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1 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMIMCO (LES) Gizelle Felinto INTRODUÇÃO ➢ O Lúpus é uma doença autoimune multissistêmica crônica, cuja característica mais marcante é a presença de focos inflamatórios em vários tecidos e órgãos ➢ DEFINIÇÃO: • O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença do tecido conjuntivo, de caráter autoimune e é caracterizada pela formação e deposição de imunocomplexos nos tecidos-alvo, sinalizando para o sistema imune que é nesses locais onde deve ocorrer a autoagressão, que é uma reação inflamatória de caráter autoimune ➢ O LES é uma colagenose, a qual, além de comprometer as articulações, também se manifesta de forma sistêmica, acometendo diversos órgãos e sistemas, provocando inflamação no tecido conjuntivo (rico em colágeno) ➢ Tem a autoimunidade como sua principal base fisiopatológica ➢ A doença evolui com períodos de exacerbações e remissões, comprometendo principalmente (é a doença dos “ites”): • Pele (dermatite) • Articulações (artrite) • Serosas (serosite) • Glomérulos (glomerulite) • Sistema Nervoso Central (cerebrite) ➢ A patogênese do Lúpus está centrada na produção de múltiplos anticorpos, ou seja, uma forte participação do “braço” humoral da autoimunidade EPIDEMIOLOGIA ➢ O LES tem preferência por mulheres jovens, durante a menacme (idade fértil) ➢ Pico de incidência → 15 – 45 anos (período que coincide com o tempo de idade fértil) ➢ A raça negra é mais comumente acometida (3 vezes mais do que nos brancos) → além disso, na raça negra podem ocorrer os fenótipos mais graves de apresentação da doença (tendem a ter uma doença com maior acometimento de órgãos nobres, como rins, pulmões e sistema nervoso central) ➢ Prevalência: • Infância → mais em meninas, na proporção de 2:1 (2 meninas para cada 1 menino) • Idade fértil → mais em mulheres, na proporção de 12:1 (12 mulheres para cada 1 homem) • Pós-menopausa → 2 mulheres para cada 1 homem ➢ Por que o Lúpus acomete mais mulheres em idade fértil? → após a menarca (primeira menstruação), aumenta-se a produção de estrógenos que são um gatilho tanto para o desenvolvimento da doença em um indivíduo geneticamente suscetível quanto para os episódios de atividade da doença. Porém, o estrógeno não é o único gatilho, por isso que se pode também, em menor proporção, ter a doença nos homens e nos extremos etários (crianças e idosos) FISIOPATOLOGIA ➢ Para que esse fenótipo de doença se expresse é necessário que se tenha interação entre fatores genéticos e fatores ambientais. Assim, quando um indivíduo que apresenta fatores genéticos se expõe a algum gatilho ambiental, de uma forma que ainda não é bem definida, isso leva a múltiplos defeitos do sistema imune, como disfunção de células dendríticas apresentadoras de antígeno, linfócitos B e linfócitos T. A disfunção dos linfócitos B leva à produção de autoanticorpos e a disfunção de linfócitos T vai levar à propagação de linfócitos T auto-reativos. Com isso, esse ciclo vai se retroalimentando, pois os linfócitos T auto-reativos vão estimular o linfócito B a produzir o autoanticorpo. Assim, também há a produção anormal de imunocomplexos pelos autoanticorpos, ativando as proteínas do complemento, e produção anormal de citocinas pro-inflamatórias pelos linfócitos T auto-reativos (intérferon-α, IL-6 e IL-10). Todos esses fatores levarão às manifestações clínicas do Lúpus, que são variáveis (Ex: pode-se ter 10 pacientes portadores de lúpus e os 10 terem um fenótipo de doença totalmente diferente entre eles). O que vai determinar a expressão clínica da doença são os tecidos onde o complemento vai precipitar ➢ Ou seja, o LES é resultado da ação de diversos autoanticorpos, produzidos por um desequilíbrio do sistema imunológico. Quando os autoanticorpos se ligam a seus antígenos (os “autoantígenos”), formam-se imunocomplexos que ativam o sistema complemento, dando início ao processo de quimiotaxia e inflamação tecidual. No LES, imunocomplexos podem se formar em nível local, por ligação direta dos autoanticorpos aos tecidos, ou no soro (imunocomplexos circulantes), com posterior deposição tecidual (ex.: nos glomérulos, pele, sinóvia...) ➢ Fatores Genéticos → já foram descritas mais de 100 mutações nos pacientes portadores de LES em genes que codificam: • Os antígenos leucocitários humanos (HLA) → nos subtipos HLA-DR2 e HLA-DR3 • O complemento • As citocinas pró-inflamatórias... ➢ Fatores Ambientais → os mais comumente associados são: 2 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMIMCO (LES) Gizelle Felinto • Exposição à Radiação ultravioleta (UVA e principalmente o UVB) → desencadeiam atividade lúpica em 70% dos pacientes • Vírus → Epstein-Barr, Citomegalovírus, Retrovírus... • Drogas (podem levar aolúpus induzido por droga): ▪ Isoniazida ▪ Fenitoína ▪ Clorpromazina ▪ D-penicilamina ▪ Metildopa ▪ Quinidina ▪ Interferon-alfa e agentes anti-TNF → devido a estimulação direta do sistema imune, havendo risco de “síndrome Lúpus-like” durante o tratamento da hepatite C (interferon-alfa) e da artrite reumatóide (anti-TNF) ▪ Minociclina* ▪ Hidralazina* → é um anti-hipertensivo ▪ Procainamida → é um antiarrítimico *São as duas principais drogas que levam ao Lúpus induzido por droga • Hormônios: ▪ Estrógeno → aumentam a atividade dos linfócitos B ▪ Prolactina ▪ Pacientes que fazem uso de Anticoncepcional oral (ACO) e Terapia de Reposição Hormonal (TRH) tem risco aumentado de LES (1,2 a 2 vezes mais) • Exposição a metais pesados • Exposição a Sílica → a poeira de sílica parece aumentar a incidência de LES, particularmente em mulheres negras • Tabagismo → Estudos recentes mostraram uma associação causal entre o uso de tabaco e a atividade do LES. Parece que alguma (ou algumas) das substâncias presentes no cigarro podem ser implicadas no desenvolvimento de anticorpos anti-DNA dupla-fita ➢ Além dos anticorpos antinucleares, no LES são formados anticorpos que se ligam a antígenos da membrana plasmática. Os maiores exemplos são os autoanticorpos que “atacam” a superfície das hemácias, leucócitos e plaquetas, promovendo sua destruição no sistema reticuloendotelial. Há ainda autoanticorpos que agem contra antígenos neuronais do sistema nervoso central (anti-P), provocando alterações psiquiátricas (por necrose de neurônios no hipocampo). Anticorpos que bloqueiam o complexo fosfolipídio-beta-2-glicoproteína I inibem a função anticoagulante fisiológica desta glicoproteína, aumentando a trombogenicidade plasmática (síndrome do anticorpo antifosfolipídio) ➢ AMPLA VARIABILIDADE CLÍNICA DO LÚPUS: • Existem mutações em mais de 100 loci, e cada mutação dessas predispõe a um determinado tipo de atividade da doença • Exemplos: ▪ Mutação no gene HLA-DR3 → tende a ter a possibilidade do anticorpo anti-DNA dupla-hélice, que está ligado a desordens renais (glomerulonefrites) ▪ Mutação no gene STAT4 → tem-se anti-DNA, nefrite, desordens imunológicas (Ex: anemia hemolítica autoimune), alterações neurológicas (Ex: convulsões, estado confusional agudo, mielite transversa, serosites (Ex: derrame pleural ou pericárdico), úlceras orais... MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ➢ SINTOMAS CONSTITUCIONAIS → por ser uma doença sistêmica, pode-se ter: • Febre (80%) → costuma ser baixa, por volta dos 38°C • Fadiga (90%) → é considerada por muitos estudiosos como sendo a primeira manifestação clínica da doença ▪ Mesmo que seja um sintoma muito inespecífico, deve- se sempre pensar na possibilidade de LES, principalmente em mulheres em idade fértil que tenham acometimento de múltiplos sistemas • Perda de peso (60%) → pode ser uma perda de peso importante, a depender da gravidade da doença ➢ MANIFESTAÇÕES MUCOCUTÂNEAS → a pele costuma ser bastante acometida e as manifestações são bastante variadas • Fotossensibilidade (70%)→ rash eritematoso não pruriginoso em áreas fotoexpostas. Associada ao anticorpo anti-Ro ▪ Áreas mais acometidas → áreas fotoexpostas: ✓ Rosto ✓ Colo ✓ Braços ▪ É bem marcante e faz diagnóstico diferencial com a Dermatomiosite • Fenômeno de Raynaud (30%): ▪ É uma vasculopatia (assim, não se consegue identificar inflamação da parede do vaso) que acontece em decorrência de uma hiper-reatividade da célula endotelial a determinados estímulos do ambiente. O estímulo mais comumente identificado é a exposição ao frio, mas também o estresse emocional, cirúrgico, traumático e infeccioso, também podem ser gatilhos ▪ É caracterizado por se apresentar em 3 etapas: ✓ Palidez ✓ Cianose ✓ Rubor compensatório → ocorre quando há vasodilatação, reperfundindo as extremidades ✓ Para afirmar que se trata de um fenômeno de Raynaud, é necessário a presença de pelo menos 2 dessas 3 etapas ▪ Tem uma associação maior com a Esclerose Sistêmica, mas também pode ser visto na Artrite Reumátóide, no LES, nas miopatias inflamatórias... Fenômeno de Raynaud 3 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMIMCO (LES) Gizelle Felinto • Púrpura Palpável/ Púrpura de Henoch-Schonlein → ocorre quando os pacientes evoluem com plaquetopenia • Alopecia não cicatricial (40 – 70%): • Úlceras orais (40%): ▪ Geralmente, ocorrem no palato e são não dolorosas • Divide-se as manifestações clínicas cutâneas em: ▪ Lúpus Cutâneo Agudo: ✓ Rash malar (em 30% dos pacientes) → é um rash eritematoso não pruriginoso, com a conformação em “asa de borboleta” ✓ Lúpus bolhoso (10%) → não é comum. São bolhas com base eritematosa o Faz diagnóstico diferencial com várias doenças dermatológicas e infecciosas o Quando se tem essa lesão e ainda não se tem o diagnóstico de LES, às vezes o diagnóstico só é confirmado por meio da biópsia, pois é uma lesão muito inespecífica da doença ✓ Variante necrólise epidérmica tóxica: o Se parece com uma farmacodermia em relação à sua extensão o Não é uma apresentação clínica comum ✓ Rash eritematomacular ou Rash Fotossensível: o Ocorre nas áreas fotoexpostas ✓ Lesões anulares policíclicas: o Tem uma associação com o anticorpo anti- Ro ✓ Lesões psoriasiformes: o Lembram a psoríase, apresentando base eritematosa com descamação furfurácea Alopecia não cicatricial Úlceras orais Púrpura Palpável Lúpus Bolhoso Variante necrólise epidérmica tóxica Rash Eritematomacular Lesões anulares policíclicas Rash malar - Erupção sobre as bochechas e o nariz, elevada e frequentemente precipitada pela exposição solar - Pode persistir por horas a dias e é habitualmente recorrente - Não acomete os sulcos nasolabiais 4 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMIMCO (LES) Gizelle Felinto o É muito inespecífica e, às vezes, para o diagnóstico é preciso ir para a biópsia ▪ Lúpus Cutâneo Crônico: ✓ Tem lesões mais características ✓ Diferença do Lúpus Cutêneo Agudo para o Crônico: o Agudo → desaparece sem deixar cicatrizes (assim, com o tratamento, consegue-se recuperar a pele e os anexos da área acometida – glândulas sebáceas, pelos, melanócitos, glândulas sudoríparas...) o Crônico → deixam cicatriz ✓ Rash Discoide (20%) → pode ocorrer na ausência de manifestações sistêmica ou como parte de um quadro lúpico sistêmico clássico (apenas 5 – 10% dos pacientes com rash discoide desenvolvem lúpus sistêmico) o Predomina na face, pescoço, couro cabeludo e pavilhão auricular o Caracteriza-se por placas eritematosas, infiltradas e hiperpigmentadas o Evoluem lentamente com uma cicatriz despigmentada e atrófica, principalmente no centro da lesão o Costuma deixar sequelas cicatriciais, incluindo alopecia irreversível o A longo prazo, o lúpus discoide aumenta o risco de carcinoma epidermoide da pele, que geralmente se desenvolve em áreas de lesão atrófica ✓ Lúpus Hipertrófico → é uma lesão verrucosa, apresentando um aspecto liquenificado nos bordos da lesão ✓ Paniculite Lúpica → corre quando o tecido celular subcutâneo é acometido o Provoca deformidades/depressões na pele ✓ Lúpus Tumidus → são lesões muito inespecíficas, necessitando muitas vezes de biópsia para o diagnóstico • Resumindo-se, existem manifestações específicas e não específicas do lúpus: ▪ Específicas de LES: ✓ Agudas: o Erupção/Rash Malar o Fotossensibilidade ✓ Subagudas: o Erupção papuloescamosa que simuça psoríase Lesões Psoriasiformes IMPORTANTE! - A biópsia não é obrigatória em todos os portadores de Lúpus! Somente em casos atípicos, onde há dúvida diagnóstica, é que se deve lançar mãos desse procedimento - A luz solar, além da erupção por fotossensibilidade, ainda pode provocar exacerbações sistêmicas da doença em 70% dos casos - Anti-Ro → Associado ao Lúpus Subagudo e à fotossensibilidade Rash Discoide - Toda a área hiperemiada corresponde a atividade de doença - Em alguns pontos observa-se remissão (lesão atrófica hipocrômica) - Em toda a extensão acometida não nascerão mais anexos da pele (glândulas, pelos, melanina...) Lúpus Hipertrófico Paniculite Lúpica Lúpus Tumidus 5 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMIMCO (LES) Gizelle Felinto o Lesões eritematoanulares policíclicas o Envolvimento do dorso das mãos das falanges de forma a poupar os nós articulares das interfalangianas, numa espécie de “espelho” do sinal de Gottron da polimiosite ✓ Crônicas: o Lúpus discoide o Paniculite de Kaposi → é uma forma rara, caracterizada pela presença de nódulos firmes e dolorosos no tecido subcutâneo, às vezes evoluindo com atrofia ▪ Não específicas de LES: ✓ Alopecia não discoide (40 – 70%) → é reversível com o controle da doença, sendo causada por aumento nas taxas de apoptose celular nos folículos pilosos ✓ Vasculite cutânea (20%) → lesões purpúricas/petequiais ou lesões urticariformes. Nos casos mais graves podem surgir úlceras cutâneas (Ex: úlcera maleolar) e até necrose digital. Essa vasculopatia pode estar associada aos anticorpos antifosfolipídios, com formação de trombos ✓ Livedo reticular → aspecto escamoteado ou marmoreio da pele ✓ Telangiectasias ✓ Fenômeno de Raynaud ✓ Lúpus bolhoso ✓ Úlceras mucosas → ocorrem no palato, lábios, septo nasal, vagina... E não são dolorosas ➢ LINFADENOPATIA: • Toda doença autoimune, onde há a queda de tolerância ecaumento de linfócitos B e de linfócitos T, pode levar à hipertrofia dos órgãos do sistema reticuloendotelial. Assim, pode-se ter linfadenopatia com características benignas (com linfonodos fibroelásticos, móveis e indolores) • Esses pacientes também podem evolui com Linfoma associado, pois em uma dessas divisões celulares o linfócito B pode sofrer uma mutação e causar uma malignidade hematológica • Mesmo que a associação característica do lúpus seja a síndrome de Sjogren, sempre se deve orientar o paciente a reconhecer um linfonodo suspeito ➢ MANIFESTAÇÕES ESQUELÉTICAS: • Variam desde Artralgias (apenas dor articular) até Artrite não erosiva (dor, edema e calor da articulação) • Assim como na Artrite Reumatóide, no LES há uma predileção pelas pequenas articulações • Quase todos os pacientes com LES (95%) apresentam poliartralgia e mialgias. Sendo as artralgias transitórias • Artrite Lúpica → costuma seguir um padrão simétrico, distal e migratório, durando 1 – 3 dias e a rigidez matinal geralmente é < 1h ▪ Articulações mais envolvidas: ✓ Mãos ✓ Punhos ✓ Joelhos ▪ Outras articulações que também podem ser acometidas → tornozelos, cotovelos, ombros e quadris ▪ Não causa erosão → por isso é reversível ▪ Em alguns casos, como resultado de doença nos tecidos periarticulares (tendõese ligamentos), podem surgir deformidades semelhantes às da Artrite Reumatóide. Esse padrão deformante, porém não erosivo, é conhecido como Artropatia de Jaccoud ▪ Tem pouco ou nenhum derrame articular, mas caso se faça a artrocentese, tem-se um padrão levemente inflamatório ▪ A Artropatia do LES tem características de Febre Reumática (migratória) e da Artrite Reumatóide (de pequenas articulações periféricas) ▪ Ao contrário da artralgia, a artrite é critério diagnóstico • Osteonecrose (necrose óssea avascular) → deve ser suspeitada em pacientes lúpicos que se apresentam com dor persistente em poucas topografias articulares, principalmente o quadril, após a resolução do quadro de poliartrite ▪ Ocorre devido à obliteração dos microvasos que suprem o osso medular, causando infarto (detectado de preferência por ressonância magnética) ▪ Está relacionada à atividade lúpica, à presença de anticorpos antifosfolípidios e ao uso de corticosteroides Atropatia de Jaccoud (10% dos casos) - Lembra muito uma mão reumatóide, com deformidade “em pescoço de cisne” → hiperextensão da interfalangiana proximal e hiperflexão da distal - A diferença é que no Lúpus essa deformidade é reversível, pois a artrite do lúpus não é erosiva 6 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMIMCO (LES) Gizelle Felinto ▪ O surgimento da osteonecrose tende a ser precoce quando relacionada ao uso de corticoides → geralmente aparece dentro de 1 mês após o início do tratamento com altas doses • Miopatia/Miosite: ▪ Pode ser devido à própria doença, à terapêutica instituída com corticoides ou hidroxicloroquina ▪ Níveis séricos aumentados de enzimas musculares raramente são vistos → sua presença indica a pesquisa de uma síndrome de superposição com dermatomiosite ou polimiosite ▪ A associação do LES com Fibromialgia é comum ➢ MANIFESTAÇÕES CARDIOVASCULARES: • Pode-se ter o acometimento dos 3 folhetos cardíacos (pericárdio, miocárdio e endocárdio) • Pericardite (Derrame Pericárdico): ▪ É uma das manifestações cardiovasculares mais comuns ▪ Mesmo quando sintomática, não costuma causar grandes repercussões ▪ O derrame pericárdico (leve a moderado) é muito comum, mas o tamponamento cardíaco e a pericardite constritiva são raros ▪ A pericardite é uma manifestação que faz parte do critério diagnóstico do LES • Miocardite: ▪ Pode manifestar-se como taquicardia sinusal sem outra causa aparente (desproporcional à febre) ou taquipneia aos esforços, associadas ao aumento da área cardíaca no Raio-x e alterações eletrocardiográficas inespecíficas ▪ Um acometimento mais grave pode gerar Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) • Endocardite de Libman-Sacks: ▪ É uma endocardite ocasionada pela presença de uma vegetação asséptica nas válvulas cardíacas → essa vegetação é formada por imunocomplexos ▪ É uma forma verrucosa e não bacteriana de endocardite ou valvulite cardíaca ▪ Ocorre principalmente na valva mitral (face atrial) e, menos frequentemente, na valva aórtica (face arterial) ▪ Lesões nas câmaras direitas são raras ▪ Pode causar insuficiência mitral e/ou aórtica de grau leve a moderado, justificando o aparecimento de sopro orgânico em pacientes com LES ▪ A manifestação mais temida desse tipo de endocardite é a Embolia Arterial (Ex: AVE isquêmico, isquemia mesentérica...) ▪ Há uma grande correlação entre a endocardite de Libman-Sacks e a presença de anticorpos antifosfolipídios ▪ O tratamento imunossupressor não costuma ser eficaz ▪ Não é patognomônica do Lúpus, pois também pode- se ter essa endocardite na Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide (SAAF) • Coronariopatia: ▪ É frequentemente Aterosclerótica, mas às vezes pode ser vasculítica ▪ Pacientes com Lúpus tendem a ter uma Aterosclerose mais acelerada, pois é uma doença sistêmica que ocasiona inflamação sistêmica. Assim, pode haver um dano à célula endotelial e esse endotélio lesionado fica mais suscetível à formação da placa de ateroma com a sua calcificação e as suas consequências (Doença Arterial Coronariana e Doença Cerebrovascular) ▪ Pode provocar infarto do miocárdio até mesmo em mulheres jovens ▪ O risco de eventos cardiovasculares aumenta em mais de 10 vezes ▪ É uma importante causa de morte ▪ O LES é consideração fator de risco cardiovascular INDEPENDENTE, tento, inclusive, o mesmo “peso” que o diabetes mellitus → a presença de LES já coloca o paciente como sendo de Alto risco cardiovascular • Arritmias → podem ocorrer, dependendo de onde os imunocomplexos se precipitam ➢ MANIFESTAÇÕES PULMONARES: • Pacientes com LES podem ter: ▪ Pleurite (50% dos casos) ▪ Derrame pleural (30%) ▪ Pneumonite (10%) ▪ Fibrose intersticial (5%) ▪ Hipertensão Arterial Pulmonar (< 5%) ▪ Síndrome do Pulmão Contraído (< 5%) ▪ Tromboembolismo Pulmonar ▪ Hemorragia Alveolar • Pleurite Lúpica (dor pleurítica): ▪ A dor pleurítica é mais comum do que o achado radiográfico de derrame pleural • Derrame Pleural: ▪ Pode ser unilateral ou, mais comumente, bilateral ▪ É sempre um exsudato, com níveis de glicose geralmente normais (o que diferencia clinicamente do derrame da Artrite Reumatóide) ▪ Os níveis de complemento estão reduzidos e, embora a detecção de FAN no líquido pleural possa sugerir LES, Pleurite - Velamento do seio costofrênico à direita 7 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMIMCO (LES) Gizelle Felinto esse dado não fornece informações diagnósticas superiores à sua detecção no soro, não sendo geralmente recomendada a sua solicitação • Pneumonite Lúpica (Doença Pulmonar Intersticial - DPI): ▪ Pode cursar com febre, tosse, dispneia, hemoptise e radiografia de tórax com infiltrado alveolar difuso, principalmente em bases pulmonares ▪ Responde bem aos corticoides ▪ Atenção → a causa mais comum de infiltrado pulmonar em pacientes com LES é a infecção (pneumonia). Assim, quando um paciente com LES desenvolve um quadro pneumônico, até que se prove o contrário, trata-se de uma infecção • Fibrose Pulmonar → semelhante ao que ocorre na Artrite Reumatóide • Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP): ▪ Pode ocorrer na ausência de fibrose intersticial, geralmente associada à síndrome do anticorpo antifosfolipídio (SAAF) • Tromboembolismo Pulmonar: ▪ Cerca de 10% dos pacientes com LES desenvolvem Trombose Venosa Profunda (TVP), que está relacionada aos anticorpos antifosfolipídios ou à nefropatia membranosa e síndrome nefrótica, aumentando o risco de tromboembolismo pulmonar • Síndrome do Pulmão Contraído: ▪ É rara ▪ Os pacientes desenvolvem queixas de dispneia com raio-x de tórax com elevação da cúpula diafragmática, sem alterações no parênquima ▪ Provavelmente, o problema encontra-se na fraqueza do diafragma, pela miosite lúpica • Hemorragia alveolar difusa: ▪ É uma apresentação mais rara, mas é bastante grave, podendo levar ao óbito, por isso que é uma urgência médica ➢ MANIFESTAÇÕES GASTROINTESTINAIS: • Pacientes com LES pode apresentar: ▪ Elevação das enzimas hepáticas (40% dos casos) ▪ Anorexia, náuseas, vômitos, diarreia (30%) → são inespecíficos e estão mais associados à terapia com AINEs e Corticoides ▪ Hepatomegalia (30%) ▪ Pancreatite (8%) ▪ Vasculite mesentérica (5%) ▪ Peritonite/Ascite (<5%) ▪ Hepatite autoimune (Hepatite Lipoide) • Caso haja dor abdominal difusa importante no paciente com LES, com ou sem descompressão dolorosa, deve-se pensar em 3 possibilidades principais: ▪ Peritonite (Serosite) ▪ Vasculite Mesentérica ▪ Pancreatite • Peritonite → derrame no peritônio, podendo haver ascite • Vasculite Mesentérica: ▪ Pode ser complicada por infarto intestinal, por vezes evoluindo com perfuração e peritonite generalizada • Pancreatite → é deorigem autoimune • Pseudo-obstrução intestinal → ocorre por edema das alças intestinais • Hepatomegalia: ▪ É comum ▪ Enzimas hepáticas, especialmente aminotransferases, podem estar elevadas, mas não há lesão hepática significativa • Hepatite Autoimune: ▪ A presença de doença hepática importante deve levar à pesquisa de hepatite autoimune ▪ Essa diferenciação para saber se é em decorrência do LES ou não é feita através do padrão de autoanticorpos → ambas as patologias apresentam FAN positivo, mas o achado de positividade do antimúsculo liso ou do anti-LKM1 sugere fortemente o diagnóstico de hepatite autoimune em vez de hepatite pelo LES ➢ MANIFESTAÇÕES PSIQUIÁTRICAS: • Pacientes podem apresentam as seguintes manifestações Psiquiátricas: ▪ Disfunção cognitiva leve (50%) ▪ Alterações da personalidade (50%) Pneumonite - Presença de infiltrado intersticial difuso Hemorragia Alveolar Difusa Pseudo-Obstrução Intestinal - Há aumento da espessura das alças intestinais, causando o quadro de pseudo-oclusão - Muitas vezes, esses pacientes acabam indo para a Laparotomia exploratória e quando se realiza o procedimento vê-se que se tratava apenas de um edema de alça 8 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMIMCO (LES) Gizelle Felinto ▪ Depressão (40%) ▪ Demência (ou Síndrome Cerebral Orgânica) ▪ Psicose Lúpica • Demência Lúpica → é a fase mais avançada desse quadro psiquiátrico, ocorrendo em uma minoria dos casos • Psicose Lúpica: ▪ Manifesta-se, geralmente, no 1º ano de doença como um quadro de delirium → com estado confusional, ilusões persecutórias, alucinações auditivas ou visuais e flutuação do nível de consciência ▪ É um critério diagnóstico da doença • Psicose induzida por corticoides → costuma surgir durante as primeiras semanas de uso, em geral com doses acima de 40mg/dia de Prednisona ou equivalente ▪ O melhor teste diagnóstico é a retirada ou redução dos corticoides (se possível), e observação evolutiva do quadro • Anticorpo Anti-P → é um autoanticorpo relacionado às alterações psiquiátricas do LES, em especial à psicose e à depressão (a presença do Anti-P sugere fortemente que o distúrbio psiquiátrico é resultante da própria atividade lúpica) ➢ MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS: • Podem estar presentes as seguintes: ▪ Cefaleia (25%) ▪ Convulsões (20%) ▪ AVE isquêmico – Trombose, embolia ou vasculite (10%) ▪ AVE hemorrágico ▪ Neuropatia Periférica – mono ou polineuropatia (15%) ▪ Mielite Transversa (< 1%) ▪ Meningite Asséptica (< 1%) • As manifestações neurológicas podem ocorrer de forma isolada, mas geralmente aparecem na vigência de um quadro sistêmico • Qualquer região do SNC e SNP pode ser afetada • Cefaleia → Enxaqueca (mais comum) ou Cefaleia Tensional • Convulsões → podem ser de qualquer tipo, como de grande mal, pequeno mal ou mesmo focais ▪ Para afirmar que a convulsão é decorrente do LES, deve-se afastar outras causas de convulsão, como: ✓ Tumores ✓ AVE ✓ Epilepsia ✓ Distúrbios metabólicos ✓ Distúrbios eletrolíticos • AVE isquêmico → pode ser resultante de 4 processos distintos: 1. Trombose cerebral na SAAF 2. Embolia cerebral na endocardite de Libman-Sacks 3. Vasculite cerebral 4. Embolia arterioarterial a partir de doença aterosclerótica carotídea ou vertebral • AVE hemorrágico → também tem incidência aumentada em pacientes com LES • Meningite Asséptica: ▪ Pode ser precipitada pelo uso de AINEs ou Azatioprina • Neuropatias Periféricas: ▪ Geralmente, são leves e assimétricas ▪ Causadas comumente pode isquemia vascular dos nervos ▪ Pode haver um quadro de Mononeurite Múltipla (Ex: pé caído, mão caída, mão em garra) por vasculite sistêmica • Outras manifestações que podem ocorrer: ▪ Paralisia dos nervos cranianos ▪ Distúrbios do movimento → Coreia, Atetose, Hemibalismo ▪ Mielite transversa → tem associação com a SAAF, podendo levar à paraplegia ➢ MANIFESTAÇÕES HEMATOLÓGICAS: • Podem ocorrer: ▪ Anemia (70%) ▪ Leucopenia (65%) ▪ Linfopenia (50%) ▪ Trombocitopenia (15 – 25%) ▪ Esplenomegalia (15%) ▪ Linfadenopatia (15%) ▪ Anemia hemolítica (10%) ▪ Coagulopatia (5 – 15%) • São frequentes em pacientes com doença ativa • Anemia da Doença Crônica (Normocítica e Normocrômica): ▪ É a manifestação hematológica mais comum ▪ É causada pela eritropoese deficitária e disponibilização de ferro bloqueada ▪ A queda do Hematócrito pode ser um dos critérios de atividade lúpica • Anemias Carenciais (Ferropriva e Megaloblástica) → também são comuns • Anemia Hemolítica Autoimune → por anticorpos “quentes” (IgG), Coombs direto positivo ▪ O mecanismo é a ligação de autoanticorpos antifator Rh na membrana das hemácias, estimulando a fagocitose pelos macrófagos esplênicos ▪ A anemia imuno-hemolítica é o único tipo de anemia considerada nos critérios de classificação do LES ▪ Há aumento de VHS, bilirrubina e reticulócitos • Outras causas de anemia no LES: ▪ Anemia Hemolítica Microangiopática → geralmente relacionada a uma vasculite sistêmica ▪ Anemia hemolítica induzida por drogas ▪ Anemia aplásica → por anticorpos contra eritroblastos na medula ▪ Anemia decorrente de insuficiência renal crônica • Trombocitopenia Leve: ▪ O principal mecanismo é o surgimento de autoanticorpos IgG contra antígenos de superfície plaquetária ▪ O grau de trombocitopenia varia de leve a acentuado 9 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMIMCO (LES) Gizelle Felinto • Síndrome de Evans → Anemia Imuno-hemolítica + Trombocitopenia autoimune ▪ O LES é a causa mais comum • Plaquetopenia (< 100.000/mm3) → pode se associar à SAAF • Leucopenia autoimune (< 4.000/mm3): ▪ É comumente encontrada, sendo um critério diagnóstico do LES ▪ Com contagem inferior a 4.000/mm3 ▪ Também é parâmetro de atividade lúpica • Linfopenia autoimune (< 1.000/mm3): ▪ Contribui para o estado de imunodepressão da doença • Neutropenia → não é comum • Exacerbações Inflamatórias do LES → podem cursar com Linfadenopatia cervical ou generalizada e esplenomegalia, que são achados indicativos de hiperatividade imune ▪ Quando ocorrem, podem ser acentuadas a ponto de estimularem um distúrbio linfoproliferativo • Malignidades Hematológicas (principalmente Linfoma não Hodgkin) → seu risco está aumenta em 4 – 5 vezes nos pacientes com lúpus ▪ Por isso, deve-se avaliar os quadros de linfadenomegalia com cuidado • O baço pode desenvolver uma forma de fibrose perivascular, apresentando-se com uma lesão histológica nas artérias e arteríolas esplênicas conhecidas como “casca de cebola”, que é considerada como patognomônica do LES • O LES pode cursar com autoanticorpos contra vários fatores de coagulação: ▪ Anticorpo antifator VIII (fator anti-hemofílico) → pode causar um distúrbio hemorrágico (coagulopatia adquirida), na presença de PTT alargado e INR (TAP) normal ✓ Essa hemorragia não responde à reposição de plasma fresco ou crioprecipitado, mas responde à administração do complexo protrombínico ativado (Prothromplex) • Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide (SAAF): ▪ É a principal trombofilias adquirida ▪ Corresponde a até 1/3 dos AVEs em indivíduos com menos de 50 anos de idade ▪ Pacientes com SAAF secundário ao Lúpus podem evoluir com trombose, que pode ocorrer no território arterial, venoso ou capilar ➢ MANIFESTAÇÕES RENAIS: • Podem ocorrer: ▪ Proteinúria de 24h > 500mg ou +3 no EAS (50%) ▪ Cilindros celulares na urianálise (50%) ▪ Síndrome nefrítica (30 – 40%) ▪ Síndrome nefrótica (25%) ▪ Nefrite intersticial ▪ Insuficiência renal (5 – 10%) • A maioria dos portadores de LES acaba desenvolvendo algum grau de nefropatia no decorrer da doença • Essas manifestações renais elevam a morbimortalidade associadaao LES • Glomerulonefrite → é a manifestação clássica ▪ Os glomérulos são os principais alvos renais do Lúpus ▪ A deposição de imunocomplexos DNA/Anti-DNA é a base fisiopatológica da nefrite lúpica ▪ A quantificação dos níveis séricos de Anti-DNAds e complemento (principalmente C3) é útil para monitoramento da atividade e resposta terapêutica da nefrite lúpica GLOMERULONEFRITE CLASSE DESCRIÇÃO I Mesangial Mínima → somente imunodepósitos, sem proliferação celular II Mesangial Proliferativa III Focal (< 50% dos glomérulos) (A) Lesões ativas: Proliferativa Focal (A/C) Lesões ativas e crônicas: Proliferativa e Esclerosante Focal (C) Lesões inativas crônicas com cicatrizes: Esclerosante Focal IV Difusa (> 50% dos glomérulos) (A) Lesões ativas: Proliferativa Difusa (A/C) Lesões ativas e crônicas: Proliferativa e Esclerosante Focal (C) Lesões inativas crônicas com cicatrizes: Esclerosante Focal * todas as categorias nesta classe ainda podem ser subdivididas em Segmentares (S) ou Globais (G) V Membranosa VI Esclerosante Avançada ▪ Classes: ✓ VI → rim terminal ✓ V → glomerulonefrite membranosa (com síndrome nefrótica e proteinúria de 24h total geralmente > 3g) ✓ III e IV → são as de pior prognóstico, principalmente a classe IV, pois podem mais rapidamente evoluir pra a classe VI • Nefrite Tubulointersticial Aguda (NIA): ▪ Acometimento do interstício e não do glomérulo ▪ Manifesta-se com insuficiência renal oligúrica, lombalgia, febre e piúria maciça, hematúria não dismórfica, proteinúria e cilindros piocitários ▪ A urocultura é negativa • Nefropatia Trombótica → pode ocorrer naqueles pacientes que tem SAAF associada ao Lúpus ▪ Os trombos podem se formar nas arteríolas renais, levando ao surgimento de nefropatia com perda de proteína no sedimento urinário, presença de cilindros... ➢ MANIFESTAÇÕES OCULARES: • Conjuntivite/Episclerite (10%) 10 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMIMCO (LES) Gizelle Felinto • Ceratoconjuntivite Seca (Sjogren) – 15% → associada ou não à Xerostomia • Vasculite Retiniana – corpos citoides (5%) → é uma complicação oftalmológica mais grave, podendo causar amaurose por isquemia ou hemorragia ▪ A presença de exsudatos algodonosos na fundoscopia (denominados corpos citoides) constitui sinal específico de vasculite retiniana (o exsudato é decorrente de isquemia retiniana localizada) • Neurite óptica → é uma manifestação grave • O tratamento com Glicocorticoides pode induzir a alterações oculares, como Glaucoma e Catarata CRITÉRIOS CLASSIFICATÓRIOS ➢ Esses critérios são classificatórios, não sendo utilizados para diagnóstico → a grande maioria dos pacientes se encaixam nesses critérios classificatórios, mas pode-se dar o diagnóstico de LES caso o paciente não preencha esses critérios ➢ Tem-se exceções, nas quais pode-se dar o diagnóstico de LES sem esses critérios ➢ PASSO A PASSO DESSES CRITÉRIOS: 1. Realizar o Fator Antinúcleo (FAN) – tem alto valor preditivo negativo (ou seja, um exame negativo praticamente afasta a possibilidade de LES) → um FAN positivo abre a possibilidade de que o paciente possa ter Lúpus ▪ FAN negativo → não classifica como Lúpus (porém, existem casos de Lúpus com FAN negativo) ✓ Lúpus Eritematoso restrito à pele → não há indícios de acometimento sistêmico. Nesses casos pode-se ter um FAN negativo e, geralmente, esses indivíduos tem o anticorpo anti-Ro positivo ▪ FAN Positivo → deve-se aplicar os demais critérios 2. Aplicar os Critérios Aditivos: ▪ Considerações sobre esses critérios: ✓ São aditivos e não precisam estar todos presentes no mesmo dia (pode-se ir somando esses pontos com o acompanhamento do paciente) ✓ Não se conta uma determinada manifestação quando ela é melhor explicada por outro problema que não seja o Lúpus ✓ A ocorrência do critério pelo menos 1 vez é o suficiente ✓ Para classificar como lúpus deve-se ter pelo menos 1 critério clínico e a presença de pelo menos 10 pontos (não se pode somar 10 pontos apenas com a presença de critérios imunológicos, deve-se ter pelo menos 1 critério clínico) ✓ Para cada domínio, apenas o que tiver maior peso será contabilizado no score final (Ex: se o paciente tem os 3 tipos de acometimento hematológico, não se soma as pontuações, escolhe apenas a maior de todas) CRITÉRIOS CLÍNICOS PONTUAÇÃO Constitucional Febre 2 Hematológicos Leucopenia 3 Trombocitopenia 4 Hemólise Autoimune 4 Neuropsiquiáticos Delirium 2 Psicose 3 Convulsão 5 Mucocutâneos Alopecia não cicatricial 2 Úlceras Orais 2 Lesões de pele de Lúpus cutâneo Subagudo ou Lúpus Discoide 4 Lesões de Lúpus Cutâneo Agudo 6 Das Serosas Derrame Pleural ou Pericárdico 5 Pericardite Aguda 6 Musculoesqueléticos Artralgia ou Artrite 6 Renais Proteinúria > 0,5g/24h 4 Biópsia renal acusando Glomerulonefrite classe II ou V 8 Biópsia renal acusando Glomerulonefrite classe III ou IV 10 *A biópsia deve ser realizada à microscopia óptica e à imunofluorescência direta, pois na imunofluorescência consegue-se identificar os depósitos de cadeia Kappa e Lambida, das imunoglobulinas (IgG, IgM, IgA), dos complementos (C3, C4) e do fibrinogênio. Isso é o que se chama de Padrão Full House, que quando se vê um depósito desses tipos no glomérulo à imunofluorescência direta diz-se que é uma nefrite lúpica CRITÉRIOS IMUNOLÓGICOS PONTUAÇÃO Anticorpos Antifosfolipides Anticarbolipina ou Anti-β2GP1 ou Anticoagulante Lúpico 2 Proteínas do Complemento C3 ou C4 baixos 3 C3 e C4 baixos 4 Anticorpos Específicos do LES Anti-DNAds (dupla hélice – é específico e é o único anticorpo que tem relação com a atividade de doença) ou Anti-Smith (é específico, mas é pouco sensível, sendo apenas 20% dos pacientes que apresentam) 6 IMPORTANTE! - As manifestações clínicas de Lúpus devem sempre ser investigas para que sejam afastados outros possíveis diagnósticos - Assim, o diagnóstico de Lúpus é um diagnóstico mais de exclusão 11 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMIMCO (LES) Gizelle Felinto 3. Após o Escore contabiliza-se os pontos: ▪ ≥ 10 pontos = Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) ▪ Para esse diagnóstico é necessário que o FAN (que é o critério de entrada) seja positivo ▪ Se o paciente tiver o FAN positivo e 10 pontos nos critérios clínicos já se pode classificar como LES, sem haver a necessidade dos critérios imunológicos ▪ É obrigatória a presença de pelo menos 1 critério clínico ➢ Exames que podem ser solicitados: • Anti-DNAds → avalia a atividade da doença. Ou seja, durante os períodos de remissão o paciente pode ter um anti-DNAds negativo e durante os períodos de atividade esse anti-DNAds pode voltar a positivar (assim, esse anti-DNAds é um marcador importante para se pedir em todas as consultas) ▪ Tem pacientes que, mesmo em remissão clínica, nunca negativam o anti-DNA, mas ele não oscila (precisa estar constante para demostrar remissão imunológica) ▪ Tem associação com atividade renal (Glomerulonefrite) → deve-se avaliar a proteinúria desse paciente • Consumo de complementos → pode ser um indicio de atividade de doença (Ex: paciente que tem um complemento normal e começa a ter uma redução é necessário prestar atenção, pois ele pode estar prestes a abrir algum quadro de atividade de doença) • Anticorpos antifosfolípides → para avaliar se o paciente tem risco de ter SAAF associada, principalmente em mulheres que não tenham prova definida ▪ A SAAF é um trombofilia adquirida. Assim, ela aumenta o risco de abortos derepetição e aumenta um desfecho gestacional desfavorável (Ex: Eclâmpsia, Pré- Eclâmpsia, síndrome de Hellp, retardo do crescimento uterino...) • Anti-Ro, Anti-La e Anti-RNP → esses anticorpos atravessam a placenta nas gestantes, podendo levar ao surgimento do Lúpus Neonatal FATOR ANTI-NÚCLEO (FAN) ➢ O FAN tem alta sensibilidade para LES (mais de 98% dos pacientes tem FAN positivo), porém não tem muita especificidade (muitos pacientes com outras doenças também podem ter FAN positivo) ➢ O FAN não é um anticorpo específico, mas sim um teste que avalia a presença de um ou mais autoanticorpos → nesse teste detectam-se autoanticorpos contra diversos constituintes da célula, e não apenas aqueles presentes no núcleo ➢ Existem indivíduos que podem ter FAN positivo e não apresentarem doença alguma (FAN em títulos baixos, principalmente no padrão pontilhado fino denso) → nesses casos, deve-se dar maior atenção à títulos maiores de FAN e ao padrão do FAN ➢ Como o teste é feito → resumidamente: tem-se células Hep-2 (que são células de camundongo tratadas) e inocula-se o soro do paciente no substrato de células HEp-2. Assim, um paciente com FAN positivo abre uma ligação através da IgG que vai permitir a formação de uma fluorescência na microscopia óptica. Com isso, vai-se diluindo esse soro do paciente, processo chamado de titulação • Mais detalhado → O teste é feito em cultura de células HEp- 2 (células de tumor epitelial humano), dispostas em lâmina, sobre a qual é derramado o soro do paciente. Neste momento, os autoanticorpos, quando presentes, se fixam nas estruturas celulares. A lâmina então é lavada e, em seguida, tratada com anticorpos anti-imunoglobulina humana ligados à fluoresceína. Após esse processo, apenas os locais em que os anticorpos se ligaram ficarão fluorescentes. Com um microscópio especial, o examinador observa facilmente o padrão de fluorescência. São descritos 28 padrões diferentes de imunofluorescência, entre citoplasmáticos, nucleares, nucleolares, contra o aparelho mitótico e mistos ➢ Título → quanto mais anticorpo o paciente tiver no soro, maior será a diluição necessária para que a fluorescência não seja mais vista • Exemplo: ▪ O indivíduo da imagem acima teve fluorescência até essa diluição de 1:320. Assim, quando ele diluiu para 1:640 a imunofluorescência deixou de existir • 1:40 → diluição inicial • 1:80 → ponto de corte ▪ ≥ 1:80 → FAN positivo ▪ < 1:80 → FAN negativo • Quanto maior for o título do FAN, maior a possibilidade de que esse paciente tenha ou venha a ter uma doença autoimune ➢ Padrões do FAN: • Cada padrão está associado a algum autoanticorpo que pode ser mais específico de determinada doença • Padrão Homogêneo (o núcleo se cora de forma homogênea) → é muito específico do LES, pois tem associação com o anti-DNAds ▪ Também costuma ser visto no Lúpus induzido por droga, que tem um anticorpo chamado anti-histona positivo 12 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMIMCO (LES) Gizelle Felinto • Padrão Centromérico → tem correlação com o anticorpo anti-centrômero ➢ Coloração de padrões de depósito do FAN: • Nuclear pontilhado fino denso: ▪ Não costuma ser muito valorizado, principalmente quando não se tem um quadro clínico suspeito ▪ Se seus títulos forem muito elevados (como 1:320), deve-se valorizar mais esse FAN • Nuclear Centromérico → associado à Síndrome de Crest • Nuclear Homogêneo → associado ao LES e ao Lúpus induzido por drogas • Nuclear pontilhado grosso: ▪ Está associado ao Anti-Smith, que é específico do LES ▪ Também pode ser visto em pacientes com anti-RNP positivo, que é visto na doença mista do tecido conjuntivo, na Esclerose Sistêmica, na Artrite Reumatóide... • Nuclear pontilhado fino → está associado aos anticorpos anti-Ro/SSA e anti-La/SSB, que são muito comuns em pacientes com: ▪ LES ▪ Lúpus Eritematoso Cutâneo ▪ Lúpus Eritematoso Neonatal ▪ Síndrome de Sjogren ▪ Esclerose Sistêmica • Nucleolar → associado à Esclerose Sistêmica • Nucleolar Homogêneo → associa-se às síndromes de superposição (Esclerodermatomiosite) • Citoplasmático Pontilhado Fino → Miopatias inflamatórias • Padrões mistos de depósito → associados ao anti-Scl70 da Esclerose Sistêmica ➢ O FAN deve ser solicitado quando há suspeição clínica de se tratar de uma doença autoimune, pois pode ser positivo em pessoas normais e também em outras doenças, até mesmo em infecções ➢ Valoriza-se o padrão e a titulação do FAN ➢ Anti-DNAds e anti-Sm → são marcadores específicos do Lúpus • Anti-DNAds → é identificado por imunofluorescência indireta utilizando como substrato o flagelado Chrithidia lucilliae • Anti-Sm → pode ser identificado por vários métodos, como Western Blot, imunodifusão e contraimunoeletroforese AUTOANTICORPOS ESPECÍFICOS ➢ ANTINUCLEARES: • Anti-DNA: ▪ Anti-DNAds (dupla hélice) → é muito específico de LES (95%) ✓ Tem muita relação com a atividade da doença e com nefrite lúpica ✓ Altos títulos correlacionam-se com a forma grave da nefrite lúpica (classe IV) ✓ Deve-se fazer o acompanhamento de seus níveis para avaliar resposta terapêutica ▪ Anti-DNA hélice única → é inespecífico e pode estar presente em diversas doenças autoimunes ou infecções crônicas • Anti-Sm (Smith): ▪ É altamente específico para LES ▪ Por alguns autores, é considerado o autoanticorpo mais específico da doença (E=99%), porém só está presente em 30% dos casos ▪ Seus níveis não se alteram com mudanças na atividade de doença • Anti-RNP (Ribonucleoproteína): ▪ Sua presença em altos títulos está associada à Doença Mista do Tecido Conjuntivo (DMTC) e à síndrome do overlap com a esclerodermia e a polimiosite ▪ Está presente em 40% dos casos de LES • Anti-Ro (SS-A) e Anti-La (SS-B) → geralmente, aparecem em conjunto ▪ Paciente anti-Ro/anti-La positivo têm menos chance de nefrite (correlação negativa com nefrite lúpica) 13 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMIMCO (LES) Gizelle Felinto ▪ Anti-Ro → presente em 30% dos casos de LES ✓ Também se relaciona ao Lúpus Cutâneo Subagudo, à fotossensibilidade, à vasculite cutânea e à Doença Pulmonar Intersticial ✓ As gestantes lúpicas anti-Ro positivas têm chance aumentada de parirem filhos com bloqueio cardíaco congênito ou Lúpus neonatal (ao transmitirem esse autoanticorpo através da placenta). Ademais, também há risco de aborto e outras complicações gestacionais ✓ Esse anti-Ro quase sempre está presente nos raros casos de LES com FAN negativo ▪ Anti-La → presente em 10% dos casos de LES • Anti-Histonas: ▪ Existem os tipos H1, H2, H3 e H4 ▪ Estão bastante relacionados ao Lúpus induzido por drogas: ✓ Procainamida e quinidina → anti-H2 ✓ Hidralazina e clorpromazina → anti-H1, H3, H4 ▪ Presentes em 95 – 100% dos pacientes ➢ ANTICITOPLASMÁTICOS: • Anti-P: ▪ Estão presentes em 20% dos casos de LES ▪ Correlaciona-se com psicose lúpica e depressão ➢ ANTIMEMBRANA CELULAR: • Antilinfocítico → 70% dos casos ▪ São os responsáveis pela alta frequência de linfopenia nos pacientes lúpicos • Anti-hemácia (da classe IgG) → 60% dos casos ▪ Uma pequena proporção dos pacientes com autoanticorpos anti-hemácia desenvolve anemia hemolítica Coombs positiva • Antiplaqueta → 30% dos casos ▪ Cerca de 15% dos pacientes positivos para autoanticorpos antiplaqueta fazem trombocitopenia autoimune • Antineuronais → 60% dos casos ➢ ANTIFOSFOLIPÍDIO: • É composto por 3 elementos: ▪ Anticoagulante lúpico ▪ Anticardiolipina ▪ Anti-β2G1 (glicoproteína 1) • A presença desses anticorpos acusa a síndrome antifosfolipídio • Pelo menor um dos 3 é encontrado em cerca de 50% dos pacientes com LES LÚPUS INDUZIDO POR DROGAS ➢ DEFINIÇÃO → diz-se que tem Lúpus induzido por droga naquele indivíduo que tem pelo menos 1 sintoma clínico de Lúpus + FANou outros testes laboratoriais positivos • Geralmente, consegue-se identificar pelo uso de uma droga suspeita por um período de 3 semanas a 2 anos antes do desenvolvimento dos sinais ou sintomas • Há uma rápida melhora quando se descontinua a droga • Costumam ser manifestações mais leves • Há recorrência dos sinais ou sintomas quando o paciente é exposto novamente à droga, ou dentro de uma mesma classe de medicamentos ➢ PRINCIPAIS MEDICAÇÕES QUE PODEM INDUZIR LÚPUS: • Alto Risco: ▪ Procainamida → corresponde a 15 – 20% dos casos de Lúpus Induzido por drogas ✓ É um antiarrítmico ▪ Hidralazina → 5 – 8% • Baixo Risco: ▪ Metildopa ▪ Isoniazida → é usada no tratamento da tuberculose latente ▪ Minociclina ▪ Carbamazepina ▪ Etossuximida ▪ Fenitoína ▪ Sulfasalazina → usada nas espondiloartrites LÚPUS NEONATAL ➢ Ocorre em decorrência da passagem transplacentária dos autoanticorpos maternos • O bebê não produz anticorpos, pois seu sistema imune não está maturado o suficiente para produzir anticorpos. Assim, nascem com a imunidade inata, não tendo imunidade adquirida, que só vai começar a se formar por volta do 6º mês de vida. Dessa forma, quando o bebê nasce com um autoanticorpo ele vem da mãe ➢ A mãe não precisa necessariamente ter Lúpus para que a criança tenha Lúpus Neonatal. Assim, a mãe pode ter: • Lúpus 14 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMIMCO (LES) Gizelle Felinto • Presença de autoanticorpos específicos do Lúpus e ainda não ter desenvolvido a doença • Síndrome de Sjogren • Doença Mista do Tecido Conjuntivo... ➢ A mãe precisa ser portadora de autoanticorpos! → assim, pode ocorrer em bebês de mulheres que apresentam um ou mais dos seguintes autoanticorpos: • Anti-Ro • Anti-La • Anti-RNP *Esses autoanticorpos não fazem parte dos critérios diagnósticos, mas devem ser pedidos nas mulheres justamente por causa desse risco gestacional e do risco de causar Lúpus Neonatal caso essa mulher engravide *De todas as mães que têm o anticorpo positivo, apenas 2% dessas mulheres terão filhos com Lúpus neonatal ➢ Manifestações mais comuns do Lúpus Neonatal → Lesões de Pele, que lembram as lesões do Lúpus Cutâneo Agudo • Não é preciso tratar as lesões de pele, pois irão melhorar espontaneamente ➢ Bloqueios Atrioventriculares (BAV) → são as complicações mais temidas • Podem ser BAV de 1° grau, BAV de 2° grau ou até mesmo um BAVT • Os anticorpos passam pela placenta e lesionam os feixes de condução atrioventricular • Essas crianças podem evoluir com essas complicações ainda na vida intrauterina. Assim, pode acontecer morte intraútero do bebê ou ele pode nascer apresentando estigmas do retardo do crescimento uterino • Esses bebês podem nascer com a necessidade de passagem de uma marcapasso já na sala de parto • Mulheres que apresentam anticorpos relacionados ao Lúpus neonatal precisam fazer um rastreio para o acometimento cardíaco pelo Lúpus Neonatal. Assim, submete-se essa gestante ao Ecocardiograma fetal ▪ ECO Fetal → deve ser feito entre a 16ª e a 24ª/26ª semana, solicitando semanalmente ✓ É entre esse período de 16ª a 24ª/26ª semana de gestação que se deve fazer porque é o período de maior passagem dos anticorpos pela placenta ✓ Se for normal → para poder afastar a possibilidade de problema cardíaco, deve-se solicitar exames da 26ª semana de gestação até o 1º ano de vida da criança o A partir da 26ª semana → realizar o Eco mensalmente até o nascimento o Eletrocardiograma + Eco → quando fazer: ❖ Quando o bebê nascer ❖ Repetir no 1º mês de vida ❖ Repetir com 6 meses de vida ❖ Repetir com 1 ano de vida ✓ Quando se detecta alguma alteração no Eco de rastreio → é necessário dar à mãe: o Dexametasona ou Betametasona → pois são os únicos corticoides que atravessam a placenta. Assim, o objetivo de dar corticoide para a mãe é tratar o bebê. O corticoide atravessa a placenta para conter essa inflamação de origem autoimune nos feixes atrioventriculares do bebê ➢ Com o passar dos dias, a titulação do anticorpo circulante no bebê vai diminuindo e ele vai melhorando dessas manifestações clínicas ➢ O anticorpo passa pela placenta e pelo leite materno, mas não há contraindicação à amamentação porque o anticorpo é digerido no estômago do bebê TRATAMENTO ➢ O tratamento do Lúpus deve ser feito de forma multidisciplinar ➢ MEDIDAS GERAIS: • Proteção Solar: ▪ Pois a exposição à radiação UV é um gatilho para o desenvolvimento da doença em pessoas geneticamente suscetíveis e para que a doença entre em atividade naqueles pacientes que estão com a doença controlada ▪ Deve-se usar protetor solar em toda área fotoexposta pelo menos 30min antes da exposição, a cada 2h e até mesmo nos dias nublados • Tratamento tópico: ▪ Pode ser usado naqueles pacientes que tem uma lesão de pele que não seja muito extensa Lúpus Neonatal - Essas lesões de pele lembram as lesões anulares policíclicas, que são lesões de lúpus cutâneo agudo, que melhoram sem deixar cicatriz Lúpus Neonatal - Rash eritematoso não pruriginoso que resolve sem deixar cicatriz 15 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMIMCO (LES) Gizelle Felinto ▪ Faz-se com corticoide tópico: METILPREDNISOLONA ou outro • Planejamento familiar: ▪ Deve-se orientar a família em relação a esse planejamento ▪ A mulher com lúpus pode engravidar, mas é preciso planejar o melhor momento pra ela engravidar → a mulher pode engravidar quando ela está com a doença fora de atividade a pelo menos 6 meses ✓ Quando engravida, a mulher com Lúpus só pode fazer uso da Hidroxicloroquina ✓ Não pode usar o Imunossupressor → pois é contraindicado na gravidez o Azatioprina (pode-se usar, a depender do risco materno, a partir do 3º trimestre de gestação) → é o único imunossupressor que pode-se utilizar, mas a depender do risco materno e apenas do último trimestre da gestação ▪ Métodos contraceptivos: ✓ DIU (cobre, metal, prata...) ✓ Métodos de barreira ✓ Anticoncepcional Hormonal Oral (ACHO) – Estógeno → deve-se ter cuidado, pois o estrógeno pode ser um gatilho para atividade de doença o Um estudo comprovou que o uso de pílulas com baixas doses de estrógeno não foi associado a maior atividade de doença. Porém, esse estudo selecionou apenas mulheres com doença leve (pele e/ou articulação) o Mulher com doença leve → pode usar o ACHO desde que seja em baixas doses de etinilestradiol e que essa mulher não tenha o anticorpo antifosfolípide positivo (pois a presença desse anticorpo somada ao uso de anticoncepcional aumenta ainda mais o risco de formação de trombos) o É contraindicado em: ❖ Casos moderados (acometimento hematológico e de serosas) a graves (acometimento de órgãos-alvo – rins, SNC, pulmões, vasos, SNP...) ❖ Casos com anticorpo fosfolípide positivo (50% desenvolvem SAAF) → pois tem risco trombogênico ❖ Se já teve evento trombótico o Somente 50% das pacientes com Lúpus que tem o anticorpo antifosfolípide vão desenvolver a SAAF ✓ Implantes de progesterona ✓ Injeções de progesteronas (mensais ou semestrais) ✓ As pílulas de progesterona não aumentam o risco de atividade de doença e praticamente não aumentam o risco de trombose. Porém, há risco de osteoporose com o uso prolongado GRAVIDEZ E LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO ➢ Para que a mulher possa engravidar ela deve estar em remissão por no mínimo 6 meses ➢ É preciso estratificar o risco dessa mulher → avaliando cada caso individualmente ➢ Deve-se manter o antimalárico durante a gravidez e durante a amamentação → Hidroxicloroquina • Funciona como uma droga imunomoduladora, diminuindo a produção dos autoanticorpos • A mulher que uso Hidroxicloroquina tem um melhor desfecho tanto materno quanto fetal • Seu uso diminui a chancede Pré-eclâmpsia, Eclampsia e Síndrome Hellp ➢ Aspirina em baixa dose (dose profilática – 100mg/dia) → a partir da 12ª semana de gestação, independentemente da presença de anticorpos antifosfolípides • Usa-se para diminuir o risco dessa paciente vir a ter Pré- eclâmpsia, Eclampsia e Síndrome Hellp • Não se faz no primeiro trimestre da gestação para não levar ao fechamento precoce do ducto arterioso fetal ➢ Medicações na gravidez de uma mulher com Lúpus: • Uso seletivo permitido: AINEs → pode usar no 2º e 3º trimestre, para controle das manifestações articulares CORTICOIDE → pode ser usado em todas as fases da gestação (A Prednisolona não passa pela placenta) ✓ Deve-se ter cuidado devido ao risco de Diabetes gestacional e suas complicações AZATIOPRINA → a partir do 3º trimestre CICLOSPORINA → a partir do 3º trimestre TACROLIMUS → a partir do 3º trimestre ANTI-HIPERTENSIVOS → Metildopa (é o principal), Labetalol, Nifedipino (pode-se usar, por exemplo, em mulheres que tem fenômeno de Raynaud importante), Hidralazina (mesmo sendo uma das que induz ao lúpus) ▪ Importante → fazer uso de uma droga que induz ao lúpus não piora o lúpus da paciente • Medicações Contraindicadas: CICLOFOSFAMIDA* MICOFENOLATO DE MOFETILA* METOTREXATO** LEFLUNOMIDA** *São imunossupressores usados na doença grave **São abortivos e teratogênicos TRATAMENTO DO LÚPUS ➢ O lúpus é uma doença que pode ter vários fenótipos. Assim, cada fenótipo necessita de um tratamento diferente ➢ Classifica-se a doença em leve, moderada e severa 16 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMIMCO (LES) Gizelle Felinto ➢ Divide-se o tratamento do lúpus em 2 etapas: • Indução da remissão • Manutenção da remissão ➢ Hidroxicloroquina → é usada tanto na fase de indução quanto na de manutenção do tratamento, e em todas as fases da doença (leve, moderada e grave) • Só não é usada em pacientes que tenham uma retinopatia prévia, que é a principal contraindicação ao uso da hidroxicloroquina, pois ela pode se impregnar na retina e causar perda de visão nos campos visuais • Em alguns casos a hidroxicloroquina sozinha não resolve o quadro, sendo necessário somar a outra medicação ➢ Índices de atividade de doença: • BILAG • SLEDAI ➢ Doença leve + manifestação não ameaçadora à vida: • Indução: AINE ou INIBIDORES DA COX-2 PREDNISONA < 20mg (baixas doses) ou CORTICOIDE TÓPICO → manifestações mucocutâneas ➢ Doença Moderada: • Indução; PREDNISOLONA ORAL < 0,5 mg/kg ou METILPREDNISOLONA Endovenosa + AZATIOPRINA 2 – 3mg/kg ou METOTREXATO 10 – 25mg/semana ➢ Doença Severa: • Indução → doses imunossupressoras de corticoide PREDNISOLONA ≥ 0,5mg/kg e/ou METILPREDNISOLONA IV (500mg 3x) AZATIOPRINA 2 – 3 mg/kg ou MICOFENOLATO DE MOFETILA 2 – 3g/d ou CICLOFOSFAMIDA 750mg ➢ Fase de manutenção → pode-se fazer uso da mesma medicação que fez uso na indução, mas em doses menores ➢ As novas recomendações de tratamento orientam a fazer uso de doses menores de corticoide, pois essas doses menores são eficientes e tem menos eventos adversos a longo prazo. Assim, há uma tendência a se fazer doses menores de corticoide mesmo em manifestações severas ameaçadoras à vida ➢ Medicações imunobiológicas: • Belimumabe → foi desenvolvido exclusivamente para o Lúpus e age em um anticorpo chamado anti-Blys • Rituximabe → é o anti-CD20 que vai depletar a população do linfócito B CD20 positivo ▪ É usado de forma off-label no lúpus→ ou seja, não há indicação em bula. Mas para aquele paciente que já recebeu imunossupressão com Ciclofosfamida e com Microfenolato e não responde é uma opção terapêutica, além do uso da imunoglobulina ➢ SOBRE O ARSENAL TERAPÊUTICO: • ANTIMALÁRICOS: HIDROXICLOROQUINA (5,5 a 6mg/kg/dia, com máximo de 400mg/dia) CLOROQUINA (250 – 500mg/dia) ▪ Para o controle das seguintes manifestações: ✓ Dermatológicas ✓ Fadiga ✓ Artrite ▪ São drogas mais imunomoduladoras ▪ Ajudam a reduzir os índices de recidiva ▪ Permitem “poupar corticoides” ▪ Tem efeito antitrombótico e hipolipemiante → ajuda a reduzir o risco cardiovascular ▪ Deve-se fazer um exame oftalmológico antes do uso → pois a medicação pode se impregnar na retina, causando perda dos campos visuais (é dose- dependente) ▪ Após iniciar a medicação → exame oftalmológico anual (ou trimestral se a Cloroquina for a usada, pois é mais tóxica que a hidroxicloroquina) ▪ Paciente assintomático em remissão da doença → manter doses profiláticas de antimalárico indefinidamente (EX: Hidroxicloroquina 200mg, 3 vezes por semana) para reduzir o risco de recidivas ▪ Deve-se manter a Hidroxicloroquina na gravidez ▪ A suspensão do antimalárico comprovadamente se associa ao aumento nas taxas de recidiva da doença ▪ Contraindicação → Paciente com problemas na retina • ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS (AINEs): ▪ Auxiliam no controle das manifestações musculoesqueléticas (Ex: artralgia, artrite e miosite) e também atuam nas serosites (Ex: pleurite, pericardite...) ▪ Nefrite lúpica → AINEs devem ser interrompidos ▪ Efeitos colaterais: ✓ Meningite Asséptica (principalmente quando o Ibuprofeno é utilizado) → efeito colateral clássico 17 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMIMCO (LES) Gizelle Felinto ✓ Toxicidade hepática → analisar as aminotransferases (se elevadas, suspeita-se de uma hepatite induzida por AINE) ✓ Toxicidade renal ✓ Hipertensão arterial induzida (ou agravada) por AINE ✓ Tanto os AINEs não seletivos quanto os inibidores da COX-2 (Coxibs) aumentam o risco de infarto agudo do miocárdio se mantidos em longo prazo, logo, o ideal é evitá-los sempre que possível • CORTICOSTEROIDES: ▪ Tópicos → para manifestações de pele de pequena extensão (rash lúpico) HIDROCORTISONA TRIANCINOLONA BETAMETASONA ▪ Intralesionais → no lúpus discoide ▪ Orais: PREDNISONA ▪ Parenterais: METILPREDNISOLONA ▪ Sua ação é dose-dependente ▪ Efeito anti-inflamatório → doses baixas de corticoide (0,5 mg/kg/dia) ▪ Estado de Imunossupressão → doses altas de corticoide (1 – 2 mg/kg/dia) ▪ Recomenda-se Reposição de Cálcio (1.500mg/dia) e Vitamina D (800 U/dia) nas pacientes em menopausa e em todos os usuários de corticoides ▪ Bisfosfonados em doses profiláticas (ALENDRONATO 35mg/semana) → é recomendado para qualquer paciente que utilize corticoides em doses ≥ 5mg/dia de Prednisona (ou equivalente) por mais de 3 meses ▪ Efeitos colaterais da corticoterapia crônica: ✓ Fáscies Cushingoide, Ganho de peso, Hipertensão, Acne, Estrias violáceas, Fragilidade capilar ✓ Osteonecrose séptica ✓ Osteoporose → pacientes com Lúpus tem risco aumentado de osteoporose, tanto pelo uso de corticoides quanto pelo baixo grau de atividade física e pouca exposição ao sol ✓ Catarata subcapsular posterior, Glaucoma, Hirsutismo, Diabetes secundário, Hipocalemia, Irritabilidade/Psicose, Miopatia, Maior predisposição à infecção ▪ A suspensão abrupta de corticoide pode resultar em 2 eventos: ✓ Exacerbação da doença, exigindo a reinstituição de altas doses ✓ Insuficiência suprerrenal aguda ▪ Sempre que um paciente for candidato à pulsoterapia com metilprednisolona, existe risco de estrongiloidíase disseminada (ou síndrome da hiperinfecção) em pacientes previamente infestados pelo parasita intestinal S. stercoralis • CITOTÓXICOS: CICLOFOSFAMIDA MICOFENOLATO AZATIOPRINA METOTREXATO → avaliar o pulmão do paciente antes de iniciar do uso (Raio-x de tórax), pois ele é pneumotóxico ▪ São empregados em associação com glicocorticoides no tratamento das manifestações graves da doença, como nas glomerulonefrites proliferativas ▪ Micofenolato e Azatioprina → podem ser usados na terapia de manutenção ▪ Azatioprina → menos eficaz do que a Ciclofosfamida e o Micofenolato ✓ Seuuso é reservado para os casos de intolerância ou indisponibilidade dos outros citotóxicos • BELIMUMAB: ▪ A associação desse fármaco é benéfica em pacientes com LES cutâneo e/ou musculoesquelético que vinham em uso de combinações variadas de AINEs, antimaláricos, corticoides e imunossupressores (ex.: micofenolato, azatioprina), mas que não obtinham um controle adequado das manifestações da doença ▪ Comprovadamente reduz a sintomatologia do lúpus e permite uma diminuição na dose de corticoide COMPLICAÇÕES E COMORBIDADES DO LÚPUS ➢ Esses pacientes podem evoluir para o Rim dialítico/terminal, que necessita de hemodiálise ➢ Aterosclerose → a inflamação autoimune sistêmica lesiona a célula endotelial, favorecendo a aderência das placas de ateroma e a calcificação dessas placas, podendo causar o surgimento de doenças cardiovasculares e cerebrovasculares ➢ Osteonecrose de cabeça de fêmur, osteoporose e Diabetes → ocorrem pelo uso crônico de corticoide em altas doses ➢ Malignidades Hematológicas → Leucemias e Linfomas ➢ Suscetibilidade para contrair doenças infecciosas → o uso de imunossupressores predispõe o paciente a desenvolver doenças infeciosas ➢ Pacientes com Lúpus morrem mais em decorrência de problemas cardiovasculares do que da própria doença ➢ Menopausa e Andropausa precoces → em decorrência do uso da Ciclofosfamida ➢ Ciclofosfamida → pode levar à falência gonadal precoce, à cistite hemorrágica e a neutropenia febril, por exemplo, que são manifestações dose-dependentes • Quando o indivíduo usa mais de 18g de Ciclofosfamida durante toda a sua vida, aumenta-se muito o risco dessas manifestações ➢ Ex: Glomerulonefrite com sinais de melhor prognóstico (sem disfunção renal e sem hipertensão) → pode ser feito um esquema de baixa dose. Porém, se ele tem sinais de mau prognóstico (como insuficiência renal e hipertensão), deve-se fazer um esquema de alta dose
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