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CLÍNICA DE GRANDES ANIMAIS Maria Eduarda Rocha / Dara Alves ENFERMIDADES MUSCULARES EM EQUINOS Histórico completo dos animais envolvidos: → Duração da enfermidade → Intermitência dos sinais clínicos → Prática de exercícios → Dieta → Ocorrência de enfermidade em outros animais → Relação familiar Exame físico: · Inspeção a distância · Tamanho, forma, simetria dos grupos musculares e tremores · Anormalidades de marcha · Palpação · Tônus, consistência, sensibilidade e temperatura Patologia clínica: · Avaliação da CK (creatina quinase; creatinofosfoquinase) · Excelente indicador de necrose muscular · Normal: inferior a 250 UI/L · 400 a 500 UI/L em início de treino (resposta a exercício moderado) · 1.000 a 5.000 UI/L em exercícios intensos (ex: enduro 3 dias) · Não refletem miopatia grave, pois em 24 a 48 horas após o esforço, a mensuração estará menor que 250 UI/L · Avaliação da AST (aspartato aminotransferase) · Auxilia na identificação de necrose muscular · Eleva mais lentamente que a CK · Meia vida da AST é maior que a da CK · AST normal: 226 a 236 UI/litro Outros exames: · Urinálise · Testes físicos de exercício · Eletromiografia · Biópsia muscular · Dosagem de vitaminas e minerais · Teste genético Miopatias – problema comum: · Mal da segunda feira Pensou-se muito tempo ser uma entidade única, porém trata-se de uma síndrome que possui múltiplas etiologias · Tying-up · Mioglobinúria paralítica · Rabdomiólise RABDOMIÓLISE ESPORÁDICA DE ESFORÇO: · Alteração muscular comum em equinos · CAUSAS: · Esforço físico excessivo · Desequilíbrio eletrolítico · Deficiência de selênio e vitamina E · Desequilíbrios hormonais · PATOGENIA – por esforço: · Quando o animal faz esforço, há redução da vascularização total e aumento do ácido lático. Quando esse ácido lático entra em contato com a musculatura, há acidificação causando acidose muscular local, e consequentemente destruindo as células (destruição muscular renal), havendo liberação de CK e mioglobina. A mioglobina liberada deve ser metabolizada para ser eliminada, podendo gerar então a mioglobinúria. O excesso de mioglobina causa lesão renal, uremia, podendo inclusive levar o animal a óbito · O tratamento é baseado em medidas para interromper essa patogenia e evitar o óbito · SINAIS CLÍNICOS: · Rigidez muscular / dor / tremores · Sudorese profunda · Urina marrom avermelhada / preta (mioglobinúria) · Micção inibida / IR / uremia · Decúbito e morte · Os sinais clínicos das miopatias em geral são muito semelhantes, então não é possível diferenciá-las pela sintomatologia, sendo necessário outros métodos diagnósticos · Rigidez muscular e dor muscular são os sinais clínicos mais notáveis · PATOLOGIA CLÍNICA: · Aumento de CK e AST · Mioglobinúria · Biópsias musculares (mionecrose de fibras tipo II) · DIAGNÓSTICO: · Sinais clínicos · Aumento de CK e AST no soro · Teste genético PSSM · DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: · Cólicas, laminite, hemoglobinúria · TRATAMENTO: · Repouso absoluto · Colocar em espaço restrito (de preferência baia) para repouso absoluto · Fenilbutasona 2,2 mg/kg BID · Miorrelaxantes · Coltrax - Tiocolchicosídeo · Vitamina B1 · A vitamina B1 é um adjuvante no tratamento, pois fornece energia para o músculo · Vitamina E (650 UI/100 kg) e selênio (0,1 mg/kg) · Vitamina E e selênio possuem ação anti-oxidante e ajudam a musculatura se recuperar mais rápido (aceleração do processo de recuperação) · Hiper hidratação com solução fisiológica (para minimizar lesões renais) · Esse tratamento se aplica a quase todas as miopatias que tem como consequência a rabdomiólise · CONTROLE: · Programas de exercícios regulares · Alimentação balanceada · Sal mineralizado · Diminuir quantidade de grãos na dieta RABDOMIÓLISE DE ESFORÇO RECIDIVANTE: · Comum em cavalos PSI (puro sangue inglês) · Enfermidade autossômica dominante (causada por mutação genética) · Não tem cura · Crises durante o exercício (pode tratar para tirar o animal da crise, mas voltará a ter problemas) · Muitas vezes os animais tem crises durante as provas, e é necessário parar · Queda de desempenho · Aumento de CK e AST · Prevenção e tratamento · O tratamento do animal em crise é o mesmo tratamento da rabdomiólise esporádica de esforço · A prevenção consiste no condicionamento físico dos animais · Uma vez apresentado o quadro clínico, o animal terá grandes chances de recidivar MIOPATIA POR ACÚMULO DE POLISSACARÍDEO 1 (PSSM1): · Principal causa de miopatia em cavalos no mundo inteiro · PSSM – enfermidade neuromuscular · Caracterizada pelo acúmulo anormal de glicogênio e inclusão de polissacarídeos nas fibras musculares esqueléticas · O glicogênio é utilizado para atividade muscular (imprescindível para movimentação) · Cavalos com essa doença acumulam glicogênio · Carlstrom, 1932 – Correlação de rabdomiólise com acúmulo de glicogênio na musculatura · 9 casos · O estudo analisou que 9 casos (potros) possuíam histórico recorrente de rabdomiólise e inclusão de polissacarídeo nas fibras musculares tipo II · Um levantamento apontou a prevalência de 6 a 12% de acúmulo de polissacarídeos na musculatura de QM nos EUA · Duas propriedades entre 20 e 41% · Doença hereditária?? · Levantou-se a suspeita de ser uma doença genética · Outro estudo que afirmou que se trata de uma mutação e que não é toda miopatia que é causada por esforço físico · Por exemplo a PSSM causa uma miopatia genética, em que não é necessário esforço físico para ocorrer · Mutação autossômica dominante · Gene GYS1 · c.926G>A – resultando na troca de uma arginina por uma histidina · O cavalo com PSSM2 apresentará clínica idêntica ao PSSM1, porém se trata de outro tipo de mutação, em outro local que ainda não foi identificado · Ainda não existe teste genético para PSSM2, por isso muitas vezes que se faz o teste para PSSM1 e dá negativo, tem a probabilidade de se tratar de PSSM2 · PATOGENIA: · Mutação no gene GYS1 → Excesso de glicogênio nas fibras 2A e 2X → Lesão muscular · Ainda não está completamente compreendida · Causa proposta: · Aumento da captação de glicose, que leva ao acúmulo de glicogênio · EPIDEMIOLOGIA: · Mutação no gene GYS1 descrita em 20 raças · Prevalência na raça QM nos EUA variou entre 6,6 e 11,3 · Prevalência de 62,4% da PSSM1 na raça Percheron · SINAIS CLÍNICOS: · Podem ser assintomáticos · Nos animais em que a doença se manifesta, os sinais podem variar em intensidade · Rigidez muscular · Sudorese · Dor e relutância em se movimentar · Fasciculações musculares · Fraqueza e atrofia muscular · Andar rígido · Sinais de cólica · Mioglobinúria · Decúbito · Geralmente os animais acometidos apresentam mais de um sinal clínico característico · DIAGNÓSTICO: · Sinais clínicos · Aumento de CK e AST · Histórico de miosite recorrente · Teste genético para PSSM1 (padrão ouro) · Ao diagnosticar um animal positivo, deve-se direcionar os acasalamentos para evitar o nascimento de produtos geneticamente positivos · Em casos negativos, indica-se realizar biópsia muscular e exame histopatológico, pois pode se tratar de um animal PSSM2 acometido clinicamente · Não existe teste genético para PSSM2, então se for o caso, esse tipo de animal constará como negativo no teste genético para PSSM1, apesar de apresentar a sintomatologia · Lado superior direito: animal negativo · Lado superior esquerdo: animal positivo (acúmulos de polissacarídeos) · Parte inferior: referente ao teste da amilase para polissacarídeos · TRATAMENTO: · Suporte · Fluidoterapia – correção do equilíbrio hidroeletrolítico e ácido básico · AINEs (cuidado!) · Relaxante muscular · Sedativos · Vitamina E e selênio · PROGNÓSTICO: · Não tem cura · Animais sempre susceptíveis a desenvolver os sinais clínicos · Sinais podem ser controlados com manejo e alimentação adequada · Episódios recorrentes – desfavorável quanto ao desempenho atlético · DIETA: · Houve controle dos sinais clínicos em 93% (84/90) dos cavalos que tiveram suas dietasmodificadas, após 4 meses de consumo · Substituir por dieta energética, mas tomar cuidado com excesso · EXERCÍCIO: · Mudanças na dieta devem ser acompanhadas de um programa regular de exercício · Menor tempo possível em baias · Garantir o livre acesso ao pastejo reduz o pico pós prandial de insulina e glicose · Tanto a PSSM1 quanto a PSSM2 podem ser assintomáticas, em casos que as condições de vida do animal não favorecem o aparecimento de sintomatologia clínica PARALISIA PERIÓDICA HIPERCALÊMICA (HYPP): · Miopatia por alteração elétrica da membrana (sarcolema) · Doença autossômica co-dominante ocasionada por uma mutação no cromossomo 11 do gene SCN4A do canal de sódio (substituição de um C por um G) · Co-dominante: o animal com uma mutação tem sinais clínicos mais brandos que o animal com duas mutações · Gene do canal de sódio: ação de substituição de uma citosina por uma guanina · Função de controlar as contrações das fibras musculares · PATOGENIA: · Repolarização: momento do relaxamento · Haverá aumento da permeabilidade do sódio e dificulta a repolarização · O sódio entra na célula mas terá dificuldade para sair para fazer a troca com o potássio, então haverá aumento do potássio sérico. Ou seja, o sódio entra na célula muscular e não consegue sair para o potássio entrar · No momento da crise, ao dosar o potássio estará em excesso · EPIDEMIOLOGIA: · Conhecida como “Síndrome do Impressive” (2.250 filhos) · Descrita nas raças QM, Paint Horse e Appaloosa · Afeta principalmente animais de conformação · Essa doença acaba se propagando muito pois os animais acometidos possuem características fenotípicas desejadas, como a proeminência da musculatura · 4% de prevalência nos EUA · 56,4% de prevalência em QM de conformação · 2,2% de prevalência no Brasil (182 cavalos) · A prevalência da mutação no gene SCN4A foi de 4,2% em equinos QM no Brasil · Em 13 propriedades brasileiras foram colhidas amostras de cavalos de conformação, sendo que em 7 delas (53,8%) havia animais positivos · SINAIS CLÍNICOS: · Os sinais clínicos variam (assintomáticos ou crises diárias) · Fasciculações musculares · Prolapso de terceira pálpebra · Fraqueza muscular · Dificuldade respiratória · Decúbito · Ocasionalmente mortes · Duração dos episódios (20 minutos a 4 horas) · Os sinais clínicos surgem antes dos animais atingirem 3 anos de idade · DIAGNÓSTICO: · Sinais clínicos – elevação do potássio sérico · Registro genealógico (Impressive) · Teste genético (mutação gene SCN4A) · TRATAMENTO: · Casos esporádicos e crises brandas – não necessário · O tratamento é baseado em tentar facilitar a repolarização da célula · Gluconato de cálcio e dextrose IV · (0,2 a 0,5 ml/kg de PV de solução a 23% de gluconato de cálcio em um litro de dextrose a 5%) · Aumenta o limiar do potencial de membrana muscular, o que diminui sua excitabilidade · Diuréticos – acetozolamida · (2 a 4 mg/kg QUID) · Facilita a entrada de potássio na célula · Dieta balanceada com baixo teor de potássio · Cavalo com essa doença não pode comer alfafa por exemplo (rico em potássio) · Julho 2004: Teste obrigatório para descendentes Impressive → resultado constando no registro · Todo animal que tivesse Impressive na genealogia deveria fazer o teste e constar no registro se era positivo ou negativo · Julho 2007: Registro de HYPP homozigoto proibido · A partir de 2007, instituiu-se que o registro fosse negado para animais homozigotos · Essa medida de proibir o registro de animais homozigotos não houve eficácia em reduzir a prevalência desses animais · Estudo feito com 101 cavalos brasileiros: MIOPATIA DA CADEIA PESADA DE MIOSINA: · Miopatia imunomediada / Rabdomiólise não relacionada ao exercício · Caráter genético · Atrofia muscular intensa e repentina · Enfermidade genética que causa reação auto-imune nas miofibras do tipo 2X, resultando em episódios de acentuada atrofia muscular · Doença autossômica dominante causada por uma mutação no gene MYH1 · Apresenta-se como duas síndromes clínicas sobrepostas: · Miopatia imunomediada · Miopatia não relacionada ao exercício · Pode fazer com que o sistema imunológico do cavalo ataque as fibras 2X que contém a miosina mutada · EPIDEMIOLOGIA: · Acomete o QM e raças relacionadas (mais frequente em QM de rédeas) · FATORES DESENCADEANTES: · Infecções por Streptococcus (ex: garrotilho) · Influenza (poucas semanas após infecção) · Vacinação (Influenza, garrotilho, herpes) · Uso de imunoestimulantes · EUA: · Prevalência de 6,8% em QM · 24,3% em QM de rédeas · 16% em QM de conformação · 8,8% em QM de apartação · QM tambor e corrida não identificado · Brasil: · 299 cavalos QM testados · Prevalência de 14,7% em QM · 21,9% em QM de rédeas · 5,5% em QM de conformação · 6% em QM de apartação · 10% em QM tambor · 5,7% em QM corrida · SINAIS CLÍNICOS: · Músculos firmes, edemaciados e doloridos · Rápida atrofia muscular (dorso e garupa) · Rigidez muscular / relutância em andar · Perda de apetite · Febre · Apatia · PATOLOGIA CLÍNICA: · Aumento de CK e AST · Se não der o suporte necessário, os animais podem morrer de insuficiência renal, devido a mioglobinúria · DIAGNÓSTICO: · Histórico e epidemiologia · Teste genético (padrão ouro) · TRATAMENTO: · Dexametasona 0,05 mg/kg por 3 dias, seguida por Prednisolona 1mg/kg por 7 a 10 dias – 3 mg por animal/dia durante 30 dias · Suporte: · Antibioticoterapia se necessário · Antipirético · Vitamina E e selênio para ajudar na recuperação · Cavalos em recuperação: · Fornecer dieta balanceada e de qualidade para auxiliar na recuperação muscular · Atenção com intervalo entre vacinação · PROGNÓSTICO: · Geralmente se resolve sem sequelas a longo prazo · A massa muscular se recupera em 2 a 3 meses · Em animais homozigotos para a mutação, a recorrência é frequente nos primeiros dois anos após o 1º episódio MIOPATIA NUTRICIONAL (deficiência de vitamina E e selênio): · Doença miodegenerativa de curso subagudo a hiperagudo que atinge as musculaturas esqueléticas e cardíacas · A vitamina E e o selênio agem como protetor antioxidante das membranas plasmáticas · Acomete animais pecuários, principalmente bezerros, cordeiros, cabritos e potros jovens (baixa ingestão de selênio durante a gestação) · Doença do músculo branco · SINAIS CLÍNICOS: · Forma cardíaca: · Depressão · Dispnéia · Taquicardia · Ritmo cardíaco irregular · Sopros cardíacos · Morte repentina · A forma cardíaca geralmente é achado de necropsia, não é muito encontrada na rotina clínica · Forma esquelética: · Fraqueza muscular e andar rígido · Decúbito com incapacidade de levantar · Tremores musculares · Dor a palpação · Disfagia (língua) · Dispnéia · Morte repentina · A forma esquelética é bastante encontrada na rotina · Os sinais clínicos são compatíveis com qualquer outra miopatia, mas a patologia clínica é diferente (níveis de CK serão altíssimos) · NECROPSIA: · Músculos esqueléticos brancos · Músculo miocárdico com faixas pálidas · DIAGNÓSTICO: · Clínico histórico · Dosagem de CK · Avaliação dos níveis de selênio na dieta · Necropsia · TRATAMENTO: · Forma cardíaca – lesão miocárdica geralmente incompatível com a vida · Forma esquelética: · Suplementação com vitamina E e selênio · Vitamina E – 600 a 1800 mg por animal · Selênio – 2,5 a 3 mg/45 kg/PV · Tratamento de suporte · PREVENÇÃO E CONTROLE: · Suplementar com selênio (0,3 ppm) · Suplementação das águas prenhes em regiões deficientes · Suplementação durante a lactação para aumentar a concentração no leite
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