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1 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Síndrome de Sjögren INTRODUÇÃO • Conceito: o Doença autoimune, sistêmica, crônica, que acomete caracteristicamente as glândulas exócrinas, mas também órgãos internos o A característica histopatológica é uma intensa infiltração linfoplasmocitária principalmente do epitélio dos tecidos envolvidos ▪ Nas glândulas, levam à destruição e à perda da função secretora (clinicamente caracteriza a doença) • Epidemiologia: o Predomina em mulheres (14:1) o Tem um pico de incidência em torno da perimenopausa (entre 40 e 60 anos) o A prevalência varia na população mundial (0,04 a 4,8%), dependendo dos critérios de classificação aplicados ▪ Estudos brasileiros mostram a prevalência em torno de 0,2% (considerando Sjögren primário) ▪ Existem também as síndromes de Sjögren (SS) associadas a outras doenças autoimunes, colocando a doença entre as autoimunes mais frequentes o Incidência de 4 a 5 casos/100000 habitantes/ano o Distribuição universal • Patogênese: PROFA. VALERIA VALIM 2 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o É uma doença em que há um gatilho infeccioso, como infecções virais (Ex.: EBV, HCV, CMV) o As infecções ou alterações estrogênicas da glândula induzem a apoptose e uma expressão de neoantígenos que vão desencadear todo uma cascata inflamatória o As ribonucleoproteínas Ro/La são antígenos relacionados a essa produção de anticorpos autorreativos o Algumas citocinas são bastantes relacionadas à síndrome de Sjögren, por exemplo o interferon (1 e 2) e as citocinas relacionadas à ativação do linfócito B, como o BAFF o Há também uma ativação de células TH17 o Tudo isso culmina com a ativação e diferenciação do linfócito B em plasmócitos que vão produzir autoanticorpos ▪ O que mais marca a assinatura do linfócito B na patogênese é que essa é a doença autoimune com maior risco de transformação para linfoma INTERROGATÓRIO PARA INVESTIGAÇÃO DE SECURA O sintoma-guia para o Sjögren é o acometimento das glândulas, especialmente as salivares e lacrimais, fazendo parte dos critérios de classificação a boca seca e o olho seco. • Perguntas-chave para sintomas oculares: o Você tem olho seco, diariamente, persistentemente há mais de 3 meses? o Você tem sensação de areia nos olhos? o Você necessita do uso de lágrima artificial mais do que 3 vezes ao dia? • Perguntas-chave para sintomas orais: o Você tem sensação de boca seca diariamente há mais de 3 meses? o Você tem inchaço das glândulas salivares, recorrente ou persistente? o Você frequentemente ingere líquidos para facilitar a mastigação e deglutição principalmente de alimentos sólidos? • Outros sintomas que caracterizam secura: o Olho seco → Lacrimejamento, fotofobia, fadiga ocular, muco espesso pela manhã, prurido e visão embaçada o Boca seca → Cáries, fissuras, candidíase, língua vermelha fissurada, sensibilidade a ácidos e alteração no gosto HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA • História natural e evolução clínica de acordo com fenótipos: o Existem 2 polos ▪ 1 bolo benigno e 1 polo sistêmico o Todos os pacientes terão o acometimento glandular, a maioria deles vai ter secura, mas muitos vão evoluir com uma síndrome seca sem acometimento sistêmico o Cerca de 70% dos pacientes em algum momento têm alguma manifestação sistêmica, mas quando a gente faz um corte transversal 30% desses pacientes estão com manifestação sistêmica o Então, 70% dos pacientes estão num polo que chamamos de “benigno”, que tem mais dor crônica não inflamatória e menos manifestações extraglandulares o Manifestações extraglandulares podem ser uma vasculite, uma epitelite etc. 3 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ A manifestação mais grave da doença é o próprio linfoma o A presença de uma síndrome dolorosa crônica benigna (artralgia/mialgia não inflamatória) é um fator de proteção → Menos associado a risco de transformação para linfoma • Frequência de manifestações sistêmicas: • Frequência dos critérios de classificação na ocasião do diagnóstico: 4 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Padrão de acometimento sistêmico “Janus-faced”: o Um conceito mais antigo é que devemos buscar diagnóstico de síndrome de Sjögren naqueles pacientes com secura o Mas, essa doença tem 2 polos, o sistêmico e o benigno → Os 2 podem ter secura, mas as manifestações sistêmicas podem anteceder a manifestação de secura o Quanto mais jovem, menos secura o paciente tem e mais risco de manifestação sistêmica • Fenótipos semelhantes: o Fenótipos semelhantes confundem o diagnóstico de Sjögren com AR, LES e ES ▪ O fato da síndrome de Sjögren ter fenótipo semelhante e presença de FAN e FR pode ser um viés para um diagnóstico errôneo de lúpus ou de artrite reumatoide o Esses pacientes podem também ter outros anticorpos, inclusive anticorpos específicos, sem manifestação específica de outra doença 5 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Além dos anticorpos relacionados a doenças reumáticas, esses pacientes também têm a presença de anticorpos e também sobreposição com anticorpos antireoglobulina, antimicrossomo tiroidiano, antimitocôndria, anticélula parietal, antimúsculo liso e anti-hemácia ▪ Marcando, então, uma sobreposição de fenótipos com, por exemplo, Hashimoto e hepatite autoimune DIAGNÓSTICO • Critérios de classificação: o Devemos fazer a busca ativa dos critérios de classificação naqueles pacientes com secura (pelo menos 1 sintoma de secura baseado no AECG 2002) e naqueles com manifestação sistêmica suspeita de Sjögren baseado no ESSDAI (Índice de atividade de doença da síndrome de Sjögren) o Nesses pacientes, então devemos procurar: ▪ Presença de anticorpos, como o Anti-Ro ▪ Presença de alteração de função lacrimal (pelo teste de Schirmer) ▪ Presença de disfunção glandular (pelo fluxo salivar) ▪ Biópsia de glândula labial (glândula salivar menor) o Calcula-se o score de acordo com a presença ou ausência dos critérios ▪ Aqueles que tem 4 pontos ou + preenchem os critérios de classificação para síndrome de Sjögren o As manifestações sistêmicas também devem ser rastreadas, não apenas a manifestação de secura • Testes oculares: o Existem vários tipos de testes utilizados na prática clínica ▪ Teste de Schirmer → Feito com papel de filtro deixado por 5 minutos para ver o quantos milímetros ele molha (quando molha menos que 5 mm em 5 minutos a gente considera positivo para Sjögren). Porém é um teste com baixa especificidade, outras causas de secura também podem dar alterado ▪ Teste de ruptura do filme lacrima (Breakup test) → Visto na lâmpada de fenda ▪ Testes de coloração de superfície ocular → Atualmente só se faz o lisamina verde e a fluoresceína, rosa bengal é um corante tóxico e não é utilizado mais 6 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Os testes de propedêutica de filme lacrimal devem incluir pelo menos teste de Schirmer I e coloração para superfície ocular, córnea (fluoresceína) e conjuntiva (verde lisamina) ▪ A sequência dos exames interfere nos resultados, recomenda-se seguir o fluxo: Schirmer → BUT → Lisamina/Fluoresceína o A lisamina verde é feita para coloração da conjuntiva e a fluoresceína para coloração da córnea ▪ A presença de pontos na conjuntiva ou na córnea durante o exame definem o grau de score da coloração da superfície ocular ▪ Existem 2 principais escalas ❖ Ocular Staining Ocular (OSS) → Teste quantitativo, avalia quantos pontos (positivo se ≥ 5 em 12) ❖ Escala de Van Bijesterveld → Teste qualitativo, em que se divide a superfície em terços, cada terço valendo 3 pontos (positivo se ≥ 4 em 9) • Testes de função salivar: o O critério de classificação é o fluxosalivar, mas a cintilografia também pode ser utilizada, já a sialografia está proscrita e não deve ser mais utilizada, pelo grau de eventos adversos (Ex.: dor ou ruptura) ▪ Sialometria (fluxo salivar não estimulado) por escoamento passivo, em 15 min ≤ 0,1 ml/min ▪ A sialografia por radiografia não deve ser realizada devido aos eventos adversos → Se necessário, deve ser substituída pela sialometria com ressonância magnética ▪ A cintilografia das glândulas salivares é um métodos útil para avaliação funcional • Biópsia salivar: o O padrão histológico típico da biópsia salivar na síndrome de Sjögren é um rico infiltrado linfoplasmocitário em torno dos ductos, circundado por um tecido epitelial absolutamente saudável ▪ Então, essa é uma doença focal → Sialodenite linfocítica focal (SLF) ▪ O infiltrado é caracteristicamente periductal, mas pode ser também perivascular Teste de Schirmer x Lisamina x Fluoresceína 7 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Quando tem + de 50 células a cada foco e + de 1 foco a cada 4 mm² define um foco escore, que é critério de classificação para a doença (escore focal ≥ 1) o A sensibilidade, a especificidade e a acurácia da biópsia são bastante altas o Além do diagnóstico, existem outras informações que a biópsia dá que têm valor prognóstico ▪ Quando temos + de 3 focos em cada 4 mm² (escore focal ≥ 3) → Altamente preditor de manifestação sistêmica e linfoma ▪ Quando tem uma organização linfoide com rico número de plasmócitos (um centro germinativo) → Também é preditor de linfoma ▪ Agressões linfoepiteliais, que acontecem mais na parótida (mas também nas glândulas labiais) → Bastante características e relacionadas com maior risco de manifestação sistêmica e linfoma o Algumas alterações inespecíficas também podem ser vistas, especialmente numa glândula já com sequelas, com cicatriz e nos pacientes mais idosos → Atrofia, fibrose ou um infiltrado inflamatório + leve/inespecífico • Ultrassonografia: o Ainda não foi incorporada nos critérios de classificação, mas também é bastante útil o Tem moderada sensibilidade (60-70%) e alta especificidade (> 90%) o Correlaciona-se com doença sistêmica, atividade de doença, biópsia (foco score e centro germinativo), marcadores de linfoma e disfunção glandular o É um parâmetro de seguimento o De acordo com o acometimento, classifica o US da glândula de score 0 a 3 ▪ Score 0 → Glândula normal (a submandibular geralmente é acometida antes da parótida) 8 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Score 1 → Algumas alterações inespecíficas (ecogenicidade menor e áreas hipoecoicas) ▪ Score 2 → Já característico, presença de áreas hipoecoicas arredondadas (aspecto de cisto) e ecogenicidade ainda menor, mas há algumas áreas de parênquima preservado ▪ Score 3 → Glândula totalmente acometida. Acometimento generalizado de pelo menos 2 das glândulas com mínimo tecido glandular de aparência normal remanescente e pelo menos grau 2 nas outras 2 glândulas o Grau 2 e Grau 3 são características da síndrome de Sjögren MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Manifestações sistêmicas do ESSDAI: o ESSDAI → Eular Sjögren’s Syndrome Disease Activity Index o As manifestações sistêmicas que fazem parte do ESSDAI são as pistas para se buscar o diagnóstico de síndrome de Sjögren para além da secura ▪ Febre ▪ Emagrecimento ▪ Hipergamaglobulinemia e complemento baixo ▪ Miosite ▪ Bronquite/Bronquiolite ▪ Doença pulmonar intersticial inespecífica ou pneumonia intersticial específica ▪ Síndromes neurológicas (SNC e SNP) ▪ Tubulopatias ▪ Glomerulopatias ▪ Aumento persistente das glândulas salivares ou lacrimais ▪ Esplenomegalia ▪ Linfadenomegalia ▪ Presença do linfoma de células B ▪ Eritema anular, nodoso e polimorfo ▪ Vasculites cutâneas, como púrpura ▪ Artrite/Artralgia inflamatória ▪ Citpenias 9 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Outras manifestações sistêmicas: o Manifestações sistêmicas que não fazem parte do ESSDAI, mas que devem também nos alertar para Sjögren ▪ Serosites ▪ Miocardites ▪ Pneumonia em organização ▪ Fenômenos de Raynaud ▪ Hipertensão pulmonar (de origem indeterminada) ▪ Parkinsonismo ▪ Disautonomia ▪ Litíase urinária / Nefrocalcinose / Osteomalácea ▪ Obstétricos: ❖ Bloqueio cardíaco congênito autoimune (fetal) → Associado à presença do Anti-Ro, podendo indicar presença de Sjögren na mãe ❖ Fibroelastose cardíaca ▪ Surdez neurossensorial ▪ Hepatite autoimune • Síndrome de Sjögren oculta em seguimento de outras especialidades: o Frequentemente Sjögren pode ser diagnosticado de forma errada como outro diagnóstico que na verdade não existe ou, ainda, pode haver sobreposição desses diagnósticos o Um estudo de 2015 observou que: ▪ 37% dos pacientes diagnosticados com neuromielite óptica tinham síndrome de Sjögren ▪ Em pacientes com litíase urinária e pacientes com cistite intersticial quando foi feito busca ativa tinham síndrome de Sjögren ▪ Pacientes com esclero múltipla like, com critérios incompletos para esclerose múltipla, tinham na verdade síndrome de Sjögren • Manifestações sistêmicas que podem preceder o diagnóstico: o Boa parte das manifestações neurológicas vêm antes do diagnóstico 10 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Fenômeno de Raynaud, ganglionopatias, doenças desmielinizantes do sistema nervoso central, mononeurite múltipla, neuropatia de fibras finas e até mesmo artrite são algumas manifestações que predominantemente o diagnóstico de Sjögren é tardio • Manifestações neurológicas: o O motivo das manifestações neurológicas normalmente antecederem o diagnóstico de SS é porque frequentemente elas estão associadas com anticorpo negativo o Então, quando houver essas manifestações neurológicas deve ser feita busca ativa do diagnóstico de SS porque só 40% terão anticorpo positivo → Se não fizer biópsia não tem o diagnóstico • Neuropatias periféricas: o As mais frequentes são as sensoriais, geralmente em associação com a manifestação motora (polineuropatias sensitivo-motoras) o Radiculopatias desmielinizantes (crônicas e agudas) o Ganglionite → Muito características de SS, obrigatoriamente deve ser feita a busca ativa o Vários acometimentos de par craniano estão relacionados, o mais frequente é o NC V o A disautonomia geralmente também está associada com outras manifestações neurológicas • Manifestações em SNC: 11 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o São muito abrangentes o Geralmente são uma inflamação de tecido ou podem ser desmielinizantes ou vasculites o Os pacientes podem ter um quadro de esclerose múltipla like, vasculite, síndromes cerebelares, neuromielite óptica, meningite, encefalite, alterações psiquiátricas, mielite transversa, mielopatia aguda ou crônica etc. • SS x Desordens do espectro da neuromielite óptica (NMOSD): o Há um número grande de pacientes que são diagnosticados com neuromielite óptica e têm Sjögren ▪ Geralmente são mais jovens, têm menos secura e têm mais frequência de Anti-Ro e manifestações extraglandulares ▪ Geralmente quando tem a NMO em associação com a SS, a aquaporina 4 (AQ4) é positiva ▪ Podemos ter em pacientes com SS a presença de manifestações desmielinizantes que não preenchem critérios de classificação para NMO e que podem ser atribuídas primariamente a essa doença ▪ Há também uma associação fenotípica entre essas doenças o Lembrando que anticorpo antiaquaporina está relacionado com a patogênese da SS (geralmente AQ8 e 9) ▪ AQ4 e AQ5 também podem ser observadas → Quando há a presença do anticorpo antiaquaporina 4 esses pacientes têm mais chance de desenvolver um quadro de NMO • Manifestações renais: o As mais frequentessão as Tubulopatias ▪ Esses pacientes fazem uma acidose tubular renal, geralmente distal ▪ Quando fazem uma forma incompleta o diagnóstico pode ser bastante tardio ▪ Quando é uma forma completa, com quadro típico de paralisa periódica hipocalêmica, tem que pensar em síndrome de Sjögren ▪ 1/3 dos pacientes com Tubulopatias pode desenvolver insuficiência renal o Uma frequência menor dos pacientes podem ter doença glomerular ▪ A mais frequente é a forma mesangial, mas também há menos frequentemente a forma proliferativa • Monitorização renal: o Nos pacientes com SS, devemos obrigatoriamente pesquisar o rim o No exame simples de urina (EAS) olhar a densidade e o pH, que vão chamar atenção para a tubulopatia o Também avaliar proteinúria, função renal, dosagem de íons urinários, de cálcio e de glicose o US de vias urinárias o Naqueles pacientes que têm quadro de tubulopatia, fazer densitometria óssea por causa da perda de cálcio • Manifestações pulmonares: o Podem ser de pequenas vias aéreas dando quadro obstrutivo ou de parênquima dando um quadro + restritivo o Há uma frequência mais alta de Anti-Ro, mas mesmo assim em muitos casos o diagnóstico é tardio o Quando a síndrome de Sjögren é conhecida a gente deve fazer o rastreamento sistemático de doença pulmonar intersticial e o inverso é verdadeiro, toda doença pulmonar intersticial dita idiopática deve se fazer a busca ativa de síndrome de Sjögren 12 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Sintomas mais frequentes → Dispneia, tosse, crepitação e dor torácica o Pacientes de SS com doença pulmonar têm o prognóstico pior • Manifestações gastrointestinais: o Não fazem parte do ESSDAI o Disfagia devido à secura de faringe e do esôfago ou por alteração de motilidade o Náuseas e epigastralgia o Atrofia da mucosa gástrica → Diminuição da absorção de vitamina B12, presença de anticorpo anticélulas parietais (ou não) o Pancreatite aguda ou crônica o Doença hepática crônica, com presença de Ac antimitocondrial, aumento das enzimas hepáticas e da fosfatase alcalina • Manifestações cutâneas: o O clássico de SS é a púrpura de membros inferiores → Púrpura associada com mais glomerulonefrite, mais mononeurite múltipla, mais linfoma (é um marcador de gravidade da doença e um tipo de vasculite) o Eritema nodoso o Eritema multiforme o Lúpus cutâneo subagudo o Raynaud o Urticária vasculite o Úlceras cutâneas recorrentes o Vasculite sistêmica • Manifestações articulares: o O quadro articular parece muito com artrite reumatoide, mas é uma artrite não erosiva e geralmente de melhor resposta ao tratamento o Lembrando que é uma doença que tem 2 polos ▪ Polo benigno (dor benigna não inflamatória) e polo sistêmico o Manifestação articular no início da doença é preditor de dor crônica não inflamatória no seguimento ▪ Os pacientes que têm um quadro de artrite no início do diagnóstico parecem evoluir com dor crônica depois ▪ Pode ser que essa inflamação que acontece como manifestação inicial possa ser modulada ▪ Existe uma via, a via das quinolininas, que poderia explicar por que uma parte desses pacientes tem tanta dor crônica não inflamatória ❖ Essa via é uma alça de controle de inflamação, que é ativada pelo IFN-gama e tem como efeito final um aumento de células Treg e uma diminuição do processo inflamatório ❖ Mas, no meio do caminho, os produtos dessa cascata são agonistas de NMDA e são tóxicos ❖ Além disso, essa via converte triptofano em quinolinina, desviando o eixo para produção de serotonina 13 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Isso tudo pode explicar a relação com inflamação numa fase inicial da doença e dor crônica não inflamatória numa fase mais adiante na evolução natural • Situações associadas à SS: o Assim como outras doenças autoimunes, a SS parece também estar mais associada a aterosclerose → Existem alguns marcadores relacionados a aterosclerose aumentados na SS o Há, também, não apenas o aumento do risco de linfoma, mas de câncer de forma geral → A frequência de câncer nessa população é cerca de 10% ▪ Além das neoplasias hematológicas, que são características, outras neoplasias de tecido epitelial também são vistas nesses pacientes (tireoide, mama, colorretal, pulmão, estômago, cavidade oral e ovários) o O linfoma mais comum é o linfoma MALT, que é um tipo de linfoma marginal, e é mais característico quando ele acontece na própria glândula salivar ▪ Podemos ver também outros linfomas de zona marginal e outros tecidos acometidos no MALT ▪ Os pacientes com mais risco de transformação para linfoma são aqueles que têm aumento de parótida, elevado processo inflamatório na glândula (com score focal > 3), púrpura, linfopenia, índice de atividade sistêmica alto no início da doença, crioglobulinas, complemento baixo e monoclonalidade na eletroforese de proteína (indicando a seleção de um clone) TRATAMENTO • Tratamento da síndrome seca: o O tratamento sintomático é muito importante o Podemos utilizar: ▪ Colírios lubrificantes 14 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Agonistas muscarínicos → Para estimular a produção de saliva e lágrima (naqueles indivíduos que têm alguma reserva glandular) ▪ Substitutos de saliva → Naqueles indivíduos que já não têm mais reserva glandular ▪ Substitutos de lágrima → Devem ser usados sempre porque podem prevenir lesões secundárias de córnea ▪ Anti-inflamatórios com ciclosporina tópica ▪ Oclusão do ponto lacrimal (em casos mais graves) • Tratamento das manifestações sistêmicas: o Será feito com corticoide, imunossupressor e, nos casos de falha de tratamento, rituximabe o O uso do corticoide é geralmente associado a imunossupressor como poupador de corticoide ▪ Vários imunossupressores podem ser utilizados, como azatioprina, ciclofosfamida ou micofenolato o Casos mais graves, com vasculite e glomerulonefrite, utilizamos pulsoterapia de metilprednisolona com ciclofosfamida. Já nos casos refratários, rituximabe 15 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Nas manifestações neurológicas, a imunoglobulina pode ser usada nas neuropatias, principalmente naquelas com componente sensitivo ▪ Rituximabe continua sendo opção para casos mais graves e refratários o O consenso europeu de 2021 já traz o rituximabe numa posição mais alta (com base em relatos de casos, séries de casos e coorte, mas não em ensaios clínicos) CONCLUSÃO • Passos para o diagnóstico de SS: o Pensar nesse diagnóstico tanto quando tem uma manifestação de secura quanto tem uma manifestação sistêmica o Fazer busca ativa da disfunção glandular (mesmo que o paciente não tenha secura) o Fazer exames complementares → FAN, FR, VHS, eletroforese de proteína, hemograma, outras provas inflamatórias e Anti-Ro ▪ VHS, hipergama e citopenia são consistentes o Busque os critérios obrigatórios → Faça Anti-Ro e biópsia salivar ▪ Nos pacientes com Anti-Ro negativo, fazer necessariamente a biópsia de glândula salivar
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