Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TEORIA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS LEITURA AULA 3 (18/08/2021) Angell, Norman. A Grande Ilusão p. 3-10; 51-65; 269-301 (páginas do livro, não do pdf) PARTE I, CAP I – DEFESA DA GUERRA SOB O ASPECTO ECONÔMICO (P. 3 – P. 10). De início, logo no título pode-se inferir que o conteúdo do primeiro capítulo será a respeito de uma visão racionalista sobre a guerra, e por que motivo os esforços em favor da paz sempre fracassam. Angell defende a ideia de que trata-se de uma falácia a premissa da política europeia de que a estabilidade política e financeira de um Estado depende integralmente de seu poderio militar. Dessa forma, é proposta uma situação no contexto da Primeira Guerra Mundial (já que o livro foi escrito em 1910), na qual há um cenário conflituoso entre Inglaterra e Alemanha em que ambas estavam irredutíveis quanto a colocarem-se uma a mercê da outra. De modo que são postas a mesa duas soluções plausíveis para o problema: a primeira equivale a uma visão mais idealista de desarmamento geral, ou ao menos limitado de ambos os países. A segunda diz respeito a uma visão mais pragmática, que diz respeito a um conflito armado direto para reduzir uma das potências a inferioridade. Nesse segundo cenário, no entanto, o problema seria resolvido somente temporariamente, visto que há um impulso natural, que confere um equilíbrio relativo a situação, para que o processo conflituoso se repita novamente. Angell apesar de não defender a ideia da guerra, aponta o conflito armado direto é nada menos do que uma das leis da vida, de modo que, se qualquer um dos dois países aceitarem a primeira solução, estarão agindo contra os instintos naturais do homem e colocando em risco sua própria segurança nacional. Para sustentar seu contra- argumento, o autor baseia-se ainda na teoria do Darwinismo em que na natureza o mais forte é quem sobrevive e a transpõe para o cenário internacional: “Os ensinamentos do século XIX sobre a evolução da vida no planeta contribui para apoiar essa filosofia da luta pela vida. A sobrevivência dos mais capazes, a extinção dos mais fracos, a lei de que toda vida, consciente ou inconsciente, é marcada pela luta, tudo isso desfila diante dos nossos olhos. O sacrifício imposto pelos armamentos é o preço pago pelas nações por sua segurança e seu poder político”. (p. 4) “Diante de uma situação como essa, impõe-se a ideia de que a motivação ordinária do pacifista perde toda a força, e por uma razão bem simples: ele é o primeiro a aceitar uma premissa indicada, a saber, que o vencedor da luta pela supremacia política adquire uma vantagem material sobre o vencido (p. 5-6)”, isto é, aquele que vence o conflito por meio da confrontação armada direta acaba possuindo vantagens que não seriam possíveis caso a solução escolhida fosse um acordo pacifista. Desse modo continua: “Naturalmente, não se pode negar que o roubo traz vantagens materiais para o ladrão. O que dizemos é que, se os meliantes dedicassem ao trabalho honrado o tempo e a energia que devotam a roubar-se mutuamente, seu ganho efetivo mais do que compensaria seu butim ocasional. (p. 6)” Ou seja, a metáfora proposta pelo autor nos leva ao entendimento de que nem a primeira solução e nem a segunda são ideais para a solução do conflito inicial, visto que no primeiro caso, depois de algum tempo, o conflito armado volta a se repetir, e no segundo, ao escolher o desarmamento mútuo, ambas as potências perdem vantagens materiais. Tais perdas poderiam ser evitadas caso ambas as partes decidissem cooperar uma para com a outra a fim de chegarem a interesses nacionais mútuos relacionados ao bem estar. É possível, portanto, identificar que o autor critica os “advogados da paz” e seus argumentos dotados de contradições e utopias, mas ao mesmo tempo tece críticas quanto aqueles que tem a guerra como única solução possível para a questão entre Inglaterra e Alemanha. Angell expõe o argumento daqueles que são a favor da guerra, que alegam que da mesma forma que um trabalhador comum se sujeita a riscos inerentes a seu ofício a fim de enriquecer e melhorar sua situação de vida; o estadista por sua vez, a fim de melhorar a situação política e econômica do país também deve sujeitar-se aos sacrifícios da guerra. Os pacifistas por sua vez, defendem que nada deve ser tomado pela força. O homem comum, por outro lado, prefere conformar-se com a realidade do mundo em que existe a guerra, e sujeitar-se a seus riscos, visto que entende que o predomínio militar leva a vantagens reais e tangíveis, que podem se traduzir em bem estar social, oportunidades comerciais e mercados mais amplos. O autor coloca que por essa mesma razão, a população civil europeia da época (1910) fomentava o aumento dos gastos dos governos com armamento. “Naturalmente, diante da alternativa de devorar ou ser devorado, não pode subsistir qualquer dúvida” (p. 10). PARTE I , CAP V – O COMÉRCIO EXTERIOR E A FORÇA MILITAR (P. 51 – P. 65). Neste capítulo, o autor inicia dizendo quais seriam as consequências da guerra para a Alemanha em termos de comércio exterior, caso optasse por aniquilar a Inglaterra. Suas conclusões se baseiam nos fatos de que em primeiro lugar só seria possível que a Alemanha destruísse o comércio inglês, caso destruísse sua população, e que se o fizesse, estaria também destruindo seu principal mercado consumidor e assinando sua própria sentença de fracasso, já que os ingleses são os principais compradores dos alemães. O autor conclui, portanto, que apesar do que dizem os políticos, a prosperidade de uma nação já não está mais atrelada a seu poder naval e militar, mas sim de fatores como disciplina social, riqueza natural do solo, e inumeráveis desdobramentos comerciais e financeiros. (p. 54) “No fundo os homens continuam prontos, hoje como em qualquer época precedente, a apoderar-se de bens que não lhes pertencem e que não adquiriram legitimamente.” (p.58). PARTE 3, CAPÍTULO II – ARMAMENTOS, MAS NÃO SÓ ARMAMENTOS (P. 269 – P. 277). “O que determina a conduta dos homens não são os fatos, mas a ideia que eles fazem desses fatos”. (p.269) Neste capítulo pela epígrafe é possível compreender que o autor discutirá o que acontecerá caso as duas partes concentrem suas energias somente no armamentismo e nada mais. Para o autor, a mudança de conduta se seguirá tão somente depois da mudança de opinião, de modo que, para que exista uma mudança política na Europa, é necessário, portanto, que exista uma mudança nas ideias prevalecentes, que só poderá ocorrer quando as energias humanas deixarem de concentrar-se no aprimoramento de instrumentos bélicos. A força tende a extinguir a razão de maneira progressiva e cumulativa, trata-se de um ciclo vicioso. Se os países iniciassem uma corrida armamentista, onde o temor é criado a partir de mais poder do outro, eles se perderiam nessa corrida enganosa e seria cada vez mais necessário aumentar os gastos públicos. Angell acredita, que o acúmulo de força para chegar a solução de um conflito entre potências se traduz na opção mais prática, pra não dizer “mais simples”. No entanto, defende que para chegar a uma solução correta e com menos perdas para as partes envolvidas, o ideal é que se utilize da razão. Por outro lado, pensa-se que o desarmamento integral, sem levar em conta o modo de agir dos outros países ao redor também é inútil e ingênua. Faz-se necessário que toda uma crença política ao redor da Europa inteira seja modificada para que assim seja possível um cenário sem guerras. “É evidente, que, enquanto prevalecer na Europa, quase que universalmente, o equívoco que vê vantagens materiais para o conquistador na sujeição política e militar de outros países, corremos todos o perigo de sofrer uma agressão.” (p. 271) Nesse sentido, voltando ao ideal da razão, o autor sugere que é necessário equilibrar as duas metades do problema:“medidas de educação e de reforma política juntamente com meios de defesa suficientes para opor-se ao impulso agressivo subsistente. Dedicar-se somente a um dos lados da questão, excluindo o outro, é tornar o problema insolúvel. ” (p. 272) PARTE 3, CAPÍTULO III – SERÁ POSSÍVEL A REFORMA POLÍTICA? (P. 279 – P. 289). Angell começa o referido capítulo sumarizando todas as discussões ao longo do texto (p.279): 1) A necessidade da defesa provém da existência de um motivo para o ataque; 2) Esse motivo, por conseguinte, é parte do problema da defesa; 3) Todos os povos da Europa comprometidos com esse empenho, têm a capacidade de acumular armamentos, não podemos pensar uma solução para o problema da paz e da guerra somente pelos meios armamentistas, é necessário chegar até a raiz da provocação, o motivo da agressão; 4) Se esse motivo emana de um apreciação justa dos fatos, se o fator determinante do bem estar e do progresso de uma nação é realmente o poder para que se consiga, com o emprego da força, vantagens sobre as outras nações, então a situação atual de rivalidade armada, com a possibilidade da guerra, é o estado natural e inevitável do mundo; 5) Por outro lado, se essa concepção é incorreta, então nosso progresso no sentido de encontrar uma solução para o problema se expressará no reconhecimento progressivo do erro concebido por parte da opinião pública europeia. O autor discorre sobre como os homens são movidos pela paixão, ao invés de serem movidos pela razão. E que esta, (a paixão), determina a energia da conduta em um determinado sentido. E dá o exemplo: “João vê ao longe Pedro, seu inimigo mortal, e sente que seu ódio se exala, suscitando no seu ânimo um pensamento homicida. Ao aproximar-se percebe que não era Pedro que via, mas Mario, um vizinho inofensivo. Acalma-se, sem que sua natureza tenha mudado, mas ao perceber um simples fato, mudou a direção dos seus impulsos. Em resumo, o que propomos é apenas esclarecer às nações que elas estão confundindo Mario com Pedro.” (p. 280) “O conflito físico marca o ponto em que a razão deixou de surtir efeito; os homens se batem quando não consegue chegar a um “entendimento”. Nos treveremos assim a negar a importância do entendimento correto das coisas?” (p.280) “Os homens são criaturas selvagens e sanguinárias.... e quando o seu sangue ferve, lutam por uma palavra ou sinal, ou então por uma Ilusão”. (p.280) (Nesse trecho explica-se o título da obra). Blatchford um jornalista da época que debate com Angell acerca das suas ideias reitera o seguinte: Angell rebate, que os críticos a sua obra, assim como Blatchford, deveriam ter compreendido que o objetivo central do referido livro é demonstra a futilidade da guerra, e o fato de que a ignorância humana acerca do assunto torna a guerra não só possível, como também muito provável. “Há apenas algumas dezenas de pessoas prontas a empreender com o mesmo empenho essa outra parte da defesa nacional, a única que poderia sustentar com eficácia a segurança do país, embora lance mão de meios invisíveis: a racionalização das ideias.” Portanto, respondendo a pergunta que dá título ao capítulo, a reforma política só se fará possível, uma vez que os homens todos em conjunto, estiverem dispostos a trabalhar os fatos pela razão. PARTE 3, CAPÍTULO IV – OS MÉTODOS (P. 291 – P. 301). “Enquanto não mudarem suas ideias sobre o que a guerra pode conseguir no campo da economia e do comércio, o homem comum não poderá conceber que seus inimigos presumíveis se inclinem a converter o ideal da paz em uma norma de conduta. (...) O ideal da paz se apresenta (para o patriotista, aquele que defende a guerra) sob a forma de uma exigência que debilita as suas defesas, sem outra garantia a não ser a suposição de que seu rival/inimigo terá a benevolência de não atacá-lo.” O autor argumenta também que, enquanto os líderes não compreenderem o que a guerra pode fazer no campo da economia e do comércio, o homem comum não poderá esperar que seus inimigos se disponham a converterem ao ideal de paz, para conduzirem suas atitudes. Ele coloca, que a questão da cordialidade, boa intenção e amizade nas relações internacionais são importantes para o contato entre homens civilizados, mas essas características nunca resolveram qualquer diferença. Por esse motivo, se faz necessário que tais características estejam veiculadas a percepção real pelas duas partes daquilo que está em jogo com os vínculos internacionais e os fatores que os regem.
Compartilhar