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CASO CLÍNICO 1 Paciente, 30 anos, refere que iniciou dor abdominal aguda difusa em região periumbilical há 2 dias, de caráter progressivo, intensidade 5/10, sem irradiação ou fatores de melhora ou piora, associada a anorexia, náuseas e múltiplos vômitos. Parada de hábitos intestinais. Nas últimas 12 horas, relata que houve migração da dor para fosse ilíaca direita juntamente com piora da dor, aumentando a intensidade para 9/10. Relata sensação de corpo quente, porém não mensurou temperatura. Nega leucorreia, disúria ou hematúria. RX com níveis hidroaéreos, alças distendidas e velamento em fossa ilíaca direita. Exame físico: abdômen plano, ausência de abaulamento, lesões ou pulsações visíveis, cicatriz umbilical intrusa. RHA presentes. Difusamente timpânico. Dor à palpação superficial e profunda na fossa ilíaca direita. Sinais de Blumberg, Rovsing. APENDICITE AGUDA • Causa mais comum de abdômen agudo; • Risco de 7-8% durante a vida inteira; • Mais frequente em jovens, pico na segunda década de vida; • Mortalidade de 1% (5% nos extremos de idade, imunodeprimidos, perfuradas). Patogenia: • Obstrução da luz do apêndice; • Aumento da pressão intraluminal e congestão venosa; • Isquemia e invasão bacteriana; • Necrose e perfuração. Etiologia e patogenia: • Obstrução da luz do apêndice: o Hiperplasia do tecido linfoide apendicular; • Crianças – infecções virais ou bacterianas; • Adultos – fecálitos; • Corpos estranhos (sementes, fibras vegetais, projetil de arma de fogo); • Vermes (Taenia sp., Enterobius, Ascaris lumbricoides); • Neoplasias (apêndice vermiforme, ceco ou metastática); • Infecção bacteriana primária do apêndice. Ceco e apêndice vermiforme – colo ascendente Posições do apêndice vermiforme – mesoapêndice e vasos apendiculares • Dor pode ser referida em outros locais dependendo da localização da ponta do apêndice inflamado; • 2/3 retrocecal intraperitoneal; • ¼ pélvico – dor suprapúbica e disúria; • 5% retroperitoneal – dor lombar ou no flanco e alterações urinárias; • Raro – quadrante inferior esquerdo. Desafio clínico: • Inúmeros diagnósticos diferencias; • Urgência no diagnóstico; • Evolução natural → perfuração; • Apresentação clínica clássica: 50 a 60% vão ter dor migratória (começa na região supra-umbilical e vai para a fossa ilíaca direita). Diagnóstico: • Principal fator para diagnóstico: o Anamnese detalhada; o Exame físico cuidadoso; o Combinação dos sintomas; o Tempo de progressão; o Dor em fossa ilíaca direita. Ponto de McBurney Quadro clínico: • Anorexia, náusea, vômitos e diarreia; • Dor epigástrica ou periumbilical; • 4 a 12 horas: náuseas, anorexia e febre baixa; • 12 a 24 horas: dor aumenta e se localiza em fossa ilíaca direita. Exame físico: • Febre baixa; • Dor a palpação em fossa ilíaca direita; • Presença de irritação peritoneal; • Descompressão brusca + Sinal de Rovsing. Clínico: mulheres, idosos e < 2 anos é necessário exames complementares. Exames laboratoriais: • Hemograma • Urina I • BHCG • Amilase Exames de imagem: • RX de abdômen agudo: o Borramento do músculo Psoas; o Escoliose direita; o Alça sentinela; o Fecalito; o Pneumoperitônio. • Ultrassonografia: o Operador dependente; o Espessamento do apêndice > 6 mm; o Imagem em “alvo”; o Distensão (pouco compressível); o Aumento da ecogenicidade da parede; o Fecalito ou apendicolito ou coprolito; o Líquido pericecal; o Espessura da parede > 2 mm; o Ausência de peristaltismo. • Tomografia de abdômen Resultado dos exames laboratoriais: • Hemograma: o Leucocitose – 11000 a 17000 mm3 o Desvio à esquerda: 80% dos pacientes, menor especificidade; • Urina I: o Leucocitúria moderada em 50% dos pacientes; o Hematúria. • PCR: aumenta na perfuração. Meios de diagnóstico: o Pontuação de 5 ou 6 é compatível com diagnóstico de apendicite aguda; o Pontuação de 7 ou 8 indica uma provável apendicite; o Pontuação de 9 ou 10 indica uma apendicite aguda muito provável. Sinais clássicos de apendicite: • Sinal de Blumberg; • Sinal de Rovsing; • Sinal do Psoas ou Lapinsky; • Sinal do Obturador; • Sinal de Chutro; • Sinal de Lenander; • Sinal de Dunphy. Apendicectomia aberta: • Incisão 4 cm no ponto de McBurney; • Apêndice → junção das tenias; • Ligadura da artéria apendicular; • Ligadura do coto apendicular com fio absorvível; • Sutura em bolsa. Apendicectomia laparoscópica: • Dúvida diagnóstica; • Permite a exploração do abdômen e pelve; • Pacientes obesos; • Necessita de grandes incisões; • Mulheres em idade reprodutiva; • Laparoscopia: serve para diagnóstico e tratamento; • 3 portais → ligadura da artéria apendicular com clips → ligadura do coto apendicular com grampeador linear cortante. Antibióticos: • Cobertura para infecção por germes gram negativos e anaeróbicos: o Ciprofloxacino (contra gram negativos) + metronidazol (contra anaeróbicos). • Não complicada (edematosa ou flegmonosa): o Profilático, pode ser mantido por 24 horas. • Complicada (gangrenosa ou perfurativa): o Até 48 horas após o último episódio de febre e por no mínimo 5 dias. NEOPLASIA • Tumores primários do apêndice são raros; • Tumor carcinoide ou mucocele simples: apendicectomia simples com 2 cm de margem de segurança; • Tumor carcinoide com mais de 2 cm ou adenocarcinoma: hemicolectomia direita; • Apêndice normal: apendicectomia + explorar o abdômen. CASO CLÍNICO 2 Paciente masculino, 47 anos, chega ao pronto socorro com queixa de dor abdominal em cólica, de início brusco e ocorrendo a intervalos regulares, há 20 horas. Apresentou 2 episódios de vômitos. De acordo com o mesmo, os sintomas iniciaram algumas horas após o almoço copioso do dia anterior, melhorando após êmese de coloração amarelo-esverdeada, mas retornando cerca de 2 horas depois. Desde o início dos sintomas, nega evacuações ou flatos. O paciente foi submetido a laparotomia abdominal exploradora secundária à trauma há 4 anos. Exame físico: • Ectoscopia: paciente em regular estado geral, desidratado, normocorado, acianótico, anictérico, temperatura axilar de 38,5 ºC; • Dados vitais: taquipneico (25 incursões por minuto), pressão arterial 130/80 mmHg; • Exame abdominal: cicatriz cirúrgica xifopúbica bem cicatrizada. Distensão abdominal simétrica ++/6+. Dor difusa à palpação abdominal, porém com ausência de sinais de irritação peritoneal ou massas detectáveis. Percussão timpânica difusa. Ruídos hidroaéreos ocasionais aumentados em timbre metálico à ausculta. Ausência de fezes e massas ao toque retal. Exames laboratoriais: • Total: 15.000/mm² • Neutrófilos: 85% • Linfócitos: 10% • Monócitos: 1% • Bastões : 4% • Hemoglobina: 18 g/dL (V.R.: 12-16g/dL) • Hematócrito: 46,2% (V.R.: 35-45%) • Amilase Sérica: 130 UI/L (V.R. < 85 UI/L) Radiografia abdominal: Pontos importantes: • A principal etiologia de obstrução do intestino delgado são aderências; • A suspeição de obstrução intestinal inicia-se com uma boa anamnese e exame físico; • Hemograma completo com contagem diferencial, eletrólitos e amilase sérica compõe a solicitação inicial de exames laboratoriais; • Radiografia simples é o exame de imagem mais solicitado em caso de suspeição de obstrução de intestino delgado, sendo capaz, inclusive de confirmar algumas etiologias. TC fornece detalhamento ainda maior; • As complicações devem ser detectadas precocemente, para melhorar o prognóstico do paciente; • O tratamento inclui reposição hidroeletrolítica, introdução de sonda nasogástrica, esvaziamento gástrico, antibioticoterapia de amplo espectro e, em casos complicados, laparotomia de urgência.