Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Medicina Veterinária Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais Rebeca Meneses 1 Herniorrafia Uma hérnia consiste na saída do conteúdo de uma cavidade através de sua parede, e são diferenciadas pelo local anatômico (p. ex., umbilical, inguinal, diafragmática, perineal). São consideradas hérnias verdadeiras aquelas que contêm um saco herniário, um anel herniário e o conteúdo herniário. Na ausência de um desses componentes serão classificadas como falsas hérnias. Sua formação se dá em consequência de trauma, flacidez muscular, deiscência de sutura e defeitos congênitos. Cuidados no pós- -operatório, como controle da dor e exercícios, deve ser indicado para diminuir as chances de recidiva e rompimento dos pontos CLASSIFICAÇÃO DAS HÉRNIAS Podem ser classificadas em redutíveis, estranguladas ou encarceradas. Hérnias redutíveis são aquelas passíveis de redução do conteúdo, retornando para dentro da cavidade Hérnias encarcerada são aquelas em que a redução não é possível, devido a presença de aderências Hérnia estrangulada quando o conteúdo apresenta comprometimento circulatório, com possibilidade de isquemia e necrose tecidual Hérnias abdominais são protrusões de conteúdo da cavidade peritoneal através de um defeito na parede abdominal, e em geral ocorrem secundariamente a um trauma, como os acidentes veiculares ou as feridas por mordidas (hérnias traumáticas); entretanto elas ocasionalmente ocorrem como lesões congênitas (hérnias congênitas), em consequência de malformações podem ser decorrentes de uma deiscência na sutura da parede abdominal, a qual foi submetida anteriormente a um procedimento cirúrgico (hérnias incisionais). Hérnia umbilical: Forma-se em consequência do fechamento incompleto da parede abdminal (geralmente relacionada com o músculo reto abdominal), originando, dessa maneira, o anel herniário. Hérnia inguinal: É ocasionada pelo aumento do diâmetro do anel inguinal causado por alterações congênitas ou traumáticas, o que permite a protrusão do conteúdo abdominal através do canal inguinal. Hérnia inguinoescrotal: Forma-se quando há uma alteração do processo vaginal, permitindo a passagem do conteúdo através desta estrutura até o saco escrotal. Hérnia femoral: Pouco diagnosticada em pequenos animais, é considerada uma hérnia rara. O conteúdo abdominal, neste caso, atravessa o canal femoral. No passado, era uma hérnia comum em animais submetidos à operação de pectinectomia. Hérnia perineal: Está localizada na região do períneo e se forma em consequência da frouxidão dos músculos da região do diafragma pélvico. ANATOMIA E TÉCNICA CIRÚRGICA HÉRNIA UMBILICAL Medicina Veterinária Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais Rebeca Meneses 2 Herniorrafia As hérnias umbilicais estão localizadas exclusivamente na linha média, confinadas na área da cicatriz umbilical. Nos animais adultos, os ligamentos falciforme e umbilical médio da bexiga estão localizados no interior da hérnia. A técnica cirúrgica para redução da hérnia umbilical envolve a palpação e identificação do conteúdo (órgão, omento, tecido adiposo), verificando as aderências e a possibilidade de redução, ou seja, se é uma hérnia redutível, encarcerada ou estrangulada. Posiciona-se o animal em decúbito dorsal, faz-se uma incisão sobre a protrusão herniária e palpa- se e reduz-se o conteúdo. Nos casos em que houver aderências, o cirurgião deverá abrir o saco herniário e desfazê-las. Após a redução do conteúdo, realiza-se o fechamento do saco herniário (nos casos em que foi necessário incisá- lo) com sutura de padrão simples descontínuo ou contínuo, utilizando fio de sutura absorvível sintético (poliglactina 910); em seguida aplica-se uma sutura padrão simples descontínua no anel herniário utilizando fio de sutura monofilamentar absorvível sintético de longa absorção, como polidioxanona, ou fio de sutura inabsorvível, como náilon. O tecido subcutâneo e a pele deverão ser suturados de acordo técnicas e padrões utilizados rotineiramente. HÉRNIA INGUINAL O canal inguinal é uma abertura na parede abdominal caudoventral e está localizado a 1 cm craniomedial do anel femoral. É formado pelos músculos oblíquo interno do abdome, reto do abdome, transverso do abdome e pelo ligamento inguinal. Através do anel passam o nervo genitofemoral, a artéria e veia pudendas externas, o processo vaginal, o cordão espermático no macho e o ligamento redondo do útero na fêmea. Inicialmente palpa-se o anel bilateralmente, avaliando se há comprometimento uni ou bilateral. Realiza-se uma incisão diretamente na superfície do anel inguinal e, com uma cuidadosa dissecção romba, separa-se o saco herniário do tecido subcutâneo. Deve-se reduzir o conteúdo torcendo-se e ordenhando-se o saco. Quando houver aderência do conteúdo, a abertura do saco se fará necessária, sendo realizada no sentido craniomedial e, se necessário, deve-se aumentar o diâmetro do anel, facilitando o reposicionamento do conteúdo de volta ao abdome. O fechamento do saco herniário é realizado aplicando-se sutura de padrão simples descontínuo ou contínuo com fio de sutura absorvível sintético (poliglactina 910). Já o anel é fechado parcialmente, com uma sutura de padrão simples descontínuo utilizando fio de sutura monofilamentar absorvível sintético de longa absorção, como polidioxanona, ou fio de sutura inabsorvível, como náilon, englobando todas as camadas musculares do abdome. O anel não pode ser fechado completamente, e mantém-se um orifício aberto para passagem das estruturas neurovasculares; para isso, no momento da sutura do anel, faz-se a colocação de uma pinça hemostática (p. ex., Kocher) no interior do anel como parâmetro para o orifício que deverá se mantido aberto. O fechamento de pele é realizado como de rotina. No caso de hérnia inguinal bilateral fazem-se duas incisões separadas, ou uma incisão mediana. Medicina Veterinária Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais Rebeca Meneses 3 Herniorrafia A celiotomia pode ser realizada nos casos em que não for possível o retorno do conteúdo ao abdome através da abertura do saco herniário ou quando houver presença de necrose tecidual devido ao encarceramento e estrangulamento do conteúdo herniário. HÉRNIA INGUINOESCROTAL Denominada hérnia inguinal indireta, surge por meio de uma alteração anatômica ou frouxidão muscular no processo vaginal, permitindo a passagem de conteúdo abdominal através do processo vaginal para o saco escrotal. A abordagem cirúrgica é semelhante à da hérnia inguinal. Palpa-se o anel inguinal e uma incisão é realizada sobre o anel ou lateralmente a ele. Cuidadosa dissecção romba é realizada ao redor do saco herniário, evitando lesionar o conteúdo. No caso de aderências, o saco herniário poderá ser aberto, facilitando a reposição do conteúdo ao abdome. Juntamente com a redução da hérnia pode-se realizar a orquiectomia. Nesse caso, abre-se o saco herniário (túnica vaginal parietal) e realiza- se a castração como de rotina. Nos casos em que a castração não for realizada, o saco herniário deverá ser reduzido com sutura de padrão simples descontínuo utilizando-se fio de sutura monofilamentar absorvível sintético de longa absorção, como polidioxanona, ou fio de sutura inabsorvível, como náilon, diminuindo o diâmetro do processo vaginal. Em ambos os casos o anel inguinal é parcialmente fechado como descrito na hérnia inguinal. Tecido subcutâneo e pele são fechados como de rotina. HÉRNIA PERINEAL A hérnia perineal está localizada na região do períneo. Nessa região estão localizados os Medicina Veterinária Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais Rebeca Meneses 4 Herniorrafia músculos elevador do ânus, coccígeos, glúteo superficial, obturador interno, esfíncter anal externo e ligamento sacrotuberoso. Entre as estruturas neurovasculares presentes na região, as de maior importância sãoo nervo pudendo e a artéria e veia pudendas internas. O animal é colocado em decúbito esternal, com a pelve elevada e a cauda fixada sobre as costas, na posição de Trendelenburg. Sutura tipo bolsa de tabaco deve ser aplicada ao redor do ânus, diminuindo a possibilidade de contaminação do local da cirurgia, e removida imediatamente após o término do procedimento cirúrgico. As técnicas para redução da hérnia perineal são: herniorrafia tradicional; herniorrafia tradicional com elevação do músculo obturador interno; herniorrafia com transposição do músculo glúteo superficial; e, por último, herniorrafia com elevação do músculo obturador interno associada à transposição do músculo glúteo superficial. É importante sondar o animal durante a cirurgia e fazer enema intestinal no dia anterior a cirurgia
Compartilhar