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* O aparelho urogenital compreende: rins, bexiga e órgão genital. 1. Anamnese A coleta de informações sobre o aparecimento e a evolução dos sintomas deve ser precisa e ampla o suficiente para entender tanto a doença quanto suas implicações nos outros sistemas do organismo. a) Sintomas gerais: - Febre ● Tem especial importância no trato urinário, apesar da cistite aguda simples ser uma doença afebril. ● Epidemiologicamente as infecções urinárias, inclusive na pielonefrite, a infecção bacteriana aguda do parênquima, da pelve renal e da próstata pode acarretar elevações da temperatura, às vezes acima de 39ºC. ● Os tumores renais podem cursar com febre. ● A febre pode indicar complicação de episódios de litíase urinária. - Adinamia (fraqueza muscular) e mal estar geral: Podem estar ● Presentes nas infecções crônicas do trato urinário: como na prostatite crônica e na pielonefrite crônica. ● Acompanhando tumores. ● Na insuficiência renal, tanto aguda quanto crônica. - Perda de peso (emagrecimento): ● Em crianças, investigar sempre infecção urinária e perda da função renal. ● Em adultos: pensar ainda em tumores. b) Sinais e sintomas das afecções do trato urinário alto. * Os sinais e sintomas das afecções do trato urinário alto são à nível: renal e uretral. * Os rins e ureteres estão situados no retroperitônio. Em íntima relação com o: - Diafragma, glândulas adrenais, baço, cólon descendente, cauda do pâncreas (a esquerda). - Fígado, cólon ascendente e duodeno (a direita). * Os rins, protegidos pelos últimos arcos costais e pela musculatura dorsal e paravertebral, apresentam pequena mobilidade inspiratória e de decúbito. Essa situação dificulta o exame físico, sobrepujado pela história clínica e pelos exames de imagem. As queixas podem ser intensas, mas nem sempre específicas: - Dor renal: ● Localizada no ângulo costovertebral, lateral ao músculo sacro-espinhal e abaixo da 12ª costela. ● De característica constante, intensidade variável, irradiada para dorso e flanco ipsilateral e causada por distensão súbita da cápsula renal, como na obstrução pielo-ureteral ou na pielonefrite aguda. - Cólica ureteral: ● A dor é provocada por obstrução aguda do ureter, que leva a distensão das vias urinárias e da cápsula renal associada ao espasmo da musculatura lisa pielo-ureteral. Tem caráter intermitente, intensidade variável (geralmente intensa), irradiação descendente, de posterior para anterior. ● As características da dor podem indicar o local da obstrução: ➔ Dor referida em testículo = sinaliza para obstrução do ureter superior (devido à inervação comum por T11 e T12 dessas estruturas). ➔ Dor referida em ponto de McBurney = indica obstrução do ureter médio (inervação por T12 e L1). ➔ Dor referida em parede escrotal e vulva associada à irritação vesical = sugere obstrução em ureter distal. - Náuseas e vômitos: ● As distensões da pelve ou da cápsula renal podem incitar os reflexos do rim e do intestino por meio de inervações autonômicas e sensoriais comuns aos dois sistemas, levando a piloroespasmo e alterações na tonicidade da musculatura lisa de todo o trato gastrointestinal. - Distensão abdominal e alterações do hábito intestinal: ● Devido a íntima relação dos rins com os órgãos retroperitoneais, processos inflamatórios em loja renal podem levar a irritação peritoneal e das alças, gerando os sintomas referidos. - Hematúria macroscópica: ● Está presente em tumores da via excretora e em 53% dos traumas renais. ● Pode estar presente na litíase urinária. - Sensação de massa em hipocôndrios: ● Pode ocorrer em processos infecciosos, tumores renais e grandes hidronefroses. * Antecedentes pessoais - O paciente pode apresentar: ● Diabetes: associado a infecções urinárias e insuficiência renal. ● Hipertensão arterial: pode se relacionar a alterações vasculares renais, cicatrizes renais, insuficiência renal, tumores adrenais ou renais. ● Passado de eliminação de cálculo urinário. ● Tabagismo: aumenta o risco de câncer urotelial. ● Tuberculose: pode acometer o trato urinário. * Antecedentes familiares - Manipulações de trato urinário. c) Sinais e sintomas das afecções do trato urinário baixo. * A bexiga está localizada no interior da pelve óssea, retropúbica, em íntimo contato com o diafragma urogenital. Tem seu interior facilmente atingível pela uretra - sua comunicação com o meio externo. * Os sinais e sintomas das afecções do trato urinário baixo estão presentes à nível: vesical e prostático. * As patologias da bexiga estão relacionadas com sua função: reservatório e eliminação da urina. O questionário do paciente deve incluir: - Sintomas obstrutivos: ● São causados por obstrução infravesical - cálculo vesical ou uretral, estenose de uretra, hiperplasia mioadenomatosa da próstata, etc. ➔ Jato fraco = Causado por compressão uretral. ➔ Esforço miccional = Necessidade de manobra de valsalva para aumentar a pressão vesical. ➔ Jato interrompido = O detrusor é incapaz de manter o aumento da pressão miccional até o fim da micção. ➔ Hesitância = O detrusor leva mais tempo para produzir o aumento de pressão necessária para superar a resistência uretral. ➔ Gotejamento miccional = Também causado por pressão do detrusor não sustentada. ➔ Sensação de esvaziamento vesical incompleto = Gerada por resíduo urinário elevado ou por tecido prostático, localizado no colo vesical, fazendo válvula. ➔ Incontinência paradoxal = Perda involuntária de urina em gotas, que ocorre nas retenções crônicas e nas bexigas flácidas, quando a pressão intravesical se iguala a resistência uretral. - Sintomas irritativos: ● Associados principalmente a infecções de urina, mas podem ser causados também por reação actínica pós-radioterapia, cistite intersticial, prostatite, cálculo ureteral distal ou cálculo vesical, corpo estranho vesical, transtornos psicóticos, etc. ➔ Urgência = Vontade premente de urinar por instabilidade ou hiperexcitabilidade do músculo detrusor. ➔ Incontinência de urgência = Perda involuntária de urina, às vezes em jato acompanhando a urgência miccional e também devido a contração do detrusor não inibida. ➔ Incontinência de estresse = Perda involuntária de urina durante esforço físico, associada a lesões da musculatura esfincteriana. ➔ Polaciúria = Decorrente do esvaziamento vesical incompleto, com redução do intervalo entre as micções; por hipersensibilidade vesical em processos inflamatórios vesicais ou redução da capacidade vesical, em bexigas contraídas (por tuberculose, cistite actínica, cistite intersticial, bexiga espástica, etc). ➔ Dor suprapúbica = Por contrações dissinérgicas, onde não há relaxamento adequado do esfíncter, ocorre devido à presença de cálculo urinário, infecção ou ainda hiperdistensão vesical. ➔ Disúria = É a queimação durante a micção. Acompanha as cistites, o tumor vesical e o corpo estranho intravesical. É referida na porção distal da uretra feminina e na uretra glandular do homem. ➔ Nictúria = Diminuição da capacidade vesical funcional (por crescimento intravesical da próstata ou por aumento da excitabilidade do detrusor a alterações mínimas do volume vesical); Aumento de produção urinária à noite (por queda da capacidade de concentração urinária pelos rins, ingestão excessiva de líquidos a noite e de alimentos irritantes a bexiga, mobilização de líquidos ao decúbito em paciente com insuficiência cardíaca, etc). d) Sinais relacionados ao trato urinário. * Pneumatúria = Eliminação de gás durante a micção. Indicativo de fístula entre o trato intestinal e o urinário. * Hematúria = Está relacionado com às doenças inflamatórias ou infecciosas, neoplásicas e litiásicas. ➔ A topografia pode ser identificada pelas características do sangramento. ➔ Hematúria de jato inicial = Indica problema uretral. ➔ Hematúria de jato final = Aponta para o colo vesical e a próstata como sede de sangramentos. ➔ Hematúria total (durante toda a micção) = Tem início na bexiga e trato urinário superior. * Enurese = micção normal que ocorre em momento inapropriado (durante o sono).Pode ser primária e secundária a outras patologias urinárias e sistêmicas. * O paciente também pode relatar mudanças no desempenho de suas atividades diárias, como: - Limitações na ingestão de líquidos, principalmente a restrição antes de dormir. - Não conseguir dirigir por mais de duas horas sem parar. - Restrição de passeios a locais sem banheiro. - Restrição de atividades esportivas e sociais. - Alterações no padrão de sono. e) Sinais e sintomas das afecções da genitália masculina * Os sinais e sintomas das afecções da genitália masculina ocorrem a nível de testículos e pênis. * Os genitais são sede de patologias de diferentes etiologias: Infecciosa, parasitária, neoplásica, traumática, vascular, malformações. As principais queixas são: - Lesões cutâneas: ● Ulcerações, cancro duro, cancróide, herpes simples = Causadas por doenças transmissíveis. ● Nodulações = causadas por molusco contagioso. ● Verrugas = causadas por condiloma. ● Tumefação e dor genitália = na presença de foliculites e cistos sebáceos. ● Discromias = alterações na coloração da pele resultantes da diminuição (hipomelanoses) ou do aumento (hipermelanoses) da melanina e da deposição de substâncias endógenas ou exógenas na derme (hipercromias). - Corrimento uretral - Perda total ou parcial da capacidade de ereção. - Curvatura peniana excessiva. - Dor à ereção. - Dor perineal na ejaculação. - Ejaculação rápida. - Excesso de prepúcio e dificuldade de exposição da glande. - Distopia (localização anômala de um órgão) de meato uretral. - Dor testicular aguda. - Distopia testicular. - Infertilidade conjugal. - Alteração do volume escrotal. - Massas intra-escrotais. - Hemospermia (ejaculação com sangue). 2. Exame físico a) Rins * Inspeção: - Alguns achados durante a inspeção sugerem algumas patologias: ● Massa no abdome superior, geralmente amolecida = Sugere hidronefrose ou tumores císticos renais. ● Massa no ângulo costovertebral, geralmente endurecida = Neoplasias renais ou infecções perinéfricas. ● Edema de pele em região lombar = Abscesso perinéfrico. * Ausculta - Achados de ausculta: ● Sopro sistólico em região costovertebral = É indicativo de estenose ou aneurisma da artéria renal. ● Sopro nas artérias femorais (paciente impotente) = É indicativo de síndrome de Leriche. * Percussão - Achados patológicos: ● Delimita o rim muito aumentado de tamanho e de consistência mole, que não é palpado = é indicativo por ex. de hidronefrose. ● Avalia a massa de crescimento progressivo em flanco após trauma renal (hemorragia progressiva) quando a dor e o espasmo muscular impedem a palpação apropriada. ● Sinal de Giordano = a pesquisa de dor pelo punho-percussão das lojas renais para diagnóstico de processos inflamatórios agudos renais e perirrenais. * Palpação: - Achados patológicos: ● Aumento do volume renal = Indicativo de hipertrofia compensatória, tumor renal, pielonefrite crônica. ● Massa em loja renal = Tumor retroperitoneal, baço, lesão intestinal (ex: tumor, abscesso), lesão da vesícula biliar, cisto pancreático, hidronefrose, tumor, cisto renal, doença policística. b) Bexiga * Inspeção - Achado patológico: abaulamento no hipogástrio. * Palpação - Método ideal: palpação bimanual (abdominorretal ou abdminovaginal). - Achados patológicos: ● Massas sólidas em tumores. ● Massas císticas em bexigomas. * Percussão - A bexiga só é percutível após a cheia, com pelo menos 150ml. Se ela está sendo muito percutível pode ser indicativo de bexiga flácida crônica. c) Pênis * Inspeção - Tamanho do pênis = micropênis ou macropênis. - Curvatura peniana = Epispádia, hipospádia ou doença de Peyronie. - Prepúcio = Fimose, parafimose, postite e frênulo bálano-prepucial curto. - A glande = Observar se há a presença de tumores, doenças sexualmente transmissíveis (úlceras, vesículas e verrugas), flogismo (balanites), discromía. - O meato uretral = A posição (glandular, epispádia, hipospádia) e a sua forma (estenótico, megameato). - O jato urinário = Assistir o paciente durante a micção para busca de sinais indiretos de obstrução infravesical (afilamento do jato). * Palpação - Achados patológicos: ● É possível perceber: ➔ Corpo cavernoso: placa fibrosa e curvatura na doença de Peyronie. ➔ Corpo esponjoso: endurecimento doloroso em periuretrites secundárias a estenose ou cálculos uretrais. d) Testículo * Inspeção e palpação - Avaliação dermatológica ● Analisa-se a presença de cistos sebáceos, infecções e inflamações de parede escrotal (fúngicas, foliculites, etc), parasitas, hemangiomas de pele, edema de pele escrotal. ● Distopia testicular =Testículos identificados sempre fora da bolsa testicular, encontram-se no canal inguinal. ● Atrofia testicular = Testículo de tamanho menor que o esperado para a idade. Pode ser por consequência de torção testicular ou orquite. ● Tumor = Apresenta-se como crescimento indolor do testículo e massa endurecida e irregular à palpação. ● Varicocele = Massa de veias dilatadas do cordão que aumenta de volume à manobra de Valsalva e diminui de volume ao decúbito. Pode ser classificada: ● Torção de testículo = Quadro clínico súbito, não relacionado a esforço físico, com dor de forte intensidade em testicular unilateral. Ao exame, o testículo acometido está mais alto que contralateral, fica doloroso, edemaciado, com difícil palpação dos elementos do cordão. ➔ Manobra de Prehn ➔ Sinal de Angell - Manobra de de Landivar: ● Hérnia inguinal direta ● Hérnia inguinal indireta e) Reto * Toque retal - Achados patológicos: ● A fraqueza muscular ou um esfíncter anal espástico, sugere alterações semelhantes nos esfíncteres urinários e detrusor e pode indicar diagnóstico de doença neurogênica. ● A palpação do reto inferior avalia a presença de estenose, hemorróidas internas, criptite, fístulas retais, pólipos da mucosa e câncer retal. - Indicações: ● Diagnósticos diferenciais: ➔ Prevenção do câncer de próstata. ➔ HPB (próstata aumentada) ➔ Câncer de próstata – diagnóstico e estadiamento. ● Clínico Patologias: ➔ Inflamatórias da próstata. ➔ Trauma. ➔ Avaliação da tonicidade esfincteriana. ➔ Auxílio na SVD (sonda vesical de demora). * Orientações: I. Sempre no final do exame físico. II. Luva de procedimento. III. Lubrificante. IV. Palma da outra mão sobre o abdome do paciente. * Inspeção - Cuidados na introdução digital - Características. ● Avaliação de toda porção posterior prostática. ● Tamanho. ● Consistência. ● Sensibilidade. - Retirada do dedo - Material para limpeza do paciente. 3. Exames subsidiários a) Exames laboratoriais - Exame de urina: ● pH urinário. ● Proteinúria. ● Glicosúria. ● Hematúria. ● Leucocitúria > 5-8 leu/campo. ● Cilindrúria. ● Cultura de urina. ● Citologia oncótica de urina. ● Ácido úrico e cálcio na urina de 24h. - Função renal: ● Creatinina. ● Clearance de creatinina. ● Uréia - Hemograma. - PSA total e livre (quando PSA total > 2.5ng/mL). - Sorologia ● DST (hepatite B, Sífilis, Herpes, HIV). - Cultura de raspado uretral e análise de secreção uretral ● Utilizar na presença de sintomas urinários irritativos sem causa definida ou quando houver secreção uretral. b) Exame de imagem - Radiografia simples de abdômen e pelve - Urografia excretora - Ultrassom (exame não invasivo e de baixo custo). - Tomografia de Rim – Tumor renal / Ressonância Magnética - Cistoscopia - Ureteroscopia c) Estudo urodinâmico - Exame funcional, com estudo do funcionamento vesical. - Utiliza-se na obstrução infravesical, diabetes, doença neurológica, cirurgia pélvica ou trauma pregresso, incontinência urinária. - Resultados obtidos: avalia a capacidade, complacência e sensibilidade vesical, presença de contrações involuntárias, avalia a força da musculatura detrusora vesical, presença de dissinergia vesico-esfincteriana.
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