Buscar

Guia Prático em Cirurgia Geral_trecho

Prévia do material em texto

CAPA
AGRADECIMENTOS
A ideia e produção do livro “GUIA PRÁTICO EM CIRURGIA GERAL” demons-
tra o desejo de levar aos profissionais de saúde alguns dos tópicos mais 
relevantes dentro de patologias com abordagem e segmento cirúrgico.
Esperamos, após a conclusão deste livro, que o leitor tenha uma ferramen-
ta do conhecimento a qual possa dar-lhe uma percepção mais abrangente 
no campo da cirurgia geral.
Agradecemos a todos os profissionais envolvidos no processo de pro-
dução deste livro, acreditamos que apenas com um estudo adequado e 
continuado podemos melhorar como profissionais, e, portanto, oferecer 
um tratamento mais adequado para aqueles que são o foco principal dos 
nossos esforços: os pacientes
Que este livro estimule os leitores.
Talita de Lima Aquino Nogueira Vilarinho - Coordenadora
AGRADECIMENTOS
À Deus,
Por ter criado nossa moradia nesse universo e ter me permitido habitar e 
evoluir nele. Agradecimento especial por sempre me iluminar com a Sua 
presença.
Aos meus pais Dr. Taniusmar e Rosimary,
Expresso a minha eterna gratidão, por estarem comigo nessa jornada ter-
rena e por partilharem o conhecimento, generosidade, sabedoria, amor, 
virtudes diversas e me apoiarem em todos os momentos de minha vida.
Aos meus irmãos, Dr. Deyvid, Dr. Rodrigo e Dr. Diego,
Pelo companheirismo, amor e proteção eterna.
Aos familiares,
Meus agradecimentos. Meu tio Dr. Wilmar e minha tia Lêda, extraordiná-
rios e sábios seres humanos a quem amo e tenho enorme carinho.
Agradeço, também, à ótima e esforçada equipe que me acompanhou na 
construção e disseminação dessa ferramenta de conhecimento. 
Tamires Guimarães Cavalcante Carlos de Carvalho - Coordenadora
APRESENTAÇÃO
"Guia prático em cirurgia geral" é um livro idealizado para os estudantes 
e profissionais de saúde com o intuito de nortear alguns dos principais 
tópicos dessa área médica.
A construção deste livro envolveu vários profissionais empenhados em 
dar ao leitor uma experiência ampla, profunda e agradável durante a sua 
leitura.
Trata-se de um conjunto de temas da área cirúrgica, organizados em capí-
tulos teóricos e práticos, escolhidos baseados na prevalência e relevância 
com que se apresentam nas emergências hospitalares.
Esperamos que o leitor possa usar este material de maneira prática e intui-
tiva, seja por leitura "do início ao fim", seja por pesquisas direcionadas. O 
objetivo é permanecer em constante aprendizado, buscando sempre me-
lhorar seus conhecimentos em prol dos pacientes.
Desejo-lhes empenho, sede de conhecimento e, a partir de agora, uma 
boa leitura.
Leonillson Joanh Paullo Vilarinho Barbosa 
Talita de Lima Aquino Nogueira Vilarinho 
Tamires Guimarães Cavalcante Carlos de Carvalho
AUTORES COORDENADORES
Leonillson Joanh Paullo Vilarinho Barbosa
Médico Formado pela Universidade Federal do Ceará – UFC (2007-2013). 
Cirurgião Geral pela Santa Casa de Misericórdia de Sobral/Universidade Fe-
deral do Ceará – UFC (2017-2019). Especialização em Saúde da Família pela 
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós Graduação da UFC (2014-2016). Experiencia 
Profissional: Cirurgião Geral do Hospital Regional Norte - HRN. Cirurgião 
Geral da Santa Casa de Misericórdia de Sobral – SCMS. Médico do Serviço 
de Atendimento Móvel de Urgência – Samu/Sobral. Instrutor do Prehospi-
tal Trauma Life Support – PHTLS.
Talita de Lima Aquino Nogueira Vilarinho
Médica Formada pela Universidade Federal do Ceará /Sobral – UFC (2010-
2016). Cirurgiã Geral pela Santa Casa de Misericórdia de Sobral/Universida-
de Federal do Ceará – UFC (2017-2019). Experiência Profissional: Cirurgiã 
Geral do Hospital Regional Norte - HRN. Cirurgiã Geral da Santa Casa de 
Misericórdia de Sobral – SCMS. Médica do Serviço de Atendimento Móvel 
de Urgência – Samu/Sobral. Médica Emergencista do Hospital da Unimed. 
Médica do Serviço de Procura de Órgãos e Tecidos da Santa Casa de Mise-
ricórdia de Sobral – OPO/SCMS. Preceptora da Graduação e do Internato 
do Curso de Medicina do Centro Universitário Inta- Uninta. 
Tamires Guimarães Cavalcante Carlos de Carvalho
Interna do curso de medicina da Universidade Nove de Julho. Integrou a 
diretoria e a coordenação do Centro Acadêmico César Timo-Iaria (C.A.C.T.I.) 
nos anos de 2017, 2018 e 2019. Foi coordenadora geral do XIV Congresso 
Médico Acadêmico da Universidade Nove de Julho e diretora do V Con-
gresso Acadêmico de Neurociências. Atuou nas Ligas acadêmicas de: 
Neurologia e Neurocirurgia, Ginecologia e Obstetrícia e Oncologia, sendo 
diretora desta. É membro acadêmico da American Academy of Neurology 
desde 2018. Atual coordenadora local de estágios e vivências (CLEV Sul 2). 
Tem interesse nas áreas cirúrgicas, de neurociências e educação.
 SUMÁRIO
Parte 1: Princípios Básicos 
da Cirurgia Geral
01. Cirurgia segura.......................................................................................... 
02. Nomenclatura e terminologia em cirurgia...................................... 
03. Ambiente cirúrgico e seus profissionais........................................... 
04. Resposta endócrina e metabólica do trauma................................ 
05. Distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-base....................................... 
06. Nutrição em cirurgia................................................................................ 
07. Cicatrização de feridas............................................................................ 
08. Cuidados pré operatórios e risco cirúrgico..................................... 
09. Antibioticoprofilaxia e antibioticoterapia em cirurgia................ 
10. Complicações da ferida operatória.................................................... 
11. Cuidados com Drenos e sondas..........................................................
Parte 2: Principais Temas Teóricos 
da Cirurgia Geral 
12. Abdome agudo.........................................................................................
13. Hérnias da parede abdominal..............................................................
14. Afecções da vesícula e via biliar...........................................................
15. Neoplasias colônicas malignas............................................................
16. Neoplasias gástricas benignas e malignas......................................
17. Tumores eabscessos hepáticos............................................................
18. Doenças diverticulardos cólons..........................................................
19. Pancreatite aguda e crônica.................................................................
20. Doenças inflamatórias intestinais.......................................................
21. Apendicite aguda.....................................................................................
22. Tumores pancreáticos e neuroendócrinos......................................
23. Doença do refluxo gastroesofágico...................................................
24. Câncer de esôfago...................................................................................
25. Doença ulcerosa péptica.......................................................................
26. Nódulos tireoidianos...............................................................................
31
39
43
55
61
77
91
107
121
129
147
29
167
169
175
183
203
213
223
237
247
255
265
275
293
307
327
341
Parte 3: Procedimentos Básicos da 
Cirurgia Geral na Prática
27. Os anestésicos locais............................................................................... 
28. Agulhas e fios............................................................................................. 
29. Nós e suturas.............................................................................................. 
30. Punção venosa periférica e central.................................................... 
31. Procedimento de Pressão Arterial Invasiva (PAI)........................... 
32. Acesso intraósseo.....................................................................................33. Paracentese................................................................................................. 
34. Punção lombar........................................................................................... 
35. Toracocentese............................................................................................ 
36. Drenagem torácica................................................................................... 
37. Pericardiocentese..................................................................................... 
38. Intubação orotraqueal............................................................................ 
39. Cricotireoidostomia................................................................................. 
40. Traqueostomia........................................................................................... 
41. Técnica em Sondagem nasogástrica e nasoenteral..................... 
42. Sondagem de alívio e vesical de demora........................................ 
43. Cistostomia.................................................................................................
353
363
377
393
409
419
427
437
447
455
461
471
487
495
503
507
513
351
PA
RT
E 
1
PA
RT
E 
1
PA
RT
E 
1
PA
RT
E 
1
PA
RT
E 
1
PA
RT
E 
1
01. Cirurgia segura
02. Nomenclatura e terminologia em cirurgia
03. Ambiente cirúrgico e seus pro� ssionais
04. Resposta endócrina e metabólica do trauma
05. Distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-base
06. Nutrição em cirurgia
07. Cicatrização de feridas
08. Cuidados pré operatórios e risco cirúrgico
09. Antibioticopro� laxia e antibioticoterapia em cirurgia
10. Complicações da ferida operatória
11. Cuidados com Drenos e sondas 
Princípios Básicos 
da Cirurgia Geral
Quer saber mais sobre os 
cuidados com o paciente 
cirúrgico? Confi ra o Curso 
de Cirurgia Geral do 
SanarFlix!
https://www.sanarfl ix.com.br/home/
O que você irá ver nesta seção:
CAPÍTULO
31
CIRURGIA 
SEGURA
Autora:
Coautor:
Tamires Guimarães Cavalcante Carlos de Carvalho 
Dra. Alessandra Muoio
01
1. COMO ERA E COMO É 
“O que as drogas não curam, a faca curará; o que a faca não cura, o 
cautério curará; o que o cautério não cura, deve ser considerado incurá-
vel.” Desde o tempo em que esse trecho do Corpus Hippocraticum foi 
escrito (por volta de 450 a.C.), a cirurgia se atrelou ao campo de guerra. 
As batalhas culminavam com inúmeros feridos que necessitavam de 
uma intervenção médica rápida, não raramente em condições precá-
rias.
A cirurgia, em grande parte da história, foi uma conduta aterrori-
zante. Sem a assepsia e a anestesia adequadas, ser submetido a uma 
intervenção cirúrgica era quase um instrumento de tortura, além de 
uma possível sentença de morte. Hoje em dia, com o advento de diver-
sas tecnologias, podemos avançar as expectativas em relação a uma 
cirurgia. Nossas expectativas são de cura e, muitas vezes, de resolução 
defi nitiva do adoecimento.
Dessa maneira, a medicina atual está preparada para ser o mais se-
gura e efi caz que puder. Nesse sentido, erros evitáveis devem ser ob-
servados de perto com o intuito de serem extinguidos. A segurança do 
paciente deve ser prioridade.
CAPÍTULO 1
32
2. FATORES HUMANOS
No período da década de 1970 e começo dos anos 1980, os aciden-
tes aéreos de grande porte eram comuns (ao menos dois por ano). Só 
em 1977 foram oito casos registrados, somando cerca de 980 mortos. 
E, à medida que o número de voos comerciais crescia, aumentava tam-
bém a frequência dos desastres. Investigações apontavam que a maior 
parte das ocorrências era devida a falhas humanas. Erros que, segundo 
investigadores da época, poderiam ser evitados eliminando ambientes 
hostis dentro das cabines de comando e possibilitando o trabalho em 
equipe, com a tripulação envolvida ativamente na solução dos proble-
mas a bordo.
3. O QUE A AVIAÇÃO NOS ENSINOU
As estatísticas forçaram as autoridades da época a repensar a se-
gurança do setor. Em 1979, a Nasa criou o sistema de formação profis-
sional e compartilhamento de informações conhecido por Gerencia-
mento de Recursos da Tripulação (CRM, na sigla em inglês, de Crew 
Resource Management ), hoje utilizado em todas as escolas de aviação. 
Divisor de águas, o programa de treinamento instituiu mudanças nos 
comportamentos da equipe de voo, tripulação e demais integrantes 
das companhias que operam na terra. Com a medida, a frequência de 
acidentes envolvendo aviões comerciais se reduziu drasticamente, co-
locando o veículo entre os mais seguros do mundo. Hoje, para cada 
100 mil milhas viajadas, a média de morte é de 0,01, enquanto que de 
trem e carro esse número sobe para 0,04 e 0,94, respectivamente.
Tendo sua origem no programa de pesquisa de fatores humanos da 
NASA, o CRM tem como meta o uso eficaz de todos os recursos dispo-
níveis para garantir segurança e eficiência nas operações aéreas. Seu 
treinamento busca a mudança nas atitudes e nos comportamentos da 
tripulação, da equipe de voo e de todos os integrantes das companhias.
A discussão em torno do modelo de segurança da aviação aplicado 
aos cuidados na saúde já tinha sido levantada pelos órgãos ligados ao 
setor há alguns anos. Em 1999, o Institute of Medicine (IOM) publicou 
o relatório “Errar é Humano”, constatando que falhas do trabalho em 
equipe e comunicação respondiam por 75% dos erros médicos nos 
EUA. E ainda nos anos 1990, a Agency for Healthcare Research and 
Quality (AHRQ) criou o MedTeams Project, tomando como modelo o 
CIRURGIA SEGURA
33
TeamSteps da aviação. Hoje, a Joint Commission on Accreditation of 
Healthcare Organizations (JCAHO) recomenda às instituições que so-
licitam a acreditação incorporar cursos de teamwork e comunicação a 
seus programas de educação profissional.
4. PROTOCOLO DE CIRURGIA SEGURA
O protocolo de cirurgia segura do Ministério da Saúde em parceria 
com a ANVISA e FioCruz é o principal guia para uma cirurgia segura no 
Brasil. Ele está descrito da seguinte maneira:
A Lista de Verificação divide a cirurgia em três fases:
I – Antes da indução anestésica 
II – Antes da incisão cirúrgica
III – Antes de o paciente sair da sala de cirurgia
Cada uma dessas fases corresponde a um momento específico do 
fluxo normal de um procedimento cirúrgico. Para a utilização da Lista 
de Verificação, uma única pessoa deverá ser responsável por conduzir 
a checagem dos itens.
CAPÍTULO 1
34
Em cada fase, o condutor da Lista de Verificação deverá confirmar 
se a equipe completou suas tarefas antes de prosseguir para a próxima 
etapa. Caso algum item checado não esteja em conformidade, a verifi-
cação deverá ser interrompida e o paciente, mantido na sala de cirurgia 
até a sua solução.
I – Antes da indução anestésica
O condutor da Lista de Verificação deverá:
• Revisar verbalmente com o próprio paciente, sempre que 
possível, sua identificação, para que esta seja confirmada
• Confirmar que o procedimento e o local da cirurgia estão 
corretos
• Confirmar o consentimento para cirurgia e a anestesia
• Confirmar visualmente o sítio cirúrgico correto e sua 
demarcação
• Confirmar a conexão de um monitor multiparâmetro ao 
paciente e seu funcionamento
• Revisar verbalmente com o anestesiologista o risco de perda 
sanguínea do paciente, dificuldades nas vias aéreas, histórico 
de reação alérgica e se a verificação completa de segurança 
anestésica foi concluída
II – Antes da incisão cirúrgica (pausa cirúrgica)
Neste momento, a equipe fará uma pausa imediatamente antes da 
incisão cirúrgica para realizar os seguintes passos:
• A apresentação de cada membro da equipe pelo nome e pela 
função
• A confirmação da realização da cirurgia correta no paciente 
correto, no sítio cirúrgico correto
• A revisão verbal, uns com os outros, dos elementos críticos de 
seus planos para a cirurgia, usando as questões da Lista de Ve-
rificação como guia
• A confirmação da administração de antimicrobianos profiláti-
cos nos últimos 60 minutos da incisão cirúrgica
• A confirmaçãoda acessibilidade dos exames de imagens ne-
cessários
CIRURGIA SEGURA
35
III – Antes de o paciente sair da sala de cirurgia
A equipe deverá revisar em conjunto a cirurgia realizada por meio 
dos seguintes passos:
• A conclusão da contagem de compressas e instrumentais
• A identificação de qualquer amostra cirúrgica obtida
• A revisão de qualquer funcionamento inadequado de equipa-
mentos ou questões que necessitem ser solucionadas
• A revisão do plano de cuidado e as providências quanto à 
abordagem pós-operatória e da recuperação pós-anestésica 
antes da remoção do paciente da sala de cirurgia
 IV – Definições
• Lista de Verificação: lista formal utilizada para identificar, com-
parar e verificar um grupo de itens/procedimentos
• Demarcação de lateridade: demarcação de local ou locais a ser 
operados. Essa demarcação é particularmente importante em 
casos de lateralidade (distinção entre direita e esquerda), es-
truturas múltiplas (p. ex., dedos das mãos e dos pés, costelas) e 
níveis múltiplos (p. ex., coluna vertebral)
• Condutor da Lista de Verificação: profissional de saúde (médico 
ou profissional da enfermagem) que esteja participando da 
cirurgia e seja o responsável por conduzir a aplicação da lista 
de verificação, de acordo com diretrizes da instituição de saúde
• Segurança anestésica: conjunto de ações realizadas pelo anes-
tesiologista, que visa à redução da insegurança anestésica por 
meio da inspeção formal do equipamento anestésico, da che-
cagem dos medicamentos e do risco anestésico do paciente 
antes da realização de cada cirurgia. Esse procedimento deve 
seguir as orientações contidas no Manual para Cirurgia Segura 
da OMS, traduzido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitá-
ria – ANVISA
• Equipe cirúrgica: equipe composta por cirurgiões, anestesiolo-
gistas, profissionais de enfermagem, técnicos e todos os profis-
sionais envolvidos na cirurgia
CAPÍTULO 19
254
REFERÊNCIAS
1. Guimarães-Filho M, Maya M, Leal P, Melgaço A. Pancreatite aguda: etiologia, 
apresentação clínica e tratamento. Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto 
[internet]. 2014; 8(1) [acesso em 2020 jan. 26]. Disponível em: https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/revistahupe/article/view/9234. 
CAPÍTULO
255
 DOENÇAS INFLAMATÓRIAS 
INTESTINAIS
Autores:
Leonillson Joanh Paullo Vilarinho Barbosa
Joannillson Taygon Vilarinho Barbosa
Cádmo Silton Andrade Portella
20
1. INTRODUÇÃO
Estudaremos neste capítulo as Doenças Infl amatórias Intestinais, 
dando enfoque à Doença de Crohn (DC) e à Retocolite Ulcerativa (RCU), 
as quais são assuntos muito abordados em provas de residência e que 
possuem uma grande importância para a prática clínica. 
Ambas as doenças podem possuir apresentações clínicas seme-
lhantes e, dessa maneira, é lançado mão de subsídios laboratoriais e de 
imagem para que se possa chegar a um diagnóstico fi nal. Em cerca de 
10% dos casos não se é possível diferenciar as doenças; nesse caso ela 
é denominada de colite indeterminada.
Figura 1: O padrão saltatório da doença ajuda no diagnóstico de qual DII se trata
Fonte: Johns Hopkins Medicine
CAPÍTULO 20
256
 1.1. Fisiopatologia
Não há uma causa bem definida que explique ao certo o surgimento 
dessas doenças, mas acredita-se que a resposta estaria em alterações 
da imunorregulação intestinal. Entretanto, sabe-se que fatores genéti-
cos (história familiar etc.) e ambientais (patógenos como: Salmonella, 
Campylobacter e anaeróbios); fatores psicossociais; tabagismo; hábi-
tos alimentares; anticoncepcionais e anti-inflamatórios estão ligados 
às patogêneses destas.
Obs.: Curiosamente tabagismo é fator protetor para risco de desen-
volvimento de RCU, enquanto aumentaria em duas vezes o risco de 
desenvolvimento de DC.
2. DOENÇA DE CROHN
2.1. Epidemiologia
Tem um pico de incidência etária bimodal (15 aos 25 anos e dos 
55 aos 60 anos), principalmente em brancos, judeus principalmente de 
áreas urbanas, e tem o aumento do seu risco de incidência com o uso 
de anticoncepcionais orais em mulheres.
2.2. Patologia
Na DC o trato gastrointestinal pode ser todo afetado desde a boca 
até o ânus em padrão descontínuo, tendo sítio de preferência para ins-
talação no intestino delgado (90% dos casos), principalmente o íleo 
terminal. Dessa maneira, há o padrão de “pedra de calçamento” em 
que há uma mucosa sadia alternada com a mucosa lesionada (padrão 
descontínuo). De maneira mais histológica pode ser observado granu-
lomas não caseosos formados por infiltrações frouxas de macrófagos e 
úlceras aftoides.
2.3. Diagnóstico
Para realização do diagnóstico não se pode ater apenas a um as-
pecto clínico ou laboratorial, é necessário um conjunto de indicativos 
laboratoriais, radiológicos, endoscópicos, além de anamnese para se 
fechar o diagnóstico e se excluir possíveis diagnósticos diferenciais tais 
DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS
257
como RCU, diverticulite, gastroenterite eosinofílica, apendicite, linfo-
mas, entre outros.
A manifestações clínicas apresentam-se com períodos de exacer-
bação alternados com períodos de remissão. As manifestações intesti-
nais mais características se apresentam como dor abdominal, diarreia 
e consequente perda ponderal, que também se associa à má absorção 
intestinal, que ocorre principalmente nas ileocolites. Entretanto, a DC 
pode afetar da boca ao ânus, portando os sintomas vão variar confor-
me local de instalação e tipo de agressão ao organismo, podendo ser 
do tipo inflamatório, fibroestenosante ou fistulizante. Dessa maneira os 
sintomas variam desde febre baixa, astenia, úlceras aftoides em boca, 
sintomas dispépticos, diarreia sanguinolentas, incontinência anal, ab-
cessos, suboclusões ou obstruções, fístulas enterocutâneas, perianais 
etc. Ainda há a existência de manifestações extraintestinais (MEI), mas 
estas serão vistas à parte por serem comuns a RCU e DC, apesar de leve 
predileção por portadores de DC.
No exame físico podem ser observados achados a ectoscopia como 
aftas orais, fístulas enterocutâneas etc., além de dor a palpação abdo-
minal, massas palpáveis, distensão devida a processos obstrutivos.
O laboratório pode mostrar anemia, leucocitose VHS e PCR aumen-
tados, distúrbios hidroeletrolíticos e albumina diminuída devido ao 
processo de desnutrição. Quanto a sorologias, os dois principais mar-
cadores são o p-ANCA, anticorpo antineutrofílico citoplasmático peri-
nuclear (detectado entre 60%-70% dos portadores de RCU e de 5%-
10% dos de DC) e o ASCA, anticorpos anti-Saccharomyces cerevisiae 
(presente em 60%-70% dos portadores de DC e 10%-15% dos de RCU). 
A radiografia simples pode indicar dilatações de alças, perfurações 
e em caso de uso de contraste evidenciar fistulas e estenoses. Resso-
nância magnética e Tomografia computadorizada podem evidenciar 
espessamento mural >2cm e abcessos intracavitários. Enterotomogra-
fia e enteroressonância têm obtido melhores resultados para avaliação 
do intestino delgado.
2.4. Tratamento
Não existe tratamento que forneça a cura para a Doença de Crohn, 
sendo assim, o objetivo principal é buscar induzir e manter a remissão. 
O tratamento clínico se baseia em suporte clínico e medicamentoso. 
CAPÍTULO 20
258
O tratamento deve ser feito em etapas (indução da remissão e ma-
nutenção), tendo como arsenal terapêutico usado conforme gravidade 
da doença, há corticoides, sulfassalazina, antibioticoterapia (com me-
tronidazol e ciprofloxacino), imunossupressores (azatioprina e ciclos-
porina) além de anticorpo monoclonais contra mediadores essências 
à cascata inflamatória: inibidores do TNF-alfa (infliximabe ou adalimu-
mabe) e anti-integrina (natalizumab e vedolizumab).
Ele é iniciado após um sistema de avaliação da atividade da doença 
baseado no número de evacuações, dor abdominal, status geral, perda 
ponderal, ocorrência de fístulas e de manifestações patológicas a dis-
tância, que permite classificar a doença em leve, moderada ou grave. 
De maneira geral, na doença leve a moderada a droga deprimeira 
escolha são os derivados do 5-ASA (estratégia dita como STEP UP: iní-
cio com medicações menos potentes). Uma vez alcançada a remissão a 
manutenção também é realizada com os derivados de 5-ASA. Já nos no 
caso das doenças moderada a grave a droga de primeira escolha são 
os agentes anti-TNF, associados a algum imunomodulador (estratégia 
dita como TOP DOWN: combinação de duas drogas, sendo assim mais 
efetiva). A mesma terapia de indução que responde bem, sendo dupla 
deve ser mantida para terapia de manutenção. 
No caso de doença grave ou fulminante, torna-se uma emergên-
cia, devendo as complicações – seja perfuração, abscesso ou obstru-
ção – serem resolvidas com rafia, drenagem e tratamento clínico inicial, 
respectivamente. Além dessas condutas citadas, o uso de antibiotico-
terapia deve ser preconizado, cobrindo gram-negativos entéricos e 
anaeróbicos. Após o tratamento instituído e melhora clínica, agentes 
biológicos ou corticoides devem ser iniciados.
O tratamento cirúrgico tem um papel restrito devido à patologia 
da DC (doença que tem padrão saltatório por todo o trato gastroin-
testinal), procurando sempre tratamento conservador inicialmente, 
com exceção daquelas associadas a situações que ameaçam a vida do 
paciente como em sepse e hemorragia maciça. De 70%-75% dos pa-
cientes com DC precisam cirurgia em algum momento para aliviar os 
sintomas se o tratamento medicamentoso fracassar.
Deve-se buscar realizar sempre a menor ressecção do intestino, op-
tando-se por estricturoplastia às enterectomias, pois recidivas são co-
muns nas anastomoses, aumentando assim chances de reabordagens. 
Após cirurgia, deve-se considerar azatioprina e metronidazol durante 
pelo menos 3 meses, pois têm demonstrado reduzir a recorrência.
DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS
259
As opções cirúrgicas mais comuns são a ressecção local com anas-
tomose primária (mais comum), estenoplastia (múltiplas áreas este-
nosadas ao longo do segmento intestinal), colectomia subtotal com 
ileoproctostomia e colectomia total com ileostomia. 
2.5. Manifestações extraintestinais (mei)
As manifestações extraintestinais (MEI) estão presentes nas DII em 
uma variação de 21% a 36% dos pacientes, sendo esta variação influen-
ciada por área geográfica estudada, duração e da extensão da doença. 
Doença ativa, história familiar positiva para DII (70% a 84%) e presença 
de alguns alelos HLA tem sido associada a elas. 
Podem afetar qualquer órgão ou sistema, sendo os órgãos mais 
afetados a pele, articulações, olhos e fígado. Há uma correlação en-
tre episódios de atividade intestinal e exacerbação dos sintomas ex-
traintestinais (como artrite periférica, eritema nodoso e lesões aftosas 
orais). Entretanto, algumas manifestações têm curso independente da 
atividade intestinal, como, por exemplo, uveíte, artrite axial, pioderma 
gangrenoso e colangite esclerosante primária. Outras manifestações 
mais raras incluem bronquiectasia, bronquite, osteomalacia, osteopo-
rose, nefrolitíase, tromboembolismo e vasculites.
3. RETOCOLITE ULCERATIVA (RCU)
3.1. Epidemiologia
A doença pode iniciar em qualquer idade, tendo um pico de inci-
dência etária bimodal (20 aos 40 anos, com muitos estudos mostrando 
um segundo pico de incidência dos 55 aos 60 anos), sem predileção 
por sexo, sendo judeus preferencialmente afetados.
3.2. Patologia
Esta doença se inicia no reto e progride de maneira ascendente e 
contínua, restringindo-se até no máximo o cólon (metade das vezes 
restringe-se ao reto, indo no máximo até o sigmoide e em apenas 20% 
dos casos acomete todo o cólon). É possível se perceber de maneira 
macroscópica que ela acomete predominantemente a camada muco-
sa do cólon. Em uma análise mais histológica, uma característica muito 
CAPÍTULO 20
260
observada é a presença de neutrófilos invadindo o epitélio geralmente 
nas criptas, e com isso há a “criptite”.
3.3. Diagnóstico
As manifestações clínicas apresentam-se com períodos de exacer-
bação alternados com períodos de remissão (há pessoas que apre-
sentam doença crônica e contínua). Os sintomas variam conforme a 
apresentação e a extensão das lesões, podendo haver manifestações 
extraintestinais associadas. As manifestações clínicas mais comuns são 
diarreia, sangramento retal, eliminação de muco nas fezes e dor abdo-
minal. Em casos exuberantes pode haver perda ponderal, febre e ano-
rexia. Normalmente não há grandes alterações ao exame físico.
O laboratório pode mostrar anemia, leucocitose, VHS e PCR aumen-
tados, distúrbios hidroeletrolíticos e hipoalbuminemia. Leucócitos na 
coprologia funcional. Quanto a sorologias, os dois principais marcado-
res são o p-ANCA e o ASCA (a presença de p-ANCA + e ASCA – mostra 
uma especificidade de 98% p RCU).
A radiografia simples é útil para detectar a forma fulminante da do-
ença. Mas como o tratamento é realizado de acordo com a extensão 
da doença, a retossigmoidoscopia flexível é útil para definir as porções 
acometidas. A colonoscopia é contraindicada na suspeita de megacó-
lon tóxico, devido ao risco de perfuração.
3.4. Tratamento
A gravidade da doença é melhor avaliada pela intensidade dos sin-
tomas e pode ser classificada pelos critérios estabelecidos por Truelove 
e Witts, úteis na definição terapêutica de indução da remissão e ma-
nutenção: 1) leve (menos de 3 evacuações por dia, com ou sem san-
gue, sem comprometimento sistêmico e com VHS normal); 2) mode-
rada (mais de 4 evacuações por dia com mínimo comprometimento 
sistêmico); 3) grave (mais de 6 evacuações por dia com sangue e com 
evidência de comprometimentos sistêmicos, tais como febre, taquicar-
dia, anemia e VHS acima de 30). Megacólon tóxico também devem ser 
considerado grave.
De maneira geral, nas colites leves a indução é praticada com a 
mesalazina retal. Em caso de refratariedade é possível associação com 
corticoide retal. Para a manutenção o tratamento pode ser mantido 
DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS
261
com mesalazina retal. Para os casos de colite leve a moderada a terapia 
de escolha serão os derivados de 5-ASA, mas por via oral. Em caso de 
colites graves a fulminantes é necessário suporte clínico inicial e, em 
alguns casos refratários, realização de colectomia total. A indução e a 
remissão são realizadas com derivados de 5-ASA, inicialmente, mas em 
caso de refratariedade imunomoduladores e até biológicos (anti-TNF) 
devem ser considerados.
De 25%-30% dos pacientes com CU podem precisar cirurgia se o 
tratamento médico não for completamente bem-sucedido. Observem 
que pela patologia da doença, esta manifesta-se de maneira restrita 
ao cólon, logo o tratamento cirúrgico com ressecção colônica torna-se 
curativa, sendo a proctocolectomia restauradora com IPAA (Ileal Pou-
ch Anal Anastomosis) o padrão de escolha. Assim sendo, as indicações 
de tratamento cirúrgico são: 1) refratariedade ao tratamento clínico; 
2) displasias e carcinomas (colectomia); 3) colites fulminantes e refra-
tárias e megacólon toxico (colectomia total com ileostomia mais se-
pultamento do reto a Hartmann (ou fístula mucosa) e 3) sangramento 
colônico maciço.
 
3.5. Complicações locais das DII
Perfuração (ruptura) do intestino: a perfuração intestinal ocorre 
quando a inflamação crônica e a ulceração do intestino enfraquecem 
a parede intestinal, culminando com uma abertura, representando 
Figura 1: Proctocolectomia restauradora com IPAA (Anastomose Anal da Bolsa Ileal)
Fonte: Medscape.8
CAPÍTULO 20
262
potencialmente risco de morte devido a peritonite. Na retocolite, essa 
complicação está geralmente relacionada ao megacólon tóxico (ver 
abaixo). Na Doença de Crohn (DC) ela normalmente ocorre como re-
sultado de um abscesso ou fístula.
Colite fulminante: quando uma inflamação grave faz com que o có-
lon se torne extremamente dilatado, ocorre o que se chama íleo paralí-
tico. Os movimentos peristálticos paralisam temporariamente e ocorre 
uma distensão abdominal. O raio X abdominal pode revelar uma con-
centração aumentada de gases localizadaem regiões paralisadas do 
intestino grosso. 
Megacólon tóxico: é considerado a complicação mais grave das DII 
(mais comum na RCU). O cólon se dilata, perdendo a capacidade de 
executar a peristalse de forma adequada. Manifesta-se com leucocito-
se, febre alta e dor abdominal, com sinais de peritonite. A radiografia 
simples indica dilatação em alça colônica >6cm. O suporte clínico deve 
ser oferecido o quão breve possível (dieta zero, sonda nasogástrica, re-
posição hidroeletrolítica). Caso o paciente não apresente melhora do 
quadro dentro de um período de 24 a 48 horas, a cirurgia pode ser 
necessária com colectomia total.
Maior risco de câncer colorretal: de 5% a 8% dos pacientes porta-
dores da RCU desenvolverão câncer colorretal em 20 anos a partir do 
momento do diagnóstico da doença. É menos comum na DC. O risco 
de câncer colorretal aumenta de acordo com a gravidade e a duração 
da doença. 
CU DISTAL CU EXTENSA DC
 leve 5-ASA retalCS retal 5-ASA tópico e oral
Sulfassalazina
5-ASA para doença colônica
METRO ou CIPRO. Para DP
BUD para doença ileal
e/ou cólon direito
moderada
5- ASA retal ou 
oral
CS retal
CS oral
5-ASA tópico e oral
AZA ou 6-MP
Anti-TNF
GCS oral
AZA ou 6-MP
MTX
Anti- TNF
severa
5-ASA retal e oral
GCS oral ou intra-
venoso
CS retal
CS EV
CSA EV
Infliximabe EV
CS oral ou EV
MTZ subcutâneo ou IM
infliximabe EV ou
adalimumab SC ou
certolizumab SC
Tabela 1: Tratamento clínico das DII

Continue navegando