hidrossolúvel) para facilitar a eliminação dele Produzem grupos reativos (OH, COOH, NH2) que realizam oxidação, redução ou hidrólise Saem da fase 1 como compostos inativos ou não. Quando não são inativados na fase 1, ainda há a fase 2, onde serão necessariamente inativados As enzimas da fase 1 agem retirando moléculas do fármaco, tornando-o hidrossolúvel Principal enzima: citocromo P450 (CYP450) 74 famílias As enzimas são encontradas no reticulo endoplasmático liso do hepatócito Tem que ter cuidado ao prescrever medicação para pacientes hepatopatas, pois eles têm disfunção no metabolismo Fase 2: Conjugação: ligação do fármaco com compostos hidrossolúveis para se tornar excretável Ácido glicurônico é o principal composto que se liga ao fármaco para inativa-lo Profármacos: Compostos farmacologicamente inativos que são convertidos em compostos ativos durante a biotransformação a partir do efeito de primeira passagem Meia vida: Tempo necessário para que a concentração plasmática de um fármaco seja reduzida pela metade Excreção Processo pelo qual um fármaco ou seu metabólito é eliminado pelo organismo Rins são os principais responsáveis pelo processo de eliminação Pulmões, fígado (bile), pele (suor), saliva, lagrima, leite materno também realizam eliminação É catabólico É anabólica Isadora Nunes – Med 101 9 Eliminação via renal: Filtração glomerular – 20%: Moléculas < 20.000 Da Albumina normalmente não é filtrada Secreção tubular ativa: Os que sofreram filtração Transporte ativo Fármacos ligados à proteínas Reabsorção tubular passiva Eliminação hepática: Efeito de primeira passagem Alguns conceitos: Latência Intervalo de tempo entre a administração e o efeito desejado Depende da relação entre a absorção e a distribuição Pode ser influenciado negativamente pela excreção – se ele for excretado antes de alcançar a concentração mínima, terá uma latência maior e vai demorar a alcançar o efeito desejado Pico de ação Momento quando a concentração máxima é atingida Depende do processo ADME Absorção rápida = pico de ação mais rápido Distribuição rápida = pico de ação mais rápido Duração de efeito Intervalo entre o início e o fim da ação do fármaco Depende da distribuição e da excreção Depuração (clearence) É uma medida de eficiência dos organismos em eliminar os fármacos da circulação (ml/kg/min) Janela terapêutica Representa a faixa de concentração entre a dose mínima para um fármaco provocar o seu efeito terapêutico e a dose a partir da qual este passa a provocar efeitos tóxicos Isadora Nunes – Med 101 10 Exercício: Um fármaco que alcança o seu efeito terapêutico com a dose de 40 mg e tem sua meia vida de 4h, quando administrado na dose de 200mg, terá o seu efeito por quanto tempo? Um pouco mais de 8h
Compartilhar