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CAPA AGRADECIMENTOS A ideia e produção do livro “GUIA PRÁTICO EM CIRURGIA GERAL” demons- tra o desejo de levar aos profissionais de saúde alguns dos tópicos mais relevantes dentro de patologias com abordagem e segmento cirúrgico. Esperamos, após a conclusão deste livro, que o leitor tenha uma ferramen- ta do conhecimento a qual possa dar-lhe uma percepção mais abrangente no campo da cirurgia geral. Agradecemos a todos os profissionais envolvidos no processo de pro- dução deste livro, acreditamos que apenas com um estudo adequado e continuado podemos melhorar como profissionais, e, portanto, oferecer um tratamento mais adequado para aqueles que são o foco principal dos nossos esforços: os pacientes Que este livro estimule os leitores. Talita de Lima Aquino Nogueira Vilarinho - Coordenadora AGRADECIMENTOS À Deus, Por ter criado nossa moradia nesse universo e ter me permitido habitar e evoluir nele. Agradecimento especial por sempre me iluminar com a Sua presença. Aos meus pais Dr. Taniusmar e Rosimary, Expresso a minha eterna gratidão, por estarem comigo nessa jornada ter- rena e por partilharem o conhecimento, generosidade, sabedoria, amor, virtudes diversas e me apoiarem em todos os momentos de minha vida. Aos meus irmãos, Dr. Deyvid, Dr. Rodrigo e Dr. Diego, Pelo companheirismo, amor e proteção eterna. Aos familiares, Meus agradecimentos. Meu tio Dr. Wilmar e minha tia Lêda, extraordiná- rios e sábios seres humanos a quem amo e tenho enorme carinho. Agradeço, também, à ótima e esforçada equipe que me acompanhou na construção e disseminação dessa ferramenta de conhecimento. Tamires Guimarães Cavalcante Carlos de Carvalho - Coordenadora APRESENTAÇÃO "Guia prático em cirurgia geral" é um livro idealizado para os estudantes e profissionais de saúde com o intuito de nortear alguns dos principais tópicos dessa área médica. A construção deste livro envolveu vários profissionais empenhados em dar ao leitor uma experiência ampla, profunda e agradável durante a sua leitura. Trata-se de um conjunto de temas da área cirúrgica, organizados em capí- tulos teóricos e práticos, escolhidos baseados na prevalência e relevância com que se apresentam nas emergências hospitalares. Esperamos que o leitor possa usar este material de maneira prática e intui- tiva, seja por leitura "do início ao fim", seja por pesquisas direcionadas. O objetivo é permanecer em constante aprendizado, buscando sempre me- lhorar seus conhecimentos em prol dos pacientes. Desejo-lhes empenho, sede de conhecimento e, a partir de agora, uma boa leitura. Leonillson Joanh Paullo Vilarinho Barbosa Talita de Lima Aquino Nogueira Vilarinho Tamires Guimarães Cavalcante Carlos de Carvalho AUTORES COORDENADORES Leonillson Joanh Paullo Vilarinho Barbosa Médico Formado pela Universidade Federal do Ceará – UFC (2007-2013). Cirurgião Geral pela Santa Casa de Misericórdia de Sobral/Universidade Fe- deral do Ceará – UFC (2017-2019). Especialização em Saúde da Família pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós Graduação da UFC (2014-2016). Experiencia Profissional: Cirurgião Geral do Hospital Regional Norte - HRN. Cirurgião Geral da Santa Casa de Misericórdia de Sobral – SCMS. Médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – Samu/Sobral. Instrutor do Prehospi- tal Trauma Life Support – PHTLS. Talita de Lima Aquino Nogueira Vilarinho Médica Formada pela Universidade Federal do Ceará /Sobral – UFC (2010- 2016). Cirurgiã Geral pela Santa Casa de Misericórdia de Sobral/Universida- de Federal do Ceará – UFC (2017-2019). Experiência Profissional: Cirurgiã Geral do Hospital Regional Norte - HRN. Cirurgiã Geral da Santa Casa de Misericórdia de Sobral – SCMS. Médica do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – Samu/Sobral. Médica Emergencista do Hospital da Unimed. Médica do Serviço de Procura de Órgãos e Tecidos da Santa Casa de Mise- ricórdia de Sobral – OPO/SCMS. Preceptora da Graduação e do Internato do Curso de Medicina do Centro Universitário Inta- Uninta. Tamires Guimarães Cavalcante Carlos de Carvalho Interna do curso de medicina da Universidade Nove de Julho. Integrou a diretoria e a coordenação do Centro Acadêmico César Timo-Iaria (C.A.C.T.I.) nos anos de 2017, 2018 e 2019. Foi coordenadora geral do XIV Congresso Médico Acadêmico da Universidade Nove de Julho e diretora do V Con- gresso Acadêmico de Neurociências. Atuou nas Ligas acadêmicas de: Neurologia e Neurocirurgia, Ginecologia e Obstetrícia e Oncologia, sendo diretora desta. É membro acadêmico da American Academy of Neurology desde 2018. Atual coordenadora local de estágios e vivências (CLEV Sul 2). Tem interesse nas áreas cirúrgicas, de neurociências e educação. SUMÁRIO Parte 1: Princípios Básicos da Cirurgia Geral 01. Cirurgia segura.......................................................................................... 02. Nomenclatura e terminologia em cirurgia...................................... 03. Ambiente cirúrgico e seus profissionais........................................... 04. Resposta endócrina e metabólica do trauma................................ 05. Distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-base....................................... 06. Nutrição em cirurgia................................................................................ 07. Cicatrização de feridas............................................................................ 08. Cuidados pré operatórios e risco cirúrgico..................................... 09. Antibioticoprofilaxia e antibioticoterapia em cirurgia................ 10. Complicações da ferida operatória.................................................... 11. Cuidados com Drenos e sondas.......................................................... Parte 2: Principais Temas Teóricos da Cirurgia Geral 12. Abdome agudo......................................................................................... 13. Hérnias da parede abdominal.............................................................. 14. Afecções da vesícula e via biliar........................................................... 15. Neoplasias colônicas malignas............................................................ 16. Neoplasias gástricas benignas e malignas...................................... 17. Tumores eabscessos hepáticos............................................................ 18. Doenças diverticulardos cólons.......................................................... 19. Pancreatite aguda e crônica................................................................. 20. Doenças inflamatórias intestinais....................................................... 21. Apendicite aguda..................................................................................... 22. Tumores pancreáticos e neuroendócrinos...................................... 23. Doença do refluxo gastroesofágico................................................... 24. Câncer de esôfago................................................................................... 25. Doença ulcerosa péptica....................................................................... 26. Nódulos tireoidianos............................................................................... 31 39 43 55 61 77 91 107 121 129 147 29 167 169 175 183 203 213 223 237 247 255 265 275 293 307 327 341 Parte 3: Procedimentos Básicos da Cirurgia Geral na Prática 27. Os anestésicos locais............................................................................... 28. Agulhas e fios............................................................................................. 29. Nós e suturas.............................................................................................. 30. Punção venosa periférica e central.................................................... 31. Procedimento de Pressão Arterial Invasiva (PAI)........................... 32. Acesso intraósseo.....................................................................................33. Paracentese................................................................................................. 34. Punção lombar........................................................................................... 35. Toracocentese............................................................................................ 36. Drenagem torácica................................................................................... 37. Pericardiocentese..................................................................................... 38. Intubação orotraqueal............................................................................ 39. Cricotireoidostomia................................................................................. 40. Traqueostomia........................................................................................... 41. Técnica em Sondagem nasogástrica e nasoenteral..................... 42. Sondagem de alívio e vesical de demora........................................ 43. Cistostomia................................................................................................. 353 363 377 393 409 419 427 437 447 455 461 471 487 495 503 507 513 351 PA RT E 1 PA RT E 1 PA RT E 1 PA RT E 1 PA RT E 1 PA RT E 1 01. Cirurgia segura 02. Nomenclatura e terminologia em cirurgia 03. Ambiente cirúrgico e seus pro� ssionais 04. Resposta endócrina e metabólica do trauma 05. Distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-base 06. Nutrição em cirurgia 07. Cicatrização de feridas 08. Cuidados pré operatórios e risco cirúrgico 09. Antibioticopro� laxia e antibioticoterapia em cirurgia 10. Complicações da ferida operatória 11. Cuidados com Drenos e sondas Princípios Básicos da Cirurgia Geral Quer saber mais sobre os cuidados com o paciente cirúrgico? Confi ra o Curso de Cirurgia Geral do SanarFlix! https://www.sanarfl ix.com.br/home/ O que você irá ver nesta seção: CAPÍTULO 31 CIRURGIA SEGURA Autora: Coautor: Tamires Guimarães Cavalcante Carlos de Carvalho Dra. Alessandra Muoio 01 1. COMO ERA E COMO É “O que as drogas não curam, a faca curará; o que a faca não cura, o cautério curará; o que o cautério não cura, deve ser considerado incurá- vel.” Desde o tempo em que esse trecho do Corpus Hippocraticum foi escrito (por volta de 450 a.C.), a cirurgia se atrelou ao campo de guerra. As batalhas culminavam com inúmeros feridos que necessitavam de uma intervenção médica rápida, não raramente em condições precá- rias. A cirurgia, em grande parte da história, foi uma conduta aterrori- zante. Sem a assepsia e a anestesia adequadas, ser submetido a uma intervenção cirúrgica era quase um instrumento de tortura, além de uma possível sentença de morte. Hoje em dia, com o advento de diver- sas tecnologias, podemos avançar as expectativas em relação a uma cirurgia. Nossas expectativas são de cura e, muitas vezes, de resolução defi nitiva do adoecimento. Dessa maneira, a medicina atual está preparada para ser o mais se- gura e efi caz que puder. Nesse sentido, erros evitáveis devem ser ob- servados de perto com o intuito de serem extinguidos. A segurança do paciente deve ser prioridade. CAPÍTULO 1 32 2. FATORES HUMANOS No período da década de 1970 e começo dos anos 1980, os aciden- tes aéreos de grande porte eram comuns (ao menos dois por ano). Só em 1977 foram oito casos registrados, somando cerca de 980 mortos. E, à medida que o número de voos comerciais crescia, aumentava tam- bém a frequência dos desastres. Investigações apontavam que a maior parte das ocorrências era devida a falhas humanas. Erros que, segundo investigadores da época, poderiam ser evitados eliminando ambientes hostis dentro das cabines de comando e possibilitando o trabalho em equipe, com a tripulação envolvida ativamente na solução dos proble- mas a bordo. 3. O QUE A AVIAÇÃO NOS ENSINOU As estatísticas forçaram as autoridades da época a repensar a se- gurança do setor. Em 1979, a Nasa criou o sistema de formação profis- sional e compartilhamento de informações conhecido por Gerencia- mento de Recursos da Tripulação (CRM, na sigla em inglês, de Crew Resource Management ), hoje utilizado em todas as escolas de aviação. Divisor de águas, o programa de treinamento instituiu mudanças nos comportamentos da equipe de voo, tripulação e demais integrantes das companhias que operam na terra. Com a medida, a frequência de acidentes envolvendo aviões comerciais se reduziu drasticamente, co- locando o veículo entre os mais seguros do mundo. Hoje, para cada 100 mil milhas viajadas, a média de morte é de 0,01, enquanto que de trem e carro esse número sobe para 0,04 e 0,94, respectivamente. Tendo sua origem no programa de pesquisa de fatores humanos da NASA, o CRM tem como meta o uso eficaz de todos os recursos dispo- níveis para garantir segurança e eficiência nas operações aéreas. Seu treinamento busca a mudança nas atitudes e nos comportamentos da tripulação, da equipe de voo e de todos os integrantes das companhias. A discussão em torno do modelo de segurança da aviação aplicado aos cuidados na saúde já tinha sido levantada pelos órgãos ligados ao setor há alguns anos. Em 1999, o Institute of Medicine (IOM) publicou o relatório “Errar é Humano”, constatando que falhas do trabalho em equipe e comunicação respondiam por 75% dos erros médicos nos EUA. E ainda nos anos 1990, a Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ) criou o MedTeams Project, tomando como modelo o CIRURGIA SEGURA 33 TeamSteps da aviação. Hoje, a Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations (JCAHO) recomenda às instituições que so- licitam a acreditação incorporar cursos de teamwork e comunicação a seus programas de educação profissional. 4. PROTOCOLO DE CIRURGIA SEGURA O protocolo de cirurgia segura do Ministério da Saúde em parceria com a ANVISA e FioCruz é o principal guia para uma cirurgia segura no Brasil. Ele está descrito da seguinte maneira: A Lista de Verificação divide a cirurgia em três fases: I – Antes da indução anestésica II – Antes da incisão cirúrgica III – Antes de o paciente sair da sala de cirurgia Cada uma dessas fases corresponde a um momento específico do fluxo normal de um procedimento cirúrgico. Para a utilização da Lista de Verificação, uma única pessoa deverá ser responsável por conduzir a checagem dos itens. CAPÍTULO 1 34 Em cada fase, o condutor da Lista de Verificação deverá confirmar se a equipe completou suas tarefas antes de prosseguir para a próxima etapa. Caso algum item checado não esteja em conformidade, a verifi- cação deverá ser interrompida e o paciente, mantido na sala de cirurgia até a sua solução. I – Antes da indução anestésica O condutor da Lista de Verificação deverá: • Revisar verbalmente com o próprio paciente, sempre que possível, sua identificação, para que esta seja confirmada • Confirmar que o procedimento e o local da cirurgia estão corretos • Confirmar o consentimento para cirurgia e a anestesia • Confirmar visualmente o sítio cirúrgico correto e sua demarcação • Confirmar a conexão de um monitor multiparâmetro ao paciente e seu funcionamento • Revisar verbalmente com o anestesiologista o risco de perda sanguínea do paciente, dificuldades nas vias aéreas, histórico de reação alérgica e se a verificação completa de segurança anestésica foi concluída II – Antes da incisão cirúrgica (pausa cirúrgica) Neste momento, a equipe fará uma pausa imediatamente antes da incisão cirúrgica para realizar os seguintes passos: • A apresentação de cada membro da equipe pelo nome e pela função • A confirmação da realização da cirurgia correta no paciente correto, no sítio cirúrgico correto • A revisão verbal, uns com os outros, dos elementos críticos de seus planos para a cirurgia, usando as questões da Lista de Ve- rificação como guia • A confirmação da administração de antimicrobianos profiláti- cos nos últimos 60 minutos da incisão cirúrgica • A confirmaçãoda acessibilidade dos exames de imagens ne- cessários CIRURGIA SEGURA 35 III – Antes de o paciente sair da sala de cirurgia A equipe deverá revisar em conjunto a cirurgia realizada por meio dos seguintes passos: • A conclusão da contagem de compressas e instrumentais • A identificação de qualquer amostra cirúrgica obtida • A revisão de qualquer funcionamento inadequado de equipa- mentos ou questões que necessitem ser solucionadas • A revisão do plano de cuidado e as providências quanto à abordagem pós-operatória e da recuperação pós-anestésica antes da remoção do paciente da sala de cirurgia IV – Definições • Lista de Verificação: lista formal utilizada para identificar, com- parar e verificar um grupo de itens/procedimentos • Demarcação de lateridade: demarcação de local ou locais a ser operados. Essa demarcação é particularmente importante em casos de lateralidade (distinção entre direita e esquerda), es- truturas múltiplas (p. ex., dedos das mãos e dos pés, costelas) e níveis múltiplos (p. ex., coluna vertebral) • Condutor da Lista de Verificação: profissional de saúde (médico ou profissional da enfermagem) que esteja participando da cirurgia e seja o responsável por conduzir a aplicação da lista de verificação, de acordo com diretrizes da instituição de saúde • Segurança anestésica: conjunto de ações realizadas pelo anes- tesiologista, que visa à redução da insegurança anestésica por meio da inspeção formal do equipamento anestésico, da che- cagem dos medicamentos e do risco anestésico do paciente antes da realização de cada cirurgia. Esse procedimento deve seguir as orientações contidas no Manual para Cirurgia Segura da OMS, traduzido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitá- ria – ANVISA • Equipe cirúrgica: equipe composta por cirurgiões, anestesiolo- gistas, profissionais de enfermagem, técnicos e todos os profis- sionais envolvidos na cirurgia CAPÍTULO 19 254 REFERÊNCIAS 1. Guimarães-Filho M, Maya M, Leal P, Melgaço A. Pancreatite aguda: etiologia, apresentação clínica e tratamento. Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto [internet]. 2014; 8(1) [acesso em 2020 jan. 26]. Disponível em: https://www.e- publicacoes.uerj.br/index.php/revistahupe/article/view/9234. CAPÍTULO 255 DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS Autores: Leonillson Joanh Paullo Vilarinho Barbosa Joannillson Taygon Vilarinho Barbosa Cádmo Silton Andrade Portella 20 1. INTRODUÇÃO Estudaremos neste capítulo as Doenças Infl amatórias Intestinais, dando enfoque à Doença de Crohn (DC) e à Retocolite Ulcerativa (RCU), as quais são assuntos muito abordados em provas de residência e que possuem uma grande importância para a prática clínica. Ambas as doenças podem possuir apresentações clínicas seme- lhantes e, dessa maneira, é lançado mão de subsídios laboratoriais e de imagem para que se possa chegar a um diagnóstico fi nal. Em cerca de 10% dos casos não se é possível diferenciar as doenças; nesse caso ela é denominada de colite indeterminada. Figura 1: O padrão saltatório da doença ajuda no diagnóstico de qual DII se trata Fonte: Johns Hopkins Medicine CAPÍTULO 20 256 1.1. Fisiopatologia Não há uma causa bem definida que explique ao certo o surgimento dessas doenças, mas acredita-se que a resposta estaria em alterações da imunorregulação intestinal. Entretanto, sabe-se que fatores genéti- cos (história familiar etc.) e ambientais (patógenos como: Salmonella, Campylobacter e anaeróbios); fatores psicossociais; tabagismo; hábi- tos alimentares; anticoncepcionais e anti-inflamatórios estão ligados às patogêneses destas. Obs.: Curiosamente tabagismo é fator protetor para risco de desen- volvimento de RCU, enquanto aumentaria em duas vezes o risco de desenvolvimento de DC. 2. DOENÇA DE CROHN 2.1. Epidemiologia Tem um pico de incidência etária bimodal (15 aos 25 anos e dos 55 aos 60 anos), principalmente em brancos, judeus principalmente de áreas urbanas, e tem o aumento do seu risco de incidência com o uso de anticoncepcionais orais em mulheres. 2.2. Patologia Na DC o trato gastrointestinal pode ser todo afetado desde a boca até o ânus em padrão descontínuo, tendo sítio de preferência para ins- talação no intestino delgado (90% dos casos), principalmente o íleo terminal. Dessa maneira, há o padrão de “pedra de calçamento” em que há uma mucosa sadia alternada com a mucosa lesionada (padrão descontínuo). De maneira mais histológica pode ser observado granu- lomas não caseosos formados por infiltrações frouxas de macrófagos e úlceras aftoides. 2.3. Diagnóstico Para realização do diagnóstico não se pode ater apenas a um as- pecto clínico ou laboratorial, é necessário um conjunto de indicativos laboratoriais, radiológicos, endoscópicos, além de anamnese para se fechar o diagnóstico e se excluir possíveis diagnósticos diferenciais tais DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS 257 como RCU, diverticulite, gastroenterite eosinofílica, apendicite, linfo- mas, entre outros. A manifestações clínicas apresentam-se com períodos de exacer- bação alternados com períodos de remissão. As manifestações intesti- nais mais características se apresentam como dor abdominal, diarreia e consequente perda ponderal, que também se associa à má absorção intestinal, que ocorre principalmente nas ileocolites. Entretanto, a DC pode afetar da boca ao ânus, portando os sintomas vão variar confor- me local de instalação e tipo de agressão ao organismo, podendo ser do tipo inflamatório, fibroestenosante ou fistulizante. Dessa maneira os sintomas variam desde febre baixa, astenia, úlceras aftoides em boca, sintomas dispépticos, diarreia sanguinolentas, incontinência anal, ab- cessos, suboclusões ou obstruções, fístulas enterocutâneas, perianais etc. Ainda há a existência de manifestações extraintestinais (MEI), mas estas serão vistas à parte por serem comuns a RCU e DC, apesar de leve predileção por portadores de DC. No exame físico podem ser observados achados a ectoscopia como aftas orais, fístulas enterocutâneas etc., além de dor a palpação abdo- minal, massas palpáveis, distensão devida a processos obstrutivos. O laboratório pode mostrar anemia, leucocitose VHS e PCR aumen- tados, distúrbios hidroeletrolíticos e albumina diminuída devido ao processo de desnutrição. Quanto a sorologias, os dois principais mar- cadores são o p-ANCA, anticorpo antineutrofílico citoplasmático peri- nuclear (detectado entre 60%-70% dos portadores de RCU e de 5%- 10% dos de DC) e o ASCA, anticorpos anti-Saccharomyces cerevisiae (presente em 60%-70% dos portadores de DC e 10%-15% dos de RCU). A radiografia simples pode indicar dilatações de alças, perfurações e em caso de uso de contraste evidenciar fistulas e estenoses. Resso- nância magnética e Tomografia computadorizada podem evidenciar espessamento mural >2cm e abcessos intracavitários. Enterotomogra- fia e enteroressonância têm obtido melhores resultados para avaliação do intestino delgado. 2.4. Tratamento Não existe tratamento que forneça a cura para a Doença de Crohn, sendo assim, o objetivo principal é buscar induzir e manter a remissão. O tratamento clínico se baseia em suporte clínico e medicamentoso. CAPÍTULO 20 258 O tratamento deve ser feito em etapas (indução da remissão e ma- nutenção), tendo como arsenal terapêutico usado conforme gravidade da doença, há corticoides, sulfassalazina, antibioticoterapia (com me- tronidazol e ciprofloxacino), imunossupressores (azatioprina e ciclos- porina) além de anticorpo monoclonais contra mediadores essências à cascata inflamatória: inibidores do TNF-alfa (infliximabe ou adalimu- mabe) e anti-integrina (natalizumab e vedolizumab). Ele é iniciado após um sistema de avaliação da atividade da doença baseado no número de evacuações, dor abdominal, status geral, perda ponderal, ocorrência de fístulas e de manifestações patológicas a dis- tância, que permite classificar a doença em leve, moderada ou grave. De maneira geral, na doença leve a moderada a droga deprimeira escolha são os derivados do 5-ASA (estratégia dita como STEP UP: iní- cio com medicações menos potentes). Uma vez alcançada a remissão a manutenção também é realizada com os derivados de 5-ASA. Já nos no caso das doenças moderada a grave a droga de primeira escolha são os agentes anti-TNF, associados a algum imunomodulador (estratégia dita como TOP DOWN: combinação de duas drogas, sendo assim mais efetiva). A mesma terapia de indução que responde bem, sendo dupla deve ser mantida para terapia de manutenção. No caso de doença grave ou fulminante, torna-se uma emergên- cia, devendo as complicações – seja perfuração, abscesso ou obstru- ção – serem resolvidas com rafia, drenagem e tratamento clínico inicial, respectivamente. Além dessas condutas citadas, o uso de antibiotico- terapia deve ser preconizado, cobrindo gram-negativos entéricos e anaeróbicos. Após o tratamento instituído e melhora clínica, agentes biológicos ou corticoides devem ser iniciados. O tratamento cirúrgico tem um papel restrito devido à patologia da DC (doença que tem padrão saltatório por todo o trato gastroin- testinal), procurando sempre tratamento conservador inicialmente, com exceção daquelas associadas a situações que ameaçam a vida do paciente como em sepse e hemorragia maciça. De 70%-75% dos pa- cientes com DC precisam cirurgia em algum momento para aliviar os sintomas se o tratamento medicamentoso fracassar. Deve-se buscar realizar sempre a menor ressecção do intestino, op- tando-se por estricturoplastia às enterectomias, pois recidivas são co- muns nas anastomoses, aumentando assim chances de reabordagens. Após cirurgia, deve-se considerar azatioprina e metronidazol durante pelo menos 3 meses, pois têm demonstrado reduzir a recorrência. DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS 259 As opções cirúrgicas mais comuns são a ressecção local com anas- tomose primária (mais comum), estenoplastia (múltiplas áreas este- nosadas ao longo do segmento intestinal), colectomia subtotal com ileoproctostomia e colectomia total com ileostomia. 2.5. Manifestações extraintestinais (mei) As manifestações extraintestinais (MEI) estão presentes nas DII em uma variação de 21% a 36% dos pacientes, sendo esta variação influen- ciada por área geográfica estudada, duração e da extensão da doença. Doença ativa, história familiar positiva para DII (70% a 84%) e presença de alguns alelos HLA tem sido associada a elas. Podem afetar qualquer órgão ou sistema, sendo os órgãos mais afetados a pele, articulações, olhos e fígado. Há uma correlação en- tre episódios de atividade intestinal e exacerbação dos sintomas ex- traintestinais (como artrite periférica, eritema nodoso e lesões aftosas orais). Entretanto, algumas manifestações têm curso independente da atividade intestinal, como, por exemplo, uveíte, artrite axial, pioderma gangrenoso e colangite esclerosante primária. Outras manifestações mais raras incluem bronquiectasia, bronquite, osteomalacia, osteopo- rose, nefrolitíase, tromboembolismo e vasculites. 3. RETOCOLITE ULCERATIVA (RCU) 3.1. Epidemiologia A doença pode iniciar em qualquer idade, tendo um pico de inci- dência etária bimodal (20 aos 40 anos, com muitos estudos mostrando um segundo pico de incidência dos 55 aos 60 anos), sem predileção por sexo, sendo judeus preferencialmente afetados. 3.2. Patologia Esta doença se inicia no reto e progride de maneira ascendente e contínua, restringindo-se até no máximo o cólon (metade das vezes restringe-se ao reto, indo no máximo até o sigmoide e em apenas 20% dos casos acomete todo o cólon). É possível se perceber de maneira macroscópica que ela acomete predominantemente a camada muco- sa do cólon. Em uma análise mais histológica, uma característica muito CAPÍTULO 20 260 observada é a presença de neutrófilos invadindo o epitélio geralmente nas criptas, e com isso há a “criptite”. 3.3. Diagnóstico As manifestações clínicas apresentam-se com períodos de exacer- bação alternados com períodos de remissão (há pessoas que apre- sentam doença crônica e contínua). Os sintomas variam conforme a apresentação e a extensão das lesões, podendo haver manifestações extraintestinais associadas. As manifestações clínicas mais comuns são diarreia, sangramento retal, eliminação de muco nas fezes e dor abdo- minal. Em casos exuberantes pode haver perda ponderal, febre e ano- rexia. Normalmente não há grandes alterações ao exame físico. O laboratório pode mostrar anemia, leucocitose, VHS e PCR aumen- tados, distúrbios hidroeletrolíticos e hipoalbuminemia. Leucócitos na coprologia funcional. Quanto a sorologias, os dois principais marcado- res são o p-ANCA e o ASCA (a presença de p-ANCA + e ASCA – mostra uma especificidade de 98% p RCU). A radiografia simples é útil para detectar a forma fulminante da do- ença. Mas como o tratamento é realizado de acordo com a extensão da doença, a retossigmoidoscopia flexível é útil para definir as porções acometidas. A colonoscopia é contraindicada na suspeita de megacó- lon tóxico, devido ao risco de perfuração. 3.4. Tratamento A gravidade da doença é melhor avaliada pela intensidade dos sin- tomas e pode ser classificada pelos critérios estabelecidos por Truelove e Witts, úteis na definição terapêutica de indução da remissão e ma- nutenção: 1) leve (menos de 3 evacuações por dia, com ou sem san- gue, sem comprometimento sistêmico e com VHS normal); 2) mode- rada (mais de 4 evacuações por dia com mínimo comprometimento sistêmico); 3) grave (mais de 6 evacuações por dia com sangue e com evidência de comprometimentos sistêmicos, tais como febre, taquicar- dia, anemia e VHS acima de 30). Megacólon tóxico também devem ser considerado grave. De maneira geral, nas colites leves a indução é praticada com a mesalazina retal. Em caso de refratariedade é possível associação com corticoide retal. Para a manutenção o tratamento pode ser mantido DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS 261 com mesalazina retal. Para os casos de colite leve a moderada a terapia de escolha serão os derivados de 5-ASA, mas por via oral. Em caso de colites graves a fulminantes é necessário suporte clínico inicial e, em alguns casos refratários, realização de colectomia total. A indução e a remissão são realizadas com derivados de 5-ASA, inicialmente, mas em caso de refratariedade imunomoduladores e até biológicos (anti-TNF) devem ser considerados. De 25%-30% dos pacientes com CU podem precisar cirurgia se o tratamento médico não for completamente bem-sucedido. Observem que pela patologia da doença, esta manifesta-se de maneira restrita ao cólon, logo o tratamento cirúrgico com ressecção colônica torna-se curativa, sendo a proctocolectomia restauradora com IPAA (Ileal Pou- ch Anal Anastomosis) o padrão de escolha. Assim sendo, as indicações de tratamento cirúrgico são: 1) refratariedade ao tratamento clínico; 2) displasias e carcinomas (colectomia); 3) colites fulminantes e refra- tárias e megacólon toxico (colectomia total com ileostomia mais se- pultamento do reto a Hartmann (ou fístula mucosa) e 3) sangramento colônico maciço. 3.5. Complicações locais das DII Perfuração (ruptura) do intestino: a perfuração intestinal ocorre quando a inflamação crônica e a ulceração do intestino enfraquecem a parede intestinal, culminando com uma abertura, representando Figura 1: Proctocolectomia restauradora com IPAA (Anastomose Anal da Bolsa Ileal) Fonte: Medscape.8 CAPÍTULO 20 262 potencialmente risco de morte devido a peritonite. Na retocolite, essa complicação está geralmente relacionada ao megacólon tóxico (ver abaixo). Na Doença de Crohn (DC) ela normalmente ocorre como re- sultado de um abscesso ou fístula. Colite fulminante: quando uma inflamação grave faz com que o có- lon se torne extremamente dilatado, ocorre o que se chama íleo paralí- tico. Os movimentos peristálticos paralisam temporariamente e ocorre uma distensão abdominal. O raio X abdominal pode revelar uma con- centração aumentada de gases localizadaem regiões paralisadas do intestino grosso. Megacólon tóxico: é considerado a complicação mais grave das DII (mais comum na RCU). O cólon se dilata, perdendo a capacidade de executar a peristalse de forma adequada. Manifesta-se com leucocito- se, febre alta e dor abdominal, com sinais de peritonite. A radiografia simples indica dilatação em alça colônica >6cm. O suporte clínico deve ser oferecido o quão breve possível (dieta zero, sonda nasogástrica, re- posição hidroeletrolítica). Caso o paciente não apresente melhora do quadro dentro de um período de 24 a 48 horas, a cirurgia pode ser necessária com colectomia total. Maior risco de câncer colorretal: de 5% a 8% dos pacientes porta- dores da RCU desenvolverão câncer colorretal em 20 anos a partir do momento do diagnóstico da doença. É menos comum na DC. O risco de câncer colorretal aumenta de acordo com a gravidade e a duração da doença. CU DISTAL CU EXTENSA DC leve 5-ASA retalCS retal 5-ASA tópico e oral Sulfassalazina 5-ASA para doença colônica METRO ou CIPRO. Para DP BUD para doença ileal e/ou cólon direito moderada 5- ASA retal ou oral CS retal CS oral 5-ASA tópico e oral AZA ou 6-MP Anti-TNF GCS oral AZA ou 6-MP MTX Anti- TNF severa 5-ASA retal e oral GCS oral ou intra- venoso CS retal CS EV CSA EV Infliximabe EV CS oral ou EV MTZ subcutâneo ou IM infliximabe EV ou adalimumab SC ou certolizumab SC Tabela 1: Tratamento clínico das DII
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