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Erica Marques AMBIENTE RUMINAL E MICROBIOLOGIA DO RÚMEN Sub-ordem ruminantia: ● Giraffidae ● Tragulidae ● Antilocapridae ● Cervidae ● Bovidae - Bisão - Búfalo - Ovinos - Caprinos - Iaques - Gazelas OBS: os componentes da sub-ordem Tylopoda possuem todos os compartimentos como os ruminantes, porém não fazem a ruminação, que é a regurgitação do bolo alimentar. O ruminante possui uma relação simbiótica com a população microbiana, o animal depende da microbiota e a microbiota depende do animal, um sem o outro não sobrevive. Por esse motivo é importante saber sobre as exigências das bactérias do rúmen, para poder fazer uma nutrição eficiente. O crescimento microbiano favorece o animal e a microbiota, para que a microbiota cresça é preciso um ambiente ideal, proporcionado pelo animal. O animal se beneficia pelos ácidos graxos voláteis (lixo da bactéria), e o aproveita como substrato de energia. A proteína microbiana é a própria bactéria morta que sai do rúmen e é digerida no abomaso. Se não houver crescimento bacteriano de forma eficiente, pode haver desnutrição proteica para o ruminante. Vantagens e desvantagens da digestão microbiana VANTAGENS ● Utilização de alimentos fibrosos (não concorrem com a alimentação de outros animais). ● Síntese de vitaminas do complexo B e K (um animal ruminante não precisa ser suplementado com essas vitaminas, pois a própria microbiota vai fazer a síntese delas. Porém, é necessário fornecer os precursores, por exemplo, o cobalto que vai ser importante na síntese de vitamina b12 (quando ingerimos a carne, ingerimos a vitamina b12). ● Síntese de aminoácidos a partir de NNP (nitrogênio não protéico, como a ureia). Se animais monogástricos ingerem NNP ele será tóxico a depender da quantidade, pois cai no sistema porta, problema que não possui os ruminantes, pois as bactérias pegam esses radicais nitrogenados e usam para o seu próprio crescimento, transformando esses compostos não protéicos em aminoácidos. DESVANTAGENS ● Perda de energia na forma de metano (o metano é um produto da bactéria, ele não é perdido para a atmosfera, e sim fixado de novo). ● Perda de aminoácidos dietéticos a partir da fermentação (as bactérias transformam aminoácidos em outros aminoácidos) ● Tipo de dieta pode restringir o crescimento ou a atividade de certos microrganismos. Características do rúmen ● Meio anaeróbico (bactérias anaeróbias facultativas, o oxigênio é eliminado via eructação). OBS: geralmente por conta do conteúdo ruminal não sobra muito espaço para a circulação do oxigênio no rúmen, por esse motivo é um meio anaeróbico. ● Presença simbiótica de microrganismos (bactérias, protozoários, fungos). ● Constância de pH (5,5-7,0) e temperatura (35-42⁰C). ● O animal faz com que essa colonia de bacterias tenha um suprimento contínuo de solidos e liquidos (importante para o crescimento). ● Presença constante de água e saliva torna o ambiente aquoso. ● Produtos da fermentação são removidos. ● Ambiente anaeróbio: baixo teor de oxigênio, alto teor de hidrogênio, ambiente predominantemente com carga negativa (ambiente reduzido). ● No ambiente anaeróbico falta oxigênio, e o NADH não consegue entregar o oxigênio dele na CTE, dessa forma, não ocorre cascata. Logo, o metabolismo criar outros mecanismos de regenerar o NAD. ● Quando se tem muito CO2 e muito e muito hidrogênio (acumulação de NADH), ocorre a formação de metano e água. ● Além da formação de metano e água, pode ocorrer também a formação de ácidos graxos saturados. Logo, a bactéria do rúmen tem a capacidade de transformar uma gordura poli insaturada em gordura saturada, pois ela quebra as ligações duplas e triplas e põe o hidrogênio proveniente do NADH. Por esse motivo, a gordura animal é saturada (manteiga, carne bovina, carne caprina, etc). ● Não é vantajoso fornecer óleos poli insaturados (óleo de soja, óleo de linhaça, etc) para os ruminantes, pois as bactérias vão transformar em gordura saturada. ● O oxigênio é tóxico para as bactérias anaeróbicas: as bactérias não podem combater o oxigênio reativo. ● O oxigênio possui algumas variações, o oxigênio molecular possui seus elétrons completos, e possui os radicais que possuem seus elétrons incompletos. Como está faltando elétrons, ele fica reativo e se liga causando lise na célula (radicais livres). ● As nossas células produzem algumas enzimas que combatem as espécies reativas de oxigênio como a catalase e superóxido dismutase neutralizam os radicais de oxigênio, etc. As bactérias do rúmen não produzem essas enzimas que produzimos, logo elas não conseguem se defender dos radicais livres (ocorre dano oxidativo). ● Toda vez que a cadeia transportadora de elétrons ocorre ela libera radicais livres. Ou seja, quanto mais se come, mais se produz radicais livres. Microbiologia ruminal BACTÉRIAS ● Constituem a maior parte da biomassa microbiana ruminal: 60-90%. ● Rápido tempo de duplicação (30 min). ● Maior diversidade entre a microbiota ruminal. ● Mais de 400 espécies já foram isoladas. ● Mais de 20 espécies apresentam concentração superior a 107/g de conteúdo ruminal. ● Espécies Gram – (80-90%) e Gram + (10-20%). Classificação em função do substrato ou produto final: ● Fermentadoras de carboidratos estruturais (fibrosos): - Celulolíticas ou fibrolíticas: Ruminococcus albus, Ruminococcus flavefaciens, Fibrobacter succinogenes. - Taxa de crescimento mais lenta. - Hidrolisam celulose por meio de complexos enzimáticos (celulases). - Digestão da parede celular. ● Fermentadoras de amido (carboidratos não estruturais): - Amilolíticas: Bacteroides amylophilus, Streptococcus bovis e Ruminobacter amylophilus. - Utilizam amido e carboidratos solúveis (dextrina e frutosanas). - Taxa de crescimento mais elevada. - Substrato é solúvel! ● Lipolíticas: - Os ruminantes possuem pouca gordura em sua dieta desfavorecendo essa bactéria. - Não são favorecidas no rúmen. ● Ureolíticas: - Encontram-se aderidas ao epitélio ruminal e hidrolisam uréia liberando amônia. - Importante papel na captura de O2 ruminal. - As bactérias ureolíticas ficam grudadas na parede do rúmen. Já as outras bactérias ficam aderidas ao alimento. - São anaeróbias facultativas. - Ex: Enterococcus faecium. ● Metanogênicas: - São do grupo Archaea, ausência de parede celular. Produzem metano a partir de H2 e CO2. - Ao utilizarem o H2 presente no meio, são fundamentais para a regeneração de cofatores, como NAD+ e NADP+. - Pegam o hidrogênio e o CO2 e formam o metano (regenerar os NAD+). - Ex: Methanobacterium sp. e Methanobrevibacter sp. ● Proteolíticas (aminolíticas). ● Pectinolíticas. ● Láticas. O amido é degradado mais rápido, a fibra é degradada mais lentamente. Apesar de uma ser mais rápida e a outra mais lenta, as duas vão chegar ao mesmo objetivo, que é produzir AGVS e biomassa bacteriana. Distribuição das bactérias no rúmen: ● Livres no fluído ruminal. ● Associadas às células epiteliais descamadas (descamação ocasionada pela motilidade, choque do rúmen com a fibra). ● Associadas com as partículas de alimentos (75%). Colonização e degradação das partículas: ● Tecidos forrageiros são protegidos por uma cutícula resistente à digestão = sílica.● Adentram por orifícios pré-formados como estômatos, partes danificadas na parede celular ou partes já aderidas por fungos. ● Começam a degradar de dentro para fora. ● Mesofilo é a parte mais digestível (possui mais celulose e hemicelulose). ● Começam a se aderir às partículas e começam a fazer o desaparecimento dessa partícula, sobrando somente os restos. PROTOZOÁRIOS ● Unicelulares e anaeróbicos. ● Tamanho de 20 a 200μm (10 a 100X maior do que as bactérias). ● Apresenta estrutura interna complexa, com estruturas que se assemelham à boca, esôfago, estômago, reto e ânus. ● Uma das grandes diferenças da bactéria para o protozoário é a forma como eles colonizam a partícula. A bactéria fica do lado de fora da partícula cuspindo enzimas em cima do fragmento. Já os protozoários engolfam a partícula e digere ela dentro das estruturas internas dele (sistema digestório rudimentar). As vezes o protozoário pode fagocitar a partícula com bactérias, sendo assim essas bactérias viram fonte de proteína para o protozoário. ● População ruminal: 40% a 60% da biomassa microbiana total do rúmen. ● Alto tempo de duplicação (24h). ● Se alimentam de amido (diminuem a carga osmótica do amido no rúmen, ajuda ao PH não cair bruscamente. Se o amido estivesse perdido no líquido ruminal, a bactéria ia começar a degradar rapidamente produzindo muitos AGVS, assim ia cair o ph do rúmen. Quando o protozoário engolfa o amido, ele protege, assim a degradação é mais lenta). ● Apresentam quimiotactismo (andam atrás da partícula) (a bactéria não possui): - Se movimentam no rúmen estimulados pela presença de substrato (açúcares ou glicoproteínas) em uma região específica. - Localizam-se normalmente na porção ventral do rúmen (pois preferem partículas mais pequenas). FUNGOS ● Apresentam parede celular. ● Acumulam glicogênio. ● Atua na fermentação de açúcares solúveis e amido, e degradação de proteína. ● Papel importante, mas não essencial. ● Representam 8% da biomassa microbiana nos animais que recebem dieta rica em fibras. ● Estão envolvidos na degradação de complexos entre lignina e celulose (importantes para o rompimento físico da fibra, permitindo o acesso das bactérias). ● O fungo possui duas fases de vida (vegetativa e reprodutiva). Na fase vegetativa é o momento que ele vai germinar na partícula, emitindo rizóides, e depois que se estabelecer vai entrar na fase reprodutiva. Na fase reprodutiva há emissão de zoósporos, eles vão amadurecer e são liberados para novos substratos. Dessa forma o zoósporo chega na partícula de comida e emite seus rizóides. Com o crescimento do fungo, ele começa a fragmentar essa partícula, abrindo portas para a entrada das bactérias que colonizam o interior da partícula. ● O fungo prefere partículas de baixa digestibilidade (partículas que demoram mais para serem digeridas), por conta da demora do seu ciclo de vida (pega partículas que as bactérias e protozoários não querem). Fatores que controlam a população microbiana DISPONIBILIDADE DE SUBSTRATO ● A disponibilidade de substrato altera a população: quanto mais concentrado na dieta o ph vai ter uma tendência a cair, atrapalhando a colonização das bactérias (assim a degradação da fibra cai). ● Quando o ph está alto favorece as bactérias celulolíticas, quando está baixo favorece as amilolíticas. ● Dieta rica em fibras: população de fungos é mais abundante. ● Fungos, protozoários e bactérias gram+ possuem maior sensibilidade ao Ph baixo. ● Lise de protozoários: liberação de amido no fluido ruminal. OBS: geralmente as bactérias celulolíticas são gram +, e as amilolíticas gram - (não é regra). Produção da biomassa microbiana
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