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Definição: Cardiopatia congênita é uma alteração estrutural na função do coração ou dos grandes vasos da base, presente ao nascimento. Apresentação Clínica Geralmente, temos a apresentação clínica da cardiopatia congênita nos primeiros meses de vida, mas o diagnóstico pode ser feito em qualquer época desde o período fetal. A maioria dos casos ocorre nos primeiros seis meses, com predomínio no primeiro mês de idade (tendo maior taxa de hospitalização na primeira semana de vida). Cardiopatias ductodependentes são dependentes do canal arterial, cujo fechamento piora o quadro clínico, e são mais prevalentes nesse início da vida: ● Transposição de grandes artérias; ● Tetralogia de Fallot; ● Coarctação da aorta; ● Atresia pulmonar; ● Atresia tricúspide com estenose pulmonar severa; ● Interrupção do arco aórtico; ● Estenose aórtica crítica; ● Hipoplasia de ventrículo esquerdo. As cardiopatias cujas manifestações clínicas dependem da queda da resistência vascular pulmonar geralmente se expressam de 1 a 6 meses de vida como: ● A comunicação interventricular (CIV); ● A persistência de canal arterial (PCA); ● O defeito do septo atrioventricular. Síndromes clínicas: RN e lactentes costumam apresentar quatro alterações clínicas: cianose, insuficiência cardíaca, sopro e arritmia, enquanto crianças maiores e adolescentes podem também apresentar dor precordial, tontura e síncope. Pulsos diminuídos: Na hipoplasia do coração esquerdo e na estenose aórtica crítica, os pulsos estão diminuídos em todos os locais. Na coarctação da aorta e na interrupção do arco aórtico, os pulsos estão diminuídos nas extremidades inferiores. Cianose: A cianose na criança com cardiopatia congênita é do tipo central, quase sempre generalizada. O aparecimento da cianose ocorre quando a concentração de hemoglobina reduzida é > 5 g/dL, o que justifica sua ausência em crianças com anemia. A cianose pode ser leve ou ausente em casos com hiperfluxo pulmonar e grande mistura arteriovenosa. Em alguns RN, a cianose é a única manifestação clínica. Insuficiência cardíaca: Várias cardiopatias podem se apresentar com sinais clínicos de insuficiência cardíaca como taquipneia, cansaço, interrupção das mamadas, sudorese, taquicardia, cardiomegalia e/ou hepatomegalia. Tais manifestações clínicas decorrem de alterações fisiológicas. Com isso, a idade de aparecimento da insuficiência cardíaca pode auxiliar a diferenciação diagnóstica. Sopro: O sopro cardíaco é a principal causa de encaminhamento para a investigação de cardiopatia congênita, mas a maioria dos pacientes apresenta sopro inocente. Quando há alguma doença associada que apresente repercussão hemodinâmica, geralmente a causa do encaminhamento é a insuficiência cardíaca. A ausência de sopro cardíaco não afasta a presença de cardiopatia. Arritmia: É uma manifestação rara de cardiopatia congênita. O bloqueio atrioventricular total (BAVT) é a arritmia congênita isolada ou associada mais frequente. Pode ser a primeira manifestação clínica de doenças, como anomalia de Ebstein e transposição corrigida de grandes artérias. Infecções congênitas: Avaliar presença de infecções perinatais também é importante. A rubéola congênita é responsável por persistência de canal arterial (PCA), estenose pulmonar valvar, estenose de ramos periféricos da artéria pulmonar. Algumas infecções congênitas (toxoplasmose, herpes, HIV, sífilis, CMV, rubéola) podem levar a quadro de grave disfunção ventricular decorrente de miocardite, com variáveis graus de disfunção hemodinâmica. Síndromes genéticas: Várias síndromes estão associadas a cardiopatias congênitas: ● Síndrome de Down: CIV, defeito de septo atrioventricular, PCA, CIA e tetralogia de Fallot; ● Trissomia do 13 (síndrome de Patau): CIA, CIV, dextrocardia, doença polivalvular e ducto arterioso pérvio (persistência do canal arterial); ● Trissomia do 18 (síndrome de Edwards): CIA, CIV, PCA, coarctação da Aorta, dupla via de saída de ventrículo direito e displasia polivalvular; ● Síndrome de Turner: coarctação da aorta, válvula aórtica bicúspide; ● Síndrome Noonan: estenose pulmonar, cardiomiopatia; ● Síndrome de Marfan: prolapso da válvula mitral, dilatação da raiz da aorta; ● Síndrome de Williams: estenose aórtica supravalvar, estenose pulmonar distal; ● Síndrome Holt-Oram: CIA, CIV; ● Síndrome DiGeorge: tronco arterioso comum, tetralogia de Fallot, interrupção do arco aórtico; ● Síndrome alcoólica-fetal: CIV, CIA, tetralogia de Fallot; ● Síndrome de Alagille: estenose pulmonar periférica; ● CHARGE: CIV, CIA e defeito de septo atrioventricular; ● Ellis-van Creveld: átrio único; ● Fanconi: PCA, CIV; ● Cimitarra: hipoplasia do pulmão direito, DAPVPD. Pearls & Piftalls Características clínicas das principais cardiopatias congênitas que apresentam insuficiência cardíaca: ● Início com < 48 horas de vida: - Anomalia de Ebstein: Cianose central, cardiomegalia acentuada, bloqueio de ramo direito; - Hipoplasia de ventrículo esquerdo: Ausência de pulso nos quatro membros, choque, ausência de sopro, sobrecarga ventricular direita, cianose importante com CIA restritivas; ● Início na 1a semana de vida: - Estenose aórtica valvar grave: Ausência de pulso nos quatro membros, choque, sopro sistólico leve ou ausente, sobrecarga ventricular esquerda; - Drenagem anômala de veias pulmonares obstrutiva: Cianose central, área cardíaca normal, edema pulmonar, sobrecarga ventricular direita; ● Início na 2a a 3a semanas de vida: Coarctação da aorta: Ausência de pulsos em membros inferiores, choque, ausência de sopro, sobrecarga ventricular direita; ● Início com mais de 3 semanas de vida: - Transposição de grandes artérias + CIV, tronco arterioso, dupla via de saída do VD sem estenose pulmonar: Cianose central, sobrecarga biventricular; - Cardiopatias de shunt (CIV, PCA, defeito de septo AV total, origem anômala de coronária esquerda, ventrículo único sem estenose pulmonar): Sopro de aparecimento tardio. Abordagem Diagnóstica Como os sintomas dos pacientes estão relacionados às alterações do fluxo pulmonar, as cardiopatias congênitas são classificadas funcionalmente em cardiopatias de hipofluxo/normofluxo /hiperfluxo pulmonar, além de serem primariamente classificadas como cianóticas e acianóticas. Abordagem diagnóstica usual: Para fazermos o diagnóstico das cardiopatias congênitas, utilizamos a clínica, o ecocardiograma, o teste de hiperóxia, a radiografia de tórax e o eletrocardiograma. Ecocardiograma: Ajuda na diferenciação entre a cianose de causa cardíaca e a não cardíaca (pulmonar, hematológica e neurológica), além de revelar anomalias estruturais e funcionais diagnósticas. Teste de hiperóxia: Fornecer oxigênio a 100%, por 5-10 minutos: se PaO2 aumentar acima de 150 mmHg, sugere ausência de cardiopatia congênita cianótica; se PaO2 aumentar acima de 250 mmHg, a exclui. Caso não tenha os aumentos citados, está fortemente associado à alteração cardiológica. Radiografia de tórax: Pode exibir alterações na silhueta cardíaca sugestivas de determinada cardiopatia congênita, bem como o aumento da área cardíaca em vigência de insuficiência cardíaca. O fluxo pulmonar também pode ser avaliado pela trama vascular pulmonar, sendo importante também no diagnóstico diferencial com causas respiratórias. Eletrocardiograma: Revela sobrecargas cavitárias e distúrbios de condução que auxiliam no diagnóstico diferencial das cardiopatias congênitas. Rastreio - teste da oximetria ou teste do coraçãozinho: O teste do coraçãozinho deve ser realizado em todos os neonatos aparentemente saudáveis com idade gestacional > 34 semanas, entre 24 e 48 horas de vida, antes da alta hospitalar. Medir a oximetria de pulso no membro superior direito (MSD) e em um dos membros inferiores. Observar se o neonato está com extremidades aquecidas e se o monitor evidencia onda de padrão homogêneo. ● Resultado normal: Saturação periférica ≥ 95% em ambas as medidas e diferença < 3% entre as medidas do membro superior direito e um dos membro inferiores; ● Resultado anormal: Caso qualquermedida seja < 95% ou houver diferença ≥ 3% entre as medidas do membro superior direito e membro inferior, uma nova aferição deve ser realizada após uma hora. Caso o resultado se confirme, fazer ecocardiograma dentro das próximas 24 horas. Causas cardiovasculares de cianose: ● Com hipofluxo pulmonar: Estenose pulmonar grave, atresia pulmonar (com ou sem CIV), atresia tricúspide, tetralogia de Fallot, transposição de grandes artérias com estenose pulmonar, anomalia de Ebstein; ● Com hiperfluxo pulmonar: Coração esquerdo hipoplásico, drenagem anômala total, transposição de grandes vasos com ou sem CIV, ventrículo único, atresia tricúspide com transposição de grandes artérias (TGA), tronco arterioso comum. Diagnóstico Diferencial Diagnóstico diferencial se estabelece entre as diversas cardiopatias congênitas e entre causas não cardíacas de cianose e/ou taquipneia no RN. São causas não cardíacas: ● Hipertensão arterial pulmonar; ● Pneumonia; ● Doença de membrana hialina; ● Atelectasia; ● Enfisema lobar congênito; ● Hérnia diafragmática; ● Hipoplasia pulmonar; ● Laringomalácia; ● Anel vascular; ● Síndrome de aspiração meconial; ● Cisto broncogênico; ● Edema pulmonar; ● Derrame pleural, quilotórax, hemotórax; ● Pneumotórax; ● Obstrução das vias respiratórias; ● Síndrome da angústia respiratória do RN - Última atualização: 05/05/2021
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