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Página 1 MENOPAUSA E CLIMATÉRIO CAMILA MARTINS - 110 CLIMATÉRIO E MENOPAUSA DEFINIÇÃO O climatério é um período de transição entre a menacme e o período não reprodutivo. Já a menopausa é a data da última menstruação da vida da mulher. Então, o diagnóstico de menopausa é um diagnóstico retrospectivo (na data não dá para saber se é a última). A MENOPAUSA PODE SER DEFINIDA APÓS 12 MESES DE AMENORREIA. A idade média de menopausa é de 51 anos de idade. A precoce é definida quando ocorre antes dos 40 anos e a tardia quando ocorre após os 55. Fatores que afetam a menopausa: • Genética/ antecedente familiar • Fatores ambientais (a tabagista tem a menopausa mais adiantada) • Histerectomia prévia (a irrigação ovariana também é suprida por algumas colaterais provenientes do útero) • Insuficiência ovariana primária (menopausa precoce): pode ocorrer de forma idiopática, autoimune, por síndrome de Turner, pacientes oncológicas que foram submetidas à quimiofármacos. FISIOLOGIA A cada mês, centenas de folículos são gastos, mesmo em pacientes em uso de pílula e que não ovulam. Com a redução de folículos, o FSH aumenta, fazendo com que ainda mais folículos sejam gastos. O PRINCIPAL ESTROGÊNIO DA MULHER PÓS- MENOPAUSA É E ESTRONA. Os ovários sem folículos não são capazes de produzir estrogênio, mas seu parênquima ainda é capaz de produzir um pouco de androgênios. Mesmo assim, na mulher menopausada, a maior parte dos androgênios são produzidos na adrenal. Esse androgênio, como a Androstenediona, cai na circulação e vai sofrer o processo de aromatização periférica pela aromatase. Essa aromatização, que ocorre principalmente em tecido adiposo, vai transformar a androstenediona em estrona. QUADRO CLÍNICO Nessa fase, é muito comum ter ciclos anovulatórios, espaço entre as menstruações mais alargado, até chegar em um quadro de amenorreia. Lembrando que pode-se dizer amenorreia quando uma paciente com ciclos regulares fica 3 meses sem menstruar, ou uma paciente com ciclos irregulares fica 6 meses sem menstruar. Pelos ciclos anovulatórios, é comum ter quadros de Sangramento Uterino Anormal (chega uma hora que o Página 2 MENOPAUSA E CLIMATÉRIO CAMILA MARTINS - 110 endométrio estimulado somente pelo estrogênio fica tão espesso que os vasos não aguentam, e o endométrio descama em um fluxo muito aumentado). O QUADRO CLÍNICO DA MULHER MENOPAUSADA DECORRE PRINCIPALMENTE DO HIPOESTROGENISMO. Os sintomas mais comuns são os vasomotores: • FOGACHO: é o sintoma mais comum, atingindo 80% das mulheres. Pode começar um pouco antes da menopausa e se estender por alguns meses ou anos. Ocorre devido a uma disfunção do sistema termorregulador do hipotálamo. É definido como um calor súbito, toracocefálico, e que dura de 2 a 4 minutos. Pode ser acompanhado por sudorese e palpitação. • SECURA VAGINAL: uma vagina atrófica, podendo gerar dispareunite, vaginite atrófica e aumenta as chances de infecção do trato urinário. • SNC: distúrbios do sono, depressão, ansiedade, dificuldade de concentração, prejuízo na memória. • COMPOSIÇÃO CORPÓREA: diminuição da massa muscular e aumento do tecido adiposo, além da queda de colágeno. • PERDA DE MASSA ÓSSEA: acelerada pela queda do estrogênio. • AUMENTO DO RISCO DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES: IAM e AVC (o estrogênio é um fator protetor para essas doenças) APROFUNDE O sintoma imediato logo após a queda do estrogênio é o fogacho, associado a sintomas psico-comportamentais. A médio prazo vão aparecendo os sinais de atrofia geniturinária, redução da libido, atrofia de pele e mucosas. A longo prazo temos osteoporose e maior risco de doenças cardiovasculares. Fogachos, sensação de aquecimento de face e tronco, podendo se espalhar para todo o corpo, seguida de suores frios. É uma desregulação no sistema termo- regulador. Muito comum suores noturnos. Diminuição dos esteróides sexuais: estrogênio, progesterona e androgênio. A queda dos esteróides causa um desequilíbrio nos neurotransmissores (NAD, AD, serotonina, endorfina) -> causa os fogachos. Os fogachos surgem principalmente a noite, o que causa distúrbios do sono. Além dos fogachos, o sono também é diretamente afetada pelos hormônios sexuais. Depressão/ansiedade: desordens do humor, dentre outras comorbidades, tornam-se mais comuns na perimenopausa e podem impactar o sono. Mais de 90% das mulheres com depressão maior referem distúrbios do sono. Uma complexa interação multidirecional entre o sono, ondas de calor e alterações do humor está bem estabelecida. A diminuição dos esteroides sexuais pode levar de maneira direta aos distúrbios do humor (a oscilação hormonal afeta muito o aparecimento desses sintomas, além de maneira secundária pela desordem dos neurotransmissores) Muitos fatores contribuem para a disfunção sexual feminina (como HSDD e anosgarmia): a depressão/ansiedade, a Página 3 MENOPAUSA E CLIMATÉRIO CAMILA MARTINS - 110 atrofia vaginal, irritabilidade e nervosismo e uso de drogas para controlar os outros sintomas do climatério. DIAGNÓSTICO ATENÇÃO: NÃO É NECESSÁRIO NENHUM EXAME! O DIAGNÓSTICO É CLÍNICO, COM BASE NOS DADOS DA HISTÓRIA DA PACIENTE . Os exames são desnecessários para o diagnóstico, mas podemos fazer exames relacionados à idade e à queixa da paciente - também para descartar outras causas. A tendência de uma mulher climatérica é o aumento do FSH. Podemos dosar o TSH para descartar uma amenorreia por hipotireoidismo. Quadros de hiperprolactinemia também são relacionados a amenorreia, então podemos pedir a PRL. bHCG dependendo da idade da paciente para descartar uma possível gravidez. Outros exames: • CCO (PAPANICOLAU): de acordo com o Ministério da Saúde, deve ser feito até os 64 anos. • MAMOGRAFIA: feita a partir dos 40 anos. • COLONOSCOPIA: para rastrear câncer retal. • PERFIL LIPÍDICO: de suma importância para receitar tratamentos de reposição hormonal. • GLICEMIA: avaliar riscos cardiovasculares. • DENSITOMETRIA ÓSSEA: pedir se houver fatores de risco importantes para osteoporose. • USG TV: não faz parte da rotina pelo Ministério da Saúde, mas é muito útil principalmente para pacientes que vão passar por terapia de reposição hormonal. TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL Objetivo do tratamento: alívio dos sintomas (principalmente o fogacho e a secura vaginal). O principal hormônio a ser reposto é o estrogênio: lembrar que os sintomas decorrem da queda do estrogênio. O tratamento pode ser estrogênio isolado ou associado à progesterona, para não desestabilizar o endométrio da paciente - aumento o risco de hiperplasia de endométrio. PACIENTES COM ÚTERO: ESTROGÊNIO + PROGESTERONA PACIENTES SEM ÚTERO: ESTROGÊNIO ISOLADO Vias de reposição hormonal: oral, transdérmica ou vaginal. VIA ORAL Benefícios: aumenta o HDL, diminui o LDL Desvantagens: aumenta o triglicérides e está mais associada ao tromboembolismo venoso. Por isso é muito importante pedir o perfil lipídico da paciente antes de começar o tratamento. VIA TRANSDÉRMICA Não interfere no triglicérides e tem menos associação com eventos trombóticos e AVCs. Página 4 MENOPAUSA E CLIMATÉRIO CAMILA MARTINS - 110 CONTRAINDICAÇÕES DA TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL: • Câncer de mama (passado ou atual) • Trombose atual • História de IAM ou AVC • Doença hepática ativa (a metabolização é hepática) • Sangramento Uterino Anormal sem causa definida (pode ser uma malignidade de endométrio) RISCOS DA TRH • Câncer de mama: é um risco existente principalmente para as pacientes que fazem terapia combinada. Quanto maior tempo de terapia, maior o risco.• Trombose: principalmente por via oral. BENEFÍCIOS DA TRH (Além do alívio sintomático) • Redução do risco de osteoporose; • Diminui a incidência de câncer colorretal DÚVIDAS SOBRE A TRH Ainda não se sabe se a reposição hormonal diminui o risco de doenças coronarianas, apesar de a queda do estrogênio ser um fator de risco para o desenvolvimento destas. Atenção: a TRH não é indicada para prevenção de doença cardiovascular ou osteoporose (pode ser um benefício, mas não pode ser usado como indicação). • Doenças coronarianas: hormônios não são feitos para a prevenção de doenças cardiovasculares. Em mulheres mais velhas, pode ocorrer risco de doenças coronarianas pela reposição hormonal. O uso de estrogênio em mulheres que já possuem placa de ateroma pode levar à formação de um trombo. A literatura recomenda a reposição hormonal apenas em mulheres com menos de 60 anos ou com menos de 10 anos de menopausa. CANDIDATAS IDEAIS PARA A REPOSIÇÃO HORMONAL: • Pacientes sintomáticas (principalmente com sintomas vasomotores); • Com no máximo 10 anos de menopausa ou menos de 60 anos (mas quanto antes melhor); • Considerar as contraindicações. OUTROS TRATAMENTOS • ISRS/ISRN: costumam ter uma boa resposta, principalmente na parte vasomotora • Anticonvulsivantes: análogos da GABA também mostraram bons resultados para pacientes com fogachos que não podiam usar hormônios; • Tibolona: é um esteróide sintético que tem função estrogênica, progestagênica e androgênica. Também diminui a Página 5 MENOPAUSA E CLIMATÉRIO CAMILA MARTINS - 110 osteoporose e o fogacho, mas não pode ser usado em pacientes que já tiveram câncer de mama. • Fitoterápicos: estudos inconclusivos. SÍNDROME GENITO-URINÁRIA DA MENOPAUSA Quadro de secura vaginal, dispareunia de penetração e queixas urinárias. Vaginite atrófica: o diagnóstico é clínico, no exame físico vemos a parede vaginal mais pálida, perde rugosidade e fica mais seca. Exames complementares não são necessários, mas encontramos um pH aumentado (>5), um aumento de células basais e de leucócitos. Causa secura vaginal (menor produção glandular), mucosa hiperemiada, atrófica e senil (colpite atrófica), perde a elasticidade da mucosa, contratura do intróito vulvar -> distúrbios no coito O sistema genitourinário tem a mesma origem embriológica, então também ocorrem sintomas urinários (incontinência urinária de esforço, disúria, urgência miccional, noctúria, ITU recorrente (maior vulnerabilidade na uretra, que estava atrofiada). Esses sintomas genitourinarios surgem de 5-6 anos após a menopausa. Tratamento: não precisa ser uma reposição hormonal sistêmica. Existem hidratantes que a paciente pode usar 3 vezes por semana e lubrificantes na hora da penetração. Se for uma queixa mais importante podemos deixar um estrogênio vaginal em baixa dose. Para o sistema urogenital, deve ser feito o estrogênio tópico, de preferência estriol (o estrogênio da mulher grávida, que causa embebimento da vagina, aumento da secreção e do trofismo) OSTEOPOROSE Acomete 15% das mulheres. Até os 25-30 anos prevalece o ganho de massa óssea. Entre os 30-40 essa massa se preserva. Entre os 40-50 há uma perda rápida da massa óssea, é a parte crítica. A partir dessa idade a perda continua, mas de modo mais lento. A presença de fratura de baixo impacto por si só já é fator para diagnóstico de osteoporose. O hipoestrogenismo aumenta a atividade dos osteoclastos, mas a formação está diminuída, então a arquitetura vai se modificando. Também diminui a síntese de calcitonina e diminui a hidroxilase renal (que transforma a vitamina D em sua forma ativa). As fraturas mais comuns são de vértebra, de punho, e a de maior morbidade é a de colo do fêmur. DOENÇAS CARDIOVASCULARES O estrogênio tem um efeito protetor para o SCV. Então, o hipoestrogenismo causa: • Alteração do metabolismo lipídico • Alteração do metabolismo de carboidratos e lipoproteínas • Alteração da pressão sanguínea • Alteração do sistema hemostático Página 6 MENOPAUSA E CLIMATÉRIO CAMILA MARTINS - 110 • Aumento da resistência periférica à insulina As doenças cardiovasculares são as principais causas de mortalidade da mulher na menopausa. SÍNDROME X: eletro de infarto, clínica de infarto, enzimas de infarto, mas sem obstrução. A angina é causada pela queda do óxido nítrico e aumento da andotelina, então é uma angina por vasoconstrição. PRINCIPAIS CAUSAS DE MORTALIDADE POR DOENÇA CARDIOVASCULAR: HIPERTENSÃO ARTERIAL, AVC HEMORRÁGICO (EM DECORRENCIA DA HIPERTENSÃO), AVC ISQUÊMICO, CORONARIOPATIAS. RASTREAMENTO DO CÂNCER DE MAMA Toda mulher climatérica deve fazer o rastreio, pois a faixa etária é coincidente. O câncer de mama é o câncer mais comum entre as mulheres e a principal causa de morte por câncer entre as mulheres. MAMOGRAFIA: sensibilidade e especificidade suficiente para que se obtenha uma redução na morte por câncer de mama. Controvérsias no exame em mulheres entre 40-49 anos: a radiação pode causar defeitos genéticos, além da mama ser mais densa e ser mais difícil o diagnóstico de nódulos. CÂNCER DE ENDOMÉTRIO O rastreamento de câncer de endométrio em assintomáticas não é recomendado, pela alta chance de falsos-positivos. Além disso, o câncer de endométrio possui sintomas já em suas fases iniciais. Recomendado apenas em anovuladoras crônicas, obesas, portadoras de Síndrome de Lynch (câncer colo-retal não polipóide hereditário), usuárias de tamoxifeno (fator protetor para o câncer de mama, mas ocupa o receptor de estrógeno no endométrio, provocando sua proliferação). A sensibilidade para identificação de câncer de endométrio com USG para endométrios acima de 5mm é alta. RASTREAMENTO DE CÂNCER COLO- RETAL Na população geral, pesquisar sangue oculto nas fezes. É uma pesquisa simples e que pode reduzir a mortalidade. USAR A COLONOSCOPIA EM SITUAÇÕES DE RISCO: • Antecedente pessoal de câncer retal ou pólipos • Paciente de 1º grau com CA ou pólipos antes dos 60 anos Página 7 MENOPAUSA E CLIMATÉRIO CAMILA MARTINS - 110 • Dois pacientes de 1º grau com câncer colorretal em qualquer idade • Doenças inflamatórias intestinais • Síndrome de Lynch
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