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Wellington Rocha p5 TUTORIA 3- MÓDULO 2 Doença inflamatória intestinal Objetivo 01: Definir DII e identificar suas principais apresentações. (Artigo/ Harrison/ Medcurso) A doença inflamatória intestinal (DII) é uma condição intestinal crônica de mediação imune. A retocolite ulcerativa (RCU) e a doença de Crohn (DC) são os dois tipos principais de DII. Doença de Crohn (DC) e retocolite ulcerativa (RCU) são as principais doenças inflamatórias intestinais (DII). Elas ocorrem a partir da interação de fatores genéticos, microbiota intestinal e imunorregulação de mucosa. A DC tem origem desconhecida, multifatorial, com acometimento assimétrico e transmural de qualquer porção do tubo digestivo, da boca ao ânus. Apresenta-se em três formas: inflamatória, fistulosa e fibroestenosante. A RCU é doença idiopática com episódios recorrentes de inflamação e que acomete predominantemente a camada mucosa do reto e também várias porções do cólon, em geral de forma contínua. Atualmente, é categorizado um outro subgrupo de DII: a colite indeterminada (CI), cuja definição é uma colite grave com características sobrepostas de RCU e DC. -A RCU acomete a mucosa do cólon e reto, enquanto a DC pode ocorrer em qualquer parte do tubo digestivo, da boca ao ânus, com predileção pela região ileal ou ileocecal, agride toda a parede intestinal (inflamação transmural) e gera reação granulomatosa não caseificante. -Acredita-se que a etiopatogenia da doença, apesar de ainda não bem esclarecida, relaciona-se à resposta imunológica anormal à microbiota bacteriana da luz intestinal, que estaria associada a alterações na função de barreira da mucosa. Objetivo 02: Expor epidemiologia, fisiopatologia, QC, diagnóstico, diagnóstico diferencial e tratamento das DII. (Artigo/ Harrison/ Medcurso) EPIDEMIOLOGIA: -O principal fator de risco comprovado para ambas as DII é uma história familiar positiva (presente em 10-25% dos pacientes). A incidência nos parentes de primeiro grau de um indivíduo acometido chega a ser 100 vezes mais alta do que na população geral. -RCU mais em homens e DC mais em mulheres. Mais comum nos judeus. ETIOLOGIA E PATOGÊNESE: -Uma hipótese de consenso é de que cada um desses três compartimentos do hospedeiro que funcionam em conjunto como um “supraorganismo” integrado (microbiota, CEIs e células imunes) é afetado por fatores específicos ambientais (p. ex., tabagismo, A amamentação também pode proteger contra o desenvolvimento de DII. A gastrenterite infecciosa com patógenos (p. ex., Salmonella, Shigella, Campylobacter spp., Clos tridium difficile) aumenta o risco de DII em duas a três vezes. Wellington Rocha p5 antibióticos, enteropatógenos) e genéticos que, em um hospedeiro suscetível, rompem de forma cumulativa e interativa a homeostase, culminando em um estado crônico de inflamação desregulada; isso é a DII. -A DII é atualmente considerada uma resposta imune inapropriada à microbiota comensal endógena (autóctone) no intestino, com ou sem algum componente de autoimunidade. -Na maioria dos pacientes a DII é considerada um distúrbio poligênico, que dá origem a múltiplos subgrupos clínicos na RCU e DC. -Os GWASs identificaram até o momento 163 loci genéticos, com 100 destes estando associados com ambos os fenótipos da doença. Os restantes são específicos para DC (30 loci) ou RCU (20 loci). Essas semelhanças genéticas são responsáveis pela superposição da imunopatogênese e, como consequência, pelas observações epidemiológicas de ambas as doenças nas mesmas famílias e respostas semelhantes às terapias. -O estabelecimento e manutenção da composição e função da microbiota intestinal está sob controle do hospedeiro (p. ex., respostas imunes e epiteliais), do ambiente (p. ex., dieta e antibióticos) e provavelmente de fatores genéticos (p. ex., NOD2). -Microbiota comensal em pacientes com RCU e DC é demonstravelmente diferente daquela de pessoas não acometidas, a presença de microrganismos que desencadeiam a doença (p. ex., proteobactérias como a Escherichia coli enteroinvasiva ou aderente) e para os quais a resposta imune é direcionada, e/ou a ausência de microrganismos que reduzem a inflamação (p. ex., Firmicutes como o Faecalibacterium prausnitzii). Muitas das alterações na microbiota comensal ocorrem como consequência da inflamação. -A tolerância oral pode ser responsável pela falta de responsividade imune a antígenos dietéticos e à microbiota comensal no lúmen intestinal. Na DII, essa supressão da inflamação é alterada, resultando em inflamação descontrolada. Os mecanismos dessa imunossupressão regulada não estão totalmente elucidados. -Tanto na RCU quanto na DC, uma via inflamatória tende, portanto, a emergir da predisposição genética que está associada ao reconhecimento e reatividade epiteliais inapropriados do sistema imune inato a bactérias comensais que secretam mediadores inflamatórios, junto com vias reguladoras inadequadas que levam à ativação das células T CD4+ e CD8+ na lâmina própria, as quais secretam quantidades excessivas de citocinas inflamatórias em relação às citocinas anti-inflamatórias. Algumas citocinas ativam outras células inflamatórias (macrófagos e células B), e outras atuam indiretamente, recrutando outros linfócitos, leucócitos inflamatórios e células mononucleares da corrente sanguínea para o intestino, por meio de interações entre receptores de guiamento. -As citocinas inflamatórias, como a IL-1, a IL-6 e o TNF, exercem efeitos diversificados sobre os tecidos. Promovem a fibrogênese, a produção de colágeno, a ativação das metaloproteinases teciduais e a produção de outros mediadores inflamatórios; ativam também a cascata da coagulação nos vasos sanguíneos locais (p. ex., produção aumentada do fator de von Willebrand). -PATOLOGIA: *RETOCOLITE ULCERATIVA: -É uma doença da mucosa, que costuma acometer o reto e estende-se proximalmente até atingir parte do cólon ou a sua totalidade. A disseminação proximal ocorre em continuidade, sem qualquer área de mucosa preservada. É importante obter múltiplas biópsias da mucosa aparentemente não acometida, tanto proximal quanto distal, durante a endoscopia. Uma ressalva é o fato de que o tratamento clínico efetivo pode modificar o aspecto da mucosa, de modo que áreas preservadas ou até mesmo Wellington Rocha p5 o cólon em sua totalidade podem ter aspecto microscópico normal. Com inflamação leve, a mucosa fica eritematosa e possui superfície delicadamente granulosa que se assemelha a uma lixa. Na doença mais grave, a mucosa é hemorrágica, edematosa e ulcerada. Na doença de longa evolução, pólipos inflamatórios (pseudopólipos) podem estar presentes como resultado de regeneração epitelial. Os pacientes com doença fulminante podem desenvolver uma colite tóxica ou megacólon em que a parede intestinal se torna mais fina, e a mucosa apresenta-se extremamente ulcerada, o que pode resultar em perfuração. - O processo fica limitado à mucosa e à submucosa superficial, sem acometimento das camadas mais profundas, exceto na doença fulminante. A arquitetura das criptas no cólon é distorcida; as criptas podem ser bífidas e seu número reduzido, na maioria das vezes com uma lacuna entre as bases das criptas e a muscular da mucosa. Segundo, alguns pacientes possuem plasmócitos basais e múltiplos agregados linfoides basais. Pode haver congestão vascular mucosa, com edema e hemorragia focal, assim como infiltrado de células inflamatórias de neutrófilos, linfócitos, plasmócitos e macrófagos. *DOENÇA DE CROHN: -A DC pode afetar qualquer parte do trato gastrintestinal (GI) desde a boca até o ânus. Ao contrário da RCU, que acomete quase sempre o reto, este segmento frequentemente é poupado na DC. A DC é segmentar com áreas poupadas no meio do intestino doente. Fístulas perirretais, fissuras,abscessos e estenose anal estão presentes em um terço dos pacientes com DC, sobretudo naqueles com envolvimento colônico. Embora raramente, a DC pode acometer também o fígado e o pâncreas. Diferentemente da RCU, a DC é um processo transmural. Ao exame endoscópico, ulcerações aftosas ou pequenas e superficiais caracterizam a doença leve; na doença mais ativa, ulcerações estreladas se fundem longitudinal e transversalmente a fim de demarcar ilhas de mucosa, com bastante frequência histologicamente normais. Esse aspecto de “calçamento” é característico da DC tanto ao exame endoscópico quanto na radiografia baritada. Como acontece na RCU, podem formar-se pseudopólipos na DC. -As lesões mais precoces são ulcerações aftoides e abscessos das criptas focais com agregados indefinidos de macrófagos que formam granulomas não caseosos em todas as camadas da parede intestinal. Outras características histológicas da DC incluem agregados linfoides submucosos ou subserosos, em particular longe das áreas de ulceração, áreas poupadas macroscópicas e microscópicas, bem como inflamação transmural acompanhada por fissuras que penetram profundamente na parede intestinal e, às vezes, formam trajetos fistulosos ou abscessos locais. QUADRO CLÍNICO: *RETOCOLITE ULCERATIVA: -As principais sintomas de RCU são diarreia, sangramento retal, tenesmo, eliminação de muco e dor abdominal em cólica. A intensidade dos sintomas se correlaciona com a extensão da doença. Intervalos de período sintomático e assintomático. -Os pacientes com proctite costumam eliminar habitualmente sangue vivo ou secreção mucossanguinolenta, tanto misturada com fezes quanto formando estrias sobre a superfície de fezes normais ou duras. Relatam também tenesmo ou urgência com sensação de evacuação incompleta, porém apenas raras vezes referem dor abdominal. Com a proctite ou proctossigmoidite, o trânsito proximal torna-se mais lento, o que pode ser responsável pela constipação observada comumente nos pacientes com doença distal. Outros sintomas na doença moderada a grave incluem anorexia, náuseas, vômitos, febre e redução ponderal. -Quando o processo está confinado ao retossigmoide, as fezes estão normais ou endurecidas, podendo haver constipação. Foi demonstrado que quando a inflamação se restringe ao lado esquerdo do cólon, ocorre um alentecimento na peristalse do cólon direito, o que explicaria esta constipação. Wellington Rocha p5 -A doença ativa pode estar associada a uma elevação nos reagentes da fase aguda (proteína C-reativa [PCR], contagem de plaquetas, velocidade de hemossedimentação [VHS]), assim como a uma redução da hemoglobina. A lactoferrina fecal é um marcador altamente sensível e específico para a detecção de inflamação intestinal. -A anormalidade laboratorial mais comum é a anemia ferropriva por perda crônica de sangue. Colites extensas pode ter hipoalbuminemia devido perda de proteína à exsudação. Junto à redução na síntese hepática de albumina, comumente vistas nos estados inflamatórios sistêmico. -O diagnóstico baseia-se na história (anamnese) do paciente; nos sintomas clínicos; no exame de fezes negativo para bactérias, toxina de C. difficile, bem como ovos e parasitas; no aspecto sigmoidoscópico; e na histologia dos espécimes de biópsias retal ou colônica. A alteração radiográfica mais precoce da RCU, visualizada no enema baritado, é uma delicada granularidade mucosa. Com o aumento progressivo da gravidade, a mucosa torna-se espessada, e acabam sendo visualizadas úlceras superficiais. A tomografia computadorizada (TC) ou a ressonância magnética (RM) não são tão úteis quanto a endoscopia para fazer o diagnóstico de RCU, porém os achados típicos incluem ligeiro espessamento mural (<1,5 cm), ausência de homogeneidade na densidade da parede, ausência de espessamento do intestino delgado, maior quantidade de gorduras perirretal e pré-sacral, aspecto característico em alvo do reto e adenopatia. -A hemorragia maciça ocorre nas crises mais graves da doença em 1% dos pacientes, e o tratamento da doença costuma interromper o sangramento. O megacólon tóxico é definido como um cólon transverso ou direito com diâmetro > 6 cm, com desaparecimento das haustrações nos pacientes com ataques graves de RCU. A perfuração é a mais perigosa das complicações locais, e os sinais físicos de peritonite podem não ser óbvios, sobremaneira se o paciente estiver recebendo corticosteroides. Os estreitamentos benignos podem formar-se a partir da inflamação e fibrose da RCU. Ocasionalmente, os pacientes com RCU desenvolvem fissuras anais, abscessos perianais ou hemorroidas, porém a ocorrência de lesões perianais extensas deve sugerir a DC. *DOENÇA DE CROHN: -ILIOCOLITE: História crônica de episódios recorrentes de dor no quadrante inferior direito e diarreia. Em geral, a dor manifesta-se como cólica; ela precede e é aliviada pela defecação. Costuma ser observada uma febrícula. Os altos picos de febre sugerem a formação de um abscesso intra-abdominal. A perda de peso é comum – 10 a 20% do peso corporal – e manifesta-se como consequência de diarreia, anorexia e medo de comer. Pode ser palpada massa inflamatória no quadrante inferior direito do abdome. A extensão da massa pode causar a obstrução do ureter direito ou inflamação vesical, que se manifestam por disúria e febre. Os episódios agudos de obstrução também ocorrem, sendo desencadeados por inflamação e espasmo intestinais ou, ocasionalmente, pela impactação de alimento não digerido ou da medicação. Esses episódios costumam melhorar com líquidos intravenosos e descompressão gástrica. -JEJUNOILEITE: A doença inflamatória extensa está associada à perda da superfície digestiva e absortiva, resultando em má absorção e esteatorreia. As deficiências nutricionais também podem resultar de ingestão precária assim como de perdas entéricas de proteínas e outros nutrientes. A má absorção intestinal pode causar anemia, hipoalbuminemia, hipocalcemia, hipomagnesemia, coagulopatia e hiperoxalúria com nefrolitíase nos pacientes com um cólon intacto. A pelagra secundária à deficiência de niacina pode ocorrer na doença extensa do intestino delgado, e a má absorção de vitamina B12 pode resultar em anemia megaloblástica e sintomas neurológicos. Outros nutrientes importantes para avaliar e proceder à sua reposição, se estiverem em baixos níveis, incluem o folato e as vitaminas A, E e K. Com frequência, os níveis de minerais, como zinco, selênio, cobre e magnésio, estão baixos em pacientes com inflamação ou ressecção extensas do intestino delgado, de modo que eles também necessitam de reposição. A Wellington Rocha p5 diarreia é característica da doença ativa; suas causas incluem (1) crescimento bacteriano excessivo na estase por obstrução ou fistulização; (2) má absorção dos ácidos biliares em razão da doença no íleo terminal ou após sua ressecção; e (3) inflamação intestinal com menor absorção de água e maior secreção de eletrólitos. -COLITE E DOENÇA PERIANAL: Os pacientes com colite se apresentam com febrícula, mal-estar, diarreia, dor abdominal em cólica e, às vezes, hematoquezia. O sangramento macroscópico não é tão comum quanto na RCU. A dor é causada pela passagem do material fecal por meio de segmentos estreitados e inflamados do intestino grosso. A complacência retal diminuída é outra causa da diarreia nos pacientes com colite de Crohn. A doença perianal afeta cerca de 33% dos pacientes com colite de Crohn, manifestando-se por incontinência, grandes dilatações hemorroidárias, estreitamentos anais, fístulas anorretais e abscessos perirretais. -DOENÇA GASTRODUODENAL: Os sinais e sintomas de doença do trato GI superior consistem em náusea, vômitos e dor epigástrica. Os pacientes têm habitualmente gastrite Helicobacter pylori-negativa. A segunda porção do duodeno é mais acometida que o bulbo. As fístulas que acometem o estômago ou duodeno têmorigem no intestino delgado ou grosso. Os pacientes com DC gastroduodenal avançada podem desenvolver uma obstrução crônica da saída gástrica. -As anormalidades laboratoriais incluem VHS e PCR elevadas. Na doença mais grave, os achados consistem em hipoalbuminemia, anemia e leucocitose. -As características endoscópicas da DC incluem preservação retal, ulcerações aftosas e fístulas entre áreas normais. A colonoscopia possibilita o exame e a biópsia de lesões expansivas ou estenoses e a biópsia do íleo terminal. A endoscopia alta mostra-se útil para o diagnóstico de comprometimento gastroduodenal em pacientes com sintomas do trato superior. Os estreitamentos ileais ou colônicos podem ser dilatados com balões introduzidos através do colonoscópio. -Na DC, os achados radiográficos mais precoces no intestino delgado incluem pregas espessadas e ulcerações aftosas. O aspecto de “calçamento”, induzido por ulcerações longitudinais e transversais, envolve mais frequentemente o intestino delgado. Na doença mais avançada, podem ser detectados estreitamentos, fístulas, massas inflamatórias e abscessos. A inflamação transmural da DC dá origem a um diâmetro luminal reduzido e a uma distensibilidade limitada. À medida que as úlceras se tornam mais profundas, podem resultar na formação de fístulas. O “sinal do barbante” radiográfico representa longas áreas de inflamação e fibrose circunferenciais, resultando em longos segmentos de estreitamento luminal. -A ETC ou a ERM estão se tornando os testes de primeira linha na avaliação de suspeita de DC e de suas complicações. A RM pélvica mostra-se superior à TC para demonstrar lesões pélvicas, como abscessos isquiorretais e fístulas perianais. -A perfuração ocorre em 1 a 2% dos pacientes, em geral no íleo, porém ocasionalmente no jejuno ou então como complicação do megacólon tóxico. A peritonite da perfuração livre, sobretudo colônica, pode ser fatal. Os abscessos intra-abdominais e pélvicos ocorrem em 10 a 30% dos pacientes com a DC em alguma época durante a evolução de sua enfermidade. Outras complicações incluem obstrução intestinal em 40%, hemorragia maciça, má absorção e doença perianal grave. -Exceto em circunstâncias especiais (p. ex., antes de considerar uma anastomose com bolsa íleo-anal [ABIA] em um paciente com colite indeterminada), os marcadores sorológicos têm utilidade clínica apenas mínima. COMPLICAÇÕES: 1) Sangramentos: Hematoquezia mais frequente em RCU do que DC. 2) Megacólon tóxico, perfuração, peritonite: Inflamação chega a camada muscular e o faz perder o tônus intrínseco e adelgaça a parede. Todo o cólon pode dilatar. Deve ser procurado em toda colite grave. O megacólon tóxico deve ser tratado de forma clínica intensiva, logo nos primeiros estágios. A ausência de resposta em 12 a 24h pode indicar colectomia, evitando a alta morbimortalidade de uma perfuração. 3) Estenoses: Mais comuns na DC. 4) Fístulas: Típicas na DC e podem resultar em massas inflamatórias e abcessos. Wellington Rocha p5 5) Câncer: O adenocarcinoma colorretal é uma complicação da RCU que depende da extensão do acometimento da mucosa e da duração da doença. Faz colonoscopia e biópsia de vigilância após 8 anos repetidas a cada 2 anos, se achar displasia a coletomia é indicada. DC pode aumentar incidência de adenocarcinoma intestinal. DII há aumento da incidência de leucemia, linfoma e carcinoma de vias biliares. 6) Piora do quadro na gestação se estiverem ativas no tempo de concepção. Cuidado com uso de sulfassazina e ácido fólico por diminuir absorção. Azatriopina e 6-MP associado ao aumento do risco de malformação fetal. MANIFESTAÇÕES EXTRA-INTESTINAIS: -Dermatológica: Eritema nodoso em até 15% dos pacientes com DC e 10% dos pacientes com RCU e tem correlação com a intensidade da DII. O pioderma gangrenoso (PG) é observado em 1 a 12% dos pacientes com RCU e menos comumente na colite de Crohn sem relação com a intensidade da DII. Outras afecções são a piodermite vegetante, que ocorre nas áreas intertriginosas; piostomatite vegetante, que acomete as membranas mucosas; síndrome de Sweet, uma dermatose neutrofílica; e DC metastática, distúrbio raro definido pela formação de granulomas cutâneos. A psoríase afeta 5 a 10% dos pacientes com DII e não está relacionada com a atividade intestinal. As lesões mucosas orais, observadas com frequência na DC e apenas raramente na RCU, incluem estomatite aftosa e lesões com aspecto de “calçamento” na mucosa bucal. -Reumatológicas: A artrite periférica se instala em 15 a 20% dos pacientes com DII, é mais comum na DC e piora com as exacerbações da atividade intestinal. A espondilite anquilosante (EA) ocorre em cerca de 10% dos pacientes com DII, sendo mais comum na DC do que na RCU. A sacroiliíte é simétrica, ocorre igualmente na RCU e na DC. Outras manifestações reumáticas incluem osteoartropatia hipertrófica, osteomielite pélvica/femoral e policondrite recorrente. -Oculares: As mais comuns são conjuntivite, uveíte anterior/irite e episclerite. -Hepatobiliares: A colelitíase ocorre em 10 a 35% dos pacientes portadores de DC com ileíte ou ressecção ileal. A colangite esclerosante primária (CEP), principal FR para colangiocarcinoma, é um distúrbio caracterizado por inflamação dos ductos tanto intra-hepáticos quanto extra-hepáticos e fibrose, levando frequentemente ao desenvolvimento de cirrose biliar e insuficiência hepática. A hepatite granulomatosa e a amiloidose hepática constituem manifestações extraintestinais muito mais raras da DII. Doenças progressivas independente da evolução da DII. [Hepatite focal, esteatose, pericolangite, colangite esclerosante, cirrose biliar, CA] -Urológicas: cálculos, a obstrução ureteral e as fístulas vesicais ileais. Cálculo de oxalato por mal absorção o deixar livre. -Distúrbios ósseos e metabólicos: Osteoporose e osteomalácia. massa óssea baixa ocorre em 3 a 30% dos pacientes com DII. Má absorção e inflamaçãomaior incidência de fraturas do quadril, coluna vertebral, punho e costelas. A osteonecrose caracteriza- se por morte dos osteócitos, adipócitos, bem como colapso ósseo eventual. A dor é agravada pela movimentação da tumefação das articulações. Tem perda de peso, retardo do crescimento em criança, enteropatia perdedora de ptn, desnutrição e deficiências vitamínicas. -Tromboembólicos: Estado de hipercoagulabilidade , manifesto como TVP, embolia pulmonar, AVE ou embolia arterial. -Outros: As manifestações cardiopulmonares mais comuns incluem endocardite, miocardite, pleuropericardite e doença pulmonar intersticial. A amiloidose secundária ou reativa pode ocorrer nos pacientes com DII de longa duração, em especial naqueles com DC. A pancreatite é uma manifestação extraintestinal rara da DII e resulta de fístulas duodenais; DC ampular; cálculos biliares; CEP; medicamentos, como 6-mercaptopurina, azatioprina ou, muito raramente, agentes 5-ASA; pancreatite autoimune; e DC primária do pâncreas. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ENTRE RCU E DC: Wellington Rocha p5 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: -A Salmonella pode causar diarreia aquosa ou sanguinolenta, náusea e vômitos. A shiguelose causa diarreia aquosa, dor abdominal e febre seguidas por tenesmo retal bem como eliminação de sangue e muco pelo reto. A infecção por Yersinia enterocolitica ocorre principalmente no íleo terminal e acarreta ulceração mucosa, invasão de neutrófilos e espessamento da parede ileal. Outras infecções bacterianas que podem simular a DII incluem C. difficile, o qual se apresenta com diarreia, tenesmo, náusea e vômitos; e E. coli, três categorias da qual podem causar colite. Gonorreia, clamídia e sífilis também podem causar proctite. Síndrome do cólon irritável Infecção entérica Apendicite Hemorroidas Carcinoma de cólon Linfoma intestinal Colíte colágena Enterite por radiação AINES, quimioterápicos Gastroenterite eosinofílica Doença celíaca Colite isquêmica Wellington Rocha p5 -A maioria dos pacientes com colite viral é imunocomprometida, porém a colite por citomegalovírus (CMV) e herpes simples pode ocorrer em indivíduos imunocompetentes. O CMV ocorre mais comumente no esôfago, cólon e reto, mas pode acometer também o intestino delgado. -Os parasitas protozoários incluem Isospora belli, que pode causar infecção autolimitada em hospedeiros sadios, mas acarreta diarreia aquosa crônica e profusa, assim como perda de peso nos pacientes aidéticos. Entamoeba histolytica ou espécies relacionadas infectam cerca de 10% da população mundial; os sintomas incluem dor abdominal, tenesmo, evacuações moles e frequentes com fezes que contêm sangue e muco, bem como hipersensibilidade abdominal. -A diverticulite pode ser confundida com DC clínica e radiograficamente. Ambas as doenças causam febre, dor abdominal, massa abdominal hipersensível, leucocitose, VHS elevada, obstrução parcial e fístulas. -A colite isquêmica é confundida comumente com a DII. O processo isquêmico pode ser crônico e difuso, como acontece na RCU, ou segmentar, como na DC. -Radioterapia: Quando o reto e o sigmoide são irradiados, os pacientes desenvolvem uma diarreia mucossanguinolenta e tenesmo, como acontece na RCU distal. Com o acometimento do intestino delgado, a diarreia é comum. Os sintomas tardios consistem em má absorção e perda de peso. Pode ocorrer a formação de estreitamento com obstrução e supercrescimento bacteriano. As fístulas podem penetrar na bexiga, vagina ou parede abdominal. -A síndrome de úlcera retal solitária é incomum, podendo ser confundida com DII. Os pacientes queixam-se de constipação com esforço exagerado para defecar, assim como eliminam sangue e muco pelo reto. Outros sintomas incluem dor abdominal, diarreia, tenesmo e dor perineal. -Vários tipos de colite estão associados aos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), como a colite de novo, a reativação da DII e a proctite causada pelo uso de supositórios. -Duas colites atípicas – colite colagenosa e colite linfocítica – têm aspectos endoscópicos completamente normais. O principal sintoma é uma diarreia aquosa crônica. Os tratamentos variam de sulfassalazina ou mesalazina e difenoxilato/atropina a bismuto a budesonida a prednisona ou azatioprina/6-mercaptopurina na doença refratária. Os fatores de risco incluem tabagismo; uso de AINEs, inibidores da bomba de próton ou betabloqueadores; e uma história de doença autoimune. TRATAMENTO: 1) Derivados do 5-ASA: -Anti-inflamatório de ação tópica Inibição da cascata do ácido araquidônico/ Inibição da produção de radicais livres/ Inibição da função linfomonocitária e produção de Ig pelos plasmócitos/ Inibição da produção de IL-1. -Efeitos colaterais: Náuseas, rash cutâneo, diarreia, pancreatite, nefrite intersticial aguda. -Tipos de derivados: Mesalazina e sulfassalazina (radical permite passar pelo delgado sem sofrer metabolização). *Efeitos adversos dose-dependentes: náusea, cefaleia, leucopenia, oligoespermia, antagonismo do foltado. *Efeitos adversos dose-independentes: Febre, rash, anemia hemolítica, neutropenia, agravamento da colite, hepatite, pneumonite, 2) Glicocorticóide: -Indução na remissão das DII moderadas a graves, visando rápida melhora na inflamação. -Intravenosa: Metilprednisolona e hidrocortisona/ Oral: Prednisona e budesonida [primeira passagem hepáticareduz atuação sistêmica e efeitos adversos/ Via retal: Proctite e proctossigmoidite. *Efeitos incômodos: Alterações de humor, insônia, disglicemia, HAS, acne, ganho de peso e edema. 3) Imunomodulador: -Azatioprina [pró-droga] e mercaptopurinas são usadas em DII moderada a grave junto a um ANTI-TNF ou pacientes que não conseguem largar o corticoide. Metotrexate é usada em pacientes que não toleram as tiopurinas. Usuários devem fazer reposição de ácido fólico. -Efeitos adversos alérgicos e não-alérgicos. Wellington Rocha p5 *Antes do uso de tiopurina, a atividade da enzima TPMT deve ser dosada pelo risco de mielotoxicidade e imunossupressão profunda. 4) Agente biológico: ANTI-TNF: -O TNF-alfa é uma citocina imprescindível para a ativação dos linfócitos TH1 (responsáveis pela resposta pró-inflamatória). Quatro bloqueadores específicos foram aprovados no tratamento das DII: infliximab, adalimumab, golimumab e certolizumab pegol. -Um dos maiores problemas do infliximab é que seu uso prolongado faz com que até 40% dos pacientes desenvolvam anticorpos anti-infliximab, o que pode culminar em três desfechos: (1) menor duração do efeito terapêutico, (2) resistência ao infliximab, (3) “doença do soro” (síndrome multissistêmica causada pela deposição de imunocomplexos contendo infliximab em diferentes órgãos e tecidos). [Risco reduz com corticoide profilático] -Um sério problema atribuído a essas drogas é o risco aumentado de infecções oportunistas por patógenos intracelulares. Tuberculose (principal), micoses profundas (candidíase, histoplasmose e coccidioidomicose), nocardiose, listeriose e infecções virais (HBV, EBV, varicela, herpes) podem provocar doença disseminada em usuários dessas medicações. Anti-integrina: -As integrinas são moléculas transmembrana expressas na superfície das células endoteliais e dos leucócitos. Anticorpos monoclonais especificamente direcionados contra elas são capazes de bloquear a interação entre as referidas células, inibindo, desse modo, o tráfego de leucócitos do intravascular para os tecidos, o que reduz a inflamação. Dois agentes foram aprovados no tratamento das DII: natalizumab [bloqueia grupo alfa-4] e vedolizumab [atua no grupo alfa-4/beta-7]. TRATAMENTO DC: -A escolha do esquema terapêutico depende dos sítios acometidos pela doença, sua extensão e gravidade, comorbidades associadas, idade e preferências do paciente. -O início precoce de agentes “biológicos” deve ser considerado de maneira independente naqueles que possuem fatores de risco para doença mais agressiva (Idade jovem, presença de doença perineal, doença estenosante, necessidade de corticoide). O tabagismo deve ser abandonado, sempre. Dieta equilibrada. -Muitos autores continuam recomendando antibióticos (metronidazol, ciprofloxacina ou rifamixina) para os portadores de DC leve a moderada que não toleram ou não respondem (após 3-4 semanas de uso) aos derivados 5-ASA. Logo, os antibióticos constituem o tratamento de segunda linha. -Classicamente, os glicocorticoides só são prescritos na DC leve a moderada como terceira linha terapêutica. -RemissãoManutenção. -Por fim, os raros pacientes que se apresentam com DC leve a moderada restrita às porções mais proximais do tubo digestivo – como a região gastroduodenal, por exemplo – obrigatoriamente têm nos glicocorticoides a primeira escolha terapêutica, sendo que nesta situação a droga preferencial é a prednisona. Derivados 5-ASA, antibióticos e budesonida de liberação ileal não são úteis nesse contexto. -No moderado a grave: Primeira escolha são os agentes biológicos. Terapia dupla por no mínimo um ano. -DOENÇA GRAVE A FULMINANTE: Pacientes toxêmicos, apresentando sinais de irritação peritoneal, massas palpáveis no abdome e/ou sintomas obstrutivos, devem realizar um exame de imagem em caráter emergencial (ex.: TC de abdome e pelve com contraste IV) a fim de avaliar a ocorrência de complicações. Se houver perfuração a conduta prioritária será a correção cirúrgica do problema, e se houver abscesso o mesmo deverá ser drenado (de preferência pela via percutânea). Na vigência de obstrução intestinal, o tratamento pode ser inicialmente clínico (conservador), com dieta zero, drenagem nasogástrica, e reposição volêmica/ hidroeletrolítica. -A presença de fístulas indica o uso de biológicos (que são superiores aos demais fármacos no “fechamento” das fístulas intestinais associadas à DC), além de antibioticoterapia e drenagem dos abscessosencontrados. Fístulas refratárias devem ser tratadas cirurgicamente. TRATAMENTO RCU: Estricturoplastia Wellington Rocha p5 -COLITE DISTAL: Na proctite isolada fazemos supositório de mesalamina, e na proctossigmoidite prefere-se o enema de mesalamina. Corticoide retal ou derivados 5-ASA orais são opções menos eficazes em monoterapia, porém, igualmente válidas. -COLITE MODERADA A GRAVE: Derivados 5-ASA. Aumenta dose e tempo de tratamento comparada a leve. Se não responde em 4 semanas, associa corticoide. Se recidiva no desmame, coloca imunomodulador. Anti-TNF em casos de refratariedade ou intolerância. -COLITE GRAVE A FULMINANTE: O doente deve ser internado e colocado em dieta zero por no mínimo 24-48h, ou até surgirem sinais de melhora clínica. Um cateter nasogástrico deve ser deixado em sifonagem (descompressão gástrica). Institui-se NPT somente naqueles que se apresentam profundamente desnutridos, ou então quando a dieta zero precisa ser prolongada por mais de 7-10 dias. Hidratação severa. A hemotransfusão é indicada para os casos com hematócrito < 25- 28%. Trombofilaxia. -Antimicrobianos de amplo espectro Glicocorticoide IV. -Pacientes que não apresentam melhora nos primeiros dias de glicocorticoide têm 3 opções: (1) agente anti-TNF, (2) ciclosporina, (3) partir direto para a cirurgia. -Não responde a medicaçãoCOLECTOMIA TOTAL. -Manutenção: Derivados 5-ASA/ Imunomoduladores.
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