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Resumo Capítulo 8: Obras Completas: Inveja, Gratidão e outros trabalhos 8. A TÉCNICA PSICANALÍTICA ATRAVÉS DO BRINCAR: SUA HISTÓRIA E SIGNIFICADO (1955 [1953]) Prefácio: “O ponto de maior interesse no presente artigo é o relato de Melanie Klein da descoberta específica que cada um desses primeiros casos possibilitou-lhe fazer.” Introdução ao Trabalho com Crianças Klein aponta que seu trabalho com crianças e adultos e suas contribuições à teoria psicanalítica como um todo derivam da técnica através do brincar desenvolvida com crianças pequenas - foi este seu insight inicial sobre os processos inconscientes. Quando, em 1919, Melanie iniciou seu primeiro caso, trabalhos psicanalíticos com crianças já haviam sido feitos. Ela cita a Dra. Hug-Hellmuth, apontando que esta não empreendeu a psicanálise de crianças menores de 6 anos e, embora utilizasse ocasionalmente de desenhos e do brincar, não os desenvolveu em uma técnica específica. -> na época, considerava-se a Análise adequada apenas para crianças do período de latência em diante. O primeiro paciente e o início da técnica analítica através do brincar Dado o nome de “Fritz”, o menino de cinco anos de idade foi o primeiro paciente de Melanie Klein e assunto de seus primeiros artigos publicados. A princípio, ela pensou que seria suficiente influenciar a atitude da mãe. -> encorajar a criança a discutir livremente com ela sobre questões não verbalizadas que estavam no fundo de sua mente e impediam o desenvolvimento intelectual. -> teve bom efeito, mas suas dificuldades neuróticas não foram tão aliviadas. Então, Klein decide analisar Fritz. Ela interpretava o que pensava ser mais urgente no que a criança apresentava (suas ansiedades e defesas contra elas) e seu trabalho resultou em uma melhora adicional e diminuição das ansiedades da criança. A convicção obtida nesta análise influenciou intensamente todo o curso do seu trabalho analítico, representando o início da técnica através do brincar. O tratamento foi conduzido na casa da criança, com seus próprios brinquedos, e desde o início a criança expressou suas fantasias e ansiedades através do brincar; e Klein interpretava seu significado para ela com o resultado de que material adicional aparecia no brincar. Abordagem de Klein Tal abordagem corresponde ao princípio de associação livre. Ao interpretar não apenas as palavras da criança mas também suas atividades com seus brinquedos, Melanie Klein aplica a associação livre à mente da criança, cujo brincar e atividades variadas (todo seu comportamento no geral) são meios de expressão que o adulto expressa predominantemente através de palavras. Klein também se orientou por outros dois princípios de psicanálise estabelecidos por Freud: 1. a exploração do inconsciente é a principal tarefa do procedimento psicanalítico 2. a análise da transferência é o meio de atingir esse objetivo Caso Rita (1923) e o entendimento da importância do atendimento fora de casa Klein considera esse caso como um passo definitivo no desenvolvimento da técnica através do brincar. Rita, uma criança de dois anos e nove meses, apresentava as seguintes condições: -> sofria de terrores noturnos e fobias de animais -> era muito ambivalente com a mãe e ao mesmo tempo tão apegada a ela que dificilmente podia ser deixada sozinha -> tinha uma neurose obsessiva acentuada e às vezes ficava muito deprimida -> seu brincar era inibido -> sua inabilidade para tolerar frustrações tornava sua educação cada vez mais difícil A primeira sessão de Melanie com Rita demonstrou sinais de uma transferência negativa, pois a menina estava ansiosa e silenciosa. A menina pediu para ir ao jardim, onde Melanie interpretou à menina sua transferência negativa, fazendo-a mais amistosa com Klein. -> aqui ela já percebe o receio da menina em relação a estar sozinha com ela no quarto inicialmente, o que estaria atrelado a seus terrores noturnos. -> entendeu também a inibição do brincar da menina, que demonstrava sua ansiedade. Este caso fortaleceu a convicção de Melanie de que uma precondição para a psicanálise de uma criança é compreender e interpretar as fantasias, sentimentos, ansiedades e experiências expressos através do brincar ou se as atividades de brincar estão inibidas, as causas da inibição. Com este tratamento, Klein chegou a conclusão de que a psicanálise não deveria ser realizada na casa da criança. Descobriu duas coisas: -> no caso específico de Rita, ela percebeu que por mais que a criança precisasse de ajuda e seus pais tivessem decidido tentar psicanálise, a atitude da mãe de Rita com Klein era muito ambivalente e a atmosfera era hostil para o tratamento. -> E em segundo lugar, na psicanálise em si, ela percebeu que a situação transferencial só pode ser estabelecida se o paciente for capaz de diferenciar o consultório/sala de análise de sua vida familiar cotidiana. -> isso porque é apenas sob tais condições que ele pode superar suas resistências contra vivenciar e expressar sentimentos, pensamentos e desejos que são incompatíveis com convenções sociais e que, no caso de crianças, são contraste ao que lhes foi ensinado. Os brinquedos para a análise Klein aponta como o uso dos brinquedos mantidos por ela foi essencial para a análise, e esta experiência a ajudou a decidir quais brinquedos são mais adequados para a técnica psicanalítica através do brincar: -> era essencial ter brinquedos pequenos, pois seu número e variedade permitem maior expressão de fantasias e experiências -> os brinquedos não poderiam ser mecânicos, e as figuras humanas não deveriam indicar qualquer ocupação particular A simplicidade permite à criança usar os brinquedos em diversas situações, o que nos possibilita, enquanto analistas, chegar a uma imagem mais coerente das atividades de sua mente. Klein aponta também não ser regra a criança brincar exclusivamente com os brinquedos do consultório, podendo também trazer seus próprios brinquedos se assim quiserem Ex de brinquedos para o analista.: pequenos homens e mulheres de madeira, carros, carrinhos de mão, balanços, trens, aviões, animais, árvores, blocos, casas, papel, tesouras, lápis, massa de modelar, etc. O consultório de análise Assim como os brinquedos, o equipamento do consultório de crianças também é simples, contendo apenas o que é necessário à psicanálise. -> um chão lavável, água corrente, uma mesa, algumas cadeiras, um pequeno sofá, algumas almofadas e um móvel com gavetas. A caixa com os brinquedos torna-se um compartimento individual da criança e do analista, característica imprescindível da situação transferencial psicanalítica. Além dos brinquedos Os brinquedos não são o único requisito para uma análise através do brincar. Frequentemente a criança desenha, escreve, pinta, recorta, brinca com jogos em que atribui papéis ao analista e a si mesma (brincar de loja, médico e paciente, escola, mãe e criança). -> nestes últimos jogos, a criança tende a assumir o papel do adulto, expressando seu desejo de reverter os papéis e como se sente em relação às pessoas de autoridade com que se relaciona. A agressividade Pode ser expressa no brincar de forma direta ou indireta. É essencial permitir à criança trazer à luz sua agressividade (tirando ataques físicos ao analista), mas deve-se buscar compreender por que nesse momento particular da situação de transferência aparecem os impulsos destrutivos, e observar as consequências na mente da criança. -> ex. um sentimento de culpa ao quebrar um brinquedo pode representar não só a culpa por ter quebrado o objeto mas o que este significava inconscientemente. O trabalho interpretativo do brincar É fundamental que se mantenha em compasso com as flutuações entre amor e ódio; entre felicidade e satisfação de um lado e ansiedade persecutória e depressão de outro. -> o analista não deve mostrar desaprovação por a criança quebrar um brinquedo, não deve encorajá-la a demonstrar agressividade e não deve sugerir a ela o conserto do brinquedo. -> o analista deve permitir à criança vivenciar suas emoções e fantasias na medidaem que aparecem. Sem influência moral ou educativa, compreendendo a mente do paciente e comunicando a ele o que ocorre nela. Através de atividades lúdicas, a variedade de situações emocionais que podem ser expressas é ilimitada. No brincar da criança encontramos também a repetição de detalhes reais da vida cotidiana - frequentemente entrelaçados com suas fantasias. A inibição no brincar Muitas crianças são inibidas em seu brincar e tal inibição nem sempre as impede completamente de brincar, mas pode logo interromper suas atividades. Há crianças que, no começo do tratamento, não podem nem mesmo brincar. Mas é muito raro que uma criança ignore completamente os brinquedos. O analista também pode reunir material para interpretação de outras formas, como usar o papel para rabiscar ou recortar. -> cada detalhe do comportamento, tais como mudança na postura ou na expressão facial, podem dar uma pista do que se está passando na mente da criança. As crianças são intelectualmente capazes de compreender tais interpretações? De acordo com sua própria experiência e a dos colegas de Klein, se as interpretações dizem respeito a pontos relevantes no material, elas são plenamente compreendidas. -> o analista deve dar suas interpretações de forma clara e sucinta, usando expressões da própria criança. Segundo Klein, uma das experiências interessantes daquele que inicia análise de crianças é encontrar, até mesmo em crianças muito pequenas, uma capacidade de insight bem maior que a dos adultos. -> explicado pelo fato de que as conexões entre consciente e inconsciente são mais próximas em crianças pequenas do que em adultos, tendo suas repressões menos poderosas. Análise da Transferência Como sabemos, o paciente repete na transferência com o analista, emoções e conflitos anteriores. Klein afirma que podemos, enquanto analistas, ajudar o paciente ao levar de volta, por meio de interpretações transferenciais, suas fantasias e ansiedades para onde se originaram (infância e primeiros objetos). Superego Freud x Klein Ao longo de suas análises de crianças, Klein chegou a conclusão de que o superego surge em um estágio muito anterior ao que Freud supunha. Ela reconhece que o superego é algo que é sentido pela criança como operando internamente de modo concreto, que consiste de uma variedade de figuras construídas a partir das experiências e fantasias da criança e que se deriva dos estágios nos quais ela internalizou ou introjetou seus pais. As reparações A reparação, neste sentido, é um conceito mais amplo do que os conceitos de Freud, pois inclui a variedade de processos através dos quais o ego sente que desfaça o dano feito em fantasia, restaura, preserva e faz reviver objetos. -> A importância desta tendência, ligada a sentimento de culpa, também tem contribuição nas sublimações e desta forma, para a saúde mental. Caso Erna Ao longo de suas análises e estudos, Melanie Klein entende melhor a respeito de Impulsos sádico-anais e sádico-uretais. A partir do caso Erna, se torna mais consciente dos modos pelos quais as perseguições internas influenciam, através da projeção, a relação com objetos externos. -> a intensidade de sua inveja e de seu ódio demonstravam sua origem na relação sádico-oral com o seio da mãe e estavam ligados aos primórdios de seu complexo de édipo. Este caso levou Klein a concluir que o superego primitivo, construído quando os impulsos e fantasias sádico-orais estão em seu auge, subjaz à psicose. Ansiedade em meninos As análises de meninos e homens confirmaram plenamente a concepção de Freud de que o medo da castração é a principal ansiedade masculina, mas reconhecia que devido a identificação arcaica com a mãe (a posição feminina que anuncia os estágios iniciais do complexo de édipo), a ansiedade relativa a ataques ao interior do corpo é de grande importância nos homens, influenciando e modelando de diversas maneiras seus medos de castração. Simbolismo A análise através do brincar havia mostrado que o simbolismo possibilita à criança transferir não apenas interesses, mas também fantasias, ansiedades e culpa a outros objetos além de pessoas. Desta forma, muito alívio é experimentado no brincar e esse é um dos fatores que o tornam tão essencial para a criança. Considerações de Klein -> relações de objeto iniciam-se quase no nascimento e surgem com a primeira experiência de alimentação. -> todos os aspectos da vida mental estão ligados a relações de objetos -> a experiência que a criança tem com o mundo externo (que muito cedo inclui sua relação ambivalente com a família) influencia e é influenciada pelo mundo externo que ela está construindo. -> situações externas e internas são sempre interdependentes, uma vez que a introjeção e a projeção operam lado a lado desde o início da vida Bebê e mãe A importância dos processos de cisão e manutenção das figuras boas e más separadas, que vêm da mãe que aparece para o bebê como um seio bom e um seio mau cindidos, têm grande influência sobre a integração do ego. -> estágio esquizo-paranoide (3-4 meses) -> posição depressiva (primeiro ano) KLEIN (1959) A técnica psicanalítica através do brinquedo, sua história e significado (1955), In: Obras Completas, Inveja, Gratidão e outros trabalhos, Vol. III.
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